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UMA DISCUSSAO FENOMENOLOGICA SOBRE OS CONCEITOS DE PAISAGEM E LUGAR, TERRITORIO E MEIO AMBIENTE” Weather Howzen™ ABSTRACT A phenomenological discussion of the concepts of landscape and place, and of territory and environment The anlcle discusses landscape and sucha alscussion is provided by phe- place as spatial categories, relating nomenology, a philosophical per- them to those of territory and envi- spective which has been highly val- ronment. The theoretical basis for _ ued by humanistic geography. tema proposto neste texto 6 o da discussao sobre a paisagem @ 0 lugar enquanto categorias espaciais, e de seu relacionamento com terttério ® meio ambiente — ou 0 ambiente, como prefiro. (© aporte tedrico-conceitual que sera utiizado como base para essa discussao € 0 da fenomenologia. Esta proposta filosctica ndo @ muito usual nna geografia, ¢ quem mais a tem discutido sdo os geégratos humanistas. Eles procuram uma concepcao de mundo que seja diversa da cartesiana & positivista que tem dominado a ciéncia nos ltimos séculos. Sua pretensdo é de relacionar de uma maneira holistica 0 homem e seu ambiente ou, mais genericamente o sujeito o objeto, fazendo uma ciéncia tenomenolégica que extraia das esséncias a sua materia prima. E sob esta perspectiva que sergo encaminhadas as reflexdes contidas neste texto. Antes de tudo cabe dizer que a fenomenclogia e a geogratia tem, em planos diferentes, objetivos convergentes: o de estudar a constituigao do mundo. Outra versio deste taxto fol apresentada na mesa redonda “Terrtério @ meio ambi- ente’, do IV Encontro do Geociéncias da Universidade Federal Fluminense, em 5/11/ ™ Protessor do Departamento de Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. 78 Revista TERRITORIO, ano Il, n® 3, jul./dez. 1997 Como a fenomenologia se propée a efetuar este estudo? Ela procura levantar as experiéncias concretas do homem e encontrar nestas experiénci- ‘as uma orientagdo que néo as limite a uma simples sucessao. Ela nao se atém a estudar as experiéncias do conhecimento, ou da vida, tais como se apresentam na historia. Sua tarefa 6 de: “analisar as vivénclas intencionais da consciéncia para perceber como al se produz o sentido dos fenémenos, 0 sentido do fendmeno global que se chama mundo’ (DARTIGUES, 1973, 20). Analise que parte do principio da intencionalidade, incluindo 0 mundo nna consciéneia, caracterizando uma nova relagdo entre o sujeito e 0 objeto definida por sua correlacdo, que nao se configura em um s6 objeto, mas no mundo inteiro, como ser-envolvido-no-mundo. A intencionalidade torna possivel a redugao fenomenolégica, a "colo- cago entre parénteses' da realidade como & concebida pelo senso comum. A redugdo fenomenoligica nos remete as experincias e ao mundo originais, sem considerar as teorias que Ihe foram acrescentadas pelas cién- cias. Nos colocando duas questdes: 0 da constituigao do mundo, que interes- sa diretamente aos que estudam a geografia; e 0 da cistingao entre ciéncia fenomenolégica e ciéncia positvista A razio cartesian baseia-se na divida metédica e atribui apenas as cciéncias naturais o que é racional, objetivo e cientifico. Ela sustenta que s6 08, conceitos de quantidade so objetivos, df a attibuigao do que é racional & matematica e @ fisica. Para a fenomenologia a razdo objetiva se refere a existéncia humana, independentemente de que possa ser expressa em cate- gorias de quantidade. A filosofia cartesiana, segundo a tenomenologia, provoca a matemati- zagéo da natureza, iniciada por Galileu, e a ruptura entre o mundo da ciéncia @.0 mundo da vida. O projeto da fenomenologia é de reaproximar as ciéncias de nossas vidas, ages e proletos, a parti das experiéncias ante-predicativas (anteriores aos conceitos @ aos julz0s), ou seja, relativas a percepgao do mundo e de seus objetos enquanto fundamentos dos conceitos. Deve-se aqui abrir um breve paréntese e distinguir a experiéncia do experimentalista (experiéncia sobre o fenémeno), da experiéncia do fenomenélogo (experiéncia do fenémeno). A primeira sé tem sentido quando fundamentada na segunda. Assim, a ciéncia empirica tem como fundamento co que a fenomenologia denomina de ciéncias essenciais ou eidéticas, Para chegar as esséncias a fenomenologia procede a variacdes imagind- rias, que consistem em, no pensamento, fazer variar as caracteristicas de um objeto ou realidade até que se obtenha 0 que é invaridvel ~ a possibiidace de designacao deste fenémeno, ou seja, sue propria esséncia. AS variagées reai por sua vez, derivam das experimentagdes, da pesquisa empitica e dedutiva. Este processo de variacdes imaginarias, denominado redugao eldética, permite a distingdo entre fatos e esséncias, onde 0 fato 6 colocado “entre parénteses" deixando que apareca a idéia, o sentido. As esséncias sao tan- tas quantas forem as significagdes que possamos produzir. Seus vefeulos Uma discussio fenomenolégica 79 sdo a percepeao, 0 pensamento, a meméria e a imaginagao, dando a estas significagdes um carater universal, intersubjetivo e absoluto. Este modo de apreensao é 0 mesmo das ciéncias cartesianas: elas também iniciam por estabelecer uma rede de esséncias, de significados pri- mitivos, que 840 confrontados com as experimentagdes. Ha, pois, um relacio- namento, que nao é de simples sucessao, entre o processo eidético © o pro- cesso experimental Neste contexto, a tarefa da fenomenologia ¢ de estudar e classiticar ‘9m “ragides" os diversos tipos de esséncia, ou seja, de proceder a uma ontologia regional. Ela foi detinida por Husseri como: “..idéia de que ha muites atitudes no sujelto intencional, inredutiveis umas as outras. A intencionalidade cientitica, artist a, politica, técnica, ética e religiosa é sempre um ‘relaciona- ‘mento’ original e irredutivel. Isso implica também que o ‘mundo’ como correlato da intencionalidade ndo é construido monisticamente, ... Os 'mundos’ que decorrem de uma atitude cientifica, artistica, politica, ética ou religiosa do sujeito intencio- nal sdo esteras especiticas do ser, ‘regides’ nas quais os objetos cconcordam entre si por um especifico ser-assim” (LUIJPEN, 1973, 178), Para Husserl essa meta seria atingida quando a individualidade fosse ultrapassada e se chegasse ao cardter plenamente objetivo deste "mundo, 0 que é conseguido quando se compreende a sua constituigo para uma plura- \idade de sujeitos — sua constituigao intersubjetiva. A intersubjetividade acon- tece no momento em que o corpo, como elemento mével, coloca-se em con- ‘ato com o exterior e localiza 0 outro, comunicando-se com outros homens conhecendo outras situagdes. Vistas estas definigSes, fundamentais para a compreenséo deste tex- to, vou me deter na geografia enquanto ciéncia das esséncias, e em concei- tos que podem constituira sua regido, como os de paisagem e iugar, territério © ambiente. Notem gue nos pardgrafos acima, sem falar especificamente da geo- gratia, utilizei diversas palavras que tem como esséncia significados es- Paciais ou, como prefiro, geograticos, tais como: mundo, regiao e situa- 40. Estes termos foram utilizados por filésofos e outros cientistas sociais, e Por si mesmos demonstram como a geografia 6 uma ciéncia essencial ou eidética Um problema que se coloca quando nos direcionamos para a fenomenologia que néo podemos nos restringir s denominagdes positivistas bara as diversas ciéncias. A classificago cartesiana baseia-se em quantida- des e métodos empiricos de mensuracao. A ciéncia das esséncias se refere a cexisténcia humana e @ nossa experiéncia do mundo.

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