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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOURTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DO

TRABALHO DE ARAUCÁRIA – PARANÁ,

Processo nº XXX/2006

LIMA DUARTE, brasileiro, fazendeiro, casado, portador da Carteira de


Identidade nº 1.234.567-8, e do CPF/MF nº 987.654.321-00, residente e
domiciliado no Km 39 da Rodovia do Café, Balsa Nova, Paraná, Cep: 8888-
888, legalmente representado pelos advogados adiante assinados, com
escritório profissional na Rua Tiradentes, nº 639, Centro, Curitiba, Paraná,
Cep: 87013-489, onde recebem intimações e notificações, instrumento de
mandato em anexo, vem mui respeitosamente, perante Vossa Excelência,
tempestivamente, oferecer a presente:

DEFESA

à reclamatória trabalhista nº XXX/2006, proposta por ZECA DIABO, brasileiro,


solteiro, desempregado, portador da CTPS 111, série 0011/PR, residente e
domiciliado na Rua das Andorinhas, 111, Araucária, Paraná, Cep 8777-777,
conforme fundamentação a seguir exposta.

I) Sinopse da Inicial:
Eis um resumo da argumentação fática sustentada pelo reclamante:
Alega que foi admito em 10 de Janeiro de 2003, para exercer a função
de jardineiro da residência do empregador, inclusive cuidando de uma horta
para consumo próprio e do reclamado.
Sua última remuneração foi de R$ 300,00 (trezentos reais).
A rescisão do contrato de trabalho ocorreu no dia 16 de abril de 2006.
Em sua peça principal, o reclamante pleiteia verbas com incidência no
contrato de trabalho, tais como:
Aplicação do artigo 467 da CLT;
Retificação de sua CTPS;
Indenização face a não concessão total do intervalo intra-jornada;
Reintegração por acidente de trabalho;
Pagamento do Fundo de Garantia;
Pagamento de Férias não cumpridas;
Horas Extras e seus reflexos;
Correção Monetária;
Juros legais.

II) Retificação da CTPS:


O reclamante na exordial requer a retificação de sua CTPS, de empregado
doméstico para empregado rural. Contanto, tal assertiva não faz jus de
mudança, pois o reclamante laborava como jardineiro na residência do
reclamado, e apesar de cuidar de uma horta, isto, não faz caracterizá-lo como
empregado rural, porque se considera empregado doméstico aquele que presta
serviço de natureza contínua a pessoa ou família, contanto que a natureza do
serviço não gere lucros para o empregador. Estão nesta categoria as babás,
governantas, motoristas, caseiros, jardineiros, vigias, entre outros.1
Assim, fica claro na própria exordial que a horta que o reclamante
cuidava era para seu próprio consumo e para o consumo próprio do
reclamado, sem a intenção de aferição de lucro.
Para corroborar o que dito, cita-se a própria lei do trabalhador rural, lei nº
5.889/73, regulamentado pelo Decreto nº 73.626/74, que afirma:
“Não é considerado empregado rural, mas empregado doméstico,
aquele que presta serviços de natureza contínua em chácara ou sítio de
lazer e recreação, sem finalidade lucrativa.”
Desta forma, pede-se a total improcedência do pedido da exordial referente a
este item.

1
http://www.notadez.com.br/content/noticias.asp?id=26421, acessado dia 11/04/2007.
III) Realidade Contratual e Piso Salarial:

O reclamante foi contratado em 10 de Janeiro de 2003, para laborar como


jardineiro na residência do reclamado, com ultima remuneração de R$300,00
(trezentos reais), conforme Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho em
anexo.
A evolução salarial encontra-se demonstrada nos recibos de pagamento
em anexo., e lembra-se que por se enquadrado na categoria de empregado
doméstico, Zeca, tem o valor de seu salário conforme ajustado entre as partes
contratantes, ressaltando que de acordo com o que ordena a lei, o empregado
doméstico tem direito de receber o valor do salário mínimo nacional, o que na
época em que começou a exercer suas atividades era de R$ 239, 74. Quando
foi rescindido o contrato de trabalho, o salário vigente era os R$ 300,00.
Mostra-se a impossibilidade de haver piso salarial de R$ 800,00, visto
que tal piso é previsto apenas para os desempregados rurais, e ainda descarta-
se a possibilidade do piso ser de R$ 400,00, visto que este valor seria o devido
se estivesse trabalhando atualmente (ano 2007), valendo recordar que o
contrato de trabalho do reclamante foi rescindido em abril de 2006, onde
vigorava o salário mínimo nacional no valor de R$ 300,00.
Ressalta ainda, que os empregados domésticos não possuem piso
salarial definido em convenções trabalhistas, mas que ele tem o direito de
receber o valor do salário mínimo nacional vigente a época em que laborou.
E observado o acima exposto, ainda complementa-se dizendo
que o empregador doméstico não se obriga a reajustar o salário do empregado
doméstico. E poderá o empregador conceder reajuste salarial
espontaneamente, ou ainda, em decorrência de acordo entre as partes.2
Requer-se a improcedência do pedido da inicial, referente a este item.

IV) Reintegração por Acidente de Trabalho:


O reclamante alega que quando de sua dispensa, recordou ao reclamado
que ficaria afastado por um mês em novembro de 2003, devido a um acidente
no trabalho, requerendo a sua reintegração ou, no mínimo, a indenização de 12
meses. Contanto, o reclamado não deve nenhum tipo de indenização ao
2
http://www.sinhores-sp.com.br/htmls/Fique%20Atento.htm, acessado dia 12/04/2007.
reclamante, pois não é assegurado aos empregados domésticos nenhum tipo
de direito quanto aos benefícios por acidente de trabalho.
Pede-se a improcedência deste item, devido as razões já demonstradas.

V) Indenização das Férias:


O reclamante afirma que jamais gozara dos 30 ( trinta) dias corridos de
férias, mas somente de 24 dias corridos, e pede então a sua indenização.
Contanto, com a nova redação do artigo 3º, da Lei número 5.859/1972,
dada pela Lei número 11.324/2006, o empregado doméstico terá direito a
férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias com, pelo menos, 1/3 (um
terço) a mais que o salário normal, após cada período de 12 (doze) meses
de trabalho, prestado à mesma pessoa ou família, entretanto esta regra
aplica-se aos períodos aquisitivos iniciados após a data da publicação
da Lei número 11.324/2006, ou seja, 20 de julho de 2006, e mais uma vez
se dá ênfase que o contrato trabalhista do reclamante foi rescindido em abril
de 2006, não vigorando o prazo da nova lei de 30 dias.
O período de férias do empregado doméstico era de 20 dias úteis, como
constava na redação original do artigo 3º, da Lei número 5.859/1972,
valendo este período para o computo as férias do reclamante.
Lembra-se por fim,que o reclamado anotou devidamente na CTPS do
reclamante o inicio e o término das férias. E pede-se totalmente
improcedente o pedido da inicial, pois o reclamante gozou de suas férias,
conforme a vigência da lei na época em que laborava para o reclamado.

VI) Não pagamento do FGTS:


O reclamante alega que não lhe foi depositado qualquer valor a título de
FGTS, porém amparado pela lei não tem a obrigação do reclamado de
depositar tal pagamento, pois é conferido apenas como uma faculdade o
depósito de FGTS para empregado doméstico.
Caso houvesse o reclamado efetivado o 1º (primeiro) depósito na conta
vinculada, o reclamante seria automaticamente incluído no FGTS, não podendo
haver a retratação, mas como se mostra na exordial, não houve nenhum
pagamento.
Portanto, totalmente improcedente o pedido inicial, pois não é obrigação tal
pagamento.

VII) Horas Extras e Concessão do Intervalo Intra- Jornada:

O reclamante requer as horas extras, assim consideradas, as


excedentes da 8ª hora diária ou da 44ª semanal, acrescidos de seus reflexos
no DSR, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3 constitucional e FGTS de todo o
período. Pede também o reconhecimento de não cumprir devidamente o
intervalo intra-jornada, pois laborava de segunda à sábado com apenas uma
hora para descanso e alimentação.
Contanto, lei é omissa quanto à carga horária semanal de trabalho do
empregado doméstico, ele pode trabalhar mais de 08 horas diárias e 44
semanais, pois não é, extensivo a esta categoria o inciso XIII, do artigo 7º, da
Constituição Federal, logo, o empregado doméstico pode trabalhar além da
jornada de trabalho acima mencionada, sem que haja obrigatoriedade de
pagamento de horas extras. Este é o entendimento da jurisprudência do
Tribunal Superior do Trabalho em recente decisão, confira: Decisão da Terceira
Turma do Tribunal Superior do Trabalho manteve acórdão do Tribunal Regional
do Trabalho do Espírito Santo (17ª Região) que não concedeu a uma
empregada doméstica o direito de receber horas extras. Segundo o relator do
processo, Ministro Alberto Bresciani, o parágrafo único do artigo 7º da
Constituição Federal garante aos empregados domésticos nove dos 34
direitos aos trabalhadores enumerados no dispositivo. Mas não estão
entre eles os incisos XIII e XVI, que tratam sobre jornada de trabalho
limitada e horas extras. A empregada não teve reconhecido também o direito
à indenização por dano moral. A doméstica alegou na ação que foi despedida
de forma brusca quando o empregador descobriu sua gravidez, tendo gritado
com ela no ato da despedida. A empregada pediu indenização por dano moral
e pagamento de aviso prévio, abono natalino, férias vencidas e proporcionais,
além de horas extras. A Vara do Trabalho concedeu parte das verbas
trabalhistas, mas negou o pedido de horas extras, com base na
Constituição, e de indenização por dano moral, por falta de provas. O TRT/ES
manteve a sentença e negou seguimento ao recurso de revista da doméstica.
São direitos do trabalhador doméstico, o salário mínimo, sem redução ao longo
do contrato, décimo terceiro salário, repouso semanal remunerado, férias
anuais remuneradas, licença-maternidade ou paternidade, aviso prévio,
aposentadoria e a sua integração à previdência social. O entendimento do TST
é pacífico no sentido de cumprir o disposto na Constituição. Segundo o Ministro
Alberto Bresciani, “a despeito das condições atípicas em que se dá o seu
ofício, com a natural dificuldade de controle e de atendimento aos direitos
normalmente assegurados aos trabalhadores urbanos, não há dúvidas de que
a legislação é tímida em relação aos empregados domésticos, renegando-lhes
garantias necessárias à preservação de sua dignidade profissional”. O relator
esclareceu que não há como utilizar o princípio da isonomia, igualando os
trabalhadores domésticos aos urbanos, pela diversidade citada na
Constituição. “Os trabalhadores domésticos não foram contemplados com
as normas sobre jornada, sendo-lhes indevidos o adicional noturno,
horas extras e as pausas intrajornadas”, concluiu. A Turma, por
unanimidade, negou provimento ao agravo da doméstica. Com isso, está
mantida a decisão regional. Processo: AI RR 810/2001-002-17-00.53
Pede-se assim, a improcedência do pedido, pois amparado pela lei,
nada deve o reclamado, em razão de horas extras ou intra-jornadas ao
reclamante.

VIII) Artigo 467 da CLT:


Todos os pedidos foram devidamente contestados, não cabendo a
aplicação da referida norma consolidada.
Portanto, improcedente o pedido de item “a” da incial.

IX) Juros e Correção Monetária:


Conforme demonstrado, nenhum dos pedidos procede, razão pela
qual não há que se cogitar em correção de verbas indevidas.

3
http://www.direitodomestico.com.br/2006/duvidas.php?id=51, site acessado dia 11/04/2007.
Todavia, ad cautelam, restando procedente algum dos pedidos da
exordial, o que não se espera em absoluto, mas se admite para argumentar,
o critério de correção a ser observado é do mês subseqüente ao mês da
prestação de serviços, partindo da premissa que os salários e demais
verbas trabalhistas só se tornam exigíveis após o 5º dia útil do mês
subseqüente.
Ainda, na liquidação, deverão ser observados os juros simples.

X) Reflexos:
Requer-se a improcedência de todos os reflexos pleiteados eis que de
natureza acessória que segue a sorte do principal, também totalmente
improcedente.

XI) Provas:
Protesta e requer provar o alegado por todos os meios em direito
existentes, especialmente o depoimento pessoal do reclamante, a oitiva das
testemunhas a serem oportunamente arroladas e a juntada ulterior dos
documentos que se fizerem necessários.

XII) Pedido Final:


Diante do exposto, requer a esta MM. Vara acolha a preliminar aduzida,
julgando extinto o processo sem julgamento do mérito nos termos retro
requeridos e, caso assim não entenda, no mérito, julgue totalmente
improcedente a presente Reclamação Trabalhista, condenando o Reclamante
nas cominações de estilo.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Araucária, 26 de abril de 2006.

OAB/ PR Nº

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