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são de responsabilidade exclusiva dos autores, sendo estes últimos responsáveis pela revisão e
conteúdo de suas produções; É vedado o direito de qualquer cobrança pela reprodução desta
edição.
Periodicidade: Trimestral
CAPA:
Jorge Elô (http://aventurasdavidacomum.blogspot.com/)
Título: O Edredon rosa (2011)
80 x 50 cm, óleo s/ tela,
compõe a exposição Desfragmentação do feminino, com data a definir.
Editores:
Bruno Rafael de Albuquerque Gaudêncio
gaudencio_bruno@yahoo.com.br / @BrunoGaudencio
800
R454 Revista Blecaute: uma revista de Literatura e Artes, ano. 3, n. 10 (Dez. 2011) –
Campina Grande, 2011.
70 p.: il. color.
| Conto
FIM DE CARREIRA
I - Curriculum Vitae
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II – Entre vistas
Na segunda entrevista:
...
— O que o traz aqui? – o olhar, inquisidor.
— A vontade de fazer justiça e lutar pelo direito.
— Não somos uma entidade filantrópica... – com malícia.
— Quero vencer, dar o melhor de mim e ser um bom advogado!
...
— Não espere facilidades. Se quiser vencer, terá que sofrer no princípio!
— Estou pronto!
— Trabalho árduo. Dedicação exclusiva. Disposto? – energicamente.
— A postos!
...
— Na segunda, às oito. – enfim, o sorriso.
Comemoração:
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às oito e meia, o batente: agenda e-mail, cliente. No começo... mas depois... uma
amante! Dei-lhe o troco... um não, dois pares... bem dado... uma coisa apenas: preservar os
meus filhos... e a pensão? Pelo menos... Depois do sufoco, o colega consola: é assim no
princípio, divórcio, reclamação trabalhista, tenha paciência e trabalhe com afinco, o dia das
grandes causas chegará. Por enquanto, chegam as dez horas: audiência na vara do trabalho.
Conheço sim senhor... nunca vi não senhor... sim, sempre por lá... não, uma única vez... sim
senhor... não senhor... sentença na quinta... segunda audiência... vi nunca vi trabalhou não
trabalhou com a mais absoluta certeza alguém mente – o martelo: parte o dia ao meio.
Almoço: a fila, bandeja, a mesa e a conta. Cansahhhh...
À tarde, a petição: excelentíssimo senhor doutor juiz, a parte vem expor e requerer...
dos fatos... dos fundamentos... pede e aguarda deferimento. Duas e meia: audiência. E ainda
falta o recurso, o prazo no fim. No fórum: aperto de mão do ilustre causídico, aceno festivo do
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insigne jurista, boas tardes de suas excelências – o meritíssimo juiz, o eminente parquet. E as
testemunhas: sem título nem crédito. A prostituta das provas! – bem dizia o professor
Amorim. Sim... não... sei... não sei... Quatro e – quatro da tarde! Corredor afora, escadas
abaixo. Encontro corrido:
— Meu Desembargador!
— Quero vê-lo Ministro!
De volta a computador nas costas, recurso e prazo. Excelentíssimo Senhor
Desembargador Presidente, Egrégio Tribunal, Colenda Turma, Ínclitos Magistrados da
Corte Suprema do Estado, data maxima venia, o doutíssimo juiz monocrático, a preclara
sentença et coetera. Diante do exposto: pede reforma. Ao fórum, às pressas, o prazo, mais
rápido, o proto(Ave, Maria...)colo. No escritório, ainda à espera, papéis. Autos até: oito horas!
E o auto: movendo-se para casa, banho, mesecama.
Variações sobre o tema da segunda. Na terça, sem mar: escritório mais cedo, audiência
às nove; petições, clientes, recursos e o prazo. A terça à tarde contra o relógio. Quando deu por
si, seis horas! À noite o sono de encontro à cama. Insônia: para um lado, para o outro, copo
com água, água no bojo, um carro rasga a rua e freia bruscamente na esquina, os olhos abertos
prosseguem sem freio, para um lado, para o outro, o dia será cansativo, para um lado, para o
outro, um pio na esquina – do sono, afinal.
Trimmm, trimmm, trimmm: quarta-feira. Seis hohhhh... mais um pouco: soneca.
Outra soneca: um pouco. Agora, sem jeito. Café mais café: — Que é pra ver se fico aceso! E
rua. Manhã difícil: Hipnos declara guerra a Têmis, acerta-lhe um feixe de luz dentro do olho e
a balança oscila acima dos autos. Puta enxaqueca! Entre os colegas, compreensão: para casa,
descanso. No superego, controle: persistência, superação. O prazo escorre, a testa lateja, as
letras se espremem na tela. Tudo está turvo e, logo mais, consumado. Um comprimido, mais
uma página, menos enjôo, outro argumento, ainda a dor, quase no fim, audiências à tarde:
pede deferimento. Que saco! Impressão...
— Joãozinho, você está um saco surrado. Almoce em casa e só volte amanhã.
— Mas...
— É uma ordem!
Enfim, nos braços de Morfeu, Fobetor e Fântaso...
No dia seguinte, café-conversa da manhã com a mãe:
— Meu filho, pegue mais leve!
— Se eu pegar leve agora, a vida pegará pesado comigo amanhã!
— Mantenha o foco, mas aproveite um pouco...
— Haverá tempo suficiente depois...
— Bom trabalho!
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IV – Pit stop
V – Fim de carreira
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Thiago Lia Fook (Paraíba) – Escritor. Publicou: Poesia Natimorta e outros poemas (Bagagem, 2010).
Blog: http://thiagoliafook.blogspot.com/
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