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PROGRAMA DA DISCIPLINA
I – INVESTIGAÇÃO CRIMINAL AO LONGO DO TEMPO.
II – CONCEITO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.
III – TITULARIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.
1. Universalidade da Investigação Criminal. 2. O Ministério Público e sua legitimidade
para investigar. 2.1. Uma parte imparcial. 2.2. Dispensabilidade do Inquérito Policial. 2.3.
Previsão constitucional e legal.
IV - INQUÉRITO POLICIAL.
1. Conceito e Generalidades. 2. Características. 3. Titularidade. 4. Formas de
Instauração. 5. Notitia Criminis. 5.1. Possibilidade de se iniciar investigação criminal com
base em notitia criminis anônima (delação apócrifa). 6. Procedimento. 7. Indiciamento. 8.
Prazo. 9. Incomunicabilidade. 10. Encerramento. 11. Arquivamento. 11.1. Arquivamento
indireto. 11.2. Conflito de atribuições. 12. Valor Probatório. 13. Vícios.
VI – BIBLIOGRAFIA.
“É que o Estado, sem querer abrir mão desse direito de punir, admitiu, contudo, a ne-
cessidade de autocontrole, isto é, um meio pelo qual esse poder repressivo encontrasse limi-
tes. Nascia assim o reconhecimento, segundo o qual a pena só poderia ser aplicada depois de
submetido o indiciado a um procedimento, mais ou menos formal, para apuração dos fatos”.
Na Idade Média, nasceu um sistema que investigava e perseguia rigorosamente pessoas
tidas por hereges que eram consideradas pelos inquisitores como infratores ou de alta ameaça
à fé católica e aos princípios da santa igreja. Esse Tribunal se manifestava a respeito de maté-
rias espirituais, eclesiásticas, cíveis e criminais, se valendo da prática de tortura e das penas
corpóreas.
Acerca deste momento histórico da inquisição, José Geraldo da Silva (2000, p. 29), en-
sina que:
“Historicamente falando, o termo refere-se a uma instituição estabelecida no seio da
Igreja Católica Romana com o propósito de eliminar a heresia, isto é, toda e qualquer oposi-
ção religiosa. Essa atividade mostrou-se mais ativa e destruidora durante um período de
mais de quatrocentos anos, embora, como instituição, tivesse perdurado por muito mais tem-
po ainda”.
No sistema inquisitorial, a investigação, a acusação, o julgamento e a punição passaram
às mãos do Estado. O juiz secular ou eclesiástico era responsável por todos estes aspectos.
Com o surgimento do sistema acusatório, a função de acusar e julgar foram separadas.
II – CONCEITO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.
Atualmente, em nosso ordenamento processual penal, a investigação criminal é realiza-
da e desenvolvida por agentes públicos, sobretudo pela polícia judiciária. Valter Foleto Santin
(2001, p. 31), em um conceito amplo, diz o que representa a investigação criminal nos dias
atuais:
“Investigação criminal é a atividade destinada a apurar as infrações penais, com a i-
dentificação da autoria, documentação a materialidade e esclarecimento dos motivos, cir-
cunstâncias, causas e conseqüências do delito, para proporcionar elementos probatórios ne-
cessários à formação da opinio delicti do Ministério Público e embasamento da ação penal.
Representa a primeira fase da persecução penal estatal; a ação penal corresponde à segunda
fase da persecução”.
Neste diapasão, vale dizer que, para a efetivação de seu objetivo, a investigação crimi-
nal é conduzida por certos instrumentos. Nesta categoria encontramos o inquérito policial.
III – TITULARIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.
1. Universalidade da Investigação Criminal.
Não há dúvida de que o inquérito policial deve ser conduzido pela polícia. Tal fato é de
uma obviedade de fazer corar. No entanto, isto não significa que toda e qualquer investigação
criminal só possa ser conduzida pela polícia, como querem alguns. Investigação criminal é o
objeto do inquérito policial e este é um instrumento, um dos meios através dos quais se é
possível investigar crimes.
Afirma-se que o art. 144, § 1º, IV, da Constituição Federal estabelece um monopólio
investigativo em prol da Polícia Federal. Diz o dispositivo legal que “A polícia federal,
instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
1
A doutrina e a jurisprudência são unânimes em admitir que a gravação telefônica, realizada por um dos
interlocutores, é prova lícita. Mas como se não foi produzida pela polícia?
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O Inquérito estava com vistas para o Ministro Cezar Peluso desde 01/09/2004. Com o fim do mandado de
deputado federal de Remi Trinta, em 16/02/2007, o relator Ministro Marco Aurélio, decidiu enviar o processo
para a Justiça Federal do Maranhão, tendo havido baixa definitiva em 13/03/2007.
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dosimetria da pena. Neste mesmo sentido, se o promotor tiver acesso a uma prova
exculpatória, não pode se furtar a trazê-la ao processo, devendo, aliás, lutar para que seja ela
apreciada.
Não se trata, pois, de uma parte propriamente dita, mas de uma parte imparcial,
objetiva, técnica. Parte propriamente dita defende um interesse próprio, enquanto que o
Ministério Público age como substituto processual da sociedade, desejando unicamente que
seja feita a Justiça. E Justiça, no campo do Processo Penal, é condenar o culpado e absolver o
inocente. A visão do Ministério Público como mero órgão acusador não condiz com a
moderna feição da instituição dada pela Constituição Cidadã. É visão ultrapassada.
O promotor não deve ser imaginado com os dentes cerrados, buscando a condenação a
qualquer custo, mas lutando incansável e serenamente para que a lei seja aplicada e, acima de
tudo, para que a Justiça seja alcançada. Trata-se, afinal, de promotor de JUSTIÇA, não de
promotor da LEI, muito menos de promotor de CONDENAÇÃO.
Assim, impróprio considerar o Ministério Público meramente um “órgão investido de
funções nitidamente persecutórias”, como já o fez FREDERICO MARQUES (1998, p. 213). Da
mesma forma, não assiste razão à TOURINHO FILHO (1998, p. 351), quando afirma que o
Ministério Público “não pode ficar eqüidistante das partes”, pois se funda no falso
pressuposto de aquela instituição é parte no sentido ordinário da palavra.
2.2. Dispensabilidade do Inquérito Policial.
No Brasil, a apuração dos fatos criminosos é responsabilidade da polícia, que é
subordinada ao Poder Executivo, entretanto, a dispensabilidade do inquérito policial para o
oferecimento da denúncia pelo Ministério Público é questão pacífica na doutrina, desde que
ele possua outros elementos para formar a sua opinio delicti. Sobre o tema, TOURINHO FILHO:
“O inquérito policial é peça meramente informativa. Nele se apuram a infração penal
com todas as suas circunstâncias e a respectiva autoria. Tais informações têm por finalidade
permitir que o titular da ação penal, seja o Ministério Público, seja o ofendido, possa exercer
o jus persequendi in judicio, isto é, possa iniciar a ação penal”.
“Se essa é a finalidade do inquérito, desde que o titular da ação penal (Ministério
Público ou ofendido) tenham em mãos as informações necessárias, isto é, os elementos
imprescindíveis ao oferecimento de denúncia ou queixa, é evidente que o inquérito será
perfeitamente dispensável” (TOURINHO FILHO, 1997, p. 196).
2.3. Previsão constitucional e legal.
Há quem diga que o Ministério Público não pode investigar pela ausência de previsão
expressa da Constituição. É que, de modo inverso do que ocorre com o particular, ao Estado é
vetado fazer tudo aquilo que a lei não permite.
Em uma primeira reflexão, é de se destacar que não existe direito sem garantia de sua
efetivação. De nada adiantaria, por exemplo, se conceder o direito de ir e vir a cada cidadão,
se não se estabelecesse o Habeas Corpus como garantia deste direito. Assim, se a
Constituição reconhece o Ministério Público como instituição essencial à função jurisdicional,
incumbindo-o de defender a ordem jurídica e lhe conferindo a titularidade da ação penal
pública (direito-dever), forçoso reconhecer-lhe a possibilidade de reunir as provas necessárias
a seu mister (garantia de efetivação).
Colocando de outra forma, a sociedade tem interesse de ver suas normas de convivência
respeitadas e o Estado incumbiu o Ministério Público de zelar por este respeito. Assim,
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necessário garantir ao órgão ministerial os meios de realizar sua função. Afinal, não se forma
opinião (opinio delicti) com base em nada.
Esta é, em linhas gerais, a justificativa da teoria dos poderes implícitos.
Previsão constitucional e legal expressa, entretanto, existe.
Pode-se destacar a própria Constituição Federal, quando autoriza o Ministério Público a
requisitar informações e documentos dentro de suas atribuições (art. 129, VI CF), bem como a
exercer outras funções compatíveis com sua finalidade (art. 129, IX CF).
No entanto, mesmo que previsão constitucional expressa não existisse, ainda assim seria
lícito ao Ministério Público investigar. É que as atribuições e poderes ministeriais previstos
expressamente na Carta Magna (art. 129) 3 não são um rol exaustivo 4 , sendo que diversos
diplomas legais ordinários vieram a os ampliar. Como exemplo, pode-se citar o Código de
Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.079/90), que incluiu os interesses individuais homogêneos
sob a proteção do Ministério Público (art. 82, I c/c art. 81, parágrafo único, III). 5 6
Nesta esteira, deve-se lembrar o Estatuto do Ministério Público da União (Lei
Complementar n.º 75/93), que estabelece, com clareza cristalina, que, para o exercício de suas
atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência,
“realizar inspeções e diligências investigatórias” (art. 8.º, V LC 7/93). Já a Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público (Lei n.º 8625/93), dispõe expressamente:
“Art. 26 - No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I - instaurar
inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-
los: a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não
comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou
Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei; b) requisitar informações, exames
periciais e documentos de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos
e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; c) promover inspeções e
diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere a alínea
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Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública,
na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o
inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de
intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V - defender judicialmente os
direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de
sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar
respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no
artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas,
desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de
entidades públicas.
4
“Importante ressaltar, novamente, que o rol (do art. 129) constitucional é exemplificativo, possibilitando ao
Ministério público exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade
constitucional, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas”
(MORAES, 2000, pág. 460).
5
Art. 82 - Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I - o Ministério Público;
6
Art. 81 - A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único - A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: (...)
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
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Vale lembrar que tratamos aqui do crime de uso – não de tráfico. Ademais, recentemente, o STF decidiu que o
uso de substância entorpecente, na nova Lei 11.343/2006, continua sendo crime, embora não mais seja prevista
pena privativa de liberdade (STF, 1º Turma, RE 430105 QO/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 13.2.2007.
Informativo n. 456. Brasília, 12 a 23 de fevereiro de 2007).
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I. Discricionário (art. 14, CPP). Cabe à autoridade policial determinar, consoante o caso
posto e seu entendimento, as diligências mais eficientes para a apuração dos fatos, podendo
deferir ou não os pedidos de prova feitos pelo indiciado ou ofendido, somente estando
obrigado a atender as requisições do juiz ou do membro do MP.
II. Escrito (art. 9°, CPP). O rigor formal do Inquérito é exigido para a documentação dos
fatos que serão usados pelo MP e o Judiciário.
III. Obrigatório. Embora o inquérito não seja indispensável à propositura da ação penal,
a autoridade policial não pode optar entre iniciá-lo ou não. Na Ação Penal Pública, a abertura
do Inquérito Policial é obrigatória, devendo a autoridade policial instaurá-lo de ofício, assim
que tenha notícia da prática da infração.
IV. Oficial. Deve ser presidido pelo Estado.
V. Indisponível (art. 17, CPP). A autoridade policial não pode mandar arquivar autos do
inquérito, o que só pode ser feito pelo juiz, mediante promoção do MP.
VI. Possui natureza de procedimento administrativo informativo. Não é, pois, processo.
VII. Inquisitivo. Os princípios do contraditório e da ampla defesa são inexigíveis no
inquérito policial – trata-se de procedimento de natureza inquisitiva. Este é, pelo menos, o
entendimento clássico.
Após a Constituição de 1988, no entanto, parte da doutrina passou a considerar
exigíveis no inquérito policial o contraditório e a ampla defesa em razão do artigo 5º, LV:
“LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”
Porém, se analisarmos o inciso, veremos que o Legislador Constituinte garante o
contraditório e a ampla defesa apenas aos litigantes e aos acusados em Geral, em processo
judicial ou administrativo. Ora, em inquérito policial não existem acusados ou litigantes. A
investigação criminal visa apurar fatos. Não há pólo passivo, não há acusação, não há litígio.
Além disso, inquérito policial não é processo. Por esta ótica, estas garantias não seriam
aplicáveis à investigação criminal.
Uma decisão interessante, no sentido da aplicação de um contraditório, mesmo que
mitigado, ao inquérito policial, foi proferida pelo TJ/SP, no notório caso da morte do Prefeito
Celso Daniel, de Santo André/SP. No caso, o indiciado queria ser ouvido no inquérito policial
e autoridade policial se recusou a isso. Eis a decisão:
"Na origem do habeas corpus, no ato do direito anglo-saxônico que o instituiu, já havia
a exigência de se ouvir alguém para validar a prisão e antes de denunciá-lo. Este é um
direito de raiz, medular, enfronhado no direito do Estado da persecutio, que deve ser
respeitado mesmo antes da instauração do processo-crime em juízo. Não por outra razão o
legislador processual penal estatuiu ser dever da autoridade policial ouvir o indiciado
(artigo 6°, V, do Código de Processo Penal)". (HC 394.322.3/0, Relator Desembargador
Walter de Almeida Guilherme).
VIII. Sigiloso (art. 20, CPP). O IP deve ser dotado do sigilo necessário para completa
elucidação do fato, precipuamente evitando que o investigado ou terceiros coloquem
empecilhos à colheita de informações. O sigilo não se estende ao Ministério Público, que
pode acompanhar todos os atos investigatórios, inclusive em cumprimento ao mandamento
constitucional de fiscalização da atividade policial. Também não se estende ao Judiciário.
O Estatuto da OAB diz que o advogado pode manusear e consultar qualquer IP, mesmo
sem procuração (art. 7º, XIII e XIV, do Estatuto da OAB), exceto quando houver nele quebras
de sigilos, quando a procuração seria necessária. Para o STJ, no entanto, o advogado só pode
ter acesso aos autos quando legitimado. Além disto, é possível a decretação de sigilo para o
advogado (total ou para determinados atos), desde que seu conhecimento possa frustrar a
diligência.
Assim, “em face do preceito constitucional que assegura a plenitude do direito de
defesa, não há como negar-se ao advogado, no patrocínio dos interesses defensivos que lhe
são confiados, o direito de estender o exercício de suas atividades até mesmo ao Inquérito
Policial” (TJSP – HC – Rel.Cavalcanti Silva – RT 444/330). Todavia, importante salientar
que “O direito que tem o advogado de examinar autos de Inquérito Policial deve ser exercido
de forma a não obstar o normal andamento do inquérito, posto que, do contrário, estar-se-ia,
inclusive, a sobrepor o interesse particular ao da coletividade, e que seria até desarrazoado”
(TACrim-SP – AP – Rel.Nigro Conceição – RT 505/372).
Sobre o tema, já decidiu o STF:
“EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: cerceamento de defesa no inquérito policial.
1. O cerceamento da atuação permitida à defesa do indiciado no inquérito policial poderá
refletir-se em prejuízo de sua defesa no processo e, em tese, redundar em condenação a pena
privativa de liberdade ou na mensuração desta: a circunstância é bastante para admitir-se o
habeas corpus a fim de fazer respeitar as prerrogativas da defesa e, indiretamente, obviar
prejuízo que, do cerceamento delas, possa advir indevidamente à liberdade de locomoção do
paciente. 2. Não importa que, neste caso, a impetração se dirija contra decisões que
denegaram mandado de segurança requerido, com a mesma pretensão, não em favor do
paciente, mas dos seus advogados constituídos: o mesmo constrangimento ao exercício da
defesa pode substantivar violação à prerrogativa profissional do advogado - como tal,
questionável mediante mandado de segurança - e ameaça, posto que mediata, à liberdade do
indiciado - por isso legitimado a figurar como paciente no habeas corpus voltado a fazer
cessar a restrição à atividade dos seus defensores. II. Inquérito policial: inoponibilidade ao
advogado do indiciado do direito de vista dos autos do inquérito policial. 1. Inaplicabilidade
da garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa ao inquérito policial, que não
é processo, porque não destinado a decidir litígio algum, ainda que na esfera
administrativa; existência, não obstante, de direitos fundamentais do indiciado no curso do
inquérito, entre os quais o de fazer-se assistir por advogado, o de não se incriminar e o de
manter-se em silêncio. 2. Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado - interessado
primário no procedimento administrativo do inquérito policial -, é corolário e instrumento a
prerrogativa do advogado de acesso aos autos respectivos, explicitamente outorgada pelo
Estatuto da Advocacia (L. 8906/94, art. 7º, XIV), da qual - ao contrário do que previu em
hipóteses assemelhadas - não se excluíram os inquéritos que correm em sigilo: a irrestrita
amplitude do preceito legal resolve em favor da prerrogativa do defensor o eventual conflito
dela com os interesses do sigilo das investigações, de modo a fazer impertinente o apelo ao
princípio da proporcionalidade. 3. A oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma
garantia constitucional do indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e
pelo menos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do advogado, que este não lhe
poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do inquérito sobre o objeto do qual haja
o investigado de prestar declarações. 4. O direito do indiciado, por seu advogado, tem por
objeto as informações já introduzidas nos autos do inquérito, não as relativas à decretação
e às vicissitudes da execução de diligências em curso (cf. L. 9296, atinente às interceptações
II. Mediante requisição do MP. Nos crimes de ação penal pública incondicionada,
condicionada ou privada (nestes dois últimos casos, desde que a requisição acompanhe a
representação da vítima ou de seu representante legal/requisição do Ministro da Justiça). O
delegado está obrigado a instaurar o IP, sob pena de cometer crime de prevaricação. É feita
por portaria.
III. Mediante requerimento (notitia crimines) da vítima, nos crimes de ação penal
privada, ou de qualquer do povo, nos crimes de ação pública incondicionada. A portaria é o
ato material de instauração. Pode ser indeferido e cabe recurso para o chefe de polícia ou
secretário de segurança pública.
IV. Representação da vítima de ação penal pública condicionada à representação.
Também por portaria.
No caso de ação de ação pública condicionada o inquérito só pode ser instaurado
mediante representação da vítima ou requisição do Ministro da Justiça (art. 5º, §4º do CPP).
Constitui-se a representação numa declaração escrita ou oral, que não exige fórmula
sacramental, mas que deve conter as informações que possam servir à apuração do fato e da
autoria (arts. 5º, §1º e 39, §1º). A representação oral ou sem assinatura autenticada deve ser
reduzida a termo (art. 39, §1º, CPP).
V. Mediante requisição do juiz.
O art. 5.°, II, do CPP autoriza o juiz a requisitar inquérito policial. No entanto, este
dispositivo deixou de ter sentido quando o magistrado deixou de ter iniciativa da ação penal
(conforme o revogado art. 531 CPP). Hoje, com a afirmação da privatividade da ação penal
pública para o MP, passou a ser inadmissível a requisição de inquérito pelo juiz (Posição de
Pacelli).
No mesmo sentido, Pacelli, ao comentar a possibilidade do juiz mandar produzir provas,
diferencia iniciativa acusatória de iniciativa probatória. Para o autor, o juiz não pode fazer
nada cujo ônus a lei tenha legado à acusação (iniciativa acusatória), como a instauração de IP,
por exemplo. O juiz, por seu turno, pode determinar a produção de prova para dirimir dúvida
surgida do conteúdo probatório já presente no caderno processual (iniciativa probatória),
como determinar uma nova perícia, por exemplo.
No entanto, a doutrina majoritária, inclusive Damásio de Jesus, entende que a requisição
pelo juiz ainda é aplicável.
No caso de ação privada ou condicionada, necessário que a determinação judicial
contenha a representação ou requisição respectiva.
O delegado está obrigado a instaurar o IP, o que se dará por portaria.
VI. Pelo auto de prisão em flagrante. É o próprio auto de prisão em flagrante o ato
material que instaura o IP.
5. Notitia Criminis
Notitia criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, pela autoridade policial de
um fato aparentemente criminoso. Modalidades de notitia criminis:
I. Notitia criminis de cognição espontânea, direta, imediata ou inqualificada – a
autoridade policial fica sabendo do crime por outros meios, sem ter havido a comunicação por
outra pessoa identificada. Inclui a denúncia anônima (delação apócrifa).
II. apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;
III. colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV. averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e
social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e
durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento caráter.
A colheita de provas pela autoridade policial, que sirvam ao esclarecimento do fato e de
suas circunstâncias, deve ser feita dentro de um respeito aos direitos e garantias individuais
(Paulo Rangel).
Observe-se que “a busca e apreensão feita pela autoridade policial no local do fato é
conseqüência de sua atuação, de ofício, e, portanto, não necessita de autorização judicial.
Trata-se de ato administrativo que goza do atributo da auto-executoriedade”. (Paulo Rangel)
O artigo 260 CPP permite que o juiz mande conduzir coercitivamente o interrogado.
Pode o Delegado fazê-lo também, uma vez que o CPP determina que ele ouvirá o investigado
nos moldes que o juiz o faz? Existem duas correntes. Primeira – Pode. Corrente legalista
(artigo 185 e seguintes e 260). Segunda – Não pode. O artigo 260 é destinado expressamente
ao juiz, não se podendo interpretar extensivamente uma norma coercitiva. Ponderação: Se a
CF permite o silêncio, qual o proveito processual de se conduzir coercitivamente o
interrogado?
Não pode o sujeito ser obrigado a participar da reconstituição do crime porque ninguém
pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo (o que está incluído no direito ao
silêncio, pois se pode se calar, também pode não produzir prova contra si mesmo). O
indiciado não está obrigado a comparecer para a reprodução simulada do crime (STF, RT
624/372 e RTJ 127/461).
7. Indiciamento
É o ato pelo qual a autoridade policial entendendo que há indícios suficientes de autoria,
interroga, colhe dados da vida pregressa e qualifica o suspeito, que passa a ser indiciado.
É neste momento que pode ocorrer a identificação criminal (fotográfica e datiloscópica).
O art. 5.°, LVIII da CF, estabelece que “o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. Por sua vez, a lei 10.054/2000
dividiu os indiciados em três grupos:
a) os civilmente não-identificados, que devem sempre ser submetidos a identificação
criminal;
b) os casos de dúvida, ou quando a identificação civil não é legível, também devem ser
submetidos à identificação criminal; e
c) os civilmente identificados que, em regra, não se submetem a identificação criminal,
exceto se houverem cometido algum destes crimes:
c.1) homicídio doloso;
c.2) crimes violentos contar o patrimônio;
c.3) receptação qualificada;
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Apesar de Paulo Rangel defender que a lei nunca entrou em vigor (mais detalhes no ponto 1 de Direito Civil).
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órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no art. 89, III, do
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei nº 4.215, de 27 de abril de 1963)”.
Estatuto da OAB, Lei 8.906/94, em seu artigo 7º, inciso número III, define que:
“Art. 7º São direitos do advogado: (...) III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e
reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou reco-
lhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;”
Com a regra acima, ninguém ficará incomunicável em hipótese alguma, vista a sempre
possibilidade de comunicação com o advogado. O tema, no entanto comporta uma maior
discussão.
As divergências se iniciam pela interpretação do artigo 136, § 3º, inciso número IV da
Constituição Federal:
“Art. 136 - O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente
restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas
por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes
proporções na natureza. (...) § 3º - Na vigência do estado de defesa: (...) IV - é vedada a
incomunicabilidade do preso”.
1ª Corrente: Tourinho/Mirabete: O artigo 21 do Código de Processo Penal não foi
recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Se o Legislador Constituinte proibiu a
incomunicabilidade durante o estado de defesa, quando algumas garantias constitucionais são
suprimidas, com muito mais razão, deve-se entender vedada a incomunicabilidade durante o
estado de direito.
2ª Corrente: Vicente Grecco Filho: Se o Constituinte proibiu a incomunicabilidade
durante o estado de defesa, implicitamente a permitiu durante a vigência do estado de direito
e, portanto, foi recepcionado o artigo 21 do Código de Processo Penal.
3ª Corrente: Damásio E. de Jesus: O artigo 136, § 3º trata dos chamados crimes contra o
estado, portanto a vedação relativa à incomunicabilidade só diz respeito aos crimes desta
natureza. Portanto, foi recepcionado o artigo 21 do Código de Processo Penal.
Para Pacelli, o artigo 21 do CPP foi revogado pela nova Constituição Federal, filiando-
se o autor à primeira corrente. É o entendimento majoritário.
10. Encerramento
Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minuncioso relatório do
que tiver sido apurado no inquérito policial (art. 10, §1º, 1º parte). Nele, poderá indicar
testemunhas que não tiveram sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
encontradas (art. 10, §2º).
Não cabe a autoridade na sua exposição emitir qualquer juízo de valor, expender
opiniões ou julgamentos, mas apenas prestar todas as informações colhidas durante as
investigações e as diligências realizadas. A falta de relatório não anula a ação penal (RJTJSP
122/554). Na novíssima lei de drogas, ao contrário, exige-se a classificação do delito pela
autoridade policial.
Encerrado o IP, o MP pode: denunciar, se entender que a materialidade e a autoria estão
devidamente demonstradas; requerer novas diligências, se necessárias; ou promover o
arquivamento, se for o caso (falaremos mais sobre o arquivamento a seguir).
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Usa-se desta locução latina num sentido moderno que nada tem a ver com a traditio longa manus (V. tradição
longa manu) do direito romano. Tradução literal: mão longa, comprida, longa mão. Indica que alguém age
movido por outrem que não aparece publicamente: sócio ostensivo escondendo a existência do sócio oculto, o
testa de ferro ocultando a existência do verdadeiro dono do negócio, a interposta pessoa obumbrando o
verdadeiro adquirente da coisa. Todas estas figuras não representam mais que um alongamento da mão do
interessado direto que se deixa eclipsar. Outro Exemplo: o autor mediato em relação ao autor imediato (V.
autoria mediata). Pessoa que serve de instrumento passivo da vontade alheia.
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Há alguma discussão sobre a natureza jurídica da decisão de arquivamento. Uns entendem que se trata de mero
despacho (já que o juiz não pode decidir não homologar), outros entendem que se trata de verdadeira decisão
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sobre os fatos. Assim, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas (Súmula 524,
STF).
De acordo com o STF, constitui constrangimento ilegal o desarquivamento de inquérito
policial e conseqüente oferecimento de denúncia e seu recebimento sem provas novas.
Entende-se por novas provas “aquelas que produzem alteração no panorama probatório
dento do qual fora concedido e acolhido o requerimento de arquivamento” (STF).
“Por novas provas entendemos as que já existiam e não foram produzidas no momento
oportuno, ou provas que surgiram após o encerramento do inquérito policial” (Paulo Rangel,
p. 195).
É irrecorrível o despacho que determina o arquivamento ou o desarquivamento do
inquérito policial (RT 422/316).
É inadmissível a instauração da ação penal em inquérito policial arquivado a pedido do
MP, mediante ação privada subsidiária.
Nos crimes de competência originária dos tribunais a promoção de arquivamento do
procurador pode ser recusada? De acordo com o STF, o pedido de arquivamento nestes casos
é irrecusável. Porém, existe como reverter essa situação. A Lei 8.625/93, em seu artigo 12,
XI, o estipula que o legítimo interessado (a vítima, por exemplo), pode requerer no prazo de
cinco dias ao Colégio de Procuradores de Justiça que reexamine a decisão do Procurador
Geral. Caso julgue procedente este pedido, pela maioria absoluta de seus membros, o Colégio
de Procuradores enviará os autos ao substituto legal do Procurador Geral de Justiça para o
oferecimento da denúncia.
Arquivamento faz coisa julgada material, segundo o STF, nos seguintes casos:
1. quando o arquivamento se fundar numa excludente de ilicitude;
2. quando se fundar na atipicidade do fato;
3. quando se funda na extinção da punibilidade.
11.1. Arquivamento indireto
A terminologia é confusa porque não se trata de verdadeiro arquivamento. A
jurisprudência costuma chama isso de conflito de jurisdição sui generis.
Imaginemos que o membro do MP manifeste-se no sentido da incompetência do juízo
perante o qual ele oficia, recusando, por isso, atribuição para a apreciação do fato investigado.
É o caso, por exemplo, do procurador da república entender que o crime apurado é da
competência da justiça estadual.
Nestes casos, deverá o MP recusar a atribuição, requerendo ao juiz que sejam os autos
encaminhados à Justiça competente.
judicial, sujeita à coisa julgada. O importante neste debate é entender que o arquivamento gera direito subjetivo
ao investigado, em face do Estado, na medida em que a reabertura das investigações está condicionada à
descoberta de novas provas (Pacelli).
Segundo Paulo Rangel, “Tratando-se de ato que requer a manifestação de vontade de dois órgãos principais,
sem um dos quais o ato não se perfaz em toda a sua inteireza, quais sejam: O Ministério Público e Judiciário, e
sendo ato ligado à função executiva, podemos afirmar que a sua natureza é de um ato administrativo
complexo”.
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inquérito policial caráter meramente informativo, vícios formais que contenha não se
estendem ao processo de maneira a torná-lo nulo” (5ªT – RHC6491 – Rel. José Arnaldo).
Segundo Paulo Rangel, “não se deve falar em contaminação da açào penal (processo
judicial) em face de ter ocorrido vício de legalidade no curso do inquérito policial, pois
tratam-se de fases distintas da persecuçào penal com disciplinas próprias. O professor
Frederico Marques,com a clareza que lhe é peculiar, professa de forma indiscutível: a
nulidade, porém, só atingirá os efeitos coercitivos da medida cautelar, e nunca o valor
informativo dos elementos colhidos no auto de flagrante”.
Em razão da natureza inquisitiva do IP, nem mesmo a suspeição ou o impedimento da
autoridade policial vicia o ato. Neste sentido: “A autoridade policial não tem função
judicante, podendo, por isso mesmo, prender e presidir os atos de inquérito em que figura
também como vítima” (TAMG – HC – Rel. Fiúza Campos – RT 542/407).
A falta de curador ao investigado menor de 21 anos, outrossim, não é causa para
repercussão de vício para o processo penal, pois “O inquérito apenas recolhe dados
informativos para a edição da denúncia. A nomeação de curador na Ação Penal legitima o
do inquérito” (STJ – RHC – Rel.Edson Vidigal – RT 698/422). Também para o STF, “A falta
de nomeação de curador a réu menor ao ensejo do inquérito anula apenas a confissão que
ele tiver feito, e não o processo, pois se trata apenas de um instrumento de esclarecimento do
Ministério Público para a apresentação da denúncia” (HC – Rel.Cordeiro Guerra – RT
597/412).
Vale ressaltar, à propósito, que, com o “novo” Código Civil, a figura do curador para o
menor de 21 anos, tanto no IP como judicialmente, deixou de fazer sentido.
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