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8 -EXPERIENCIAS DE INOVACAO EDUCATIVA: ‘© CURRICULO NA PRATICA DA ESCOLA, Miguel G. Arroyo ‘Trazemo-thes algumas reflexdes sobre aspectos das experiéncias de inovagZo educativa que acontecem em indmeras escolas. Por que trazer nossas reflexdes sobre essas experiéncias em um livro sobre curriculo?‘A proximidade ‘com a escola e com propostas inovadoras em varias cidades nos aproxima dos debates sobre inovagic educativa , conseqtientemente, sobre inovaco curr- ‘cular. Nossas reflexdes serdo, entdo, sobre a prética escolar, sobre as interven- ‘gbes que temos acompanhado, sobre como elas concebern a inovagio, © ccurriculo,o saber ea cultura vividos e realizados no cotidiano da escola, ‘Temos também como referenciais intimeros encontros e dilogos com professores de educagiio bisica ptomovidos por sindicatos, pela Confederago Nacional dos Trabalhadores em Educago (CNTE), por secretarias e, mais especificamente, temos como referenciais propostas inovadoras como a Escola Plural em Belo Harizonte, a Escola Cidada em Porto Alegre, a Escola Candanga ‘em Brasfia, a Escola sem Fronteitas em Blumenau e tantas outras experiéncias ue esto acontecendo no Brasil. Que trazem elas de navo? A organizagiio da 131 escola em ciclos de formagio? © fim do sistema seriado? Novos conteddos ¢ nova pritica de avaliaglo? Nova cultura escolar, profissional e curricular? Pretendemos destacar neste texto algo mais bisico: 0 estilo de inovagto educativa que esses experiéneiastrazem. Essas proposlas Se apresentai como Jnovadoras,valorizando o que os professors consideram mais significativo em suas pritieas. Os professores que fazem a escola se propem a renové-ld. Nio, $6 eles. Também os que decidem e formulam poltticas como a nova Lei de Diretrizes-¢ Bases (LDB), 08 Parimeiros Curticulares Nacionais (PCN) ¢ 6 Fundo de Valorizagio do Magistri tm a inovagdo como objetivo. A produgio ‘que vem da academia, o pensamento crtico e as propostas de partidos também colocam a inovagdo da educagio como objetivo. Temos, pois, propostas diver. sas, todas buscando renovar escola brasileira. Sto todas iguais? Que concep. Gio e que-estilo de inovagio estao presentes nessa diversidade de pottica, {eorias ¢ propostas-educacionais? Que premissas as orienta? Os pmofessores da educaglo basica preocupasn-se com as politcas ¢as decisses dos govemos (no tanto quanto os governantes pensa lum pouco pelaque se produz na academia sobre aescola, os cm teoriase a diatica.Eniretanto,as questbes debatidas nos encontrose,sobretudo, nas seunides pedagégicas dos professores, nos tempos de coordenagio © de projetos na escola bisica so outs. ‘A ipStese que exploramos nese trabalho €a de que, apesar de conceites como inovagao pedagégiea, mudanca cuticular e nova escola parecerem cidentes, nem sempre héacardo quanto concepcio de inovaglo e As estratégias ‘de mudanga entre aqueles que formulam politcas e decidem para a escola para seus mestres, entre aqueles que pesquisam e teorizam sobre a escola, © aquees, os professores, que pensam ¢ fazem a escola. Que diferengas e coincidéncias podemos encontrar? Que-tém feito os professores empenhados em renovar a escola? Tem seguido os modelos propostos pelos que decidem? Tem seguidoo “pensamento critico dos que-pesquisam e escrevem? Emrque grat esses modelos ‘c essa produgio teria tém orientado a inovagao da pritica escolar? Discutimos,entlo, a concepgées de inovago educativa predominantes nas poitcaseducacionais eno pensamento critic. Contrapomos essasconcep- (6es 4s experiéncias-que-acompanhamos nas escolas e indagamos como os ‘professores envolvidos concebem a inovacdo. Estamos em im tempo propicio para repensara educagio.Entretanto, hd concepoves diversas sobre os processos teducacionais- Fi vis6esuiferengadas sobre a escola, os professores co curicu- Jo. Ha concepgdes-cpistemolégicas socioléuicas diversas sobre a pritica w¢20 e formagio, sobre a dindmica da lades. Ha proximidades e diferengas diversas concepeves e priticas:no campo da educaglo, um dos.campos mais sputadas no cenério nacional nas duas timas décadas, no qual ss diversos vém confrontando ideais e propostas. As experigncias que acompanhamos destacam 0s professores como suites, a escola bésica como o lugar da renovagd0, mas hé outros atores, os {que formulam politicas, decidem e prescrevem para a escala e para os profes- sores, Como esses atores concebem e tentam a renovagio? Hié unanimidade entre eles? Um papel relevante cabe também aos que pesquisam e teorizam sobre a educacdo e seus mestres. Como esses atores veema escola eainovagtio? Que propéem? Tentamos refletir sobre tais questbes, sem ignorar que esses campos nio sio claramente demarcados, que hi intersegbes promissoras entre ‘os atores que neles transitam, Os que decidem a inovacdo para a escola e para seus professores ‘Comecemos pela concepgio de inovagio educativa dagueles que deci deme preserevem para a escolae seus professores, predominante na formulagao oficial de politicas sociais ¢ também educacionais. Que tragos caracterizam essa, concepcdo? Em nossa cultura politica, o Estado, os governos ou os grupos técnicos, politicos ¢ intelectuais a, recentemente, até organizagdes privadas, definem 0 que convém 2 sociedade, as familias e &s escolas, aos profissionais, sobretudo de educacio bisica. Este € 0 primeiro trago: pensar que toda inovagio social, cultural ou pedagégica seré sempre iniciativa de um grupo iluminado, ‘modernizante, que antevé por onde devem avangar a sociedade ¢ os cidados © {que presereve como as insttuigSies sociais (¢m-de renovar-se e atualizar-se. A histéria das reformas eduescionals segue'paralela 3 entrada de novas equipes nos érgos de decisfo, que se julgam com a missio de elaborar politicas de 133 intervengdo escolar. E um estilo que acredita que a inovagio sé pode vit do alto, de fora das instituigées escolares, fi ss perspec to diseminada nos formuladores de polities ss e nas equpes dos érios ois envlve a renga de qu cada nov pe vinda do-ato escola enovard. Quan nos aproximames deol peteebeos quetlereng a fez parte dius dos profsionats daedacas Basia, Ainéa bem. Ao contro eles duvidam dss refomas terem apendido, drante anos, qe, aes das mudangas de govero, 6 sue scomtece na escola no mad facing ermanece eam povcas leragtes Como se iessem aprendi que pea que oven ago peda Nio € ditada de fora. i sacl pole, que pensa a educago ba fora pura os seus professors, vem se mantendo com os meses tagos pes Aeadas.Apenas podemos nota gue tena se democaiar confor etl de Foxmulag das pots de interveng. Para intervngio alt se nal WS cana para que oF professors déam palpty no ar caborac po E outa, lo alto, que decide de turma, Uma solugao insufici por intervengio, nem sequer construirido “part " intervengses ou ‘modelos para que os professores os adapt lidade. A questio é de inovagio escolar via modelos e via consenso e adesio na los. O segundo trago desse ‘vamente a sociedad, suas i 0s professores. A sociedade ¢ vista como arcaica, os professores como tradicio- nals, os curriculos cor — jf ouvimos alguma vez esse frase? Di 1agem negativa do trabalho pedags- -gico: baixa qualidade, contetidos desatuslizados, alto custo, desperdicio de licos, despreparo dos professores tc. Esse diagndstico de sombras sempre antecede as propostas iluminadas de inovagio, vindas do alto, como. estrela de Belém a guiar cidasos, famfias,professores desorientados, sem rrumo. Em fodo novo govemo, equipes téenic i de, sobretudo a escola bisica (a universidade & iada.com mais cuidado). O motivo alegado: aeseola esti em crise os professores da educago infantil fundamental so imaturos para ter autonomia ¢ saber-adequar-se ts demandas do mundo modemo, das ‘ovas tecnologias, da globalizagio. olhardo alto sobre os professorespblices & muito negatvo, E_preconceltuosoraté: Logo, inovar, dessa-perspe definir para esses professores 0 que fazer e o que pensar. ‘Chegatnos ao terceirotrago dese estilo de inovagfo: sempre se caloca como ceme de sua politica requalificar os professores, ensinar-lhes a ser ‘modemos, para que modernizem sua prtica-impressionante como munca os professores de educaso bdsica neste pafssto tidas ecmo prontos e qualificados. ‘Acada quatro anos aparece um novo projeto oficial de quaificagko. O mais impressionante 6 que aqueles que nfo os consideram nunca no ponte inventarn 10Vos projetos de requaificago sfo muitas vezes professors também, sea das tmiversidades, das faculdades de-educaglo, eja das préprias redes deensino. E ‘mais lamentivel ainda ¢ que essas faculdades-se~prestam a-fazer convénios: oficiais para perpetuar essa visio desqualificada dos mesmos-professores de exiucaglo bésica que elas solenement arm eatestaram estarem prontos para sou oficio de mestes “Tudo se legitima no intuito de renovara escola de fora, uma vez, dentro dela ina odespreparo,Avandlisefreqlente das equipes técnicas o que, se a escola est em crise, as mudangas propostas nao acontecem por culpa porque &deserente de mudangas, porque fo tem compromisso ‘Uma andlise ingénua e uma sada ce-gastam inutilmente recursos divas para que salam de sua cOmoda, que deixam a prética no mesmo pablicose energias humans. Essa cultura tut tGncias do governo e da academia, {que safram da prdpria escola para as adm Formagfio de professores. Quando reconheceremos-a maturidade-desses profis- sionais? Quando seré superada essa visto preconceituosa e elitista? (Com essa postura tutclar dos professores sempre tidos como desqualili~ ccados para sua fungao, outr prética 6 repetida no estilo oficial: fazer inovagio por amostragens. Seria esse o-quarto trago. Nao s¢ inova ear todas as escolas nem com todos os professores, mas-apenas-com algamas turmas'de algamas cescolas, de alguns municipios, para-um dia servirem como exemplo de renova- io a seus-pares. Inovasio por imitasio dos bons exemplos, por imitagfio de- ‘modelos de escola, de-curriculo, de caixa escolar, de meste, 135

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