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Nós sofremos com a agitação das ondas, mas é o Senhor que nos

transporta.
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo.

Em tudo aquilo que faz, o Senhor nos ensina como viver aqui na terra.

Não há ninguém neste mundo que não seja viajante, ainda que nem todos
desejem voltar à pátria. Sofremos com as ondas e as tempestades que
decorrem da viagem. Mas, pelo menos, permanecemos na barca. Pois, se há
perigo até dentro da barca, fora da barca a morte é inevitável! Aquele que
nada em alto mar pode ter braços muito possantes; contudo, cedo ou tarde,
vencido pela imensidão das águas, é por elas tragado, e desaparece. Assim, é
necessário permanecer na barca, isto é, ser transportado pelo lenho, para
poder atravessar o mar. Esse lenho que transporta a nossa fraqueza é a cruz
do Senhor, da qual trazemos o sinal, e que nos impede de ser tragado pelo
mundo. Nós sofremos com a agitação das ondas, mas é o Senhor que nos
transporta. A barca que transporta os discípulos, isto é, a Igreja atravessa as
águas, e as tempestades das provações assaltam-na. O vento contrário, ou
seja, o demônio que faz oposição à Igreja, não se acalma. Ele se esforça por
impedi-la de chegar ao repouso. Mas grande é aquele que intercede por
nós. Com efeito, na tumultuosa navegação em que pelejamos, ele transmite
confiança, vem ao nosso encontro e nos reconforta, de medo que, abalados
pela barca, nós nos deixemos abater e nos atiremos ao mar. Pois, mesmo se a
barca é sacudida, é ainda assim, uma barca: só ela transporta os discípulos e
recebe Cristo. Ela está em grande perigo sobre o mar, mas fora dela, logo
pereceremos. Mantém-te firme na barca, e ora ao Senhor. Todos os conselhos
podem faltar; o leme torna-se insuficiente; as velas estendidas, mais perigosas
que úteis. Quando todos os socorros e as forças humanas falharem, só resta
aos marinheiros o propósito de orar e erguer os corações para Deus. Por acaso,
aquele que conduz os navegantes até o porto, irá abandonar a Igreja e não a
conduzirá ao repouso?

Sermo 75 (Patrologia Latina, 38, 475-476)

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