RESUMO: Contrariamente ao que é divulgado na imprensa leiga e
especializada, o conceito de gene, como o de informação genética, não é capaz de explicar a estabilidade da herança, a variação necessária ao processo evolutivo e o desenrolar dos processos do desenvolvimento e de metabolismo. A partir das três últimas décadas, descobertas na biologia molecular demandaram definições mais adequadas desses dois termos. A existência de íntrons e o splicing alternativo estão entre os maiores desafios à idéia de genes como unidades no DNA e como portadores de informação em suas seqüências de bases. Nos genes eucarióticos, as regiões expressas de uma unidade de transcrição (éxons) são interrompidas por seqüências (íntrons), que não aparecem no RNA maduro (ou seja, que não serão traduzidas). O splicing alternativo, por sua vez, envolve a excisão de íntrons e a emenda dos éxons de um transcrito primário (precursor de mRNA ou pré-mRNA), de maneira diferencial. O gene não pode ser visto como unidade de função, em virtude do splicing alternativo, visto que múltiplas proteínas podem ser produzidas por padrões diferentes de emenda. O splicing alternativo desafia não só o conceito molecular clássico de gene, mas a interpretação geral de genes como unidades e a primazia do gene na explicação do desenvolvimento, já que padrões de regulação, possivelmente o do splicing alternativo, são herdados epigeneticamente sofrendo seleção evolutiva ao nível do RNA, paralelamente a que atua sobre a codificação de proteínas no DNA. Assim, são gerados novos padrões de splicing alternativo e novas oportunidades aos processos desenvolvimentais.
Palavras-chave: splicing alternativo, conceito de gene, informação