Você está na página 1de 2

O MENINO CORREDOR O menino passa pela rua, pulando do meio-fio rua e desta ao meio-fio.

. Vez em quando pra, olha para cima e sorri faceiro ao cu. Em um ponto de nibus, senta e, enquanto descansa, observando as pessoas chegando e partindo, pergunta as horas e sai no pinote. Onze horas. Se suas pernas no o decepcionarem, ainda conseguir pegar as sobras do restaurante da escola perto de sua casa. Corre, mas como corre o menino. Como sua o menino. Soa a campainha na ltima esquina. Escora-se no poste em frente ao porto de entrada da escola e espera sua menina. Quer convid-la para empinar pipa. Ser que ele topa? Si ela aceitar, v lavar o carro do tio da sapataria e comprar um pirulito pra ela Sorria no canto da boca o menino, sem compenetrado no porto. tarde, tem que ir pra casa ver se a me conseguiu o jantar. Corre, corre o moleque. Corre rpido para no se atrasar. P-de-moleque, sujo e rachado de asfalto queimar, pisa no barro mido da construo aos fundos, entra pelo quintal, sorrateiro e ligeiro. Espanta uma dupla de ces do balde carunchado para pescar algum volume dgua no poo que mantm a vida da famlia, uma fonte vitalcia. Tomou banho num vulto e j se mirava na penteadeira quando escutou uma voz macia e espinhosa. Sua me o convocava para dividir o po de milho que o moo da padaria tinha lhe agraciado. Mame, porque ele traz po pra gente e no fica pra jantar? T morrendo de fome. Posso ir brincar depois? Mame, gosto-como-gosta da senhora e da mesa de tbua mal serrada corria para a penteadeira para passar-se colnia de ervas comprada na feira, tomava outro banho. O menino desce os dois degraus da porta que davam para a rua de piarra. Tchau, mezinha, j volto! E enquanto se vira novamente para a rua, j espicha um dos olhos para o brilho da pracinha, tentando avistar a estrela mais brilhante da noite. Cad a menina? Ela fica to linda de uniforme, mas aquele vestido amarelo faz seus olhos brilharem tanto Enfim a avista, corre e rodopia. Rodopia em seu sonho ao redor da menina, como em um carrossel, rodopiava em pequenos trotes flutuantes, tentando disfarar o friozinho gostoso na barriga. Ai, que friozinho. Menina bonita! Sai menino. Sai de fininho. Corre, corre que meu pai no gosta de pobrezinho.

RODRIGO RIBEIRO RAMOS r.ribeiroramos@uol.com.br

Você também pode gostar