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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 409743-4, DA

COMARCA DE LARANJEIRAS DO SUL – VARA


CRIMINAL E ANEXOS.
RECORRENTES: CLAUDINEI GRANEMANN;
MOACIR RIBEIRO (RÉU PRESO);
E EDSON NATALINO
GRANEMANN MELO.
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DO PARANÁ.
RELATOR: DES. JESUS SARRÃO.

1. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIPLO


HOMICÍDIO QUALIFICADO (ARTS. 121, § 2º, I,
III E IV, E 121, § 2º, I, III, IV E V, POR DUAS
VEZES, TODOS DO CP), OCULTAÇÃO DE
CADÁVER (ART. 211 DO CP) E CORRUPÇÃO DE
MENORES (ART. 1º DA LEI Nº 2.252/54).
ALEGADA NULIDADE DA DECISÃO DE
PRONÚNCIA POR EXCESSO DE
FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA.
- Ao emitir o juízo de admissibilidade da acusação, a
digna magistrada motivou sua decisão como era de seu
dever, pois, se não o fizesse, estaria violando o art. 93,
IX, da Constituição Federal, não se podendo dizer que
tenha havido excesso de linguagem por haver indicado
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

os elementos probatórios utilizados na formação de seu


convencimento.

2. TRIPLO HOMICÍDIO QUALIFICADO (ARTS. 121,


§ 2º, I, III E IV, E 121, § 2º, I, III, IV E V, POR DUAS
VEZES, TODOS DO CP), OCULTAÇÃO DE
CADÁVER (ART. 211 DO CP) E CORRUPÇÃO DE
MENORES (ART. 1º DA LEI Nº 2.252/54). TESES DE
NEGATIVA DE AUTORIA. EXISTÊNCIA DE PROVA
INDICATIVA DE QUE OS RECORRENTES SEJAM
CO-AUTORES DOS CRIMES DE TRIPLO
HOMICÍDIO QUALIFICADO, OCULTAÇÃO DE
CADÁVER E CORRUPÇÃO DE MENORES
NARRADOS NA DENÚNCIA. RECURSO
DESPROVIDO NESTA PARTE.
- Da análise da prova produzida nos autos verifica-se
que, ao contrário do alegado pelos recorrentes, há
indícios de que eles são co-autores dos crimes de triplo
homicídio qualificado praticados contra as vítimas Adão
Matozo da Rocha, Junior Domingos de Deus e Adalvir
Silva dos Santos e dos crimes de ocultação de cadáver e
de corrupção de menores, descritos na denúncia, sendo
de rigor que se negue provimento aos recursos em
sentido estrito, nesta parte, cabendo ao Tribunal do Júri
decidir sobre as teses de negativa de autoria, caso sejam
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

sustentadas por ocasião do julgamento pelo Tribunal


Popular.

3. TRIPLO HOMICÍDIO QUALIFICADO (ARTS. 121,


§ 2º, I, III E IV, E 121, § 2º, I, III, IV E V, POR DUAS
VEZES, TODOS DO CP). PRETENSÃO DE
EXCLUSÃO DAS QUALIFICADORAS. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
- Só se justifica a exclusão de circunstância
qualificadora na decisão de pronúncia, quando não
encontrar nenhum apoio na prova dos autos.
- A qualificadora de ter sido o delito praticado mediante
paga ou promessa de recompensa, por se tratar de
circunstância subjetiva, de caráter pessoal, não se
comunica ao mandante (Precedente do egrégio Superior
Tribunal de Justiça consubstanciado no HC nº 11.764).
- Somente se sustentaria a qualificadora do meio cruel
(art. 121, § 2º, III, do Código Penal) se existisse no
processo prova de que os co-réus Claudinei, Edson e
Moacir transportaram as vítimas no porta-malas do
carro e efetuaram disparos de arma de fogo, matando-
as sucessivamente, como forma de prolongar,
desnecessariamente, o sofrimento delas, fazendo
emergir uma circunstância subjetiva, consistente no
propósito deliberado de causar maior dano, por
crueldade.
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

- E, neste aspecto, não há qualquer prova nos autos a


demonstrar que os co-réus Claudinei, Edson e Moacir
desejaram provocar sofrimento desnecessário nas
vítimas Adão Matozo, Junior Domingos e Adalvir Silva.
Aliás, a prova produzida no processo revela-se
contrária, pois as vítimas foram atingidas na cabeça,
conforme se infere dos laudos de necropsia de fls.
521/528 (3º vol.), o que evidentemente acabou por
abreviar eventual sofrimento que estivessem passando.

4. INDEPENDÊNCIA DOS JURADOS PARA


PROFERIR JULGAMENTO SEGUNDO SEU
CONVENCIMENTO.
- Caberá aos jurados, sem se deixarem influenciar, quer
por este julgamento, quer pela decisão de pronúncia,
julgar a causa segundo seu livre convencimento, que
será formado pelo exame das provas e do direito que as
partes farão na sessão de julgamento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso em


Sentido Estrito nº 409743-4, da Comarca de Laranjeiras do Sul – Vara
Criminal e Anexos, em que são recorrentes Claudinei Granemann, Moacir
Ribeiro (réu preso) e Edson Natalino Granemann Melo, e recorrido o Ministério
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Público do Estado do Paraná.


Os réus Claudinei Granemann, Moacir Ribeiro e Edson
Natalino Granemann Melo foram denunciados pela suposta prática dos crimes
definidos nos arts. 121, § 2º, I, III e IV (homicídio triplamente qualificado –
vítima Adão Matozo da Rocha), 121, § 2º, III, IV e V, por duas vezes (duplo
homicídio triplamente qualificado – vítimas Júnior Domingos de Deus e
Adalvir Silva dos Santos), 211 (ocultação de cadáver), todos do Código Penal, e
art. 1º da Lei nº 2.252/54 (corrupção de menores), estando a imputação
deduzida na denúncia nos seguintes termos, verbis:
“Em data próxima a 10 de maio de 2005, em dia e
horário não estabelecidos nos autos, nesta cidade e
comarca de Laranjeiras do Sul, o denunciado
CLAUDINEI GRANEMANN, motivado por
desentendimentos pretéritos, decorrentes de vizinhança de
suas terras e de seu genitor com a vítima ADÃO
MATOZO DA ROCHA, planejou com o acusado EDSON
NATALINO GRANEMAN MELO a morte de ADÃO,
ficando a cargo do acusado EDSON arranjar mais
pessoas para executarem o delito, mediante a promessa
de pagamento de quantia em dinheiro.
Por sua vez, o acusado EDSON conclamou para a
prática do crime seus dois filhos adolescentes, C. G. M.,
de dezesseis anos de idade e, E. A. G. M., então com
dezessete anos de idade. O denunciado EDSON também
chamou o acusado MOACIR RIBEIRO para prática do
homicídio aludido, prometendo-lhe a quantia de R$
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

5.000,00 (cinco mil reais), quantia essa que seria paga


pelo denunciado CLAUDINEI.
Em 10 de maio de 2005, por volta das 14 horas,
nesta cidade e comarca, os denunciados e os adolescentes
se encontraram e combinaram o modo de execução do
delito, todos agindo portanto mediante ajuste de
vontades, um querendo contribuir na conduta do outro.
Por volta das 18 horas, quando a vítima ADÃO se
encontrava na entrada de sua propriedade, localizada
nas proximidades do Rio Piquiri, rodovia PR 158, cidade
e comarca de Palmital, estando em companhia das
também vítimas JUNIOR DOMINGOS DE DEUS e
ADALVIR SILVA DOS SANTOS, os denunciados
EDSON, MOACIR e os adolescentes C. G. M., e E. A. G.
M., valendo-se de uma espingarda não apreendida e de
um revólver, calibre 38, apreendido nos autos às fls. 679,
mediante ameaça, lograram render todas as vítimas. Em
seguida amarram-nas com os braços para trás com
cordas e roupas, colocando-as nos porta-malas dos
veículos marca GM, modelo Vectra, de cor preta, placa
LZQ-9821, de propriedade do denunciado EDSON e da
camionete, marca Toyota, modelo HILUX 4x4 CD, placa
HRZ-2800, de propriedade da vítima ADÃO. Os
denunciados MOACIR e EDSON, e os dois adolescentes,
privando a liberdade de locomoção de todas as vítimas
por vários minutos, conduziram-nas até um matagal,
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

existente nas proximidades de estrada rural que dá


acesso para a Vila Becker, nesta cidade e comarca de
Laranjeiras do Sul. Conforme previamente combinado
por todos os denunciados, o adolescente C. G. M.,
munido do revólver, calibre 38, já citado, efetuou disparos
contra as cabeças das três vítimas que se encontravam
deitadas no chão e amarradas, impossibilitadas de
oferecer qualquer defesa, tendo em seguida o denunciado
EDSON também efetuado disparos de espingarda contra
as vítimas, que sofreram ferimentos produzidos pelos
projéteis das armas de fogo na cabeça e no tórax,
descritos nos laudos de necropsia de fls. 523/530.
As vítimas JUNIOR e ADALVIR foram mortas
pelos denunciados MOACIR, EDSON e os adolescentes
para garantir a impunidade do delito de homicídio
praticado contra a vítima ADÃO, pois temiam serem
reconhecidos caso elas não fossem também mortas.
Os denunciados, transportando as vítimas no porta-
malas dos veículos, antes das mesmas serem mortas e
executando-as lado a lado, causando-lhes intenso
sofrimento e temor, demonstrando falta de piedade,
utilizando-se, portanto, de meio cruel na execução dos
três homicídios.
Os denunciados propositalmente executaram as
vítimas dentro de um matagal, com a intenção de ocultar
os corpos, pois abandonaram em seguida o veículo da
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

vítima ADÃO na rodovia BR 277, nas proximidades da


cidade e comarca de Nova Laranjeiras, portanto em local
distante dos corpos.
Todos os denunciados facilitaram a corrupção dos
adolescentes C. G. M. e E. A. G. M., pois planejaram e
praticaram os delitos com eles.” (fls. 03/05, 1º vol.)
Em 19.08.2005, foi decretada a prisão preventiva do réu
Claudinei Granemann, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal (fls.
610/612, 3º vol.), tendo sido cumprido o mandado de prisão em 19.08.2005 (f.
614-verso, 3º vol.).
Em 28.09.2005, o magistrado recebeu a denúncia (f. 808, 4º
vol.) e decretou a prisão preventiva dos réus Edson Natalino Granemann e
Moacir Ribeiro, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal (fls.
809/812, 4º vol.), tendo sido cumprido os mandados de prisão em 30.09.2005
(f. 854, 4º vol.).
Os réus foram citados (f. 865, 4º vol.) e interrogados (fls.
870/873, 4º vol.), tendo apresentado defesas prévias por advogados constituídos
em seus interrogatórios (fls. 874/876, 884/885 e 893, 4º vol.).
Durante a instrução criminal, foram ouvidas nove (9)
testemunhas arroladas pelo Ministério Público (fls. 897/899 – 4º vol., 955/957 e
964/970 – 5º vol.), uma (1) testemunha arrolada por iniciativa do Juiz (f. 1005,
5º vol.) e dez (10) testemunhas arroladas pelas defesas (fls. 1094/1097,
1123/1124 – 5º vol., 1148 e 1193/1195 – 6º vol.).
Às fls. 944/947 (5º vol.), consta pedido de habilitação de
Roseny Oliveira Rocha, viúva da vítima Adão Matozo da Rocha, como
assistente de acusação, o qual foi deferido à f. 949 (5º vol.).
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Devidamente intimada (fls. 998/999), a assistente de


acusação não compareceu à audiência de inquirição da testemunha Wilson de
Oliveira (f. 1004, 5º vol.), sem ter apresentado qualquer justificativa para o não
comparecimento, razão pela qual o processo prosseguiu sem nova intimação, a
teor do que dispõe o art. 271, § 2º, do Código de Processo Penal.
Em alegações finais, o Ministério Público pugnou pela
pronúncia dos réus nos termos da denúncia, para que sejam submetidos a
julgamento pelo Tribunal do Júri (fls. 1231/1238, 7º vol.).
A defesa do réu Edson Natalino Granemann, em suas
alegações finais, pugnou por sua impronúncia, tendo em vista que “não existe
nestes autos NENHUM testemunho FIRME, SÓLIDO, INCONTROVERSO, que
possa servir de base para um decreto de pronúncia, como quer a douta
promotoria” (f. 1269) (fls. 1256/1277, 7º vol.). Na seqüência foram
apresentadas alegações finais pelo réu Claudinei Granemann (fls. 1286/1288, 7º
vol.) e pelo réu Moacir Ribeiro (fls. 1289/1291, 7º vol.), ambos requerendo, do
mesmo modo, sejam impronunciados, uma vez que inexistem indícios
suficientes de autoria.

Pela decisão de fls. 1293/1322, 7º vol., a magistrada


pronunciou os co-réus Claudinei Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino
Granemann Melo como incursos nas sanções dos arts. 121, § 2º, I, III e IV
(homicídio qualificado – vítima Adão Matozo da Rocha), 121, § 2º, I, III, IV e
V, por duas vezes (duplo homicídio qualificado – vítimas Júnior Domingos de
Deus e Adalvir Silva dos Santos), 211 (ocultação de cadáver), todos do Código
Penal, e do art. 1º da Lei nº 2.252/54 (corrupção de menores), vez que
considerou comprovada a materialidade dos crimes e existentes indícios
suficientes da autoria. Aos co-réus Edson Natalino Granemann Melo e
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Claudinei Granemann foi permitido que aguardassem o julgamento em


liberdade, diante da concessão de medida liminar pelo egrégio Superior
Tribunal de Justiça (cf. documentos de fls. 1239 e 1234, 7º vol.). Já com relação
ao co-réu Moacir Ribeiro, não foi permitido que aguardasse o julgamento em
liberdade, tendo em vista que a magistrada entendeu subsistirem os
pressupostos autorizadores da prisão preventiva, nos termos do art. 312 do
Código de Processo Penal.

Inconformados com a decisão de pronúncia, os co-réus


Claudinei Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino Granemann Melo
interpuseram recurso em sentido estrito (fls. 1334, 1335 e 1336 – 7º vol.,
respectivamente).

Em suas razões recursais (fls. 1337/1347, 7º vol.), o réu


Edson Natalino Granemann Melo alegou, preliminarmente, que a decisão de
pronúncia é nula, “uma vez que os fundamentos nela expressos demonstram
claramente que a nobre magistrada sentenciante, não obstante o brilho
ofuscante de sua prolatora, ao externar o seu posicionamento acabou
adentrando no mérito da causa e proferindo um juízo de certeza, e não de
admissibilidade da acusação” (f. 1339), aduzindo que ela também é nula por
não estar devidamente fundamentada, encontrando-se “totalmente divorciada
das provas colhidas nos Autos” (f. 1339). No mérito, requer seja
despronunciado, alegando que não há indícios suficientes de autoria, pugnando,
caso não seja esse o entendimento, pela exclusão das qualificadoras, “eis que,
nem de longe restaram configuradas no caso em tela” (f. 1346).

O réu Claudinei Granemann, em suas razões recursais (fls.


1370/1373, 7º vol.), pugnou por sua despronúncia, argumentando que inexistem
indícios suficientes de autoria.
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Do mesmo modo, o réu Moacir Ribeiro, em suas razões


recursais (fls. 1393/1395, 7º vol.), pugnou por sua despronúncia, pois “Apesar
do enorme esforço despendido durante a instrução criminal, pelo Promotor de
Justiça, não restaram indícios suficientes da participação do réu para
pronunciá-lo” (f. 1393).
Os recursos interpostos pelos co-réus Claudinei
Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino Granemann Melo foram contra-
arrazoados pelo órgão do Ministério Público, que se manifestou pela
manutenção da decisão de pronúncia (fls. 1398/1410, 7º vol.).
Na fase do art. 589 do Código de Processo Penal, o
magistrado manteve a decisão impugnada (f. 1426, 7º vol.).
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer subscrito
pelo ilustre Promotor de Justiça Substituto de Segundo Grau, Dr. Wanderlei
Carvalho da Silva, manifestou-se pelo parcial provimento dos recursos em
sentido estrito interpostos pelos acusados, para que seja excluída a qualificadora
prevista no § 2º, I (mediante paga ou promessa de recompensa), do art. 121 do
Código Penal, relativamente às vítimas Aldavir Silva dos Santos e Júnior
Domingos de Deus, tendo em vista que “estas foram mortas para assegurar a
impunidade do outro crime (morte de Adão), e não por empreitada mercenária”
(fls. 1470/1471) (fls. 1443/1471, 7º vol.).
É o relatório.
Voto.

- DA PRELIMINAR DE NULIDADE DA DECISÃO


DE PRONÚNCIA ARGÜIDA PELO RÉU EDSON
NATALINO GRANEMANN MELO.
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Em suas razões recursais (fls. 1337/1347, 7º vol.), sustenta


o réu Edson Natalino Granemann Melo, preliminarmente, que a decisão de
pronúncia é nula, “uma vez que os fundamentos nela expressos demonstram
claramente que a nobre magistrada sentenciante, não obstante o brilho
ofuscante de sua prolatora, ao externar o seu posicionamento acabou
adentrando no mérito da causa e proferindo um juízo de certeza, e não de
admissibilidade da acusação” (f. 1339), aduzindo que ela também é nula por
não estar devidamente fundamentada, encontrando-se “totalmente divorciada
das provas colhidas nos Autos” (f. 1339).
Razão não assiste ao recorrente.
Ao emitir o juízo de admissibilidade da acusação, a digna
magistrada limitou-se a cotejar as provas indiciárias produzidas ao longo do
curso processual, sem, no entanto, proferir juízo antecipado de mérito, como se
pode ver da seguinte passagem da decisão de pronúncia, verbis:
“Os indícios suficientes de autoria sobressaem da
prova oral coligida, em que pese a negativa de autoria
esposada pelos réus. (...).
(...)
Pois bem. Percebe-se que a versão dos réus é a de
negar qualquer envolvimento com os homicídios descritos
na denúncia. Contudo, esta não é a única apresentada nos
autos.
Com efeito, o próprio réu Moisés (sic) Ribeiro, ao
menos em duas oportunidades distintas, apresentou outra
versão, completamente diferente daquela esposada quando
de seu interrogatório judicial. A primeira, prestada em seu
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

interrogatório perante a autoridade policial, quando


confessou os fatos, delatando os réus Edson e Claudinei,
bem como os adolescentes C.G.M e E.A.G.M. como co-
autores.
(...)
É certo que o réu disse ter sido ameaçado naquela
oportunidade, pelo então Delegado de Polícia de
Palmital/PR, Dr. Fábio Renato Amaro da Silva Júnior.
Contudo, não cabe a este juízo qualquer valoração acerca
da existência de tal ameaça, uma vez que este mister deve
ser atribuído aos Senhores Jurados que comporão o
Conselho de Sentença, por ser este o órgão competente
para apreciar a questão, segundo dispõe o artigo 5º, inciso
XXXVIII, alínea d, da Constituição Federal.
Ademais, conforme já mencionado, o réu Moacir
acabou por confessar, em outra oportunidade, perante
repórter de uma emissora de rádio local, a sua
participação nos fatos, bem como delatou a participação
dos demais denunciados (fls. 1.082/1.085).
Some-se a isso, o fato de ter sido apreendida em
poder do réu Moacir Ribeiro a arma utilizada para matar
as vítimas, conforme se percebe do termo de entrega de fl.
631 e laudo de exame de arma de fogo e munição de fls.
634/635.
Por fim, é de se destacar, ainda, que várias pessoas,
na pequena Palmital/PR, perceberam a presença de
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

estranhos na cidade, nos dias anteriores e no próprio dia


do crime. Numa cidade pequena, pode-se dizer que
qualquer presença estranha é notada por seus moradores.
Nesse sentido, os autos de reconhecimento de fls. 636,
747/748, 769/772.
(...)
Assim, diante da confissão extrajudicial do réu
Moacir, bem como dos depoimentos acima colacionados,
entendo haver indícios suficientes de autoria. Eventuais
contradições havidas, seja nos depoimentos dos réus, seja
nos das testemunhas, deverão serem dirimidas pelos juízes
naturais da causa, ou seja, o Tribunal do Júri da Comarca
de Laranjeiras do Sul.
(...)
Por conseguinte, devem os denunciados serem
levados a julgamento perante o juízo competente, qual
seja, o Tribunal do Júri, pois há prova inequívoca de
materialidade e fundadas suspeitas de autoria.”
(1298/1314, 7º vol.)
Ora, negando os co-réus a autoria e não havendo
testemunha presencial, valeu-se a magistrada da prova indiciária existente nos
autos, indicativa de recair a autoria nos co-réus, para pronunciá-los, não se
podendo dizer que o exame de todos os indícios para a formação de seu
convencimento contamine de nulidade a decisão de pronúncia.
Nesse sentido, é oportuno citar o seguinte precedente do
egrégio Supremo Tribunal Federal, verbis:
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

“EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL.


SENTENÇA DE PRONÚNCIA. (...). Inocorre excesso
de linguagem na sentença de pronúncia que apenas
demonstra a existência de indícios claros e suficientes de
autoria e motiva sucintamente a ocorrência de
qualificadora do homicídio. E remete ao Tribunal do
Júri a solução da questão. (...). Ordem denegada.”
(STF – HC 77371/SP. Rel. Min. Nelson Jobim. Órgão Julgador: 2ª Turma.
DJ 23.10.1998, p. 309)

Ressalte-se que esses indícios são suficientes, nesta fase de


juízo de admissibilidade da acusação, para sustentar a versão de que os co-réus
praticaram os fatos narrados na denúncia, como adiante se analisará ao longo
deste voto.
O Código de Processo Penal, ao tratar da prova indiciária,
diz em seu art. 239, verbis:
"Art. 239. Considera-se indício a circunstância
conhecida e provada, que, tendo relação com o fato,
autorize, por indução, concluir-se a existência de outra
ou outras circunstâncias."
Ao discorrer sobre os pressupostos para a pronúncia, assim
leciona Julio Fabbrini Mirabete, verbis:
“Como juízo de admissibilidade, não é necessário à
pronúncia que exista a certeza sobre a autoria que se
exige para a condenação. Daí que não vige o princípio
do in dubio pro reo, mas se resolvem em favor da
sociedade as eventuais incertezas propiciadas pela
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

prova (in dubio pro societate). O juiz, porém, está


obrigado a dar os motivos de seu convencimento,
apreciando a prova existente nos autos, embora não
deva valorá-los subjetivamente. Cumpre-lhe limitar-se
única e tão-somente, em termos sóbrios e comedidos, a
apontar a prova do crime e os indícios da autoria, para
não exercer influência no ânimo dos jurados, que serão
os competentes para o exame aprofundado da matéria.
Isso não o dispensa, porém, de enfrentar e apreciar as
teses apresentadas pela defesa, sob pena de nulidade.”
(in Código de Processo Penal Interpretado. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2002,
p. 1084)
Ademais, é pacífico o entendimento do egrégio Superior
Tribunal de Justiça de que tendo a sentença de pronúncia “motivação objetiva,
nos limites do iudicium accusationis, abordando-se os aspectos da
existência do delito e de indícios de autoria, não pode ser considerada como
insuficiente a ensejar nulidade da pronúncia.” (STJ – RHC 18137/RJ, Rel. Min.
Félix Fischer. T5 – Quinta Turma. DJ 19.12.2005, p. 445).

Como bem salientou a douta Procuradoria-Geral de Justiça,


em parecer subscrito pelo ilustre Promotor de Justiça Substituto de Segundo
Grau, Dr. Wanderlei Carvalho da Silva, verbis:
“A decisão foi proferida de forma comedida,
transcrevendo trechos dos interrogatórios dos acusados,
em confronto com declarações do co-réu Moacir no
inquérito, onde delatou a trama criminosa, apontando
outros elementos de prova para o seu convencimento
quando houver indícios suficientes de autoria. No que se
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

refere às qualificadoras, demonstrou a hipotética


configuração delas, diante do conteúdo probatório. Em
nenhum momento afirmou, com certeza, que estaria
comprovada a autoria ou caracterizadas as qualificadoras.
Logo, não há que se falar em nulidade da decisão.” (f.
1449, 7º vol.)
Assim, é de ser afastada a alegação de nulidade da decisão
de pronúncia sustentada pelo réu Edson Natalino Granemann.

- DA ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS


SUFICIENTES DE AUTORIA SUSTENTADA PELOS
RÉUS EDSON NATALINO GRANEMANN,
CLAUDINEI GRANEMANN E MOACIR RIBEIRO.

Em suas razões recursais, apresentadas separadamente, os


co-réus Edson Natalino Granemann, Claudinei Granemann e Moacir Ribeiro
alegaram que inexistem indícios suficientes de autoria, requerendo sejam
despronunciados (fls. 1337/1347, 1370/1373 e 1393/1395 – 7º vol.,
respectivamente).
Dispõe o artigo 408, do Código de Processo Penal que:
“Se o juiz se convencer da existência do crime e de
indícios de que o réu seja o seu autor, pronunciá-lo-á,
dando os motivos de seu convencimento.”
A materialidade dos homicídios narrados na denúncia está
comprovada pelas certidões de óbito das vítimas (fls. 16/17, 1º vol.); pelo auto
de apreensão de objetos relacionados com os crimes (fls. 18/19, 1º vol. e 572, 3º
vol.); pelo auto de levantamento de local dos crimes (fls. 21/35); pelos laudos
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

de exame de necropsia das vítimas (fls. 521/528, 3º vol.); pelo termo de entrega
da arma de fogo calibre 38, marca Taurus, com número raspado, apreendida em
poder do denunciado Moacir Ribeiro (f. 631, 3º vol.) e pelo respectivo laudo de
exame de arma de fogo e munição (fls. 634/635, 3º vol.).
Nesta fase, que tem caráter declaratório de admissibilidade
ou não da acusação para julgamento pelo Tribunal do Júri, juiz competente
constitucionalmente para julgar os crimes dolosos contra a vida (art. 5º,
XXXVIII, “d”, da CF/88), para a pronúncia do réu é necessário a existência de
indícios de autoria que viabilizem eventual condenação pelo Tribunal do Júri.

Sobre a decisão de impronúncia, é pertinente a lição


proferida por Júlio Fabbrini Mirabete, verbis:

“A impronúncia é um julgamento de inadmissibilidade


de encaminhamento da imputação para o julgamento
perante o Tribunal do Júri. É, portanto, uma sentença
terminativa de inadmissibilidade da imputação, com a
extinção do processo sem julgamento do mérito da
causa. Embora para a pronúncia baste a suspeita
jurídica derivada de um concurso de indícios, devem
estes ser idôneos, convincentes e não vagos, duvidosos,
de modo que a impronúncia se impõe quando de modo
algum possibilitariam o acolhimento da acusação pelo
Júri.” (in “Código de Processo Penal Interpretado, 10ª ed. São Paulo:
Atlas, 2002, p.1114).
Os co-réus Edson Natalino Granemann, Claudinei
Granemann e Moacir Ribeiro, em seus interrogatórios prestados em juízo,
negaram a autoria dos fatos descritos na denúncia (fls. 870/873, 4º vol.).
19
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

O réu Edson Natalino Granemann, ao ser interrogado em


juízo, afirmou que:
“...nega os fatos narrados na denúncia; que no dia dos
fatos, o interrogado provavelmente estava em sua cidade,
Caçador/SC; que os adolescentes, filhos do interrogado,
também deveriam estar na referida cidade; que o
interrogado não conhecia as vítimas; que o interrogado
conhecia apenas de vista o réu Moacir; que o interrogado
não tem conhecimento de nenhum desentendimento entre o
réu Claudinei e o ofendido Adão; que o interrogado ficou
sabendo que Claudinei arrematou algumas terras que
fazem divisa com a propriedade vizinha; que o interrogado
nunca portou arma de fogo; que o interrogado possui um
veículo GM/Vectra de cor preta; que a última vez que o
interrogado esteve em Palmital/PR foi no mês de janeiro;
que o interrogado nunca foi preso ou processado por crime
anterior; que o interrogado estava trabalhando com
agricultura antes de ser preso; que o interrogado estava
aguardando ser chamado pela Empresa CIDASC, uma vez
que foi aprovado em concurso público; que o interrogado
estava cursando o sexto período do curso de Direito; que o
interrogado estava residindo com seus filhos e seus pais
em Caçador/SC.” (f. 870, 4º vol.)
Por sua vez, o co-réu Claudinei Granemann, em seu
interrogatório prestado em juízo, disse que:
“...nega os fatos narrados na denúncia; que no dia dos
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

fatos, o interrogado estava em sua loja na entrada de


Palmital/PR; que a vítima Adão é vizinha do pai do
interrogado; que não havia nenhum desentendimento entre
Adão e a família do interrogado; que o interrogado
conhecia apenas de vista a vítima Adalvir Silva dos
Santos; que o interrogado não conhece o ofendido Junior
Domingos de Deus; que o interrogado nunca viu Moacir
Ribeiro, não sabendo precisar o motivo pelo qual Moacir
relatou o envolvimento do interrogado nos delitos; que no
dia dos fatos, o réu Edson não estava em Palmital; que a
última vez que Edson esteve na referida cidade foi no mês
de janeiro ou fevereiro” (f. 873)
O co-réu Moacir Ribeiro, ao ser interrogado em juízo,
também negou a autoria dos fatos narrados na denúncia, verbis:
“que o interrogado nega os fatos narrados na denúncia;
que no dia dos fatos, o interrogado estava em Caçador/SC,
não tendo nenhuma participação dos homicídios narrados
na exordial; que o interrogado não conhecia o réu
Claudinei; que o interrogado conhecia apenas de vista o
réu Edson e seus filhos adolescentes, uma vez que
trabalhava em Caçador/SC em uma propriedade próxima
de uma plantação de tomates do acusado Edson; que o
interrogado não conhecia nenhuma das vítimas; que o
interrogado possui uma arma de fogo calibre 38; que o
interrogado não sabe se a arma foi utilizada na prática do
crime, uma vez que adquiriu de um estranho em
21
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Caçador/SC, no mês de julho, pelo valor de duzentos reais;


que o interrogado afirma que a versão que relatou na fase
inquisitorial foi inventada pela Polícia Civil de
Palmital/PR; que a versão apresentada na entrevista que
deu para a rádio não é verdadeira, porque pensava que o
repórter poderia se tratar de um policial; que a entrevista
se deu na Delegacia de Polícia de Laranjeiras do Sul/PR;
que o interrogado já foi preso e processado pelo crime de
homicídio ocorrido no Rio Grande do Sul;...” (f. 871, 4º
vol.)
E, em seu interrogatório prestado perante a autoridade
policial, o co-réu Moacir Ribeiro afirmou:
“QUE o interrogado conheceu a pessoa de EDSON
GRANEMANN a cerca de 6 (seis) meses atrás; QUE este
possuía uma plantação de tomates nas proximidades do
local onde o interrogado trabalhava, na localidade de
Linha São Pedro,Caçador/SC; QUE EDSON tomou
conhecimento que o interrogado era foragido da Justiça e
acredita que por este motivo o chamou para cometer o
crime que está sendo apurado nesses autos; QUE então, no
dia dos fatos, na parte da manhã, o interrogdo se recorda
de ter recebido uma ligação da pessoa de EDSON pelo
celular e este lhe convidou para fazer uma ‘cobrança’
(conforme se expressa); QUE aproximadamente duas
horas depois EDSON apareceu na localidade de Linha São
Pedro onde estava trabalhando, sendo certo que estava
22
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

dentro de um veículo GM/Vectra, de cor escura, o qual


reconhece neste momento e que está no pátio da
Delegacia; QUE juntamente com EDSON estavam seus
dois filhos, sendo um de nome CLEVERSON (que possui
uma cicatriz no rosto) e outro com o nome semelhante, mas
que não se recorda no momento; QUE mostrada a foto de
CLEVERSON o interrogado reconhece como sendo o
mesmo que estava no veículo; QUE então, todos vieram
para o Estado do Paraná já que a pessoa que deveria ser
feita a cobrança era daqui; QUE dentro do veículo,
durante o percurso, foi comentado por EDSON que o
motivo da viagem era que iriam matar uma pessoa que
possuía uma fazenda e que tinha uma desavença com um
parente do mesmo; QUE até então, o interrogado não
tinha visto os armamentos dentro do carro; QUE a viagem
durou cerca de 3 (três) horas; QUE ao chegarem na cidade
de Palmital/PR foram em direção a um local que pelo que
parecia seria um Clube do Laço nas proximidades de uma
rodovia onde tinham uns eucaliptos; QUE um VW/Gol
Branco veio seguindo o carro e quando pararam no loca
EDSON desceu do veículo e encontrou-se com o indivíduo
que estava no Gol; QUE este indivíduo estava sozinho;
QUE enquanto isso o interrogado ficou conversando com
os dois filhos de EDSON perto do carro; QUE cerca de 10
minutos depois o indivíduo do Gol saiu e foram em direção
ao local onde estaria o fazendeiro; QUE mostrado ao
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

interrogado a fotografia de CLAUDINEI GRANEMANN


disse ser muito parecido, entretanto, por ter chegado um
senhor no local não ficou reparando muito; QUE foi dito
por EDSON que seria esta pessoa que esteve no local com
um Gol que estaria pagando o serviço; QUE antes desse
encontro, o interrogado com EDSON e seus filhos haviam
passado em um bar na cidade e comprado uns lanches e
refrigerante Coca-Cola em lata; QUE quando estavam
saindo EDSON disse que o rapaz do Gol teria dito que o
fazendeiro estaria na fazenda; QUE saíram em direção a
fazenda e ao chegarem nas proximidades de uma rodovia
estacionaram o carro debaixo de uma árvore e comeram
os lanches; QUE até aquele momento a única informação
que tinham era que o fazendeiro estaria em uma
caminhonete verde, duplada, da marca Toyota Hilux; QUE
foi entardecendo e então o EDSON disse que seria melhor
irem em direção uma porteira existente um pouco acima,
já teriam a visão de toda a estrada e o carro ficaria
estacionado; QUE quando estavam estacionados no local,
passou um garoto de cerca de 15 anos de idade e este
chegou a conversar com EDSON; QUE o interrogado não
sabe o que estes conversaram; QUE os locais que
estiveram são os mesmos que estão mostrados em
fotografias às fls. 52 dos autos; QUE após o garoto sair,
como já estava escurecendo, EDSON decidiu pegar a
estrada sentido a fazenda da pessoa que foram matar, e
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

antes, se recorda de EDSON ter buzinado para o garoto


que acreditaram morar na casa um pouco mais para
baixo; QUE EDSON e CLEVERSON estavam no banco da
frente e o interrogado e o outro filho estavam no banco de
trás; QUE naquela oportunidade o interrogado já tinha
visto os armamentos que seriam utilizados, quais sejam,
uma espingarda calibre 12 e um revólver, QUE estes
armamentos estavam debaixo do banco de trás do
GM/Vectra; QUE ENTÃO, EDSON pegou uma estrada a
esquerda de onde vinham e foram em direção a fazenda;
QUE cerca de 15 minutos após terem entrado na estrada e
irem em direção a fazenda, deram de frente com a
caminhonete do fazendeiro; que esta possuía as mesmas
características do veículo do fazendeiro e então EDSON
disse que era ‘o cara’, QUE já estava escuro e haviam três
pessoas, sendo duas no interior da caminhonete e uma
abrindo a porteira; QUE EDSON estava com a espingarda
calibre 12 e seu filho CLEVERSON com o revólver calibre
38; QUE primeiro foi rendido a pessoa que estava abrindo
a porteira e depois os outros dois que estavam na
caminhonete; QUE todos foram deitados no chão e como
seria para matar somente o fazendeiro, existia no interior
do carro uma corda; QUE esta corda era entrelaçada, de
cor escura; QUE esta foi utilizada para amarrar o
fazendeiro sendo que os outros dois foram amarrados com
camisas e com forro da caminhonete; QUE após serem
25
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

rendidos, duas pessoas foram colocadas no porta malas do


GM/Vectra e a outra foi na caminhonete; QUE o
interrogado e EDSON foram na caminhonete e os dois
filhos de EDSON no GM/Vectra foi o fazendeiro e um outro
menor, sendo que na caminhonete foi um moreno ‘gordo’;
QUE durante o percurso da fazenda até onde os mesmos
foram assassinados não houve muita conversa entre o
interrogado e EDSON; QUE se recorda de EDSON ter
ditos que seria para ‘amarrar’ os três; QUE amarrar seria
no entender do interrogado matar, quando o interrogado
disse ao mesmo que os dois não tinham nada a ver com a
história, e EDSON disse que não “fizessem” os outros
estes poderiam reconhecê-los; QUE ao se aproximarem de
Laranjeiras do Sul/PR entraram em uma estradinha que
desvia do posto da Polícia Rodoviária e sai dentro de um
Posto de combustível; QUE seguiram sentido ao pedágio,
sendo que a caminhonete estava na frente e o GM/Vectra
estava atrás; QUE começou a acender a luz do
combustível bem antes do pedágio e ao se aproximarem do
mesmo, EDSON viu que a gasolina iria acabar, deu meia
volta e entraram em uma estrada de terra próxima do
pedágio; QUE nesta estrada, se recorda de terem passado
na frente de um bar e cinco minutos após terem passado
pelo mesmo, EDSON estacionou a caminhonete e disse que
iria ‘amarrar’ as vítimas naquele lugar, QUE primeiro o
interrogado e EDSON desceram com o mais gordo moreno
26
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

e depois seus filhos abriram o porta malas do GM/Vectra e


as duas outras vítimas foram retiradas do porta malas;
QUE então, CLEVERSON estava com o revólver 38 e deu
um tiro na cabeça do mais gordo, que de imediato caiu no
chão; QUE após, CLEVERSON deu um tiro no fazendeiro
que também caiu; QUE por último foi atirado no mais
magro que tinha sido levado no GM/Vectra; QUE se
recorda de CLEVERSON ter remunicido o revólver calibre
38; QUE este deu mais tiros mas não sabe quem; QUE
quando estavam quase indo embora, EDSON voltou com a
espingarda calibre 12 e deu mais dois tiros em direção as
vítimas; QUE o interrogado embarcou no GM/Vectra
juntamente com os dois filhos de EDSON e EDSON por
sua vez disse eu não iria deixar a caminhonete no local e
deixou-a próxima do pedágio para dar a entender que
quem havia matado as vítimas teria passado pelo pedágio;
QUE então abandonaram a caminhonete sem pagar nada
de seu interior, já que a intenção não era esta; QUE foram
em direção a Caçador/SC e no caminho se lembra de
terem parado em uma ponte e de CLEVERSON ter jogado
os cartuchos que haviam sido utilizados para matar as
vítimas ( cascas ); QUE chegou a comentar com EDSON
para dispensarem o revólver no rio, sendo que o mesmo
disse não tinha problema do revólver ficar com o
interrogado, já que faria parte do pagamento; QUE
continuaram a viagem até chegarem em sua casa na
27
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

localidade de linha São Pedro; QUE o interrogado ficou


no local e os demais seguiram viagem; QUE todo o
‘negócio’ renderia ao interrogado R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) sendo que EDSON o pagaria e este dinheiro viria do
cara do Gol Branco; Que seria descontado o valor do
revólver que sairia por R$ 800,00 (oitocentos reais); QUE
o interrogado chegou a ligar para EDSON após o crime no
sentido de cobrá-lo mais este não atendia o telefone; QUE
cerca de 1 (um) mês após o crime houve uma festividade
no local onde o interrogado mora e EDSON apareceu,
oportunidade em que conversaram sobre o fato e que este
disse que estaria ‘embassado’ do dinheiro vir e que tava
tudo enrolado; QUE então, a cerca de 1 (um) mês atrás o
interrogado foi preso quando estava chegando do serviço
por estar portando um revólver; QUE este revólver que foi
apreendido com o interrogado foi o mesmo utilizado no
assassinato das vítimas; QUE o interrogado desconhece
por qual motivo a polícia chegou até o revólver e por sua
vez ao interrogado; QUE o interrogado nega que tenha
atirado contra as vítimas mas que tem participação já que
as amarrou;...” (fls. 682/685, 3º vol.)
Além da confissão extrajudicial, conforme observou o
magistrado na decisão de pronúncia, "o réu Moacir acabou por confessar, em
outra oportunidade, perante repórter de uma emissora de rádio local, a sua
participação nos fatos, bem como delatou a participação dos demais
denunciados (fls. 1082/1085)" (f. 1305).
28
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Aliás, ressalte-se que a arma utilizada para matar as


vítimas, um revólver calibre 38, marca Taurus, com número raspado, foi
apreendida em poder do ora recorrente Moacir, conforme termo de entrega de
fls. 631 (3º vol.) e respectivo laudo de exame de arma de fogo e munição de fls.
634/635 (3º vol.).
Por sua vez, o informante Cleverson Oliveira da Rocha,
filho da vítima Adão Matozo da Rocha, em seu depoimento prestado em juízo,
disse:
“...que no dia 10.05.2005 recebeu uma ligação telefônica
de sua mãe, a qual informava que a caminhonete Toyota
Hillux, placas HRZ – 2800, cor verde, pertencente ao seu
pai, havia sido localizada nas proximidades da Vila Becker,
no município de Laranjeira do Sul/Pr; que estava em São
Pedro do Ivaí/Pr, veio a Barbosa Ferraz/Pr, onde possuem
familiares; que chegando lá foram informados de que seu
pai e as demais vítimas haviam desaparecidos; que
comunicaram essas circunstâncias tanto ao delegado de
polícia de Palmital como ao de Laranjeira do Sul/Pr, os
quais iniciaram buscas; que o delegado de polícia de
Palmital/Pr, Dr. Fábio, realizou o trajeto comumente
utilizado pelo pai do depoente para visitar as fazendas e,
em uma mercearia localizada em um distrito de
Marquinhos, obteve a informação de que um jovem que
estava em um veículo preto entrou naquele estabelecimento
e perguntou onde poderia localizar a pessoa que
arrendava uma das fazendas arrendadas pelo pai do
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

depoente e que era proprietário de uma caminhonete


cabine dupla cor verde; que a pessoa que prestou essa
informação tem o nome de Sandra; (...) que o pai do
depoente possuía ações Judiciais em Palmital/Pr em que se
discutia o direto sobre a fazenda da família com Ivo e
Claudinei Granemann; que Ivo e Claudinei Granemann
eram vizinhos da fazenda da família do depoente; (...) que
Ivo e Claudinei Granemann eram inimigos declarados de
seu pai; que além da discussão Judicial sobre o imóvel
rural da família do depoente, seu pai também discutia com
Ivo e Claudinei Granemann na Justiça a abertura de
porteiras; que Ivo e Claudinei Granemann em certa
oportunidade soltaram os cachorros enquanto a mãe da
depoente abria uma porteira para passar, os quais
causaram lesões em sua mãe, motivo pelo qual Ivo e
Claudinei Granemann tiveram que pagar cestas básicas
por decisão da Justiça Criminal;...” (fls. 955/956, 5º vol.)
E, ao responder reperguntas formuladas pelo Ministério
Público, Cleverson Oliveira da Rocha esclareceu que “... presenciou o
interrogatório de Moacir Ribeiro na delegacia de polícia; que ouviu o acusado
Moacir Ribeiro confessando a prática do crime; que havia repórteres na sala;
que não se recorda se havia advogados; que não houve qualquer ato de coação
contra Moacir Ribeiro durante o seu interrogatório na Delegacia de Polícia.”
(f. 957, 3º vol.).
A testemunha Marcelo Ignácio dos Santos, em seu
depoimento prestado em juízo, confirmou a presença do veículo Vectra, de cor
30
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

escura, nas proximidades da fazenda da vítima Adão Matozo, no dia dos fatos
narrados na denúncia, verbis:
“...que no dia dos fatos, entre 17:00 e 18:00 horas, viu um
Vectra azul escuro, quase preto, estacionado na frente do
portão da fazenda do senhor Armindo; que viu quatro
pessoas em seu interior, nenhuma ao lado de fora; que uma
das pessoas era lata (sic) ruiva, uma outra era morena
escura e dois rapazes e pelo que se recorda os dois tinham
barbas, sendo que um deles era um dos mais jovens; que
no dia anterior também tinha visto este veículo parado na
estrada da frente do portão da fazenda do Senhor
Armindo; que passou perto do tal veículo e também
percebeu que havia quatro pessoas que eram as mesmas
pessoas que estavam no carro no dia do crime; que
desconfiou que eram ladrões de gado; que nunca tinha
visto nenhuma dessas pessoas; que no dia dos fato, já de
noite, por volta das 19:00 horas, viu uma caminhonete
Hilux passando pela estrada, o mesmo que estava
estacionado naquela tarde ali na beira da estrada; que o
declarante acredita que de onde o veículo estava parado
dava parta ver a a entrada da fazenda da vítima Adão; (...)
que no dia dos fatos chegou a conversar com o individuo
ruivo; que o individuo perguntou ao declarante se ele
morava por ali e se tinha bastante gado; que o declarante
perguntou onde ele morava, sendo que o mesmo respondeu
que morava em Santa Cecília do Pavão/SC; que o
31
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

declarante também perguntou se eram tais pessoas que


estavam paradas no dia anterior na estrada, sendo que foi
respondido que eram; que a pessoa ruiva respondeu que
no dia anterior tinham parado por que haviam fervido o
carro; que o declarante também perguntou o que eles
estavam fazendo parados no dia dos fatos, sendo que foi
respondido que estavam esperando companheiro para
seguiram viagem; que quando o declarante parou para
conversar , todos os ocupantes do automóvel saíram, mas
conversou com o ruivo, que pelo que se recorda tinha
barba; que quando esteve na delegacia foi feito
reconhecimento pessoal; que se recorda de ter reconhecido
o ruivo, que seria o Edson, e os dois pias, um moreno; (...)
que quando prestou depoimento na delegacia de policia
não foi pressionado ou orientado a prestar suas
declarações; que também não foi pressionado para fazer o
reconhecimento; (...) que quando fez o reconhecimento,
dois reconheceu de forma segura, quais sejam, o ruivo e
um moreno, sendo que o terceiro embora não tivesse muita
certeza, ‘parece’ que era um daqueles que estavam no
veículo Vectra; que os dois pias aparentaram ter em torno
de 17 ou 18 anos, sendo mais novos que os demais.” (f.
965)
A testemunha Valdo Ignácio dos Santos, pai de Marcelo
Ignácio dos Santos, também confirmou que o veículo Vectra, supostamente
conduzido pelos ora recorrentes, estava trafegando logo atrás da caminhonete
32
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Hilux de propriedade da vítima Adão Matoso, no dia dos fatos, verbis:


“...que no dia dos fatos, por volta das 18:30 horas, depois
que chegou em casa, viu que passou pela estrada uma
caminhoneta Hilux acompanhada por um Vectra escuro;
que a caminhonete era igual a da vítima Adão; que mora
ao lado da estrada; (...) que no dia dos fatos, quando seu
filho avisou que era o mesmo veículo que estava parado na
estrada no dia anterior, o depoente desconfiou que se
tratava de ladrões de gado; que tal veículo era estranho ali
nas redondezas; que nunca tinha visto ele a não ser
naqueles dois dias;...” (f. 964-verso, 5º vol.)
Na espécie, embora não haja testemunha presencial dos
fatos narrados na denúncia, uma vez que os homicídios foram praticados à
noite, em local ermo, observa-se haver indícios suficientes para submeter os co-
réus Claudinei Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino Granemann Melo
a julgamento pelo Tribunal do Júri, pela prática dos crimes de homicídio
cometidos contra as vítimas Adão Matozo da Rocha, Junior Domingos de Deus
e Adalvir Silva dos Santos.
O art. 239, do Código de Processo Penal, conceitua indício
como “... a circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o
fato, autorize, por indução concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias.”
Ora, o interrogatório prestado pelo co-réu Moacir Ribeiro
perante a autoridade policial, narrando detalhadamente a prática delituosa,
constitui um importante indício de que os ora recorrentes praticaram os
homicídios narrados na denúncia, muito embora Moacir tenha se retratado em
33
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

juízo, ao afirmar que “a versão que relatou na fase inquisitorial foi inventada
pela Polícia Civil de Palmital/PR” (f.871, 4º vol.).
É sabido que as provas orais produzidas durante o inquérito
policial, por não se revestirem das garantias do contraditório e da ampla defesa,
não podem ser o único fundamento a embasar a condenação do réu. A confissão
extrajudicial do co-réu Moacir Ribeiro, aliada aos demais elementos
probatórios indicados ao longo deste voto, servem como indícios de autoria e,
como tais, são suficientes a justificar a pronúncia dos acusados.
Ademais, verifica-se que também há indícios de que os ora
recorrentes cometerem os crimes de corrupção de menores (art. 1º da Lei nº
2.252/54), tendo em vista que o co-réu Moacir Ribeiro, em seu interrogatório
prestado perante a autoridade policial, confirmou a participação dos menores
E.A.G.M. e C.G.M., filhos do co-réu Edson Natalino Granemann Melo, nos
fatos narrados na denúncia, verbis:
“...QUE EDSON e CLEVERSON estavam no banco da
frente e o interrogado e o outro filho estavam no banco de
trás; (...) QUE EDSON estava com a espingarda calibre 12
e seu filho CLEVERSON com o revólver calibre 38; (...)
QUE o interrogado e EDSON foram na caminhonete e os
dois filhos de EDSON no GM/Vectra; (...) QUE primeiro o
interrogado e EDSON desceram com o mais gordo moreno
e depois seus filhos abriram o porta malas do GM/Vectra e
as duas outras vítimas foram retiradas do porta malas;
QUE então, CLEVERSON estava com o revólver 38 e deu
um tiro na cabeça do mais gordo, que de imediato caiu no
chão; QUE após, CLEVERSON deu um tiro no fazendeiro
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

que também caiu; QUE por último foi atirado no mais


magro que tinha sido levado no GM/Vectra; QUE se
recorda de CLEVERSON ter remuniciado o revólver
calibre 38; QUE este deu mais tiros mas não sabe em
quem;...” (fls. 683/684, 3º vol.)
Esses elementos probatórios prestam-se para motivar a
inclusão na pronúncia do crime conexo de corrupção de menores, pois os co-
réus Claudinei Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino Granemann Melo
supostamente praticaram os crimes de homicídios qualificados narrados na
denúncia com os adolescentes E.A.G.M. e C.G.M., que contavam,
respectivamente, com dezessete (17) e dezesseis (16) anos de idade na época
dos fatos.
Quanto ao crime definido no art. 211 do Código Penal,
também não se pode excluí-lo da pronúncia, pois o fato de os recorrentes terem
praticado, em tese, os crimes de homicídio no interior de um matagal, ou seja,
em local ermo, desprovido de habitação e iluminação, com o posterior
abandono da caminhonete Hilux de propriedade da vítima Adão Matozo em
local distante dos corpos, conforme relatado pelo co-réu Moacir Ribeiro em seu
interrogatório pré-processual (f. 684, 3º vol.), constitui ao menos indício de que
houve ocultação de cadáveres.
Sobre o tipo subjetivo do crime de ocultação de cadáver,
Celso Delmanto leciona que consiste “... na vontade livre e consciente de
destruir, subtrair ou ocultar cadáver” (in “Código Penal Comentado” 6. ed. atual. e

ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 456).

Desse modo, é de rigor que os co-réus Claudinei


Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino Granemann Melo, ora
35
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

recorrentes, também sejam pronunciados pela suposta prática dos crimes


previstos nos arts. 1º da Lei nº 2.252/54 (corrupção de menores) e 211 do
Código Penal (ocultação de cadáver), uma vez que compete ao Tribunal do Júri
julgar os crimes conexos aos dolosos contra a vida, nos termos do art. 78, I, do
Código de Processo Penal.

- DOS CRIMES DE HOMICÍDIOS QUALIFICADOS


PRATICADOS CONTRA AS VÍTIMAS ADÃO
MATOZO DA ROCHA, JUNIOR DOMINGOS DE
DEUS E ADALVIR SILVA DOS SANTOS – PEDIDO
DE EXCLUSÃO DAS QUALIFICADORAS.
O co-réu Edson Natalino Granemann Melo pugna em suas
razões recursais (fls. 1337/1347, 7º vol.), também, pela exclusão das
qualificadoras dos homicídios praticados contra as vítimas Adão Matozo (art.
121, § 2º, I, III e IV, do CP), Junior Domingos de Deus (art. 121, § 2º, I, III, IV
e V, do CP) e Adalvir Silva dos Santos (art. 121, § 2º, I, III, IV e V, do CP), “eis
que, nem de longe restaram configuradas no caso em tela” (f. 1346).
Razão assiste parcialmente ao recorrente, como adiante se
demonstrará.

- DA QUALIFICADORA PREVISTA NO § 2º, I, DO


ART. 121, DO CÓDIGO PENAL (MEDIANTE PAGA
OU PROMESSA DE RECOMPENSA),
RELATIVAMENTE ÀS VÍTIMAS ADÃO MATOZO
DA ROCHA, JUNIOR DOMINGOS DE DEUS E
ADALVIR SILVA DOS SANTOS.
36
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Quanto aos crimes de homicídio praticados contra as


vítimas Adão Matozo da Rocha, Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos
Santos, os co-réus Claudinei Granemann, Moacir Ribeiro e Edson Natalino
Granemann Melo foram pronunciados como incursos nas sanções do art. 121
do Código Penal, com a incidência da qualificadora de terem sido os delitos
praticados mediante paga ou promessa de recompensa (§ 2º, I, do art. 121, do
CP).
O Dr. Juiz assim fundamentou a admissão da qualificadora
do §2º, I, do art. 121, do Código Penal:
“Quando confessou os delitos investigados neste
procedimento, o réu Moacir Ribeiro mencionou, tanto na
Delegacia de Polícia, quanto em entrevista à rádio local,
que receberia cinco mil reais pela morte de Adão Matozo
da Silva. E quem teria contratado o serviço seria
Claudinei Granemann. Disse, ainda, que ficou com a
arma do crime como parte do pagamento.
Assim, inafastável, nesta fase, a qualificadora
prevista no artigo 121, § 2º, inciso I, do Código Penal,
qual seja, mediante paga ou promessa de pagamento.” (f.
1316, 7º vol.)
A referida qualificadora está narrada na exordial
acusatória nos seguintes termos, verbis:
Por sua vez, o acusado EDSON conclamou para a
prática do crime seus dois filhos adolescentes, C. G. M.,
de dezesseis anos de idade e, E. A. G. M., então com
dezessete anos de idade. O denunciado EDSON também
37
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

chamou o acusado MOACIR RIBEIRO para prática do


homicídio aludido, prometendo-lhe a quantia de R$
5.000,00 (cinco mil reais), quantia essa que seria paga
pelo denunciado CLAUDINEI.” (f. 03, 1º vol.)
Em seu interrogatório prestado perante a autoridade
policial, o co-réu Moacir Ribeiro afirmou, verbis:
“...QUE EDSON tomou conhecimento que o interrogado
era foragido da Justiça e acredita que por este motivo o
chamou para cometer o crime que está sendo apurado
nesses autos; QUE então, no dia dos fatos, na parte da
manhã, o interrogdo se recorda de ter recebido uma
ligação da pessoa de EDSON pelo celular e este lhe
convidou para fazer uma ‘cobrança’ (conforme se
expressa); (...); QUE mostrado ao interrogado a fotografia
de CLAUDINEI GRANEMANN disse ser muito parecido,
entretanto, por ter chegado um senhor no local não ficou
reparando muito; QUE foi dito por EDSON que seria esta
pessoa que esteve no local com um Gol que estaria
pagando o serviço; (...) QUE todo o “negócio” renderia
ao interrogado R$ 5.000,00 (cinco mil reais) sendo que
EDSON o pagaria e este dinheiro viria do cara do Gol
Branco; Que seria descontado o valor do revólver que
sairia por R$ 800,00 (oitocentos reais);...” (fls. 683/684, 3º
vol.)
Nota-se que o acusado Moacir Ribeiro praticou os
homicídios descritos na denúncia, em tese, mediante paga ou promessa de
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Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

recompensa feita pelos co-réus Claudinei Granemann e Edson Natalino


Granemann Melo, configurando a hipótese do art. 121, § 2º, I, do Código Penal.
Entretanto, a qualificadora de promessa de pagamento é de
natureza pessoal e não é elemento do tipo e, desta maneira, não se comunica ao
co-autor, mandante do crime, por força do art. 30 do Código Penal, verbis:
“Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal, salvo quando elementares
do crime.”
Destarte, não sendo a qualificadora elementar do tipo, o
fato de ter sido imputada ao acusado Moacir Ribeiro, executor direto, não a
estende automaticamente aos co-réus Claudinei Granemann e Edson Natalino
Granemann Melo, que atuaram como mandantes.
O egrégio Superior Tribunal de Justiça já se manifestou
sobre o tema no julgamento do Habeas Corpus nº 11.764 - Sergipe, relatado
pelo eminente Ministro Felix Fisher, merecendo destaque os seguintes itens da
ementa, verbis:
“(...)
I - Os dados que compõem o tipo básico ou fundamental
(inserido no caput) são elementares (essentialia delicti);
aqueles que integram o acréscimo, estruturando o tipo
derivado (qualificado ou privilegiado) são
circunstâncias (accidentalia delicti).
II – No homicídio, a qualificadora de ter sido o delito
praticado mediante paga ou promessa de recompensa é
circunstância de caráter pessoal e, portanto, ex vi do
art. 30 do C.P., incomunicável. (...)”.
39
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Destacamos do corpo do acórdão, a seguinte passagem,


verbis:
“Ainda que a redação do art. 30 do CP não seja a ideal,
assevera-se que qualificadoras são elementares do tipo
derivado, data vênia, é o mesmo que tornar de vez,
destituída de conteúdo a teoria acerca da
incomunicabilidade das circunstâncias. A quaestio
ficaria limitada, sem razão de ser, às
agravantes/atenuantes ou majorantes/minorantes (e o
texto não permite tal conclusão). Portanto, quando se
diz que as circunstâncias e condições subjetivas, de
caráter pessoal, não se comunicam ao co-autor
(partícipe ou co-autor propriamente dito), isto se dirige,
também (não só às agravantes/atenuantes ou a
majorantes/minorantes) às qualificadoras. O estado de
ânimo, a motivação, a condição pessoal, etc.,
caracterizam situações pessoais. E, pessoais que são,
não se comunicam.
(...)
No tocante à qualificadora do inciso I (mediante a paga
ou promessa de recompensa), seguindo-se a diretriz do
art. 30 do C. P., ela deve ser considerada pessoal. De um
lado, como ensina H. C. Fragoso: ‘O homicídio mediante
paga é a modalidade a que classicamente se denominou
assassínio. Implica sempre a participação de duas
40
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

pessoas, sendo o homicídio qualificado apenas para quem


executa o crime mediante paga ou promessa de
recompensa. O mandante não responde por homicídio
qualificado. Não se exclui que mediante a ação de um
sicário pratique alguém um homicídio, por motivo de
relevante valor social ou moral. A qualificação do
homicídio mercenário justifica-se pela ausência de razões
pessoais por parte do executor (indício de insensibilidade
moral) e pelo motivo torpe que o leva ao delito. O
mandante busca a impunidade e a segurança, servindo-se
de um terceiro’.” (g.n.)
Dessa forma, fica claro que a qualificadora de ter sido o
delito praticado mediante paga ou promessa de recompensa, por se tratar de
circunstância subjetiva, de caráter pessoal, não se comunica aos co-autores
Claudinei Granemann e Edson Natalino Granemann Melo, que atuaram como
mandantes.
A qualificadora prevista no art. 121, § 2º, I, do Código
Penal, portanto, tem incidência tão-somente em relação ao co-réu Moacir
Ribeiro, que supostamente praticou o homicídio contra a vítima Adão Matozo,
mediante promessa de recompensa feita pelos co-réus Claudinei Granemann e
Edson Natalino Granemann Melo.
Outrossim, verifica-se que a magistrada, na decisão de
pronúncia, também incluiu a qualificadora prevista no art. 121, § 2º, I, do
Código Penal, relativamente aos crimes de homicídios praticados contra as
vítimas Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos.
41
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Ocorre que as vítimas Junior Domingos e Adalvir Silva


supostamente foram mortas pelos co-réus Claudinei, Edson e Moacir, como
adiante se demonstrará, “...para assegurar a impunidade do outro crime (morte
de Adão), e não por empreitada mercenária” (fls. 1470/1471, 7º vol.),
conforme bem salientou a douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer
subscrito pelo ilustre Promotor de Justiça Substituto de Segundo Grau, Dr.
Wanderlei Carvalho da Silva.
Ressalte-se, por oportuno, que referida qualificadora,
relativamente às vítimas Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos,
sequer consta da denúncia.
Desse modo, é de rigor que a qualificadora prevista no art.
121, § 2º, I (mediante paga ou promessa de recompensa), do Código Penal, seja
excluída dos crimes de homicídio praticados contra as vítimas Junior Domingos
de Deus e Adalvir Silva dos Santos, a qual incide, tão-somente, em relação ao
co-réu Moacir Ribeiro, quanto ao crime de homicídio praticado contra a vítima
Adão Matozo.

- DA QUALIFICADORA PREVISTA NO § 2º, III, DO


ART. 121, DO CÓDIGO PENAL (MEIO CRUEL),
RELATIVAMENTE ÀS VÍTIMAS ADÃO MATOZO
DA ROCHA, JUNIOR DOMINGOS DE DEUS E
ADALVIR SILVA DOS SANTOS.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público narra a
incidência da qualificadora do emprego de meio cruel nos seguintes termos,
verbis:
42
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

“Os denunciados, transportando as vítimas no porta-


malas dos veículos, antes das mesmas serem mortas e
executando-as lado a lado, causaram-lhe intenso
sofrimento e temor, demonstrando a falta de piedade,
utilizando-se, portanto, de meio cruel na execução dos três
homicídios.” (f. 04, 1º vol.)

Na decisão de pronúncia, a magistrada fundamentou a sua


inclusão aprestando a seguinte motivação, verbis:

“No caso dos autos, tem-se que as vítimas foram


mortas em local totalmente distantes de onde foram
abordadas. Foram levadas dentro de porta malas até o
local ermo, onde foram executadas. E foram mortas uma
de cada vez, o segundo assistindo a morte do primeiro,
numa verdadeira tortura mental para o que foi assassinado
por último.

Deste modo, também inarredável a qualificadora do


meio cruel, que deverá ser levada à apreciação dos
Senhores Jurados, que comporão o Conselho de Sentença.”
(fls. 1316/1317, 7º vol.)

Ocorre que, no presente caso, não há qualquer indício de


que os co-réus Claudinei, Edson e Moacir tenham praticado os crimes de
homicídio contra as vítimas Adão Matozo, Junior Domingos de Deus e Adalvir
Silva dos Santos com o intuito de causar intenso sofrimento físico e mental.
Julio Fabbrini Mirabete em seu Código Penal Interpretado,
sobre a qualificadora do meio cruel no crime de homicídio, leciona:
43
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

"(...) Qualifica também o crime a utilização de meio


cruel, que sujeita a vítima a graves e inúteis sofrimentos
físicos ou morais, meio bárbaro, brutal, que aumenta
inutilmente o sofrimento da vítima. A reiteração de
golpes, por si mesma, não qualifica o crime, mas o faz
quando denuncia a crueldade do agente e o sofrimento
desnecessário da vítima (...)" (5ª ed., Atlas, 2005, p. 926)
Celso Delmanto sobre a qualificadora do homicídio de
meio cruel, comenta o seguinte:
"(...) É o meio que faz sofrer além do necessário. Para
que se configure esta qualificadora, o meio cruel deve
ter sido escolhido ou desejado pelo agente, visando ao
padecimento de sua vítima. A repetição de golpes ou
tiros, por si só, não constitui meio cruel. Será cruel, se o
agente os repetiu por sadismo; não porém, se a
repetição deveu-se à inexperiência ou ao nervosismo do
agente (...)" (Código Penal Comentado, 4ª ed., Renovar, p. 220)
Também a jurisprudência de nossos Tribunais somente tem
reconhecido a qualificadora quando há padecimento físico inútil ou mais grave
do que o necessário para produzir a morte (TJRS, RC nº 696 024 157, Rel. Des.
Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, j. em 18.04.96).
Desse modo, verifica-se que somente se sustentaria a
qualificadora do meio cruel (art. 121, § 2º, III, do Código Penal) se existisse nos
autos prova de que os co-réus Claudinei, Edson e Moacir transportaram as
vítimas no porta-malas do carro e efetuaram disparos de arma de fogo,
matando-as sucessivamente, como forma de prolongar, desnecessariamente, o
44
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

sofrimento delas, fazendo emergir uma circunstância subjetiva, consistente no


propósito deliberado de causar maior dano, por crueldade.
E, neste aspecto, não há qualquer prova nos autos a
demonstrar que os co-réus Claudinei, Edson e Moacir desejaram provocar
sofrimento desnecessário nas vítimas Adão Matozo, Junior Domingos e Adalvir
Silva. Aliás, a prova produzida no processo revela-se contrária, pois as vítimas
foram atingidas na cabeça, conforme se infere dos laudos de necropsia de fls.
521/528 (3º vol.), o que evidentemente acabou por abreviar eventual sofrimento
que estivessem passando.
Nenhuma testemunha relatou que os co-réus Claudinei,
Edson e Moacir infligiram às vítimas desnecessário sofrimento.
Sobre o tema, assim já decidiu o Superior Tribunal de
Justiça:
"(...) 5. A crueldade de que trata o artigo 121, parágrafo
2º, inciso III, do Código Penal está, desenganadamente,
situada na natureza do meio utilizado pelo agente para
a prática delituosa e, não, à forma como se perfaz o
ilícito. Ademais, tal dispositivo, após citar hipóteses
casuísticas tais como emprego de veneno, fogo,
explosivo, asfixia e tortura, exige, alternativamente,
para que incida, mediante fórmula genérica, que o
agente se utilize de qualquer "outro meio (...) cruel",
reclamando, assim, potencialidade de causação de
padecimento análogo aos das hipóteses expressamente
elencadas. Trata-se, pois, de hipótese de interpretação
analógica ou 'intra legem' (...)" (STJ, 6ª Turma, Recurso Especial
nº 210.085/Pr, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 15.04.2002)
45
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

E, também, neste mesmo sentido, já decidiram os Tribunais


pátrios:
"Se a vítima foi morta a tiros, não havendo qualquer
recurso que deliberadamente aumentasse sua dor, não
há falar-se em emprego de meio cruel, previsto no art.
121, § 2º, III, do CP, pois o meio utilizado não foi
martirizante, não tendo a vítima sofrido além dos
limites comumente enumerados" (TJSP, RT 771/583).

"Não se pode afirmar ser meio cruel empregado no


homicídio o disparo de tiros à queima-roupa, visto que
impõe morte rápida sem aumentar desnecessariamente
o martírio e agonia da vítima, de maneira a estar, nesta
circunstância, descaracterizada a hipótese e
qualificadora do inciso III, do § 2º, do artigo 121 do
Código Penal" (TJSP, JTJ 252/425).

"A reiteração de disparos com a vítima em fuga, por si


só, não qualifica o delito como meio cruel. Tal
qualificadora exige que o agente produza na vítima um
padecimento físico inútil, superior àquele que seria
necessário para a efetivação do crime" (TJSC, RT 636/323).

"O meio cruel é aquele em que o agente, ao praticar o


delito, provoca maior sofrimento à vítima, denotando
ausência de elementar sentimento de piedade, o que não
é perceptível no fato de ter o acusado disparado contra
46
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

a ofendida vários tiros, em face da inexistência de prova


no sentido de ter, com isso, aumentado o seu penar"
(TJMG, RT 777/663).
Nesse contexto, é de rigor que seja excluída da pronúncia a
qualificadora do meio cruel, relativamente aos crimes de homicídios praticados
contra as vítimas Adão Matozo, Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos
Santos, por ser manifestamente improcedente.

- DA QUALIFICADORA PREVISTA NO § 2º, IV, DO


ART. 121, DO CÓDIGO PENAL (EMPREGO DE
RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DAS
VÍTIMAS), RELATIVAMENTE ÀS VÍTIMAS ADÃO
MATOZO DA ROCHA, JUNIOR DOMINGOS DE
DEUS E ADALVIR SILVA DOS SANTOS.

Quanto à qualificadora do emprego de recurso que


impossibilitou a defesa das vítimas (art. 121, § 2º, IV, do CP), não pode ser
excluída nesta fase, dado que, como bem ponderou a magistrada, na decisão de
pronúncia, verbis:

“Descreve, também, a denúncia, que o crime foi


praticado mediante recurso que impossibilitou às defesas
das vítimas. Com efeito, tem-se que os ofendidos foram
amarrados com as mãos para trás. Seus corpos foram
encontrados dessa forma. Deste modo, resta evidente que
as vítimas não puderam se defender, quando estavam na
mira da arma de fogo que ceifou suas vidas.” (f. 1317, 7º
vol.)
47
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

As qualificadoras articuladas na denúncia só podem ser


afastadas se forem manifestamente improcedentes, o que não ocorre na espécie
examinada quanto à qualificadora do emprego de recurso que impossibilitou a
defesa das vítimas Adão Matozo, Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos
Santos.

Com relação a exclusão das qualificadoras, Júlio Fabbrini


Mirabete, in Código de Processo Penal Interpretado, Atlas, sétima edição,
anota, verbis:

“(...). As qualificadoras articuladas na denúncia só são


suscetíveis de arredamento quando manifestamente
descabidas. Se duvidosas, devem ser agregadas no juízo
provisório para conhecimento e apreciação do Juiz
natural" (RJTJERGS 187/60).

A propósito, podem ser citados os seguintes precedentes do


egrégio Superior Tribunal de Justiça, verbis:

“A exclusão da qualificadora imputada ao réu na


denúncia somente pode ser feita pelo Juiz da pronúncia
se manifestamente descabida, nunca se, para tanto, há
necessidade de exame valorativo dos fatos, sob pena de
usurpar competência do Tribunal do Júri.”
(STJ – RHC 13592/PR, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp – DJ 25.08.2003,
p. 00327).

“As qualificadoras só podem ser excluídas quando, de


forma incontroversa, mostrarem-se absolutamente
48
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

improcedentes, sem qualquer apoio nos autos – o que


não se vislumbra in casu, eis que o Magistrado singular
ressaltou que as provas dos autos não autorizam a sua
exclusão, já que não seriam contrárias, sob pena de
invadir a competência constitucional do e. Conselho de
Sentença.”
(STF – HC 21590/RJ, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp – DJ 29.09.2003, p.
00285).

Por essas razões, não pode ser atendido o pleito de exclusão


da qualificadora do emprego de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas
Adão Matozo, Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos.

- DA QUALIFICADORA PREVISTA NO § 2º, V, DO


ART. 121, DO CÓDIGO PENAL (PARA ASSEGURAR
A IMPUNIDADE DE OUTRO CRIME),
RELATIVAMENTE ÀS VÍTIMAS JUNIOR
DOMINGOS DE DEUS E ADALVIR SILVA DOS
SANTOS.
Da análise dos presentes autos, verifica-se que há indícios
de que os crimes de homicídios praticados contra as vítimas Junior Domingos
de Deus e Adalvir Silva dos Santos tiveram por finalidade assegurar a
impunidade do crime cometido contra a vítima Adão Matozo da Rocha.
O co-réu Moacir Ribeiro, em seu interrogatório prestado
perante a autoridade, afirmou:
“QUE se recorda de EDSON ter dito que seria para
‘amarrar os três; QUE amarrar seria no entender do
49
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

interrogado matar, quando o interrogado disse ao mesmo


que dois não tinham nada a ver com a história, e EDSON
disse que se não ‘fizessem’ os outros estes (sic) poderiam
reconhecê-los” (f. 684, 3º vol.)
Com relação à possibilidade de decisão de pronúncia poder
se basear em prova colhida na fase de investigação policial, é de ser citado o
seguinte julgado do egrégio Supremo Tribunal Federal, verbis:

“(...) II. Pronúncia: motivação suficiente: C.Pr.Penal,


art. 408.

1. Conforme a jurisprudência do STF "ofende a


garantia constitucional do contraditório fundar-se a
condenação exclusivamente em testemunhos prestados
no inquérito policial, sob o pretexto de não se haver
provado, em juízo, que tivessem sido obtidos mediante
coação" (RE 287658, 1ª T, 16.9.03, Pertence, DJ 10.3.03).

2. O caso, porém, é de pronúncia, para a qual contenta-


se o art. 408 C.Pr.Penal com a existência do crime "e de
indícios de que o réu seja o seu autor".

3. Aí - segundo o entendimento sedimentado - indícios


de autoria não têm o sentido de prova indiciária - que
pode bastar à condenação - mas, sim, de elementos
bastantes a fundar suspeita contra o denunciado.

4. Para esse fim de suportar a pronúncia - decisão de


efeitos meramente processuais -, o testemunho no
inquérito desmentido em juízo pode ser suficiente,
50
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

sobretudo se a retratação é expressamente vinculada à


acusação de tortura sofrida pelo declarante e não se
ofereceu sequer traço de plausibilidade da alegação: aí,
a reinquirição da testemunha no plenário do Júri e
outras provas que ali se produzam podem ser
relevantes.” (STF – HC 83542/PE. Rel. Min. Sepúlveda Pertence.
Órgão julgador: Primeira Turma. DJ em 26.03.2004, p. 009)

Assim, havendo nos autos versão amparada no conjunto


probatório, revelador de que os co-réus Claudinei Granemann, Edson Natalino
Granemann Melo e Moacir Ribeiro praticaram os crimes de homicídios contra
as vítimas Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos com a
finalidade assegurar a impunidade do crime cometido contra a vítima Adão
Matozo da Rocha, a qualificadora prevista no art. 121, § 2º, V, do Código Penal,
deve ser submetida a julgamento pelo Tribunal do Júri, juiz natural da causa,
mesmo porque a circunstância qualificadora descrita na denúncia somente pode
ser afastada, nesta fase processual, quando for manifestamente improcedente, o
que não ocorre no presente caso relativamente a essa qualificadora.
Por último, é de ser ressaltado que caberá aos jurados, sem
se deixarem influenciar, quer por este julgamento, quer pela decisão de
pronúncia, julgar os réus segundo seu livre convencimento, que será formado
pelo exame da causa após ampla exposição dos fatos, das provas e do direito
que as partes farão na sessão de julgamento.
Diante do exposto, ACORDAM os Desembargadores da
Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por
unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso em sentido
interposto pelo co-réu Edson Natalino Granemann Melo, e em negar
51
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

provimento aos recursos em sentido estrito interpostos pelos co-réus Claudinei


Granemann e Moacir Ribeiro, nos seguintes termos: a) em relação ao recurso
em sentido estrito interposto pelo co-réu Edson Natalino Granemann Melo, para
que sejam excluídas as qualificadoras previstas no § 2º, I (mediante paga ou
promessa de recompensa) e III (emprego de meio cruel), do art. 121 do Código
Penal, relativamente às vítimas Adão Matozo da Rocha, Junior Domingos de
Deus e Adalvir Silva dos Santos, ficando o co-réu Edson Natalino Granemann
Melo pronunciado como incurso nas sanções dos arts. 121, § 2º, IV (homicídio
qualificado – vítima Adão Matozo da Rocha), 121, § 2º, IV e V, por duas vezes
(duplo homicídio qualificado – vítimas Júnior Domingos de Deus e Adalvir
Silva dos Santos), 211 (ocultação de cadáver), todos do Código Penal, e do art.
1º da Lei nº 2.252/54 (corrupção de menores); b) em relação ao co-réu
Claudinei Granemann, exclui-se, de ofício, as qualificadoras previstas no § 2º, I
(mediante paga ou promessa de recompensa) e III (emprego de meio cruel), do
art. 121 do Código Penal, relativamente às vítimas Adão Matozo da Rocha,
Junior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos, ficando o co-réu
Claudinei Granemann pronunciado como incurso nas sanções dos arts. 121, §
2º, IV (homicídio qualificado – vítima Adão Matozo da Rocha), 121, § 2º, IV e
V, por duas vezes (duplo homicídio qualificado – vítimas Júnior Domingos de
Deus e Adalvir Silva dos Santos), 211 (ocultação de cadáver), todos do Código
Penal, e do art. 1º da Lei nº 2.252/54 (corrupção de menores); e c) em relação
ao co-réu Moacir Ribeiro, exclui-se, de ofício, as qualificadoras previstas no §
2º, I (mediante paga ou promessa de recompensa), do art. 121 do Código Penal,
relativamente às vítimas Júnior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos,
e no § 2º, III (emprego de meio cruel), do art. 121 do Código Penal,
relativamente às vítimas Adão Matozo da Rocha, Junior Domingos de Deus e
52
Recurso em Sentido Estrito nº 409743-4.

Adalvir Silva dos Santos, ficando o co-réu Moacir Ribeiro pronunciado como
incurso nas sanções dos arts. 121, § 2º, I e IV (homicídio qualificado – vítima
Adão Matozo da Rocha), 121, § 2º, IV e V, por duas vezes (duplo homicídio
qualificado – vítimas Júnior Domingos de Deus e Adalvir Silva dos Santos),
211 (ocultação de cadáver), todos do Código Penal, e do art. 1º da Lei nº
2.252/54 (corrupção de menores).
Participaram do julgamento, votando com o relator, os
senhores Desembargadores Campos Marques e Oto Luiz Sponholz
(Presidente).
Curitiba, 23 de agosto de 2007.

Des. Jesus Sarrão


Relator

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