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H mais ainda: para pertencer a uma disciplina, uma proposio deve poder inscrever-se num certo tipo de horizonte

terico: basta lembrar que a procura da lngua primitiva, que foi um tema plenamente aceite at ao sculo XVIII, era suficiente, na segunda metade do sculo XIX, para fazer sucumbir qualquer discurso, no digo no erro, mas na quimera e no devaneio, na pura e simples monstruosidade lingustica.

Existe, creio, um terceiro grupo de procedimentos que permitem o controlo dos discursos. No se trata desta vez de dominar os poderes que eles detm, nem de exorcizar os acasos do seu aparecimento; trata-se de determinar as condies do seu emprego, de impor aos indivduos que os proferem um certo nmero de regras e de no permitir, desse modo, que toda a gente tenha acesso a eles. Finalmente, numa escala muito maior, podem reconhecer-se grandes clivagens naquilo a que se poderia chamar a apropriao social dos discursos. A educao pode muito bem ser, de direito, o instrumento graas ao qual todo o indivduo, numa sociedade como a nossa, pode ter acesso a qualquer tipo de discurso ; sabemos no entanto que, na sua distribuio, naquilo que permite e naquilo que impede, ela segue as linhas que so marcadas pelas distncias, pelas oposies e pelas lutas sociais. Todo o sistema de educao uma maneira poltica de manter ou de modificar a apropriao dos discursos, com os saberes e os poderes que estes trazem consigo. E se quisermos no digo eliminar esse temor mas analisar as suas condies, o seu jogo e os seus efeitos, preciso, creio, resolvermo-nos a tomar trs decises, em relao s quais o nosso pensamento, hoje, resiste um pouco, e que correspondem aos trs grupos de funes que acabo de mencionar : interrogar a nossa vontade de verdade ; restituir ao discurso o seu carcter de acontecimento ; finalmente, abandonar a soberania do significante.

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