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como muitos escritores brasileiros, comecei minha trajetória literária pelo

conto. depois passei para o romance, para a crônica, para o ensaio – mas até hoje
continuo achando que a história curta é o gênero literário por excelência, e aquele
que representa, para o ficcionista, o maior desafio. É algo que tenho também
constatado nos numerosos juris literários em que participei; os jovens acham que,
por causa das dimensões reduzidas, é mais fácil escrever conto. engano. conto é
muito difícil, e só raramente aparece um contista digno deste nome.
josé rezende jr. é destes casos. ler o seu livro foi para mim uma múltipla
surpresa. em primeiro lugar, eu ignorava a sua vocação literária; conhecia-o, sim,
como um competente jornalista, um dos mais competentes deste país. em todo o
caso, rezende não é o primeiro escritor a passar por uma redação de jornal. não
faltam nomes grandiosos para mostrar que jornalismo e literatura não são
excludentes, ao contrário: machado de assis, lima barreto, drummond, clarice, rubem
braga são apenas alguns exemplos.
josé rezende jr. pode ter demorado a estrear, mas é um contista nato. tem a
vocação do narrador. seus textos recuperam o prazer de contar histórias, mas sem
perder a qualidade literária: não estamos aqui diante do anedótico ou do trivial,
ainda que o cotidiano faça parte da ficção de “a mulher-gorila e outros demônios”.
exemplo disto é “59 segundos” que capta, de maneira impressionante, o clima
frenético e violento das cidades brasileiras. o assalto aí é o ponto de partida para um
mergulho na existência humana sem perder de vista o contexto em que vivemos, a
situação atual de nosso país.
alegrem-se, pois, leitores: o conto brasileiro está vivo e palpitante nas
inspiradas páginas de josé rezende jr.

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