Você está na página 1de 7

A Guerra do Vietnã

Introdução
A Guerra do Vietnã foi o mais longo conflito militar que ocorreu depois da II Guerra Mundial.
Estendeu-se essa guerra em dois períodos distintos. No primeiro deles, as forças nacionalistas
vietnamitas, sob orientação do Viet-minh (a liga vietnamita), lutaram contra os colonialistas
franceses, entre 1946 a 1954. No segundo, uma frente de nacionalistas e comunistas - o
Vietcong - enfrentaram as tropas de intervenção norte-americanas, entre 1964 e 1975. Com
um pequeno intervalo entre os finais dos anos 50 e início dos 60, a guerra durou quase 20
anos.

Na verdade, devido a sua irradiação, seria melhor dizer Guerra da Indochina, do qual o Vietnã
é uma das partes. A Indochina, região assim chamada por ser uma zona intermediária entre a
Índia e a China, ocupa uma península do sudoeste asiático e está dividida entre o Vietnã
(subdividido em Tonquim e Conchinchina), o Laos e o reino do Camboja. Toda essa região
caiu sob domínio do colonialismo francês entre 1883-5 e assim ficou até a ocupação japonesa,
entre 1941-45. Com a queda da França em 1940, formou-se o governo colaboracionista de
Vichy, aliado dos nazistas. Em vista disso os japoneses permitiram uma certa autonomia
administrativa feita por franceses. Mas em 1945, com a derrota do Japão, os franceses
tentaram recolonizar toda a Indochina.
Ho Chi Minh
Ho Chi Minh ("aquele que ilumina"), nasceu em 1890 numa pequena
aldeia vietnamita, filho de um professor rural. Tornou-se um dos mais
importantes e lendários líderes nacionalistas e revolucionários do mundo
do após-guerra. Viajou muito jovem como marinheiro e tornou-se
socialista quando viveu em Paris, entre 1917 e 1923. Quando ocorreu as
Conferências de Versalhes, em 1919, para fixar um novo mapa mundial, o
jovem Ho Chi Minh (então chamado de Nguyen Ai quoc, o "patriota"),
solicitou aos negociadores europeus que fosse dado ao Vietnã um estatuto
autônomo. Ninguém lhe deu resposta, mas Ho Chi Minh tornou-se um
herói para o seu povo.

Em 1930 ele fundou o Partido Comunista Indochinês e seu sucessor, o


Viet-mihn (Liga da Independência do Vietnã), em 1941, para resistir à ocupação japonesa. Foi
preso na China por atividade subversiva e escreveu na prisão os "Diários da Prisão", em
chinês clássico, uma série de poemas curtos, onde enalteceu a luta pela independência.

Com seus companheiros mais próximos, Pahm Van Dong e Vo Nguyen Giap, lançou-se numa
guerra de guerrilhas contra os japoneses, obedecendo à estratégia de Mao Tse Tung de uma
"guerra de longa duração". Finalmente, em 2 de setembro de 1945, eles ocupam Hanói (a
capital do norte) e Ho Chi Minh proclamou a independência do Vietnã. Mas os franceses não
aceitaram. O Gen. Leclerc, a mando do Gen. De Gaulle, recebeu ordesn de reconquistar todo
o norte do país, nas mãos dos comunistas de Ho Chi Minh. Isso irá jogar a França na sua
primeira guerra colonial depois de 1945, levando-a a derrota na batalha de Diem Biem Phu,
em 1954, quando as forças do Viet-minh, comandadas por Giap, cercam e levam os franceses
à rendição. Depois de 8 anos, encerrou-se assim a primeira Guerra da Indochina.
A Conferência de Genebra
Em Genebra, na Suíça, os franceses acertaram com os vietnamitas um acordo que previa:
1. o Vietnã seria momentaneamente dividido em duas partes, a partir do paralelo 17, no
Norte, sob o controle de Ho Chi Minh e no Sul sob o domínio do imperador Bao Dai,
um títere dos franceses;

2. haveria entre eles uma Zona Desmilitarizada (ZDM);

3. seriam realizadas em 1956, sob supervisão internacional, eleições livres para unificar o
país. Os Estados Unidos presentes no encontro não assinaram o acordo.
4. A ditadura de Diem
5. Entrementes no Sul, assumia a administração em nome do imperador, Ngo Dinh
Diem, um líder católico, que em pouco tempo tornou-se o ditador do Vietnã do Sul.
Ao invés de realizar as eleições em 1956, como previa o acordo de Genebra, Diem
proclamou a independência do Sul e cancelou a votação. Os americanos apoiaram
Diem porque sabiam que as eleições seriam vencidas pelos nacionalistas e pelos
comunistas de Ho Chi Minh. Em 1954, o Gen. Eisenhower, presidente dos Estados
Unidos, explicou a posição americana na região pela defesa da Teoria de Dominó: "Se
vocês porem uma série de peças de dominó em fila e empurrarem a primeira, logo
acabará caindo até a última... se permitirmos que os comunistas conquistem o Vietnã
corre-se o risco de se provocar uma reação em cadeia e todo os estados da Ásia
Oriental tornar-se-ão comunistas um após o outro."

A partir de então Diem conquistou a colaboração aberta dos EUA, primeiro em armas
e dinheiro e depois em instrutores militares. Diem reprimiu as seitas sul-vietnamitas,
indispôs-se com os budistas e perseguiu violentamente os nacionalistas e comunistas,
além de conviver, como bom déspota oriental, com uma administração extremamente
nepótica e corrupta. Em 1956, para solidificar ainda mais o projeto de contenção ao
comunismo, especialmente contra a China, o secretário John Foster Dulles criou, em
Manilla, a OTASE (Organização do Tratado do Sudeste Asiático), para servir de
suporte ao Vietnã do Sul.
6. A segunda guerra da Indochina
A Guerra Civil e a intervenção americana
7. Com as perseguições desencadeadas pela ditadura Diem, comunistas e nacionalista
formaram, em 1960, uma Frente de Libertação Nacional (FLN), mais conhecida como
Vietcong, e lançaram-se numa guerra de guerrilhas contra o governo sul-vietnamita.
Em pouco tempo o ditador Diem mostrou-se incapaz de por si só vencer seus
adversários. O presidente Kennedy envia então os primeiros "conselheiros militares"
que, depois de sua morte em 1963, serão substituídos por combatentes. Seu sucessor, o
presidente L.Johnson aumenta a escalada de guerra, depois do incidente do Golfo de
Tonquim, em setembro de 1964. Esse incidente provou-se posteriormente ter sido
forjado pelo Pentágono para justificar a intervenção. Um navio americano teria sido
atacado por lanchas vietnamitas em águas internacionais (na verdade era o mar
territorial norte-vietnamita), quando patrulhava no Golfo de Tonquim. Assim os norte-
americanos consideraram esse episódio como um ato de guerra contra eles, fazendo
com que o Congresso aprovasse a Resolução do Golfo de Tonquim, que autorizou o
presidente a ampliar o envolvimento americano na região.
8. Aumento da escalada americana no Vietnã
(em soldados)
9. Em represália a um ataque norte-vietnamita e vietcong a base de Pleiku e Qui Nhon o
presidente Johnson ordena o bombardeios intenso do Vietnã do Norte. Mas as
tentativas de separar o Vietcong das suas bases rurais fracasssa, mesmo com a adoção
das chamadas "aldeias estratégicas" que na verdade eram pequenas prisões onde os
camponeses deveriam ficar confinados.
10. A reação contra a guerra e a contra-cultura
11. A participação crescente dos EUA na Guerra e a brutalidade e inutilidade dos
bombardeios aéreos - inclusive com bombas napalm - fez com que surgisse na américa
um forte movimento contra a guerra. Começou num bairro de São Francisco, na
Califórnia, o Haight - Aschbury, com "as crianças das flores" (flower children),
quando gente jovem lançou o movimento "paz e amor" (peace and love), rejeitando o
projeto da Grande Sociedade do pres. Johnson.

A partir de então tomou forma a movimento da contra-cultura - chamado de


movimento hippy - que teve enorme influência nos costumes da geração dos anos 60,
irradiando-se pelo mundo todo. Se a sociedade americana era capaz de cometer um
crime daquele vulto, atacando uma pobre sociedade camponesa no sudeste asiático, ela
deveria ser rejeitada. Se o americano médio cortava o cabelo rente como um militar, a
contracultura estimulou o cabelo despenteado, cumprido, e de cara com barba. Se o
americano médio tomava banho, opunham-se a ele andando sujos. Se aqueles
andavam de terno e gravata, aboliram-na pelo brim e pela sandália. Repudiaram
também a sociedade urbana e industrial, propondo o comunitarismo rural e a atividade
artesanal, vivendo da fabricação de pequenas peças, de anéis e colares. Se o tabaco e o
álcool era a marca registrada da sociedade tradicional, aderiram à maconha e aos
ácidos e as anfetaminas. Foram os grandes responsáveis pela prática do amor livre e
pela abolição do casamento convencional e pela cultura do rock. Seu apogeu deu-se
com o festival de Woodstock realizado no Estado de N.York, em 1969.

A revolta instalou-se nos Campi Universitários, particularmente em Berkeley e em


Kent onde vários jovens morrem num conflito com a Guarda Nacional. Praticamente
toda a grande imprensa também se opôs ao envolvimento. Surgiu entre os negros os
Panteras Negras (The Black Panthers) um expressivo grupo revolucionário que
pregava a guerra contra o mundo branco americano da mesma forma que os vietcongs.
Passeatas e manifestações ocorriam em toda a América. Milhares de jovens negaram-
se, pela primeira vez na história do país, a servir no exército, desertando ou fugindo
para o exterior.

Esse clima espalhou-se para outros continentes e, em 1968, em março, eclodiu a


grande rebelião estudantil no Brasil contra o regime militar, implantado em 1964, e em
maio, na França, a revolta universitária contra o governo do Gen. de Gaulle. Outras
ainda ocorreram no México e na Alemanha e Itália. O filósofo marxista Herbert
Marcuse afirmou que a revolução seria feita doravante pelos estudantes e outros
grupos não assimilados pela sociedade de consumo conservadora.
12. A ofensiva do Ano Tet e o desengajamento
13. Em 30 de janeiro de 1968, os vietcongs fizeram uma surpreendente ofensiva - a
ofensiva do Ano Tet (o ano lunar chinês) - sobre 36 cidades sul-vietnamitas, ocupando
inclusive a embaixada americana em Saigon. Morreram 33 mil vietcongs nessa
operação arriscada, pois expôs quase todos os quadros revolucionários, mas foi uma
tremenda vitória política. O gen. Wetsmoreland, que havia dito que "já podia ver a luz
no fim do túnel", predizendo uma vitória americana para breve, foi destituído, e o
presidente Johnson foi obrigado a aceitar negociações, a serem realizadas em Paris,
além de anunciar sua desistência de tentar a reeleição. Para a opinião pública
americana tratava-se agora de sair daquela guerra de qualquer maneira. O novo
presidente eleito, Richard Nixon, assumiu o compromisso de "trazer nossos rapazes de
volta", fazendo com que lentamente as tropas americanas se desengajassem do
conflito. O problema passou a ser de que maneira os Estados Unidos poderiam obter
uma "retirada honrosa" e manter ainda o seu aliado, o governo sul-vietnamita.

Desde 1963, quando os militares sul-vietnamitas, apoiados pelos americanos,


derrubaram e mataram o ditador Diem (aquela altura extremamente impopular), os
sul-vietnamitas não conseguiram mais preencher o vácuo de sua liderança. Uma série
de outros militares assumiram a chefia do governo transitoriamente enquanto os
combates mais e mais eram tarefa dos americanos. Nixon passou a reverter isso,
fazendo com que os sul-vietnamitas voltassem a ser encarregados das operações.
Chamou-se isso de "vietnamização" da guerra. Imaginou que abastecendo-os o
suficiente de dinheiro e armas eles poderiam lutar sozinhos contra o vietcong.
Transformou o presidente Van Thieu num simples títere desse projeto. Enquanto isso
as negociações em Paris marcavam passo. Em 1970, Nixon ordenou o ataque a célebre
trilha Ho Chi Minh que passava pelo Laos e Camboja e que servia como estrada de
abastecimento do vietcong. Estimulou também um golpe militar contra o neutralista
príncipe N.Sianouk do Camboja, o que provocou uma guerra civil naquele país entre
os militares direitistas e os guerrilheiros do Khmer Vermelho (Khmer Rouge)
liderados por Pol Pot.
14. A derrota e a unificação
15. Depois de imobilizarem militarmente as forças americanas em várias situações,
levando-as a serem retiradas do conflito, os norte-vietnamitas de Giap, juntamente
com os vietcongs, prepararam-se para a ofensiva final. Deixaram de lado a guerra de
guerrilhas e passaram a concentrar suas forças para um ataque em massa.
Desmoralizado, o exército sul-vietnamita começou a dissolver-se. Haviam chegado a
600 mil soldados, mas reduziu-se apenas a um punhado de combatentes. Em dezembro
de 1974, os nortistas ocupam Phuoc Binh, a 100 quilômetros de Saigon. Em janeiro de
1975 começou o ataque final. O pânico alcança os sul-vietnamitas que fogem para as
cercanias da capital. O presidente Thieu embarca para o exílio e os americanos retiram
o resto do seu pessoal e grupos de colaboradores nativos. Finalmente, no dia 30 de
abril, as tropas nortistas ocupam Saigon e a rebatizam como Ho Chi Minh, em
homenagem ao líder falecido em 1969. A unificação nacional foi formalizada em 2 de
julho de 1976 com o nome de República Socialista do Vietnã, 31 anos depois de ter
sido anunciada. Mais de um milhão de vietnamitas perecem enquanto que 47 mil
mortos e 313 mil feridos ocorreram pelo lado americano, a um custo de US$ 200
bilhões.
16. Consequências da guerra
17. O Vietnã foi o país mais vitimado por bombardeios aéreos no século XX. Caíram
sobre suas cidades, terras e florestas, mais toneladas de bombas do que as que foram
lançadas na II Guerra Mundial. Para tentar desalojar os guerrilheiros das matas foram
utilizados violentos herbicidas - o agente laranja - que dizimou milhões de árvores e
envenenou os rios e lagos do país. Milhares de pessoas ficaram mutiladas pelas
queimaduras provocadas pelas bombas de napalm e suas terras ficaram imprestáveis
para a lavoura. Por outro lado, aqueles que não aceitaram viver no regime comunista
fugiram em precárias condições, tornaram-se boat people, navegando pelo Mar da
China em busca de um abrigo ou vivendo em campos de refugiados em países
vizinhos. O Vietnã regrediu economicamente a um nível de antes da II Guerra
Mundial. Os Estados Unidos por sua vez saíram moralmente dilacerados, tendo que
amargar a primeira derrota militar da sua história. Suas instituições - a CIA e o
Pentágono - foram duramente criticadas e um de seus presidentes, Richard Nixon, foi
obrigado a renunciar em 1974, depois do escândalo de Watergate. Nunca mais o
establishment americano voltou a ganhar a integral confiança dos cidadãos.
1960 900
1962 11.000
1963 50.000
1965 180.000
1967 389.000
1969 540.000
18. Em represália a um ataque norte-vietnamita e vietcong a base de Pleiku e Qui Nhon o
presidente Johnson ordena o bombardeios intenso do Vietnã do Norte. Mas as
tentativas de separar o Vietcong das suas bases rurais fracasssa, mesmo com a adoção
das chamadas "aldeias estratégicas" que na verdade eram pequenas prisões onde os
camponeses deveriam ficar confinados.
19. A reação contra a guerra e a contra-cultura
20. A participação crescente dos EUA na Guerra e a brutalidade e inutilidade dos
bombardeios aéreos - inclusive com bombas napalm - fez com que surgisse na américa
um forte movimento contra a guerra. Começou num bairro de São Francisco, na
Califórnia, o Haight - Aschbury, com "as crianças das flores" (flower children),
quando gente jovem lançou o movimento "paz e amor" (peace and love), rejeitando o
projeto da Grande Sociedade do pres. Johnson.

A partir de então tomou forma a movimento da contra-cultura - chamado de


movimento hippy - que teve enorme influência nos costumes da geração dos anos 60,
irradiando-se pelo mundo todo. Se a sociedade americana era capaz de cometer um
crime daquele vulto, atacando uma pobre sociedade camponesa no sudeste asiático, ela
deveria ser rejeitada. Se o americano médio cortava o cabelo rente como um militar, a
contracultura estimulou o cabelo despenteado, cumprido, e de cara com barba. Se o
americano médio tomava banho, opunham-se a ele andando sujos. Se aqueles
andavam de terno e gravata, aboliram-na pelo brim e pela sandália. Repudiaram
também a sociedade urbana e industrial, propondo o comunitarismo rural e a atividade
artesanal, vivendo da fabricação de pequenas peças, de anéis e colares. Se o tabaco e o
álcool era a marca registrada da sociedade tradicional, aderiram à maconha e aos
ácidos e as anfetaminas. Foram os grandes responsáveis pela prática do amor livre e
pela abolição do casamento convencional e pela cultura do rock. Seu apogeu deu-se
com o festival de Woodstock realizado no Estado de N.York, em 1969.

A revolta instalou-se nos Campi Universitários, particularmente em Berkeley e em


Kent onde vários jovens morrem num conflito com a Guarda Nacional. Praticamente
toda a grande imprensa também se opôs ao envolvimento. Surgiu entre os negros os
Panteras Negras (The Black Panthers) um expressivo grupo revolucionário que
pregava a guerra contra o mundo branco americano da mesma forma que os vietcongs.
Passeatas e manifestações ocorriam em toda a América. Milhares de jovens negaram-
se, pela primeira vez na história do país, a servir no exército, desertando ou fugindo
para o exterior.

Esse clima espalhou-se para outros continentes e, em 1968, em março, eclodiu a


grande rebelião estudantil no Brasil contra o regime militar, implantado em 1964, e em
maio, na França, a revolta universitária contra o governo do Gen. de Gaulle. Outras
ainda ocorreram no México e na Alemanha e Itália. O filósofo marxista Herbert
Marcuse afirmou que a revolução seria feita doravante pelos estudantes e outros
grupos não assimilados pela sociedade de consumo conservadora.
21. A ofensiva do Ano Tet e o desengajamento
22. Em 30 de janeiro de 1968, os vietcongs fizeram uma surpreendente ofensiva - a
ofensiva do Ano Tet (o ano lunar chinês) - sobre 36 cidades sul-vietnamitas, ocupando
inclusive a embaixada americana em Saigon. Morreram 33 mil vietcongs nessa
operação arriscada, pois expôs quase todos os quadros revolucionários, mas foi uma
tremenda vitória política. O gen. Wetsmoreland, que havia dito que "já podia ver a luz
no fim do túnel", predizendo uma vitória americana para breve, foi destituído, e o
presidente Johnson foi obrigado a aceitar negociações, a serem realizadas em Paris,
além de anunciar sua desistência de tentar a reeleição. Para a opinião pública
americana tratava-se agora de sair daquela guerra de qualquer maneira. O novo
presidente eleito, Richard Nixon, assumiu o compromisso de "trazer nossos rapazes de
volta", fazendo com que lentamente as tropas americanas se desengajassem do
conflito. O problema passou a ser de que maneira os Estados Unidos poderiam obter
uma "retirada honrosa" e manter ainda o seu aliado, o governo sul-vietnamita.

Desde 1963, quando os militares sul-vietnamitas, apoiados pelos americanos,


derrubaram e mataram o ditador Diem (aquela altura extremamente impopular), os
sul-vietnamitas não conseguiram mais preencher o vácuo de sua liderança. Uma série
de outros militares assumiram a chefia do governo transitoriamente enquanto os
combates mais e mais eram tarefa dos americanos. Nixon passou a reverter isso,
fazendo com que os sul-vietnamitas voltassem a ser encarregados das operações.
Chamou-se isso de "vietnamização" da guerra. Imaginou que abastecendo-os o
suficiente de dinheiro e armas eles poderiam lutar sozinhos contra o vietcong.
Transformou o presidente Van Thieu num simples títere desse projeto. Enquanto isso
as negociações em Paris marcavam passo. Em 1970, Nixon ordenou o ataque a célebre
trilha Ho Chi Minh que passava pelo Laos e Camboja e que servia como estrada de
abastecimento do vietcong. Estimulou também um golpe militar contra o neutralista
príncipe N.Sianouk do Camboja, o que provocou uma guerra civil naquele país entre
os militares direitistas e os guerrilheiros do Khmer Vermelho (Khmer Rouge)
liderados por Pol Pot.
23. A derrota e a unificação
24. Depois de imobilizarem militarmente as forças americanas em várias situações,
levando-as a serem retiradas do conflito, os norte-vietnamitas de Giap, juntamente
com os vietcongs, prepararam-se para a ofensiva final. Deixaram de lado a guerra de
guerrilhas e passaram a concentrar suas forças para um ataque em massa.
Desmoralizado, o exército sul-vietnamita começou a dissolver-se. Haviam chegado a
600 mil soldados, mas reduziu-se apenas a um punhado de combatentes. Em dezembro
de 1974, os nortistas ocupam Phuoc Binh, a 100 quilômetros de Saigon. Em janeiro de
1975 começou o ataque final. O pânico alcança os sul-vietnamitas que fogem para as
cercanias da capital. O presidente Thieu embarca para o exílio e os americanos retiram
o resto do seu pessoal e grupos de colaboradores nativos. Finalmente, no dia 30 de
abril, as tropas nortistas ocupam Saigon e a rebatizam como Ho Chi Minh, em
homenagem ao líder falecido em 1969. A unificação nacional foi formalizada em 2 de
julho de 1976 com o nome de República Socialista do Vietnã, 31 anos depois de ter
sido anunciada. Mais de um milhão de vietnamitas perecem enquanto que 47 mil
mortos e 313 mil feridos ocorreram pelo lado americano, a um custo de US$ 200
bilhões.
25. Consequências da guerra
26. O Vietnã foi o país mais vitimado por bombardeios aéreos no século XX. Caíram
sobre suas cidades, terras e florestas, mais toneladas de bombas do que as que foram
lançadas na II Guerra Mundial. Para tentar desalojar os guerrilheiros das matas foram
utilizados violentos herbicidas - o agente laranja - que dizimou milhões de árvores e
envenenou os rios e lagos do país. Milhares de pessoas ficaram mutiladas pelas
queimaduras provocadas pelas bombas de napalm e suas terras ficaram imprestáveis
para a lavoura. Por outro lado, aqueles que não aceitaram viver no regime comunista
fugiram em precárias condições, tornaram-se boat people, navegando pelo Mar da
China em busca de um abrigo ou vivendo em campos de refugiados em países
vizinhos. O Vietnã regrediu economicamente a um nível de antes da II Guerra
Mundial. Os Estados Unidos por sua vez saíram moralmente dilacerados, tendo que
amargar a primeira derrota militar da sua história. Suas instituições - a CIA e o
Pentágono - foram duramente criticadas e um de seus presidentes, Richard Nixon, foi
obrigado a renunciar em 1974, depois do escândalo de Watergate. Nunca mais o
establishment americano voltou a ganhar a integral confiança dos cidadãos.

Você também pode gostar