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INTELECÇÃO DE TEXTOS

Aspectos Morfossintáticos, Semânticos e Discursivos da Língua


Portuguesa.
Prof. Daniel Souza
dsouzaport@yahoo.com.br

Ao Candidato a Concurso Público

Caro candidato,

Transcrevi a seguir algumas questões de Língua Portuguesa de concursos recentemente realizados.


A intenção não é assustá-lo. A linguagem por elas apresentada tem sido a abordagem adotada por diversas
comissões executoras de concursos tanto para vagas de nível médio como para os cargos de nível superior.
Há alguns anos, não são vistas questões de Português que tragam um enfoque puramente normativo do
nosso idioma (aquelas questões com as quais convivemos em toda a nossa vida escolar) ou um estudo da
língua distante de situações textuais.
Enunciados como os que veremos indicam que, para a resolução das questões de concursos, não
basta o domínio das regras gramaticais para atestar o nosso conhecimento em Língua portuguesa. Sermos
capazes de aplicar o conhecimento gramatical a situações reais de comunicação (textos) é o que os
enunciados indicam. Perceber as articulações de idéias, reconhecer os mecanismos lingüísticos de veiculação
de pensamento, desenvolver nossa capacidade de síntese, resumo, paráfrase diante de textos são cobranças
norteadoras dos exames.
É para torná-lo íntimo da linguagem dos concursos que realizamos este curso. É por meio dele que
esperamos assegurar sua caminhada exitosa na resolução de questões de Língua Portuguesa, para garantir
sua aprovação.

Sucesso!
Daniel Souza

ARTICULAÇÃO DAS IDÉIAS E DAS ESTRUTURAS EM UM TEXTO

Há cerca de dez anos, apesar de com alguns equívocos, os estudos de linguagem têm dado destaque aos
aspectos semânticos e discursivos de um texto. Essa tendência, acompanhada também pelas comissões
executoras de concursos públicos, resultou no distanciamento de abordagens que apenas verificavam o
domínio de normas gramaticais por parte dos candidatos. Com isso, não é raro encontramos questões que
tratem de Coerência e Coesão textuais ou de Análise Semântica de forma explícita ou implicitamente. Cabe,
portanto, esclarecer essas palavras que estarão diante de nós a todo tempo.

A ANÁLISE TEXTUAL
A Lingüística textual situa o estudo do texto no entendimento de sua textualidade, ou seja, no estudo do
conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto: unidade lingüística concreta numa
dada situação interativa de comunicação. Dessa percepção advém a necessidade do estudo de duas
camadas fundamentais da malha textual: a coerência e a coesão, que são, respectivamente, os níveis de
sentido e de estrutura textuais.

COERÊNCIA TEXTUAL

O princípio da coerência, para vários teóricos, aplica-se à unidade de sentido no texto; é a ordenação e
ligação das idéias de forma lógica; o alicerce semântico. Compreender a coerência do texto significa estar de
posse dos elos conceituais entre seus diversos segmentos, depreender as relações existentes entre idéias-
chave e idéias secundárias, decifrar o que o texto nos diz.

COESÃO TEXTUAL

A coesão consiste na ligação das idéias em um texto, é a manifestação lingüística da articulação do


pensamento; é o nível interno, a conexão, a articulação de palavras frases, orações, períodos, parágrafos
que garante a estruturação de uma malha entrelaçada, de uma teia de significados, de um texto.

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Você já deve ter percebido que um enfoque dessa natureza só será possível quando o estudo do
Português tomar como referência maior o texto verbal e todas as suas implicações. Por isso,
iniciamos nossos estudos pela compreensão do texto como uma unidade lingüística concreta
numa dada situação interativa de comunicação.

ANOTAÇÕES:
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Elementos da comunicação:

Os elementos básicos que compõem uma situação de comunicação são :

A própria situação ou realidade de comunicação em que ela se realiza: o lugar, a época, o tipo de cultura a
que pertencem as pessoas que se comunicam, o seu grau de escolaridade, sua faixa etária e tudo aquilo que
pode modificar o sentido da mensagem que está sendo transmitida. São as CIRCUNSTÂNCIAS todas em que
uma comunicação se efetiva (enunciação);

Os interlocutores que dela participam :

EMISSOR : é quem transmite uma mensagem durante a comunicação ( é a pessoa que fala no discurso – a
1ª pessoa – equivalente a EU ou NÓS);

RECEPTOR: é para quem se transmite uma mensagem durante a comunicação (é a pessoa para quem se
fala no discurso – a 2ª pessoa – equivalente a TU e VÓS);

Obs: durante a comunicação, normalmente esses papéis se invertem.

MENSAGEM : é cada conteúdo que os interlocutores compartilham. A mensagem normalmente tem um


tema central, um assunto predominante. Ela pode ser sobre alguém, algo (real ou não, concreto ou
abstrato), algum lugar, etc. Em comunicação, o objeto ou tema central da mensagem chama-se REFERENTE
. Assim, o referente é sobre que ou sobre quem se fala na mensagem : corresponde a 3 a pessoa do discurso
– ele, ela, eles, elas.

CÓDIGO : é a linguagem ou conjunto de signos usados na elaboração e/ou na transmissão da mensagem


na comunicação.

CANAL : é cada um dos meios de comunicação utilizados na transmissão de mensagens na comunicação.


São os meios de comunicação. Ex.: revista, jornal, rádio, televisão, telefone, fax, telégrafo, computador
(Internet), rádio, carta, etc.

Funções da Linguagem:

Quando, num discurso, entram em ação os elementos da comunicação, o uso da linguagem se efetiva
como instrumento de interação entre indivíduos . A linguagem passa a ter diferentes funções nesse discurso,
dependendo da temática (do assunto, do referente) da mensagem veiculada. Assim temos:

REFERENCIAL:

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EMOTIVA:

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POÉTICA:

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METALINGÜÍSTICA:

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APELATIVA:

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FÁTICA:

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NA LEITURA E ANÁLISE DE TEXTOS EM CONCURSOS, CONSIDERE:

As maneiras de se abordar um texto verbal são múltiplas, todas obedecendo a certos tipos
de procedimentos resultantes das referências científicas de quem o analisa. Assim, de acordo com
o método aplicado, podemos ter análise do conteúdo, análise estilística, análise do discurso etc.
Interessa-nos aqui, não um esboço teórico de formas de análise, mas a aplicação de um método
eficiente de leitura que nos conduza a um domínio das informações veiculadas pelos textos e dos
recursos lingüísticos adotados pelos diferentes autores nas suas produções.
Vale lembrar que nosso empenho analítico terá como objetivo maior a aplicação de
procedimentos de leitura que resultem em uma resolução eficiente de questões de concursos. Por
isso, em muitos casos abraçamo-nos não a concepções teóricas, mas à diversidade dos enfoques
textuais convencionados pelas comissões executoras de provas. E, como a aplicação desse
método tem se revertido em aprovações nos últimos tempos, esperamos dar nossa contribuição
para que você seja o próximo a ocupar um lugar nas listas de classificados.

Quanto à Tipologia Textual:

Descrição
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Narração

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Dissertação
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Quanto ao uso da Língua:

POLISSEMIA:
• Significado Literal
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• Significado Contextual
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IMPORTANTE!__________________________________________________________
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Quanto à Coesão:
O conceito de coesão é semântico; refere-se às relações de significado que existem dentro do
texto, e que o definem como um texto. Coesão ocorre quando a INTERPRETAÇÃO de algum
elemento do discurso é dependente de um outro. Um PRESSUPÕE o outro, no sentido de que ele
não pode ser efetivamente decodificado exceto por referir-se ao outro. Quando isso ocorre, a
relação de coesão é estabelecida, e os dois elementos, o que pressupõe e o pressuposto, são pelo
menos integrados num texto.

Alguns Mecanismos:

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• REFERÊNCIA
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ELEMENTOS DE SEQÜENCIAÇÃO

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ESTRATÉGIA DE LEITURA

Consiste na utilização de um modelo preciso de leitura que pode ser repetido, treinado
e aplicado em situações de provas nos concursos públicos. Trata-se de colher um certo
conjunto previsível de informações que servirão de base para responder as provas que
encontraremos.

Etapas da Leitura

1. CONTEXTUALIZAÇÃO

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2. LEVANTAMENTO DO CAMPO LEXICAL

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3. ELEMENTOS DE COESÃO REFERENCIAL

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4. DESTAQUE PARA OS OPERADORES DE SENTIDO

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APLICAÇÃO
QUESTÕES FCC
TRT 24ª REGIÃO (com modificações)
Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao texto que segue, trecho de um artigo
publicado em 1948.

O Brasil se desenvolveu como nação politicamente independente na fase em que a


economia capitalista transformava o mundo num sistema de mercados. A economia moderna
não permite, senão em escala reduzida, o desenvolvimento autônomo das economias
nacionais. Tudo se liga, e os países dependem, cada vez mais, dos grandes centros em que se
concentram as forças do imperialismo econômico. A primeira realidade que o brasileiro
encontra pela frente é, portanto, a dependência estreita em que vivemos. Assim sendo, somos
obrigados a seguir a oscilação dos líderes da economia mundial, e a conseqüência disso é
vivermos sem poder equilibrar duas forças contraditórias, que passamos a expor.
Com efeito, pelo fato de sermos um país predominantemente agrícola e pecuário,
fornecedor de matérias-primas e produtos alimentares, a maioria das nossas populações vive
em estado de atraso, sem ligação com o progresso da vida moderna. Assim, desenvolvem-se
necessidades locais muito específicas, requerendo medidas
locais e economia orientada para as zonas do interior, já que o nível dessas populações as
coloca, mais ou menos, conforme o caso, à margem dos tipos modernos de vida econômica.
Por outro lado, como estamos na dependência dos grandes centros econômicos, a nossa
economia é solicitada, a cada momento, a se ajustar ao ritmo variável da economia mundial –
o que acarreta a necessidade de uma política econômica de caráter geral, com medidas de
larga escala, voltadas para as exigências da balança internacional de comércio. Até agora não
se estabeleceu, no Brasil, a difícil harmonia entre essas duas tendências contraditórias.
(Antonio Candido, Folha Socialista, no 3. São Paulo, 1948)

1. O texto expõe a seguinte idéia fundamental:


(A) O desenvolvimento do Brasil vem se acelerando a despeito do ritmo da economia capitalista.

(B) O fato de nossa economia ser essencialmente rural impossibilita medidas econômicas
localizadas.
(C) O entrave do nosso desenvolvimento econômico está na dificuldade de conciliarmos medidas
pontuais e medidas de caráter geral.
(D) A superação de nossas contradições econômicas implica a adoção de medidas orientadas
para as zonas mais desenvolvidas.
(E) As contradições de nossa economia são inerentes à implantação do sistema mundial de
mercados.

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2. Atente para as seguintes afirmações:


I. Na frase O Brasil se desenvolveu como nação politicamente independente na
fase em que a economia capitalista transformava o mundo num sistema de
mercados, as ações destacadas mantêm entre si uma relação de exclusão.
II. Na frase A economia moderna não permite, senão em escala reduzida, o
desenvolvimento autônomo das grandes economias internacionais, o segmento
destacado tem o valor de uma ressalva.
III. Na frase A primeira realidade que o brasileiro encontra pela frente é, portanto, a
dependência estreita em que vivemos, o segmento destacado tem o valor de
uma hipótese.

• Está correto o que se afirma SOMENTE em

(A) I e II.
(B) I e III.
(C) II.
(D) II e III.
(E) III.

3. Considerando-se o contexto em que a frase ocorre, a expressão destacada preserva


o sentido da expressão indicada entre parênteses em:
(A) Pelo fato de sermos um país predominantemente agrícola e pecuário, a maioria
das nossas populações vive em estado de atraso. (Não obstante).
(B) Por outro lado, a nossa economia é solicitada a se ajustar ao ritmo variável da
economia mundial. (De outro modo).
(C) A economia moderna não permite, senão em escala reduzida, o desenvolvimento
autônomo das economias nacionais. (a não ser).
(D) Assim sendo, somos obrigados a seguir a oscilação dos líderes da economia
mundial (ainda assim).
(E) Os países dependem, cada vez mais, dos grandes centros do imperialismo
econômico (de mais a mais).

4. Tudo se liga, e os países dependem, cada vez mais, dos grandes centros em que se
concentram as forças do imperialismo econômico.

• Substituindo-se, na frase acima, as formas dependem e se concentram, respectivamente,


pelas formas subordinam-se e se irradiam, o segmento sublinhado deverá ser substituído
por
(A) nos grandes centros onde.
(B) aos grandes centros de onde.
(C) pelos grandes centros aonde.
(D) aos grandes centros em cujos.
(E) nos grandes centros por onde.

5. O Brasil é rico em matérias-primas, mas não basta possuirmos matérias-primas, o


desejável é que pudéssemos processar as matérias-primas, industrializar essas
matérias-primas e auferir todo o lucro potencial embutido nessas matérias-primas.
• Evitam-se as viciosas repetições do período acima substituindo-se, de modo correto, os
elementos destacados, respectivamente, por:

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(A) as possuirmos - processá-las - industrializá-las - nelas embutido


(B) lhes possuirmos - processá-las - industrializá-las - embutido-lhes
(C) possuirmo-las - lhes processar - lhes industrializar -nelas embutido
(D) as possuirmos - as processar - industrializar-lhes -nelas embutidas
(E) possuí-las - processar-lhes - industrializar-lhes -embutido-lhes

Atenção: As questões de números 6 a 8 referem-se ao texto que segue.

Governo Discute se Programa para Índios é Legal


Um programa de FM dirigido a índios e outros moradores da fronteira do Brasil com o
Paraguai, no Mato Grosso do Sul, corre o risco de ser considerado ilegal pelo governo federal.
Transmitida em nheengatu (segundo o dicionário Aurélio, língua que se originou do tupi), a
atração pode ser enquadrada numa lei de 1963, que proíbe veiculações em língua estrangeira.
Pela regra, só emissoras de ondas curtas podem operar com outros idiomas, mediante
autorização do Ministério das Comunicações.
Mistura de termos indígenas com espanhol e português, o nheengatu originou-se do
período da colonização brasileira. Calcula-se que seja utilizado por cerca de 370 mil pessoas
no MS. A essa população é dirigido “Nheengatu”, programa da FM educativa de Campo Grande
que vai ao ar três vezes por semana e tem estréia marcada na TVE do Estado em agosto. Sua
sobrevivência no rádio e sua migração para a televisão são objetos agora da seguinte análise,
em curso no ministério: essa é ou não é uma língua “estrangeira”?
“Além de tantos crimes históricos contra os índios, querem cometer mais um”, afirmou
Bosco Martins, presidente da FM e da TVE, que recebeu do ministério solicitação para
encaminhar informações sobre o programa. “O nheengatu foi proibido por D. João IV, em
1727, que queria oficializar o português. Hoje, permanece vivo como uma forma de
resistência cultural”, afirma Marlei Sigrist, professora da Universidade Federal do MS, que
desenvolveu um estudo sobre o programa.
Para Marcos Bitelli, especialista em leis de radiodifusão, o “Nheengatu” não pode ser
proibido. “A lei que estabelece restrições a irradiações em língua estrangeira não pode ser
aplicada ao nheengatu, que era a principal língua brasileira na colonização”.
(Laura Mattos, Folha de S. Paulo, 18/06/2003)

6. A controvérsia de que trata o texto é de natureza eminentemente


(A) jurídica, já que se trata de decidir sobre a vigência ou não de uma lei de 1963.
(B) histórica, pois remonta a um documento produzido em pleno período colonial.
(C) cultural, já que se trata de qualificar a forma de expressão de uma coletividade.
(D) econômica, pois envolve interesses particulares que dependem de recursos públicos.
(E) política, pois implica conflito de interesses entre os diferentes poderes do Estado.

7. Atente para as seguintes afirmações:


I. As observações de Bosco Martins, de Marlei Sigrist e de Marcos Bitelli convergem no
fundamental – a língua nheengatu deve ser preservada – mas são omissas quanto à
legitimidade ou legalidade do programa de rádio.
II. O argumento de que se vale Marcos Bitelli permite depreender que razões de ordem
histórica devem ser levadas em conta num processo de avaliação do que seja uma “língua
nacional”.
III.A jornalista, para dar notícia do fato polêmico, investigou-o, informou-se com autoridades
e especialistas e deu voz ao público diretamente envolvido.

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• Está correto o que se afirma SOMENTE em

(A) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

8. No contexto da frase Pela regra, só emissoras de ondas curtas podem operar com outros
idiomas, mediante autorização do Ministério das Comunicações,
I. podem operar com outros idiomas equivale a podem se valer de outros idiomas em suas
transmissões.
II. o termo mediante tem o sentido de salvo.
III. o termo só tem o mesmo sentido que assume numa frase como Foi encontrado só, em seu
quarto

• Em relação ao enunciado, está correto o que se afirma em

(A) I, II e III.
(B) II e III, apenas.
(C) I e III, apenas.
(D) I e II, apenas.
(E) I, apenas.

TRT DA 21ª REGIÃO

Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao texto que segue.

Ganhamos a Guerra, Não a Paz


Os físicos se encontram numa posição não muito diferente da de Alfred Nobel. Ele inventou
o mais poderoso explosivo jamais conhecido até sua época, um meio de destruição por
excelência. Para reparar isso, para aplacar sua consciência humana, instituiu seus prêmios à
promoção da paz e às realizações pacíficas. Hoje(*), os físicos que participaram da fabricação
da mais aterradora e perigosa arma de todos os tempos sentem-se atormentados por igual
sentimento de responsabilidade, para não dizer culpa. E não podemos desistir de advertir e de
voltar a advertir, não podemos e não devemos relaxar em nossos esforços para despertar nas
nações do mundo, e especialmente nos seus governos, a consciência do inominável desastre
que eles certamente irão provocar, a menos que mudem sua atitude em relação uns aos outros
e em relação à tarefa de moldar o futuro.
Ajudamos a criar essa nova arma, no intuito de impedir que os inimigos da humanidade a
obtivessem antes de nós, o que, dada a mentalidade dos nazistas, teria significado uma
inconcebível destruição e escravização do resto do mundo. Entregamos essa arma nas mãos
dos povos norte-americano e britânico, vendo neles fiéis depositários de toda a humanidade,
que lutavam pela paz e pela liberdade. Até agora, porém, não conseguimos ver nenhuma
garantia das liberdades que foram prometidas às nações no Pacto do Atlântico. Ganhamos a
guerra, não a paz. As grandes potências, unidas na luta, estão agora divididas quanto aos
acordos de paz. Prometeu-se ao mundo que ele ficaria livre do medo, mas, na verdade, o

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medo aumentou enormemente desde o fim da guerra. Prometeu-se ao mundo que ele ficaria
livre da penúria, mas grandes partes dele se defrontam com a fome, enquanto outras vivem na
abundância.
(...) Possa o espírito que motivou Alfred Nobel a criar sua notável instituição, o espírito de
fé e confiança, de generosidade e fraternidade entre os homens, prevalecer na mente daqueles
de cujas decisões dependem nossos destinos. Do contrário, a civilização humana estará
condenada.
(Albert Einstein, Escritos da maturidade. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994)
(*) Este texto foi escrito em 1945, logo depois do fim da II Guerra Mundial.

1. Ao escrever esse texto, o grande físico Albert Einstein preocupou-se sobretudo em formular
uma grave advertência contra

(A) a pacificação do mundo por meio da ação de governos totalitários.


(B) a perigosa instabilidade gerada pelo Pacto do Atlântico.
(C) o novo potencial belicoso da situação de pós-guerra.
(D) o poder de devastação representado pelo invento de Alfred Nobel.
(E) o espírito do armistício assinado pelas grandes potências.

2. Considere as seguintes afirmações:

I. A criação e a entrega da mais aterradora e perigosa arma de todos os tempos aos norte-
americanos e britânicos se deram em meio a uma perigosa e disputada corrida armamentista.
II. Einstein mostra-se insatisfeito quanto aos termos em que se configurou o Pacto do Atlântico,
um acordo em si mesmo tímido e incapaz de gerar bons resultados.
III. Einstein inclui-se entre os responsáveis pelo término da guerra e pela derrota dos nazistas,
mas declina de qualquer responsabilidade quanto a uma futura utilização da nova e
devastadora arma.

• Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

(A)) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

3. A atitude de vigilância, para a qual Einstein convoca a todos nesse texto, deve materializar-
se, conforme deseja o grande físico,

(A) numa advertência contra os preocupantes riscos representados pela iminente


reorganização dos nazistas.
(B) na conscientização dos vitoriosos quanto à necessidade de se entenderem e de
assumirem suas responsabilidades diante do futuro.
(C) no cumprimento das exigências feitas pelos cientistas quando se propuseram a elaborar
as condições do Pacto do Atlântico.
(D) na manutenção das auspiciosas condições políticas do pós-guerra, marcadas pela derrota
dos nazistas.
(E) na constituição de um novo tratado que, indo de encontro ao Pacto do Atlântico,
represente um esforço de real pacificação.

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4. Quanto à sua construção interna, as frases Ganhamos a guerra, não a paz e As grandes
potências, unidas na luta, estão agora divididas têm em comum

(A) um jogo entre alternativas.


(B) uma relação de causa e efeito.
(C) a formulação de uma condicionalidade.
(D) a articulação de uma hipótese.
(E) a exploração de antíteses.

5. Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de uma expressão do texto


em:

(A) numa posição não muito diferente da de Alfred Nobel = em atitude inteiramente similar
à de Alfred Nobel.
(B) para aplacar sua consciência humana = para obliterar seu juízo sobre a humanidade.
(C) dada a mentalidade dos nazistas = em que pese a consciência dos nazistas.
(D) vendo neles fiéis depositários = reconhecendo-os como confiáveis guardiões.
(E) consciência do inominável desastre = concepção inevitável da tragédia.

TRT/MG – ANALISTA JUD.

A tribo que mais cresce entre nós

A nova tribo dos micreiros* cresceu tanto que talvez já não seja apenas mais uma tribo,
mas uma nação, embora a linguagem fechada e o fanatismo com que se dedicam ao seu objeto
de culto sejam quase de uma seita. São adoradores que têm com o computador uma relação
semelhante à do homem primitivo com o totem e o fogo. Passam horas sentados, com o olhar
fixo num espaço luminoso de algumas polegadas, trocando não só o dia pela noite, como o
mundo pela realidade virtual.
Sua linguagem lembra a dos funkeiros** em quantidade de importações vocabulares
adulteradas, porém é mais ágil e rica, talvez a mais rápida das tribos urbanas modernas. Dança
quem não souber o que é BBS, modem, interface, configuração, acessar e assim por diante.
Alguns termos são neologismos e, outros, recriações semânticas de velhos significados, como
janela, sistema, ícone, maximizar.
No começo da informatização das redações de jornal, houve um divertido mal-entendido
quando uma jovem repórter disse pela primeira vez: “Eu abortei!”. Ela acabava de rejeitar não um
filho, mas uma matéria. Hoje, ninguém mais associa essa palavra ao ato pecaminoso. Aborta-se
tão impune e freqüentemente quanto se acessa.
Nada mais tem forma e sim “formatação”. Foi-se o tempo em que “fazer um programa”
era uma aventura amorosa. O “vírus” que apavora os micreiros não é o HIV, mas uma intromissão
indevida no “sistema”, outra palavra cujo sentido atual nada tem a ver com os significados
anteriores. A geração de 68 lutou para derrubar o sistema; hoje o sistema cai a toda hora.
Alguns velhos homens de letras olham com preconceito essa tribo, como se ela fosse
composta apenas de jovens, e ainda por cima iletrados. É um engano, porque há entre os
micreiros respeitáveis senhoras e brilhantes intelectuais. Falar mal do computador é tão inútil e
reacionário quanto foi quebrar máquinas no começo da primeira Revolução Industrial. Ele veio
para ficar, como se diz, e seu sucesso é avassalador. Basta ver o entusiasmo das adesões. (Zuenir
Ventura, Crônicas de um fim de século)
* micreiros = usuários de microcomputador.
** funkeiros = criadores ou entusiastas da música funk.

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1. No primeiro parágrafo, as palavras tribo, nação e seita ocorrem ao autor para identificar os
micreiros, respectivamente, como

(A)) fenômeno emergente, em avançado estágio de expansão, caracterizado por certos


procedimentos ritualísticos.
(B) fenômeno emergente, de caráter nacionalista, comparável ao crescimento das seitas
religiosas.
(C) agentes de uma revolução tecnológica, no apogeu de sua expansão, capazes de dedicação
integral à sua causa.
(D) sinal dos novos tempos, num patamar nacionalista, ainda caracterizado por elementos
regressivos.
(E) sinal dos novos tempos, evidência da tecnologia nacional, ainda comprometido pelo
hermetismo de sua linguagem.

3. A analogia estabelecida pelo autor entre a importância do computador e a da primeira


Revolução Industrial deriva do fato de que, em ambos os casos,

(A) o sucesso imediato da novidade levou os homens a um entusiasmo quase irracional, sem
limites.
(B) os velhos letrados, como sempre, encararam com desconfiança o surgimento de uma nova
linguagem.
(C) houve reações motivadas pelo temor inerente aos períodos de crise econômica.
(D)) as reações mostraram-se inúteis, diante da inexorabilidade de um novo estágio tecnológico.
(E) argumentos ponderáveis, de natureza política, evidenciaram o caráter antidemocrático da
novidade
.

4. O elemento sublinhado na frase

(A) (...) com o olhar fixo num espaço luminoso de algumas polegadas refere-se ao instante em
que o usuário de um micro age como um funkeiro.
(B) No começo da informatização das redações de jornal evidencia uma das formas de
preconceito com que se reagiu à nova linguagem.
(C) Foi-se o tempo em que “fazer um programa” era uma aventura amorosa revela o novo
sentido atribuído a uma antiga expressão.
(D) Hoje, ninguém mais associa essa palavra ao ato pecaminoso refere-se à necessidade de
rejeitar um texto.
(E)) Aborta-se tão impune e freqüentemente quanto se acessa ajuda a esclarecer o novo campo
semântico a que pertence aborta-se.

5. A geração de 68 lutou para derrubar o sistema; hoje o sistema cai a toda hora. Na frase acima,
a repetição da palavra sistema explora o mesmo recurso expressivo alcançado pela repetição de
palavra que ocorre na frase:

(A) É um sujeito arrogante, ninguém consegue mais suportar a vaidade daquele sujeito.
(B) A roupa informal, o comportamento informal, tudo nela revela sua espontaneidade, sua
descontração.
(C)) Valeu-se de uma operação de crédito para tentar restabelecer o crédito com que o
distinguiam os amigos mais próximos.
(D) Ao propor novos tributos, a comissão não avaliou o quanto os tributos antigos já exauriam os
recursos dos contribuintes mais pobres.
(E) A fragilização do mercado de ações acabou por redundar na fragilização de um grande
número de empresas nacionais.

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11. Alguns velhos homens de letras olham com preconceito essa tribo, como se ela fosse
composta apenas de jovens, e ainda por cima iletrados. Pode-se substituir o segmento
sublinhado, sem prejuízo para o sentido da frase acima, pela expressão

(A) sobretudo os iletrados.


(B) e ainda assim iletrados.
(C) sem falar nos iletrados.
(D) inclusive os iletrados.
(E))além de tudo iletrados.

Carta aberta à assembléia geral das Nações Unidas*

Os representantes de 55 governos, reunidos na segunda Assembléia Geral das Nações


Unidas, terão sem dúvida consciência do fato de que, durante os dois últimos anos – desde a
vitória sobre as potências do Eixo – não se fez nenhum progresso sensível rumo à prevenção da
guerra, nem rumo ao entendimento em campos específicos, como o controle da energia atômica
e a cooperação econômica na reconstrução de áreas devastadas pela guerra.
A ONU não pode ser responsabilizada por esses malogros. Nenhuma organização
internacional pode ser mais forte do que os poderes constitucionais que lhe são conferidos, ou do
que os membros que a compõem desejam que seja. Na verdade, as Nações Unidas são uma
instituição extremamente importante e útil, contanto que os povos e governos do mundo se
dêem conta de que a ONU nada mais é que um sistema de transição para a meta final, que é o
estabelecimento de um poder supranacional, investido de poderes legislativos e executivos
suficientes para manter a paz. O impasse atual reside na inexistência de uma autoridade
supranacional suficiente e confiável. Assim, os líderes responsáveis de todos os governos são
obrigados a agir na presunção de uma guerra eventual. Cada passo motivado por essa presunção
contribui para aumentar o medo e a desconfiança gerais, apressando a catástrofe final. Por
maiores que sejam os armamentos nacionais, eles não geram a segurança militar para nenhum
país, nem garantem a manutenção da paz. * Trecho de carta escrita em 1947 (Albert Einstein,
Escritos da maturidade.)

13. Nessa carta aberta, Einstein demonstra acreditar que a ONU

(A) falha quando, já tendo alcançado os meios e a legitimidade necessários para exercer suas
funções, reluta em fazê-lo.
(B)) só atingirá seus objetivos quando superar o impasse representado pela ausência de um
eficaz e bem constituído poder supranacional.
(C) deve agir na presunção de que é iminente uma nova guerra mundial, sem o que tenderá a se
fragilizar cada vez mais como organização.
(D) deve ser encarada como uma organização permanentemente voltada para disciplinar a
corrida armamentista e orientar as potências emergentes.
(E) só terá sucesso quando efetivamente exercer sua autoridade sobre os poderes legislativos e
executivos dos países que a constituem.

14. Atente para as seguintes afirmações:

I. Einstein lembra aos representantes de governos que, finda a 2a Guerra já há dois anos, ainda
não se verificou avanço significativo seja na prevenção de novos conflitos, seja em importantes
iniciativas específicas.
II. A constituição jurídica da ONU, para Einstein, deve ser um objetivo final, a ser alcançado a
longo prazo, uma vez superados os entraves burocráticos que impedem o bom funcionamento
daquela Organização.

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III. Einstein não crê que uma autoridade supranacional possa se impor, pois não vê como as
nações abdicariam dos poderes constitucionais que lhes são próprios.

Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em


(A)) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

15. Ao negritar em sua carta a expressão contanto que, no contexto do segundo parágrafo, o
autor deseja evidenciar que está

(A) presumindo uma plena impossibilidade.


(B) admitindo uma causa eficiente.
(C) formulando uma certa improbabilidade.
(D)) estabelecendo um necessário pressuposto.
(E) manifestando uma dúvida circunstancial

20. Considere as seguintes afirmações:

I. Einstein escreveu uma série de artigos políticos na década de 40.


II. Esses artigos políticos foram reunidos num livro.
III. Esse livro evidencia a responsabilidade social do autor.

O período em que as afirmações acima estão clara e corretamente articuladas é:

(A) Os artigos políticos com que Einstein reuniu num livro torna evidente a grande
responsabilidade social deste, na década de 40.
(B) A responsabilidade social de Einstein, que escreveu uma série de artigos políticos na década
de 40,evidencia-se no livro em cujo reuniu os mesmos.
(C)) A responsabilidade social de Einstein evidencia-se no livro em que reuniu uma série de
artigos políticos, escritos na década de 40.
(D) Como escreveu, na década de 40, uma série de artigos políticos, Einstein reuniu-os num
livro, em cuja responsabilidade social se evidencia.
(E) Esse livro, que Einstein escreveu na década de 40, torna evidente sua responsabilidade
social, composto pela reunião de uma série de artigos políticos.

TRT/MS –ANALISTA JUD. - 2006

Instituições e instituições

O homem não vive sem as instituições – sejam elas políticas, religiosas, jurídicas,
financeiras, educacionais, esportivas ou de qualquer outra natureza, importância e amplitude. Do
pequeno clube recreativo do interior ao Estado nacional ou à Igreja milenar, temos criado desde
nossa origem instituições de todo tipo, por meio das quais nos agrupamos em torno dos mais
distintos interesses, que tanto podem ser a devoção por uma escola de samba como a
implantação de um sistema nacional de educação. As instituições, entendidas nesse amplo
espectro, nascem, crescem, se transformam ou morrem segundo as necessidades nossas. Em
princípio, elas são criadas para assegurar os fundamentos da ordem, da organização, da parceria,
do congraçamento, do espírito coletivo. Estamos conscientes de que, sem elas, imperaria o caos,
a barbárie, a violência, a lei da selva.

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No entanto, mesmo com a multiplicação das instituições, não conhecemos nenhuma época
histórica que não tenha sido marcada por conflitos, ódios e terremotos sociais. Isto nos leva a
crer que, embora necessárias, múltiplas e atuantes, as instituições não asseguram o
ordenamento social, a propagação da justiça, a harmonização dos interesses. Pode mesmo
ocorrer o contrário: há instituições ditas “organizadas” que prosperam na atividade criminosa,
disseminando o mandonismo, o ódio e a violência. Isso significa que a criação mesma de
instituições pode ser motivada por um instinto destrutivo, discriminativo, hostil aos princípios
básicos da civilização. “Crime organizado”, “formação de quadrilha”, “corporativismo” são
expressões que lembram os diferentes modos pelos quais se podem instituir forças socialmente
negativas e deletérias.
Uma grande dificuldade é a de discernir entre as instituições saudáveis, que de fato
correspondem a algum interesse social, e aquelas que só se instalam como aparelho
organizacional para mesquinhamente auferir vantagens, cercear direitos, garantir privilégios.
Outra grande dificuldade está em distinguir, dentro das instituições públicas oficiais,
democraticamente criadas, os indivíduos ou grupos de indivíduos que se valem exatamente da
imagem de legitimidade delas para, furtivamente, fazerem valer seus interesses particulares. O
efeito desse tipo de ação é dos mais nefastos: quando se desmoraliza, pela ação de uma pequena
parcela de delinqüentes, a imagem de uma instituição pública saudável e necessária, propaga-se
a crença de que a sociedade deva ser controlada pelo poder da força. Isso leva, como a História
tem mostrado, à implantação das piores ditaduras, dos regimes de exceção, do autoritarismo e
do sectarismo terrorista – exemplos das instituições macabras que os homens – lamentavelmente
– criam contra sua própria humanidade. (Saulo de Magalhães)

1. A repetição de palavra que há no título desse texto – Instituições e instituições – justifica-


se porque, com esse procedimento, o autor

(A) encarece, de modo enfático, a importância que as instituições saudáveis assumem em


qualquer tipo de organização social.
(B)) considera a necessidade de discernir entre as instituições de efetivo valor social e as
manipuladas por interesses reprováveis.
(C) manifesta sua descrença nas instituições que se multiplicam para melhor contemplar os
interesses mesquinhos de grupos minoritários.
(D) alude à divisão entre as instituições permanentes, como a da Igreja, e as transitórias, como
a de uma corporação pouco expressiva.
(E) acentua a necessidade social de preservar as instituições, adaptando-as, para isso, às
diferentes contingências históricas.

2. Considere as seguintes afirmações:


I. No primeiro parágrafo, o autor reconhece a importância das instituições, analisa as
modalidades em que se dividem e critica a finalidade nefasta para a qual algumas são criadas.
II. No segundo parágrafo, o autor não admite a possibilidade de que as instituições deletérias se
organizem de modo eficaz, em virtude de atenderem a interesses outros que não os sociais.
III. No terceiro parágrafo, o autor estabelece uma relação entre o aviltamento das instituições
públicas e as graves conseqüências políticas que decorrem disso.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma APENAS em

(A) I.
(B) II.
(C)) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

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3. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de uma expressão do texto


em:

(A) forças socialmente negativas e deletérias - poderes anti-sociais e destrutivos.


(B) não asseguram o ordenamento socia - não asseveram o enquadramento da sociedade.
(C) disseminando o mandonismo - refluindo o autoritarismo.
(D) entendidas nesse amplo espectro - apreendidas nesse quadro difuso.
(E) mesquinhamente auferir vantagens - tolamente conferir privilégios.

4. No terceiro parágrafo, afirma o autor que a imagem de legitimidade das instituições

(A) acaba evitando que se propaguem as iniciativas dos indivíduos sem escrúpulos.
(B) revela o sentido público que podem ganhar algumas iniciativas privadas.
(C) acentua, inequivocamente, o interesse pessoal de quaisquer iniciativas.
(D) garante a plena realização das iniciativas de quem deseja o bem comum.
(E)) pode vir a servir ao encobrimento da prática de ações interesseiras e inconfessáveis.

13. No terceiro parágrafo, o primeiro período se inicia com a expressão Uma grande dificuldade e
o segundo se inicia com a expressão Outra grande dificuldade. Há, entre esses dois períodos,
uma relação que exprime

(A) uma sucessão de alternativas.


(B) um nexo de causalidade.
(C)) uma justaposição simples.
(D) uma contradição insuperável.
(E) um critério hierárquico.

TRT/PB
Por que não gosto de eleições

Gosto da democracia em seu exercício cotidiano e concreto. Prezo a discussão numa


associação de moradores de vila para discutir se é melhor pedir mais postes de luz ou asfalto na
rua central. Aprecio uma reunião de condomínio em que uma senhora idosa e sozinha defende
seu cachorrinho contra a mãe de uma criança asmática e alérgica aos pêlos de animais. Em
ambos os casos, sinto carinho pelo esforço de inventar formas possíveis de convivência.
Ultrapassamos o tamanho das comunas medievais, e hoje um governo democrático só
pode ser representativo: as eleições são inevitáveis. Mas não me digam que elas são a melhor
expressão da democracia.
A retórica eleitoral parece implicar inelutavelmente duas formas de desrespeito, paradoxais
por serem ambas inimigas da invenção democrática.
Há o desrespeito aos eleitores, que é implícito na simplificação sistemática da realidade.
Tanto as promessas quanto a crítica às promessas dos adversários se alimentam numa insultuosa
infantilização dos votantes: “Nós temos razão, o outro está errado; solucionaremos tudo, não há
dúvidas nem complexidade; entusiasmem-se”.
E há o desrespeito recíproco entre os candidatos. As reuniões de moradores de vila ou de
condomínio não poderiam funcionar se os participantes se tratassem como candidatos a um
mesmo cargo eleitoral. Paradoxo: o processo eleitoral parece ser o contra-exemplo da humildade
necessária para o exercício da democracia que importa e que deveria regrar as relações básicas
entre cidadãos – a democracia concreta.

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Em 1974, na França, Mitterrand, socialista, concorria à Presidência com Giscard d´Estaing,


centrista. Num debate decisivo, Mitterrand falava como se ele fosse o único a enternecerse ante o
destino dos pobres e deserdados. Giscard retrucou: “Se-nhor Mitterrand, o senhor não detém o
monopólio do coração”. Cansado de simplificações, o eleitorado gostou, e Mitterrand perdeu.
(Contardo Calligaris, Terra de ninguém)

1. A justificativa do autor para não gostar de eleições expressa-se pelo fato de que, nas eleições,

(A) o exercício democrático revela-se custoso e complexo, tornando inviáveis as decisões mais
justas e mais simples.
(B)) ocorre uma disputa em princípio democrática, na qual, contraditoriamente, os adversários
desrespeitam a base mesma da democracia.
(C) são feitas promessas cujo cumprimento dependeria da suspensão, ainda que momentânea,
dos direitos individuais.
(D) os interesses dos candidatos, mercê do antagonismo de suas propostas, acabam por se
sobrepor aos interesses partidários.
(E) as hostilidades entre os candidatos levam-nos a acirrar a argumentação política, em vez de
buscarem um consenso entre suas propostas.
2. Atente para as seguintes afirmações:

I. Os exemplos da discussão entre moradores de uma vila e da reunião de condomínio ilustram


situações em que não há conflito de interesses.
II. Tanto são inevitáveis as eleições, numa democracia, como é rotineiro o uso da boa retórica,
que torna convincentes os argumentos de quem as disputa.
III. O duplo desrespeito, a que se refere o autor, atinge tanto os sujeitos da retórica de campanha
como os receptores para os quais ela se produz.

Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em


(A) I.
(B) II.
(C)) III.
(D) I e II.
(E) II e III.
3. No contexto do segundo parágrafo, é correta a inferência de que

(A)) nas comunas medievais não se impôs a necessidade de eleições representativas.


(B) nas comunas medievais não havia a menor possibilidade de práticas democráticas.
(C) as eleições representativas são inevitáveis, constituindo a finalidade da democracia.
(D) o aperfeiçoamento democrático deve-se à experiência das comunas medievais.
(E) toda prática democrática se deve ao caráter representativo das eleições.

4. Em sua réplica no debate entre candidatos à Presidência da França, o candidato Giscard d


´Estaing

(A) manifestou seu desapreço pelo destino dos pobres e deserdados.


(B) demonstrou grandeza política, ao acatar as razões de seu oponente.
(C) expressou sua relutância em abordar um tema de natureza social.
(D)) expôs o exclusivismo do discurso do candidato socialista.
(E) denunciou a inexeqüibilidade das promessas de seu rival.

12. Ultrapassamos o tamanho das comunas medievais, e hoje um governo democrático só pode
ser representativo: as eleições são inevitáveis. Mantém-se o sentido da frase acima caso se
substitua a expressão sublinhada por

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(A) ainda que.


(B) a fim de que.
(C))a partir do que.
(D) muito embora.
(E) tendo em vista que.

20. Atente para as seguintes afirmações:

I. Decidi contar com você.


II. Você traiu minha confiança.
III. Dou-lhe nova oportunidade para provar que é meu amigo.

As afirmações acima estão articuladas de modo coerente e correto na frase:

(A) Como quero lhe dar uma nova oportunidade para provar que é meu amigo, já que decidi
contar com você, apesar de você ter traído minha confiança.
(B) Você traiu minha confiança; foi onde decidi contar com você, embora lhe dê uma nova
oportunidade para provar que é meu amigo.
(C) Dou-lhe uma nova oportunidade para que prove que é meu amigo, pois você traiu minha
confiança conquanto decidi contar com você.
(D) Decidi contar com você, sendo que você traiu minha confiança, ainda que lhe dê nova
oportunidade para provar que é meu amigo.
(E)) Dou-lhe uma nova oportunidade para provar que é meu amigo, muito embora você tenha
traído minha confiança quando decidi contar com você.

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