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Processo nft 986/2004 * 36 Vara Cível

Comarca de Sorocaba

VISTOS.

Trata-se de MANDADO DE SEGURANÇA impe-


trado por OIANCARLO PARIKl - ME, empresa individual qualificada
nos autos, contra ato do SECRETARIO DE FINANÇAS DA PREFEITURA
MUNICIPAL DE SOROCABA (cf. determinação de fls. 79).
Esclareceu, de proêmio, que, explorando
o ramo de "bar com salão para festas {danceteria)", obteve, junto à
Municipalidade, a concessão do competente "alvará de
funcionamento1' *
Prosseguiu dizendo que, em diversas
ocasiões, foi autuado e notificado para encerrar suas ativida-
des, pela utilização de música ao vivo ou mecanizada e suposta
infração à Lei Municipal nQ 4.913/95 (lei do silêncio).
Disse, na seqüência, que, tendo contra-
tado serviço especializado de medição, constatou que o nível de
ruído produzido do lado de fora do estabelecimento não se en-
quadrava como perturbador do sossego noturno, ficando inclusive
abaixo do ruído produzido pelos veículos que transitavam
peio local.
Alegou, ainda, que não teria
v:< der as exigências previstas na Lei Municipal, que
não quer sido regulamentada. Citou jurisprudência.
P roce aso nQ 986/2004 - 3» Vara Cível
Comarca de Sorocaba

Tecendo, assim, as considerações que :f


entendeu pertinentes ao tema, concluiu requerendo a conceasão de
liminar e, ao depois» da segurança, tudo com vista a impedir a
autoridade coatora de interditar o estabelecimento dela, im-
petrante, por conta da utilização de música ao vivo ou mecanizada.
Representação processual a fls. Otí,

Documentos .1 fls. 09/68*

Deferida a liminar (Tis* 75 e verso).

Informações do SECRETARIO OB FINANÇAS DA


PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA a fls, 85/100. Aduzindo ter»
a impetrante, decaído do direito de fazer uso do mandado de
segurança, prosseguiu dizendo que a impetrante, tendo obtido
autorização para a instalação de "bar com salão de festas1'* acabou
desvirtuando o ramo de atividade comercial declarada ao
Município, instalando no loca] uma danceteria, com funciona-
mento apôs às 24h00 e com a utilização de som ao vivo ou mecâ-
nico,

Teceu, na seqüência, considerações so-


bre os limites existentes ao livre exercício de atividade eco-
nômica e sobre o poder de polícia da Administração, para con-
cluir que o particular não pode, simplesmente, exercer a ativi-
dade comercial que pretende.

Prosseguiu dizendo ser do Município a


competência para a concessão de licença de localização, insta
lação e funcionamento de estabelecimentos industriais, comer
ciais e de serviços, citando doutrina.

Disse, mais, que a Lei Municipal n2


4.913/95, referida na inicial» é clara, objetiva e precisa, não
necessitando ser regulamentada. Citou doutrina*

Finalizou concluindo pela ò\enegaçab^ da


segurança.

Procuração a fls. 102. Documentos


fls, 103/155.
Processo nO 986/2004 - 3fl Vara Cível <s
Comarca de Sorocaba ^
V

A Tis. 156 foi admitido o MUNICÍPIO DE


SOltOCABA no pólo passivo da lide.
Parecer do parque t local a fls. 157/162»
pelo afastamento da decadência e pela denegação da ordem.
É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

De se afastar, por primeiro, a alegação


da ocorrência de decadência. O objeto do presente- mandamus é
evitar a interdição do estabelecimento da impetrante. Mandado de
segurança, portanto, nitidamente preventivo, hipótese em que, à
evidência, não se cogita da ocorrência de decadência: "não se
opera a decadência em writ preventivo, pois que a lesão temida está
sempre presente, em um renovar constante" (Superior Tribunal de
Justiça, íâ Turma, REsp nQ 46.174-0-R5, Rei. Min. CÉSAR ROCHA,
j. 23.05.94).

Ao mérito, propriamente dito*

De se denegar a segurança.

A uma, por não possuir, o impetrante,


autorização para que possa exercer atividade que envolva a uti-
lização de música ao vivo ou mecanizada. A licença conferida à
impetrante limita-se à exploração de atividade de w bar com salão
de festas" (fls. 12).

A duas, por não constar, dos autos, que


a impetrante tenha se submetido às exigências e restrições pre-
vistas nos artigos 29, 39, 4Q e 5Q da Lei Municipal nQ 4.913/95.

A três, na medida em que a legislação


municipal em comento, pese a recomendação constanttf™aos artigo
12, é daquelas que não dependem de regulamentação. I \

Nesse último tópico, impende considerar


que: \ \
Proceaao nQ 986/2004 - 311 Vara Cível
Comarca de Sorocaba

- na ausência de norma municipal e,


eventualmente, de norma estadual a regular a matéria, prevalece
a norinatizaçao federal, especificada na Resolução CONAMA nQ
01/90 que, por sua vez, faz remissão à NBR 10151 da ABNT, se
gundo se extrai do artigo 29 da Lei Municipal nQ 4.913/95, por
aí se concluindo que a regulamentação reclamada pela impetrante
não é> sob esse prisma, necessária*

- não há necessidade de a Municipali


dade elaborar cadastro especial de profissionais e empresas ha
bilitadas a elaborar o laudo técnico previsto no artigo 4Q, in
ciso VI, da Lei Municipal nQ 4.913/95. O que se exige, apenas,
é que o profissional que subscreva o trabalho seja habilitado e
regularmente inscrito no cadastro do ISS do Município (artigo
5Q, inciso I e § 1Q).

De se concluir, assim, quanto à questão


âa regulamentação da Lei Municipal nQ 4.913/95, com o ilustre
Promotor de Justiça oficiante, Dr, ORLANDO BASTOS, que a fls.
161 escreveu;

"A regulamentação, como se verifica do artigo 2Q


da lei, poderá ser feita para tornar a norma mais ri~ gorosa do que a legislação
estadual e federal, mas, na sua aw~ sência, aproveitam-se os dispositivos estaduais e
federais ati~ nentes à matéria" *
No mesmo sentido, por fim, o entendi-
mento constante do v. acórdão proferido na Apelação Cível nQ
191•345.5/2-00, da 3§ Câmara de Direito Público do Tribunal de
Justiça de São Paulo, Rei. Des. VISEU JÚNIOR, j. 08.06.2004, do
qual se extrai a seguinte passagem:
U
A Lei MuniçjLgal n2.A*.í>J.3/95, que exige o çn-ti
ficado de uso, é auto-executâvel eT ao dispor sobre o controle e
fiscalização das atividades que geram nora, determinou ao Poder
Público o dever de cient tabelecimentos que estivessem em perfeito
funcion o prazo de 180 dias para a devida adequação (...) lecimento
funciona de modo irregular, em conflito
Processo nQ 986/2004 - 3B Vara Cível
Comarca de Sorucaba

lação sobre poluição sonora, é coerente a determinação de en-


cerramento da atividade ou fechamento administrativo" (grifei).

Com esses fundamentos, afastada a ale-


gação de ocorrência de decadência e forte na ausência de neces-
sidade de regulamentação da Lei Municipal nQ 4.913/95, DENEGO a
segurança pleiteada no presente mandamus impetrado por GIAN-
CARLO PARI NI - ME contra ato do SECRETARIO DE FINANÇAS DA PRE-
FEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA, revogando a liminar concedida a
fls. 75 e verso, assim como seus efeitos.

Responderá a impetrante pelo pagamento


das custas e despesas processuais, não se cogitando de ho-
norários advocatícios (súmulas nQ 512 do STF e nQ 105 do STJ).

Denegada a segurança, não há que se co-


gitar de recurso de oficio (artigo 12, §, da Lei nQ 1.533/51}*

Considerando-se que "a decisão dene-gatória


da segurança ou cassatória da liminar produz efeito li-beratôrio imediato
do ato impugnado, ficando o impetrado livre para praticâ-Io ou
prosseguir na sua efetivação desde o momento em que for proferida" (HELY
LOPES MEIRELLES, "Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil
Pública, Mandado de Injunção, Habeas Data"9 Malheiros Editores,
14ã edição, 1990, página 70), oficie-se, illftfiíliaiajflfôlltó, ao
SECRETARIO DE FINANÇAS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA,
comunicando a cassação da liminar e denegação da segurança,
devendo o ofício ser instruído com cópia desta sentença
(grifei),

P.R,I,C.
rx

MARIO CAIARA NETO


Juiz de/Direito
Sorocaba, 1Q de fevexed

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