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DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

1) Crimes de perigo e crimes de dano

Nos crimes de perigo, a consumação ocorre com a exposição do bem jurídico


tutelado a um perigo de lesão. Já nos crimes de dano, é necessário que haja uma lesão ao
bem jurídico tutelado pela norma.
Exemplos: crimes de perigo (art. 250); crime de dano (art. 155).

2) Crimes de perigo abstrato e crimes de perigo concreto

O perigo abstrato é aquele presumido por lei. Basta a exposição ao perigo para a
consumação do crime. Por exemplo, art. 130 do CP.
Diferente é o perigo concreto. Este deve ser comprovado para a configuração do
delito. Por exemplo, arts. 131 e 250 do CP.

3) Perigo individual e perigo coletivo:

O crime de perigo individual é aquele que deixa exposto ao perigo um grupo de


pessoas determinadas ou determináveis. Por exemplo, art. 130 do CP.
No crime de perigo coletivo há exposição de número indeterminado de pessoas.
Por exemplo, os arts. 250 a 259 do CP.

INCÊNDIO

Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:

Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

Aumento de pena

§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:

I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;

II - se o incêndio é:

a) em casa habitada ou destinada a habitação;

b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;

c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;

d) em estação ferroviária ou aeródromo;


e) em estaleiro, fábrica ou oficina;

f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;

g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;

h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

Incêndio culposo

§ 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

O tipo incrimina a voluntária causação de fogo relevante que, investindo uma


coisa individuada, subsiste por si mesmo e pode propagar-se, expondo a perigo coisas
outras, ou pessoas, não determinadas ou indetermináveis de antemão (Bitencourt).
Não importa a natureza da coisa incendiada, nem os meios utilizados para causar
o fogo. O que interessa é o perigo a que a vida e a integridade física foram expostos.
Interessa o potencial lesivo.
Se o incêndio ou mesmo o fogo simples não for perigoso, sem representar perigo
real, concreto, a um número indeterminado de pessoas, não caracteriza o crime.
Caso o agente tenha a intenção de expor a perigo número determinado de pessoas,
comete o crime de periclitação à saúde ou à vida (art. 132 do CP).

Questões especiais:

1) Forma qualificada: Se o crime é praticado com o intuito de obter vantagem


pecuniária em proveito próprio ou alheio e, ainda, provoca perigo comum.
2) Forma qualificada: se o incêndio for causado em casa destinada à habitação ou
veículo de transporte coletivo, não há necessidade de pessoas estarem no local; basta o
incêndio ter potencial perigoso.
3) Diferença entre mata e floresta: mata é o conjunto de árvores de grande porte,
enquanto a floresta é o agrupamento de matas.
4) Se o incêndio é causado por motivos políticos, incide o art. 20 da Lei 7.170/83.
5) Crime ambiental: se o incêndio for provocado em floresta ou mata, sem
provocar perigo comum, configura-se o crime do art. 41 da Lei 9.605/98, pois o objetivo
desta lei é proteger o meio ambiente, e não a incolumidade pública.

6) Comprovação do perigo concreto:

“O laudo técnico sobre o incêndio é imprescindível à comprovação da materialidade do crime de


incêndio. Isto porque, como determina o art. 173 do CPP, com a perícia se verifica o motivo e o local em
que iniciou o fogo, o perigo que possa ter ocorrido para a vida e para o patrimônio alheio, bem como a
extensão do dano e o seu valor, e outras circunstâncias que interessarem à elucidação do fato” (TJRS –
Rel. Sylvio Baptista – AC 698174398).
8) Forma culposa:
“Incêndio culposo. Age com imprudência e negligência aquele que ateia fogo em vegetação sem
guarnecê-la da proteção necessária, dando causa a incêndio, com conseqüentes dano ao patrimônio alheio
e perigo para o incolumidade pública, hipótese que tipifica o delito do art. 250, § 2.°, do CP” (TAMG –
Rel. Carlos Abud – AC 188.548-3).

EXPLOSÃO

Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão,
arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:

Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Aumento de pena

§ 2º - As pena aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do


artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.

Modalidade culposa

§ 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de


detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos; nos demais casos, é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

O crime de explosão configura-se pela realização de uma das condutas, desde que
criem perigo comum: explosão, arremesso ou colocação de engenho de dinamite ou de
substância de efeitos análogos.

“Para a configuração do delito previsto no art. 251 do CP, é necessário que o agente provoque a
explosão, faça o arremesso, ou proceda a colocação da dinamite ou substância análoga. O simples fato de
transportar não tipifica o delito que, in casu, a denúncia atribui ao agente” (TJRJ – Rel. Joaquim Cyrillo
– RT 162/297).

Engenho é o aparelho ou máquina capaz de provocar explosão. Arremesso é o


lançamento feito com violência. Quanto à substância com efeitos análogos, Hungria
ensina que tudo depende da perícia para averiguar a similaridade com a dinamite.

“Comete o delito de explosão aquele que enterra no chão bombas de dinamite, expondo a perigo
evidente a vida, a integridade física e o patrimônio de outrem” (TJSP – RT 393/243).

Forma privilegiada: Cuida-se de qualquer explosivo cuja violência não se


equipara à da dinamite.
“Colocação de explosivo em aeronave de vôo de carreira – Se o artefato explosivo internado na
aeronave não continha dinamite ou outras substâncias de efeitos análogos, incide o réu no tipo previsto
pelo Código Penal, art. 251, § 1.°” (TRF 3.ª R – RT 189/267).

As causas de aumento de pena para a explosão são as mesmas do crime de


incêndio.

PERGUNTAS:

1) Se o agente coloca fogo em automóvel de um inimigo, comprovadamente sem expor a


saúde e a vida de qualquer pessoa a perigo, há crime praticado?

2) E se a coisa incendiada for do próprio autor do incêndio, qual o crime praticado se


houver perigo comum? E se não ficar comprovado tal perigo?

3) Quando o agente pretende matar alguém e causa incêndio em sua casa, provocando
perigo comum, responde por qual crime?

4) O agente colocou fogo em seu próprio automóvel, com o fim de obter o valor referente
ao seguro. No entanto, não houve demonstração de perigo comum. Houve crime?

5) “Explosão decorrente da não observância das cautelas necessárias à estocagem de


material de alta potencialidade explosiva” (RT 501/302) configura algum crime?

6) Diga qual o crime nas situações abaixo:

a) O agente dolosamente provoca a explosão próxima de pedestres, criando


situação de perigo comum, e mata alguém que passava pelo local.

b) O agente, sem criar situação de perigo comum, explode o automóvel com o


motorista dentro, com a intenção de matá-lo, o que efetivamente acontece.

c) O agente quer matar seu desafeto, explode dinamite em local habitado, mas
ninguém vem a falecer.

d) O agente, sem criar perigo comum, explode o automóvel de seu desafeto,


apenas para assustá-lo.

e) O agente faz uso de rojões para acertar seu desafeto, em local ermo, e lhe
provoca queimaduras.

f) O agente explode vários rojões em local cheio de gente, em situação de perigo


comum, causando queimaduras em algumas vítimas.

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