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PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA

Secretaria dos Negócios Jurídicos


Divisão do Contencioso Gerai

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Terceira Vara Cível da Comarca de Sorocaba/SP.
P.A. n°

PROCESSO N° 986/

SECRETÁRIO MUNICIPAL DE FINANÇAS, FERNANDO


MITSUO FURUKAWA, brasileiro, portador do RG 4.120.807 e CIC 282.947.508-91,
com endereço comercial na Avenida Eng°. Carlos Rei-naldo Mendes n° 3.041,
Palácio dos Tropeiros, Alto da Boa Vista, Sorocaba/SP; vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, pelos autos

atenção ao disposto no artigo 7o, inciso I, da Lei n° 1.533/51, prestar as devidas


informações, consubstanciadas nas razões de fato e direito que a seguir passa a
expor:

I - Das Disposições Iniciais:


A Impetrante ingressou com a presente ação manda-mentai
objetivando a obtenção de ordem judiciai para suspender os efei= tos do auto de
infração n° 2.127 e a ameaça de interdição do estateleci-
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mento comercial e, ainda, garantia de funcionamento com utilização de música ao


vivo ou mecanizada, em face da impossibilidade de aplicação da Lei Municipal n°
4.913/95.

II - Do Mérito: Da
Decadência
Inicialmente, há de se consignar a decadência do direito à
impetraçao do mandamus, eis que os pedidos formulados são decorrentes da
lavratura do auto de infração n° 2.127, tendo sido notificada a Impetrante em 22 de
novembro de 2003 (fls. 16).

Em sendo assim, o direito a impetraçao do mandamus teve seu


termo a quo em 23 de novembro de 2003, expirando-se em
«•■J MG SBScss^-a^ %£*& é z=%g%g—sm i3lu jj^i^juc, ucLCi i í i ü i a \J ai Liyu J.O ua Lei i Ma L su -
nal n° 1.533/51, que "o direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á
decorridos cento e vinte dias contados da ciência, pelo interessado, do ato
impugnado."

Assim, considerando que a impetraçao deste mandamus


ocorreu em 06 de abril de 2004, é incontestável a ocorrência da decadência do
direito de requerer mandado de segurança.

Há de se ressaltar, por oportuno, que a Carta da República de


1988 não derrogou a norma do artigo 18 da Lei Nacional n-0 1.533/51. Esse preceito,
que delimita o âmbito temporal de impetraçao do mandado de segurança, não
ostenta qualquer eiva de inconstitucionalidade. Foi por essa razão que o Supremo
Tribunal Federal reconheceu que essa norma legal foi recebida pela vigente
Constituição da República (RTJ 142/161 - RTJ 156/506): "Não ofende a Constituição
a norma legal que estipula prazo para a impetraçao do mandado de segurança. A
circunstância de a Constituição da República nada dispor sobre a fixação de prazo
para efeito de ajuizamento da ação mandamental não inibe o legislador de definir um
lapso de ordem temporal em cujo âmbito o writ deve ser oportunamente impetrado."
(RTJ 145/186, rei. Min. Celso de Mello). E no mesmo sentido: STF-RT 712/307 e
STF-RT 691/227).

Isto posto, requer-se a extinção do feito com julga-


2
1*
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mento do mérito, em face da decadência do direito de ação, com fulcro no artigo 269,
inciso IV, do CPC.

Dos Fatos
Em 13 de outubro de 2003, a Impetrante, Giancarlo Parini ME,
pretendendo estabelecer-se na Avenida Dr. Afonso Vergueiro n° 1.231, Centro, no
ramo de atividade de bar com salão de festas, pleiteou a Municipalidade a análise
da viabilidade do local para a exploração dessa atividade comercial.1

Considerando que o local pretendido localiza-se na ZCP (artigo


Io, da Lei Municipal n° 5.609/98), com base na Lei Municipal n° 1.541/68, a
Municipalidade declarou como viável a instalação e exploração da referida atividade
comerciai, no endereço apontado,2

Apresentada a documentação exigida por lei, a inscrição


municipal foi deferida sob n° 130.590, em 06 de novembro de 2003, para instalação
e exploração da atividade comercial indicada pela Impetrante, ou seja, bar com
salão de festas='

Que a fiscalização municipal constatou que a Impetrante,


desvirtuando o ramo de atividade comercial declarada ao Município, instalou no local
uma danceteria, com funcionamento após as 24*00 horas e com a utilização de som
ao vivo ou mecânico. Assim, em 08 de novembro de 2003, através das notificações
n°s.: 4.341 e 4.404, notificou a Impetrante a providenciar, respectivamente, a
inscrição municipal adequada para o seu ramo de atividade e o certificado de uso
para utilização de som.4

Contudo, a Impetrante quedou-se inerte com relação as


providências administrativas necessárias à exploração de sua atividade comercial e,
em 14 de novembro de 2003, a fiscalização constatou que a mesma continuava
explorando a atividade comercia! de danceteria, após às 24:00 horas e com uso de
som ao vivo em alto volume. 5

1
fls. 02 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
2
fls. 06 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
3
fls. 07 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
4
fls. 10/11 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
5
fls. 09 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
3
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Em 19 de novembro de 2003, a Impetrante foi notificada a


comparecer na Seção de Fiscalização de Atividades, no prazo de 48 horas,
para tratar de assunto a respeito da atividade comercial exercida (fls. 18 do
Processo Administrativo n° 18.680/03 = cópia inteiro teor em anexo). Diante
de seu silêncio, em 22 de novembro de 2003, lavrou-se a notificação n° 4.885
para que a Impetrante encerrasse suas atividades às 24:00 horas, nos termos
da Lei Municipal n° 6.802, de 08 de abril de 2003, sob pena de autuação, nos
termos da Lei Municipal n° 3.444/90, com redação dada pelas Leis Municipais
n°s.: 4.985/98 e S.793/98.6

Ante ao descumprimento da notificação, e a persistência


em manter a atividade comercial após as 24:00 horas, com a utilização de
som, inclusive sem o certificado de uso, lavrou-se o auto de infração n°
2.127.7

Após a autuação retro mencionada, e que deu causa ao


pedido deste writ, a Impetrante pleiteou, na esfera administrativa, autorização
para funcionamento no horário das 22:00 horas às 4:00 horas da manhã, as
sextas-feiras e aos sábados; bem como, alteração da viabilidade de local para
uso de som mecânico, apresentando para tanto- orçamento de isolamento
acústico para danceteria."

O pedido de alteração de viabilidade do local foi indeferido


pela Secretaria de Edificações e Urbanismo e Serviços Públicos com base no
seguinte parecer:

"Inicialmente foi autorizado BAR COM SALÃO DE FESTAS. O


BAR está funcionando.
Contudo o SALÃO DE FESTAS mascara uma 'danceteria'. Com o
problema do som nossa fiscalização em sua atuação constatou a
atividade de danceteria e o estabelecimento foi autuado (fls. 20)
depois de devidamente notificado. Agora segue às fls. 24/30
viabilidade para BAR COM SALÃO DE FESTAS E USO DE SOM,
bem como horário especial e prazo p/ auecjuaçoes uas instaiações a ICÍ
uo som. SMJ o pedido deve ser indeferido por dois motivos: 1)-
desvirtuamento de uso de SALÃO DE FESTAS p/ DANCETERIA.

6
fls. 20 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
7
fls. 21 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
2
fls. 25/28 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
f\
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2)- falta de adequações das instalações, que deverá ser precedido de


sua aprovação e certidão de vistoria de conclusão. Depois das
instalações adequadas e seu pedido corrigido poderíamos expedir a
viabilidade. É nosso parecer 'sub-censura'." ?

A Impetrante foi notificada, notificação n° 5.945, a encerrar


suas atividades face ao indeferimento do pedido de alteração da viabilidade
do local, sob pena de autuação, nos termos da Lei Municipal n° 3.444/90, com
redação dada pelas Leis Municipais n°s.: 4.985/95 e 5.793/98. :c

Do Direito
E princípio constitucional o livre exercício de atividade
econômica, mas sempre delimitado, conforme o interesse social. Aliás, não
poderia ser diferente, já que os princípios de um sistema jurídico para se
relacionarem e terem coerência, não podem ter amplitude ilimitada, sob pena
de se tornarem incompatíveis. É por isso que todo princípio apresenta: a) uma
regra de vital importância; b) e seu limite. Prova do que está se dizendo, pode
ser abstraída da regra do parágrafo único, do artigo 17u, da v^onstituiçao
Pederar.

"É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade


econômica, independentemente de autorização de órgãos públi-
cos, salvo nos casos previstos em lei." (grifo nosso)

Ora, salvo no casos previstos em lei, é a exceção ao


princípio do livre exercício da atividade econômica, que insista-se, pode ser
limitado por lei. Neste aspecto, CELSO RIBEIRO BASTOS ao comentar o
artigo constitucional em destaque, acrescenta:

É aceitável, pois, que dependam de autorização certas atividades


sobre as quais o Estado tenha necessidade de exercer uma tutela,
quanto ao seu desempenho no atinente à segurança, à salubrida-
de pública etc."'"

Na realidade, o Poder Público para limitar determinadas


9
fls. 31/verso e 32 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
10
fls. 35 do Processo Administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor em anexo.
-: in Comentários à Constituição do Brasil, Saraiva, 7° v. p. 39.
5
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condutas utiliza-se do poder de polícia, com base em lei. Neste sentido bastante
elucidativa é a lição de HELY LOPES MEIRELLES:

"Atuando a polícia administrativa de maneira preferencialmente


preventiva, ela age através de ordens e proibições, mas, é sobre-
tudo por meio de normas limitadoras e condicionadoras da con-
duta daqueles que utilizam bens ou exercem atividade que pos-
sam afetar a coletividade, estabelecendo as denominadas limita-
ções administrativas. Para tanto, o Poder Público edita leis e os
órgãos executivos expedem regulamentos e instruções fixando as
condições e requisitos para o uso da propriedade e o exercício
das atividades que devem ser policiadas, e, após as verificações,
é outorgado o respectivo alvará de licença ou autorização, ao
qual se segue a fiscalização competente." l

O que se pretende fixar, desde o início, é que o exercício


de atividade comercial, definitivo ou transitório, embora livre, é limitado pela
lei. A lei fixa os limites para o exercício de qualquer atividade e o uso de bens.
E o Poder Público, evidentemente, pode aquilatar sobre a viabilidade ou não
de autorização ou licença para determinada atividade.

Essa questão é importantíssima, na medida em que o


preponderante interesse público é um primado que não pode ser desprezado.
A instalação de uma atividade comercial, provisória ou definitiva, que é um
interesse particular e individual, não pode se sobrepor ao interesse público de
segurança, higiene, urbanismo, meio ambiente etc.

Assim, por exemplo, a questão da saúde, afeta a vigilância


sanitária, é importantíssima e, não observada pode conduzir a situações
bizarras e de alto risco. Outra questão ainda, a ser verificada, é se a Lei de
Urbanismo Municipal permite a exploração dessa atividade no local
pretendido.

Daí se vê, como ressalta JOSÉ NILO DE CASTRO "que a


razão do poder de polícia repousa na necessidade da proteção do interesse
coletivo, figurando-lhe o fundamento na prevalência do interesse geral do
Poder Público sobre o interesse particular, um dos princípios basilares de
nosso Direito Administrativo/'
in Direito Municipal Brasileiro, r-iaineiros, ba eo. p. J4u.

Ní1-IU„:_„^ ca „,4
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E conclui o ilustre professor de Direito Municipal:

"Exercita-se o poder de polícia administrativo nas matérias e as-


suntos de interesse local, tais como: proteção à saúde, aí incluí-
das a vigilância e fiscalização sanitárias; proteção ao meio ambi-
ente, ao sossego, à higiene, à funcionalidade; disciplinam-se as
edificações e as posturas municipais, em toda a amplitude local
como a regulamentação de: horário de funcionamento do comér-
cio local, de indústria, de prestação de serviços (salvo atividades
bancárias e financeiras); tráfego e trânsito no perímetro urbano e
nas vias públicas municipais; proteção ecológica da fauna e flora;
localização, nas áreas urbanas e nas proximidades de culturas
mananciais, de substâncias potencialmente perigosas; estética ur-
bana e guarda municipal."

Disso se conclui que o particular não pode simplesmente


exercer a atividade comercial que pretende, sob pena de por em risco valores
superiores, de interesse social, que se protegeu em patamar acima dos
direitos individuais. A vida, a segurança, a saúde, o bem estar, não podem
ficar relegados, como valores subordinados ao capitalismo. O sistema jurídico
brasileiro, isto não permite, e por isso se criou o princípio da primazia do
interesse público. Comentando essa questão o professor CELSO ANTÔNIO
BANDEIRA DE MELO destaca:

"o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse


privado é princípio geral de direito inerente a qualquer socieda-
de. É a própria condição de sua existência." u

Nem mesmo eventual omissão do Poder Público, não


poderia implicar na possibilidade da Impetrante conseguir autorização para o
exercício da mercancia, sem cumprir as regras ditadas pelo interesse social.
Veja-se que o conflito é entre normas de interesse individual e normas de
interesse geral. E para compor esse conflito, evidentemente, a solução deve
ser compatível com o interesse social.

Há de se frisar ainda, que a Constituição Federal atribuiu


aos Municípios a competência nara legislar sobre assuntos de Interesse local;
promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupa-

" in Direito Municipal Brasileiro, Livraria Del Rey, p. 239/240


14
in Elementos de Direito Administrativo, Revista dos Tribunais, 2a ed. p. 50.
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ção do solo urbano; e ainda, suplementar a legislação federal e a estadual, no


que couber, 15

Seguindo a estrutura estatal delineada pela Constituição


Federal, a Lei Orgânica do Município de Sorocaba, estabeleceu que compete
ao Município conceder licença para localização, instalação e funcionamento
de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços;15 bem como,
conceder licença para exercício de comércio eventual ou ambulante. ll

De maneira que, dentro dos limites territoriais do Município,


é de sua exclusiva competência a concessão de licença de localização,
instalação e funcionamento de estabelecimentos industriais, comer-
ais c uc iciviijUS, c: litcii^a paia CACÍLÍV-IÜ uc Cuincu-iu cvciauai uu ain
bulante.

Vaie lembrar mais uma vez a lição do mestre Heiy Lopes


MeireUes:

"A polícia administrativa municipal deve estender-se a todos os


locais públicos ou particulares abertos à freqüência coletiva, me-
diante pagamento ou gratuitamente, bem como aos veículos de
transporte coletivo"

Nesses lugares a Administração Municipal dispõe de amplo po-


der de regulamentação, colimando a segurança, a higiene, o
conforto, a moral, a ética e demais condições convenientes ao
bem estar do público". 1S

E arremata com conclusão preciosíssima a respeito do


tema:

"Além dos vários setores específicos que indicamos precedente-


mente, compete ao Município a Polícia Administrativa das ativi-
dades urbanas em geral, para a ordenação da vida da cidade.
Esse policiamento se estende a todas as atividades e estabeleci-
mentos urbanos, desde a sua localização até a instalação e funci-
onamento, não para o controle do exercício profissional e do

artigo 30, incisos I, II e VIII, cia CF. artigo 4o, inciso XXII, alínea a,
da Lei Orgânica Municipal artigo 4o. inciso XXII, alínea c, da Lei
Orgânica Municipal, obra citada, p. 363/364.
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rendimento econômico, alheios à alçada municipal, mas para a


verificação da segurança e higiene do recinto, bem como a pró-
pria localização do empreendimento (escritório, consultório,
banco, etc.) em relação aos uso permitidos nas normas de zone-
amento da cidade". i9

Portanto, resta evidente a competência do Município para


legislar sobre a matéria, em razão do exercício de seu Poder de Polícia
Administrativa.

E, no exercício do poder de polícia administrativa, primando


pela supremacia do interesse da coletividade sobre interesses individuais, o
Município de Sorocaba, através da Lei Municipal n° 6.802, de 08 de abril de 2003,
estabeleceu o horário das 8:00 às 24:00 horas para o funcionamento de
estabelecimentos comerciais, como bares, lanchonetes, restaurantes e Quadras
poliesportívas. í_ mais, disciplinou Que a utilização de música ao vivo ou som
ambiente por esses estabelecimentos comerciais depende do cumprimento das
disposições legais pertinentes e da observância do direito de vizinhança.20

E mais uma vez, atento ao interesse público, zeloso que é com


a saúde púbiica, o Município de Sorocaba, através da Lei Municipal n° 4.913, de 04
de setembro de 1995, disciplinou o controle e a fiscalização das atividades que
geram poluição sonora. Ou seja, estabeleceu regras para o controle da poluição
sonora produzida por estabelecimentos comerciais visando garantir o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, cumprindo, assim, mais um mandamento constitucional de
relevante Interes-
5C pUUilCu.

Diz a Impetrante, que "a Lei Municipal n° 4.913/95, não foi


regulamentada pelo órgão competente, no prazo estabelecido no corpo da própria
lei, tornando-a letra morta ..."

Diz HELY LOPES MEIRELLES:

"O poder regulamentar é a faculdade de que dispõem os Chefes

19
obra citada, p. 370/371.
20
artigo Io e parágrafo único, da Lei Municipal n° 6.802/03.
21
artigo 225, da CF.
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de Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefei-


tos) de explicar a lei para sua correta execução/'

E ainda:

"Atos administrativos normativos são aqueles que contêm um


comando geral do Executivo, visando à correta aplicação da lei.
O objetivo imediato de tais atos é explicitar a norma legal a ser
observada pela Administração e pelos administrados. Esses atos
expressam em minúcia o mandamento abstrato da lei e o fazem
com a mesma normatividade da regra legislativa, embora sejam
manifestações tipicamente administrativas."/rj

Com efeito, existem situações em que a norma legai, pela


sua complexidade, precisa ser explicada para sua correta aplicação e
execução. Entretanto, se a norma legal é precisa, clara em seus termos e
dispositivos, não precisará ser regulamentada a posteriori; bastando apenas
que seja sancionada, promulgada e publicada, para produzir seus efeitos
concretos e imediatos (ex nunc).

A Lei Municipal n° 4.913/95 se encaixa nesse tipo. È clara,


objetiva, precisa, estando formalmente perfeita e exata em seu conteúdo. O
fato de que ad cautelam nela se consignou que seria regulamentada, não
significa que não seja ela auto-executável e de efeitos concretos.

É da doutrina:

"No direito brasileiro o poder regulamentar destina-se a explicar


o teor da leis, preparando sua execução, completando-as, se for
o caso. 24

Ou seja, nem sempre é necessário regulamentar a lei, e a


falta de regulamentação não implica que a lei não seja executável. Segundo,
ainda, HELY LOPES MEIRELLES:

"Mas, quando a própria lei fixa o prazo para sua regulamentação,

^ in Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros, 22a ed. p. 112.


23
obra citada, p. 161.
24
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. Revista dos Tribunais, p. 128.
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decorrido este sem a publicação do decreto regulamentador, os


destinatários da norma legislativa podem invocar utilmente os
seus preceitos e auferir todas as vantagens dela decorrentes, des-
de que possa prescindir do regulamento, porque a omissão do
Executivo não tem o condão de invalidar os mandamentos
legais do Legislativo."

Na obra: A Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro,


EDUARDO ESPINOLA e EDUARDO ESPINOLA FILHO, preceituam:

"A executoriedade da lei, mediante a promulgação. - Exis-


tente, como preceito jurídico, a lei precisa tornar-se executória,
para que esteja em condições de ser obedecida e cumprida. É a
promulgação, que lhe dá essa executoriedade. A promulgação é
um ato, que compete, obrigatoriamente, ao chefe do Estado,
mediante o qual este dá força executória às leis, que tenha
sancionado."

Por conseguinte, a promulgação introduz a lei na ordem jurídica.


Através desse ato, ela se reveste de executoriedade, permitindo que a
Administração, imediatamente, providencie os atos subsequentes, necessários à sua
fiel execução.

In casu, repita-se, à exaustão, a lei municipal em testi-Iha está


perfeita, na forma e conteúdo, sendo clara, precisa e objetiva, e independe de
regulamento para sua execução e para operar seus efeitos. O fato de constar que
seria regulamentada não retira a sua executoriedade.

Por outro lado, a ninguém é dado o direito de não cumprir a lei,


alegando nue não a conhece ^artigo 3o da Lei de Introdução ao Código Civil
Brasileiro).

Na obra "Atividade Legislativa do Poder Executivo no Estado


Contemporâneo e na Constituição de 1988", diz o PROF. CLÈMER-SON MERLIN
CLÈVE:

"Para se tornar obrigatória, todavia, perante terceiros, deve a lei

obra citada, p. 113.


Renovar, p. 37.
11
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passar pelo mecanismo da publicidade. O Estado de Direito exige


a publicidade dos atos normativos como condição de sua eficá-
cia. Ninguém pode ignorar a lei, todavia, para vigorar referido
princípio, há a necessidade de a lei ser levada ao conhecimento
dos cidadãos. A publicidade é uma conseqüência da promulga-
ção, já que esta contém uma ordem de publicação."27

MAYR GODOY, em sua obra "Técnica Constituinte e Téc-


nica Legislativa", explica:

"A promulgação da lei, como da resolução e do decreto legislati-


vo acarretam o conhecimento do texto, pela administração e pelo
seu corpo legislativo, aos quais se impõem como norma vigente
antes e mesmo sem publicação, em determinados casos. No en-
tanto, é da publicação que se irradia a vigência do direito novo,
consoante as disposições da cláusula de vigência e a Lei de In-
trodução ao Código Civil."

Da doutrina retro colacionada, conclui-se que a Lei Mu-


nicipal n° 4.913/95 é auto-executávei, sendo obrigatório o seu cumprimento
pela Administração Pública a partir da promulgação, e para os cidadãos, a
partir da sua publicação. E mais, a não regulamentação da ler pelo Poder
Executivo não tem o condão de revogar o ato legislativo, material e
formalmente, constitucional.

Esse também o entendimento jurisdicional. A respeito da


referida lei municipal a Terceira Câmara de Direito Público do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, no voto em que foi relator o Desembargador
Viseu Júnior, assim se manifestou:

"MANDADO DE SEGURANÇA - Fechamento de estabeleci-


mento que funciona em desacordo com a lei municipal sobre po-
luição sonora. Exercício do poder de polícia, como atuação es-
tatal demarcadora do conteúdo de direitos privados, impondo
freios à atividade individual, assegurando a paz pública e o bem
estar social. Recurso não provido." l:f

Esclarece o referido acórdão que:


27
Revista dos Tribunais, 1993. p. 115.
28
Universitária de Direito, 1987. p. 80/8.
2S
Apelação cível n° 191.345.5/2-00, Sorocaba, Sanfana Atlético Club x Secretário de Finanças do Município de Sorocaba,
julgado em 08/06/2004, votação unânime.
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"A Lei Municipal n° 4.913/95, que exige o certificado de uso, é


auto-executáveí e, ao dispor sobre o controle e fiscalização das
atividades que geram poluição sonora, determinou ao Poder
Público o dever de cientificar os estabelecimentos que
estivessem em perfeito funcionamento, dando prazo de 180 dias
para a devida adequação.

Ocorre que o estabelecimento em questão estava funcionando de


forma irregular, sem atender a lei em apreço. A possibilidade de
fechamento faz parte do poder de polícia da Administração.

A Constituição Federal, no art. 225, elevou o meio ambiente à


condição jurídica de bem de uso comum do povo e atribuiu à
coletividade e ao próprio Poder Público o dever de zelar por sua
proteção e preservação. Um dos principais instrumentos para
viabilizar tal tarefa é o poder de polícia.

Assim, o poder de polícia é exercido para assegurar a paz


pública e o bem estar social, dirigindo-se à liberdade individual
e à propriedade privada, fixando marcos para o exercício desses
direitos.

Se o estabelecimento funciona de modo irregular, em conflito


com a legislação sobre poluição sonora, é coerente a de-
terminação de encerramento da atividade ou fechamento
administrativo."

A Impetrante obteve, em 06 de novembro de 2003, a inscrição


municipal n° 130.590 para a exploração de atividade comercial no ramo de bar com
salão de festas, porque, nos termos da Lei Municipal n° 1.541/68 (Código de
Zoneamento), é permitida a exploração dessa atividade comercial no locai apontado,
quai seja Avenida Dr. Afonso Ver-

Contudo, a fiscalização municipal constatou que a Impetrante,


desvirtuando o ramo de atividade comercial declarada ao Município, instalou no locai
uma dancetería, com funcionamento após as 24:00 horas e com a utilização de som
ao vivo ou mecânico.

-" copia em anexo.


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Como já minuciosamente relatado, a Administração Pública


Municipal notificou a Impetrante várias vezes, dando-lhe a oportunidade de adequar
a inscrição municipal ao ramo de atividade realmente explorado, inclusive para
providenciar o certificado de uso para utilização de som. Mas, ante ao
descumprimento da notificação, e a persistência em manter a atividade comercial
após as 24:00 horas, com a utilização de som, inclusive sem o certificado de uso,
lavrou-se, em 22 de novembro de 2003, o auto de infração n° 2.127, objeto de
discussão neste mandado de segurança.

O certo é que, somente após a autuação, a Impetrante pleiteou,


na esfera administrativa, autorização para funcionamento na horário das 22:00 horas
às 4:00 horas da manhã, as sextas-feiras e aos sábados; bem como, alteração da
viabilidade de local para uso de som mecânico, apresentando para tanto orçamento
de isoiamento acústico para danceteria. Contudo, ignorou todas as disposições da
Lei Municipal n° 4.913/95, principalmente no que se refere a documentação
relacionada no artigo 4o, imprescindível para instruir pedido de certificado de uso.
Tanto que, ao invés de apresentar um laudo técnico comprobatorio de tratamento
acústico apresentou tão somente um orçamento.

Os pedidos foram indeferidos com base no parecer da


Secretaria de Edificações e Urbanismo e Serviços Públicos, acostado às fls.
31/verso e 32 do Processo Administrativo n° 18.680/03 (cópia inteiro teor em anexo),
que considerou dois motivos para tanto: o desvirtua-mento do uso e a falta da
conclusão das adequações das instalações.

A Impetrante foi notificada, notificação n° 5.945, a encerrar suas


atividades face ao indeferimento do pedido de alteração 4a viabilidade do local, sob
pena de autuação, nos termos da Lei Municipal n° 3.444/90, com redação dada
pelas Leis Municipais n°s.: 4.985/95 e 5.793/98.

Essas notificações e autuações foram lavradas com ob-


servância aos procedimentos ditados na Lei Municipal n° 3.444/90, que dispõe:

Artigo Io - Fica instituída a Taxa de Fiscalização de Instalação e


de Funcionamento que incide sobre o exercício por pessoa física
ou jurídica de atividade comercial, industrial, imobiliária em ge-
ral, agropecuária e de prestação de serviços em geral, e será co-
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brada em decorrência das atividades municipais de fiscalização e


de ocupação do solo urbano.
Parágrafo único - A taxa não incide nas hipóteses previstas na
Constituição Federal, observado, sendo o caso, o disposto na le-
gislação complementar.

Artigo 8o - A inscrição será efetuada antes do início da atividade


e alterada pelo sujeito passivo dentro do prazo de até 30 (trinta)
dias, contado a partir da data da ocorrência de fatos ou circuns-
tâncias que impliquem sua modificação.
Parágrafo único - O poder público municipal poderá promover,
de ofício, inscrição ou alterações cadastrais sem prejuízo da apli-
cação das penalidades cabíveis, quando não efetuadas pelo su-
jeito passivo ou, em tendo sido, apresentarem erro, omissão ou
falsidade.

Artigo 14 - Tendo o Fisco Municipal apurado a ocorrência de


infração às disposições contidas nesta Lei, serão adotados os se-
guintes procedimentos, de forma sucessiva:
I - Notificação ao infrator, cientificando-o da necessidade de re
gularização de sua situação, sob pena de autuação;
II - Perdurando a infração, autuação e notificação, cientificando
da sujeição à nova autuação, em dobro, caso não regularize a
situação;
III- Ainda perdurando a infração, autuação e notificação, cien-
tificando da necessidade de encerramento das atividades, sob
pena de lacração do estabelecimento;
IV- Não cessando as causas que deram origem às autuações e
não atendidas as notificações, lacração do estabelecimento;
§1° - Não será iniciado novo procedimento antes de quinze dias
contados da ação anterior, sendo este o prazo de recurso contra a
ação fiscal levada a efeito.
§2° - Eventualmente, o Fisco Municipal poderá ser instado a
proceder a lacração de estabelecimento, (redação dada pela Lei
Municipal n° 4.989, de 13 de novembro de 1995)

Artigo 15 - As infrações às disposições contidas nesta Lei serão


punidas com os seguintes valores:
a)multa de 200 (duzentas) UFIR's aos que deixarem de efetuar, nos
prazos fixados no artigo 8°., a inscrição inicial, as alterações de
dados cadastrais ou o encerramento de atividade, (redação dada pela
Lei Municipal n° 5.793, de 26 de outubro de 1998).
b)multa de 250 (duzentas e cinqüenta) Unidades Fiscais do Muni-
cípio se Sorocaba, aos contribuintes que promoveram alterações de
dados cadastrais ou encerramento de atividade, quando ficarem
evidenciadas não terem ocorrido as causas que ensejaram es-
15
qc
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sas modificações cadastrais, (redação dada pela Lei Municipal n°


4.989, de 13 de novembro de 1995)

Destarte, como demonstrado, todos os atos administrativos


relatados nesta ação mandamental, em especial o auto de infração n° 2.127,
foram praticados em estrita observância ao ordenamento jurídico vigente, sem
violação ao princípio da legalidade, nem tão pouco configurando abuso de
poder.

Na certeza de ter prestado todas as informações im-


prescindíveis ao deslinde da causa, e colocando-se a inteira disposição desse
R. Juízo para os esclarecimentos que se fizerem necessários, espera o
Impetrado a denegaçao do mandamus, em face da legalidade dos atos
impugnados.

Termos em que,
pede deferimento.
Sorocaba, 27 de outubro de 2004.

p.p.;
7<^
FERNANDOMITStrtíFURUKA WA
Secretário Municipal de Finanças

JOÃO BENEDITO MARTINS


Procurador Municipal
OAB n° 65.529
16
q3
-
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RELAÇÃO DE DOCUMENTOS

1.Instrumento de mandato

2.Processo administrativo n° 18.680/03 - cópia inteiro teor

3.Lei Municipal n° 5.609, de 19 de março de 1998.

4.Lei Municipal n°4.913, de 04 de setembro de 1995.

5.Lei Municipal n° 6.802, de 08 de abril de 2003.

6.Lei Municipal n° 3.444, de 3 de dezembro de 1990.

7.Lei Municipal n° 4.989, de 13 de novembro de 1995.

8.Lei Municipal n° 5.793, de 26 de outubro de 1998.

9.Acórdão proferido na Apelação Cível n° 191.345-5/2-00, em votação


unânime pela Terceira Câmara de Direito Público do Tribunal de Justrça
do Estado de São Paulo.

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q^
Divisão do Contencioso Gera!

Chefia do Contencioso Gerai

Solicito:

a) - autuação deste expediente;

b)- remessa ao Sr. Dr. SEJ para conhecer;

c)- após, voltar-me.

Sorocaba, 28 de outubro de 2004.

DR, JGAO-BÊWEmro^ARTINS
Procurador Municipal
\>.NTQ?V Ç>J^J OSQVA

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