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Manuel Maria Barbosa du Bocage

O Cime

Entre as tartreas forjas, sempre acesas,
Jaz aos ps do tremendo, estgio nume ,
O carrancudo, o rbido Cime,
Ensanguentadas as corruptas presas.

Traando o plano de cruis empresas,
Fervendo em ondas de sulfreo lume,
Vibra das fauces o letal cardume
De hrridos males, de hrridas tristezas.

Pelas terrveis Frias instigado,
L sai do nferno, e para mim se avana
O negro monstro, de spides toucado.

Olhos em brasa de revs me lana;
Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado
Ferrando as garras na viprea trana.

4.,0









uto-retrato

Retrato gravado a buril e gua-forte por Joaquim Pedro de Sousa
Magro, de olhos azuis, caro moreno,
Bem servido de ps, meo na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e no pequeno;
ncapaz de assistir num s terreno,
Mais propenso ao furor do que ternura;
Bebendo em nveas mos, por taa escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moas mil) num s momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage


Epstola
Olinda a lzira
Que estranha agitao no sinto n'alma
Depois que te perdi, querida lzira!
De meus olhos fugiu, sumiu-se o fogo,
Que a tua companhia incendiava!
Por uma vez se foi minha alegria,
Nem a mesma j sou, que outrora hei sido!
Minhas vistas ao cu lnguidas se erguem,
E a mim prpria pergunto d'onde venha
To novo sentimento assoberbar-me?
No se aquieta o corao no peito,
No cabe nele, e viva chama no ntimo
Das entranhas ardente me devora,
Sem que eu possa atinar a causa, a origem.
queles passatempos que na infncia
To do peito queria, em dio os tenho.
Das mesmas superioras a presena,
Que d'antes para mim era indif'rente,
Se me torna hoje dura, intolervel!
onde, aonde iro estes impulsos
Precipitar a malfadada Olinda?
Ser, querida lzira, a tua ausncia,
Que me faz derramar to agro pranto?
Debalde a largos passos solitria
Vago sem norte: ignoro o que procuro;
h! Minha cara! Os males que tolero
Express-los no posso, nem sofr-los.

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