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MITOS HEBREUS

Tinham já decorrido quase quinhentos anos desde que se produziu o


assentamento da raça semita na extensa zona que deu em
denominar-se Palestina, quando um dos seus chefes (de nome Saul)
foi proclamado rei. As doze tribos hebraicas decidem unificar-se
num único estado e se constituem em reino para se tornarem fortes
e poderosas e defrontar todos os seus inimigos filisteus, "povos do
mar", e amonitas, que ocupavam a franja do oriente da Jordânia;
nada mais apropriado, para conseguir os seus propósitos, que
instituíssem em estado monárquico em que Saul tinha decretado
(para conseguir méritos aos olhos da única deidade, isto é, do
poderoso Yahveh) que magos e adivinhos deviam ser expulsos de
Israel; "Saul tinha posto fora do país os necromantes e os
adivinhos".

No entanto, assim que os filisteus conseguem fazê-lo retroceder, pensa que


Yahveh já não está da parte dele nem dos seus exércitos, e decide consultar
a pitonisa de Endor para que esta o ponha em contato com o profeta
Samuel, personagem -este último- que, por mandato de Yahveh, instituiu
Saul como rei de Israel. O ancestral mítico continua manifestando-se na
população israelita e no seu rei Saul. Relatos de livros sagrados hebreus
narram de que modo certos personagens importantes, entre os
antepassados de Saul, tais como Jacob, já se tinham servido de métodos
mágicos para que o seu rebanho crescesse mais do que o do seu tio e sogro
Labão. Aquele tinha-se visto obrigado a servir ao tio durante quatorze anos,
para conseguir que lhe fosse entregue por esposa a sua filha Raquel. Ao
princípio o acordo era de sete anos de serviço mas Labão enganou Jacob e
entregou-lhe a sua filha Lia em vez de Raquel. Para a conseguir que estar
mais outros sete anos trabalhando para Labão.

PODER DO MÁGICO

O método utilizado por Jacob para que os cordeiros nascessem com pintas
foi (segundo os estudiosos da mitologia e do esoterismo) o adscrito à magia
conhecida com o nome de "homeopática", que se baseia na chamada lei de
semelhanças: "o semelhante produz o semelhante".

Segundo este princípio imitativo, o mago podia produzir qualquer efeito,


com a simples condição de imitá-lo: "os efeitos assemelham-se às suas
causas".

Toda a natureza,e os objetos que esta contém,são suscetíveis de


manipulação por meio da magia "homeopática"ou "imitativa". E também no
momento de curar e prevenir doenças, se recorreu ao remédio da magia.

Esta forma de encantamento foi levada a cabo ao longo da história pela


maioria dos povos de cultura e civilização ancestrais. O relato do Antigo
Testamento é muito esclarecedor a esse respeito: "Então Jacob procurou
umas varas verdes de álamo, de amêndoa e plátano e lavrou nelas umas
moscas brancas, deixando ao descoberto o branco das varas, e fincou as
varas assim lavradas nas pias ou bebedouros aonde vinham as reses a
beber, justamente diante das reses, com o qual estas se aqueciam ao
aproximarem-se para beber. Ou seja que se aqueciam à vista das varas, e
assim pariam crias listradas, pintas ou manchadas."

A verdade é que, com semelhante método, em breve reuniu Jacob um


rebanho muito superior ao do seu tio e sogro: "Jacob medrou muitíssimo, e
chegou a ter rebanhos numerosos, e servas e servos e camelos e asnos."

ESPÍRITOS E PEQUENOS GÊNIOS

Até confiar completamente de Yahveh como única e poderosa deidade, os


hebreus utilizaram, no momento de conhecer a vontade, espíritos e
pequenos gênios que animavam o mundo não só a magia, mas também
outras formas tradicionais muito estendidas entre a população. No entanto,
o clero judeu lutava por todos os meios contra este tipo de manifestações e,
sob nenhum conceito, aceitavam a magia, que consideravam própria de
povos pagãos.

Embora, em ocasiões, a vontade dos espíritos, assim como as suas


exigências aos mortais, fossem conhecidas por métodos adivinhadores
muito populares. Entre estes sobressaem os célebres dados que se
guardavam numa espécie de cofre chamado "efod". A interpretação do
significado dos dados, uma vez lançados, estava considerada como uma
arte reservada a magos e adivinhos.

Também houve ocasiões em que se venerou um bezerro de ouro, pois o


touro se considerava como a personificação de certas deidades que
formavam tríades sagradas entre si. Se tratava, realmente, de uma espécie
de totem que protegia a tribo que o invocasse. Embora ao princípio
parecesse que o citado guarda certo paralelismo com o mítico boi Ápis das
lendas egípcias, realmente têm muito pouco em comum, dado que estes
últimos associavam o animal -que veneravam vivo- com uma das duas
luminárias, concretamente a Lua.

Outro aspecto importante a apontar, entre a população hebraica, era o rito


do "nazireu". Tudo surgia, por mor da exigência de pureza, pela
necessidade de evitar qualquer contato com aquilo que pudesse considerar-
se impuro. Nesse sentido, grande número de pessoas decidiam retirar-se e
viver em solidão. Segundo relata o "Livro dos Números 6", algumas pessoas
faziam votos de "nazireado" ou nazireu ("nazireu" significa separado,
consagrado), e se apartavam da sociedade e esqueciam a própria família e
os seus íntimos; não raspavam a cabeça e não bebiam nenhuma bebida
alcoólica.

"POVO ESCOLHIDO"

Embora Saul sempre saísse vitorioso de todas as suas batalhas, no entanto,


num amargo dia, foi derrotado na grande planície de Jezrael pelos certeiros
arqueiros filisteus, que cravaram as suas flechas mortíferas no corpo
exausto de Saul e, como sangrento final, penduraram-no nas paredes de
um dos templos que tinham erigido em honra da deusa Vênus. Uma grande
ironia, de resto, dado que no templo da deusa do amor se exibe o corpo de
um homem, produto do ódio entre uns e outros. "O mito é diferente da
Bíblia"

Então é ungido David como rei, que conquista a mítica cidade de Jerusalém
e a converte em capital política e religiosa dos hebreus, ao mesmo tempo
que deposita nela a Arca da Aliança, que constituirá o dado (carregado de
conotações simbólicas) que mostra acreditadamente o pacto levado a cabo
entre os hebreus, desde essa altura transformados em "povo escolhido", e o
poderoso deus Yahveh.

ARCA DA ALIANÇA

David, antes de mais, foi reconhecido como o rei da unificação pois


preconizou a união entre Judéia e Israel. Alistou, além disso, mercenários e
conseguiu, assim, conquistar muitas das cidades-estado dos povos
cananeus limítrofes, com o qual viu consideravelmente ampliados os seus
territórios originais.

Para transportar o Arca da Aliança que continha as "Tabelas de pedra", com


a lei de Yahveh gravada nelas para Jerusalém contrataram-se os serviços
da carreta de Uzzá, que conduziu os bois durante o trajeto até que, por ter
tentado segurar a Arca -que ia dando saltos por causa do mau estado do
caminho- para não cair, foi ferido como por magia por um raio de Yahveh. E
é que a Arca só podia ser tocada por famílias privilegiadas e por sacerdotes.
Mas, à raiz do incidente relatado, até o próprio David temeu a ira de Yahveh
e, para implorar a clemência do airado deus, ordenou que cada certo trecho
se fizesse um alto no caminho, se depositasse a Arca em terra e se
sacrificasse, em honra de Yahveh, "um boi e um carneiro alimentado".

Depois de David, governa Israel um rei sábio e compreensivo para com os


seus súditos: trata-se do seu filho Salomão. Este, embora fosse um bom
diplomata, não tinha, em compensação, os dotes guerreiros do pai e, pelo
mesmo motivo, "não pôde evitar a perda de territórios como o dos
edomitas, provenientes da estirpe de Edom, que tinha sobrevivido à
matança levada a cabo pelo chefe do exército de David e cujo
representante, Hadad, tinha conseguido fugir: este refugiou-se com alguns
homens edomitas no Egito e foi protegido pelo Faraó de forma especial, até
o ponto que lhe deu por mulher uma das suas irmãs. Hadad foi adversário
de Israel durante todo o reinado de Salomão."

A "DIÁSPORA"

No entanto, durante o reinado de Salomão, o comércio e as transações


mercantis de todos os tipos, especialmente com os territórios de Arábia,
experimentaram um incremento substancial. Por isso, Salomão decide
utilizar tanta riqueza na construção da "Casa de Yahveh em Jerusalém, no
monte Morria, onde Yahveh se tinha manifestado ao seu pai David."
No entanto, nos tempos de Salomão, os israelitas perdem as províncias
arameas, com o que se vai debilitando o reino de Israel. Além disso, tudo
isso vai constituindo-se em prelúdio do que a partir do ano 926 (aC), data
em que morre o rei Salomão, se transforma num fato consumado, a saber:
a separação de Israel e Judá.

Jerusalém erigir-se-á em capital de Judá e, quanto ao reino de Israel,


carecerá de capital fixa; a última das suas cidades, constituída em centro
político e religioso, será Samaria. Mas este lugar, considerado como centro
neurálgico e administrativo pela população israelita, é destruído pelo rei
Sargão II, aproximadamente duzentos anos depois da morte de Salomão.
Quando a cidade fortificada de Samaria foi destruída, os israelitas
dispersaram-se e refugiaram-se entre os povoadores dos territórios
próximos e limítrofes. Sucede a mesma coisa com Jerusalém, que sofre o
acosso de Senaquerib e, tempo depois, é destruída por Nabucodonosor II,
no ano 587 (aC), que a tinha submetido a um cerco contínuo durante um
ano. Os seus habitantes fogem e dispersam-se em todas as direções, com o
qual se produz um fato histórico conhecido com o nome de "diáspora".

PROFETISMO

Não tinha passado muito tempo desde que os seus profetas os tinham
avisado do perigo que se lançava sobre a raça judia e os seus territórios: "o
profeta Jeremias tinha prevenido sobre as adversidades que se
aproximavam, mas o seu povo não acreditou em tais palavras. Com o
cativeiro de Babilônia e com a destruição do templo de Jerusalém começa a
decadência dos diferentes movimentos proféticos e, ao mesmo tempo,se
iniciam os movimentos religiosos e tradicionais que conformarão, com os
seus ritos e mitos, o chamado judaísmo."

A palavra dos profetas hebreus caía quase sempre, por assim dizer, num
vazio. Nem o povo, nem os sacerdotes, nem os governantes, faziam muito
caso das ameaças verbais, previsões e avisos, dos profetas. Estes
denunciavam a idolatria, a coação e a hipocrisia e, além disso, odiavam o
formalismo vago de numerosos ritos e cerimônias, dirigidas pelos
sacerdotes e governantes, com a assistência do povo servil. Mas o que
verdadeiramente fez com que os profetas caíssem em desgraça e não
fossem aceitos entre os seus (de aqui o célebre asserto "ninguém é profeta
na sua terra"),foi a denúncia constante e cortante de certos costumes que
eles consideravam licenciosos: "os profetas criticam o luxo e a vida
refestelada de muitos israelitas ricos, deploram os vícios sexuais e rejeitam
qualquer atitude vaidosa."

A FORÇA E O PODER DE YAHVEH

Os povos querem guardar zelosamente os seus deuses e nem sequer


pronunciam o seu nome diante de pessoas de outra tribo, etnia, família ou
país. A lei sagrada proibia aos hebreus pronunciar o nome de Yahveh; o
incumprimento dessa medida levava implícito um drástico castigo: a pena
de morte.
Então, torna-se necessário procurar vários nomes para referir-se a uma
única deidade. Há que evitar pronunciar o nome sagrado de Yahveh e, ao
mesmo tempo, guardar em segredo a escritura das quatro consoantes que
compõem o misterioso tetragrama grego. Não se encontram as vogais do
nome Adonai (que significa Senhor) e, ao pronunciar-se, resulta a palavra
Jeová. Alguns autores mantêm, em compensação, que a verdadeira
pronunciação é Jahoveh, que contém o lexema formado pelas consoantes
IHWH (____), significado do conceito "ser". Daqui uma das próprias
formulações do Deus ao falar da sua própria identidade: "Eu sou o que sou"
ou "Eu sou o existente".

Segundo outras versões, o nome da deidade superior estava considerado


como tabu e, por isso, tinha que ser guardado no maior dos segredos.
Estava proibido nomeá-lo. Além disso, podia suceder, por outra parte, que
os inimigos chegassem a reparar no nome da deidade de um determinado
povo e, pelo mesmo motivo, ao evocá-lo, fariam com que o deus se virasse
contra os seus antigos adoradores e protegidos. Tratava-se, pois, de uma
medida de segurança e sobrevivência para todo um povo, ao manter em
segredo o nome das suas deidades superiores.

MITO DA CRIAÇÃO

Além de Jeová, também existia o nome de Elohim para referir-se à única


deidade, e os livros sagrados colhem estas designações nos relatos da
criação; "No dia em que Jeová Elohim criou a terra e os céus, nenhum
arbusto havia ainda sobre a terra, nenhuma erva tinha germinado ainda,
porque Jeová Elohim não tinha feito ainda que sobre a terra chovesse e
nem havia homens que cultivassem o chão. Mas uma nuvem levantou-se da
terra e regou o chão. E Jeová Elohim formou o homem com o pó do chão e
soprou-lhe no nariz a respiração da vida".

Antes de encontrar com Jeová, os hebreus tinham outras deidades menores


e mais fracas. Adoravam os gênios ou espíritos de certos fetiches, entre os
quais se encontram os denominados "terafim"; estes eram pequenos ídolos
que podiam transportar-se e que presidiam o interior das tendas das
diversas tribos. O próprio rei David levava-os consigo nas suas digressões
e, quando se encontrava em perigo, permitia que os adivinhos e magos os
invocassem para obter a sua ajuda. O mesmo termo "Elohim" significa "os
deuses" (em plural, o que indica que veneravam vários deuses e que,
portanto, não eram ainda monoteístas). No entanto, Yahveh é um deus
ciumento e não quer outros deuses fora ele. É, além disso, "o deus dos
exércitos e exige obediência cega e submissão plena. Era-lhe erigido culto
e, em sua honra, se sacrificavam animais dos rebanhos e se supunha que
na comida de comunhão o próprio Yahveh tomava parte. Era-lhe reservado
o sangue dos animais que aos mortais se proibia."

UM DEUS-PAI SEM ROSTO

Yahveh manifesta-se de diversas formas, pois o seu rosto não foi visto por
ninguém, nem se verá nunca. Os eleitos reconhecem a sua voz e
obedecem-no, dado que dá suficientes provas do seu poder. Por exemplo,
elimina os primogênitos dos egípcios e respeita as casas dos israelitas, que
previamente tinham pintado as suas portas com o sangue do cordeiro como
sinal combinado.

Sempre existiam dados, provas e indícios que indicavam a presença de


Yahveh, que mostrava imediatamente o seu poder de uma ou outra forma.
Os prodígios que fazia tinham, não obstante, um fim prático: convencer o
Faraó do Egito para deixar em liberdade os israelitas, ou mostrar perante
estes o seu vigor e a sua força.

Um povo subjugado deixa as suas antigas crenças, abandona os seus ídolos


e submete-se ao mandato de Yahveh para que este o livre da ira dos faraós
e o conduza, através do deserto, para uma bela terra.

No entanto, num princípio, os egípcios não tinham a menor intenção de


deixá-los partir, pelo qual a intervenção de Yahveh se torna manifesta e
necessária. Transmite as suas ordens a Moisés para que este atue segundo
às suas palavras. Como Yahveh carece de rosto e de corpo visível serve-se
de um mortal em todas as suas ações.

A primeira coisa que encomenda ao seu subordinado é a missão de pôr o


Faraó egípcio em antecedentes da sua existência e dos seus atributos. Mas
o Faraó não parece importar-se pelo qual habitualmente não cumpre as
suas promessas.

Yahveh dispõe-se a mostrar o alcance do seu poder e, num primeiro


momento, faz com que Moisés bata nas águas dos rios egípcios.
Convertem-se imediatamente em sangue e os cidadãos egípcios não podem
beber, e os peixes morrem. Ao cabo de uma semana, o Faraó promete que
deixará em liberdade o povo israelita; o primeiro aviso de Yahveh foi
decisivo. Mas serão necessários muitos mais para que lhes seja permitido,
aos escolhidos, abandonar o Egito.

AS PRAGAS

De novo Yahveh envia Moisés perante o Faraó egípcio para anunciar-lhe


que,se persistir na sua atitude negativa, uma nova amostra do seu poder
poderá ser comprovada por aquele: e disse Yahveh a Moisés: "Apresenta-te
ao Faraó e diz-lhe: assim diz Yahveh: Deixa sair o meu povo para que me
dê culto. Se te negares a deixá-lo partir infestarei de rãs todo o teu país. O
rio bulirá de rãs, que subirão e entrarão na tua casa, no teu quarto e no teu
leito, nas casas dos teus servidores e na tua povoação, nos teus fornos e
nas tuas gamelas. Subirão as rãs sobre ti, sobre o teu povo e sobre os teus
servos".

Como o Faraó intuiu o mal que lhe causava esta praga de rãs prometeu a
Moisés que deixaria sair de Egito todos os israelitas. Mas de novo incumpriu
a sua promessa e foram necessários muitos outros avisos e amostras de
poder por parte de Yahveh para que, por fim, o Faraó consentisse em levar
a cabo as citadas petições.
Finalmente, os israelitas saem do Egito -não sem antes despojar os seus
opressores dos objetos de ouro e prata que tinham-, e entram no deserto
atrás de uma coluna de fogo e uma nuvem que os guia.

O Faraó decide perseguí-los mas, segundo narra o relato bíblico, é engolido


pelo mar Vermelho junto com todo o seu exército, enquanto os israelitas,
pelo poder de Yahveh, "que fez soprar durante toda a noite um forte vento
do este que enxugou o mar", conseguiram atravessá-lo a pé sem grandes
dificuldades.

O MONTE SINAI

Quando os mortais procuram a proteção de um "deus pai" é porque confiam


em que não vai abandoná-los na sua infelicidade e porque esperam que
sempre acuda em sua ajuda.

Quando os israelitas caminham pelo deserto, Yahveh envia o maná para


alimentá-los: "Olha eu farei chover sobre vocês pão do céu; o povo sairá
para apanhar todos os dias a porção diária".

Embora durante muito tempo se alimentassem unicamente de maná - o que


era "como semente de coentro, branco e com sabor a torta de mel" -, no
entanto, os israelitas não se sentiam a gosto e, em ocasiões, protestavam
ou maldiziam a sua sorte. Além disso, agora se dedicam a adorar um
bezerro de ouro, o que pode provocar a ira de Yahveh, dado que é um deus
muito ciumento e, além disso, não permite compartilhar a sua glória com
outras deidades inferiores; mais ainda: fora dele não há nenhum outro
deus.

NEM DEUSES DE PRATA NEM OURO

Torna-se,portanto, necessária uma norma escrita e durável, pela qual se


têm que reger para assim evitar confusões e mal-entendidos. Moisés é
reclamado por Yahveh (que sempre necessita de intermediários) e é citado
no cimo do Monte Sinaí: "Sobe a mim, ao monte; fica lá, e dar-te-ei as
tábuas de pedra (a lei e os mandamentos) que tenho escritos para a sua
instrução."

Embora acompanhasse Moisés o seu irmão Aarão e vários anciãos israelitas,


só ao primeiro estava permitido aproximar-se, isto é, a Moisés: todos os
outros deveriam contemplar a cena de um lugar afastado. E eis aqui que
uma nuvem cobriu o monte Sinai, e entre trovões e relâmpagos se
manifestou a glória de Yahveh, que entrega as Tábuas da Lei a Moisés.
Desta forma, um povo sela uma aliança com uma poderosa deidade à qual,
a partir de agora, deverá submissão e adoração: "Eu, Yahveh, sou o teu
Deus, o que te tirou do país do Egito, da casa de servidão.

Não haverá para ti outros deuses diante de mim.


Não farás escultura nem imagem alguma nem do que há em cima nos céus,
nem do que há em baixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da
terra.

(...) não terão junto de mim deuses de prata, nem farão deuses de ouro.
Faz-me um altar de terra para oferecer sobre ele os teus holocaustos e os
teus sacrifícios."

A partir de agora, fará único objeto de culto e adoração o poderoso Yahveh


e rejeitará qualquer ídolo ou fetiche terrenos.

CANASTRA DE PAPIRO

A Aliança entre Yahveh e o povo hebreu fica selada do modo citado e nas
tábuas de pedra que Moisés tomou no monte Sinaí, aparecerão gravadas,
em forma de preceitos, as obrigações para com tão terrível deidade. E,
assim, o primeiro mediador, e intérprete, da palavra divina foi escolhido
entre os filhos dos mortais. O próprio nascimento de Moisés e as diversas
circunstâncias que se sucedem então, talvez pressagiassem o seu posterior
protagonismo. No "Livro do Êxodo" é narrada a história de uma criatura que
se livrou de perecer afogada porque não foi achada pelas hostes do Faraó
egípcio, que tinha ordenado que todos os homens israelitas,recém-
nascidos,fossem arrojados ao rio Nilo. No entanto, e curiosamente, foi uma
filha do próprio Faraó quem salvou Moisés (nome que significa "das águas o
tirei") de perecer afogado no rio. Eis aqui o relato dos fatos: "Um homem da
casa de Levi foi tomar por mulher uma filha de Levi. Concebeu a mulher e
deu à luz um filho; e vendo que era belo teve-o escondido durante três
meses. Mas não podendo ocultá-lo já por mais tempo, tomou uma cestinha
de papiro, calafetou-a com betume e pixe, metia nela o menino e pô-la
entre os juncos, à beira do rio. A irmã do menino colocou-se ao longe para
ver o que lhe passava.

Desceu a filha do Faraó para banhar-se no rio e, enquanto as suas donzelas


passeavam pela beira do rio, viu a cestinha entre os juncos e enviou uma
criada sua para que a trouxesse. Ao abri-la, viu que era um menino que
chorava. Compadeceu-se dele e exclamou: "É um dos meninos hebreus".
Então disse a irmã à filha do Faraó: "Queres que eu vá e chame uma aia
entre as hebraicas para que te crie este menino? ". "Vai", respondeu-lhe a
filha do Faraó. Foi, pois, a jovem e chamou a mãe do menino. E a filha do
Faraó disse-lhe: "Toma este menino e cria-o que eu te pagarei". Tomou a
mulher o menino e criou-o. O menino cresceu e ela levou-o então à filha do
Faraó, que o teve por filho e lhe chamou Moisés, dizendo: "Das águas o
tirei".

Alguns estudiosos da história e da mitologia notaram o paralelismo entre a


história de Moisés (narrada no Livro de Êxodo) e a infância de um rei de
Akad chamado Sargão (nome que significa "Senhor das Quatro partes do
Mundo") que invadiu a Mesopotâmia durante a sua juventude e, quando era
menino, a sua mãe tinha-se visto obrigada a depositá-lo numa cestinha
trançada com juncos.
ORGANIZAÇÕES SECRETAS

Se aprofundarmos no ancestral do povo hebreu, descobriremos que antes


de abraçar esse radical monoteísmo que os caracteriza, tinham os seus
fetiches e os seus ídolos e, pelo mesmo motivo, praticavam (como outros
povos da mesma zona e época) o politeísmo. Adoravam deidades, por
exemplo, que provinham dos fenícios. E também, seguindo os ensinos de
um filho de Abraão, chamado Madian, tinham fundado seitas e organizações
que recebiam o nome de madianitas, e nas quais se venerava um ídolo
denominado Abda.

Também existia uma deidade que representava o mal; chamava-se


Asmodeu (nome que significava "o que faz perecer") e, segundo a crença
popular, tinha sido obrigado por Salomão a trabalhar na construção do
templo de Jerusalém, Asmodeu tinha também por missão introduzir a
desconfiança entre os cônjuges para, assim, separá-los e destruir o seu
casamento. Era considerado, além disso, como uma espécie de Anjo
Exterminador.

LEVIATÃ

Mas na mitologia hebraica sobressaía de maneira especial um Dragão ou


"Serpente Esquiva", também denominado "Leviatã". Já os fenícios falavam
deste monstro e, nas suas lendas, faziam-no vir do caos primitivo. Para os
hebreus só cabia a possibilidade de que fosse um dos muitos filhos de Lilith,
mulher legendária (desposada com Adão) que paria todas as classes de
criaturas deformes, monstros e demônios. Temia-se que o Leviatã
despertasse e introduzisse o mal no mundo; por exemplo, no "Livro do
Apocalipse" é considerado como a personificação do mal que enfrenta, por
sua vez, a bondade encarnada na deidade superior.

Mas é no Livro de Job onde se encontra a descrição do Leviatã mais


exaustiva:

" (E Leviatã, tu o pescarás a anzol, segurarás com um cordel a tua língua? /


Farás passar pelo seu nariz um junco?, / Furarás com um gancho o seu
queixo? / (. ..) Furarás a sua pele com dardos?, / Cravarás com o arpão a
sua cabeça? / Põe sobre ele a tua mão: / Ao recordar a luta não terás
vontade de voltar! / Seria vã a tua esperança / Porque a sua vista só aterra!
/ Não há audaz que o acorde, / E quem poderá resistir diante dele? / Quem
o enfrentou e ficou salvo? / Nenhum sob a capa dos céus! / Mencionarei
também os seus membros, / Falarei da sua força incomparável. / Quem
rasgou a dianteira da sua túnica / E penetrou no seu coração duplo? / Quem
abriu as folhas das suas fauces? / Reina o terror entre os seus dentes! / O
seu dorso são filas de escudos, / Que fecha um selo de pedra. / Estão
apertados um a outro, / E nem um sopro pode passar entre eles. / Estão
colados entre si / E ficam unidos sem fissura. / Deita luz o seu espirro, / Os
seus olhos são como as pálpebras da aurora. / Saem tochas das suas
fauces, / Faíscas de fogo saltam. / Do seu nariz sai fumo, / Como de um
caldeirão que ferve junto ao fogo. / O seu sopro acende carvões, uma
chama sai da sua boca."

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