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Paulo Coelho

A Astanga Yoga

Escutei falar do Prof. Hermógenes pela primeira vez


através do meu ex-sogro, que era médico especializado em
tuberculose. Ele me contou que muitos anos atrás tinha sido
procurado por ele; estava doente, e precisava se curado.
Não me lembro dos detalhes, mas penso que meu sogro
lhe disse que as possibilidades de cura eram difíceis, e
Hermogenes não se conformou com a decisão: resolveu buscar
uma alternativa, encontrou a yoga, ficou bom, e desde então
tem se dedicado ao tema – a ponto de transformar-se, na minha
opinião, no mais respeitado especialista brasileiro no
assunto. Está com 79 anos bem vividos, cheio de energia, e
em seu novo livro (“Convite à não-violência”, Ed. Record/Nova
Era) aborda temas muito interessantes, entre os quais a
desconhecida Astanga Yoga.
Esta modalidade de yoga – conta Hermógenes – foi
codificada pelo sábio Patanjali num manual chamado Yoga
Sutra, dividido em quatro capítulos que se baseiam nos
conhecimentos que yogues transmitiam oralmente de geração à
geração. Ela não comete o equivoco que muitas outras
correntes propõem – o de atingir a meta suprema sem
respeitar, acima de tudo, a ética de comportamento. “Primeiro
a ética, depois a técnica”, dizem os verdadeiros mestres. A
seguir, algumas de seus mandamentos fundamentais:
Ahimsa
É a meta – todos os esforços devem ser feitos,
mantendo-se sempre a meta da purificação pessoal. Pode ser
sintetizado como “jamais ferir”.
Yama
É o segundo preceito, o de “jamais mentir”. Quando
o yogue tem a alegria de comunicar o que sabe, e ao mesmo
tempo possui a humildade de não tentar ensinar o que não
sabe, ele está cumprindo este preceito. Muitas vezes,
entretanto, ele se vê diante de certas verdades que podem
provocar ferimentos e sofrimento no próximo. Neste caso, o
mandamento de “jamais ferir” tem prioridade, e ele deve
prevalecer sobre o “jamais mentir”. Ou seja: se um assassino
lhe perguntar onde está sua vítima, e você lhe der uma
direção falsa, está sacrificando a verdade, mas valorizando o
amor ao próximo.
Asteya
O terceiro preceito significa “não se aproprie do
que não é seu.” Não se trata apenas de roubos materiais, mas
de coisas sutis como amor, falta de caridade, lucros
excessivos que provocam um mal-estar social.
Paulo Coelho

Brahmacharya
A compreensão do sexo. O sexo não é o problema, mas
o pecado consiste na aberração e a degradação de uma
atividade tão natural e tão nobre, que foi colocada na Terra
como a única maneira de perpetuar a criação Divina. Patanjali
diria: tendo o amor por objetivo, não empobreça o sexo, não
fira a dignidade do seu companheiro, mas se relacione com ele
através de um amor que leva a Deus.
Aparigraha
O quinto preceito é “não inveje”. A inveja produz o
desamor, a violencia, a crueldade. O invejoso é aquele que,
ao invés de tentar melhorar na vida, quer que todos os outros
piorem. Com isso, termina voltando toda esta energia negativa
para si mesmo.

Hermógenes diz que as pessoas mentalmente sadias


não agridem, e o primeiro mandamento da Astanta Yoga é
naturalmente respeitado por todos aqueles que estão de bem
com a vida. O Dr. R. H. Singh afirma: “o crime não é uma
condição natural do ser humano, mas uma reação à frustração.”
Sejamos éticos,e ninguém vai se sentir frustrado ou
diminuido. Só assim a não-violência poderá finalmente vencer.

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