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herona

os outros homens bebem vinho, cerveja. eu bebo vida. vejo-a em todas as suas faces, que irrompem mltiplas ao mesmo tempo numa cascata que enlouqueceria esses mais fracos, por saturar-lhes a percepo com cores, gritos, eletricidade demais para os nervos em rede, eu sorvo vida. para experimentar seu nctar todo aucarado (que ao toque era como o alcauz e a laranja e o anis) e t-los o nctar, o sabor, tudo , oferecer a voc. posso dar vida. como voc me deu. ningum mais pode. eu sei: s esse meu contato com a vida com que te quero presentear traz felicidade. verdadeira. uma que dure para alm dos sonhos vulgares da criana, das inflamaes glandulares e das inundaes hormonais que adolescentes chamam com a palavra de letra a (que no escrevo aqui para no manch-la), da constituio da famlia envelhecida, envilecida, que faz rugas no rosto das mulheres e rusgas no esprito do corpo, fundas como talhos nos troncos nos seringais das matas escuras, da amargura do caf de todas as manhs pesadas rotinescas sem roteiro (, desprojetadas), que mesmo todo o acar das antilhas secado do suor dos negros que o fizeram branco no conseguiria dissipar. porque eu sei o caminho at o contato ntimo, obsceno, com a realidade, sei o caminho que faz passar pelas pernas da realidade e as abre para o gozo. poucos sabem. no quero ensinar a ningum, s a voc que preciso mostrar. mais ningum. voc overdose de verdade, concentrada demais para que qualquer outro aguente. precisam diluir. esmorecer. no suportam. pesa na mo fechada sobre a seringa, esguicha da agulha, arde no brao, corre nas artrias arranhando-as, rasgando a pele por onde passa, fendendo a carne vermelha por inteiro que cai como as ptalas da flor violentada, at o crebro, e a alaga a viso com o pretume dos olhos do cego que enxerga o que no quer e mais o brilho das estrelas que cintilam ritmadas lentas em seu ritmo csmico no cu noturno das plpebras, e estende no cho os tantos quilmetros de nervura at comear a desfaz-los, e formar de novo, com mais ordem, mas com outra ordem, a que voc quis criar.

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