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despertador pode ser um sinal de que necessitaríamos de mais

horas de sono, sendo um despertar espontâneo o ideal, fato esse


que costuma acontecer durante os finais de semana. Atualmen-
te podemos observar que as necessidades sociais e profissionais
O que é insônia? nos impedem de se ter uma quantidade de sono normal. Vivemos
numa sociedade que seguramente está nos tornando seres priva-
Insônia é um sintoma, e como sintoma é subjetivo, ou seja, de- dos cronicamente de sono.
pende individualmente de como cada pessoa sente a sua falta de
sono. As queixas dos insones são muito diversas. Alguns pacientes A conseqüência dessa privação de sono é a sonolência excessiva
referem dificuldade para começar a dormir. Outros dizem que até diurna a qual pode ser de tal intensidade que não raramente se
conseguem dormir rapidamente, porém logo, após poucas horas, confunde com outras hipersônias patológicas como a narcolep-
despertam e não conseguem mais dormir. Geralmente após esse sia ou transtornos intrínsecos do sono. O diagnóstico de privação
despertar segue um sono referido superficial, com muitos desper- do sono é feito quando o próprio paciente refere que quando
tares, sendo que sempre que despertam sentem dificuldade em dorme um número adequado de horas de sono a sonolência
retomá-lo. Alguns pacientes referem ter um sono superficial e não diurna desaparece.
reparador, sendo suas queixas bizarras e curiosas como: “Minha
mente não pára”, “Tenho um sono de vigília”, “Não sei se durmo ou Já os curtos dormidores freqüentemente procuram o especialista
se estou acordado”, “Penso muito a noite toda”. Antes, porém, de queixando-se de que gostariam de dormir mais, ou seja, o mesmo
entendermos quais são os mecanismos envolvidos nas insônias que a maioria das pessoas dormem. Alguns profissionais podem
temos que entender o que é dormir bem. medicar esses pacientes com hipnóticos, pensando tratar-se de
uma insônia.
Como é o sono normal?
O segundo aspecto que envolve o sono normal é aquele rela-
O sono normal, ou dormir bem, envolve três aspectos: quantida- cionado com uma boa qualidade de sono. O sono é constituído
de, qualidade e ritmo. Quantidade é o tempo total de sono ade- de vários estágios e fases que por sua vez traduzem os diferen-
quada para cada indivíduo. Sendo uma característica individual tes níveis de consciência. O primeiro estágio do sono é o estado
pode variar de valores menores para um número maior de horas de sonolência, de curta duração e passagem para o estágio 2.
de sono. Pode-se dizer que a média assim dita normal de horas de O terceiro estágio é caracterizado por um alentecimento da ati-
sono seria de oito horas. Os assim chamados curtos dormidores vidade elétrica cerebral (sono de ondas lentas). Após 90 minutos
podem se beneficiar com menos horas de sono, assim como, em do início do sono atingimos uma fase diferente das demais, e
outro extremo, os longos dormidores necessitam de muitas horas se caracteriza por sonhos, movimentos oculares rápidos e ativi-
de sono para se sentirem bem. O que define uma boa quantidade dade cerebral próxima do estado de vigília. Essa importante fase
de horas de sono é como o indivíduo acorda pela manhã e como do sono é denominada de sono REM (rapid eye movements)
se apresentará durante o dia. O simples fato de se acordar com um ou sono paradoxal. Todos esses estágios e fases do sono aconte-
cem em ciclos que se repetem de quatro a cinco vezes durante emoções, estão mais ativadas que estruturas do lobo frontal que
uma noite. Para que essa arquitetura do sono aconteça é neces- ficam mais inertes. É o oposto do que ocorre durante o estado
sário que não haja nenhuma interferência tanto externa como de vigília, quando essas formações do sistema nervoso central,
interna. Um transtorno intrínseco importante é a apnéia assim ditas mais antigas, se tornam mais inibidas. Seriam
obstrutiva do sono, distúrbio respiratório do sono freqüentemente essas estruturas o nosso inconsciente perseguido desde Freud e
observado em homens adultos com características clínicas os seus demais seguidores?
próprias.
Para que o sono aconteça, diversas estruturas e substâncias
O terceiro fator para que se obtenha um sono normal é ter um do sistema nervoso central são ativadas e outras inibidas. Princi-
ritmo circadiano adequado de vigília e sono. Assim como a quan- palmente estruturas do tronco cerebral passam a produzir neu-
tidade de sono necessária para um bom sono, o nosso ritmo rotransmissores que dão início ao sono até atingirmos o sono
biológico também é uma característica individual. A maioria de ondas lentas. Concomitantemente outras substâncias,
da população dorme por volta das 23 horas e acorda ao redor responsáveis pela vigília são inibidas para que o sono aconteça.
das sete horas. Uma minoria não segue esse ritmo, ou adorme- Da mesma forma o sono REM acontece quando estruturas do
cem bem mais cedo, ou em outro pólo, tendem a dormir bem tronco cerebral são ativadas e outros núcleos são inibidos. Esse
mais tarde. No primeiro caso estão os indivíduos que apresen- balanço ativação-inibição irá acontecer diversas vezes durante
tam um avanço de fase, e, no segundo caso, um atraso de fase. o sono, ocasionando os nossos ciclos do sono, responsáveis pelo
Dormir tarde e acordar tarde trazem prejuízos sociais e pro- estado dinâmico de troca de consciências durante toda uma
fissionais. Esses pacientes são muitas vezes confundidos com noite de sono.
insones, uma vez que quando tentam ir para a cama mais cedo,
apresentam grande dificuldade para iniciar o sono, porém, caso Classificação das insônias
retardem a ida para a cama, o sono se inicia com maior facilida-
de. Geralmente esses pacientes se apresentam sonolentos prin-
Na década de setenta, a primeira classificação dos distúrbios
cipalmente no período da manhã, caracterizando uma privação
do sono considerava dois principais transtornos, a dificuldade
crônica de sono. Indivíduos com avanço de fase por sua vez
para iniciar o sono, ou insônias, e os quadros de sonolência ex-
também podem ser confundidos com insones, pois apresentam
cessiva diurna. Essa primeira classificação era essencialmente
um despertar precoce, porém são pacientes que estão indo muito
clínica. Na década de noventa, na segunda classificação propos-
cedo para a cama.
ta, os distúrbios do sono passaram a ser categorizados de acordo
com os aspectos fisiopatológicos, sendo denominados de disso-
Como, para quê e por quê dormimos? nias. Observamos nessa classificação uma certa fragmentação
das insônias, perdendo a sua unidade clínica. Na classificação de
O sono é um estado fisiológico tão importante quanto o estado 2005, podemos observar que as insônias voltam a ter um módulo
de vigília, sendo que talvez o questionamento seria por quê próprio. Embora não sejam denominadas de insônias primárias
ficamos acordados a maior parte do tempo, pensando que e secundárias, vemos que de um lado têm-se as insônias idio-
um recém-nascido passa a maior parte do tempo dormindo, páticas, psicofisiológicas e as paradoxais, e de outro lado a clas-
ou seja acordando para comer e comendo para dormir. Durante sificação coloca as insônias associadas a transtornos mentais,
o sono nosso organismo continua exercendo diversas funções, médicos, higiene inadequada do sono e uso de substâncias.
tanto fisicamente quanto na esfera cerebral ou mental. Através As insônias transitórias ou situacionais são agora denominadas
de um ritmo biológico ou circadiano, nosso organismo segue um de agudas.
ritmo vinculado ao estado de vigília e sono. O hormônio mais
conhecido que acompanha esse ritmo é a melatonina. Por inter- As insônias são atualmente classificadas em dois grupos princi-
médio da luz que atinge a nossa retina, estímulos fisiológicos pais: as insônias associadas e as assim ditas primárias. As insônias
alcançam a glândula pineal, controlando a liberação de melato- associadas são aquelas em que o sintoma insônia está inserido
nina, a qual é produzida no escuro e inibida pós a exposição à dentro de uma doença, ou tem um fator determinante impor-
luz. Além da melatonina outros hormônios podem estar associa- tante. Dessa forma a insônia pode fazer parte de um transtorno
dos a esse nosso ritmo circadiano. Sabe-se que durante o sono mental, como depressão, transtorno bipolar ou esquizofrenia.
de ondas lentas existe uma maior produção do hormônio do A insônia pode também ser uma manifestação de uma doen-
crescimento. Portanto podemos imaginar que uma privação ça neurológica, como enfermidade de Parkinson ou demência
crônica de sono pode trazer prejuízos no desenvolvimento físico de Alzheimer. As insônias podem ser secundárias a uso de medi-
de uma criança e reparação tecidual de um adulto. Atualmente camentos, substâncias ou drogas. O uso de álcool, tanto de forma
sabe-se que a leptina, hormônio da saciedade é produzida duran- aguda ou crônica, interfere no sono. Alguns medicamentos, como
te o sono, e estudos têm sido direcionados para as conseqüências barbitúricos e benzodiazepínicos, podem alterar drasticamente
da privação dessa substância, como obesidade, em indivíduos a arquitetura do sono. Finalmente, algumas insônias têm fatores
cronicamente privados de sono. causais bem definidos, geralmente reconhecidos pelos pacien-
tes, como acontece em situações ambientais inadequadas, como
O sono REM é uma importante fase do sono, associado a nos- em quartos com luminosidade exagerada, excesso de barulho
sa atividade mental. Portanto uma privação do sono como um ou temperatura extremas, quente ou frio demais.
todo pode comprometer funções cerebrais fundamentais como
aprendizado, memória, concentração e outras funções cogniti- A grande procura do médico especialista em sono é daquele
vas mais elaboradas. Sabe-se que principalmente durante o sono paciente que não consegue identificar um fator causal bem
REM ocorre a maioria de nossos sonhos. Sonhar é um estado de definido para sua insônia. Nestes casos denominamos de insônia
consciência diferente da consciência da vigília, ou seja, sonhos primária. Esse grupo de insônia compreende três tipos: idiopática,
nada mais são que pensamentos, porém modificados em função psicofisiológica e paradoxal. Embora separadas em tipos diferen-
das estruturas cerebrais ativadas de maneira diferente daque- tes, como veremos, essas insônias, freqüentemente são difíceis
las que o são durante o estado de vigília. Durante o sono REM de serem separadas em entidades distintas, uma vez que os
estruturas límbicas, ou seja, aquelas associadas a nossas fatores que as caracterizam estão mesclados nesses três tipos
de insônia. A insônia idiopática tem o componente genético como Fatores comportamentais e cognitivos
fator preponderante. Já a insônia psicofisiológica é caracterizada
Todos estes fatores analisados levam a mudanças comporta-
pelo seu componente comportamental, adquirindo cronicamente
mentais e principalmente a modificações cognitivas com pensa-
ansiedade antecipatória, sendo denominada de maneira estranha
mentos inadequados, uma vez que o foco de atenção passa a ser
de insônia aprendida. A insônia paradoxal baseia-se nos aspectos
cognitivos, também chamada de insônia subjetiva, tendo como a sensação ou a percepção que já não consegue dormir, perma-
principal fator a má percepção do sono. Nossa visão da insônia, necendo sempre em estado de alerta durante as 24 horas, tanto
como veremos, envolve todos esses aspectos, sendo a insônia o durante o dia como durante a noite.
sintoma central, inserido dentro de um contexto mais amplo.
Estratégias desadaptativas são desenvolvidas pelo insone, com
intuito de obter mais sono; especialmente tempo excessivo na
Quais são os mecanismos envolvidos nas
cama e ocorrência de comportamentos diferentes de sono na
insônias? cama/quarto. Os pacientes com insônia apresentam na grande
maioria das vezes uma ativação fisiológica, com alterações do
A visão de insônia segue um modelo sistêmico, onde a insônia sistema nervoso central ou periférico que acabam inibindo o sono
está inserida dentro de um contexto, numa inter-relação de circu- e gerando uma tensão muscular excessiva.
laridade, criando assim o universo sintomatológico dos insones.
O sintoma passa a ser o marco que dá o significado à vida do inso- Além disso, os insones também apresentam uma ativação cogni-
ne, e torna-se o grande protagonista da sua história. tiva, com estado de alerta mental caracterizado por pensamen-
tos intrusivos relacionados a problemas domésticos ou profis-
Substrato neurobiológico sionais, preocupações excessivas com o dia seguinte ou revisão
quase compulsiva do que aconteceu no dia anterior. A ativação
emocional se caracteriza por emoções negativas, desespero ou
Fatores predisponentes raiva, traços de personalidade como: perfeccionismo, ou ainda
distúrbios de humor como depressão e ansiedade. As cognições
O principal fator que predispõe um indivíduo a sofrer de insônia disfuncionais são caracterizadas por preocupações sobre falta
durante a vida passa pelo aspecto constitucional, tendo como de sono e suas respectivas causas. São comuns os pensamentos:
terreno favorável um substrato genético. Os estudos ainda “se não dormir não vou conseguir trabalhar amanhã”, “tenho
não têm demonstrado algum gene responsável pela insônia, de dormir 8 hs para estar bem no dia seguinte”, “Quando não
mas acreditamos que esse fator seja fundamental para que um durmo o suficiente, tenho de ficar mais tempo na cama para
indivíduo passe a apresentar um substrato biológico que será compensar”.
responsável pelos aspectos físicos da insônia. Estes fatores cons-
tituem os agentes predisponentes e que formarão o substrato Esforço para conseguir dormir acaba por agravar o estado de
neurobiológico, base orgânica e cerebral e que tornará determi- ativação – círculo vicioso. Morin detalhou a influência dos fatores
nado indivíduo predisposto a ser insone. perpetuadores e as interações entre eles, num modelo multifa-
torial que explica como a insônia pode se tornar independente
O substrato neurobiológico mais importante reflete um aumen- daquilo que a precipitou e por que os insones têm tanta dificulda-
to de ritmos rápidos cerebrais, padrão que estaria associado de de se livrar dela (figura 1).
ao estado de hiperalerta apresentado pelos insones, tanto
durante o dia como durante o sono. Anatomicamente o eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal teria participação fundamental
em gerar esse estado de maior alerta. Sabe-se que praticamente
todo o insone é ansioso, porém a sua ansiedade está direciona-
da para seu sintoma, ou seja, a sensação constante de que nunca
irá conseguir dormir. Assim como ansiedade, insones passam
a apresentar algum grau de depressão, com desânimo, desinte-
resse e falta de motivação para suas atividades sociais e profissio-
nais. Os fatores predisponentes envolvem um espectro biológico
caracterizado pelo estado de hiper-alerta e um fraco sistema ge-
rador de sono, envolvendo os padrões psicológicos de preocupa-
ção e ruminação de pensamentos.

Fatores desencadeantes e perpetuantes


Se por um lado nós colocamos os fatores predisponentes, em
outro pólo são as intercorrências durante a vida, situações com
forte conteúdo emocional que constituirão os fatores desen-
cadeantes e freqüentemente perpetuantes, que darão origem Figura 1 – interação dos fatores predisponentes e perpetuantes de acordo com
ao sintoma e o manterão durante muito tempo, não raramente C. Morin
durante toda uma vida. Esses fatores sociais geralmente consti-
tuem mudanças de ciclo de vida, como casamento, separações, A realização sistemática da polissonografia, em todos os pacien-
nascimento de filhos, perda de familiares ou entes queridos, tes com insônia, tem nos mostrado que insones estão dormindo
mudanças profissionais ou econômicas, doenças, próprias ou de muito mais do que conseguem perceber. Esta percepção inade-
familiares. Dessa forma, nas mulheres, é muito comum o início da quada do estado de sono passa a estar presente em todos os inso-
insônia com o aparecimento da menopausa, importante fase na nes, em graus diferentes. A figura 2 mostra de maneira esquemáti-
mulher, quando ocorrem mudanças físicas, hormonais e psicoló- ca todos esses fatores envolvidos no universo fisiopatológico do
gicas, envolvendo aspectos familiares e afetivos. sintoma insônia.
horário de trabalho ou estudo, início e término, hora de almoço,
jantar e de atividade física, caso haja essa prática.

Hábitos noturnos
O que acontece após o jantar? Quais são as principais atividades
até a hora de ir para a cama e a que horas isso acontece? Este
hábito é regular ou acontece de maneira muito irregular? Após
se deitar, quais são as atividades na cama. Apaga a luz e tenta
adormecer, ou fica lendo e vendo TV. Por quanto tempo? É somen-
te um rápido ritual, ou por tempo prolongado esperando o sono
chegar? Quanto tempo demora para dormir, lembrando-se que
o tempo normal para dormir, embora seja subjetivo, é de até
30 minutos.

Um interrogatório sobre toda a noite é fundamental. Quantos


despertares acontecem durante a noite e por quanto tempo
permanece acordado, e se apresenta dificuldade em retomar
Figura 2 – Modelo proposto para os fatores envolvidos na etiopatogenia das o sono, permanece na cama ou, caso se levante, o que faz?
insônias

Deve-se saber a que horas desperta e se levanta, como acorda,


A avaliação do insone o que sente em relação à noite e ao sono. Como veremos será
fundamental a anotação da percepção do tempo total de sono.
Investigar com o companheiro, a existência de ronco e de movi-
Início dos sintomas mentos de pernas.
A avaliação do insone começa em saber quando e como se ini-
Ansiedade e depressão
ciou seu sintoma. Se recentemente ou se já há muitos anos.
Saber se houve algum fato associado ao início da insônia, o que Deve-se avaliar o grau de ansiedade e de depressão do pacien-
chamamos de fator desencadeante. Em quase todos os pacien- te, além de outras doenças. A avaliação do grau de ansiedade
tes identificamos um fato que desencadeou o sintoma, podendo e depressão pode ser feita de diversas maneiras. Da simples per-
ser de natureza familiar, como casamento, separação, nasci- gunta em relação a esses sintomas, até questionários próprios.
mento de um filho, problemas com o cônjuge ou com os filhos; Podemos utilizar também uma escala analógico-visual, onde
de causa afetivas, profissionais, econômicas, doenças, mudanças o paciente pontua uma nota de 0 a 10 quanto a intensidade de
de vida, moradias. É muito comum observarmos os insones dizerem sua ansiedade e depressão.
que embora sempre dormiram mal, foi após um determinado
fato que seus sintomas pioraram. Hábitos
Deve-se investigar com detalhes todos os hábitos apresentados
Curso dos sintomas
pelo insone, no que se refere à dependência ao cigarro, álcool
Os sintomas podem no decurso do tempo apresentar períodos e eventualmente uso de outras drogas. A prática de atividade
de piora ou melhora, porém a insônia tende sempre a piorar com física deve ser questionada quanto à sua freqüência e horário
o passar do tempo, cristalizando os sintomas, criando compor- e estar atento principalmente se realizada à noite. É importante
tamentos e pensamentos inadequados. Comumente o paciente também se pesquisar a qualidade de vida desses pacientes.
desenvolve idéias erradas, mitos e fantasias sobre seu sintoma.
A insônia passa a ser o foco principal de suas vidas, a tragédia Avaliação psicossocial
que ocupa o centro de sua desgraça e tristeza. Comumente os
fatores desencadeantes continuam presentes, ou de maneira Após a avaliação médica o paciente com insônia deve ser avaliado
real ou no seu imaginário. sob o ponto de vista psicossocial, com importante investigação
quanto às condições profissionais, familiares e sociais, lembran-
Tratamentos já efetuados
do sempre de fazer as interações dessas condições com os fato-
Todos os tratamentos efetuados devem ser pesquisados e ano- res predisponentes, desencadeantes e perpetuadores da insônia.
tados, sejam farmacológicos ou não. Terapias, tempo e tipos, Embora seja ideal que essa avaliação seja feita por um terapeuta
acupuntura, homeopatias e os assim chamados tratamentos especializado em distúrbios do sono, em muitas ocasiões o pró-
alternativos. Todos os tipos de medicamentos utilizados devem prio médico pode fazê-la, preparando o paciente para o exame
ser mencionados, como hipnóticos, tranqüilizantes, principal- de polissonografia e uma triagem prévia para um futuro trata-
mente os benzodiazepínicos, antidepressivos e fitoterápicos. mento não-farmacológico através da Terapia Comportamental
Indagar sobre seus resultados, efeitos colaterais, dependência Cognitiva.
e tempo de uso. Tratamentos médicos principalmente psiquiátri-
cos são importante serem anotados, uma vez que envolvem uso O exame de polissonografia
de medicamentos além de psicoterapias.
A polissonografia (PSG) é o principal método gráfico para estudo
Hábitos diurnos do sono normal e no diagnóstico dos distúrbios do sono. Apare-
Deve-se saber como esse paciente se comporta durante o dia cendo no final da década de sessenta, permitiu que se elaboras-
e como ele se sente. Como é a sua produtividade social e pro- se a primeira classificação dos transtornos do sono na década
fissional, fadiga, sonolência, estado de humor, irritabilidade de setenta. Várias funções biológicas são registradas e grava-
e concentração. das durante uma noite de sono. O exame de PSG é realizado em
Deve-se investigar todas as suas atividades durante o dia, como laboratórios especializados com o registro computadorizado de
várias funções durante uma noite inteira de sono, procurando-se é bastante amplo e complexo uma vez que podem ser fisiológicos
atender às condições e hábitos naturais de cada paciente no que sem nenhum significado patológico, ou estar associados à síndro-
se refere à hora de dormir e de se levantar pela manhã. me das pernas inquietas, entidade clínica bem definida. Portanto
sua interpretação deve ser criteriosa, principalmente no que se
Vários sensores e eletrodos são aderidos no couro cabeludo para refere ao seu aspecto terapêutico.
registro da atividade elétrica cerebral, movimentos oculares,
contrações musculares mentonianas, parâmetros biológicos fun- O laudo polissonográfico: os principais parâmetros do sono que
damentais para se estabelecer os estágios do sono. Além disso, devem ser analisados são: tempo total de registro, tempo to-
numa PSG basal registra-se a função respiratória, eletrocardio- tal de sono, latência do sono, eficiência do sono, porcentagem
grama e movimentos dos membros. A atividade elétrica cerebral dos respectivos estágios, latência REM, microdespertares, movi-
é registrada através de eletrodos aderidos ao couro cabeludo. mentos de membros inferiores, índice de apnéia e hipopnéia, índi-
Utilizamos eletrodos posicionados nas regiões centrais (rolân- ce de eventos respiratórios relacionados com microdespertares,
dicas) e occipitais, A atividade elétrica cerebral é obtida através saturação da oxihemoglobina, eletrocardiograma, ronco e o
de ondas, que apresentam uma freqüência, amplitude e morfo- decúbito apresentado pelo paciente durante a noite.
logia próprias de cada estágio. As freqüências vão de 8 a 13 Hertz
(Hz) ou ondas alfa, de 4 a 7 Hz, ou ondas teta, menores do que 4, O laboratório do sono
ou ondas delta, e maiores do que 13, ou ondas beta. Durante a É o local onde são realizados os exames de polissonografia.
vigília e nos diversos estados do sono nós vamos observar varia- O quarto onde o paciente dorme deve ser separado da área de
ções na freqüência e morfologia das ondas. registro e deve oferecer todas as comodidades para a melhor
captação das variáveis que serão posteriormente analisadas.
Os estágios do sono
O paciente deve chegar ao laboratório com antecedência
Dessa forma o estágio 1 (N1) do sono mostra uma passagem de suficiente para o preenchimento de questionários sobre o sono
ritmos mais rápidos da vigília (ondas na freqüência alfa e beta) e para seu preparo e colocação dos eletrodos e sensores. O exa-
para um ritmo mais lento (ondas teta). Concomitantemente me se inicia com o apagar das luzes do quarto e início do regis-
observam-se movimentos oculares lentos. O estágio 2 do sono tro polissonográfico. Tanto o início quanto o término do exame
(N2) evidencia ondas com morfologia e freqüência características procura obedecer o horário habitual do paciente no seu domicí-
como os complexos K e os fusos do sono. O terceiro estágio (N3) lio. Pela manhã aplica-se um questionário avaliando as condições
se caracteriza pelo predomínio de ondas bastante lentas (delta), do paciente durante a noite.
no traçado eletrencefalográfico. O estágio 1 é uma fase transitó-
ria, de curta duração, sendo mais uma passagem da vigília para O técnico que acompanhou o exame deve anotar todas as inter-
o sono. Já o estágio 2 ocupa 50% do tempo total de sono. Enquan- corrências ocorridas durante a noite. A leitura do exame deve
to que o sono de ondas lentas fica entre 15 e 20%. Após 90 minutos ser realizada por um médico ou profissional treinado para essa
após o início do sono surge importante fase do sono, denomina- função. A leitura do exame compreende o estagiamento, ou seja,
do de sono REM, sigla proveniente de rapid eye movement. Essa assinalar os diversos estágios do sono que irão acontecendo
fase foi descoberta na década de cinqüenta e se caracteriza pela durante a noite. Também devem ser assinalados os microdesper-
presença dos movimentos oculares rápidos, atonia muscular tares, os movimentos de membros inferiores, o reconhecimen-
e uma atividade elétrica cerebral com ondas de freqüência mista, to dos diversos tipos de eventos respiratórios, a saturação da
próxima da vigília. A grande descoberta foi associação do sono oxihemoglobina, os batimentos cardíacos e a associação desses
REM com a ocorrência de sonhos. A distribuição dos estágios eventos com os estágios do sono e decúbito. Os parâmetros do
do sono pode ser representada através do hipnograma (figura 3). sono serão posteriormente analisados pelo médico especialista e
emitido o laudo final da polissonografia.

A polissonografia nas insônias e a percepção do sono


É um exame extremamente valioso uma vez que a realização
sistemática em todos os insones tem demonstrado que inso-
nes apresentam uma má percepção do sono em graus variáveis.
A avaliação da percepção do sono é baseada na informação
subjetiva do tempo total de sono percebida pelo paciente e
Figura 3 – o hipnograma mostra a estrutura do sono quanto a distribuição dos
comparada com o tempo objetivo obtido pela polissonografia.
estágios do sono durante toda uma noite de registro O fato de se saber que o insone está dormindo mais do que
percebe tem efeitos terapêuticos importantes como veremos ao
Microdespertares são despertares breves com a duração menor falarmos das técnicas cognitivas que são utilizadas na Terapia
do que 15 segundos e caracterizados pela intrusão de um ritmo Comportamental Cognitiva.
mais rápido no eletrencefalograma, com ondas na freqüência
alfa, podendo ser acompanhados ou não de movimentos corpo- Tratamento farmacológico
rais. Esses microdespertares geralmente não são percebidos pelo
paciente como despertares conscientes e também não entram Muitas substâncias e medicamentos para insônia foram utiliza-
no cálculo da eficiência do sono. O aumento de microdespertares dos como hipnóticos, algumas de forma específica para esse fim,
durante a noite geralmente está associado à presença de even- e outras baseando-se mais nos seus efeitos colaterais, com
tos respiratórios anormais, como no caso de apnéias, hipopnéias o objetivo de provocar sedação e sonolência. Uma das primeiras
e nos eventos respiratórios relacionados a microdespertares que substâncias indutoras do sono foi o hidrato de cloral, ainda hoje
ocorrem na síndrome da resistência das vias aéreas. utilizada em laboratórios de eletrencefalografia com o objetivo
Movimentos de membros ocorrem durante a noite e que de se obter sono para a realização do exame, principalmente
geralmente se localizam nos membros inferiores e costumam em crianças. Já na primeira metade do século passado surgi-
se apresentar com caráter periódico e daí advém o nome de ram os barbitúricos, importante substância sedativa do sistema
movimentos periódicos de membros inferiores. O seu significado nervoso central. Suas conseqüências são até hoje conheci-
das, como depressão respiratória, parada cardiorespiratória e insônia rebote, trazem poucos efeitos na sua retirada, acarretam
morte, seja involuntariamente, ou voluntariamente quando exa- pouca dependência, e, devido à sua meia-vida curta, não têm efei-
gerando-se na dose e associado com bebidas alcoólicas. Até hoje o to residual durante o dia. Portanto, eles tornam-se medicamen-
fenobarbital é utilizado como antiepiléptico. tos de escolha para a retirada de BZDs e nas insônias de idosos.
Nos casos crônicos, o zolpidem pode ser utilizado de maneira
Benzodiazepínicos descontinuada, ou seja, o paciente pode fazer uso do medicamen-
Em 1960 apareceram os benzodiazepínicos (BZD) e foram sem to em alguns dias da semana. Nos casos de doentes portadores
dúvida os mais longamente utilizados. Os primeiros BZDs lança- de apnéia noturna e que muitas vezes apresentam um quadro
dos no mercado foram o clordiazepóxido e o diazepam. Os BZDs de insônia associado, o zolpidem pode ser empregado por não
têm efeitos anticonvulsivantes, sedativos, hipnóticos e miorre- provocar depressão respiratória.
laxantes, os quais dependem das diferenças na afinidade e no
tipo de ligação com o receptor além da sua meia-vida. Existem Novas perspectivas virão com o lançamento de hipnóticos de
BZDs com meia-vida ultra-curta, com até quatro horas (midazo- nova geração como o eszopiclone, o indiplon, novo composto
lam); meia-vida-curta (triazolam), com até 6 horas; meia-vida inter- pirazolopirimidina, com ação semelhante ao zolpídem, e o ramel-
mediária, entre 6 e 24 horas e os BZDs com meia-vida longa, acima teon, que age em receptorres da melatonina.
de 24 horas (funitrazepam). Os BZDs agem nos receptores GABA-
Antidepressivos com ação sedativa
érgicos dos neurônios, especificamente nos receptores ômega
(1,2 e 3), sobretudo no tronco cerebral, hipotálamo e tálamo. Ao Em doses baixas podem ser úteis nas insônias, principalmente
se ligarem aos receptores ômega, abrem o canal de cloro e o em pacientes com componente depressivo, devido à sua ação
neurônio fica hiperpolarizado, inibindo o impulso neuronal. sedativa e antidepressiva. Podem ser utilizados a nortriptilina,
a amitriptilina, a paroxetina, a mirtazapina e a trazodona.
Essas substâncias apresentam fenômenos indesejáveis decor-
rentes da sua própria dosagem , além dos fenômenos de tolerân-
cia e dependência. As principais reações adversas são amnésia Fitoterápicos
anterógrada, em particular após a ingestão do BZD, sonolência A valeriana (valepotriatos), assim como o zolpidem, pode ser
no dia seguinte, ataxia, fadiga, confusão, fraqueza. Tais sintomas a droga de escolha para iniciar o tratamento de uma insônia,
geralmente são dependentes da dosagem do BZD. O fenômeno e, também, ser medicamento auxiliar para a retirada de benzodia-
da tolerância ocorre quando, após doses repetidas, são neces- zepínicos em usuários crônicos).
sárias doses progressivamente maiores para obter o mesmo
efeito inicial. O uso prolongado do BZD pode levar à dependên-
Terapia Comportamental Cognitiva
cia psíquica e física. A dependência se caracteriza pelo desejo
ou compulsão em usar a droga e de obtê-la a qualquer custo,
pela necessidade psíquica e física para obter o seu efeito, o que A Terapia Comportamental Cognitiva ou TCC consiste atual-
provoca alto grau de ansiedade, por vezes com sintomas físicos mente no principal tratamento não-farmacológico das insônias
como sudorese, distúrbos gastrointestinais, tremores e insônia. primárias. A TCC baseia-se no modelo conceitual proposto por
Estes sintomas também estão presentes após a retirada brusca Spielman, ou seja, principalmente nos fatores desencadeantes
de um BZD, caracterizando a síndrome de abstinência. e perpetuantes. O sintoma da insônia é precipitado e mantido
em situações distintas e o funcionamento da insônia se dá atra-
Os BZDs também têm efeito prejudicial sobre o sono: redução vés de um hiperalerta ou de um condicionamento inadequado.
do sono de ondas lentas e do sono REM, aumento da latência REM, Fatores desencadeantes e perpetuantes estão inter-relacionados
aumento de fusos e de ritmos rápidos, como ondas alfa e beta com fatores sociais, profissionais, familiares, devendo o trata-
na atividade elétrica cerebral. Esse quadro pode ser o substra- mento ser multifatorial.
to do sono não-reparador que o paciente usuário de BZD refere.
As alterações da microestrutura do sono provocadas pelos BZDs Os fatores predisponentes, como fazem parte da constituição
são relatados na literatura, como redução da fase A do padrão psíquica, física ou genética do indivíduo, é muito mais difícil
alternante cíclico. Os BZD devido à sua ação relaxante muscular, de se alterar. Já os fatores precipitadores e principalmente os
podem acentuar quadros de ronco, apnéia do sono, com hipo- perpetuadores são alvo da terapia comportamental cogniti-
ventilação e hipoxemia. Também pode-se observar um aumento va (TCC); uma abordagem psicoterápica que surgiu nos anos 60
de pesadelos, sonhos vívidos, desinibição comportamental e e que se baseia em três premissas fundamentais: a cognição
redução da libido. afeta o comportamento, a cognição pode ser monitorada e alte-
rada e a mudança comportamental desejada pode ser efetuada
Zolpiden por meio da mudança cognitiva. A TCC aplicada à insônia se ba-
Atualmente dá-se preferência a um grupo novo de hipnóticos, seia em estratégias educacionais, comportamentais e cognitivas
destacando-se o zopiclone e o zolpiden. O zopiclone, primeiro que visam libertar o insone do círculo vicioso ao qual está condi-
hipnótico não-benzodiazepínico lançado no mercado, na década cionado. A TCC é dividida em três linhas: a reestruturação cogni-
de 80, apresenta efeitos colaterais indesejáveis, como gosto metá- tiva que pressupõe que a perturbação emocional seja conseqü-
lico no dia seguinte e metabolitos ativos. O zolpidem, ou imidazo- ência de pensamentos mal-adaptativos; treino em habilidades
piridina, têm sido o hipnótico preferido no tratamento sintomáti- de enfrentamento, onde o foco é o desenvolvimento de um reper-
co das insônias. Ele age nos receptores ômega-1 e tem uma meia tório de habilidades projetadas para auxiliar o paciente a enfren-
vida ultra-curta, não apresenta metabolitos ativos, causa pouca tar situações estressantes; e o treino em resoluções de proble-
dependência e é de fácil tolerância, o que o torna o medicamento mas, sendo uma combinação das duas categorias anteriores, com
de escolha. O zolpidem age em 30 minutos e tem uma meia-vida ênfase na cooperação para o desenvolvimento de estratégias
de 1,5 a 4,5 horas. visando lidar com uma ampla variedade de problemas pessoais.
Componentes da TCC: higiene do Sono, controle de estímulos,
Tanto o zolpidem como o zaleplon, ao contrário dos BZDs, restrição de tempo na cama e sono, intervenções cognitivas e
praticamente não interferem na estrutura do sono, não provocam abordagem da má Percepção do Sono.
Higiene do Sono ção de sono e na sua própria capacidade de obter sono.
É uma intervenção psico-educacional que ensina como uma Má Percepção do Sono
variedade de comportamentos pode influenciar o sono. Permi-
te aumentar a aceitação do tratamento, fortalecendo a aliança A diferença na duração do sono entre insones e não insones não
terapêutica através de um maior conhecimento sobre o sono. passa de 35 minutos. Insones dormem muito mais do que relatam
Consiste em evitar ingestão de estimulantes (cafeína, nicotina durante a noite em que realizam a PSG. Os insones praticamen-
e drogas), evitar jantar até duas horas antes do sono, realizar te, subestimam a duração do sono e superestimam sua latência,
atividade física regular, banho relaxante antes de dormir: baixar acreditando que a insônia paradoxal pode ser uma entidade em
temperatura corporal, evitar consumo de álcool antes de dormir si. Trabalhar a má percepção do sono na TCC tem sido uma prática
e avaliar condições do ambiente como conforto, temperatura e na reestruturação cognitiva.
ruídos.
Técnicas de Relaxamento
Técnicas comportamentais Incluem uma variedade de técnicas que aliviam as tensões somá-
ticas e mental, como o relaxamento progressivo de Jacobson e
relaxamento autógeno de Shultz. O objetivo não é ensinar a dor-
Controle de Estímulos mir, mas deixar o paciente ciente da tensão e hipervigilância que
mantém ao longo do dia.
Consiste em instruções que orientam o paciente a deitar e levan-
tar-se da cama em momentos adequados para que associe a cama Das sessões
com a idéia de sonolência ou de sono. Limita o tempo de vigília
e os comportamentos permitidos no quarto, cama ou horário de A TCC é uma terapia breve, focal e diretiva, com tempo limitado
dormir. Tem a intenção de fortalecer as associações entre as pistas e definido de quatro a oito sessões com 50 minutos para aborda-
para o sono com um sono rápido e bem consolidado. Orienta-se o gem individual e 90 minutos para abordagem grupal. De oito a
paciente com as seguintes instruções: deitar apenas se sonolen- dez participantes por grupo, uma vez por semana. Na abordagem
to, evitar qualquer comportamento diferente de dormir ou sexo de grupo, dois terapeutas, sendo um coordenador e um co-tera-
no quarto ou na cama, deixar o quarto após 15 minutos de vigília, peuta. Nas primeiras sessões dá-se preferência às intervenções
voltar para a cama apenas quando sonolento novamente, manter educacionais e nas sessões subseqüentes aos componentes com-
um horário fixo para acordar, sete dias por semana, independente portamentais e cognitivos. A partir da quinta sessão trabalha-se a
da quantidade de sono obtida, retirar despertador, aparelhos ele- má percepção do sono e o significado e função da insônia.
trônicos, TV e computador do quarto.
Instrumentos de Avaliação
Restrição de Sono O principal instrumento utilizado é o diário de sono (figuras 3
É uma das técnicas comportamentais mais importantes. Consiste e 4), que serve para avaliar a gravidade da insônia diariamente,
em se reduzir o tempo na cama, para acumular débito de sono identificar os comportamentos que mantém a insônia, reunir
baseando-se nas anotações do diário de sono. Define-se um horá- dados que orientam o tratamento, indicar latência, número de
rio de acordar regular e atrasa-se o horário de dormir. despertares,tempo de vigília, tempo total de sono, calcular efici-
ência do sono, trabalhar a má percepção do sono – avaliação sub-
Intervenções Cognitivas jetiva do sono. É um instrumento valioso para a TCC pois é através
dos dados ali contidos que traçamos as estratégias de tratamen-
O paciente com insônia possui pensamentos negativos ou cren- to, principalmente da restrição de tempo na cama. É preenchido
ças inadequadas sobre a insônia e suas conseqüências. As técni- todas as manhãs, durante todo o tratamento da TCC.
cas cognitivas ajudam os pacientes a questionar a validade das
crenças, o que diminuiria a ansiedade e o alerta associado à in-
sônia.

Intenção Paradoxa
A insônia tende a piorar com a preocupação
do paciente ser capaz ou não de adormecer.
Para reduzir a ansiedade antecipatória as-
sociada ao tentar dormir, os pacientes são
orientados a irem para cama e ficarem acor-
dados e não tentarem adormecer. Esta téc-
nica reduz a ansiedade associada ao medo
de não ser capaz de dormir, assim os pacien-
tes tornam-se mais relaxados e adormecem
mais rapidamente

Reestruturação Cognitiva
Os pacientes com insônia apresentam
idéias irracionais sobre o sono, como pensa-
mentos inadequados com falsas idéias so-
bre as causas da insônia; falsas crenças ou
amplificação das conseqüências do sono
ruim; expectativas de sono irreais; diminui-
ção da percepção do controle e perspectiva
de sono; não acreditar nas práticas de indu- Figura 3 – modelos de diário de sono
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Figura 4 – modelos de diário de sono

Tratamento combinado
A terapia comportamental cognitiva mais tratamento farmacoló-
gico, se necessário, é o modelo terapêutico de escolha no momen-
to atual. Ensaios clínicos têm demonstrado que a TCC promove
efeitos mais duradouros que as drogas hipnóticas, tendo atual-
mente se constituído no principal tratamento das insônias.

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