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2º Juízo
Conclusão a 07.11.2008
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Processo comum colectivo nº 49/00.3JABRG
RELATÓRIO
Acordam os juízes que compõem este tribunal colectivo do 2º Juízo do Tribunal
Judicial da Comarca de Felgueiras:
Em processo comum e perante tribunal colectivo, o MP acusou e a juiz de
instrução criminal pronunciou:
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
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Imputando:
à arguida Maria de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida de Sousa Oliveira
- com as condutas descritas no capítulo 1º, a prática de 5 (cinco) crimes de
participação económica em negócio, p. e p. pelo art. 23º, nº 1, da Lei n.º 34/87, de
16/07;
- com as condutas descritas no capítulo 2º, a prática de 6 (seis) crimes de
corrupção passiva para acto ilícito, p. e p. pelo art. 16º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16/07;
- com as condutas descritas nos capítulos 5º, 6º e 11º, a prática de 4 (quatro)
crimes de abuso de poderes, p. e p. pelo art. 26º, nºs 1 e 2, da Lei nº 34/87, de 16/07;
- com as condutas descritas nos capítulos 4º e 5º, a prática de 3 (três) crimes de
prevaricação, p. e p. pelo art. 11º, da Lei nº 34/87, de 16/07;
- com as condutas descritas nos capítulos 7º e 8º, a prática de 2 (dois) crimes de
peculato, p. e p. pelo art. 20º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16/07;
- com as condutas descritas no capítulo 9º, a prática de 1 (um) crime de peculato,
sob a forma continuada, p. e p. pelas disposições conjugadas dos arts. 30º, nº 2, do
Código Penal e 20º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16/07; e
- com as condutas descritas no capítulo 10º, a prática de 2 (dois) crimes de
peculato de uso, sob a forma continuada, p. e p. pelas disposições conjugadas dos arts.
30º, nº 2, do Código Penal e. 21º, nºs 1 e 2 da Lei nº 34/87, de 16/07;
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tudo nos termos dos factos constantes do despacho de pronuncia de fls 10286 e
ss., cujo teor aqui se dá por reproduzido.
O MP, em representação do Mnicípio de Felgueiras, deduziu pedido de
indemnização cível a fls. 6214 e ss., pedindo a condenação:
- dos arguidos Júlio Faria e Fátima Felgueiras a pagar solidariamente a
quantia global de 157.069.761$00 (ou 785.349,50 euros), como reparação pelos
prejuízos sofridos com as condutas descritas nos itens 1º a 7º do PIC em causa,
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acrescida dos juros de mora à taxa legal, contados desde a data de cada um dos
pagamentos em causa, custas e demais despesas legais;
- da arguida Fátima Felgueiras no pagamento à CMF da quantia de 680.380$00
(ou 3.393,72 euros), como reparação pelos prejuízos sofridos com as condutas descritas
nos itens 8º, 9º, 10º e 11º do PIC, acrescida dos juros de mora à taxa legal, contados
desde a data de cada um dos pagamentos em causa, custas e demais despesas legais;
- do arguido Barbieiri Cardoso no pagamento solidário com a arguida Fátima
Felgueiras à CMF da quantia de 118.750$00 (ou 592,32 euros), como reparação pelos
prejuízos sofridos com as condutas descritas nos itens nºs 10 e 15º do PIC, acrescida dos
juros de mora à taxa legal, contados desde a data de cada um dos pagamentos em causa,
custas e demais despesas legais.
A arguida Fátima Felgueiras apresentou contestação escrita, junta a fls 8935 e
ss. (arrolando igualmente testemunhas), reiterada a fls 11081 e ss., onde, em síntese,
nega a prática dos crimes que lhe são imputados.
No que respeita ao PIC deduzido, concluiu que, não tendo praticado qualquer
crime, não se constituiu na obrigação de indemnizar (cfr. a posição expressa no corpo da
primeira contestação apresentada e a posição expressa na contestação autónoma
deduzida relativamente ao PIC, junta a fls 11566).
O arguido Júlio Faria apresentou contestação escrita a fls 8759 e ss.,
reproduzida a fls 10923 e 11294 (arrolando igualmente testemunhas), suscitando a
questão prévia da concretização da acusação no que a si diz respeito; no mais, em
síntese, negou a prática dos crimes que lhe são imputados e invocou factos do seu
percurso de vida pessoal, donde resulta que é pessoa socialmente bem integrada.
No que respeita ao PIC deduzido, o arguido Júlio Faria suscitou a questão do
MP não poder, em representação da CMF, deduzir o PIC em causa, entendendo assim
que o município felgueirense não se acha devidamente representado em juízo; quanto ao
mais, impugna a matéria constante do PIC.
Os arguidos Vítor Borges e Carlos Marinho deduziram contestação escrita a
fls. 9051 e ss., reiterada a fls 10921 (onde também arrolaram testemunhas), chamando
de novo à colacção o facto de não serem titulares de cargos políticos (pelo que não lhes
pode ser feita a imputação dos crimes referidos na pronúncia) e negando em todo o caso
a prática dos crimes que lhes são imputados (impugnando factos e contextualizando de
forma diversa outros). Invocam ainda as respectivas condições sócio-económicas, donde
resulta que são pessoas socialmente bem integradas.
O arguido Barbieri Cardoso, por sua vez, apresentou contestação escrita a fls
8832 e ss., reiterada a fls 11067 e ss. (onde também arrolou testemunhas), tendo negado
a prática dos crimes que lhe são imputados, invocando além do mais desconhecer
qualquer esquema que visasse a obtenção de fundos destinados a financiar as
actividades partidárias do PS local e a custear despesas pessoais de outros arguidos.
Quanto ao PIC contra si deduzido, contestou-o a fls 8830 e ss. (que reiterou a fls
11386), pugnando pela sua absolvição.
Por seu turno, o arguido Gabriel Almeida apresentou também contestação a fls
8908 e ss., reiterada com ligeiras diferenças a fls 11389 e ss., onde arrolou testemunhas
e invocou desde logo a ofensa do caso julgado, pois é-lhe imputada uma conduta na
pronúncia quando da respectiva fundamentação resulta que pelo mesmo seria não
pronunciado; quanto ao mais, negou a prática de qualquer crime, tanto mais que só
entrou ao serviço da “Resin” em 01.09.97, sendo por isso alheio a qualquer plano
criminoso que porventura anteriormente tivesse sido acordado entre outros arguidos e a
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que, em todo o caso, não aderiu. Invoca ainda a sua boa conduta anterior e posterior aos
factos.
O arguido António Pereira Mesquita Carvalho deduziu também contestação
escrita, junta a fls 8918 e ss. e com ligeiras diferenças reiterada a fls 11401 e ss., onde
nega a prática do crime que lhe é imputado e invoca a sua boa conduta anterior e
posterior aos factos.
O arguido António José Leite Bragança da Cunha deduziu contestação
escrita a fls 8881 e ss., onde desde logo invoca a inconstitucionalidade do artº 16º, nº 1,
da Lei nº 34/87, de 17.07, por violação dos princípios da exigibilidade ou necessidade,
da proporcionalidade e da adequação, em face da circunstância de no respectivo tipo-
legal se cumular a pena de prisão com pena de multa, sendo certo que, sendo tal norma
inconstitucional (não podendo assim ser aplicada pelo Tribunal), não poderá igualmente
ser aplicada a Lei nº 108/2001, que alterou a Lei nº 34/87, sob pena de violação dos
princípios da não rectroactividade e da legalidade. Além disso, não tendo sido titular de
qualquer cargo político, não lhe pode ser imputado o crime referido na pronúncia no que
a si concerne; quanto ao mais, impugna os factos que lhe são imputados e invocou a sua
integridade e honestidade.
O arguido Guilherme da Silva Almeida, por seu turno, apresentou contestação
escrita a fls. 8866 e ss., reiterada a fls 10933 (tendo arrolado testemunhas), onde, em
síntese, nega a prática dos factos que lhe são imputados; mais invoca factos acerca da
sua vida pessoal, donde emerge que é pessoa socialmente integrada.
O arguido Joaquim Teixeira Pinto também apresentou contestação, junta a fls
8980 e ss. (onde arrolou testemunhas), na qual, em síntese, nega a prática do crime que
lhe é imputado na pronúncia.
O arguido José Manuel Pimenta da Silva deduziu contestação escrita e arrolou
testemunhas a fls 8723 e ss., reiterada a fls 11012 e ss., onde, em síntese, nega a prática
do crime que lhe é imputado e alega factos da sua vida pessoal donde emerge que é
pessoa socialmente bem inserida.
O arguido Carlos Sampaio Teixeira apresentou contestação e rol de
testemunhas a fls 8720 e ss., reiterada a fls 11009 e ss., onde , em síntese, nega a prática
do crime que lhe é imputado e alega factos da sua vida pessoal donde emerge que é
pessoa socialmente bem inserida.
A arguida Maria Augusta deduziu contestação escrita e arrolou testemunhas a
fls 8787 e ss., reproduzida a fls 10924 e ss., onde nega a prática do crime que lhe é
imputado, sendo certo que, na sua óptica, a factualidade descrita na pronúncia se
consubstanciaria, quando muito, na prática de um crime de extorsão pelos arguidos
Fátima Felgueiras e António Bragança da Cunha.
O arguido Horácio Costa deduziu também contestação e arrolou testemunhas a
fls 9031 e ss., reiterada a fls 11533 e ss., onde, em síntese, nega a prática dos factos e
dos crimes que lhe são imputados, alegando, além do mais, que sempre actuou de
acordo com as ordens da arguida Fátima Felgueiras (de quem era assessor), sendo certo
que foi na convicção de que nenhuma ilegalidade havia sido praticada que recebeu da
“Resin” os donativos referidos na pronúncia. Referiu ainda que, em caso de
condenação, a pena a impôr-lhe deverá ser especialmente atenuada.
Realizou-se a audiência de julgamento, com a observância dos formalismos
legais, como da respectiva acta consta.
Na audiência de julgamento foi declarada a prescrição do procedimento
criminal movido contra a arguida Fátima Felgueiras no que respeita ao crime de abuso
de poder de que também veio pronunciada, emergende dos factos constantes do
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FUNDAMENTAÇÃO
I – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO 1
a) – FACTOS PROVADOS:
1. Factos provados relacionados com o 1º Capítulo da pronúncia
1.1. A propósito da Introdução.
A “RESIN – Resíduos Industriais, Ldª, com sede em Matosinhos, é uma
sociedade que inicialmente tinha por objecto a recolha, transporte, deposição e
tratamento de todos os tipos de resíduos industriais, bem como a exportação de resíduos
industriais tóxico-perigosos, representação, importação e comercialização de
equipamentos e ainda estudos e projectos técnicos de despoluição, sendo certo que mais
tarde o respectivo objecto social foi alterado/alargado, mantendo-se porém sempre
vocacionada para a área do tratamento dos lixos.
Por escritura realizada em 26.05.92, a “Resin – Resíduos Industriais, Ldª”
procedeu a uma cessão de quotas passando a sociedade “Societé Industielle de
Transports Automobilles – Sita” a ter uma quota equivalente a 14.300.000$00, num
capital global de 52.000.000$00.
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A propósito da motivação de facto, o Tribunal não tomará posição acerca de comentários, conclusões e
matéria de direito contida na pronúncia, no PIC e nas contestações.
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serviços para a CMF na lixeira de Sendim, Felgueiras, desde Dezembro de 1993 (antes
disso inexistiu qualquer relacionamento entre essa empresa e a CMF), ambos os
arguidos Maria de Fátima Felgueiras e Júlio Faria combinaram e acordaram com aquele
um esquema que lhes permitisse obter as pretendidas verbas para financiamento das
respectivas actividades partidárias, entre as quais a campanha eleitoral referente às
eleições autárquicas de 1997, sob a aparência de resolução da questão do tratamento dos
resíduos sólidos urbanos com que a autarquia se deparava, aproveitando o lançamento
do concurso limitado denominado de “Manutenção do Aterro Sanitário – Execução de
Plataformas”.
Tal esquema consistia assim em, sob impulso ou influência dos arguidos Maria
de Fátima Felgueiras e Júlio Faria na tomada de decisão nos órgãos autárquicos em que
participavam, favorecer a “RESIN” num futuro concurso público de adjudicação de uma
empreitada relacionada com o tratamento e recolha de resíduos sólidos urbanos – pois
era ela quem de facto operava na lixeira de Sendim -, concurso esse a abrir pela Câmara
Municipal de Felgueiras, e ainda celebrando, para o efeito, um contrato simulado com a
empresa “Norlabor” (que seria, como combinado, a vencedora desse concurso limitado,
mas que nada viria a fazer na lixeira, nem tal era suposto), de modo a que os
pagamentos efectuados pela edilidade no âmbito dessa empreitada tivessem como
destinatária final a “Resin”- como forma de pagamento da exploração da lixeira de
Sendim no período imediatamente subsequente ao da reabilitação - e ainda de modo a
que parte desses pagamentos revertessem para os ditos arguidos Fátima Felgueiras e
Júlio Faria, por forma a, desse modo, financiarem as respectivas actividades partidárias,
designadamente a campanha eleitoral referente às eleições autárquicas de 1997 e ainda
para custear, designadamente, algumas despesas de índole pessoal daquela.
Com efeito, os arguidos Maria de Fátima Felgueiras e Júlio Faria, enquanto
presidentes da autarquia felgueirense, influenciavam os órgãos decisórios da Câmara e
da Assembleia Municipal, perspectivando que as respectivas propostas viriam a ser
aprovadas desde que surgissem com a aparência de acto com objecto e forma legal,
assim instrumentalizando os elementos que integravam tais órgãos, levando-os, de boa-
fé, a votar favoravelmente.
É nesse contexto que a arguida Fátima Felgueiras nunca tomou qualquer espécie
de decisão individual em matéria de tratamento dos lixos municipais, quer antes quer
depois de assumir funções como presidente da CMF, estando todo o relacionamento
desenvolvido com o proprietário dos terrenos da lixeira e com a “Resin” coberto por
deliberações colectivas unânimes da CMF (com excepção da deliberação de 05.05.90,
que foi tomada por maioria, com a abstenção da arguida Fátima e de outro vereador),
por contratos (alguns dos quais simulados) celebrados em execução dessas deliberações,
por pareceres técnicos dos serviços técnicos competentes e da assessoria jurídica da
CMF e por vistos do Tribunal de Contas que precederam sempre os pagamentos devidos
por força dos contratos celebrados (alguns dos dos quais simulados).
Por sua vez, o arguido Vítor Borges comprometeu-se a entregar aos arguidos
Maria de Fátima Felgueiras e Júlio Faria, como contrapartida por tal adjudicação e
contrato (que viria a ser celebrado entre a CMF e a “Norlabor”), uma parte das verbas
que fossem pagas de facto à “Resin” pela CMF, através das pessoas que por estes
fossem indicadas, estabelecendo dentro da sua empresa, com a colaboração do arguido
Carlos Marinho, procedimentos contabilísticos que ocultassem essas entregas, com
recurso, se necessário, à obtenção de facturas falsas (designadamente, facturas emitidas
à “Translousada” pela “Resin”, sem que na realidade estivesse subjacente a prestação de
qualquer serviço desta àquela, por forma a que contabilisticamente estivesse justificada
a transferência de verbas entre essas empresas).
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Para que este esquema funcionasse com benefício para todos os interessados
seria celebrado, conforme já referido, um contrato simulado com a empresa “Norlabor”,
que formalmente seria a vencedora do concurso limitado mencionado, mas que nada
viria a fazer na lixeira de Sendim, nem era suposto fazer, pois os respectivos trabalhos, à
data da celebração do respectivo contrato de empreitada, já haviam sido concluídos pela
“Resin”.
Neste contexto, já em data indeterminada de meados de 1995, a arguida Maria
de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida de Sousa Oliveira, então vereadora na Câmara
Municipal de Felgueiras e braço direito do arguido Júlio Manuel Castro Lopes Faria,
então presidente daquela autarquia, tomou conhecimento que este último tinha a
intenção de se candidatar nas listas do Partido Socialista a um lugar de deputado na
Assembleia da República, nas eleições legislativas de 1995 (antes de meados desse ano
o arguido Júlio Faria não perspectivava sequer ser candidato pelas listas do PS a um
lugar de deputado à Assembleia da República).
Face a tal intenção, e sabendo que poderia ser a sucessora do arguido Júlio Faria
na autarquia de Felgueiras, a arguida Maria de Fátima Felgueiras resolveu começar,
desde logo, a preparar a campanha, que pretendiam grandiosa, para a sua candidatura à
presidência da Câmara Municipal de Felgueiras nas eleições autárquicas que se iriam
realizar no ano de 1997, o que tornou mais premente a necessidade de angariação de
fundos.
Depois da arguida Maria de Fátima Felgueiras ter acordado com os restantes
arguidos todos os pormenores e aspectos referentes ao esquema de movimentação de
verbas que lhe iria permitir obter quantias para financiar a sua campanha eleitoral e
despesas conexas, aquela necessitava de arranjar duas pessoas da sua inteira confiança e
que estivessem disponíveis para abrir uma conta bancária, onde pudesse depositar as
quantias monetárias provenientes da “RESIN”, bem como os vários donativos que
entretanto iria angariar junto dos industriais e munícipes do concelho de Felgueiras.
Assim, e com tal objectivo, em meados do mês de Março de 1997, os arguidos
Júlio Faria e Maria de Fátima Felgueiras deram ordens aos arguidos Horácio Costa (que
na altura exercia de facto o cargo de assessor da presidente da CMF) e Joaquim de
Freitas para que abrissem na agência bancária de Felgueiras do Banco Espírito Santo
uma conta titulada apenas por ambos (Horácio Costa e Joaquim de Freitas), destinada à
movimentação das quantias angariadas e/ou utilizadas para o pagamento de várias
despesas da sua campanha eleitoral, competindo a orientação e direcção efectiva de tal
conta bancária aos arguidos Maria de Fátima Felgueiras e Júlio Faria.
Evitar-se-ia, através de tal esquema, que fosse possível imputar à arguida Maria
de Fátima Felgueiras qualquer ligação oficial com as contas bancárias do Partido
Socialista de Felgueiras, o que lhe permitiria, simultaneamente, não só escapar ao
controle daquele partido sobre tais verbas, mas também efectuar várias despesas, tanto
de cariz pessoal como de cariz promocional da sua campanha eleitoral, sem ter de
prestar quaisquer contas.
O dito arguido Horácio Costa, aliás, havia iniciado as suas funções na CMF
como assessor pessoal da presidente da edilidade a 01.10.96, funções essas que viriam a
cessar a 31.12.98, passando a 01.01.99 a exercer as funções de vereador em regime de
permanência, as quais viriam a terminar a 01.03.2000, por despacho da arguida Fátima
Felgueiras (antes de ingressar na CMF como assessor nunca tinha exercido funções de
índole semelhante, estando mesmo completamente desintegrado da vida política e
autárquica local).
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não foi endossado à “RESIN”, devido ao facto de apenas uma parte do seu montante (no
caso Esc. 5.000.000$00), se destinar àquela empresa.
Na verdade, o remanescente de tal cheque, no valor de Esc. 6.000.000$00,
pertencia ao próprio Eng. Joaquim Menezes Basto e dizia respeito ao valor da compra e
venda do terreno, nele se incluindo a diferença de mil contos atrás mencionada. Visando
resolver tal diferença de verbas, o mesmo não endossou o cheque à “RESIN”, tendo
antes emitido um cheque próprio com o n.º 22543202, sacado sobre a conta n.º 211776,
da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, agência de Felgueiras, no valor de Esc.
5.000.000$00, entregando-o de seguida àquela empresa.
Para pagamento dos restantes Esc. 4.410.480$00, a CMF emitiu e entregou ao
Eng. Joaquim Menezes Basto o cheque n.º 2668265232, datado de 25.06.1995, sacado
sobre a conta n.º 00002179630, da Caixa Geral de Depósitos, agência de Felgueiras, que
este depositou na conta n.º 132040013061807, da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo,
agência de Felgueiras, no dia 26.06.1998.
Desta quantia entregou Esc. 3.410.480$00 à “RESIN”, em numerário e
faseadamente, obtendo recibo global.
Correspondem, assim, os valores facturados pela “RESIN” ao Eng. Joaquim
Menezes de Basto aos pagamentos efectuados pela CMF a este último, tanto no âmbito
do contrato de transacção, como no âmbito do seu aditamento.
Entretanto, a “RESIN”, como não recebeu do Eng. Joaquim Menezes Basto a
totalidade da quantia referente ao aditamento ao contrato de transacção, porque a
mesma lhe não foi paga pela CMF, em 27 de Novembro de 1998, decidiu constituir uma
provisão para créditos de cobrança duvidosa, no montante de Esc. 24.187.400$00 (vinte
e quatro milhões, cento e oitenta e sete mil e quatrocentos escudos), no pressuposto de
que esse valor, lançado a débito na conta do cliente Joaquim Menezes Basto, seria de
cobrança difícil ou impossível - saldo reportado a 30.06.96 e a 31.08.97.
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Por outro lado, os arguidos Júlio Faria e Maria de Fátima Felgueiras, para
simular o referido concurso, contaram com a colaboração activa e empenhada do
arguido Barbieri Cardoso, nomeadamente quanto à celebração do referido contrato
simulado, colaboração essa que lhes permitiu alcançar os seus objectivos, sendo certo
porém que o arguido Barbieri Cardoso ignorava que, dessa forma, os arguidos Fátima
Felgueiras e Júlio Faria receberiam vantagens patrimoniais.
Assim, e visando definir quais os parâmetros que iriam estar na base da
celebração desse contrato simulado, no dia 11 de Abril de 1995, realizou-se, nas
instalações da autarquia, uma reunião, em que estiveram presentes os arguidos Júlio
Manuel Castro Lopes Faria (presidente da Câmara), Vítor Manuel da Silva Borges
(administrador da “RESIN”), José António Barbieri Cardoso (na época, técnico superior
daquela Câmara Municipal) e a testemunha Terezinha do Nascimento Lopes Domingues
de Carvalho (responsável pela Divisão Financeira da autarquia), sendo certo que no
apontamento efectuado por esta relativamente a essa reunião o arguido Júlio Faria
despachou no sentido de ser dada cópia desse documento ao director do Departamento
Técnico (arguido Barbieri) e ao chefe da Divisão de Apoio Técnico-administrativo
(Engº Ferreira Leite), determinando-lhe que tivesse em conta o que naquela decisão
havia sido decidido.
Nesta reunião foi então decidida a abertura de mais um concurso para
adjudicação de uma Empreitada, designada por "Manutenção do Aterro Sanitário -
Execução de Plataformas”, a ser executada na área onde funcionava a lixeira municipal,
sita em Sendim - Felgueiras, sob a forma de concurso limitado sem apresentação de
candidaturas.
Para a boa execução do esquema acordado entre todos os referidos arguidos, era
necessário que a “RESIN” se apresentasse como oponente ao referido concurso.
No entanto, como aquela empresa não reunia as condições legais para o fazer
isoladamente, uma vez que não era titular de alvará que lhe permitisse executar obras
públicas, não sendo, de resto, esse o seu objecto social, e visando ultrapassar tal
obstáculo, a “RESIN” celebrou, em 19 de Abril de 1995 (oito dias depois da reunião)
com a “Norlabor – Sociedade de Prestação de Serviços, Lda.” (uma sociedade de obras
públicas), um contrato de consórcio.
Conforme consta do seu texto, este contrato, assinado pelo arguido Vítor Borges
(em representação da “RESIN”) e por José António Barros de Sousa e Carlos Ferreira
de Sousa (sócios da “Norlabor”), tinha por objecto, precisamente, o Aterro de Sendim –
Felgueiras e visava alegadamente a sua manutenção e exploração até ao encerramento
definitivo, sendo estabelecidas as competências e obrigações de cada uma das
outorgantes.
Em 24 de Novembro de 1995, o arguido Vítor Borges (“RESIN”) envia um
telefax à CMF, dirigido ao arguido Barbieri Cardoso, a coberto do qual envia uma
relação das empresas a quem deveria ser endereçado o convite para o concurso de
empreitada de "Manutenção do Aterro Sanitário - Execução de Plataformas".
As empresas indicadas foram, para além da própria “RESIN – Resíduos
Industriais, SA”; a “Norlabor – Sociedade de Prestação de Serviços, Lda.” (“Norlabor”);
a “Craveira – Soc. de Const. e Obras Públicas e Empreendimentos, Lda.”; a
“Translousada – Soc. de Aluguer de Equipamentos, SA” e a “ECOP – Empresa de
Construções e Obras Públicas Arnaldo de Oliveira, SA”.
Três dias depois, em 27 de Novembro de 1995, a presidente da autarquia, Maria
de Fátima Felgueiras (que, entretanto, tinha substituído o arguido Júlio Castro Faria
nessas funções), proferiu despacho através do qual determinou a abertura do referido
concurso.
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que apresentou a proposta de menor valor e porque era a que dava maiores garantias de
boa execução e qualidade técnica dos trabalhos (conforme aliás previamente combinado
com o arguido Vítor Borges).
Em 17.04.1996, a arguida Maria de Fátima Felgueiras emitiu um despacho
justificando a decisão de adjudicar “por ajuste directo” as obras de manutenção e
exploração provisória da lixeira de Felgueiras, alegando a sua urgência e interesse
público.
O contrato de adjudicação da empreitada “Exploração e Manutenção do Aterro
de Felgueiras” foi celebrado em 24.04.1996, nos termos da proposta apresentada, tendo
sido assinado pela arguida Maria de Fátima Felgueiras e pelo arguido Vítor Borges,
respectivamente em representação da CMF e da “RESIN”, prevendo o mesmo que as
obras começassem imediatamente a seguir à celebração do contrato e assinatura do auto
de consignação, ficando os pagamentos dependentes do visto do Tribunal de Contas.
A 07.05.96 iniciou-se a deposição dos resíduos sólidos industriais equiparados a
domésticos e em 24 de Junho do mesmo ano a CMF iniciou a cobrança de uma taxa às
indústrias pela deposição dos seus resíduos sólidos na lixeira de Sendim, emitindo para
o efeito a respectiva facturação, o que só se tornou possível na medida em que os
trabalhos referentes à empreitada em causa iam sendo realizados pela “Resin”, ainda
que recorrendo aos serviços de outras empresas, designadamente da “Translousada”.
Sucede porém que o Tribunal de Contas, entretanto, recusou o visto, devido ao
facto da “RESIN” não ter alvará que lhe permitisse executar tal obra, decisão que foi
comunicada à autarquia em 23.08.1996.
Face a tal decisão do Tribunal de Contas, realizou-se uma reunião de
emergência, na CMF, no dia 04.09.1996, na qual participaram apenas representantes da
“RESIN” e da CMF (Vítor Borges, Pedro Ribeiro, Barbieri Cardoso e Fernanda Castro
Leal).
Nessa reunião foram aventadas diversas hipóteses para resolução do problema
suscitado pela recusa de visto do TC e que poderiam passar por:
a) um “contrato de transacção”, para pagamento dos trabalhos efectivamente
levados a cabo pela “Resin” até à comunicação da suspensão dos trabalhos;
b) um “pedido de reapreciação” ao TC; ou
c) um “ajuste directo à “João Tello”, no período compreendido entre a suspensão
dos trabalhos e a decisão de reapreciação.
Tendo sido decidido, no final da mesma, “adjudicar” os trabalhos à “João Tello”
e celebrar um contrato de transacção com a “Resin” de modo a pagar-lhe os trabahos
que entretanto executara ao abrigo do ajuste directo relativo à empreitada em causa.
A primeira hipótese mencionada no documento de fls 255 do apenso 98
(adicional ao contrato de recolha) nada tinha a ver com o ajuste directo em causa mas
com unicamente com outras necessidades que se prendiam com a prestação de serviços
de recolha do lixo e que viriam a ser satisfeitas mediante a celebração, a 29.10.96, de
um aditamento ao contrato de prestação de serviços de recolha de resíduos sólidos
urbanos do concelho de Felgueiras.
Assim, por despacho de 10.09.1996, a Presidente Maria de Fátima Felgueiras
decide adjudicar, por ajuste directo, os restantes trabalhos à “João Tello”, justificando
tal decisão com a análise da proposta (apresentada por aquela sociedade) efectuada pelo
Departamento Técnico.
Por outro lado, visando resolver a questão do pagamento dos trabalhos
efectuados pela “RESIN”, a CMF celebrou com esta empresa, em 20.09.1996, um
contrato de transacção, ficando assim resolvido o problema suscitado com a recusa de
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2º Juízo
visto por parte do TC, ressarcindo-se a “RESIN” pelos trabalhos efectuados entre
25.04.96 e 05.09.96.
Tal contrato de transacção foi outorgado pelos arguidos Vítor Borges e Fátima
Felgueiras, sendo ali referido que os trabalhos adjudicados tinham sido iniciados em 25
de Abril e suspensos em 5 de Setembro de 1996, calculando-se o valor dos já realizados
em Esc. 12.133.334$00 (doze milhões, cento e trinta e três mil e trezentos e trinta e
quatro escudos) + IVA.
Esta verba foi facturada pela “RESIN” em 30 de Setembro de 1996 e paga pela
CMF em 16 de Janeiro de 1997.
O contrato de adjudicação da empreitada “Exploração e Manutenção do Aterro
de Felgueiras” foi celebrado entre a CMF e a “João Tello” em 18.10.1996, sendo o
mesmo outorgado por Maria de Fátima Felgueiras (representando a autarquia) e José
Manuel de Pinho Reis de Almeida e José Miguel Santos Vieira Neves (em
representação da “João Tello”).
Em tal contrato é ainda referido que a “João Tello” se obriga a executar a
empreitada pelo valor de Esc. 16.800.000$00 (dezasseis milhões e oitocentos mil
escudos) + IVA, de harmonia com a proposta apresentada e com a análise da mesma
feita pelo Departamento Técnico e que antecederam o despacho de Fátima Felgueiras,
datado de 10 de Setembro, que determinou a adjudicação.
Desde 31 de Dezembro de 1996 e até 03 de Abril de 1997, a “João Tello” emitiu
cinco facturas à CMF, todas relativas à empreitada em questão e no montante global de
Esc.17.640.000$00.
Com data de 11 de Junho de 1997 e na carta da “João Tello” que remete a última
factura (número 49, de 30.04.97), a arguida Maria de Fátima Felgueiras redige um
despacho, dirigido à responsável pela Divisão Financeira (testemunha Terezinha
Carvalho), alertando-a para o terminus do contrato e avisando-a que, a partir daí, devido
à selagem da lixeira de Felgueiras, deveria imputar a facturação ao Aterro da Lustosa.
Em 30 de Junho de 1997, a arguida Maria de Fátima Felgueiras comunica à
AMVS (Associação dos Municípios do Vale do Sousa), que tinham sido dadas
instruções à “RESIN” para que, a partir de Abril de 1997, a facturação relativa à
manutenção da lixeira de Felgueiras passasse a ser apresentada àquela Associação.
Entretanto, a CMF emite para a “João Tello”, em 11 de Dezembro de 1997, uma
ordem de pagamento, no valor de Esc. 9.472.400$00 (nove milhões, quatrocentos e
setenta e dois mil e quatrocentos escudos), tendo aquela emitido o respectivo recibo no
dia seguinte.
A segunda ordem de pagamento da CMF, libertando o restante valor da
empreitada, foi emitida em 6 de Fevereiro de 1998, sendo o correspondente cheque
emitido em 9 do mesmo mês à “João Tello”, no montante de Esc. 7.253.077$00 (sete
milhões, duzentos e cinquenta e três mil e setenta e sete escudos).
Depois de a “João Tello” ter recebido aquelas quantias da CMF, a mesma
entregou-as à “RESIN”, através do seguinte esquema de movimentação de verbas:
a) o primeiro pagamento, no valor de Esc. 9.472.400$00 (nove milhões,
quatrocentos e setenta e dois mil e quatrocentos escudos):
⇒ a “João Tello” recebeu o cheque, em 12 de Dezembro de 1997 e endossou-o à
“RESIN”, no dia 15 de Dezembro de 1997, tendo esta procedido de imediato ao seu
depósito bancário;
b) o segundo pagamento, no montante de Esc. 7.253.077$00 (sete milhões,
duzentos e cinquenta e três mil e setenta e sete escudos):
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Por sua vez, e quanto os concursos de adjudicação dos ecocentros previstos para
Felgueiras, as propostas apresentadas foram analisadas por uma comissão de avaliação
constituída por Joaquim Moreira (do GAT de Penafiel e que presidia a tal comissão),
pelo arguido José António Barbieri Cardoso e por Fernanda Paula Mariano (estes dois
eram os representantes da CMF na AMVS).
Essa foi a única comissão de avaliação de propostas em que a CMF esteve em
maioria, sendo tal comissão análoga às que foram formadas para idênticos concursos
nos restantes municípios do Vale do Sousa.
Por outro lado, em meados do ano de 1997, a CMF tinha uma dívida para com a
“RESIN” de Esc. 101.214.905$00 (além dos encargos e juros de mora), precisamente na
altura em que foi celebrado o contrato de empreitada relativo ao Aterro RIB de
Felgueiras, relativa a diversos trabalhos, parte deles não documentados e efectuados
sem suporte legal por tal empresa para aquela autarquia.
Com o recebimento do adiantamento referente a tal empreitada, a “Resin” teve
disponibilidade financeira para conceder um donativo de 20.000.000$00 ao Futebol
Clube de Felgueiras, montante que serviu para esse clube liquidasse parte de um débito
que tinha para com a CCAM, mais concretamente parte de uma prestação vencida em
30.09.98, conforme à frente melhor se descreverá.
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Felgueiras), bem como indicava, a seguir aos nomes, qual o valor do donativo que devia
ser solicitado.
Esporadicamente, era a própria arguida Maria de Fátima Felgueiras quem
contactava directamente os industriais e comerciantes, solicitando donativos para a sua
campanha eleitoral, sendo a sua posterior recolha habitualmente efectuada pelos
arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas.
Outras vezes, a arguida Maria de Fátima Felgueiras indicava esses nomes
verbalmente, sendo os contactos com as pessoas indicadas efectuados pelos arguidos
Joaquim Freitas e Horácio Costa, que por vezes foram acompanhados por outros
indivíduos.
Noutras situações, os contactados deslocavam-se directamente à CMF, onde
entregavam em mão os donativos, em cheque ou em dinheiro, por vezes ao pessoal
ligado ao Gabinete de Apoio Pessoal à Presidente (GAPP), que os recebiam e faziam
chegar aos arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas.
Alguns dos nomes supra referidos eram assinalados com uma marca,
normalmente uma cruz, por motivo que não se apurou.
A arguida Fátima Felgueiras, no âmbito dos processos de licenciamento,
proferiu os seus despachos com base e de acordo com os pareceres dos serviços
camarários e dos técnicos e assessores competentes, deferindo ou indeferindo de acordo
com tais pareceres.
Assim:
2.1.2. - A propósito dos donativos concedidos pelo arguido Anastácio
Augusto Pinto Macedo
No dia 25.09.1997, o arguido Anastácio Augusto Pinto Macedo entregou aos
arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas o cheque n.º 6256892519, no montante de
Esc. 250.000$00, sacado sobre a conta bancária n.º 0012174005, da agência de
Felgueiras, do Banco Espírito Santo, o qual foi entregue para apoiar financeiramente a
campanha eleitoral do PS referente às eleições autárquicas de 1997.
Uns dias depois de ter obtido a licença de construção no âmbito do processo nº
68/83 (respeitante a um processo de legalização/licenciamento de um pavilhão
industrial), com o mesmo desiderato, o arguido Anastácio Augusto Macedo, no dia
15.10.1997, emitiu o cheque n.º 3856892748, no valor de Esc. 250.000$00, sacado
sobre a conta n.º 00121740005, da agência de Felgueiras, do Banco Espírito Santo,
cheque esse que foi entregue ao arguido Horácio Costa pela arguida Fátima Felgueiras.
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donativo, o que não sucedeu na medida em que estes nunca o conseguiram contactar
pessoalmente.
Em face disso, os arguidos Joaquim de Freitas e Horácio Costa deram
conhecimento de tal situação à arguida Maria de Fátima Felgueiras, que lhes disse que
iria tratar pessoalmente desse assunto.
Assim, no dia 18 de Novembro de 1997, o arguido Carlos Sampaio Teixeira
entregou a pessoa cuja identidade não foi possível apurar, a título de donativo para a
campanha eleitoral da arguida Maria de Fátima Felgueiras, o cheque n.º 7586645154,
sacado sobre a conta n.º 00195185050, do Banco Comercial Português, agência de
Felgueiras, no valor de Esc. 500.000$00, datado de 18.11.1997, cheque esse que
entretanto chegou à posse da arguida Fátima Felgueiras, a qual por sua vez o entregou
ao arguido Horácio para que procedesse ao respectivo depósito na conta do BES
referida nos autos, o que este fez a 12.12.97.
Já depois de ter efectuado tal entrega, foram emitidos pareceres técnicos
desfavoráveis pelos técnicos responsáveis pelo SNB e pelo PDM local, face ao que, em
08.04.1998, o arguido Carlos S. Teixeira (ou melhor, a firma acima referida) solicitou à
CMF o arquivamento daquele processo de licenciamento (o que foi deferido em
09.04.1998) e, nessa mesma data, apresentou um novo processo para licenciamento de
construção de um pavilhão industrial, sito no mesmo local e freguesia do anterior, ao
qual foi atribuído o n.º 255/98.
Este projecto era acompanhado por fotografias que demonstravam que tal obra
já estava a ser executada (obras de limpeza e de terraplanagem do local).
No entanto, e apesar de resultar de tal processo que a obra estava já a ser
executada, a arguida Maria de Fátima Felgueiras não mandou instaurar o competente
processo de contra-ordenação.
Na sequência deste último projecto, a CMF emitiu no dia 02.08.2000, após
requerimento do interessado nesse sentido e em face de pareceres favoráveis, o alvará
de licença de utilização com o n.º 457/2000, obtendo assim o arguido Carlos Sampaio
Teixeira o licenciamento pretendido.
O arguido Carlos Sampaio Teixeira concedeu o referido donativo nos mesmos
termos em que o fez para apoiar financeiramente a campanha eleitoral de outras forças
políticas às mesmas eleições autárquicas de 1997.
O arguido Carlos Sampaio Teixeira costuma aliás apoiar outras instituições,
culturais, sociais e desportivas quando lhe solicitam esse apoio financeiro, sem que daí
espere retirar quaisquer benefícios ou vantagens.
O donativo referido nos autos não foi concedido com o intuito de obter qualquer
licenciamento ou de evitar qualquer embargo, sendo certo que os serviços de
fiscalização da CMF nunca se dirigiram ao arguido Carlos ou ao local da obra no
sentido de o pressionar no que quer que fosse.
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haviam sido legalizadas em 1992, por decisão da CMF no processo de obra particular nº
323/83, requereu, em 1993, nova ampliação, deferida genericamente mas sem que fosse
emitido alvará de licença de utilização.
E em 30 de Julho de 1997, requereu o licenciamento da construção de um
edifício industrial no Lugar de Bouça Grande – Penacova – Felgueiras, a que foi
atribuído, na CMF, o n.º 630/97.
No dia 31.07.97, pelas 9h. e 08m., a funcionária do EIRL “Guilherme da Silva
Almeida & Filhos, EIRL”- Sandra Maria Coutinho Pereira – contactou com os serviços
da CMF para marcar uma audiência com a presidente da autarquia, a arguida Fátima
Felgueiras.
Tal chamada foi atendida por uma funcionária da CMF, de nome Rosinda, tendo
sido agendada a audiência com a arguida Fátima Felgueiras para o dia 02.09.97.
Nesta reunião, o arguido Guilherme Almeida, enquanto dono da obra, e a
testemunha Manuel Maria Machado, enquanto autor do projecto e responsável técnico
pela execução da obra, fizeram à arguida Fátima Felgueiras a apresentação do projecto e
da obra que se pretendia realizar e que haviam feito entrar na CMF no dia 30.07.97.
No decurso dessa mesma audiência, após a apresentação do projecto e da obra, o
arguido Guilherme perguntou à arguida Fátima Felgueiras se seria possível iniciar
imediatamente os serviços de terraplanagem e remoção de terras do terreno onde iria ser
construído o edifício, terraplanagens que durariam cerca de 3 a 4 meses, por se tratar de
um terreno rochoso, e que seria também o tempo necessário para a CMF apreciasse e
aprovasse o projecto.
Na sequência desse pedido, pela arguida Fátima Felgueiras foi comunicado ao
arguido que tal só era possível após a aprovação do projecto de arquitectura e com a
obtenção de uma licença para caboucos.
No dia 29.09.97, numa primeira apreciação técnica, o Arquitecto Rui José Silva
Pinto Almeida, técnico da CMF, proferiu o seguinte despacho sobre o pedido de
licenciamento da obra objecto do processo nº 630/97:
“A pretensão deverá ser indeferida tal como é apresentada uma vez que tem
uma área de implantação superior ao imposto pelo regulamento do PDM bem como a
Certidão de Localização aprovada pela CCRN, indeferindo com base nas als. a), b) e d)
do nº 1 do artº 33 do DL. 445/91.”
Este parecer foi notificado ao arguido Guilherme Almeida através do ofício nº
5094, datado de 06.10.97, emanado da CMF, e que ele recebeu a 08.10.97.
Consequentemente, por não respeitar o PDM (que só permitia uma implantação
máxima de 1.000 metros quadrados no tipo de aglomerado em que se inseria) e por estar
em desconformidade com o processo de pedido de emissão de certidão de localização
entregue na CCRN, emitida com base na área de implantação indicada (1.000 m2), o
projecto foi, inicialmente, indeferido.
No dia 07.10.97, o arguido Guilherme da Silva Almeida foi visitado nas suas
instalações fabris pelos arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas, que se intitularam
como pertencendo à comissão de angariação de fundos para a campanha do PS da
concelhia de Felgueiras, os quais ali se deslocaram no sentido de obter daquele um
donativo para ajudar a custear as despesas com a campanha eleitoral do PS para as
eleições autárquicas que viriam a ter lugar a 14.12.97.
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como foi desrespeitado tal embargo, o arguido Pimenta da Silva foi julgado por crime
de desobediência no âmbito do processo nº 115/2000, do 1º Jz do TJ da Comarca de
Felgueiras.
A par disso, foi levantado um processo de contra-ordenação, tendo a sociedade
“José Manuel Pimenta da Silva & Cª Ldª”, em nome de quem o projecto e o
licenciamento da obra se encontrava, pago a coima que lhe foi aplicada, no montante de
750.000$00, mais custas no montante de 1.795$00, por decisão proferida pela CMF a
17.04.2000.
Pagou também a sociedade em causa, para que o processo fosse legalizado, a
importância de 22.159.150$00, como compensação pela área de terreno (8.475 m2) que
teria de ceder ao domínio público, sendo certo porém que de metade desse valor viria a
ser reembolsada pela sociedade “Pinfel – Indústria de Calçado, SA”.
Foi ainda liquidada a quantia de 4.691.234$00 pela emissão do respectivo alvará
de loteamento.
Com a sua decisão de deferir o referido loteamento, a arguida Maria de Fátima
Felgueiras autorizou a desafectação de um terreno classificado como “floresta
dominante”, requerido pelo arguido José Manuel Pimenta da Silva em representação da
sociedade “José Manuel Pimenta da Silva & Cª Ldª”, que só podia ser legalmente
efectuada por decisão judicial ou através da revisão do PDM, aprovando
consequentemente a legalização das duas supra referidas construções efectuadas pelas
firmas representadas pelos arguidos José Manuel Pimenta e Joaquim Pinto.
Por outro lado, através de tal decisão, os arguidos José Manuel Pimenta da Silva
e Joaquim Teixeira Pinto lograram alcançar os seus objectivos, ou seja, construir no
local referido.
Os arguidos Joaquim Teixeira Pinto e José Manuel Pimenta da Silva agiram de
forma livre, voluntária e consciente querendo através das suas condutas obter o
licenciamento das obras supra referidas, como efectivamente obtiveram.
Por sua vez, a arguida Maria de Fátima Felgueiras, agiu de forma livre,
voluntária e consciente, deferindo o licenciamento do loteamento e das construções
referidas, estribada contudo em pareceres favoráveis.
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Mais tarde, os serviços da CMF constataram que o edifício não era um armazém
mas uma unidade industrial, motivo pelo qual a arguida Maria de Fátima Felgueiras
proferiu, em 23.11.2000, um despacho concedendo 60 dias para que o proprietário
regularizasse a situação.
No entanto, pelo menos até Janeiro de 2002, tal regularização não tinha sido
requerida, vindo a licença de utilização a ser concedida a 28.02.2002.
A arguida Maria Augusta Ferreira Neves agiu de forma livre, voluntária e
consciente querendo contribuir e entregar os donativos supra referidos à arguida Maria
de Fátima Felgueiras.
A arguida Fátima Felgueiras agiu de forma livre e voluntária, despachando o
sobredito processo de licenciamento e deferindo a emissão das respectivas licenças
estribada, para o efeito, em pareceres técnicos que apontavam nesse sentido.
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Joaquim de Freitas decidiram depositar, no dia 28.07.1998, do montante que lhes tinha
sido entregue pelo arguido Carlos Marinho da “RESIN”, a quantia de Esc.
4.700.000$00, em dinheiro, na conta pessoal do primeiro, com o n.º 133180013, do
Banco Melo, agência de Fafe, embora não lograssem completar tal dissimulação.
No dia seguinte, 29.07.1998, os arguidos Horácio Costa, Joaquim de Freitas e
Maria de Fátima Felgueiras, dirigiram-se ao “stand” da empresa “Machado & Costas,
Lda.”, sito em Guimarães onde, após terem tratado de toda a documentação referente à
compra, o primeiro entregou na contabilidade daquela empresa, para pagamento do
automóvel, os seguintes cheques, que tinha previamente emitido:
- o cheque n.º 1659468550, com a data de 29.07.1998, sacado sobre a sua conta
n.º 00133180013, do Banco Melo, agência de Fafe, no valor de 4. 700. 000$00 - (cfr.
fls. 77 do 1º Volume); e
- o cheque n.º 1659468550, com data de 29.07.1998, no valor de Esc.
1.000.000$00, emitido sobre a conta n.º 0027674009 do BES, titulada pelos arguidos
Horácio Costa e Joaquim de Freitas - (cfr. fls. 77 do 1º Volume);
c) – Pagamento de uma dívida do FCF:
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Face a tal denúncia, mas apenas em 27.10.1997, são instaurados dois processos
de contra-ordenação pelas ampliações efectuadas sem licença de construção e pelo facto
do imóvel estar a ser utilizado sem a respectiva licença de utilização (processos de
contra-ordenação nºs 583/97 e 584/97).
Em Novembro de 1997 foi concedido um prazo de 180 dias para que a
requerente regularizasse a situação, o que não foi feito.
Entretanto, os mencionados processos de contra-ordenação foram encerrados,
respectivamente, no dia 25.01.1998 (através de um despacho de arquivamento –
processo nº 583/97) e no 05.11.1999 (através da aplicação de uma coima – processo
584/97).
No dia 16.02.2000 a requerente fez juntar um requerimento no sentido de
legalizar as alterações entretanto introduzidas ao projecto inicial, tendo-lhe sido porém
concedidos 30 dias para instruir o processo com os documentos em falta.
Alguns meses depois, mais precisamente, no dia 06.07.2000, a presidente da
CMF, a arguida Maria de Fátima Felgueiras, sem que tal tivesse sido requerido mas na
sequência de uma audiência concedida à requerente a 05.07.2000, decide solicitar a
reapreciação do referido pedido de licenciamento por parte dos serviços técnicos da
autarquia.
Depois de dois pareceres elaborados por um técnico da CMF (datados de 4 e 19
de Julho de 2000, respectivamente) terem referido, expressamente, que se mantinha a
violação do PDM, a arguida Maria de Fátima Felgueiras decidiu indeferir o
licenciamento/legalização das obras, através de despacho proferido no dia 18.09.2000.
Em 11.12.2000, no mesmo processo de legalização de obra, foram proferidos
novos pareceres técnicos, que mantiveram a indicação de que não estavam a ser
respeitados os afastamentos aos limites da propriedade.
Dada a junção de declaração de não oposição por parte do proprietário do
terreno confinante relativamente ao não respeito da construção pelo afastamento ao
limite da propriedade, por despacho de 21.12.2000, o projecto de arquitectura acabaria
por ser aprovado, ficando o processo a aguardar a apresentação dos projectos de
especialidade.
Entretanto, a 18.01.2001, foi feito um novo requerimento de legalização da obra,
na sequência da qual, a 14.02.2001, foi concedido um prazo de 30 dias para que a
requerente levasse a cabo obras de demolição, sendo concedida licença para o efeito.
Uns dias depois, no dia 21.02.2001, foram liquidadas as respectivas taxas,
embora agravadas (porquanto, pelo menos uma parte das obras decorreu antes do
respectivo licenciamento).
Em 23.02.2001, o processo de obra foi averbado em nome da “Pinfel – Indústria
de Calçado, SA”, tendo o alvará de construção sido emitido em 23.04.2001, com o n.º
304/2001.
Finalmente, depois de a arguida Maria de Fátima Felgueiras ter proferido, em
08.06.2001, um despacho deferindo a licença de utilização, esta veio a ser emitida, no
dia 15 do mesmo mês.
A arguida Maria de Fátima Felgueiras agiu de forma livre, voluntária e
consciente, querendo decidir no sentido da emissão do alvará de construção e da
respectiva licença de utilização da obra supra referida, usando os poderes das funções de
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autarca que exercia, estribada nos pareceres técnicos proferidos em tal processo de
licenciamento.
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Todas estas pessoas (bem como a quase totalidade dos restantes associados)
estavam intimamente ligadas ao PS de Felgueiras, sendo certo que desde a criação de tal
jornal regional era o arguido António Pereira e a arguida Maria de Fátima Felgueiras
quem decidiam todos os assuntos respeitantes àquele Semanário, inclusive as matérias
jornalísticas que deviam ou não ser publicadas e de que forma.
A arguida Maria de Fátima Felgueiras considerava que o “Semanário de
Felgueiras” estava ligado directamente com a oposição ao seu executivo camarário – no
caso o PSD -, manifestando grande animosidade para com tal periódico, pelo facto de o
mesmo estar relacionado com a publicação de notícias que considerava suas detractoras,
bem como da edilidade que dirigia e ainda pelo facto de o mesmo ser dirigido por um
seu opositor político.
No período compreendido entre meados do ano de 1998 e Fevereiro de 2003, a
CMF contratualizou e pagou a publicidade (incluindo a referente aos eventos,
canalizada pela testemunha António Pimentel) no:
• “Semanário de Felgueiras”, no montante global de € 9.652,32;
• “Jornal da Lixa”, publicidade no valor global de € 8.176,48;
• Jornal “O Sovela” no valor global de € 52.070,53,
No período compreendido entre 15.10.95 e Janeiro de 2002, o arguido António
Carvalho exerceu somente as funções de vereador dos pelouros das áreas de educação,
cultura, desporto, turismo, juventude e acção social.
A partir de Janeiro de 2002 o pelouro do desporto foi entregue ao vereador Vítor
Costa, que também passou a ter a seu cargo os pelouros do trânsito e contra-ordenações,
o qual, a partir de Janeiro de 2003, passou também a ter a seu cargo os pelouros do
turismo e da juventude.
Com a fuga do país da arguida Fátima Felgueiras em Janeiro de 2003, o arguido
António Carvalho, então na qualidade de vice-presidente da CMF, passou a assumir as
funções de presidente da autarquia em exercício.
Em relação às publicações respeitantes a áreas de pelouros que o arguido
António Carvalho não tinha a seu cargo, as ordens eram precedidas frequentemente de
despachos escritos da arguida Fátima Felgueiras.
A arguida Fátima não permitia que qualquer dos vereadores ou funcionários
contrariassem as suas instruções de serviço (escritas ou verbais), bem como os
respectivos despachos (a menos que desse indicações verbais de sentido contrário).
A partir do início do mês de Julho de 2002, o arguido António Carvalho
começou a solicitar por escrito, para despacho do mesmo, a publicação em órgãos de
comunicação social locais de eventos promovidos pelos pelouros de que era
responsável.
No que respeita às publicações sobre os avisos de assuntos do Departamento do
Planeamento da CMF, a publicação foi efectuada no jornal “O Sovela” por exclusão dos
demais jornais locais, sendo certo que o “Semanário de Felgueiras”, nesse caso, para
além de não ter respondido a nenhum dos requisitos exigidos, também não apresentou
proposta de preço para o serviço solicitado.
No que respeita à publicitação da “MOCAP”, a publicidade, segundo despacho
da arguida Fátima, deveria inserir-se em meia página a cores no Jornal “O Sovela”.
Porém, a publicidade em causa foi inserida em mais de meia página, sendo
assim o seu preço inferior ao preço praticado pelo “Semanário de Felgueiras” (e caso a
publicidade fosse efectivada no “Jornal da Lixa” o seu preço seria superior).
Sobre a publicidade a inserir sobre o “Dia Mundial do Consumidor” (em
contracapa), recaiu um despacho da arguida Fátima Felgueiras de 13.03.2002, sendo
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certo que o jornal “O Sovela” foi o único a apresentar uma proposta de preços para
aquele evento (onde o dito evento acabou por ser publicitado).
Quanto à publicação sobre a “Uniformização Documental”, por despacho de
22.03.2002 da arguida Fátima, esta mandou efectuar a respectiva publicitação no
“Sovela” e no “Jornal da Lixa” (nada referindo porém acerca da dimensão e coloração
do anúncio), tendo sido efectuada em contracapa a respectiva publicitação no “Sovela”
e numa página a cores no “Jornal da Lixa”, sendo certo que o preço praticado pelo
“Semanário de Felgueiras” em contracapa era inferior em 99,04 euros relativamente ao
preço praticado pelo “Sovela”.
No que respeita à publicitação dos condicionamentos de trânsito por causa dos
rallies, em 1998, o arguido Bragança da Cunha (então adjunto do GAPP) mencionou
como títulos para a publicitação respectiva os principais jornais locais (“Sovela”,
“Semanário de Felgueiras”, “Jornal da Lixa” e “Notícias de Felgueiras”), sendo certo
que por despacho da arguida Fátima Felgueiras, datado de 11.11.98, esta determinou
que a referida publicidade fosse efectuada apenas nos jornais “O Sovela” e “Jornal da
Lixa” (publicitação efectivada em menos de ¼ de página e em mais de ½ de página, a
preto e branco), sendo certo que no formato em menos de ¼ de página o “Semanário de
Felgueiras” fazia o preço mais elevado e no formato de mais de ½ de página o “Sovela”
praticava o preço mais caro (ambos a preto e branco).
Face a informações escritas proferidas pela testemunha Pimentel, dirigidas ao
arguido António Carvalho, no sentido da publicitação ser efectuada nos principais
órgãos de comunicação social ou em alguns deles, o dito arguido António Carvalho
proferiu despachos autorizadores entre 01 de Julho e 22 de Outubro de 2002, todos eles
relativos à publicitação de eventos a realizar no âmbito do pelouro que tinha a seu
cargo.
Ora, na sequência dessas informações e despachos, respeitantes à publicitação de
eventos realizados no âmbito daqueles que foram promovidos pelo pelouro de que o
dito arguido António tinha a seu cargo, registam-se os seguintes:
- Publicidade acerca do “Encontro de Teatro”, última peça (sobre o qual recaiu
um despacho do arguido António Carvalho, de 01.07.2002 do seguinte teor: “G.
Imprensa: Autorizado, nos moldes das iniciativas anteriores);
- Comemoração da elevação de Felgueiras a cidade (sobre o qual recaiu um
despacho do arguido António Carvalho, de 01.07.2002 do seguinte teor: “G. Imprensa:
Autorizado, nos moldes das iniciaitivas anteriores);
- Festival de Folclore “Cidade de Felgueiras” (sobre o qual recaiu um despacho
do arguido António Carvalho, de 22.07.2002 do seguinte teor: “Autorizado. Proceda-se
como habitualmente, com parcimónia);
- “Feira das Tradições” (sobre o qual recaiu um despacho do arguido António
Carvalho, de 02.09.2002 do seguinte teor: “Autorizado. Proceda-se em conformidade);
- Inscrições Teatro (sobre o qual recaiu um despacho do arguido António
Carvalho, de 017.09.2002 do seguinte teor: “Deve ser feita uma nota p/ os jornais
locais...e utilizar o spot rádio Felgueiras”);
- “Desfolhada Tradicional 2002”;
- “Jornadas Leonardo Coimbra”.
Com a excepção das “Comemorações da elevação de Felgueiras a cidade”, cujo
evento também foi publicitado no “Semanário de Felgueiras”, todos os demais eventos
apenas o foram no jornal “O Sovela”.
A manutenção do jornal “O Sovela” dependia da autonomia financeira do
mesmo.
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CMF, só regressando no Domingo seguinte porquanto iria participar durante esse fim-
de-semana no Conggresso Nacional do PS), o dito motorista da CMF transportou no
interior da mencionada viatura, no dia 05.02.99, os vereadores Edgar Silva e António
Pereira e a solicitadora Conceição Rocha (militante do PS-Felgueiras), a fim dos
mesmos também participarem no Congresso Nacional do Partido Socialista que
decorreu em Lisboa, nos dias 06 e 07 de Fevereiro de 1999.
Já na cidade de Lisboa, com a conivência e autorização da arguida Fátima, o
mesmo motorista da CMF, naqueles dias 6 e 7 de Fevereiro de 1999, fazendo uso da
dita viatura da marca “BMW”, transportou as referidas pessoas do hotel para o local do
congresso e vice-versa.
O referido motorista, ficou alojado na “Pensão Residencial Avenida Alameda”,
em Lisboa, tendo o mesmo dado entrada, naquela unidade hoteleira, pela 01,00 hora do
dia 06.02.1999, e saído pelas 10,00 horas, do dia 07.02.1999, tendo pago por tal estadia
a quantia de Esc. 13.000$00, que o próprio efectuou em numerário.
As despesas de alojamento, parqueamento, portagens e combustível efectuadas
com tal viagem foram inicialmente pagas pelo motorista Manuel Ferreira Pinto.
Porém, mais tarde, tais despesas relativas ao alojamento e ao parqueamento
daquela viagem, no valor global de Esc. 26.691$00, foram pagas ao referido motorista
por Horácio Costa, através do dinheiro proveniente da “caixa paralela”.
Por outro lado, as despesas de portagens e combustíveis de tal deslocação, foram
pagas pela CMF, mediante a utilização, no primeiro caso da “via verde” e no segundo
caso através de um “fundo permanente” que o motorista Manuel Pinto possuía para o
efeito, sendo o mesmo constituído por uma quantia em numerário disponibilizada
mensalmente pela tesouraria da CMF, por indicação da arguida Maria de Fátima
Felgueiras.
Além disso, e em data que se desconhece, por ordens da arguida Maria de
Fátima Felgueiras enquanto presidente da Autarquia, o motorista da CMF, Manuel
Pinto, transportou, no veículo de marca “BMW”, propriedade da CMF, aquela arguida
da cidade de Felgueiras até à cidade de Lisboa, para participar no casamento de um dos
filhos do Dr. Pais Martins, que se realizou naquela cidade.
Fê-lo na medida em que a arguida Fátima havia recebido o respectivo convite na
qualidade de presidente da CMF, tendo sido nessa qualidade que se deslocou àquele
evento social.
Apesar de bem saber que tal lhe era interdito e que a sua conduta era proibida e
punida pela lei, a arguida Maria de Fátima Felgueiras agiu de forma livre, voluntária e
consciente, querendo utilizar para o uso particular de terceiros, uma das quais estranha a
tal autarquia, na situação acima descrita, o veículo de marca “BMW”, propriedade da
CMF, o qual se destinava prioritariamente ao uso do presidente da câmara para as
funções que lhe estavam adstritas.
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12. Factos provados relacionados com o percurso de vida dos arguidos, sua
inserção social e antecedentes criminais
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A imagem social da arguida Fátima Felgueiras no meio local não foi afectada
com o presente processo judicial.
O filho mais novo da arguida encontra-se perturbado emocionalmente com toda
esta situação, recusando-se mesmo a voltar a viver em Portugal.
No âmbito do processo comum singular nº 101/02.0TAFAF, do 3º Jz do T.J. da
Comarca de Fafe, por sentença proferida a 22.03.2006, transitada em julgado, foi a
arguida Fátima Felgueiras condenada na pena de 200 dias de multa à taxa diária de
50,00 euros, no montante global de 10.000,00 euros, pela prática de um crime de
difamação perpetrado a 30.09.2001, p. e p. pelos artgs 180, nº 1, 183º, nº 2, e 184º,
todos do CP, com referência ao artº30º, nº 2, da Lei nº 2/99, de 13.01; Tal pena,
entretanto, veio a ser declarada extinta pelo seu pagamento.
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detinha na sociedade, pondo fim ao seu vínculo contratual por mútuo acordo.
Actualmente presta apoio e aconselhamento ao seu filho que exerce a actividade na
“Resin”, não apresentando um projecto profissional definido.
A situação patrimonial da família é favorável, contando com participações
activas do arguido, que aufere um subsídio de desemprego, uma renda proveniente de
um espaço comercial e das aplicações financeiras que realizou com a venda das acções e
com o recebimento da indemnização pela caducidade do contrato.
O núcleo familiar é constituído pelo arguido Vítor e pela esposa
(profissionalmente inactiva), os quais privilegiam o contacto com outros elementos da
família alargada no seu quotidiano (filhos, noras, irmãos e pais), a par das relações de
amizade que mantêm, cultivando o convívio social.
Reside em moradia localizada na Avenida da Boavista, nas proximidades do
parque da cidade do Porto, inserida em contexto sócio-residencial conotado com um
padrão sócio-económico elevado, mantendo com a vizinhança relações cordiais.
O arguido vivencia com tranquilidade o desenrolar deste processo, o qual não
interferiu na qualidade das relações familiares e de amizade.
Porém, foi ao nível profissional que este contacto com o sistema penal mais
impacto provocou, pela incompatibilidade que se veio a gerar entre as exigências
inerentes ao exercício das suas funções e a disponibilidade que o presente processo lhe
tem exigido.
O arguido Vítor Borges não tem antecedentes criminais.
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O arguido Gabriel é o mais novo de três irmãos, oriundo de uma família estável,
de nível sócio-cultural médio-alto, estabelecida na cidade do Porto, cuja dinâmica é
coesa, pautada por padrões sócio-educativos convencionais e de investimento na
qualificação académico-profissional dos seus membros.
Concluiu aos 23 anos a licenciatura em Engenharia Mecânica na Faculdade de
Engenharia do Porto. No termo do curso realizou um estágio de alguns meses na
Bélgica, após o que ingressou no mercado de trabalho como engenheiro mecânico, na
indústria nacional. Desempenhou a sua actividade profissional em diversas empresas,
numa trajectória de ascensão profissional e de reconhecimento de competência técnica,
que lhe possibilitou aliás cargos de direcção/administração que lhe foram consignados
desde os 31 anos de idade.
Contraíu matrimónio aos 24 anos de idade e construiu com a sua esposa, uma
professora do ensino secundário, um projecto de família que se prolongou por 23 anos e
que se cindiu por divórcio em 1997, no contexto da qual consolidou condições de bem-
estar e segurança material elevadas. Tem dois filhos, ambos já autonomizados, com
famílias constituídas e descendentes próprios.
Cumulativamente com a carreira no ramo industrial desenvolveu uma actividade
docente, primeiro no ensino secundário e depois, desde 1973, no então Instituto
Industrial do Porto, hoje Instituto Superior de Engenharia do Porto. Leccionou nos
cursos nocturnos, o que lhe proporcionou complementos de rendimento e actualização
mas que lhe condicionou, pelo intenso nível de investimento laboral, a qualidade da
participação na vida em família.
Dotado de uma postura enérgica e pragmática, actuou de forma a corresponder
responsavelmente aos compromissos assumidos nos múltiplos papéis e actividades
desenvolvidas.
No período de 1997 a 2002/2003 cessou, em situação de licença sem
vencimento, as funções docentes, centrando a sua actividade na indústria. Em 1997
efectuou formação técnica e gestão na “Suez-Lyonesse” e, por referenciação de uma
empresa na área do ambiente daquela holding, integrou, em Setembro de 1997, a firma
“Resin”, também daquele ramo, com funções de director-geral, designadamente para as
áreas técnicas e profissionais.
Rescindiu o seu contrato de trabalho que o ligava à “Resin” em Maio de 2000 e
então empenha-se em outros projectos ligados ao ambiente, tendo ainda trabalhado na
sociedade de empreitadas “Adriano”.
Em meados de 2002 retomou a docência, estando desde há 4 anos na situação de
exclusividade no ISEP, integrado no Departamento de Engenharia Mecânica, onde
lecciona as cadeiras de “Órgãos de Mecânica”, “Introdução à Engenharia I”, “Mecânica
dos Materiais” e “Projecto”.
Restringiu a sua actividade profissional ao ensino em razão da sua situação
processual, o que o inibe de aceitar funções com relevância de direcção por as
considerar incompatíveis com os requisitos de credibilidade inerentes ao exercício
daqueles cargos.
Divorciado desde 1997, vive sozinho, em andar próprio, localizado na zona da
periferia urbana da cidade do Porto, não estabelecendo relações de vizinhança para além
das formalmente exigidas.
Mantém um relacionamento próximo frequente com os filhos e respectiva
família constituída e ainda com a ex-mulher. Neste contexto, é preservado o sentido de
unidade familiar, procurando o arguido Gabriel cultivar uma relação de proximidade e
cooperação com os descendentes e, por decorrência, a retribuição afectiva que lhe é
concedida.
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No período posterior aos factos que lhe são atribuídos, substituiu a a presidente
da CMF durante dois anos. Em 2005 aposentou-se, tendo deixado de exercer qualquer
actividade profissional e política.
Actualmente continua a residir na mesma casa, na companhia da esposa,
também reformada, e da sogra (que se encontra acamada).
O agregado tem uma boa situação económica, sendo certo que o arguido e a
esposa recebem, cada um deles, 2.000,00 euros de pensão de reforma por mês.
Ocupa os seus tempos livres no convívio e apoio familiar, bem como na
participação activa nalgumas associações da comunidade.
É pois um indivíduo detentor de competências cognitivas, interpessoais e
sociais, que lhe permitem uma ajustada inserção comunitária.
A sua actual situação jurídico-penal está a causar algum impacto ao nível
pessoal, decorrente do desconforto e tensão que o presente processo lhe acarreta.
Procura manter a família à margem de toda esta envolvência, à custa de uma excessiva
internalização de sentimentos, que estão a reflectir-se nalgumas queixas sintomáticas.
Socialmente a sua imagem não foi afectada, continuando a benificiar de uma
imagem social bastante favorável.
O arguido António Pereira Mesquita de Carvalho não tem antecedentes
criminais.
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Tem cuidados específicos com a saúde, uma vez que apresenta alguns problemas
depressivos e perturbações do sono desde jovem, fazendo acompanhamento clínico da
especialidade e tomando medicação para o efeito.
O arguido beneficia de adequada inserção comunitária, especialmente em
Felgueiras, onde passa parte substancial do seu quotidiano. Junto da comunidade onde
cresceu, em Varziela - Felgueiras, detém uma imagem positiva, sendo descrito como
pessoa empreendedora e solidária, participando e contribuindo para instituições
culturais e de solidariedade social, atenta a sua situação sócio-ecnómica confortável. Foi
membro do “Rotary Clube de Felgueiras”.
O presente processo teve um impacto negativo na sua vida, visto que a sua
credibilidade social e empresarial podem sair prejudicadas, sobretudo pelo facto do
processo ser alvo de forte mediatização, além de que, numa fase incial, este contacto
com o sistema judicial acabou por acentuar as suas complicações de saúde, situação
entretanto estabilizada.
Não tem antecedentes criminais.
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que apresentou a demissão desse cargo, devido a ter sido constituída arguida no âmbito
dos presentes autos.
É nesta altura que optou por suspender toda a sua actividade académica, por não
se sentir em condições de exercer a actividade laboral enquanto o presente processo não
estiver resolvido. Solicitou licença sem vencimento pelo período de 3 anos, culminando
com o pedido de exoneração dos quadros do ISCAP.
Actualmente, mantém como única ocupação profissional a colaboração com a
“Porto Editora” como revisora científica de manuais escolares de matemática. Reparte o
seu quotidiano entre aquela actividade e a convivência com a família, dispensando
grande parte do seu tempo disponível nos cuidados prestados aos netos menores.
Até Maio de 2004 a arguida Augusta exercia uma actividade política em
Felgueiras, onde possuía residência. Paralelamente detinha outra residência em Rio
Tinto – Gondmar, onde se fixou a título definitivo recentemente.
Tomou conhecimento pela comunicação social de que iria ser constituída
arguida, notícia que foi acolhida por si e pela sua família com surpresa.
O seu envolvimento neste processo causou-lhe sentimentos de vergonha e
constrangimento nas suas relações profissionais e sociais, sobretudo devido à forte
mediatização de que este processo foi alvo.
Desde então sentiu a sua imagem social e profissional descredibilizada, tendo
suspendido os cargos que ocupava quer nos estabelecimentos de ensino superior quer na
assembleia municipal.
Passou a padecer de problemas de saúde, designadamente sintomas depressivos
e descontrolo da tensão arterial, situação que tem vindo a estabilizar-se com a
intervenção clínica. O impacto negativo inicial parece entretanto ter sido ultrapassado,
exprimindo agora a arguida maior tranquilidade e verbalizando o desejo da sua rápida
resolução.
Ela é detentora de uma imagem social conceitualizada, assente numa trajectória
académica e profissional consolidada quer como docente quer como investigadora no
ensino superior.
Não tem antecedentes criminais.
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para que a “Norlabor” vencesse o outro concurso mencionado em tal ponto da mesma
peça processual.
Não se provou que na análise das propostas aos concursos mencionados no
ponto 1.5 da pronúncia (para a construção do aterro RIB de Felgueiras e para a
construção de ecocentros e não ecopontos conforme referido na pronúncia) algum dos
elementos das respectivas comissões de análise tenha favorecido qualquer um dos
concorrentes ou sequer que sobre tais elementos tenham sido exercidas quaisquer
influências nesse sentido.
Não se provou que os arguidos Júlio Faria, Fátima Felgueiras e Barbieri Cardoso
soubessem que a “Resin” inflaccionou em 140.000 cts o valor da proposta apresentada
pelo consórcio “Resin”/”Sita”/”Ecop” (conforme dado como provado), de modo a,
dessa forma, ressarcir-se dos montantes então em dívida pela CMF e que ultrapassavam
os 100.000 cts (mesmo sem considerar os juros de mora e os encargos emergentes dessa
situação de mora por banda da CMF).
Não se provou que esses 140.000 cts, dissimulados na proposta apresentada pelo
consórcio liderado pela “Resin”, digam na realidade respeito à exploração do aterro RIB
de Felgueiras e que tal tenha sido assim dissimulado para beneficiar do co-
financiamento por fundos de coesão comunitários em 85% (fundos esses que não
financiavam a exploração mas apenas a construção do aterro).
Não se provou que a “Resin” nunca tenha entregue qualquer quantia em
numerário (provaram-se quatro entregas em numerário: um donativo que serviu para
abrir a conta do BES, dois “retornos” e parte de um donativo em numerário concedido
ao FCF, conforme acima dado como provado).
Não se provou que as quantias monetárias não tenham sido entregues pelas
pessoas mencionadas na pronúncia, no contexto dado como provado (porém, quanto ao
facto alegado na pronúncia de que o arguido Gabriel Almeida acompanhou o arguido
Carlos Marinho aquando da entrega ao arguido Horácio Costa, na CMF, do donativo de
20.000 cts destinado ao FCF, cfr. o que a propósito acima foi decidido pelo Tribunal a
título de questão prévia).
Não se provou que os arguidos Horácio e Joaquim Freitas não tivessem
consciência que duas das entregas em numerário referidas não se reportassem a
“retornos” de verbas pagas pela CMF no âmbito do contrato de empreitada celebrado
com a “Norlabor” (não se demonstrou pois que, quanto a elas, tivessem partido do
pressuposto de que se trataram de simples donativos).
Não se demonstrou – para além do provado -, quais as funções efectivamente
exercidas pelo arguido Gabriel na “Resin” (designadamente as que alegou nos artgs 20 e
21 da sua contestação).
Não se provou que o arguido Gabriel não tivesse consciência de que a quantia
por si entregue em numerário – proveniente da “Resin” – não constituísse um “retorno”
de um dos pagamentos efectuados pela CMF com referência ao contrato de empreitada
que a edilidade celebrou com a “Norlabor” e mencionado no ponto 1.3 da pronúncia,
não se demonstrando ainda que não tivesse tomado consciência de que o mesmo era
simulado.
Quanto às circunstâncias dessa entrega, não se demonstrou o que a propósito foi
alegado nos artgs 39º a 47º da contestação apresentada pelo dito Garbriel Almeida.
Não se provou que tenha sido o arguido Gabriel a assinar o fax de fls 223 do
apenso 20.
Não se provou que a “Resin” não tenha recebido qualquer verba em numerário
da testemunha Menezes Basto.
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Não se provou que o segundo cheque emitido pelo arguido Anastácio tenha sido
entregue à arguida Fátima Felgueiras pelo arguido Joaquim Freitas (mas provou-se que
foi ela quem o entregou ao arguido Horácio).
Não se provou que o arguido Anastácio Augusto Macedo tenha agido de forma
livre, voluntária e consciente querendo entregar várias quantias monetárias à arguida
Maria de Fátima Felgueiras, através de interpostas pessoas da sua confiança, para ajudar
a financiar a campanha eleitoral desta, recebendo em troca da entrega de tais apoios
financeiros a emissão e aprovação da licença de utilização e de ocupação de um
pavilhão industrial de sua propriedade, apesar de o mesmo bem saber que tal conduta
era proibida e punida por lei.
Não se provou ainda que, por sua vez, a arguida Maria de Fátima Felgueiras
agiu de forma livre, voluntária e consciente, aceitando, e utilizando, aquelas quantias
monetárias, com intuito de obter beneficio patrimonial que sabia ser ilegítimo, por
constituir indevida contrapartida da prática de actos administrativos que violavam as
normas legais aplicáveis e os seus deveres como membro de órgão representativo de
autarquia local, sabendo igualmente que a sua conduta era proibida e punida por lei.
Por outro lado, não se demonstrou também que o arguido Horácio Costa tenha
agido de forma livre, voluntária e consciente querendo participar e colaborar na prática
de tal crime, nomeadamente colaborando na angariação de fundos monetários para a
campanha eleitoral da arguida Fátima Felgueiras, e nesse âmbito solicitando-lhe que
emitisse a aludida licença de utilização recebendo em troca um donativo monetário por
parte do beneficiado, o que conseguiu e obteve, sendo certo que o mesmo bem sabia que
tal conduta era proibida e punida por lei.
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fizeram em datas distintas (provou-se que os primeiros dois donativos foram entregues
na mesma ocasião através da testemunha Manuel Machado e que todos os donativos
foram entregues através desta mesma testemunha).
Não se provou qual a finalidade da concessão do donativo de 670 cts e que este
tenha sido entregue directamente pelo arguido Silva os arguidos Horácio e Freitas.
Não se demonstrou que os arguidos Fátima, Silva e Pinto tivessem consciência
de que a aprovação da operação de loteamento fosse um acto administrativo ilegal.
Não se demonstrou a matéria alegada pelo arguido Pimenta da Silva nos artgs 7º
a 13º e 25º a 29º na sua contestação escrita.
Não se demonstrou a matéria constante dos artgs 2º a 5º, 7º a 16º, 19º, 28º, 29º,
35º, 36º, 37º, 46º, 47º, 56º, 63º 64º, 65º, 68º, 69º, 70º, 74º, 77º e 89º da contestação
apresentada pelo arguido Joaquim Teixeira Pinto.
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Não se demonstrou que, mais uma vez, este facto tenha sido comunicado pelo
arguido António Bragança à arguida Maria de Fátima Felgueiras, e que esta, para
arquivar o processo, tenha exigido que a arguida Maria Augusta Neves pagasse a
quantia combinada, ou seja, a quantia de Esc. 500.000$00 (quinhentos mil escudos).
Não se provou que tenha sido no seguimento daquela exigência que a arguida
Maria Augusta Neves tenha entregue ao arguido António Bragança, em Abril de 1999, o
cheque com o n.º 3769765719, no valor de Esc. 500.000$00 (quinhentos mil escudos),
sacado sobre a conta n.º 21656575/001 do BTA, balcão de Felgueiras, titulada por José
Manuel Monteiro Neves (mas emitido por Maria Augusta Ferreira Neves, em
16/04/1999).
Não se provou que, posteriormente, emergente de uma qualquer combinação
entre ambas arguidas, tenha sido arquivado o processo de contra-ordenação referido e
que tenha sido emitido o alvará nº 940/99, licenciando alterações à construção inicial,
alterações estas destinadas a um armazém.
Não se provou que a arguida Maria Augusta Ferreira Neves agindo de forma
livre, voluntária e consciente tenha querido contribuir e entregar os donativos supra
referidos à arguida Maria de Fátima Felgueiras a fim de obter em troca o respectivo
licenciamento da obra supra referida, assim como não se demonstrou que ela tenha
visado com tais condutas evitar que lhe fosse aplicada uma coima de valor elevado
pelos serviços camarários, sendo certo que a mesma bem sabia que tal conduta era
proibida e punida por lei.
Não se provou também que os arguidos Maria de Fátima Felgueiras e António
Bragança da Cunha agiram de forma livre, voluntária e consciente, em conjugação de
esforços e de intenções, querendo receber as quantias supra aludidaspara licenciarem
contra as normas legais vigentes as obras requeridas pela arguida Maria Augusta junto
da CMF, bem como para evitarem que a mesma pagasse uma elevada quantia monetária
àquela autarquia, a título de coima, usando para o efeito os poderes legais dos cargos de
autarcas que desempenhavam, apesar de bem saberem que ao fazê-lo violavam os
deveres a que estavam a obrigados por força de tais cargos e que as suas condutas eram
proibidas e punidas por lei.
Não se demonstrou ainda qualquer outro facto alegado nas contestações, em
contradição ou para além dos que acima se deram como provados, designadamente:
- A matéria constante dos artgs 12º, 14º, 24º, 50º e 60º (2ª parte) da contestação
apresentada pela arguida Maria Augusta Neves;
- A matéria constante dos artgs 64º, 67º e 70º da contestação apresentada pelo
arguido Bragança.
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Introdução
Não se demonstrou que a arguida Fátima Felgueiras, ao proferir os seus
despachos nos processos de licenciamento, tenha deferido as pretensões formuladas
pelos requerentes em tais processos com a consciência de que ao fazê-lo estaria a violar
qualquer norma legal, designadamente o RGEU e o PDM.
Não se demonstrou ainda que tenha decidido em sentido contrário aos pareceres
proferidos pelos técnicos em tais processos de licenciamento.
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político que exercia lhe atribuíam, apesar de bem saber que tal conduta era proibida e
punida por lei.
Não se demonstrou por fim a matéria constante dos artgs 86º e 87º da
contestação apresentada pela arguida Fátima Felgueiras.
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Não se provou ainda a matéria alegada pela arguida Fátima no artº 95º da sua
contestação 2 .
2
Note-se que o Tribunal se convenceu que à arguida Fátima lhe foram pagas as passagens aéreas que
adquiriu (referente a três viagens, uma Porto/Lisboa e duas Lisboa/Porto), sendo certo que apenas não foi
entregue na CMF, certamente por lapso, o comprovativo da aquisição da segunda passagem aérea
Lisboa/Porto. Em face deste nosso convencimento, naturalmente que não se demonstrou que a CMF, com
ou sem lapso, tenha liquidado a passagem aéra referente à viagem Porto/Lisboa de Sandra Felgueiras mas
antes a segunda viagem Lisboa/Porto adquirida pela arguida Fátima.
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c) - A CONVICÇÃO DO TRIBUNAL:
O tribunal alcançou a sua convição ponderando de forma conjugada os
depoimentos dos arguidos que quiseram depôr, os testemunhos produzidos e os
documentos analizados na audiência de julgamento da forma que a seguir se explicitará.
Por outro lado, dado o elevado número de intervenientes (acidentais e não
acidentais) que prestaram declarações e a evidente complexidade dos autos, optou-se
por reproduzir por súmula 4 as respectivas declarações (possibilitando assim que melhor
se possa escrutinar a forma como o Tribunal as filtrou) e, quando se justifique, procurar-
se-á relacionar os respectivos depoimentos com os documentos pertinentes constantes
dos autos.
Assim:
Introdução
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social, desporto e habitação. Nessa altura era presidente da autarquia o arguido Júlio
Faria, até ter sido eleito deputado na Assembleia da República nas eleições legislativas
ocorridas em 1995.
Salientou que apenas em Julho de 1995 teve conhecimento de que o arguido
Júlio Faria tinha a intenção de se candidatar a um lugar de deputado na Assembleia da
República, integrando a lista do PS, sendo certo que as listas dos candidatos não são
divulgadas antecipadamente e, devido a movimentações internas no partido, são
formuladas e reformuladas até à última hora antes de serem apresentadas, de sorte que
ignorava se ele iria ocupar na lista um lugar elegível. Em todo o caso, não era
expectável que Felgueiras tivesse um candidato elegível nas listas do PS, elaboradas
pela Federação Distrital do Porto do partido
Nega que perspectivasse suceder ao arguido Júlio Faria à frente dos destinos da
CMF (não obstante na altura ser vice-presidente da CMF), dando conta da grande
oposição interna a esse facto, no seio do PS de Felgueiras, oposição essa que se
verificou quer quando integrou as listas do PS de Felgueiras em lugar elegível nas
eleições autárquicas de Dezembro de 1989, quer quando assumiu o comando dos
destinos da autarquia a partir de Outubro de 1995 (parece que terá sido apartir de
Agosto de 1995, visto que o arguido Júlio Faria suspendeu o seu mandato nessa altura)
e ainda quando se apresentou como canditada a presidente da CMF nas listas do PS nas
eleições autárquicas de 14 de Dezembro de 1997.
Nega terminantemente ter engendrado qualquer esquema de angariação de
fundos com vista às eleições autárquicas de 1997, descrevendo a forma como são
organizadas as campanhas eleitorais, com a nomeação de comissões encarregues de
levar a cabo as diferentes actividades necessárias ao decurso da campanha eleitoral,
entre as quais a recolha de fundos, dando conta que, como cabeça de lista do PS local,
apenas lhe cabia dirigir a campanha eleitoral em termos de orientação política,
alheando-se de todo em todo da recolha de fundos, que cabia aos arguidos Horácio
Costa e Joaquim Freitas, razão aliás pela qual foi aberta em nome deles a conta do BES
referida nos autos e sobre a qual não tinha qualquer poder de disposição, ignorando de
todo em todo os respectivos movimentos, bem como quem oferecia os donativos e em
que montante.
De resto, salientou ser normal em todas as eleições locais e em todos os partidos
a abertura de uma conta paralela, isto é, uma conta “não oficial” do partido (ignorando
em todo o caso se tal foi feito nas eleições autáquicas de 1993).
Nega terminantemente alguma vez ter reúnido com os arguidos Júlio Faria,
Vítor Borges e Carlos Marinho, estes na altura pertencentes aos quadros da “Resin”,
com os objectivos descritos na pronuncia e que alguma vez os valores das empreitadas
adjudicadas tenham sido sobreavaliados com o desiderato ali referido.
De resto, referiu ter conhecido o arguido Vítor Borges em Outubro de 1995 e o
arguido Carlos Marinho apenas no ano passado no T.J. de Guimarães, aquando da
realização do debate instrutório a que se reportam estes autos.
Nega terminantemente alguma vez ter controlado ou instrumentalizado os
órgãos decisórios da CMF (aliás compostos também por elementos da oposição,
designadamente no executivo, onde três veradores foram eleitos por listas de outros
partidos que não do PS) ou a AMVS.
Referiu que a “Resin”, à data, era das únicas empresas a operar em Portugal que
tinha os conhecimentos necessários para o tratamento dos lixos domésticos e industriais,
sendo certo que essa empresa – conforme é aliás habitual – se consorciou com outras
empresas a fim de concorrer aos concursos abertos e relativos à construção de aterros e
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2º Juízo
tratamento dos lixos, assim ultrapassando o facto de não ter alvará de construção civil e
obras públicas.
Revelou desconhecer os fluxos financeiros existentes entre as empresas ali
referidas, admitindo como verídica essa matéria, justificando a transferência de verbas
para a “Resin” pelo facto de sempre ter sido ela quem tratou os lixos no concelho, na
lixeira de Sendim, ainda que sem qualquer contratualização em alguns períodos, e das
relações de consórcio estabelecidas entre umas e outras.
Nega a existência de concursos simulados (mas não deu uma explicação
satisfatória para o facto da “Resin” ter enviado uma lista das empresas a contactar a fim
de serem oponentes, conforme referido na pronúncia).
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este arguido), informando-o que a testemunha Menezes Basto não queria receber sequer
o dito Júlio Faria.
Foi então a Sendim falar com o dito Eng. Menezes Basto e apresentou-se,
dizendo-lhe que vinha da parte do arguido Júlio Faria. Em face dessa apresentação foi
muito mal recebido, mas conseguiu encetar com ele uma conversa que durou cerca de 2
horas e garantiu-lhe que resolvia o problema da lixeira de Sendim do seguinte modo:
- Em 6 meses faria uma reabilitação visual do local, por forma a fazer cessar os
cheiros e insectos no local provocados pela lixeira;
- Taparia os lixos depositados (de modo a evitar a respectiva combustão).
Por imposição da testemunha Menezes Basto teve de convencer também a
respectiva esposa, o que aliás conseguiu.
Ficou então acordado que a “Resin” poderia avançar com a reabilitação do local.
Teve então com o Eng. Menezes Basto várias outras reuniões, sendo certo que
ele só aceitava o depoente como interlocutor.
Avisou porém o depoente que nada lhe iria pagar pois entendia que era a CMF
que deveria pagar a reabilitação.
Numa reunião em que estiveram presentes o depoente, o arguido Júlio Faria e a
testemunha Menezes Basto, foi apresentado o estudo da reabilitação da lixeira de
Sendim e o respectivo custo (cerca 34.0000 cts.), segundo orçamento fornecido pela
“France Déchets” em Setembro de 1993.
Sucede que devido ao facto de não ser da propriedade da CMF o terreno onde tal
lixeira estava implantada existiam constrangimentos administrativos que impediam a
edilidade de directamente pagar à “Resin” os serviços a prestar.
Uma das hipóteses colocadas seria o pagamento de uma renda superior pela
CMF ao Eng. Menezes Basto, parte da qual reverteria para a “Resin”.
Porém, convenceu a testemunha Menezes Basto a vender o terreno à CMF pois
alertou-o de que, por força de legislação comunitária que iria ser aprovada, os
proprietários dos terrenos onde estivessem implantadas lixeiras iriam ser
responsabilizados pela alteração da qualidade ambiental, o que certamente lhe traria
custos avultados.
Por essa razão ele desistiu de renegociar os termos do contrato de arrendamento
com a CMF e decidiu-se a vender o terreno referido.
Antes da decisão de avançar com os trabalhos quis mostrar ao Eng. Menezes
Basto um aterro sanitário em França, aproveitando o facto dele ir de férias com a família
para França. Consequentemente, tal aterro sanitário foi-lhe mostrado por um
responsável da “France Déchets” e ele ficou fascinado com o que viu.
Entretanto, a recuperação interna da lixeira ficaria a aguardar a concessão de
fundos comunitários, sendo certo que se passaram meses em negociações entre o Eng.
Menezes e a CMF.
Entre fins de 1993 e princípios de 1994 (algures entre Novembro de 1993 e
Janeiro de 1994) iniciaram-se os trabalhos na lixeira de Sendim (vindo de França uma
máquina de compactação a 10.12.93 – que no mercado custava cerca de 35.000 cts -,
com os respectivos técnicos - cfr. documento junto na audiência de julgamento).
Confrontado com o documento em causa, adiantou que os trabalhos nunca se iniciariam
antes da data da vinda da referida máquina de compactação de França para Portugal
(razão pela qual os trabalhos ter-se-iam iniciado em Dezembro de 1993 e durante um
período de 6 meses, isto é, até Maio de 1994).
Assegurou que a “Resin” não retirou qualquer lucro da operação de reabilitação
em causa, visto que pagou 24.500 cts aos franceses e colocou no local dois seguranças,
um porteiro e um encarregado, além de que teve de pagar o transporte de terra.
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Começou por referir que foi admitido ao serviço da CMF em Setembro de 1980
como chefe dos Serviços Técnicos de Obras.
Em 22.05.85 foi nomeado director do Departamento Técnico.
Como director do Departamento Técnico cabia-lhe dirigir a actividade do
respectivo departamento, respondendo directamente perante o executivo municipal.
Explicou que os chefes de divisão têm uma função mais operativa e que respondem
perante o respectivo chefe de departamento.
Participa em reuniões de coordenação (onde participa a presidente da edilidade,
os vereadores, os directores de departamento e eventualmente os chefes de divisão). Por
norma as decisões de lançamento dos concursos de obras são tomadas nas reuniões de
coordenação.
Salientou os deveres de lealdade, sigilo e obediência a que está sugeito enquanto
funcionário camarário perante o respectivo executivo.
Em traços gerais, explicou a estrutura organizativa da CMF (cfr. a fls 28 a 37 do
apenso 137 a estrutura organizativa da CMF).
Em 19.05.2000 foi nomeado director do Departamento de Planeamento (cfr. fls
67 e ss. do apenso 137).
Além disso era coordenador técnico da ADERSOUSA, daí ter travado
conhecimento com os presidentes de câmara do Vale do Sousa (aliás, antes de tomar
certas decisões a AMVS ouvia-o).
Para além dessas funções, é sócio da “Ambiedica, Ldª” (uma empresa que
desenvolve a sua actividade na área imobiliária) e “Ambienta, Ldª” (sociedade que
elabora projectos de construção civil), assegurando que nunca teve funções executivas
nesta última, sendo certo que há já cerca de 3 anos que nela não exerce qualquer função,
tendo inclusive decidido deixá-la, o que ainda não se concretizou.
Explicou que o Eng. Adelino Leite era o responsável pela área de infra-
estruturas de ambiente (águas, saneamento e recolha de resíduos), sendo certo que como
era engenheiro electrotécnico e de máquinas não tinha qualificação técnica para apreciar
as propostas apresentadas em concursos de obras de construção civil.
Em face das funções que exercia era ele quem sempre teve mais intervenção nas
relações com a “Resin” e que justificou a emissão das respectivas facturas.
Quanto à problemática da recolha dos resíduos sólidos urbanos no concelho
felgueirense, descreveu a lixeira de Sendim como um “inferno”, em que os resíduos
entravam em auto-combustão e exalavam um cheiro nauseabundo, tendo-se chegado a
esse ponto dado o contínuo e crescente aumento da recolha de resíduos, em face do
crescimento enconómico e da alteração dos hábitos de consumo, que determinou aliás
também a alteração da natureza dos lixos produzidos (em 1981 recolhiam-se
semanalmente 27 toneladas; em 1985 65,5 toneladas semanais; em 1989 105 toneladas
por semana; em 1991 150 toneladas semanais; e em 1992 43,5 toneladas por dia, dos
quais 54% eram resíduos sólidos urbanos e 46% resíduos industriais banais – tratam-se
de valores estatísticos em função de amostragens efectuadas, visto que não havia na
altura báscula para pesar os camiões. Só a partir de Abril de 1996 é que esse
equipamento se encontrava a operar na lixeira).
Explicou que integrou a Comissão de Análise quer no que se refere ao concurso
a que se reporta o ponto 1.3 da pronúncia quer no ajuste directo a que se reporta o ponto
1.4 da mesma peça processual em face das funções que exercia na CMF, sendo certo
que a análise das propostas foi relativamente simples e teve a ver essencialmente com os
preços apresentados.
Por outro lado, nos concursos da AMVS era hábito nomear-se para a Comissão
de Análise um técnico do município onde a obra iria ser implantada, já que a dita
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associação não dispunha de técnicos próprios para o efeito. Foi pois nesse contexto que
também integrou a Comissão de Análise nos concursos a que se reporta o ponto 1.5,
sendo certo que o depoente era já um elemento conhecido devido às funções que
também desempenhava na ADERSOUSA.
Nega terminantemente que alguma vez tenha sido influenciado directa ou
indirectamente nas apreciações que fez das diversas propostas apresentadas.
A propósito do tratamento dos resíduos (produção do lixo – recolha –
eliminação/reciclagem), referiu que teve várias reuniões com a Direcção Regional e
com o Ministério do Ambiente desde 1995.
Nas lixeiras o tratamento dos resíduos reconduz-se ao fim ao cabo à
compactagem do lixo e à sua movimentação de modo a criar plataformas, bem como à
cobertura com terra por forma a melhor permitir a decomposição dos resíduos
orgânicos.
Tratam-se pois de vasadouros controlados.
É este tipo de trabalhos que estavam em causa no concurso a que se reporta o
ponto 1.3 da pronúncia e no ajuste directo a que se alude no ponto 1.4 da mesma peça
processual.
Havia a expectativa de prolongar o tempo de vida útil da lixeira e obviar ao
perigo de desmonoramento com a criação de plataformas, sendo certo que 1 tonelada de
lixo representa 2 m3 de lixo doméstico e 3 m3 de resíduos industriais banais.
Em 02.07.99 na lixeira de Sendim deixou de haver depósito de lixo doméstico e
só em meados de 2001 é que também se deixou de depositar os resíduos industriais
banais, altura em que começaram a ser depositados no aterro RIB quando este ficou
totalmente concluído.
Explicou que a propósito da concepção/construção (selagem da lixeira e
construção do aterro)/exploração a “Resin” apresentou a melhor solução técnica, pois
previa o enfardamento dos resíduos e assim uma melhor compactagem, além de uma
mesa de triagem dos resíduos, assim dininuindo o espaço utilizado e,
consequentemente, prolongando o tempo de vida útil do aterro.
Assim, no concurso internacional a que se faz alusão no ponto 1.5, confirmou
que abertura de propostas teve lugar a 18.07.97, a 28.11.97 efectuou-se a adjudicação, a
23.01.98 celebrou-se o contrato de empreitada e a 08.05.98 efectuou-se a consignação,
tendo sido concluída a obra em Dezembro de 2000 e iniciada a sua utilização em Julho
de 2001 (a deposição dos resíduos industriais banais na lixeira fazia também parte do
concurso enquanto ela não fosse selada).
A escolha da localização do aterro prendeu-se com questões técnicas, pois era
adequado do ponto de vista geotécnico, além de que no local já existia a lixeira de
Sendim e que era necessário selar, possibilitando o respectivo controle da qualidade
ambiental com menores custos.
Recorda-se que a escolha daquela localização para o aterro provocou protestos
(segundo a arguida Fátima Felgueiras não era expectável que essa localização criasse
resistência pois já ali existia a lixeira; porém, esses protestos ocorreram e foram
fomentados pela oposição ao executivo camarário, tendo sido criada uma associação
que intrepôs 3 providências cautelares para impedir a construção do aterro naquele
local).
- Arguido Horácio Costa
Segundo referiu, iniciou funções na CMF em Outubro de 1996.
Explicou que tinha sido aluno da arguida Fátima Felgueiras quando esta
leccionava na Escola Secundária de Felgueiras.
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2º Juízo
Chegou a ganhar um prémio por ser o melhor aluno, que recebeu na CMF, sendo
certo que a arguida Fátima Felgueiras estava presente.
Foi também aluno do ex-marido da arguida Fátima Felgueiras.
Certo dia deslocou-se à CMF a propósito de um investimento de uma empresa
do seu sogro no concelho (na altura o depoente dava aulas e trabalhava a tempo parcial
para o sogro) e por acaso encontrou-se com a arguida Fátima Felgueiras, a qual, tendo-o
reconhecido, entabularam conversa, na sequência da qual ela perguntou-lhe se não
queria exercer funções na CMF.
Ela queixava-se que estava sozinha (dos 3 vereadores do PS só um exercia
funções efectivas) e que “precisava de sangue novo”.
Propôs-lhe então a celebração de um contrato de prestação de serviços,
exercendo assim funções de assessor.
O seu cunhado Bragança da Cunha (também arguido neste julgamento) fez a
ponte entre os dois. Salientou porém que não foi por intermédio dele que ingressou na
CMF, tanto mais que a arguida Fátima Felgueiras não nutria apreço pelo seu cunhado,
razão pela qual não lhe iria fazer favores.
Assim, a 01.10.96 iniciou funções como assessor da Presidente da CMF (até
Dezembro de 1998), por 290 cts mensais, tendo como tarefa tratar dos assuntos
relacionados com o Centro Coordenador de Transportes (mais tarde redenominado de
Centro de Camionagem) e tinha de estar disponível para o que fosse necessário para
auxiliar a arguida Fátima Felgueiras, sendo certo que só dela recebia ordens, razão pela
qual aliás ela lhe delegou competências.
Tinha a obrigação de apresentar um relatório mensal da execução das tarefas de
que era incumbido.
Consequentemente, na prática, exercia funções mais vastas que aquelas que
constavam do objecto do contrato que celebrou com a CMF.
Assim, para além do Centro Coordenador de Transportes, teve intervenção no
conjunto habitacional da Longra (no arrendamento de apartamentos e na venda de lojas
e garagens); na venda de lotes de um terreno na Lixa para construção em altura (onde se
procedeu à limpeza do espaço e à formalização do loteamento); à venda de lotes
camarários dispersos por todo o concelho; teve intervenção na reabilitação do
Cineteatro Fonseca Moreira e da “Casa do Curral” (edifício adquirido pela CMP após
muitas negociações com o respectivo proprietário e onde viria a ser instalado um pólo
do Instituto Superior Politécnico do Porto); na zona das “Portas da Cidade” encetou
diligências junto dos proprietários de terrenos nessa zona com vista à respectiva
aquisição por banda da CMF; teve intervenção nas negociações que conduziram à
demolição de um edifício numa das entradas da cidade de Felgueiras e, de uma forma
geral, teve intervenção ao nível do património imobiliário da CMF, o que o obrigava a
ter um contacto estreito com os serviços camarários, pois era necessária a execução de
obras de vária ordem nesses espaços e antes de mais tinha necessidade de identificar os
espaços junto dos serviços camarários e saber o que neles era possível construir (assim
se inteirando do património imobiliário do Município Felgueirense e do seu respectivo
valor patrimonial).
Ainda título de exemplo da estreita colaboração que mantinha com os serviços
camarários, referiu que na preparação do orçamento camarário para 1997 a testemunha
Terezinha pôs-lhe num dos gabinetes uma série de documentos de modo a que o
depoente colocasse as questões que entendesse acerca dos custos e dos investimentos na
área do património imobiliário da CMF, entre os quais o Centro Coordenador de
Transportes.
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exercendo ainda as mesmas funções que antes. Em Março de 2000 a arguida Fátima
Felgueiras retirou-lhe o estatuto de verador em regime de permanência, tendo sido nessa
qualidade que foi vereador até ao final de 2001.
Para ilustrar o grau de confiança que a arguida Fátima Felgueiras depositou em
si, juntou aos autos um cartão manuscrito por ela quando o convidou para integrar a
lista do PS nas eleições autárquicas (e cuja lista foi apresentada a 17.12.97). Uma vez
que integrou o 5º lugar dessa lista não tinha qualquer expectativa em ser eleito, a fazer
fé nas sondagens efectuadas.
Quando iniciou funções na CMF não era filiado em partido algum e não tinha
qualquer experiência política, estando completamento alheado do ambiente político no
concelho de Felgueiras, tanto mais que residia em Fafe.
Porém, já conhecia a D. Cândida e o arguido Júlio Faria dos seus tempos de
escola, além de ser cunhado do arguido Bragança.
Quanto ao seu papel nas eleições autárquicas de 1997, referiu o seguinte:
O desempenho das suas funções agradou à arguida Fátima Felgueiras, nunca
tendo recebido qualquer reparo a esse propósito.
Tomou contacto com os elementos do PS local quando exercia funções na CMF,
ou porque iam solicitar alguma coisa à arguida Fátima Felgueiras ou porque ali se
dirigiam para pagar as suas quotas.
O PS era composto por elementos com muito pouco espírito crítico e que
gravitavam à volta do poder.
O secretário-coordenador do PS local (o arguido Bragança, seu cunhado), na
prática, nada fazia.
O arguido Joaquim Freitas fazia parte da Comissão Política do PS local e era
amigo da arguida Fátima Felgueiras.
A arguida Fátima Felgueiras era assim a única com capacidade para se
candidatar à presidência da câmara nas eleições autáquicas de Dezembro de 1997.
Assim, ela auto-propôs a sua candidatura e escolheu as pessoas que iriam
trabalhar consigo.
O depoente só soube que ia integrar a lista do PS em 5º lugar, como
independente, minutos antes da mesma ser apresentada no T.J. da Comarca de
Felgueiras, o que aliás motivou desagrado entre alguns elementos do partido.
Como não foi eleito continuou como assessor na CMF.
O seu contrato foi então alterado e passou a auferir uma remuneração
equivalente à de vereador, por proposta da arguida Fátima Felgueiras, já que ela
considerava-o o 5º vereador, apesar de não ter sido eleito (cfr. contrato de prestação de
serviços de fls 5797 do 23º volume).
Para além de aumentada a sua remuneração (para 580 cts mensais) alargaram-se
o âmbito das suas funções.
Tinha de cumprir um horário (das 9.30 horas às 20 horas) e recebia instruções da
Presidente Fátima Felgueiras, encontrando-se sempre ao seu dispôr. Aliás, não se
ausentava do edifício da CMF sem a autorização dela.
De resto, a arguida Fátima Felgueiras sempre reconheceu publicamente ao
depoente as suas funções como assessor dela, dando como exemplo a entrevista que ela
deu ao “Comércio do Porto”, publicada na edição de 23.06.2000 (cfr. documento de fls
5796 do 23º volume).
Na campanha eleitoral a sua participação foi sempre efectuada a mando da
arguida Fátima Felgueiras.
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Ela era uma pessoa muito ocupada, pois para além de presidente da CMF, era
presidente da Comissão Política do PS local, dirigente nacional do PS, dirigente do
FCF, exercia funções na “Cercifel” e na “Cruz Vermelha”, entre outras funções.
Apercebeu-se que a arguida Fátima Felgueiras não nutria grande apreço pelo
secretário-coordenador do PS local, o arguido Bragança da Cunha, não obstante este ser
“um pau mandado” dela e uma “extensão” do arguido Júlio Faria na CMF.
Assim, foi o depoente quem a representou em várias reuniões do partido, onde
transmitia aposição dela, reportando-lhe mais tarde o que se passara.
Muitas vezes deixou o seu trabalho para dar execução a ordens proferidas pela
arguida Fátima Felgueiras em tarefas ligadas à campanha eleitoral.
Nesse contexto, por exemplo, diligenciou pela instalação da sede de campanha
numa loja fechada e arrendada ao “Minipreço” e cujo proprietário era o Sr. Lickefold,
tendo sido através dele que encetou contactos com um elemento do “Minipreço” em
ordem a alcançar aquele desiderato.
Teve um papel preponderante na organização de iniciativas de campanha.
Esteve também no “Pelouro das Finanças” da campanha eleitoral.
O arguido Joaquim Freitas foi-lhe apresentado pela arguida Fátima Felgueiras
quando foi trabalhar para a CMF.
Em Março de 1997 a arguida Fátima Felgueiras mandou-o ir a casa do arguido
Júlio Faria (que conhecia de vista e que representava uma espécie de “pai político” do
PS local, pois foi presidente da CMF, era deputado e oriundo de uma família
conceituada em Felgueiras) e encontrou o arguido Joaquim Freitas à porta do edifício.
Entraram os dois no apartamento do arguido Júlio Faria, o qual lhes revelou os
motivos da reunião. Disse ao depoente que devia fidelidade à arguida Fátima Felgueiras
e ao Joaquim Freitas referiu o facto dele fazer parte da Comissão Política do PS local e
de ser amigo pessoal da arguida Fátima Felgueiras.
Transmitiu-lhes que era necessário criar um “Pelouro das Finanças” para a
campanha eleitoral que se avizinhava e que a arguida Fátima Felgueiras pretendia que
eles integrassem esse pelouro.
Deu-lhes então conta de que era necessário abrir uma conta bancária e entregou-
lhes um manuscrito (que não adulterou), documento esse que fez juntar aos autos.
Aceitou a tarefa de que foi incumbido e o arguido Júlio Faria transmitiu-lhes que
a direcção de campanha iria instruí-los acerca da forma como a dita conta iria ser gerida
e que a Fátima Felgueiras iria falar com eles a esse propósito.
Sabe agora que a conta do BES foi aberta por força de uma desavença entre o
então marido da arguida Fátima Felgueiras e o arguido Júlio Faria (caso não tivesse
existido essa zanga, tal como em 1993, seria o Dr. Sousa Oliveira com o arguido
Joaquim Freitas quem seriam os titulares da conta respectiva).
Na primeira oportunidade transmitiu à arguida Fátima Felgueiras o que se tinha
passado na reunião em causa.
Cerca de uma semana depois ela chamou-o ao seu gabinete (estava presente o
arguido Joaquim Freitas) e deu-lhes instruções para abrir uma conta bancária, pois era
necessário dar cumprimento a várias situações urgentes em termos financeiros.
Uma dessas situações prendia-se com o Jornal “O Sovela”, que praticamente
estava falido, jornal esse que era um veículo para fazer passar a mensagem política da
arguida Fátima Felgueiras.
O director desse jornal era o Sr. Barros (de quem a arguida Fátima não gostava).
O depoente constatou a realidade do jornal, designadamente a falta generalizada
de pagamento aos credores e o contabilista desesperava pois não lhe era entregue a
documentação necessária para fazer a contabilidade.
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exemplo efectuar os pagamentos através da conta do BES e de manter esta conta aberta,
posição que a desagradou Quis-lhe então entregar os dossiers relacionados com o
“Pelouro das Finanças” mas ela retorquiu-lhe “que estavam muito bem” com o
depoente.
Instruiu-o no sentido de levar consigo e analisar o dossier do Dr. Sousa Oliveira.
Acerca disso falou com o Joaquim Freitas, o qual se demarcou do assunto, tendo então o
depoente não acatado aquela instrução.
Divergiu com a arguida Fátima Felgueiras no que respeita à compra do estádio
Dr. Machado Matos e faltou à reunião onde tal assunto foi discutido (em meados de
1999).
A partir de então o seu relacionamento com ela nunca mais foi o mesmo, pois
ela não admitia ser contrariada.
No final de 1999 tomou conhecimento da denúncia anónima que originou estes
autos, denúncia essa que causou um “turbilhão” na CMF, sendo certo que a arguida
Fátima Felgueiras queria saber quem tinham sido os seus autores.
Tendo ela tomado conhecimento que algumas pessoas de Felgueiras se reuniram
com o Narciso Miranda a propósito dos acontecimentos que vieram a público e
desagradada com tal facto, acusou o arguido Bragança da Cunha de ter sido o autor da
denúncia anónima e correu-o da CMF, retirando-lhe o computador.
Desde então a arguida Fátima Felgueiras entendeu que o depoente não tinha
condições para continuar a exercer as funções de verador em regime de permanência,
tendo passado a exercer as funções de vereador sem esse regime até Dezembro de 2001
(cfr. o despacho datado de 01.03.2000, proferido pela arguida Fátima Felgueiras,
constante de fls 5807 do 23º volume).
Esclareceu, quanto aos pagamentos efectuados, que na CMF tirava fotocópias
dos cheques que ia emitindo com o arguido Joaquim Freitas e apunha notas e
informações quando inexistiam documentos de suporte, por forma a assim prestar
contas.
Confrontado com o documento de fls 120 do apenso 1, referiu tratar-se de um
cheque no valor de 600.000$00, datado de 02.12.97, emitido a favor do arguido Júlio
Faria e sacado sobre a sobredita conta do BES, sendo certo que o cheque em causa foi
assinado pelo depoente e pelo arguido Joaquim Freitas (era necessária a assinatura dos
dois). Tal cheque foi emitido por ordem da arguida Fátima Felgueiras e sem lhes dar a
indicação do fim a que se destinava.
Tal cheque foi de facto entregue ao arguido Júlio Faria (não se recorda de que
forma), que o endossou ao filho (António Pedro Lopes Faria), razão pela qual não
chegou a ser depositado na conta pessoal daquele.
Confrontado com o documento de fls 165 do 1º volume (igual ao documento de
fls 197 do apenso 1) referiu tratar-se de mais um cheque sacado sobre a conta do BES a
favor do arguido Júlio Faria, no montante de 170.000$00 e datado de 28.01.99, como
sempre assinado pelo depoente e pelo arguido Joaquim Freitas. Pese embora não se
recorde porque motivo tal cheque foi emitido, acha pouco provável que se tenha
destinado a reembolsar o arguido Júlio Faria de despesas que ele suportou a propósito
da campanha eleitoral das eleições autárquicas de Dezembro de 1997, em face da data
do cheque (é certo que após as eleições foram pagas despesas relacionadas com a
campanha, mas depreende-se do depoimento em causa que tal não terá sido o caso dada
a distância temporal entre a emissão desse cheque e a data das eleições referidas).
Salientou que, pese embora nem todos os cheques tenham sido mandados emitir pela
arguida Fátima Felgueiras, foi ela quem ordenou a respectiva emissão relativamente a
todos os cheques destinados ao arguido Júlio Faria.
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donativos. Estranhou por isso que donativos tivessem sido depositados na conta pessoal
do Dr. Sousa Oliveira.
Em 1997, data que não consegue recordar mas antes da pré-campanha (que se
iniciou em Abril/Maio desse ano), a arguida Fátima Felgueiras pediu-lhe para ir a casa
do arguido Júlio Faria, o que fez (já ali se tinha deslocado várias vezes). Uma vez ali
chegado, ao que pensa, encontrou o arguido Horácio Costa à entrada do prédio onde se
situa o apartamento do arguido Júlio Faria. Subiram então juntos ao dito apartamento,
onde foram recebidos pelo arguido Júlio Faria, o qual sabia ao que iam – pois foi logo
direito ao assunto que ali os levou - e, no decurso da reunião, escreveu o manuscrito que
consta de fls 156 e 157 dos autos. Explicou-lhes que já tinha falado com a arguida
Fátima acerca desse assunto e que o depoente e o arguido Horácio haviam sido
escolhidos para integrar o “Pelouro das Finanças”. Foi o arguido Horácio Costa quem
guardou o manuscrito referido na CMF, sendo certo que tratava de matéria sigilosa.
A arguida Fátima levou esse assunto à Comissão Política onde foram aditados
mais nomes a fim de integrar o “Pelouro das Finanças”, como por exemplo o Sr.
Sampaio da Lixa e o Sr. Dinis (chefe das Finanças de Felgueiras, o qual porém nunca os
acompanhou na angariação de donativos nem nunca entregou donativos).
Sendo matéria sigilosa, que em princípio não deveria extravasar o conhecimento
dos quatro (depoente, Horácio Costa, Júlio Faria e Fátima Felgueiras), estranhou que a
arguida Fátima tivesse levado esse assunto à Comissão Política.
Assim, os donativos institucionais ficariam a cargo dos arguidos Fátima
Felgueiras e Júlio Faria, ao passo que o depoente e o arguido Horácio tratariam de
recolher donativos no meio empresarial.
Abriram então a conta no BES com 5.000.000$00 entregues pela “Resin”
(segundo lhe disse o arguido Horácio Costa tratou-se de um donativo) e 1.000.000$00
entregues pela arguida Fátima ao arguido Horácio Costa. O arguido Horácio transmitia-
lhe os donativos que recebia e vice-versa, não pondo em causa a veracidade do que ele
lhe transmitia a esse propósito.
A razão de ser da abertura dessa conta era a de fugir ao controle do PS. De resto,
as contas da campanha de 1997 nunca foram prestadas à Comissão Política, como já
assim tinha sucedido em 1993 (o Dr. Sousa Oliveira referiu-lhe que era necessário
prestar contas aos arguidos Júlio Faria e Fátima Felgueiras e, segundo ele, tê-las-á
entretanto prestado num dia em que o depoente não se encontrava presente. Seja como
for, essas contas não foram prestadas ao partido).
Como sempre havia grande desconfiança sobre aqueles que angariavam fundos,
o depoente e o arguido Horácio decidiram anotar tudo (o arguido Horácio Costa anotava
tudo e dava conhecimento ao depoente), até por exemplo da compra de selos (cfr.
manuscrito de fls 226 do apenso 4).
A primeira vez que se falou na abertura da mencionada conta foi em casa do
arguido Júlio Faria, na reunião a que já se referiu. Deu conhecimento à arguida Fátima
do que ali se passou, no gabinete desta na CMF, tendo-lhe ela então dado instruções
para abrir a dita conta. Entre a data daquela reunião e a data da abertura da conta
decorreu algum tempo na medida em que não existia dinheiro para proceder à sua
abertura.
Recorda-se que as eleições desse ano foram preparadas com muita antecedência
na medida em que era a primeira vez que a arguida Fátima concorria como cabeça de
lista do PS à CMF.
Nessa altura não tinha grande confiança com o arguido Horácio, o qual lhe foi
apresentado pela arguida Fátima Felgueiras no gabinete desta. Ele era visto como braço
direito dela e da sua confiança. Sinal disso é o facto dela o ter apresentado, pois não era
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GAPP, designadamente pelo arguido Bragança) e essas pessoas eram avisadas pelo
GAPP da visita do depoente e do arguido Horácio.
Depreende agora que quer a arguida Fátima quer o arguido Júlio não quiseram
ser titulares da dita conta para evitar qualquer responsabilidade criminal que pudesse ter
lugar.
Telefonou para a PJ quando suspeitou de que poderia haver um “saco azul”, o
que sucedeu quando teve um almoço de trabalho com a testemunha Manuel Faria (com
quem tem relações comerciais) e este lhe fez alusão a esse “saco” quer para a campanha
eleitoral quer para o futebol. Falou acerca desse assunto com o arguido Horácio e
decidiram verificar da veracidade dessa suspeita.
O depoente nunca tomou qualquer iniciativa de fazer pagamentos. Houveram
aliás pagamentos com os quais não concordou.
A gestão da conta do BES era feita pela arguida Fátima Felgueiras e o arguido
Júlio por vezes solicitava a realização de alguns pagamentos (cfr. por ex. doc. de fls 171
do 1º volume).
A arguida Fátima chegou-lhe a entregar vários donativos que angariou (exemplo
disso foi um cheque emitido a seu favor e que estava acondicionado num envelope
endereçado “à atenção da Srª presidente”).
Não tem porém a certeza se os contactos pessoais que ela fez se reportavam à
obtenção de donativos para a camanha ou à obtenção de donativos para o FCF ou
mesmo para o jornal “O Sovela” (acompanhada pelo Sr. Fernando Lima).
Recorda-se que a arguida Fátima disse-lhe que o Eng. Manuel Maria Machado
(que é o técnico que apresenta mais projectos na CMF) tinha a obrigação de entregar um
donativo de três ou quatro mil contos (em 1997 ele entregou dois cheques de donativos
do Sr. Pimenta da “Solpré” e do Sr. Pinto da “Pinfel” – cfr. ponto 2.4. da pronúncia).
Fez a recolha de donativos não só com o arguido Horácio mas também com o
arguido Bragança e o Sr. Sampaio da Lixa. Foi também uma vez com a arguida Maria
Augusta a Lagares tentar obter um donativo do Sr. Júlio Teixeira, conhecido dela.
Foi-lhes entretanto movida uma acção judicial de prestação de contas pelo PS,
sendo certo que, em todo caso, antes disso, quiseram prestá-las à arguida Fátima, a qual
lhes disse para o fazerem ao Dr. Sousa Oliveira, o que não fizeram (tal passou-se antes
do arguido Horácio ser vereador).
Confrontado com a acta da Comissão Política a propósito da organização da
campanha eleitoral de 1997 (junta no decurso da audiência de julgamento e datada de
09.06.97) e onde consta que fazia parte da Direcção de Campanha, referiu que na
prática nada se passava conforme ali estava estabelecido pois era a arguida Fátima quem
mandava de facto e se reunia apenas com 3 ou 4 pessoas (a “task force”: Professor
Edgar, o arguido Horácio Costa, o depoente, o arguido Bragança e o arguido Júlio
Faria), inexistindo qualquer acta.
Era o “núcleo duro” que executava ou mandava executar o que a arguida Fátima
determinava. A arguida Fátima era minuciosa ao ponto de por exemplo determinar a que
hora deveriam os carros com propaganda sonora circular nas ruas.
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2º Juízo
Depois disso ele deslocou-se uma vez ou outra durante algum tempo para
assegurar a transição dos processos para a arguida Fátima Felgueiras, a qual lhe sucedeu
na presidência da CMF.
Às reuniões de câmara o arguido Júlio Faria deixou de ir desde que tomou posse
como deputado na Assembleia da República.
A depoente nunca participou ou assistiu a qualquer sessão da Assembleia
Municipal.
Ignora qual a influência política que o arguido Júlio Faria poderia eventualmente
exercer no seio do PS local depois de ter deixado a presidência da CMF.
Sobre os funcionários camarários deixou de exercer qualquer influência.
Acerca do arguido Horácio Costa referiu ter a ideia de que ele dispunha de um
gabinete no edifício da CMF desde que foi admitido como assessor.
Confirma os contactos que ele teve com o Departamento Administrativo no que
tange ao património imobiliário da CMF, não só com a depoente – designadamente
porque desempenha além do mais as funções de notária privativa da CMF - como
também com a funcionária Fernanda Sousa.
Era habitual o Departamento Administrativo fornecer o papel e outro material de
escritório.
Manifestou a ideia de que o arguido Horácio ia à CMF todos os dias.
Não tem ideia da testemunha Cândida ter ocupado o gabinete a que se referiu o
arguido Horácio, mas não pôs em causa a veracidade desse facto.
Recorda-se de ver o arguido Horácio no bar da CMF mas não se recorda se o via
lá todos os dias.
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Na altura não chegou a saber da existência da conta do BES referida nos autos.
Soube dela mais tarde numa reunião de câmara quando o Vereador Manuel Faria lhe
perguntou se conhecia a dita conta e lhe respondeu negativamente.
Pensa que a arguida Fátima Felgueiras teria de ter conhecimento da mesma pois
era ela quem mandava e, conhecendo-a como conhece, o arguido Horácio Costa não a
iria abrir sem prévio conhecimento dela.
O arguido Horácio Costa era pessoa organizada e fiel à arguida Fátima.
Quando o depoente assumiu as funções de vereador, em Janeiro ou Fevereiro de
1998, o arguido Horácio Costa ocupava um gabinete na CMF. Tem a certeza desse facto
enquanto foi Vereador da CMF.
Antes disso tem a ideia que ele partilharia esse gabinete com o Vereador
Lickfold, mas não tem a certeza desse facto, pois só esporadicamente ia à CMF (tem a
ideia de ter falado com a arguida Fátima no GAPP quando foi convidado para integrar a
lista do PS às eleições autárquicas de 1997 e o arguido Horácio encontrava-se ali).
Nunca presenciou qualquer conversa entre os arguidos Fátima e Horácio a
propósito das contas da campanha.
Porém, recorda-se de certa vez, no final de uma reunião no gabinete da arguida
Fátima, do arguido Horácio lhe ter querido mostrar as contas (que interpretou ser da
campanha eleitoral), ao que ela lhe respondeu que as contas estavam bem entregues a
ele (foi na altura em que o arguido Horácio passou de assessor a vereador). O arguido
António Pereira Mesquita de Carvalho estava também presente.
As relações entre os arguidos Horácio Costa e Fátima Felgueiras começaram a
detriorar-se quando o arguido Horácio se manifestou contra a proposta da arguida
Fátima no sentido de que a CMF adquirisse o Estádio Dr. Machado Matos. A esse
propósito ocorreu um jantar na “Pensão Albano” com todos os vereadores (incluindo da
oposição) e a presidente da edilidade, sendo certo que no trajecto para aquele
estabelecimento a arguida Fátima, junto ao edifício da CGD, estando presentes o
depoente e os arguidos Horácio e António Pereira, reagiu mal ao facto de todos
manifestarem oposição a essa proposta, dizendo que quem decidia era ela, avisando os
eventuais dissidentes de que lhes retiraria os pelouros caso fossem vereadores.
Naturalmente que essa advertência foi tida como uma ameaça. Ora só o arguido Horácio
Costa, no dito jantar, abertamente contrariou a posição da arguida Fátima Felgueiras,
justificando essa oposição com o facto de estar “cansado” de receber dinheiro no seu
gabinete para liquidar dívidas do FCF e do arguido Júlio Faria.
No âmbito das suas funções de vereador não tinha autonomia, pois nada se fazia
na CMF sem a autorização e o conhecimento da arguida Fátima Felgueiras.
Normalmente as decisões eram tomadas em reuniões de vereação, mas a última
palavra cabia sempre à arguida Fátima Felgueiras.
Não se recorda de ter desabafado com o arguido Horácio Costa de que “nem
sequer podia pregar um prego numa escola” (apesar de ter o pelouro da educação), mas
admite que possa ter efectuado com ele esse desabafo.
Quanto à autonomia dos demais vereadores julga que ela era partilhada com a
arguida Fátima Felgueiras. Ela tinha sempre a última palavra e intrometia-se no trabalho
dos vereadores. Revelava-se pouco flexível e impunha a sua vontade.
De resto, ela sabe impor-se e as pessoas iam um pouco a “reboque” das ideias
dela. Ela manifestava conhecimento em todas as áreas e enquanto presidente da CMF
tinha de se ingerir nos assuntos dos vereadores. Avocava a si as competências dos
vereadores, de modo que era ela quem praticamente tudo fazia, às vezes sem o
conhecimento do vereador responsável pelo pelouro ao abrigo do qual certa acção era
desenvolvida.
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daí que só exercesse funções a meio tempo, sendo certo que ainda assim procurava
empurrar para o depoente os assuntos que a ele competiam porque não estrava disposto
a receber ordens da arguida Fátima Felgueiras.
Tanto quanto lhe permite a memória, ele não terá exercido efectivas funções de
vereador mais do que 6 meses, após o que passava pela CMF sem qualquer assiduídade,
acabando por renunciar ao cargo de vereador ao fim de cerca de 1 ano após ter tomado
posse.
Quando isso sucedeu foi incumbido de tarefas que anteriormente estavam sob a
responsabilidade do Sr. Lickefold.
Esclareceu que quando ocupou esse gabinete o mesmo tinha 1 mesa redonda, 2
sofás, 2 armários, 1 mesa de telefone, sendo certo que o arguido Bragança e a
testemunha Júlio Pereira confidenciaram-lhe que a outra mesa que ali existia tinha ido
para casa da arguida Fátima para ela nela despachar os processos, tendo o GAPP ali
colocado uma mesa nova e 2 cadeiras. A testemunha Cândida, segundo o arguido
Horácio, ocupou a mesa que já lá existia durante o tempo em que ambos ocuparam esse
espaço (a testemunha Cândida referiu que nesse gabinete nunca existiram armários em
madeira enquanto o ocupou e que quando o arguido Horácio lhe pedia para usar esse
espaço usava a secretária mais pequena, sinal de que o gabinete fora-lhe atribuído e que
ele só o usava porque o permitia, posição que o arguido Horácio rejeitou).
Segundo o arguido Horácio, quando a testemunha Cândida de lá saiu, salvo erro,
o arguido Bragança mandou adquirir dois armários e duas cadeiras a condizer com o
mobiliário que tinha ali instalado quando depoente foi ocupar esse espaço por indicação
da arguida Fátima Felgueiras. O depoente procurava acondicionar os seus dossiers o
melhor que pôde nos armários antes existentes e que já estavam atolhados, sendo certo
que entretanto acomodou devidamente os seus dossiers nos novos armários (os quais
dispunham de chave).
A testemunha Cândida entretanto reconheceu que partiu do pressuposto que o
arguido Horácio tinha um gabinete no Centro Coordenador de Transportes (sem
verdadeira razão de ciência, porque nunca o viu a ocupar esse gabinete) e explica o
facto dele por vezes usar o gabinete na CMF referido porque, segundo o que agora
ouviu a esse arguido, o Centro Coordenador de Transportes não estaria concluído.
*
- Testemunha Joaquim José Teixeira Ribeiro
Disse ser presidente da junta de freguesia de Refontoura desde 14.12.97 até ao
presente (eleito pelo PSD) e, como tal, deputado na Assembleia Municipal de
Felgueiras.
De 24.04.99 até Fevereiro de 2001 foi o presidente da Comissão Política do PSD
local. Integrou a Comissão Política do PSD local de Março de 1996 até há cerca de 3-4
meses, considerando a data da tomada do seu testemunho.
Segundo conversas que ouviu (não soube precisar de quem as ouviu), o arguido
Horácio Costa era assessor da presidente da edilidade. Tal facto aliás era do domínio
público.
Uma das suas funções (do arguido Horácio) era a de receber presidentes de junta
(algumas vezes recebeu o depoente) e transmitia depois à arguida Fátima as
preocupações que nessas reuniões lhe eram transmitidas. Tratavam-se de assuntos de
resolução simples e notou que ele tinha autonomia para os receber. Tem aliás a ideia
que ele o fazia na qualidade de assessor da arguida Fátima Felgueiras.
Assim, por exemplo, uma das situações que tratou com ele numa dessas reuniões
prendia-se com o reforço das comparticipações da CMF às juntas de freguesia.
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pagamentos foram efectuados através de tal conta, deduzindo ainda que tal facto era do
conhecimento de outras pessoas ligadas ao PS.
Referiu que é normal que numa campanha surjam necessidades de última hora,
as quais são sentidas em função das ideias que se vão concretizando, incumbindo-se
dessa tarefa normalmente a pessoa que esteja em melhores condições de fazer as
encomendas de material que se revelem necessárias, cabendo depois aos arguidos
Horácio Costa e Joaquim Freitas proceder ao respectivo pagamento.
Todos os que estavam presentes nessas reuniões sabiam que era assim. Em todo
o caso, os elementos do “núcleo duro” eram mais assíduos (candidatos à CMF, os
primeiros 10 da lista de candidatos à Assembleia Municipal e cinco ou seis candidatos a
presidente das juntas de freguesia mais importantes).
Por que a estrutura montada era composta de voluntários, era normal que se
registassem ausências às reuniões.
Deduz que a arguida Fátima soubesse que os arguidos Horácio e Joaquim Freitas
estavam encarregues de proceder aos pagamentos na medida em que ela era a figura
máxima.
Fez a distinção entre a Direcção de Campanha (que era um grupo mais restrito) e
a Comissão de Apoio à candidatura da arguida Fátima Felgueiras (que era um grupo
bem mais alargado e composto por pessoas da sociedade civil que apoiavam a
candidatura da arguida Fátima e cuja identificação era normalmente divulgada em papel
de formato A4).
O “núcleo duro” é que determinava quais as acções de campanha que deveriam
ser levadas a cabo, bem como a aquisição dos produtos a fim de serem usados em tais
acções.
Os arguidos Horácio e Joaquim Freitas tinham autonomia para angariar fundos,
presumindo que tivessem tal autonomia no que se refere aos pagamentos, tanto mais
que faziam parte do “núcleo duro”.
Ignora se mais alguém angariou fundos para além dos arguidos Horácio Costa e
Joaquim Freitas.
Nas reuniões em que esteve presente não se recorda de alguma vez se ter
debativo questões que se prendessem com o aspecto financeiro da campanha.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se as acções de campanha eram
decididas em função das disponibilidades financeiras referiu que as campanhas
normalmente são geridas de forma irracional, daí os déficites.
Não se recorda de alguma vez os arguidos Horácio Costa e Joquim Freitas terem
alertado para a existência de dificuldades financeiras em face da disponiblidade
necessária para custear certas acções de campanha. Aliás, tais questões eram
secundarizadas. A preocupação centrava-se mais na estratégia política e nas acções de
campanha a levar a cabo.
*
A propósito das declarações prestadas pela testemunha José Orlando Dias da
Rocha e Sousa, o arguido Horácio Costa começou por salientar que desde a abertura do
inquérito que deram origem a estes autos a estratégia da arguida Fátima Felgueiras e das
pessoas que a rodeiam orientou-se no sentido de imputar apenas ao depoente e ao
arguido Joaquim Freitas a responsabilidade pela abertura da conta do BES e pela
angariação de fundos.
Acrescentou que a testemunha Orlando Sousa só foi para o PS depois de corrido
do PSD, segundo ouviu dizer, por se ter aproveitado economicamente nesse partido.
No PS ele não teve qualquer papel de destaque e teve pouco poder de
intervenção.
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Nas eleições de 1993 e 1997 não era obrigatória a elaboração de actas das
reuniões.
Nas eleições de 2005 a elaboração dessas actas já era obrigatória (nestas eleições
já fez parte da direcção de campanha).
*
A propósito destas declarações a arguida Fátima Felgueiras referiu que a
testemunha Horácio Reis não fez parte da direcção financeira da campanha nas eleições
de 1997, sendo certo que participou no grupo de trabalho da comunicação social (que
tinha a seu cargo a revista “Rubeas”).
A testemunha em causa, para além disso, fez parte da direcção de campanha e
esteve presente em reuniões onde se definiu a orientação política a seguir nas sessões de
esclarecimento.
Era o secretário-coordenador quem tinha de organizar esses eventos, entendendo
que a divergência de depoimentos é mais de natureza semântica no que diz respeito ao
facto da testemunha em causa ter ou não integrado a direcção de campanha.
Ademais, todas as pessoas que integravam a lista do PS faziam parte da direcção
de campanha (facto que, em todo o caso, não coincide com o teor das actas juntas pelo
arguido Júlio Faria).
Como a depoente raramente ia às reuniões do “núcleo duro” (só ia às reuniões
em que estava em causa a orientação política), não pode precisar se ele fazia ou não
parte desse núcleo.
A testemunha esteve também presente em reuniões de plenário e de orientação
política.
*
Ainda a propósito desta temática, o arguido Horácio Costa salientou que não
reconhece nos documentos de fls 12206 e ss. a natureza de actas das reuniões. Foi o
arguido Bragança quem entregou esses documentos ao arguido Júlio Faria, sendo certo
que o depoente nunca fez quaisquer actas (segundo esses documentos caberia ao
depoente redigí-las, o que nunca sucedeu).
Na ocasião em que estas questões vieram a público o arguido Bragança
organizou uma reunião em sua casa com a testemunha Júlio Pereira, onde fizeram a
composição de documentos e actas (os documentos que foram juntos pelo arguido Júlio
Faria), pelo que não lhes atribui qualquer credibilidade.
Refutou as declarações acima exaradas e pertencentes à arguida Fátima, pois a
direcção de campanha não tinha a abrangência que ela pretendeu transmitir.
Ela era a presidente da Comissão Política do PS local e não existiam quaisquer
actas das reuniões desse órgão.
Nas reuniões eram feitas listas de presenças mas não actas.
Os nomes colocados nos documentos juntos pelo arguido Júlio Faria foram ali
colocados sem o conhecimento dos próprios.
A testemunha Horácio Reis não fez parte da direcção de campanha, sendo certo
que ele não aparecia às reuniões, pois tinha pouca disponibilidade, mesmo para
colaborar com a revista “Rubeas”.
O Jornalista João Ivo era pago pelo grupo que organizava a revista e não através
da conta do BES.
*
- Testemunha Gonçalo Alberto Alves da Costa Magalhães
Referiu ser assistente administrativo especialista na CMF, ao serviço da qual foi
admitido há 21 anos. Além disso, entre 92/93 e 2000/2001, prestou apoio à Comissão
Especializada de Fogos Florestais, a qual era presidida pelo presidente da CMF, e
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Não sabe de que forma essas contribuições eram dadas, mas presume que os
doadores fossem contactados pela comissão de angariação de fundos.
Na comissão de logística, quando se propunha alguma iniciativa havia a
preocupação de perguntar ao arguido Horácio Costa ou ao arguido Joaquim Freitas se
existiam ou não fundos para o efeito.
Essas iniciativas eram propostas em reuniões da direcção de campanha ou
apenas no seio da comissão de logística, a qual gozava de alguma liberdade de acção.
As despesas reportavam-se normalmente a comícios, contratação de artistas e
material de campanha.
Dependendo da iniciativa que se pretendesse levar a cabo, a questão da sua
realização poderia ser discutida no seio da direcção de campanha (normalmente no que
se refere às iniciativas como maior impacto), questionando-se então na reunião se
existia ou não fundos para as realizar.
Os comícios são as iniciativas mais importantes numa campanha. O candidato à
presidência da Câmara Municipal era o principal orador, pelo que sabia o que se iria
passar nesse evento e teria de dar o seu acordo à forma como ele se iria desenrolar.
Se a arguida Fátima concordasse com a estratégia delineada, seguia-se esse
caminho, se não concordasse ela daria a sua opinião e procurava-se chegar a acordo
com a decisão da direcção de campanha.
Existiam pessoas que estavam em desacordo com a posição da arguida Fátima
Felgueiras e expressavam esse desacordo. Várias vezes o depoente manifestou a sua
discordância com ela nas reuniões da comissão política.
A arguida Fátima por norma revelava muito conhecimento acerca de todos os
assuntos e era por isso que por vezes as pessoas não se sentiam à-vontade para dar a sua
opinião, pois receavam não ter um conhecimento tão aprofundado do assunto em causa.
A este propósito a testemunha foi confrontada com as declarações que prestou
perante o JIC a fls 7839, linhas 7 a 13, do 29º volume.
Referiu então que é possível que algumas pessoas, nas costas da arguida Fátima,
criticassem as suas posições e o não fizessem na sua presença. Tal comportamento é
normal, talvez porque essas pessoas estariam mais à-vontade para o fazer perante duas
ou três pessoas e não numa reunião.
Quando perante a JIC referiu que as pessoas tinham receio de a contrariar quis
na verdade dizer que tinham esse receio porque não dispunham da mesma informação
que ela para argumentar de igual modo com a mesma.
Ignora se a comissão de angariação de fundos dispunha ou não de alguma conta
bancária.
Explicou que várias vezes o arguido Horácio lhe pediu para efectuar depósitos
numa conta bancária do BES, não lhe dando qualquer justificação para o efeito.
Foi confrontado com o talão de depósito de fls 7101 do 27º volume, no valor de
250.000$00 (depósito de um cheque do BPA), a 23.12.98, confirmando que a assinatura
constante do talão é sua, assegurando que não lhe foi dada qualquer explicação para
esse depósito.
Foi confrontado com o talão de depósito de fls 7102, do 27º volume, de um
cheque do BPA no valor de 250.000$00, depósito esse efectuado a 24.02.99, referindo
que esse depósito foi efectuado pelo Armindo Brochado (funcionário da CMF – auxiliar
administrativo que prestava apoio ao GAPP).
Foi confrontado ainda com o talão de depósito de fls 7103, fo 27º volume, sem
qualquer assinatura, ignorando que procedeu a esse depósito de 2.000.000$00 em
numerário no dia 15.12.97.
Esclareceu que não relacionou a conta do BES com actividades partidárias.
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2º Juízo
A referida testemunha sabia que o depoente não era militante do PS e que era
convidado por elementos do PS local nas iniciativas partidárias.
Quando conheceu a referida testemunha ele era colaborador de António Faria, à
data líder da JS, e como este não tinha grande disponibidade, era substituído pelo David
nas reuniões da Comissão Política do PS local.
Mais tarde ele assumiu a liderança da JS.
Foi ele quem organizou o “ralypaper” e comprou os troféus, ao que pensa, em
Barrosas.
Ele também organizou em Stª Quitéria jogos de “paintball” com elementos da
JS.
Sob as ordens do arguido Júlio Faria ele organizou na Escola Preparatória
Manuel Faria e Sousa um evento com jovens (jantar cozinhado nesse estabelecimento
de ensino, com animação), sendo certo que se tratava de um evento da JS.
Ele efectuou vários pagamentos em cheques e em numerário, como por
exemplo:
- Numa loja dos 300, adquiriu baldes do lixo, esfregonas, produtos de limpeza e
cestos para colocar guarda-chuvas;
- Pagou a grupos folclóricos;
Ele abria e fechava a sede de campanha da arguida Fátima Felgueiras;
Era ele quem conferia a entrega dos brindes e conferia com o depoente e o
arguido Joaquim Freitas o respectivo pagamento.
Era a testemunha em causa quem comprava os jornais diários e os colocava na
sede de campanha e para fazer face a essa despesa o depoente retirava o dinheiro (em
numerário) da gaveta no seu gabinete, conforme aliás a testemunha David várias vezes
observou.
Sempre soube que o depoente obedecia a ordens.
Solicitou-lhe o pagamento de eventos organizados por ele, como foi o caso do
acampamento referido, sendo certo que ele foi ter com o depoente porquanto, segundo
lhe disse, tinha instruções da Comissão Política para que esse pagamento fosse
efectuado.
Ele chegou a esperar várias vezes que o depoente tirasse fotocópias dos cheques
que ia emitindo, antes de lhos entregar para efectivar o depósito.
É falso que vários empresários – com a excepção das pessoas que referiu –
tenham auxiliado o depoente na recolha de fundos.
Na Comissão Política do PS discutiu-se a colocação de uma aparelhagem de
som num carro de modo a fazer propaganda política no âmbito da campanha de 1997,
sendo certo que foi a testemunha David quem tratou do assunto, falando com o Sr.
Queirós, tendo posteriormente entregue ao depoente o documento respectivo, com base
no qual foi efectivado o pagamento dessa despesa.
A arguida Fátima queria que mais carros do género circulassem, pelo que alguns
empresários disponibilizaram viaturas das suas empresas para esse efeito, sendo certo
que o David chegou a conduzir várias dessas viaturas, tendo sido advertido pelo
depoente e pelo Joaquim Freitas que o combustível deveria ser pago com dinheiro da
gaveta ou então, se adiantasse o dinheiro, seria posteriormente reembolsado, sendo-lhe
vedado pagar o combustível solicitando recibos em nome das firmas que
disponibilizaram as viaturas.
Nesse período ele chegou a distribuir o “Sovela” numa carrinha do arguido
Joaquim Freitas.
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2º Juízo
A testemunha David participava nas reuniões, mas não participou nas reuniões
mais importantes, onde era definida a estratégia e onde eram tomadas as decisões mais
importantes.
Ele aliás muitas vezes teve de esperar pelo fim dessas reuniões do “núcleo duro”
para poder fechar a sede de campanha.
Confirmou que o encarregou de pagar uma renda da sede de campanha em
Paredes no “Minipreço” (senhoria daquele espaço).
Conforme já referiu antes, ele foi compensado monetariamente pelo auxílio que
prestou.
Em 1997 a testemunha David não tinha qualquer relacionamento com o arguido
Bragança e não era este quem lhe dava instruções para ir ter com o depoente a fim de
serem efectivados os pagamentos dos eventos organizados pela JS.
Na Comissão Política mandava a arguida Fátima Felgueiras, pelo que quando a
testemunha lhe solicitava algum pagamento o depoente só o poderia fazer com
autorização daquela.
*
Em face destas declarações do arguido Horácio Costa, a testemunha David
Queirós referiu que os jornais eram recebidos na sede de campanha e o depoente ou os
jovens faziam a respectiva distribuição nos pontos de interesse.
Poucas vezes conduziu carrinhas com equipamento de som próprio para a
divulgação pelas ruas da propaganda política (conduziu uma “Renault Express” da
firma do arguido Joaquim Freitas e uma carrinha “Toyota” de outra empresa). Admitiu
que o pagamento do combustível era feito conforme referido pelo arguido Horácio.
É verdade que chegou a esperar que o arguido Horácio tirasse fotocópias dos
cheques emitidos, antes de lhe serem entregues.
Manteve contudo que chegou a levantar quantias da conta do BES as quais
posteriormente entregou ao arguido Horácio.
A iniciativa levada a cabo numa escola preparatória (evento referido pelo
arguido Horácio) partiu de uma proposta da JS e poderá ter sido sugerida pelo arguido
Júlio Faria. Essa proposta foi apresentada à direcção de campanha, onde foi aprovada tal
iniciativa. Negou, em todo o caso, que o arguido Júlio Faria tivesse encaminhado o
depoente ao arguido Horácio Costa de modo a que a despesa fosse paga.
Foi o arguido Horácio quem lhe deu o dinheiro (em numerário) para que o
depoente pudesse ir à dita loja dos 300 adquirir os produtos referidos por aquele
arguido.
Não se recorda de alguma vez ter pago qualquer quantia a ranchos folclóricos.
Os brindes que entravam na sede de campanha eram de facto conferidos por si e
distribuía-os conforme instruções que recebia do arguido Horácio Costa, não passando
pelo depoente o pagamento desses brindes.
Quanto ao “rallypaper”, tratou-se de uma iniciativa aprovada pela direcção de
campanha sob proposta da JS, sendo certo que se recorda agora que os troféus foram
adquiridos pelo líder do núcleo de Barrosas da JS.
Acrescentou que o PS dispunha de uma aparalhagem de som que estava
avariada. Após a campanha eleitoral decidiu-se mandar repará-la, pelo que, segundo
instruções ou do Júlio Pereira ou do arguido Bragança, foi pedido um orçamento.
Entretanto deram-lhe a indicação para adquirir uma aparelhagem nova e que
fosse ter com o arguido Horácio para que a mesma fosse paga.
Em 1998 assumiu a liderança da JS. Antes disso era o braço direito do líder da
JS, contactando por isso com o arguido Bragança.
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2º Juízo
Sabia que o arguido Joaquim Freitas tinha uma fábrica em Torrados, tendo-se
deslocado algumas vezes à mesma para ir buscar a carrinha “Renault Express” a fim de
ser usada a propósito de várias campanhas eleitorais, não se recordando de ali se ter
deslocado por qualquer outro motivo.
Não se recorda de ter ido à empresa do arguido Joaquim Freitas para colher a
sua assinatura, mas admitiu que tal possa ter sucedido. Seja como for, se tal sucedeu, os
cheques iam acondicionados num envelope, o qual deveria entregar ao dito Joaquim
Freitas, envelope esse que umas vezes ele devolvia e outras vezes não. Tem pois a ideia
de ter levado envelopes à fábrica do arguido Joaquim Freitas (mas acabou por referir
que o memso não lhe era devolvido). Não se recorda que tipo de envelopes eram esses,
que por vezes levou à fábrica do arguido Joaquim Freitas. Situa esse faco por alturas da
campanha eleitoral de 1997 ou em momento posterior.
Sabe que os cheques da conta do BES eram assinados por duas pessoas, mas à
data não reparou nesse facto quando lhe foram entregues cheques dessa conta pelo
arguido Horácio.
O arguido Horácio Costa solicitou-lhe várias vezes que procedesse ao
levantamento de cheques de outras pessoas, presumindo que se tratavam de donativos,
tendo-lhe posteriormente entregue a correspondente quantia monetária.
É possível que tivesse auxiliado na ensacagem e embalagem do “Sovela”, mas
por esse trabalho nenhuma compensação monetária recebeu.
Porém, conforme se pode verificar a fls 357, consta um pagamento de
100.000$00 com a indicação de que foi efectuado ao depoente.
Assegurou porém que tal facto não corresponde à verdade.
Admite contudo que os jovens (entre dois a quatro) que auxiliaram nessa
operação de ensacagem e embalagem de duas ou três edições do “Sovela” tenham sido
gratificados e que eventualmente tivesse recebido esse dinheiro para lhes dar. A
testemunha porém acabou por afastar esta hipótese (que aliás foi por ele levantada).
Confrontado com o documento de fls 383, dirigido ao arguido Horácio e
respeitante ao preço da ensacagem (orçamento) por semana (7.000$00 por semana, num
total de 14.000$00 por duas semanas), com a anotação (aposta pelo arguido Horácio) de
pagamento e com a indicação do respectivo cheque, com o qual foi também confrontado
(cuja cópia consta de fls 382, no valor de 100 cts e onde consta uma anotação de que foi
para pagar duas semanas de ensacagem do “Sovela” e para pagar contas residuais da
campanha), confirmou ter sido por si levantado (tal cheque não é traçado, pelo que pode
ser levantado).
Confrontado com o cheque de fls 384, constatou-se que se trata de um cheque
traçado, no valor de 103.683$00, de 04.05.98 (dstinado ao pagamento de uma empresa
de embalagens).
Confrontado com o cheque de fls 385 a 387 constatou-se que se tratam
igualmente de cheques traçados e, como tal, foram depositados.
Perguntado acerca de um tal João Ivo, referiu tratar-se de um colaborador do
“Sovela”, não sabendo de que forma era pago.
*
Em face destas declarações, o arguido Horácio Costa esclareceu que, ainda a
propósito do cheque de fls 382, no valor de 100 cts e datado de 14.05.98, o mesmo foi
emitido a favor da testemunha David de modo a que ele levantasse o dinheiro e
procedesse ao pagamento aos jovens que o auxiliaram a ensacar e embalar o “Sovela”, o
que saiu mais barato para o dito jornal. Crê que ele também ficou com algum desse
dinheiro.
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Em 1993 ou 1994 foi-lhe comunicado que tal lixeira iria ser controlada (foi ou o
arguido Barbieri ou o arguido Júlio Faria que lho terão comunicado).
A recolha do lixo iria ser feita pela “Resin”, com viaturas novas para esse fim,
com um aumento significativo dos contentores e dos circuitos de recolha (que se
alargou praticamente a todo o concelho).
Essa recolha do lixo pela “Resin” começou em 1994 ou 1995.
Aquando da definição dos circuitos de recolha e frequência de recolha travou
conhecimento com o arguido Vítor Borges e com a Engª Claudia Ribeiro (em reuniões
que tiveram lugar nos Serviços Operativos).
O depoente não teve qualquer intervenção nos concursos efectuados nem
controlou a execução das obras na lixeira.
De facto, sobre essa matéria nada sabe, nem tinha de saber, na medida em que o
lançamento dos concursos e os projectos de obras não faziam parte das suas atribuições,
já que eram matéria do planeamento, assunto directamente tratado pelo director do
Departamento Técnico (o arguido Barbieri Cardoso).
Era porém a sua Divisão que controlava a recolha do lixo pela “Resin” (quando
deixou ela própria de proceder a essa recolha).
Nessa medida, passava regularmente pelos locais de recolha do lixo e verificava
se havia sido recolhido ou não. Passou também o depoente a controlar a qualidade da
recolha do lixo.
Quanto ao seu vasamento, uma ou duas vezes por mês dirigia-se à lixeira para
verificar se existiam condições para a deposição do lixo.
Presenciou várias máquinas a trabalhar no local, não se preocupando em saber
quem em concreto operava no local, não se recordando de ver nessas máquinas qualquer
alusão à firma a que pertenciam.
Ao fim de algum tempo de intervenção (que não precisou) foi colocado um
controle de entrada, facto de que se recorda porquanto teve de se identificar para entrar
na lixeira, sendo certo que o funcionário que ali estava disse-lhe que trabalhava para a
“Resin”.
Constatou a execução de plataformas e a deposição do lixo na mesma, sendo
certo que era o Departamento Técnico da CMF que controlava a boa execução dos
trabalhos (designadamente o Eng. José António Ferreira e o Eng. Almeida, não sabendo
se a Engª Neri exerceu também fiscalização dessa obra).
Desconhece se algumas reuniões tiveram lugar na CMF com elementos da
“Resin” (salvo naquelas em que participou a propósito da frequência e da definição dos
circuitos de recolha do lixo).
Diariamente contactava com um encarregado da “Resin” (como por ex. o Sr.
Cunha, encarregado da “Resin” no que se refere à recolha do lixo, o qual prestava o seu
serviço nos Serviços Operativos da CMF, onde o depoente também prestava o seu
serviço, sendo certo que os encarregados não eram sempre os mesmos; recorda-se ainda
do Sr. Faria, outro dos encarregados da “Resin” que por ali passaram).
Não tem memória de na lixeira ter visto qualquer logotipo alusivo à “Resin”.
Assegurou que a sua Divisão não executou qualquer obra na lixeira.
Segundo foi informado, quem executava as obras nesse local era a “Resin”.
Não lhe competia visar as facturas referentes aos trabalhos ali efectuados, tanto
mais que nem sequer sabia quais eram os valores da adjudicação.
Na lixeira o depoente nunca levantou qualquer objecção quanto à qualidade dos
serviços ali prestados (controlava apenas a deposição do lixo, nada sabendo acerca da
execução dos demais trabalhos na lixeira, até porque desconhecia o respectivo projecto).
Com a intervenção da “Resin” o lixo deixou de ser queimado.
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Nunca ouviu falar das firmas “Norlabor” e “João Tello”, sendo certo que sabe
que a “Translousada” repara equipamento pesado, pois executou já serviços para a CMF
nessa área (ao que pensa, em 1998 ou 1999 reparou uma máquina retroescavadora e
uma máquina autoniveladora da CMF). Ignora se essa empresa aluga esse tipo de
equipamentos.
Nunca ouviu qualquer menção que relacionasse essas empresas com a lixeira de
Sendim.
Na lixeira, para além do porteiro, não se recorda de ali ver alguém a trabalhar
que fosse funcionário da “Resin”.
Na portaria existia uma balança ligada a um computador para pesar o lixo que
era admitido. Ignora se essa informação era comunicada à CMF a fim de que fosse
cobrada uma taxa a quem ali recorria para depositar resíduos.
*
Referiu o arguido Barbieri Cardoso que a testemunha Adelino Leite nunca
abriu qualquer concurso, mesmo em obras que diziam respeito a áreas da sua
responsabilidade (como por exemplo o saneamento).
A testemunha em causa não visou as facturas da “Resin” respeitantes aos
trabalhos na lixeira, pois apenas competia-lhe visar as facturas apresentadas pela
“Resin” no que se refere à recolha do lixo.
Crê que os carros de recolha do lixo tinham o logotipo da “Resin”, assim como
os contentores de recolha. Na lixeira existia também o logotipo da “Resin” conforme
aliás ilustrado em fotografias juntas aos autos.
*
A testemunha Adelino Leite confirmou que apenas visava as facturas referentes
à recolha do lixo e que o logotipo da “Resin” encontrava-se nos carros de recolha do
lixo e em quase todos os contentores.
Explicou que também fazia projectos para clientes, pois foi sócio de duas
empresas que se dedicavam ao ramo imobiliário e a projectos de electricidade e
telefones (firmas “Imoreactiva” e “Reactiva”).
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(só mais tarde é que ficou a saber que os arguidos Horácio e Joaquim Freitas faziam
parte desse grupo, quando toda esta questão veio a público).
Confrontado com o talão de depósito na conta do BES, no valor de 250 cts,
constante de fls 7102 e 7103, reconheceu ter preenchido esse talão (igual ao de fls 200
do apenso 1), referiu que era o arguido Horácio quem lhe dava os elementos para
proceder ao respectivo preenchimento. Por vezes o talão de depósito já estava
preenchido. Reafirmou que presumia que essa conta era uma conta pessoal do arguido
Horácio Costa, pelo que partia do pressuposto que lhe fazia um favor, sendo certo que
entendia que na CMF ele era seu superior por à data partilhar um gabinete com um
vereador (Lickefold).
É certo que nenhum verador da CMF lhe pediu para efectuar depósitos, mas tê-
los-ia efectuado se lho pedissem.
Confrontado com o documento de fls 208 do apenso 4 (talão dos CTT
respeitante ao envio de correspondência a 28.10.98, no montante de 92.650$00, em que
o PS é a entidade devedora), referiu que presume tratar-se de despesas de envio de
correspondência. Nessa cópia existe um manuscrito a vermelho com os dizeres “Pago.
Regiões”. Assegurou não conhecer a letra (que é do arguido Horácio, segundo o
próprio).
Houve de facto uma campanha que se prendeu com o referendo da
regionalização, mas já não se recorda em que ano.
O depoente tinha assento na Comissão Política do PS local enquanto membro da
JS.
Conhece a testemunha David Queirós, o qual era líder da JS.
Explicou que quando depôs motraram-lhe documentos alusivos a depósitos na
conta do BES e nas conversas que teve então com a dita testemunha não os
relacionaram com depósitos referentes a actividades partidárias, nem tinham de os
relacionar.
O arguido Horácio entitulava-se assessor da presidente da autarquia e
frequentava com regularidade as instalações da CMF.
Ele exercia funções no Centro de Camionagem.
Tem a ideia que quando o arguido Horácio foi para a CMF partilhou o gabinete
com o Vereador Lickefold, ficando com ele quando este deixou de desempenhar essas
funções (este, até renunciar, exercia funções a meio tempo, mas via-o pela CMF com
regularidade).
*
Em face destas declarações o arguido Horácio Costa referiu que conheceu a
testemunha Armindo Brochado durante a campanha eleitoral de 1997, o qual era uma
“extensão” da testemunha David Mota, da JS.
Quando foi necessário obter o apoio da JS, foi a testemunha David Mota quem
trouxe os elementos.
A testemunha Armindo teve grande conhecimento acerca da logística e acerca
das acções de campanha.
Na verdade, ele organizou reuniões, foi muitas vezes à CMF e ao gabinete do
depoente a esse propósito, conduziu viaturas e fez parte de um staff que organizou
concertos, entre outras actividades em que participou nessa campanha.
Ele esteve presente em todas as acções organizadas pela JS, designadamente no
acampamento em Vila Fria.
Ele teve assim conhecimento de situações relacionadas com o financiamento da
campanha.
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Devido à sua acção na campanha foi um dos elementos agraciado com uma
compensação monetária (em Dezembro de 1997 pagou-lhe uma quantia em dinheiro –
cujo montante não se recorda -, ao que julga na CMF).
Não compreende como pode ter referido ao tribunal entender que o depoente era
o seu superior hierárquico, já que a testemunha Júlio Pereira e o arguido Bragança é que
eram os seus superiores hierárquicos desde a altura em que ele integrou o GAPP.
Sabe assim que o depoente não tinha autoridade para lhe dar qualquer ordem.
A testemunha Davi Mota é que colaborava com o depoente na CMF.
Nunca o depoente mandou à testemunha Armindo efectuar qualquer depósito na
conta do BES.
Ele aliás tirava cópia dos cheques no GAPP e transportava-os por ordem dos
seus superiores e nunca por ordem do depoente.
Foi devido à sua acção na campanha de 1997 que ele foi para o GAPP por
merecer a respectiva confiança política.
Sobre o Centro de Camionagem a testemunha em causa nada sabe.
Foi a testemunha Armindo quem o auxiliou a levar as caixas com as suas coisas
para a sua viatura (por indicação da testemunha Júlio Pereira), quando ali se deslocou
para as recolher, conforme episódio que já relatou.
*.
Em face destas declarações a testemunha Armindo Brochado referiu que tirava
cópia dos cheques que depositava e entregava ao arguido Horácio essas mesmas cópias.
É verdade que foi gratificado pela sua acção na campanha eleitoral de 1997,
tendo sido a testemunha David Queirós quem lhe entregou o dinheiro num envelope
fechado, na sede de campanha. Segundo presume, esse dinheiro proveio do arguido
Horácio (talvez o David lho tenha dito, mas não se recorda). À data não sabia que ele
era o responsável pelos pagamentos, sendo certo que só mais tarde veio a saber que era
ele e o arguido Joaquim os responsáveis pelos pagamentos.
Confirmou que transportou os caixotes para o carro do arguido Horácio, tendo-
os recolhido no salão nobre da CMF. O arguido Horácio escolheu o que quis levar e o
depoente auxiliou-o (não se recorda quantos caixotes transportou).
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reunião seguinte. Não sabe porém se eram feitas actas de todas as reuniões. Tais
documentos não estão na posse do PS.
Em sede de reinquirição referiu que o processo de escolha dos candidatos a
deputado na Assembleia da República passa pela Federação Distrital do PS (cujo líder
era a testemunha Narciso Miranda), e concerteza que se começou a falar da
possibilidade do arguido Júlio Faria integrar a lista do PS à Assembleia da República
uns meses antes das eleições legislativas (essas eleições ocorreram em Outubro e a
escolha dos candidatos ter-se-á processado antes do Verão).
Em todo o caso, salientou que ignora os pormenores da escolha do arguido Júlio
Faria.
Em Felgueiras ele foi o primeiro ex-presidente de Câmara a ir para a Assembleia
da República.
Não sabe se o arguido Júlio Faria suportou despesas do PS.
O arguido Júlio Faria, quando era deputado, usava um gabinete para
atendimento na Biblioteca Municipal (à Segunda-feira, dia em que se encontrava em
Felgueiras).
O Sr. Pinto levava ao arguido Júlio Faria recortes de jornais e alguma
correspondência dirigida a ele (que retirava de uma prateleira que se encontrava em
cima de uma mesa no GAPP e destinada à colocação de documentos destinados ao
arguido Júlio Faria. Ignora se o arguido Horácio alguma vez ali colocou algo destinado
ao arguido Júlio). Não sabe se o Sr. Pinto levava esses documentos a casa dele ou ao
gabinete que ocupava para atendimento. Ignora ainda se o Sr. Pinto levava-lhe esses
documentos semanalmente ou de quinze em quinze dias.
*
A propósito das declarações da testemunha José Júlio, referiu o arguido Horácio
Costa que a constituição do grupo das finanças ocorreu antes de constituída a direcção
de campanha, pelo que não foi no âmbito da mesma que tal pelouro foi criado.
De facto, a pré-campanha começou em Maio/Junho de 1997 e na altura não
havia sido ainda constituída a direcção de campanha.
Nessa altura a arguida Fátima Felgueiras deu instruções rigorosas acerca do
lançamento da sua candidatura.
O primeiro evento sucedeu em Julho de 1997 (refeição no Mercado Municipal),
tendo sido realizadas despesas, designadamente de correio (respeitante aos convites) no
montante de 114.289$00 (cfr. extrato da conta do BES, designadamente fls 10 do
apenso 1).
Essas despesas chegaram às mãos da testemunha José Júlio, o qual se dirigiu ao
depoente para as pagar, o que foi feito.
Nessa altura o pelouro das finanças já estava constituído conforme já relatou,
logo, esse pelouro não foi criado no âmbito da direcção de campanha.
De resto, a conta do BES foi aberta em Julho de 1997 e os primeiros donativos
foram doados em Julho desse ano.
Quando muito a direcção de campanha, depois de constituída, ratificou a
composição do pelouro das finanças tal como havia sido criado.
Os fornecedores da campanha iam ter consigo ou com o arguido Joaquim Freitas
porque alguém os remetia nesse sentido. Alguns desses credores já tinham prestado os
seus serviços ao PS no âmbito de outras campanhas (como por exemplo a “Tipografia
de Guimarães”; “Xavier Calçada”; José Carlos Ribeiro, que prestou um serviço de
propaganda numa viatura por 1.500 cts para a campanha de 1997; “Foto Macedo”, o que
importou numa despesa de mais de 1.000 cts no âmbito da campanha de 1997).
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Existiram também contas do PS que lhe chegaram via arguido Bragança, como
era o caso dos artistas contratados (como por exemplo a Cândida Branca Flôr e os
“Excesso”).
Alguns presidentes de junta também fizeram fornecimentos para a campanha.
A testemunha Júlio Pereira ia ter consigo com carácter regular e permanente a
propósito de débitos do PS porque tinha instruções nesse sentido.
Foi ele aliás quem lhe apresentou o Sr. Germano, da “Tipografia de Guimarães”,
na CMF, porque existia um débito que era necessário liquidar.
De facto, com carácter regular pagou débitos do PS, de que são exemplos os
documentos de fls 174, 176, 177, 182 e 186.
Apesar da testemunha José Júlio ter referido que não era hábito prestar-se contas
ao partido a propósito da campanha, o certo é que foi movida ao depoente e ao arguido
Joaquim Freitas uma acção de prestação de contas.
Em Fevereiro de 2000 foi a um plenário de militantes do PS na sede local do PS
e foi confrontado com perguntas sobre as contas da campanha. Respondeu durante 3
minutos mas teve de sair porque foi vaiado.
Já depois do depoente ter saído da CMF, a testemunha Júlio Pereira e o arguido
António, segundo lhe disse o arguido Joaquim Freitas, foram à empresa de calçado
“Combate”, situada em Torrados, pertença do pai do arguido Joaquim Freitas e dos
filhos, e assediaram o arguido Joaquim Freitas no sentido convencer o depoente a
fornecer-lhe elementos documentais relativos ao PS, prometendo que nada lhe
aconteceria, que a testemunha Sousa Oliveira (ex-marido da arguida Fátima) trataria de
tudo e que todos os problemas recairiam sobre a pessoa do depoente. Este discurso
partiu mais do arguido António Pereira Mesquita de Carvalho, segundo lhe foi referido
pelo arguido Joaquim Freitas.
No que respeita ao cheque de fls 526 do 3º volume, emitido pelo Sr. Albino,
referiu que este senhor residia no centro da cidade de Felgueiras e a testemunha José
Júlio disse ao depoente para ir ao escritório de uma firma em Fafe para levantar um
donativo junto de um Sr. Júlio, o que fez, tendo-lhe sido entregue um envelope dirigido
à testemunha José Júlio, a quem o entregou. Mais tarde a testemunha José Júlio
devolveu-lhe um cheque passado em seu nome para o depositar (cuja cópia consta de fls
526 do 3º volume), já que se tratava de um donativo para a campanha.
No que respeita ao cheque cuja cópia se acha a fls 518 do 3º volume, emitido
pelo Sr. Eugénio a favor do PS, assegurou que o mesmo foi entregue no GAPP e que foi
a testemunha José Júlio que o deu ao depoente já endossado, tendo-o então depositado
na conta do BES.
No que se refere ao cheque do Sr. Rolando (constante de fls 7089), assegurou
que quem lho entregou foi o arguido Bragança, o qual mantinha com ele um bom
relacionamento. O Sr. Rolando Melo tinha sido vereador, não o conhecendo
pessoalmente.
O Sr. Agostinho Costa dirigia-se ao GAPP para tratar de assuntos do FCF e a
certa altura o arguido Joaquim Freitas encontrou-o lá e solicitou-lhe um donativo para a
campanha, sendo certo que a testemunha José Júlio estava presente.
A testemunha bem sabe que a arguida Fátima se deslocava com o Sr. “Lima da
Jóia” (Fernando Lima) a empresas no sentido de solicitar donativos e a respectiva
contabilidade era feita no GAPP pela testemunha José Júlio.
Além disso, quem levava os credores ao seu gabinete na CMF para serem
atendidos pelo depoente era a testemunha José Júlio da Silva Pereira (foi o caso da
pessoa que se deslocou à CMF para receber o crédito emergente da prestação dos
“Bombos de Airães”).
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*
Em face das declarações proferidas pelo arguido Horácio Costa, a testemunha
José Júlio da Silva Pereira referiu que não sabe quando teve lugar a reunião da
direcção de campanha onde ficaram definidos os vários pelouros, entre os quais o
pelouro das finanças.
Referiu porém não se recordar da pessoa que nessa reunião transmitiu a
composição dos vários pelouros.
Foi confrontado com o manuscrito de fls 156 (da autoria do arguido Júlio Faria),
tendo-lhe reconhecido a letra. O arguido Júlio Faria fazia parte da direcção de campanha
e está em crer que ele esteve presente nas reuniões da direcção de campanha.
Se esse documento tivesse sido escrito após a reunião da direcção de campanha
que definiu a composição dos pelouros deveria constar o nome da testemunha Dinis
(chefe da Repartição de Finanças da Lixa, à data, tendo vindo mais tarde para a
Repartição de Finanças de Felgueiras, pessoa que não era assídua nas reuniões) como
fazendo parte do pelouro das finanças, o que não sucede (o que inculca a ideia que esse
documento terá sido redigido antes, além de que o texto está dirigido para o futuro).
Além disso, esse documento trata de matéria reservada e as reuniões da direcção de
campanha eram mais alargadas. Ignora porém se esse documento está ou não completo.
Da análise do documento parece resultar que já existiria a comissão coordenadora,
composta por um grupo de pessoas mais restrito.
No que se reporta à refeição no Mercado Municipal, recorda-se apenas de uma
em que participou o António Guterres. Não se lembra de qualquer refeição nesse local
na campanha de 1997.
Admite que tenha solicitado ao arguido Horácio a liquidação das despesas de
correio, no valor de 114.287$00, por ele referidas (a 31.07.97 – cfr. fls 10, do apenso 1
e relação de cheques de fls 53 do apenso 1). Deve tê-lo feito porque alguém lhe deve ter
dado essa indicação, talvez o arguido Bragança, que era o secretário coordenador do PS
local (não obstante à ainda não estar constituído o pelouro das finanças?).
Ainda a propósito de despesas do PS pagas pelo arguido Horácio, foi
confrontado com os documentos de fls 2 a 8 do apenso 4.
Não se recorda se recebia a verba necessária em cheque ou em numerário para
pagar essas despesas.
Não se recorda em que data ocorreu a conferência de imprensa de lançamento da
candidatura da arguida Fátima Felgueiras às eleições de 1997 (cfr. fls 14 do apenso 4,
cópia de recibo dos CTT, onde tem manuscrita uma anotação alusiva a conferência de
imprensa realizada a 30.06.97).
Conhece o Sr. Germano da “Tipografia de Guimarães” por ser fornecedor da
CMF. Não se recorda de o ter apresentado ao arguido Horácio Costa mas admite essa
possibilidade a propósito de um crédito que essa tipografia detinha por força de
trabalhos efectuados para a campanha eleitoral de 1997.
Confirmou que foi a comissão de finanças que pagou a sessão fotográfica aos
candidados do PS às eleições autárquicas de 1997, trabalho executado pela “Foto
Macedo”.
Pensa que de facto quer os “Excesso” quer a Cândida Branca Flôr actuaram em
eventos da campanha de 1997. Era a comissão coordenadora quem tratava da
contratação e de fazer as encomendas para a campanha.
Esteve presente na reunião na sede do PS ocorrida em Fevereiro de 2000, a que
o arguido Horácio fez alusão. Recorda-se dele ter falado alguns minutos e de ter saído
na sequência de algumas movimentações de desagrado (ele não teve condições para
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2º Juízo
poder continuar a falar). Não se recorda qual o assunto acerca do qual ele estava a falar
quando saíu.
O depoente fazia parte do secretariado do PS de Felgueiras, pelo que sabe que a
acção de prestação de contas foi proposta contra os arguidos Horácio e Joaquim Freitas.
Pese embora não consiga situar no tempo, confirma que se deslocou à firma
“Combate”. Fez um telefonema ao arguido Joaquim Freitas a pedido da arguida Fátima
Felgueiras e ele disse-lhe que só falava com o depoente e com o arguido António
Pereira. Dirigiram-se então à dita firma e ele mostrou-lhes uma convocatória da PJ,
mostrando-se muito preocupado. Não sabe o que é que a arguida Fátima queria dele,
mas ele não queria falar com ela. Quando se encontraram com ele não receberam
indicações da arguida Fátima acerca do assunto que deveriam tratar, mas foi ela quem
lhes disse para irem ter com ele (?!). Não presenciou qualquer aliciamento.
Ainda no que respeita ao cheque de fls 526, do 3º volume, emitido pelo Sr.
Albino, referiu não se recordar de ter solicitado ao Júlio que intercedesse no sentido da
sua entidade patronal conceder um donativo, sendo certo que não mandou o arguido
Horácio a Fafe para o receber, negando ter-lhe entregue o cheque em causa.
Quanto ao episódio relatado pelo arguido Horácio a propósito do Sr. Agostinho
Costa, referiu que ele de vez em quando ia ao GAPP, levando no início de cada ano
calendários para colocar nas secretárias. Ele era um negociante de peles, fez parte da
direcção do FCF e de uma comissão organizadora de uma tourada destinada a recolher
fundos para o FCF (o depoente fez também parte dessa comissão).
Não se recorda porém de ter ouvido o arguido Joaquim Freitas solicitar-lhe
qualquer donativo no GAPP.
Não sabe se a arguida Fátima recolheu fundos com o Sr. Fernando Lima. Só
sabe que ela participou em dois jantares de angariação de fundos para o FCF e numa
campanha de angariação de fundos para esse clube.
A este propósito, em sede de reinquirição, referiu que era prática habitual o FCF
organizar sorteios, sendo certo que os membros da respectiva direcção é que se
encarregavam de distribuir os bilhetes, podendo nessa conformidade recorrer aos
presidentes de junta e aos industriais.
*
O arguido Horácio Costa esclareceu então que a refeição no Mercado
Municipal se tratou de um almoço e o conjunto dos recibos dos CTT que totalizam
114.289$00 corresponde à divulgação desse evento.
As conferências de imprensa visavam tornar grande um evento que serviria de
apresentação de uma candidatura. A conta bancária do BES tinha sido aberta
recentemente e ainda não dispunham de cheques, daí que só mais tarde essas despesas
tenham sido pagas.
O documento de fls 602 reporta-se a uma despesa paga ao restaurante “Brasão”,
estabelecimento que prestou o serviço no almoço no Mercado Municipal (despesa que
foi paga em numerário na medida em que ainda não dispunham de cheques).
*
O arguido Júlio Faria, por seu turno, referiu que foi por alturas de Maio de
1997 que a comissão política do PS de Felgueiras iniciou o processo das eleições de
1997. Como o depoente à data não fazia parte desse órgão, não sabe exactamente o que
foi entendido fazer a esse propósito.
No início de Junho criou-se a direcção de campanha e a comissão coordenadora
(quanto à composição da direcção de campanha remeteu para os documentos por si
juntos a fls 12206 a 12208; quanto à composição da comissão coordenadora remeteu
para os documentos por si juntos a fls 12209 a 12221).
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À data o arguido Horácio Costa era vereador e o arguido Bragança era chefe do
GAPP e o secretário-coordenador do PS de Felgueiras.
A cota de fls 28 a 30 reporta-se a informações que recolheram no terreno.
Foram entretanto contactados pelos ditos Horácio Costa e Joaquim Freitas, os
quais quiseram denunciar certos factos, já numa fase posterior ao primeiro contacto com
a PJ (cfr. fls 62 dos autos – informação de serviço acerca da entrega de documentos
pelos ditos arguidos, juntos a fls 87 e 88, os quais dizem respeito a dois manuscritos.
O requerimento de fls 63, de 28.03.2000, desses arguidos, foi acompanhado dos
documentos juntos a fls 64 a 84.
O documento de fls 64 versa sobre a criação do pelouro das finanças no âmbito
da campanha eleitoral de 1997; o documento de fls 66 reporta-se a uma guia de
pagamento da CMF e cópia de um cheque da CMF emitido a favor da “Norlabor”; o
documento de fls 67 trata-se de um manuscrito com contas; os documentos de fls 68 e
69 reportam-se a duas cópias de facturas emitidas pela “Resin” à “AMVS”; o
documento de fls 70 diz respeito a uma guia de pagamento da CMF relativamente à
“Norlabor”, com cópia de um cheque emitido pela CMF a favor dessa firma; o
documento de fls 71 é mais um manuscrito com contas; o documento de fls 72 trata-se
de uma fotocópia de um cheque da conta do BES emitido a favor do arguido Júlio Faria;
os documentos de fls 73 e 74 reportam-se a talões de depósito a favor do arguido Júlio
Faria; o documento de fls 75 é uma cópia de um cheque emitido a favor do arguido
Júlio Faria; o documento de fls 76 reporta-se a um talão de depósito em numerário de
1.850 cts na conta do arguido Júlio Faria; os documentos de fls 77 reportam-se a cópias
de dois cheques da conta do BES; o documento de fls 78 reporta-se a um extrato de
conta; o documento de fls 79 reporta-se a um talão de depósito de 4.750 cts na conta do
arguido Horácio no “Banco Mello”; o documento de fls 81 a 83 reporta-se a cópia de
documentos alusivos ao seguro do “Audi A4” referido nos autos, na companhia de
seguros “AXA”; e o documento de fls 84 é um bilhete de um sorteio promovido pelo
FCF.
Pediram informações bancárias alusivas à conta do BES (cfr. ofício de fls 71),
tendo obtido dos respectivos titulares a respectiva declaração de autorização (cfr. fls 39
e 48).
Criaram então o apenso nº 1 (cfr. cota de fls 89) com os documentos entregues
pelo BES.
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Foi sobretudo o arguido Horácio quem entregou documentos à PJ (cfr. por ex. o
requerimento de fls 63 de junção de documentos dos arguidos Horácio e Joaquim
Freitas.
Esses arguidos eram os titulares da conta do BES, os quais autorizaram o
levantamento do sigilo bancário respectivo (cfr. fls 39 e 48).
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Não sabe se ele procedia à cobrança de créditos, mas crê que ele diligenciava
junto das entidades devedoras pela obtenção dos pagamentos a que a “Resin” tinha
direito.
O arguido Carlos Marinho era o responsável pela gestão financeira da empresa.
Em 1997 ele era apenas o responsável pela contabilidade (o director financeiro era a
testemunha Luciano Barreira). Não crê que tivesse autonomia para decidir fazer
pagamentos.
O arguido Vítor Borges, por seu turno, era o administrador da “Resin”
(presidente do conselho de administração).
Quando a depoente foi admitida ao serviço da “Resin” era o arguido Vítor
Borges quem era o responsável pelos negócios da empresa em Felgueiras, mas quando
foi admitido o arguido Gabriel Almeida houve uma transferência de responsabilidade
daquele para este no que concerne ao acompanhamento dos negócios em Felgueiras.
Os trabalhos que foram pagos à “Resin” foram efectivamente realizados, pelo
menos no tempo em que acompanhou a exploração da lixeira de Sendim.
Em face do tipo de trabalho em causa (contínuo) é normal que o auto de
recepção da obra fosse assinado sem a ida ao local. Tratava-se de um trabalho que
nunca estava concluído enquanto existisse deposição de lixo na lixeira. Só quando se dá
a selagem da lixeira é que a obra está concluída, o que só ocorreu em 1998, ao que crê.
Nessa altura já estava afastada do acompanhamento dessa lixeira.
Os concursos públicos tinham um caderno de encargos onde se definia o que se
pretendia e às vezes a forma de execução.
Quando se trata da execução de uma obra não há qualquer obstáculo a que se
façam autos de medição e de recepção.
A selagem consiste na modelação para dar estabilidade à massa de resíduos. É
assim criada uma rede de drenagem de lixiviados e do gás, procede-se à
impermeabilização com tela e procede-se à cobertura com terras para que possa ser
vegetalizada. Não acompanhou esse processo em Felgueiras mas crê que procedeu-se
desse modo na selagem da lixeira de Sendim.
Durante o tempo em que acompanhou a exploração da lixeira de Sendim
contactou várias vezes com o arguido Barbieri Cardoso. Era com ele que reunia para lhe
dar conta da evolução dos trabalhos. Era a ele que entregava os talões da báscula.
Sempre o viu como uma pessoa bastante profissional e rigorosa na defesa dos interesses
da CMF.
A esse propósito não teve contacto com mais algum técnico da CMF, sendo
certo que contactou com o engenheiro Leite (funcionário camarário) a propósito da
recolha de resíduos em Felgueiras.
A “Resin” não necessitava necessariamente de alvará, tudo dependia da
intervenção que tivesse nas obras. No caso da lixeira de Sendim a “Resin” prestava os
serviços já referidos, mas subempreitava o serviço de movimentação de terras a
empresas que dispunham do necessário alvará.
O último concurso na zona do Vale do Sousa em que a “Resin” participou terá
sido em 1998 (parece que foi em Outubro de 1997, cujo dono da obra era a AMVS) e
não tem a certeza se o arguido Gabriel participou na negociação respectiva.
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podia parar no local. O depoente aliás, nessas ocasiões, tinha de fechar as janelas de sua
casa. A população estava farta dessa situação e incomodava-o por esse facto.
A testemunha Menezes Basto era o proprietário do terreno onde estava
implantada essa lixeira. Havia um contrato que terminou e, segundo ouviu dizer, a
lixeira era para ser instalada em Barrosas. Porém, dado que a população de Barrosas
opôs-se a isso, surgiram rumores de que afinal a lixeira iria mudar-se para outro local de
Sendim (lugar de Casal).
Entretanto, conseguiu-se que a testemunha Menezes Basto prorrogasse por mais
6 meses a deposição do lixo no mesmo local. Foi o depoente quem fez esse pedido à
testemunha Menezes Basto e à esposa deste, tendo acedido, sendo certo que a CMF
comprometeu-se a retirar dali a lixeira findo esse período.
Entretanto, terminou o mandato do depoente.
Constatou que posteriormente a situação da lixeira melhorou. Referiu que é
proprietário de uns terrenos a cerca de 1.000 mts mais abaixo e as águas das minas eram
coloridas por força da poluição, águas essas que entretanto melhoraram muito.
Tendo desaparecido os cheiros e os fumos a população de Sendim acomodou-se
à existência da lixeira, reclamando apenas mais obras para a freguesia como
compensação pela existência dessa lixeira.
*
A propósito da possibilidade da lixeira de Sendim se deslocar para Barrosas,
referiu o arguido Júlio Faria que nessa freguesia do concelho de Felgueiras nunca
existiu lixeira, pese embora estivesse tudo preparado para ali instalar uma lixeira, o que
não sucedeu devido à forte oposição da população, que impediu a concretização desse
projecto.
*
- Testemunha António José Ferreira Pereira
Foi funcionário da “Resin” entre 08.01.94 até 30.06.2006, tendo trabalhado na
portaria da lixeira de Sendim.
Quando iniciou funções na “Resin” foi logo trabalhar para a dita lixeira.
No Início apontava os carros que entravam com o lixo (matrícula e o nome da
firma).
Quando ali foi instalada uma báscula procedia-se à respectiva pesagem e
anotava-se também as viaturas. Nessa altura foram trabalhar para a lixeira mais pessoas.
À data o seu chefe era a testemunha Fernando Ramos (encarregado).
O depoente esteve sempre no mesmo lugar.
Existia uma máquina que aterrava o lixo que era descarregado num local
próprio.
Andava lá o Sr. Pereira, que veio de França.
De vez em quando iam ao local engenheiros da “Resin”. O responsável era o
engenheiro Miguel Faria quando começou a funcionar o aterro. No tempo da lixeira a
engenheira Cláudia também ia ao local.
Não sabe ao certo em que data a lixeira foi selada. Nessa altura foi trabalhar para
a portaria do aterro RIB de Felgueiras, que tem a mesma localização que a lixeira e cuja
portaria é comum.
Em todo o tempo que ali prestou serviço a “Resin” sempre se manteve a operar
no local.
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Foi trabalhar para a lixeira de Sendim como cantoneiro. Cerca de 1 ano e meio
depois foi trabalhar para a Lustosa, onde permaneceu durante dois ou três anos. Nessa
altura exerceu funções para “Translousada” e para a “Norlabor”, mas era ainda
funcionário da “Resin”. Fazia também a vigilância nocturna na lixeira de Sendim.
Recorda-se de ver na lixeira de Sendim carrocarias de viaturas incendiadas.
O Sr. Pereira começou a trabalhar na lixeira de Sendim com o depoente. Logo
depois veio o Sr. Fernando Ramos e depois o Sr. Pereira (que veio de França), o qual
lhes deu formação para trabalhar com as máquinas.
Na lixeira chegou a trabalhar um manobrador de máquinas, pensa que da
“Norlabor” (chamava-se Mário).
A “Norlabor” e a “Translousada” tinham sócios comuns.
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Tem a ideia que a testemunha Fernando Sampaio também estava presente nessa
reunião.
O depoente integrou de forma voluntária o pelouro das finanças, tendo-se
mesmo oferecido para integrar esse pelouro, de que também faziam parte os arguidos
Horácio Costa e Joaquim Freitas.
À pergunta efectuada no sentido de se saber porque razão o arguido Horácio
Costa, não sendo militante do PS, integrou esse pelouro, respondeu que ele é familiar do
arguido Bragança (cunhado) e cabia ao secretário-coordenador desenvolver a
composição dos pelouros, pelo que, segundo presume, terá sido essa a razão pela qual
ele integrou o pelouro das finanças, além de que ele também exercia funções na CMF
(acha que ele era assessor da arguida Fátima, mas não tem a certeza. Expressou a
certeza de que ele era assessor – conforme era do domínio público -, mas em rigor não
sabe se o era da arguida Fátima). Esse facto pode também ter contribuído para que ele
integrasse esse pelouro.
Mais tarde surgiram outras pessoas a colaborar com o pelouro das finanças, mas
quando esse pelouro foi constituído só tinha três elementos (os arguidos Horácio Costa
e Joaquim Freitas e o depoente).
De resto, a testemunha Fernando Sampaio chegou a colaborar com os arguidos
Horácio e Joaquim Freitas na angariação de donativos, sem que no entanto fizesse parte
do pelouro das finanças.
Tem a ideia que o arguido Joaquim Freitas, por seu turno, tinha já experiência na
recolha de fundos em campanhas anteriores.
Os três reuniram-se e elaboraram uma lista de pessoas e empresas a contactar no
sentido de obter donativos (o critério de constituição dessa lista tinha a ver com a
disponibilidade financeira das pessoas a contactar, normalmente elementos pertencentes
ao tecido empresarial). Seguramente que deu sugestões de nomes.
Entretanto, não sabe porque razão o deixaram à margem do processo de recolha
de fundos, não tendo assim efectuado qualquer contacto no sentido de recolher fundos
para a campanha.
Não questionou os arguidos Horácio e Joaquim Freitas acerca das razões pelas
quais foi posto de lado, mas tem a ideia que comentou esse facto com a testemunha
Fernando Sampaio.
Ouviu dizer que o arguido Horácio fazia os contactos telefónicos.
Nessa altura o depoente trabalhava na repartição de finanças de Lousada (tendo
depois ido para a repartição de finanças de Baião e, em Setembro de 1997, para a
repartição de finanças de São João da Madeira). Assim, só à sexta-feira é que o
depoente poderia ir às reuniões, ainda que chegasse atrasado.
Por conseguinte, não obstante as suas limitações de tempo por força da sua
actividade profissional, participava nas reuniões da direcção de campanha e estava
presente em acções de campanha.
Nas reuniões da direcção de campanha eles apresentavam com satisfação o
resultado da sua acção em termos genéricos (tinham uma ideia de quanto seria
necessário para custear a campanha e eles apenas iam revelando em termos globais
como ia decorrendo a angariação de fundos. Diziam que esta estava a correr bem, mas
não davam pormenores).
Seja como for, o depoente não sabia nem lhe era transmitido qual o nível de
realização da angariação de fundos.
Estavam mais preocupados com as acções de campanha e não tanto com a parte
financeira.
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2º Juízo
integrado nas listas do PS, com excepção das últimas eleições autárquicas, uma vez que
foi eleito integrado nas listas do PSD. Foi militante do PS desde 1989 até 2005.
Fez parte do secretariado e da comissão eleitoral na campanha eleitoral referente
às eleições autárquicas que tiveram lugar em 1997.
Aliás, sempre fez parte das comissões eleitorais.
Uma vez que fazia parte do secretariado integrou a direcção de campanha.
Em 1997 a comissão política do PS foi eleita em Janeiro, tendo reunido em
princípio de Junho desse ano, onde foi mandatado o secretário-coordenador (o arguido
Bragança) para criar a direcção de campanha.
Foi assim o secretariado e alguns elementos da comissão política (por ex. o
depoente) quem fizeram os convites às pessoas para integrar a direcção de campanha.
Pensa que os respectivos elementos não foram escolhidos pela arguida Fátima
Felgueiras, visto que as pessoas convidadas foram à primeira reunião da direcção de
campanha acompanhadas das pessoas que as convidaram, sendo certo que a arguida
Fátima não esteve presente nessa primeira reunião.
A direcção de campanha foi assim composta por elementos do secretariado, por
alguns membros da comissão política e outras pessoas amigas do PS mas não militantes.
O arguido Júlio Faria fazia também parte dessa direcção de campanha (mas a arguida
Fátima Felgueiras não fazia parte da mesma. Em todas as campanhas eleitorais
autárquicas em que participou o candidato à presidência da CMF nunca fez parte da
direcção de campanha).
A direcção de campanha reuniu pela primeira vez a 09.06.97, data que
confirmou com documentos que possui e que verificou quando soube que iria depor
neste julgamento como testemunha.
Os jornais locais reportaram-se à criação e composição da direcção de
campanha, designadamente o jornal “O Sovela”, edição de 12.09.97, o qual cobriu uma
conferência de imprensa onde foi apresentada a direcção de campanha, tendo sido
publicado nesse jornal os nomes de quem integrava essa estrutura da campanha
eleitoral.
A arguida Fátima era à data a presidente da comissão política.
Foi então confrontado com os documentos de fls 12206 e ss., juntas pelo arguido
Júlio Faria, referindo que também tem cópia desses documentos, tratando-se de actas
que eram feitas em cada uma das reuniões que tinham lugar.
Era o arguido Bragança quem fazia as actas das reuniões, as quais não eram
assinadas. Na reunião seguinte eram distribuídas cópias da acta referente à reunião
anterior. Foi assim nessa altura que entrou na posse dos documentos que já referiu.
Assim, no documento de fls 12211 (igual ao documento a que acima fez
referência a propósito da data da primeira reunião da direcção de campanha) consta que
a primeira reunião ocorreu a 09.06.97, conforme tinha afirmado.
Chamou à atenção para o facto de que nas actas não constam o nome de todos os
elementos que integravam a direcção de campanha, já que existiam elementos que por
inerência faziam parte dela, além de que o rol das pessoas que dela faziam parte ia-se
alargando até ao dia das eleições.
Assim, é natural que o “Sovela” apenas tenha divulgado os nomes das primeiras
pessoas que fizeram parte da direcção de campanha, na sua edição de 12.09.97.
Já a reunião ocorrida no Centro Tecnológico do Calçado a 16.06.97 serviu para
traçar com a direcção de campanha a organização da campanha eleitoral, tendo sido
decidido fazer um apelo público à arguida Fátima Felgueiras para se candidatar, apelo
esse que teve lugar a 05.07.97 num almoço no Mercado Municipal (cfr. a edição do
“Sovela” de 11.07.97, onde noticia esse evento, ocorrido no dia 05.07.97. A fls 3 desse
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2º Juízo
jornal aparece uma fotografia da mesa, onde está a D. Glória Freitas, militante do CDS).
A organização desse evento e realização desse apelo público era uma forma de
mobilizar as pessoas em torno da campanha pois já se sabia que a arguida Fátima seria a
candidata do PS.
Como a arguida Fátima Felgueiras “estava no coração das pessoas”, foi muito
fácil a mobilização das pessoas para a campanha.
O convite endereçado à arguida Fátima para se candidatar era lógico, em face da
obra que ela levou a cabo no concelho nos dois anos anteriores. Assim, pelo menos em
Margaride, já se sabia que ela seria candidata antes de se fazer o apelo à sua
candidatura.
No mínimo ela teria já essa expectativa, mas só aquando da primeira reunião a
que aludiu é que essa expectativa se concretizou.
Em Setembro desse ano ocorreu a apresentação da candidatura dela, conforme
noticiado pelo jornal “O Sovela”.
Na primeira reunião da direcção de campanha (a 09.06.97) criaram-se os
pelouros (dos eventos, da comunicação, das finanças, da estratégia política, entre
outros).
Os arguidos Júlio Faria e António Pereira integraram o pelouro da estratégia
política.
O depoente, nessa reunião, estava ao lado da testemunha António Dinis, o qual
se ofereceu logo para integrar o pelouro das finanças, tendo integrado ainda esse
pelouro os arguidos Joaquim Freitas e Horácio Costa.
Nessa primeira reunião é possível que tenham estado presentes as testemunhas
Edgar Pinto da Silva e Orlando Sousa.
Admite também que as testemunhas Vítor Sousa (que fez parte do pelouro da
comunicação) e Fernando Sampaio (que participou em muitas reuniões) tenham estado
presentes na dita reunião onde se criaram os pelouros, mas não se recorda.
A arguida Fátima Felgueiras nada teve a ver com o pelouro das finanças, até
porque ela não esteve presente nessa reunião.
A imagem do presidente da câmara era para ser resguardada, daí que não
acredite que ela tenha tido qualquer intervenção nesse domínio.
A propósito da realização de eventos mais caros, questionavam os elementos do
pelouro das finanças no sentido de saber se existiam os fundos ncessários. Sucedeu
assim por exemplo a propósito da actuação dos “Santos & Pecadores”.
Recorda-se de ter questionado os elementos do pelouro das finanças acerca
desse assunto, sendo certo que a arguida Fátima Felgueiras não estava presente. Não era
aliás a arguida Fátima quem programava os eventos mas a direcção de campanha.
Nunca a viu a pedir donativos para a campanha.
Explicou que é muito amigo dela e se isso sucedesse saberia.
Aos arguidos Joaquim Freitas e Horácio Costa nunca os viu tristes e
preocupados. Diziam que toda a gente dava dinheiro porque “adoravam a Fatinha”.
As contas da campanha eleitoral sempre foram separadas das contas do PS. A
conta oficial do partido era apenas usada para o pagamento das despesas correntes do
PS.
As contas da campanha eram separadas (como sucedia com todos os partidos) na
medida em que nela participavam pessoas que não eram militantes.
Assim, as finanças da campanha nada tinham a ver com as finanças do PS, pois
as campanhas tratam-se de eventos supra partidários.
O arguido Joaquim Freitas era um elemento da comissão política do PS.
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O arguido Horácio Costa trabalhava na CMF (não sabe o que fazia mas
trabalhava no andar de cima do edifício da CMF, perto do GAPP) e era cunhado do
arguido Bragança (secretário-coordenador).
O arguido Horácio Costa dizia que era assessor da arguida Fátima Felgueiras,
mas nunca foi recebido por ele, apesar de quase todos os dias ir à CMF.
O arguido Joaquim Freitas já tinha feito parte do pelouro das finanças em
anteriores campanhas eleitorais referentes a eleições autárquicas.
O pelouro das finanças é tão importante como os outros.
Para si a escolha dos candidatos era mais importante.
O arguido Horácio Costa integrou o pelouro das finanças se calhar por ser
cunhado do secretário-coordenador do PS.
No âmbito das reuniões em que a arguida Fátima esteve presente (ela esteve
presente em muitas) ela dava sugestões como qualquer outra pessoa.
Nunca viu ordens escritas da arguida Fátima dirigidas aos pelouros.
O número dois da lista do PS a essas eleições era o Sr. Lickefold e quando ele
saíu da vereação foi o arguido António Pereira que passou a ocupar a vice-presidência
da CMF, ao que presume (na medida em que ele era o braço direito da arguida Fátima).
A testemunha Edgar Pinto da Silva, por seu turno, passou a número três (a testemunha
referiu que não tem a certeza deste facto).
A testemunha Edgar Pinto da Silva não fazia parte do secretariado, pelo que
acha estranho que ele tivesse afirmado que foi a arguida Fátima Felgueiras quem
escolheu os elementos da direcção de campanha.
Havia um grupo de pessoas de que fazia parte o arguido António Pereira e meia
dúzia de presidentes de junta, incluíndo o depoente, que “davam o litro” pela
candidatura da arguida Fátima Felgueiras.
Nunca ouviu a expressão “task force” ou “núcleo duro” como reportado a esse
grupo de pessoas ou a outro.
A testemunha Orlando Sousa foi candidato à Assembleia Municipal de
Felgueiras.
Não sabe se ele fez parte da Direcção de Campanha, mas é natural que
entretanto viesse a fazer parte dela (essa testemunha referiu a existência de um “núcleo
duro”, facto que a testemunha Augusto Faria referiu desconhecer).
A testemunha Vítor Sousa é jornalista e integrava o pelouro da comunicação.
Pensa que ele era militante do PS. Admite que ele possa ter estado na primeira reunião
da direcção de campanha. Confrontado com o facto dessa testemunha ter referido que a
arguida Fátima esteve nessa reunião, respondeu que ele se deve ter equivocado.
Confrontado com o facto da testemunha Fernando Sampaio também ter dito que
a arguida Fátima esteve presente nessa reunião, na sede do PS, respondeu que ele se
deve ter equivocado.
Tal testemunha referiu ainda que a arguida Fátima indicou nomes para a
direcção de campanha, facto que a testemunha Augusto Faria refutou, assegurando que
as pessoas ofereciam-se para integrar os diferentes pelouros em face das suas aptidões.
O depoente nunca ouviu dizer que essa testemunha tenha feito parte do pelouro
das finanças, admitindo porém que possa ter colaborado com esse pelouro.
O depoente teve mais contacto com o arguido Horácio Costa quando ele foi
vereador (pensa que a partir de Janeiro de 1999), pese embora cerca de 99% das vezes
que ia à CMF, enquanto presidente de junta, falava com a arguida Fátima Felgueiras.
Não sabe qual era o relaciomento existente entre os arguidos Fátima Felgueiras e
Horácio Costa.
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Os pelouros apenas foram criados numa reunião ocorrida depois das férias na
sede do PS, reunião essa na qual não esteve presente. Soube disso por ouvir dizer a
alguns dos seus colegas.
O depoente não fez parte da direcção da campanha, mas assistiu a algumas
reuniões. Nas reuniões a que assistiu a arguida Fátima Felgueiras era presença habitual.
Ela era a principal interessada que a campanha corresse bem.
Toda a gente sabia que a angariação de fundos ficou a cargo dos arguidos
Horácio Costa e Joaquim Freitas. Eles pediram a colaboração a alguns presidentes de
junta no sentido de lhes indicar pessoas a contactar a fim de lhes solicitar um donativo.
Não acompanhou os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas à fábrica da
testemunha Júlio Sampaio Teixeira (fábrica “Lagarto”), em Lagares, no sentido de
recolher um donativo.
Eles vangloriavam-se que angariavam muito dinheiro. Não lhe parece que eles
andassem a cumprir ordens de quem quer que seja.
Nunca viu qualquer escrito, designadamente do arguido Júlio Faria, relativo ao
pelouro das finanças.
Se não houvesse dinheiro pouco se poderia fazer.
Cada um oferecia-se para os pelouros para os quais tinham mais vocação.
Era o arguido Júlio Faria – enquanto coordenador da campanha – que
perguntava às pessoas acerca do pelouro que estariam dispostas a integrar, segundo lhe
disseram, e então as pessoas ofereciam-se para integrar os pelouros de acordo com a
respectiva vocação.
Segundo lhe disseram, a testemunha Dinis foi o terceiro a oferecer-se para
integrar o pelouro das finanças.
Não sabe se a arguida Fátima estava presente nessa reunião.
Essa reunião era importante na medida em que se escolhessem as pessoas
erradas para os diferentes pelouros podia-se deitar tudo a perder, pelo que considera
natural que a arguida Fátima estivesse presente nessa reunião.
Antes dessa campanha não estava “muito metido” no PS, pelo que não sabe de
que modo eram organizadas as campanhas anteriores.
As contas da campanha eram separadas das contas do partido até porque nas
campanhas eleitorais autárquicas intervinham pessoas que não eram militantes do PS.
Tal era assim um procedimento habitual.
O depoente era fornecedor de peixe e fornecia as sardinhas para os eventos.
Num dos eventos quis oferecer as sardinhas mas o arguido Horácio Costa fazia
questão de as pagar, dizendo-lhe que não havia a necessidade de as oferecer na medida
em que havia muito dinheiro (tratava-se de um valor a rondar os 50.000$00); o depoente
porém não aceitou o pagamento.
A Comissão de Eventos era constituída pelo Jacinto Ferreira, pela arguida Maria
Augusta e pelo António Faria. Nenhum dos seus elementos trabalhava na CMF. Nunca
lhe constou que a testemunha Maria da Glória fizesse parte dessa comissão, mas via-a
por lá. Acabou por referir que ela foi convidada para integrar essa comissão por ser
dinâmica. Constava-se que ela era simpatizante de um partido de direita (acha que do
CDS).
O depoente quis fazer um evento de apresentação dos candidatos em Lagares e
falou acerca disso com a Comissão de Eventos e com o arguido Horácio no sentido de
saber se havia dinheiro para custear as despesas.
O depoente apresentou queixa-crime contra o arguido Horácio Costa na medida
em que ele, na Assembleia Municipal de Felgueiras, disse que os presidentes de junta
beneficiaram de dinheiro do “saco azul”.
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elementos que possam auxiliar nas tarefas da campanha eleitoral, ainda que não sejam
militantes).
As tarefas são assim distribuídas, sendo certo que é habitual a existência de um
grupo ou de uma só pessoa encarregue da angariação de fundos.
Normalmente tenta-se resguardar o cabeça de lista da angariação de fundos na
medida em que ele é o responsável pela estratégia política, tarefa que por si só já é
pesada.
Convém que a angariação de fundos seja feita com alguma independência.
Não conhece caso algum (que pode existir) em que o cabeça de lista se envolva
na angariação de fundos.
Os angariadores de fundos têm em primeiro lugar que ser pessoas de confiança
do secretário-coordenador.
Acha pouco provável que tenham de ser pessoas de confiança da candidata, a
qual é só a responsável número um pela coordenação política da campanha e não da
logística. Em todo o caso tem de haver confiança mútua.
Se no final não existisse dinheiro suficiente para pagar todas as despesas de
campanha a responsabilidade pelo respectivo pagamento seria do partido a nível local e,
em última análise, a responsabilidade pelo pagamento seria do PS nacional.
Era habitual a abertura de uma conta para a campanha.
Em Braga, no final, reuniam-se e se houvesse um saldo positivo, a verba
respectiva convertia-se em receita do PS.
As contas da campanha tinham autonomia em relação às contas do partido, até
porque na campanha referente às eleições autárquicas intervinham pessoas que não
eram militantes e as contribuições até eram concedidas por pessoas que não se
identificavam sequer com o partido.
Normalmente as pessoas que davam donativos não queriam que o respectivo
nome fosse revelado. Com a nova lei de financiamento dos partidos é obrigatória a
identificação das pessoas que contribuem para as campanhas, situação que cria
dificuldades na angariação de fundos.
Não tem conhecimento que em Felgueiras as coisas se passassem de modo
diferente em relação a Braga.
Conhece a arguida Fátima Felgueiras há muitos anos (desde o tempo em que ela
era veradora na CMF) e já pertenceram ambos ao Secretáriado Nacional no PS.
Das diversas conversas que manteve com ela nunca notou nada que o levasse a
pensar o contrário (em todo o caso as conversas que tinham não versavam sobre esse
tema).
A arguida Fátima é pessoa afável, dinâmica e corajosa para enfrentar a situação
de que está a ser alvo.
Nunca notou nela um acto menos sério.
Ela faz as coisas com convicção e tem uma postura que caracteriza pelo “antes
quebrar que torcer”.
Ela foi considerada uma autarca modelo.
O presidente da comissão política faz apenas a orientação política do PS a nível
local. O secretariado é que tem o poder executivo.
A angariação de fundos numa campanha visa assegurar o pagamento das
despesas de pré-camapanha e da campanha propriamente dita. Na altura da pré-
campanha já está formada a comissão eleitoral.
Os valores envolvidos numa campanha dependem da câmara em concreto e do
valor da oposição. O esforço financeiro não é igual em todo o país.
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Assim, o arguido Horácio Costa disse que a reunião com a testemunha Narciso
Miranda ocorreu em 05.02.2000 (e não 2001 conforme por lapso havia referido).
A testemunha Narciso Miranda apoiou as quatro pessoas que com ele se
reuniram na Federação Distrital do Porto.
Não foi o depoente quem a marcou com a testemunha Narciso. O depoente foi
convidado pelo arguido Bragança para ir com eles, sendo certo que ele iria transmitir à
testemunha Narciso quais eram as necessidades do partido em face da gestão autárquica
que então se vivia e do que era imputado à arguida Fátima Felgueiras.
O Dr. Barros Moura, enquanto presidente do órgão fiscalizador da acção da
CMF (era presidente da assembleia municipal), sentiu a necessidade da realização da
aludida reunião com a testemunha Narciso Miranda.
O Dr. Barros Moura, aliás, estava também a ser alvo de ataques, pois a jornalista
Inês Serra Lopes, do “Independente”, remeteu ao arguido Barbieri um documento
alusivo à gestão dos dinheiros públicos pela Associação Industrial de Felgueiras (criada
pelo Dr. Barros Moura e outras pessoas), a fim de dele obter um comentário
(28.01.2000) – cfr. e-mail de fls 14718.
Haviam pois razões partidárias e pessoais do Dr. Barros Moura para que ele
quisesse a realização da reunião com a testemunha Narciso Miranda.
A 14.02.2000 o PSD de Felgueiras promoveu uma conferência de imprensa onde
tornou pública a denúncia anónima e acrescentou uma série de assuntos em relação a
essa denúncia.
O ambiente era tenso e de preocupação para quem estava ligado ao PS de
Felgueiras, daí a necessidade da reunião com a testemunha Narciso Miranda.
O depoente foi incluído nesse grupo de pessoas, mas nunca foi incluído em
qualquer projecto de poder. O depoente foi convidado para ir à dita reunião para dar
conta do que se passou com a conta do BES.
Refuta pois a ideia da existência de um projecto de poder que visasse o derrube
da arguida Fátima Felgueiras nos moldes em que a testemunha Narciso Miranda o
apresentou ao Tribunal.
As expressões “assassinato político” e “assalto de poder” foram usadas pela
arguida Fátima Felgueiras para desvalorizar a investigação e as declarações do
depoente. Quando ela foi constituída arguida ela passou a dizer que as pessoas eram
ressabiadas políticos e que as oposições se aproveitavam disso na tentativa de a
destituir.
A testemunha Narciso prometeu-lhes que iria tomar decisões e resolver o
problema, mas apercebeu-se que ele acabava por actuar de forma diferente. Ele acedia
com quem falava, isto é, se falasse com a arguida Fátima solidarizava-se com ela e ao
mesmo tempo manifestava apoiar o grupo que o visitou .
No “Sovela” aliás vem publicada uma notícia que dá conta que a testemunha
Narciso Miranda se solidarizou com a arguida Fáima Felgueiras (notícia publicada na
edição de Abril de 2000).
O depoente considerou tal facto uma traição, nomeadamente em face do que a
testemunha Narciso se comprometeu perante o grupo com quem reuniu e mesmo para
com o PS de Felgueiras.
Ele apelava para a unidade do partido e para a vitória das próximas eleições
autárquicas, que viriam a ocorrer em 2001.
Salientou que nas declarações que o depoente fez à comunicação social manteve
sempre a versão dos factos quer no que toca à reunião com a testemunha Narciso
Miranda quer quanto ao encontro à beira-mar com a testemunha Guilherme Pinto.
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e era eurodeputado. Era pessoa muito respeitada. Se soubesse que ele iria à reunião teria
mais cuidado na sua marcação.
Quanto às considerações feitas pelos jornalistas não as comenta, designadamente
que apoiou a arguida Fátima Felgueiras.
Salientou que a arguida Fátima Felgueiras apoiou o Francisco Assis contra a sua
recandidatura à Federação Distrital do Porto do PS, logo não tinha razões para a apoiar.
Que se lembre, nunca falou com o Dr. Sousa Oliveira.
Não tem a certeza em que data ocorreu o dito jantar, mas tem quase a certeza
que teve lugar ainda em 1999 (nessa altura o problema ainda não era público, pois se
fosse já público não acederia em reunir com eles, segundo disse em contradição com o
facto de ter declarado anteriormente que acedeu em reunir após o “problema” se tornar
público e por ter mais tempo disponível).
Tem a certeza que esse jantar ocorreu depois da reunião na sede do Porto do PS
(antes a testemunha tinha transmitido a ideia de uma sequência inversa das reuniões).
Esta reunião na sede do partido no Porto teve lugar pouco depois de ter tomado
posse como Secretário de Estado (Outubro de 1999), talvez 15 ou 30 dias depois.Tem
quase a certeza que foi ainda em 1999.
Ao contrário do que disse o arguido Horácio Costa o dinheiro do “saco azul”
não financiou a Federação Distrital do Porto do PS.
Na altura não existiam regras quanto ao financiamento dos partidos.
Na altura o depoente não tinha razões para se opor à recandidatura da arguida
Fátima Felgueiras.
Não é de estranhar que se prepare as eleições autárquicas com 15 meses de
antecedência. Neste momento já se preparam as próximas eleições autárquicas.
As estruturas dos partidos é que fazem movimentações em reuniões para
preparar estratégias para as candidaturas às eleições autárquicas. É ainda muito cedo
para definir as listas, sendo assuntos que são muito tratados nos corredores.
Deve-se delinear a estratégia e só depois é que deve-se colocar a questão dos
nomes. Reconheceu em todo o caso que na prática não é bem assim.
Não sabe quem é que insistentemente solicitava as reuniões com o depoente, só
a sua ex-secretária é que poderá esclarecer esse facto. Sabe apenas que eram opositores
internos à arguida Fátima Felgueiras.
Explicou que quando há um conflito entre dois militantes do PS não é o líder
distrital que o pode derimir, mas a Comissão de Jurisdição.
Recorda-se que no dito jantar ligou para a sua então secretária (chamava-se
Paula Cristina Guimarães Duarte e não Ana Paula, conforme referiu o arguido Horácio
Costa, sendo certo que nunca teve qualquer secretária ou assessora com o nome “Ana”).
Não tem ideia nenhuma de lhe ter telefonado por causa de algum assunto tratado
nessa reunião.
Na reunião ocorrida na sede do Porto do PS o conflito era já público (o que mais
uma vez revela contradição no depoimento da testemunha quanto à sequência das
reuniões: primeiro referiu que ocorreu o jantar e depois a reunião na sede distrital do
PS; depois afirmou o contrário e agora reafirma a primeira versão). Estavam presentes o
Guilherme Pinto e o Renato Sampaio.
Da dita reunião deduziu que houve uma tentativa de tomada de poder em
Felgueiras.
O arguido Horácio Costa, por sua vez, replicou, reiterando que o jantar ocorreu
a 05.02.2000. Foi aliás o arguido Joaquim Freitas quem pagou o dito jantar com o seu
cartão de crédito.
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A testemunha Raúl Brito, por seu turno, numa notícia de jornal, queixou-se da
falta de apoio da Federação Distrital do Porto do PS na sua candidatura à Câmara
Municipal de Paços de Ferreira (cfr. documento de fls 14725).
*
A propósito do e-mail de fls 14718, referido pelo arguido Horácio Costa (e por
ele junto aos autos para demonstrar que o Dr. Barros Moura também tinha interesse na
reunião que teve lugar com a testemunha Narciso Miranda), explicou o arguido
Barbieri Cardoso que, à data, a CMF apenas tinha três endereços electrónicos, um dos
quais caía no computador do depoente, outro no computador da Informática (de que era
responsável) e outro no computador da arguida Fátima (mas que esta não usava).
Ficaram espantados como é que o “Independente” tinha tido acesso ao endereço
electrónico em causa, pois era utilizado como um endereço quase privado.
Estranharam que esse e-mail tenha sido enviado a uma Sexta-feira (dia de folga
desse jornal, que na altura saía precisamente à Sexta-feira) e às 23.18 horas.
Em face disso, ficaram na dúvida se esse e-mail tinha sido ou não enviado pelo
“Independente”, já que poderia ter sido remetido por qualquer um.
Consequentemente, procuraram saber se o “Independente” tinha na verdade
enviado esse correio electrónico (não se recorda se falou com a Inês Serra Lopes ou
com a sua secretária), tendo-lhe sido dito de forma inequívoca que não tinha sido esse
jornal a remeter esse e-mail.
Procuraram então saber a origem do mesmo junto da “AEIOU”, a qual alegou
sigilo para negar prestar essa informação e que só a prestariam em sede de investigação
(criminal).
Não tem qualquer ideia de ter fornecido uma cópia desse documento ao arguido
Horácio Costa.
Apesar de não negar esse facto, acha-o estranho, pois o arguido Horácio não
tinha nada a ver com o assunto nem dele nada percebia.
Certo é que a resposta dada (de cariz técnico) não foi posta à consideração dele
(remeteu-a para o “Independente”).
Tem a ideia que a arguida Fátima não queria que se desse qualquer resposta.
*
Ainda a propósito desse assunto, a arguida Fátima Felgueiras referiu que a
estratégia de se remeter e-mails do género foi um método usado para provocar
incidentes, de modo a que a comunicação social fizesse um julgamento em praça
pública.
Antes desse e-mail (de 28.01.2000) a depoente já tinha recebido várias cartas
anónimas.
A primeira carta anónima que recebeu prendia-se com a aquisição do Estádio
Dr. Machado Matos pela CMF, cuja decisão já tinha sido tomada pela CMF mas que
faltava a ratificação pela assembleia municipal, pelo que deve ter recebido essa carta
anónima por alturas de Junho/Julho de 1999.
O Dr. Barros Moura recebeu carta anónima de idêntico teor, pelo que telefonou
logo à depoente a contar-lhe o sucedido.
Procurou-se saber junto dos CTT quem e donde essas cartas tinham sido
enviadas e apuraram apenas que foram remetidas através dos CTT de Vizela.
Ainda acerca do mesmo assunto recebeu uma segunda carta anónima (seguida
de uma carta acerca do mesmo assunto remetida a todos os presidentes de junta de
freguesia, exortando-os a votar contra a aprovação da aquisição do estádio, método que
muito os indignou), onde se fazia menção de que não tinha dado a devida atenção à
primeira carta e que o escândalo iria rebentar.
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É normal que quem se candidata pela primeira vez tenha de se apresentar mais
cedo.
O depoente já foi convidado pelo presidente do PSD para se recandidatar em
2009 às eleições autárquicas.
Os presidentes do PS e do PSD já anunciaram publicamente que estavam
disponíveis para apoiar a recandidatura de presidentes de Câmara.
Referiu, por fim, no que concerne aterros, que a ministra do ambiente de então,
Elisa Ferreira, na inauguração do Aterro de Rio Mau, elogiou a AMVS pelo facto de
não ter existido derrapagens em relação ao orçamentado.
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A si nunca lhe pediram para fazer algum favor como contrapartida em relação a
algum donativo que era concedido, pois todos sabiam que não valeria a pena fazer esse
pedido ao depoente.
Nesse aspecto a arguida Fátima Felgueiras era igual ao depoente, isto é, não era
permeável a pedidos.
Por via de regra o candidato à presidência da CMF não era informado das
contribuições que eram feitas.
As contas da campanha, por seu turno, nada tinham a ver com as contas do
partido.
Em 1997 o arguido Horácio Costa procurou-o uma vez no seu escritório e pediu-
lhe para ver se lhe arranjava uma lista das pessoas que na campanha anterior
concederam donativos e para o informar dos montantes com que contribuíram, pedido
que recusou na medida em que se tratava de matéria reservada.
Lateralmente, referiu que vive na mesma casa que a sua ex-mulher, mas
salientou que fazem vidas completamente separadas (essa alusão foi feita a despropósito
e relaciona-se com o facto do arguido Horácio ter referenciado o facto da testemunha
em causa viver com a arguida Fátima, numa anterior sessão de julgamento em que a
testemunha Oliveira já não estava presente, apesar deste ter assegurado – sem qualquer
credibilidade - não saber o que se passava na sala de audiências).
*
Em face do depoimento da testemunha Sousa Oliveira o arguido Joaquim
Freitas referiu que em 1993 foi o depoente que andou a pedir donativos com essa
testemunha, só não o tendo acompanhado nas visitas a empresas que prestavam serviços
para a CMF.
*
- Testemunha Mário Eurico Pontes Martins
Referiu ser técnico oficial de contas e compadre da arguida Fátima Felgueiras
desde 1992 (ela é madrinha de baptismo do seu filho).
Filiou-se no PS em Fevereiro de 1975. Deixou de ser filiado nesse partido em
2007.
Em 1983 radicou-se em Felgueiras.
Fez parte das comissões políticas e do secetariado.
Desde 1992 até ao presente que é membro da Assembleia Municipal de
Felgueiras.
Em 1997, a nível local, o Secretariado é que detinha o poder executivo e quem
estava à frente dessa estrutura local do PS era o secretário-coordenador. Era ele quem
dirigia a parte executiva do poder no seio do partido a nível local, assegurando tudo
quanto dizia respeito à vida quotidiana do PS em Felgueiras.
A Comissão Política, por seu turno, era o órgão do partido que a nível local
traçava as orientações gerais, reunindo de vez em quando.
Em 1997 a Comissão Política reuniu-se em Junho.
Não fez parte da Direcção de Campanha em 1997, mas era o animador do
partido.
Não havia evento algum que não fosse apresentado por si (“esteve em todas”). O
depoente considera-se um homem da comunicação social, tendo um programa na rádio
local há mais de 20 anos.
Para ilustrar a sua dedicação referiu ter subido aos postes para colocar cartazes.
Nessas eleições o depoente concorreu em número quatro da lista do PS à junta
de freguesia de Margaride.
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ser o número dois da lista (cfr. o depoimento da testemunha Augusto Coelho Faria,
presidente da junta de freguesia de Idães). Em 1989 ele tinha sido candidato a
presidente da junta de freguesia de Margaride e havia perdido. Foi ele quem angariou
muitos militantes para o PS.
Havia a tradição do PS eleger quatro elementos (pelo que o quinto elemento em
princípio não seria eleito).
O depoente não esteve presente na reunião onde foram apresentadas as listas de
candidatos.
Os arguidos Horácio e Joaquim Freitas não andavam contrariados na recolha de
fundos. As pessoas contrariadas no PS afastavam-se. Ninguém no PS anda às ordens na
medida em que só existem voluntários.
A arguida Fátima, por seu turno, nunca se deixava mandar por quem quer que
seja e nunca dizia “nim”.
Normalmente é o presidente da comissão política que é o candidato à
presidência da CMF, mas nem sempre foi assim (o Dr. Machado Matos era
independente e o arguido Júlio Faria também no primeiro mandato).
*
Em face destas declarações o arguido Horácio Costa referiu que a testemunha
Mário Martins nunca esteve presente em qualquer reunião em que o depoente esteve
presente.
Constava-se que ele era funcionário de uma empresa de uma cunhada que “dava
rédea curta” aos funcionários e era por isso que ele tinha pouca disponibilidade.
Numa primeira fase era o arguido António Pereira quem animava os eventos e
só mais tarde é que a testemunha Mário Martins passou a animar os eventos.
Ele tinha tão pouca disponibilidade que mesmo nos eventos ele chegava em
cima da hora (a ponto de se colocar o problema de não saberem se ele iria aparecer ou
não), sendo certo que o arguido Bragança entregava-lhe então o guião uns minutos antes
de se iniciar o evento (guião esse que estava na posse do arguido Bragança na CMF).
Aliás, só porque a testemunha em causa não tinha disponibilidade é que foi outra
pessoa quem fez a gravação de uma mensagem da arguida Fátima para ser divulgada
nos carros de som.
Em 1997 ele nunca colocou qualquer panfleto e cartazes, ao contrário do que
disse. O depoente pagou 1.000 cts pela realização desse serviço.
Não compreende como é que a arguida iria ceder a pressões do arguido
Bragança. Ironizou que ele tinha tanto poder no PS local que nem sequer conseguiu
fazer-se incluir na lista para a CMF.
O depoente andava bem disposto porque à data não tinha motivos para pensar
que iria ter problemas.
Pelo menos uma vez a testemunha em causa foi ao seu gabinete na CMF
acompanhado do arguido Joaquim Freitas. Este disse-lhe que ele vinha da parte da
arguida Fátima Felgueiras e explicou-lhe que estava em causa o pagamento das horas
que ele perdia pela animação que fazia, sendo certo que ele tinha tomado conhecimento
de que se tinha gratificado outros colaboradores (pelo que também queria uma
gratificação). Colocou o problema à arguida Fátima, mas a pretensão dele não foi
satisfeita, pois ela disse que as pessoas deveriam andar no PS sem qualquer interesse, o
que deixou muito agastada a testemunha Martins.
Há figuras que só se acercaram da arguida Fátima quando se sabia que ela seria
a vencedora, entre os quais a testemunha em causa.
*
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O depoente ainda era deputado quando foi convidado pela arguida Fátima
Felgueiras no âmbito de questões que se prendiam com a natação, pois ela tinha um
projecto de criação em Felgueiras de um pólo de natação (o que implicava a construção
de uma piscina olímpica) e o depoente disponibilizou-se para tentar sensibilizar o
Governo de então para apoiar esse projecto.
Veio várias vezes a Felgueiras assistir a simpósios e nessas alturas encontrava-se
com ela.
A nível partidário nunca teve com ela qualquer relação.
Quem manda nos partidos a nível concelhio é a Comissão Política respectiva e o
presidente dessa comissão é pessoa influente.
Existe também um secretariado da comissão política.
O exercício do poder a nível local depende muito das personalidades que
compõem os órgãos locais do PS.
As comissões políticas é que criam as comissões de campanha.
As decisões mais importantes têm de passar pela comissão política local.
O Secretariado, por seu turno, é o órgão executor.
*
A arguida Fátima Felgueiras, em face destas declarações, referiu que
Felgueiras tem uma única secção do PS, tem um secretariado e uma comissão política.
A Comissão Política é o órgão superior em termos de estratégia política, mas
quem manda é o secretário-coordenador e não o presidente da comissão política local,
no que se refere ao dia-a-dia do partido. É ele quem faz a filiação dos miliantes por
exemplo, sendo certo que a comissão política reúne poucas vezes.
*
A testemunha Pedro Luís da Rocha Baptista referiu então que o poder
executivo é do secretariado.
A Comissão Política é o órgão deliberativo e reúne no mínimo de três em três
meses. É fundamentalmente um órgão de debate político.
O Secretariado é que decide as questões do dia-a-dia do partido e reúne todas as
semanas.
O secretário-coordenador tem um papel preponderante do ponto de vista
executivo.
*
O arguido Horácio Costa, por seu turno, a propósito do financiamento do
partido, chamou à colação o artigo de opinião da testemunha Pedro Baptista, publicado
na edição de 12.10.2001 do “Comércio do Porto” (cfr. documento de fls 14730 e
14731), onde então expressava uma opinião diversa da que transmitiu ao Tribunal.
*
- Testemunha Luís da Costa Lima
Sempre residiu em Felgueiras e exerceu alguns cargos políticos.
Foi membro da Assembleia Municipal de Felgueiras de 1996 até 2005.
É vereador da CMF (eleito nas listas do PSD) desde 2005.
Foi vogal do Conselho Fiscal da CCAM entre 1998 e 2000 (ao que pensa).
Foi presidente do Conselho Fiscal do FCF durante duas épocas desportivas (tem
a ideia que por volta dos anos 2000 e 2001).
Referiu que a oposição estaria atenta a eventuais ilegalidades cometidas pelo
Executivo camarário e não se recorda de nada desse género que envolva a lixeira de
Sendim.
Não tem a certeza se a questão da lixeira foi ou não discutida na Assembleia
Municipal de Felgueiras.
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Quando a lixeira era um problema era natural que a oposição chamasse esse
assunto à colacção, mas não se recorda desse problema ter sido abordado por causa de
eventuais ilegalidades.
As populações da freguesia de Sendim reclamaram por causa da existência da
lixeira e dos problemas que causava, sendo certo que a respectiva junta de freguesia tem
recebido compensações por ter a lixeira instalada naquele local (tem uma bonificação).
A oposição (PSD, CDS e CDU) censurava a CMF por não tomar medidas no
que se refere aos problemas criados pela lixeira, na altura em que se tratava de uma
lixeira a céu aberto, onde eram indiscriminadamente depositados os resíduos urbanos e
industriais (sobretudo provenientes da indústria do calçado), resíduos esses que
frequentemente entravam em combustão, provocando fumos espessos e cheiros, o que
era prejudicial para a saúde, sobretudo para quem estava mais próximo desse local.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se em 1996, quando a testemunha
entrou para a Assembleia Municipal de Felgueiras, esse assunto ainda era discutido, e se
nessa altura a lixeira já estava controlada, apenas respondeu que tal era provável,
acabando por referir não se recordar em que época os problemas relacionados com esse
assunto foram levantados na assembleia municipal, admitindo que essas questões
tivessem sido levantadas antes de nela ingressar.
*
Em face destas declarações, o arguido Júlio Faria referiu que a testemunha Luís
Lima foi de facto membro da Assembleia Municipal de Felgueiras e que a questão da
lixeira foi anterior ao ingresso da testemunha em causa nesse órgão autárquico, pois
remonta a 1993.
Especulou que a testemunha tenha conhecimento dessa questão enquanto
dirigente político do PSD local.
*
A testemunha Luís Lima, por seu turno, referiu que foi presidente da concelhia
local do PSD em 2000, sendo certo que antes de 2000 não exercia qualquer cargo no
PSD local. Porém, era militante desse partido.
Assim, admite que tenha ouvido as discussões em torno da lixeira na Assembleia
Municipal de Felgueiras antes de nela ter ingressado, já que as sessões são públicas e o
depoente assistiu a algumas sessões, além de que essas questões eram dicutidas em
reuniões do seu partido (existiam reuniões mais restritas e outras mais alargadas).
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2º Juízo
Telefonou assim muitas vezes ao depoente para lhe pedir esclarecimentos acerca
de dúvidas que ela lhe expressava. Nessa altura foi uma espécie de conselheiro jurídico
dela.
Aconselhou-a a não falar com a comunicação social (“cala, reza e sofre”), mas
ela não conseguia manter-se calada e procurava defender-se.
Em Agosto de 2000, no Mindelo, cerca das 22 horas, foi ter à casa de férias do
arguido Joaquim Freitas para lhe falar acerca desse assunto.
Deu um passeio com ele e conversaram durante cerca de uma hora/hora e meia
(entre as 22 e as 23/23.30horas).
O depoente, quando leu a primeira carta anónima, desconfiou logo que por
detrás de tudo isto estivessem razões do foro sentimental.
Assim, perguntou ao arguido Joaquim Freitas a razão de tudo isto, porque é que
era amigo da arguida Fátima e porque motivo agora se voltava contra ela e ele abriu-se
todo com o depoente, tendo-lhe contado tudo.
Disse-lhe que estava profundamente apaixonado pela arguida Fátima Felgueiras
há já muito tempo e que tentou ter com ela um relacionamento amoroso, que ela sempre
recusou.
Sintomático disso foram os episódios que ele lhe contou:
- Certo dia, ele procurou a arguida Fátima em casa desta, às 3 horas da manhã,
num fim-de-semana, numa altura em que ela estava sozinha (nessa altura já a
testemunha Sousa Oliveira tinha saído de casa e a arguida Fátima andava com o filho
João para todo o lado, com excepção do fim-de-semana, que o João passava com o pai).
A arguida Fátima atendeu-o e ele perguntou-lhe se ela estava sozinha ao que ela,
mentindo-lhe, disse que estava com o João, tendo-se então ido embora o arguido
Joaquim.
- Certo dia os autarcas foram para o Algarve e hospedaram-se no mesmo hotel.
O arguido Joaquim Freitas estava presente e a arguida Fátima fazia-se acompanhar pelo
João.
O arguido Joaquim pensava que o João estava alojado noutro quarto (porém
estava alojado no mesmo quarto que a mãe), pelo que ele bateu-lhe à porta, mas como
ela estava com o filho ele desistiu dos seus intentos naquele dia.
- Certo dia, encontrando-se a sua prima Fátima em Lisboa, o arguido Joaquim
Freitas deslocou-se à capital e andou atrás dela por todo o lado. Ela regressou com o
arguido Júlio Faria na viatura deste e na A1 o arguido Joaquim, ao volante da sua
viatura, pôs-se ao lado da viatura em que eles seguiam durante alguns quilómetros.
- Certo dia, em Lisboa, estavam os arguidos Joaquim Freitas, Júlio Faria, Fátima
Felgueiras e os seus dois filhos (e ainda outras pessoas) num estabelecimento de
restauração quando os ditos Júlio Faria e Fátima Felgueiras ausentaram-se, o que o
deixou furioso com os ciúmes.
- Certo dia o arguido Joaquim Freitas combinou jantar com a arguida Fátima no
“Hipanema Park Hotel”, no Porto. A ideia dele era “dormir” com ela no Hotel depois do
jantar. Porém, ela não compareceu. Passado uma hora ele telefonou-lhe e ela disse-lhe
ele “andava muito enganado”.
Na conversa que teve com o arguido Joaquim Freitas o depoente notou-lhe os
ciúmes doentios e ele julgava que por ser filho de um rico industrial de Felgueiras tinha
direito a ter a primeira dama.
Ele revelou-lhe que não tinha contado a verdade à PJ acerca do “saco azul”.
Disse-lhe que a arguida Fátima apenas sabia que eram eles (Joaquim e Horácio)
quem angariavam os fundos para a campanha eleitoral e que os depositavam, mas que
não sabia quanto tinham, sendo certo que ela não se interessava por dinheiro.
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nesse processo-crime, em que referia que esse senhor lhe tinha contado que ouvira o
depoente a gabar-se de ter ido para a cama com a arguida Fátima Felgueiras. Remeteu-
lhe assim a dita carta para que o dito António Pereira se explicasse, isto é, se confirmava
ou não ter relatado algum episódio do género ao dito Almeida Lopes (cfr. documento de
fls 14740 e o respectivo aviso de recepção, constante de fls 14741).
Porém, não recebeu qualquer resposta, nem por ele foi recebido na Repartição de
Finanças de Amarante, apesar de ali se ter deslocado com o intuito de dele obter
esclarecimentos.
Para ilustrar o facto de nunca ter agido movido por sentimentos de vingança,
referiu que no Verão de 2005 foi contactado pelo arguido Jaoquim Freitas, o qual lhe
pediu para falar com uma pessoa muito próxima da arguida Fátima, a sua filha Sandra
Felgueiras. O depoente acedeu, tendo-se encontrado com ela num hotel em Guimarães.
Ela explicou-lhe então que a sua mãe queria regressar a Portugal do Brasil e
candidatar-se à presidência da CMF e que ela tinha garantias de que poderia regressar
para responder neste processo e que, nesse contexto, era importante que o depoente se
mantivesse em silêncio, de modo a não prejudicar a candidatura dela.
Transmitiu então à Sandra Felgueiras que nada de pessoal lhe movia contra a
arguida Fátima Felgueiras, que não frequentava Felgueiras e que não tinha qualquer
ambição política, pelo que seria na Justiça que o problema se resolveria, razão pela qual
não manteria com a arguida Fátima qualquer conflito nesse período de tempo, desde que
não fosse provocado.
Esta postura do depoente levou a que outras pessoas procurassem confrontar-se
com o depoente e com o arguido Joaquim Freitas, pois não queriam que a arguida
Fátima ganhasse as eleições autárquicas de 2005.
Foram assim atacados de todos os lados, acusando-os de irem mentir à Justiça e
de ascender com a arguida Fátima ao poder.
O facto de ter prometido à Sandra Felgueiras que se manteria em silêncio no
período eleitoral demonstra que não agiu com qualquer intuito vingativo.
A Sandra Felgueiras confidenciou-lhe que uma jornalista e namorada do José
Sócrates e que este já tinham diligenciado para que não houvesse qualquer problema
com o regresso da arguida Fátima Felgueiras.
*
O arguido Joaquim Freitas, por seu turno, reafirmou o teor da conversa que
teve com a testemunha Almeida Lopes conforme já tinha relatado ao tribunal.
Assegurou que nunca esteve apaixonado pela arguida Fátima Felgueiras e que
“tem vergonha de ser português” em face do que ouviu da boca da testemunha em
causa.
*
Já a arguida Fátima Felgueiras referiu ter ouvido pela primeira vez da
testemunha Almeida Lopes que o arguido Joaquim Freitas nutria por si uma paixão, mas
não duvida que ele lhe tenha contado falsamente esse facto.
Acrescentou que pouco tempo depois de ter visto os arguidos Horácio e Joaquim
na televisão numa entrevista que concederam, o Sr. Clemente Freitas (pai do arguido
Joaquim), que sempre havia apoiado a depoente, pediu-lhe uma entrevista na CMF,
tendo acedido, apesar de ter hesitado em concedê-la. Recebeu-o e ele cambaleava e
chorava, pedindo-lhe desculpa pelo comportamento do filho, mas que eram uma chatice
as questões de amor. Foi a primeira vez que lhe passou pela cabeça que o arguido
Joaquim Freitas, com a sua disponibilidade e simpatias, pudesse nutrir por si uma
paixão, o que a deixou perplexa. Ele tinha aliás reacções infantis (ele era “uma criança
num corpo de homem”).
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Nunca falou em afastar a arguida Fátima. Ela estava legitimada para estar na
presidência da CMF.
Questiona por que motivo o PS lhe moveu um processo disciplinar por
difamação da arguida Fátima quando esta não fez qualquer queixa-crime contra o
depoente por esse motivo.
Na sequência desse processo disciplinar o depoente foi suspenso por 60 dias
(apesar de não ser militante do PS).
Explicou que desconfiava da testemunha Guilherme Pinto como desconfiava de
toda a gente.
*
A testemunha Guilherme Pinto, por seu turno, reafirmou o que disse.
Admite que um colega seu da comissão de jurisdição inquiriu o arguido Horácio
Costa no âmbito do processo disciplinar que lhe foi movido.
Tem a certeza que uma das reuniões referidas ocorreu antes da cimeira, que
admite ter-se realizado em Stª Maria da Feira, e que a segunda reunião teve lugar já
depois da presidência portuguesa.
Pretendia-se evitar que esta situação prejudicasse a presidência portuguesa da
União Europeia.
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Análise crítica
Antes de mais, à guisa de introdução, é de salientar que, a propósito das várias
matérias, a credibilidade e verosimelhança dos factos não se mede pela soma aritmética
dos depoimentos num ou noutro sentido, sendo certo que notamos por parte de alguns
uma tentativa de “branqueamento” de determinadas realidades (o sacudir sistemático de
“água do capote”, a tese da cabala – de assassinato político e da forja de documentos -,
o depoimento esguio particularmente politizado, afirmações de fé sem real sustentação,
sofreguidão na defesa das posições mais convenientes a alguns arguidos por manifesta
inexistência de distânciamento emocional e depoimentos de descredibilidade
confrangedora emergentes do facto dos depoentes respectivos ainda serem funcionários
da CMF) e noutros afirmações que se fundam em documentos e razão de ciência que
dão consistência às suas afirmações e ainda em relatos repletos de pormenores que, no
contexto em que se inseriram, conferiram as mais das vezes credibilidade ao respectivo
depoimento.
Esta tendência de comportamento impressionou o Tribunal, criando-lhe uma
certa predisposição na análise da credibilidade dos váriados depoimentos.
Porém, tal não significa necessariamente que uns depuseram sempre com
respeito pela verdade dos factos e que os outros o não fizeram de todo em todo, pois
essa posição maniqueísta, especialmente em relação a acontecimentos complexos,
costuma não corresponder à realidade das coisas e da vida.
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sua actual versão, emergente da Lei nº 48/2007, de 29.08, a qual deu expresso
acolhimento a idêntica posição assumida por alguma doutrina e por alguma
jurisprudência, designadamente do Tribunal Constitucional, acerca dessa matéria à luz
da anterior versão do CPP).
Sem qualquer credibilidade, porém, foi a posição expressa pela arguida Fátima
Felgueiras de que não perspectivava suceder ao arguido Júlio Faria à frente dos destinos
da CMF (em face da oposição interna que se registava no seio do PS local), já que ela
era a “candidata natural”, segundo aliás referido por algumas testemunhas e pelo
arguido Horácio Costa, em face do facto de ter assumido a presidência da CMF em
1995 após a ida do arguido Júlio Faria para a Assembleia da República e do trabalho
desenvolvido por ela nos dois anos seguintes, sendo certo que, como nos pareceu
provado à saciedade, o PS de Felgueiras era constituído por elementos desprovidos de
“massa crítica” (e que gravitavam em torno dela), conforme referiu o arguido Horácio
Costa a dada altura, além de que a arguida Fátima Felgueiras era pessoa centralizadora e
de personalidade forte – “o tal eucalipto que tudo seca em volta”, na expressão da
testemunha Narciso Miranda -, facto que foi assim demonstrado apesar de algumas
testemunhas procurarem “virar o bico ao prego” face a anteriores declarações prestadas
perante a JIC, com as quais foram aliás confrontadas, daí que possam ser valoradas.
De resto, sinal de que ela procurou logo em abrir caminho à sua candidatura foi
o facto se ter preocupado com a “imagem” da CMF (ou antes, com a sua própria
imagem), contratanto os serviços de uma empresa para o efeito (a “Proeme”). A
divulgação das actividades camarárias misturou-se assim com a propaganda política (de
que o “Sovela” dava eco, conforme é perceptível pela sua leitura).
Não é pois por acaso que foi grangeando grande apoio popular, de sorte que não
se vislumbra no panorama local qualquer outra pessoa que, à data, se perfilasse como “o
candidato natural” pelo PS às eleições autárquicas de 1997.
Os “apelos” à sua candidatura, já em meados de 1997, mais não são do que
meras encenações políticas, pois à data já se sabia há muito que ela se iria candidatar
pelo PS à presidência da CMF nas eleições autárquicas que haveriam de ter lugar em
Dezembro desse ano. De facto, “ela era a noiva que antes de o ser já sabia que iria sê-
lo”.
Por outro lado, ficou demonstrado que a “Resin” iniciou os trabalhos na lixeira
de Sendim em Dezembro de 1993, no circunstancialismo relatado pelos arguidos Júlio
Faria e Vítor Borges (cfr. também o depoimento da testemunha Menezes Basto). Esse
facto é mais ou menos corroborado pelos vários ex-funcionários dessa empresa que
foram ouvidos, alguns dos quais iniciaram funções em Janeiro de 1994 (cfr. em
particular os depoimentos das testemunhas António Fernando da Silva Ramos, António
José Ferreira Pereira e José de Sousa; cfr. também o depoimento de alguns elementos
que pertenceram à junta de Freguesia de Sendim e ainda o documento junto já no
decurso do julgamento e alusivo à máquina de compactação que foi operar para o local
e que proveio de França em Dezembro de 1993 com o respectivo manobrador, o qual
terá dado formação técnica aos funcionários da “Resin” que ali prestavam serviço no
sentido de poderem manobrar aquele tipo de maquinaria).
Nesse sentido apontam também as facturas emitidas pela “Resin” à testemunha
Menezes Basto e à CMF até Janeiro de 1995 (as quais viriam a ser devolvidas pela
CMF por falta de suporte legal que permitisse o respectivo pagamento), bem como as
facturas emitidas pela “France Dechets” à “Resin” – cfr. as facturas juntas aos autos a
fls 52 e ss. do apenso 98, bem como as facturas juntas aos autos pelo arguido Vítor
Borges a fls 12663 e ss. e as que o arguido Carlos Marinho juntou a fls 12320 e ss.
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dos arguidos Carlos Marinho e Barbieri Cardoso, bem como o depoimento de algumas
testemunhas, entre as quais Pinto Barriga).
A simulação (relativa, por interposta pessoa – cfr. artº 241º, nº 1, do Código
Civil) 5 do contrato de transacção celebrado entre a CMF e o Eng. Meneses visou antes
permitir que a “Resin” recebesse o que tinha direito pelo facto de ter ido operar na
lixeira de Sendim, ante a eminência da referida testemunha Menezes Basto impedir a
continuação da deposição dos lixos no local e do facto dessa deposição ser efectuada de
forma descontrolada, com prejuízo para as populações e para o meio ambiente,
conforme resultou do depoimento dos arguidos Fátima Felgueiras, Júlio Faria, Vítor
Borges e Barbieri Cardoso, e ainda do depoimento de muitas testemunhas que relataram
o estado da lixeira antes e depois da reabilitação levada a cabo pela “Resin”.
Note-se aliás que essa matéria não foi levada à apreciação da Assembleia
Municipal de Felgueiras, apesar da sua relevância, porque não era conveniente,
conforme referiu aliás o arguido Júlio Faria, dando a explicação de que tal não se
compadecia com a necessidade de uma resolução rápida do problema (para além disso,
à data vivia-se já em clima de campanha eleitoral – referente às eleições autárquicas de
1993 – e a questão dos resíduos era arma de arremesso político por parte da oposição;
refira-se porém que a questão da celeridade na resolução do problema não seria posta
em causa pela apreciação dessa questão por parte da Assembleia Municipal de
Felgueiras, segundo nos convencemos, pois poderia ser convocada uma sessão
extraordinária desse órgão autárquico e, segundo foi dito, num mês teria já deliberado; o
combate político terá sido assim a verdadeira razão subjacente ao facto de se não
pretender submeter aquela matéria à apreciação da Assembleia Municipal de
Flegueiras).
Ora, o facto do arguido Júlio Faria se ter preocupado em afastar esse assunto da
apreciação da Assembleia Municipal de Felgueiras não significa necessariamente que
ele não “controlava” esse órgão autárquico. Naturalmente que teria um peso decisivo na
maioria que sustentava o executivo liderado por si, controlo esse que seria menor se
fosse necessária uma maioria qualificada. A verdadeira razão que esteve na base da
decisão de simular o preço da compra e venda do terreno onde se situava a lixeira de
Sendim e de assim evitar a apreciação da questão em causa pela Assembleia Municipal
de Felgueiras foi assim a de evitar que a oposição explorasse politicamente esse tema.
Adiantamos já que, não obstante o arguido Júlio Faria estar afastado dos
destinos da CMF desde Agosto de 1995 (altura em que suspendeu o seu mandato,
renunciando ao cargo já em Outubro de 1995, na sequência das eleições legislativas
realizadas nesse mês, em face das quais conseguiu ser eleito deputado à Assembleia da
República), mantinha contudo uma actividade partidária local (a testemunha Manuel
Ferreira Pinto levava-lhe documentos – cfr. as declarações do arguido Horácio Costa, do
5
A CMF queria verdadeiramente contratar com a “Resin” e não com a testemunha Menezes Basto,
conforme ficou demonstrado à saciedade (cfr. por exemplo os depoimentos dos arguidos Júlio Faria e
Vitor Borges e ainda das testemunhas Menezes Basto e Fernanda Leal), só não o tendo feito em face de
constrangimentos administrativos que a impediam de celebrar com essa empresa qualquer contrato,
designadamente o facto de não ser a proprietária do terreno onde os lixos eram depositados. O Eng.
Menezes Basto é, assim, na verdade, um “testa de ferro” nesse negócio, transmitindo para a “Resin” os
respectivos efeitos económicos (os pagamentos tinham como destinatário final a “Resin”, conforme aliás
não foi posto em causa – cfr., designadamnente, o relatório que seguiu o rasto do dinheiro, o depoimento
de quem o elaborou e os documentos pertinentes referenciados aquando da reprodução por súmula dos
depoimentos das testemunhas que a propósito deposeram). A simulação existe porquanto todos os
intervenientes agiram conluiados, as declarações negociais divergem da real vontade das partes e elas
agiram naturalmente com intenção de enganar terceiros (desde logo o Tribunal de Contas), sendo certo
que, como é sabido, não é requisito da simulação o propósito de prejudicar terceiros.
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próprio arguido Júlio Faria e das testemunhas Ferreira Pinto, que a propósito procurou
“tapar o sol com a peneira”, e José Júlio da Silva Pereira, donde resulta que a
testemunha Pinto recolhia no GAPP, em local especialmente destinado para o efeito, a
documentação que era preparada para o arguido Júlio Faria), além de que desempenhou
um papel relevante na preparação e na campanha eleitoral de 1997, tendo aliás sido
beneficiado com pagamentos provenientes da conta do BES, designadamente a título do
reembolso de despesas que efectuou a propósito de actividades partidárias que por si
foram custeadas, com o pagamento de bilhetes que lhe haviam sido atribuídos e
referentes a um sorteio promovido pelo FCF e de um donativo de 20.000 cts concedido
pela “Resin” a esse clube por intermédio desse arguido – matérias a que oportunamente
iremos dar particular atenção -, tudo conforme referiu o arguido Horácio Costa
sustentado por documentos juntos aos autos (de que o manuscrito de fls 156 é um
exemplo), o que inculca a ideia de que também participou nesse “esquema” destinado a
angariar fundos que doutra forma não teriam conseguido os arguidos Fátima e Júlio –
note-se que esse esquema foi engendrado numa altura em que ele ainda era presidente
da CMF -, tanto mais que, a avaliar pelos gastos efectuados na campanha eleitoral de
1997 (cerca de 50.000 cts), esta campanha foi de facto “grandiosa” (note-se que o valor
em causa é extremanente avultado em relação ao que foi expresso por várias
testemunhas que também se candidataram a eleições autárquicas e que revelaram qual o
valor que foi despendido nas respectivas campanhas), além de que aquele donativo da
“Resin” e outras contribuições por ela efectuadas (designadamente os “retornos”)
concerteza não seriam concedidas se ela não tivesse sido beneficiada nas adjudicações
que de facto lhe foram efectuadas pela CMF, camuflada pela interposição de “testas de
ferro” nos negócios em causa (o benefício traduziu-se designadamente na adjudicação
de facto de trabalhos sem qualquer procedimento administrativo legalmente conduzido
de forma a que esses trabalhos lhe pudessem ser real e legalmente adjudicados. Não se
põe em causa contudo que os trabalhos tenham sido de facto realizados, os quais aliás
constatámos no local – cfr. o auto de inspecção ao local, ilustrado de resto com
fotografias).
Resta saber se esse benefício da “Resin” terá alguma relevância penal,
indemonstrada que está a ocorrência de qualquer prejuízo patrimonial para a CMF,
matéria de direito que a seu tempo iremos dar atenção.
Ademais, não terá sido por acaso que o vereador que tinha o pelouro do
ambiente fosse posto sistematicamente de lado nos assuntos que se prendiam com a
“Resin” e a lixeira, já no mandato emergente das eleições de 1997, a ponto de se sentir
incomodado com esse facto (cfr., a propósito, o depoimento da testemunha Edgar Pinto
da Silva).
Ainda segundo essa testemunha, a arguida Fátima intrometia-se nos assuntos
que deveriam ser tratados pelos vereadores, ultrapassando-os, chegando ao ponto de
tratar pessoalmente de tudo, sinal claro de que de facto é pessoa centralizadora. Se
assim é na sua acção à frente dos destinos da CMF assim seria também ao nível da
acção partidária (a menos que tenha dupla personalidade, o que por certo não sucede),
pelo que nos pareceu manifestamente abusiva a pretensão de que se procurar transferir
para o secretário-coordenador a responsabilidade pela tomada de algumas decisões.
“Estava-lhe no ADN” (da arguida Fátima) controlar tudo de perto, segundo a
testemunha Vítor Sousa.
Por outro lado, em face da prova produzida, é bem evidente que o arguido
Horácio Costa era de facto assessor da arguida Fátima Felgueiras (independentemente
dos termos do contrato de assessoria e respectivo aditamento – cfr. documentos de fls
5797 a 5801), tanto mais que era nessa qualidade que se apresentava e era conhecido
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2º Juízo
pela generalidade das pessoas (conforme referido por várias testemunhas), sendo pois
uma pessoa da sua inteira confiança. Assim se explica que ele tenha sido “pau para toda
a colher”, quer no que respeita a assuntos de índole partidária (não obstante ser um
recém chegado às lides do PS de Felgueiras e de não ser militante desse partido) quer no
que respeita a assuntos de natureza pessoal, como foi por exemplo o episódio da
aquisição do “Audi A4” e da venda do “BX” referido nos autos.
Esse arguido, entretanto, a 01.01.99, viria a assumir o cargo de vereador em
regime de permanência, na sequência da renúncia ao mandato pelo Verador Lickfold,
mantendo-se nessa condição até Março de 2000 (cfr. documentos de fls 5804 e ss. do
23º volume dos autos).
Pareceu ao Tribunal que as testemunhas que procuraram contrariar a ideia de
que o arguido Horácio Costa era pessoa então muito próxima da arguida Fátima
procuraram deliberadamente ocultar a verdade dos factos (designadamente, em face da
evidência do arguido Horácio Costa surgir ligado aos mais variados assuntos, alguns
deles sensíveis, tendo sido aliás pela mão dela que ele ingressou na CMF como
assessor).
Sinal disso foi a circunstância de se ter procurado contrariar o facto do arguido
Horácio ter ocupado um gabinete na CMF enquanto assessor (facto afirmado a pés
juntos por ele e, com credibilidade, confirmado designadamente pelas testemunhas
Fernanda Leal e Terezinha do Nascimento, ambas funcionárias da CMF, facto esse
corroborado pela circunstância do Centro Coordenador de Transportes não estar
concluído de forma a que ele pudesse ocupar nas suas instalações um gabinete – cfr. os
relatórios mensais juntos pelo arguido Horácio Costa já no decurso do julgamento, os
quais se reportavam, designadamente, ao estado das obras naquele edifício, constantes
de fls 12669 a 12697; cfr. ainda o documento remetido pela CMF de fls 13446 a
13449).
Note-se que o Tribunal convenceu-se que o arguido Horácio Costa recebia
presidentes de junta na ausência ou nos impedimentos da arguida Fátima Felgueiras,
conforme referiram aquele arguido e, por exemplo, a testemunha Joaquim José Teixeira
Ribeiro (presidente da junta de freguesia da Refontoura); ao invés, pareceu-nos que as
testemunhas que faziam as marcações das audiências não depuseram de forma
totalmente isenta acerca dessa matéria, talvez devido ao constrangimento de serem
funcionários camarários e de não se sentirem à vontade para pôr em causa quem de
momento comanda os destinos da autarquia, segundo aquela que foi a percepção do
Tribunal.
Não foi pois por acaso que o arguido Horácio Costa foi escolhido pelos arguidos
Fátima Felgueiras e Júlio Faria para integrar o “pelouro das finanças”, sendo assim um
dos con-titulares da conta do BES referida nos autos (aberta em 11.07.97 – cfr.
informação de fls 13923, a ficha de assinaturas de fls 13924 e o extracto bancário
constante do apenso 1), juntamente com o arguido Joaquim Freitas (este amigo pessoal
da arguida Fátima, membro da comissão política do PS local, conhecedor do meio
empresarial e já com experiência na recolha de fundos, pois fez parte do “pelouro das
finanças”, juntamente com a testemunha Sousa Oliveira, na campanha eleitoral referente
às eleições autárquicas de 1993).
Em todo o caso, porquanto só a ela se referiu o arguido Horácio Costa, não se
demonstrou a matéria alegada por ele no artº 15º, primeira parte e parte final, da sua
contestação.
Procurou-se ainda fazer passar a ideia de que era perfeitamente natural a
existência de uma conta autónoma para a campanha eleitoral, dado que as campanhas
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para as eleições autárquicas envolvem pessoas que não são militantes e a conta oficial
do partido destinar-se-ia apenas a fazer face às despesas correntes.
O argumento parece-nos pobre, além de que, pelo menos em Vila do Conde,
inexistia qualquer conta autónoma para esse efeito (cfr. o depoimento da testemunha
Mário Hermenegildo Moreira de Almeida).
O certo é que os candidatos a eleições autárquicas ouvidos (vencedores ou
vencidos) apenas relataram a sua experiência pessoal relativamente a outros concelhos,
revelando assim de facto nada saberem em relação a Felgueiras, sendo certo que as
concelhias do PS gozavam de grande liberdade na forma como se organizavam para a
campanha eleitoral.
Seja como for, ficou demonstrado que era constume a existência de uma conta
autónoma, pelo menos desde as eleições autárquicas de 1989, mas no caso em apreço
essa mesma conta não se destinou apenas a financiar a campanha eleitoral, como
também outras causas do PS local, entre as quais o “Sovela”, bem como a aquisição da
viatura “Audi A4” referida nos autos. Ultrapassou pois em muito o âmbito do
financiamento das mencionadas eleições autárquicas.
Em face disso, sendo a arguida Fátima pessoa centralizadora, merece mais
crédito o depoimento do arguido Horácio Costa quando referiu que quem de facto
controlava a conta do BES era ela e o arguido Júlio, pois ia-lhes dando conta do que
recebiam e pelo menos alguns pagamentos só foram efectuados com o aval dela ou por
indicação do arguido Júlio Faria (cfr. o “post-it” já referenciado).
De resto, dando crédito ao depoimento do arguido Horácio, convencemo-nos
que ele actuou sempre sob as ordens e orientações, sobretudo, da arguida Fátima
Felgueiras (essa sustentação é verosímel em face da personalidade centralizadora da
arguida Fátima, que nada deixava ao acaso; o arguido Horácio recebia também
instruções do arguido Júlio, daí o teor de alguns manuscritos por ele redigidos e
destinados ao dito Horácio Costa).
Tal não significa necessariamente que a arguida Fátima tivesse conhecimento
pormenorizado, digamos em tempo real, de todos os movimentos da conta do BES (daí
que, nesse contexto, não seja estranho que a dado passo ela se tenha disponibilizado
para pagar uma despesa de campanha caso não existissem fundos na conta do BES,
conforme nota escrita dirigida ao arguido Horácio no documento de fls 185 do 1º
volume, quando na verdade à data esses fundos existiam em face do que se vislumbra
do respectivo extracto bancário constante do apenso 1).
Reafirma-se que a conta do BES não foi só a conta da campanha eleitoral de
1997, pois destinou-se a outros fins, desde o pagamento das mais variadas despesas e
actividades do PS, até ao pagamento de despesas da ADEC (“Sovela”) e mesmo de
despesas pessoais da arguida Fátima (como por exemplo a aquisição do “Audi A4”), daí
que não pareça verosímel que (em particular) a arguida Fátima se tenha desligado da
gestão dessa conta, tal era a sua importância.
Ademais, mesmo do manuscrito de fls 156 (da autoria do arguido Júlio Faria) se
extrai que essa posição de absoluta independência do candidado em relação ao aspecto
financeiro da campanha poderia não corresponder à realidade, pois ali se admite que se
poderia dar conhecimento à candidata (se assim fosse entendido) da questão da
angariação de fundos (distanciamento esse que de facto inexistiu pelas razões já por nós
mencionadas sinteticamente).
Não era pois muito relevante o distanciamento da arguida Fátima em relação à
questão da angariação de fundos, posição de princípio adiantada por várias testemunhas
(pese embora o “princípio da necessidade”, segundo a testemunha Raúl Brito, o pudesse
levar a fazer concessões em prejuízo do “princípio da independência” do candidato em
220
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
relação a essas matérias), mas sem real conhecimento de causa em relação ao que de
facto se passou em Felgueiras.
Note-se aliás que em Felgueiras existiam peditórios a “torto e a direito” e a
arguida Fátima tomou parte activa em alguns desses peditórios, como por exemplo para
financiar o FCF e a ADEC, conforme emerge de alguns documentos acima
referenciados aquando da reprodução por súmula das declarações prestadas por alguns
arguidos e testemunhas.
É de salientar que da versão dos factos plasmada na contestação à acção de
prestação de contas quanto às incidências da abertura da conta do BES resulta que os
arguidos Horácio e Joaquim Freitas sabiam desde a primeira hora que essa conta
bancária não se destinaria apenas ao depósito dos fundos necessários para a campanha
eleitoral de 1997, mas também para outras causas do PS, pelo que nessa parte as
afirmações efectuadas, designadamente pelo arguido Horácio Costa (de que estava
convencido que essa conta serviria apenas para proceder ao depósito dos donativos para
essa campanha eleitoral), não nos mereceram credibilidade.
Não obstante o arguido Horácio agir sob as ordens da arguida Fátima, o certo é
que, designadamente em função do grau de confiança mútuo patenteado, não podia
deixar de saber que algumas das entregas em numerário por banda da “Resin”
constituíam “retornos”, matéria a que mais à frente iremos dar atenção mais detalhada.
Tivemos ainda um relato por parte da testemunha Jorge Fernando Moreira da
Fonseca (“Anglomex”), o qual referiu que entregou o respectivo donativo para a
campanha eleitoral de 1997 à arguida Fátima Felgueiras, juntamente com o cartão de fls
2183 (o próprio arguido Horácio referiu ter recebido alguns cheques por intermédio da
arguida Fátima).
Ademais, por alturas da recepção do cheque de fls 499 do 3º volume, a arguida
Fátima estava presente, segundo a testemunha Joaquim Fernando Melo (que já não se
recorda se ela chegou a assistir à entrega do dito cheque ao arguido Joaquim Freitas ou
se surgiu no local 2 ou 3 minutos depois, o que em todo o caso não parece ter sido
coincidência, segundo deduzimos).
Não era pois pessoa muito preocupada em manter as devidas distâncias em
relação à angariação de fundos (naturalmente que os incautos cidadãos, quando
confrontados com pedidos de donativos por parte da “Srª Presidente” da autarquia, não
fariam grande distinção se se tratavam de donativos para uma campanha eleitoral, se
para o FCF ou se para a “ADEC” ou ainda para outro fim, conforme aliás parece
resultar do depoimento de algumas testemunhas que concederam donativos mas que não
sabem já exactamente para que finalidade; houve até uma testemunha que afirmou ter
concedido um donativo que tinha dois destinos: parte para a campanha eleitoral e parte
para o FCF, tal era a confusão).
Tudo isso torna verosímel a posição expressa pelo arguido Horácio Costa a
propósito do facto de ter referido que dava conhecimento das movimentações da conta
do BES aos arguidos Fátima e Júlio Faria e que, assim, eles não se mantinham distantes
no que se refere aos donativos que iam sendo concedidos.
Não é de estranhar que a generalidade das testemunhas ouvidas e que estiveram
envolvidas na campanha eleitoral referente às eleições autárquicas de 1997
desconhecessem na verdade se o arguido Horácio reportava ou não à arguida Fátima,
pois era matéria sensível e reservada (cfr. o manuscrito do arguido Júlio Faria de fls
156).
Não têm pois verdadeiro conhecimento de causa acerca dessa matéria,
limitando-se a expressar opiniões e convicções alicerçadas em pobres ou inexistentes
221
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
fundações. Algumas dessas profissões de fé, aliás, mais não representaram que
comoventes manifestações de apreço pela figura da “Srª Presidente”.
De resto, ficamos com a ideia que tudo era na verdade decidido por meia dúzia
de elementos (o “núcleo duro” ou “task forçe”, de que os arguidos Horácio e Joaquim
Freitas faziam parte, o que atesta bem o grau de confiança que neles era depositado) e
que nas reuniões mais alargadas alguns aspectos seriam apenas “apurados”. É aliás
sabido que em reuniões alargadas nada de concreto se tende a decidir se os assuntos a
tratar não vierem já alinhavados.
O arguido Horácio explicou em que circunstâncias foi convidado para integrar o
pelouro das finanças e quais as circunstâncias que rodearam a abertura da conta do BES.
Fê-lo relatando o encontro que ocorreu em casa do arguido Júlio Faria em Março
de 1997, com abundância de pormenores, o que tornou tal depoimento credível, tanto
mais que foi assertivo.
Foi nesse encontro, ocorrido em Março de 1997, que o arguido Júlio Faria
entregou aos arguidos Horácio e Joaquim Freitas o manuscrito de fls 156, facto por este
negado.
Aliás, o arguido Júlio Faria, apesar de reconhecer a autoria de tal documento,
suspeita (especula) que o mesmo não estará completo, dando a ideia de que esse
documento foi assim adulterado. Fê-lo porém sem qualquer assertividade.
Da análise desse documento retira-se, designadamente, que se reporta ao futuro
(o que inculca a ideia de que se trata de um documento anterior a qualquer reunião
realizada no seio do PS com vista à organização dos diferentes pelouros, tanto mais que
nesse documento não é referenciado que a testemunha Dinis faça parte do pelouro das
finanças, como de facto fez, pois ofereceu-se para isso numa reunião ocorrida em
meados de 1997, sendo certo que nesse pelouro, não obstante, não teve qualquer acção -
cfr. o depoimento da testemunha António Ribeiro Dinis). Além disso, convém não
esquecer que, segundo foi afirmado, alguns lugares já estavam preenchidos antes da
reunião onde se definiram os vários pelouros (cfr. por exemplo o depoimento da
testemunha Vítor Manuel Fernandes Oliveira de Sousa), em que os participantes se
ofereceram para os diversos grupos, pese embora a última palavra cabesse sempre à
arguida Fátima Felgueiras, conforme nos pareceu mais credível em face da
personalidade centralizadora dela, que nada quis deixar ao acaso (cfr., designadamente,
o depoimento testemunha Edgar Pinto da Silva; a arguida Fátima apenas reconheceu ter
composto a lista concorrente à CMF pelo PS nessas eleições).
A alusão à firma “Xavier Calçada” no documento de fls 156 prova, segundo o
arguido Júlio, que esse documento é posterior a uma reunião onde se abordou a
contratação dessa empresa, a qual até então desconhecia. Consequentemente, conclui
que esse manuscrito só foi elaborado por si após essa reunião. Questiona-se porém a
necessidade da simples existência desse manuscrito, o qual inculca fortemente a ideia de
que nem tudo era tratado nas reuniões, designadamente as matérias sensíveis.
Seja como for, o Tribunal convenceu-se da versão que a propósito foi
apresentada pelo arguido Horácio Costa pelos motivos sinteticamente referenciados
(chama-se aqui à colacção, além do mais, a diferença de postura corporal aquando da
tomada de declarações – o arguido Horácio olhava-nos directamente, o arguido Júlio
baixava os olhos; o arguido Horácio mostrou-se quase sempre muito assertivo naquilo
que dizia e o arguido Júlio utilizava frequentemente a expressão “estou em crer”).
Ademais, não vemos discrepâncias relevantes entre o que foi afirmado pelo
arguido Horácio Costa a propósito da abertura da conta do BES – com a ressalva de que
não nos mereceu credibilidade a sua afirmação de que pensava que essa conta apenas se
destinaria ao depósito dos donativos necessários para o financiamento da campanha
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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2º Juízo
Por outro lado, a “ECOP” chegou a entrar no capital social da “Resin”, tendo
aliás estabelecido relações de consórcio com esta, factos que não foram postos em
causa.
A este propósito foi igualmente relevante o depoimento das testemunhas que
tinham responsabilidades nas empresas referidas.
Acresce, por fim, que não se demonstrou que a arguida Fátima e o arguido Júlio
tenham exercido qualquer influência junto da AMVS para que o consórcio liderado pela
“Resin” tenha vencido o concurso a que se reporta o ponto 1.5 da pronúncia.
Acerca destas matérias mais à frente delas trataremos com mais pormenor.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
150.000$00 e uma cláusula penal de 60.000$00 por cada dia de atraso na devolução do
terreno, o que foi aceite pelo executivo camarário na medida em que não existia uma
solução alternativa.
Sucede porém que, no final de Julho de 1992, a CMF não tinha ainda soluções
alternativas, visto que outras localizações para a deposição dos lixos eram alvo de
contestação popular.
Em face dessa realidade, a CMF convenceu o Eng. Menezes Basto a prorrogar
por mais 7 meses e pela última vez o contrato de arrendamento (até Agosto de 1993),
numa altura em que ali eram depositadas cerca de 70 toneladas de lixo por dia.
Ora, no final de Agosto de 1993, o Eng. Menezes Basto mostrava-se irredutível
em negar a continuação da deposição do lixo no seu terreno (dado o problema de saúde
pública e de degradação ambiental gerada pela deposição do lixo a céu aberto sem
qualquer tratamento, além de que ele vivia nas imediações da lixeira), sendo certo que a
deposição dos lixos tinha já ultrapassado a área que tinha sido arrendada à CMF.
Foi assim nesse contexto que o arguido Júlio Faria contactou com o arguido
Vítor Borges, enquanto presidente do Conselho de Administração da “Resin” – uma das
poucas empresas na altura com “know how” para tratar os lixos e que a depoente
conheceu através do presidente da AMVS -, no sentido de convencer o Eng. Menezes
Basto a permitir a continuação da deposição dos lixos (mas em moldes
substancialmente diferentes quanto à forma de deposição, de modo a eliminar os riscos
para a saúde pública e para o ambiente).
Foi pois o arguido Vítor Borges quem convenceu o Eng. Menezes Basto de que
era possível tratar os lixos, tendo este inclusive visitado em França, por ocasião das suas
férias, um aterro sanitário.
Entretanto, uma vez que o arguido Júlio Faria esteve doente durante cerca de 2
meses, a depoente substituiu-o nesse período de tempo à frente dos destinos da
edilidade, tendo sido por isso ela a apresentar ao executivo camarário a proposta de
celebração do contrato de transacção com o Eng. Menezes Basto, nos modes constantes
da pronúncia, em Outubro de 1993, e pelas razões explicitadas em tal proposta, que
reafirmou.
Confirmou assim os termos do contrato de transacção celebrado com o Eng.
Menezes Basto nos moldes constantes nos autos.
Justificou o facto de caber ao Eng. Menezes Basto a obrigação de reabilitação da
lixeira (não obstante ter sido a CMF, com a deposição dos lixos, quem degradou o
terreno) pelo facto de ser o titular do respectivo direito de propriedade (justificação que
não colhe inteiramente em face das declarações prestadas pelos arguidos Júlio Faria e
Vítor Borges).
Justificou a escolha da “Resin” para a reabilitação da lixeira de Sendim pelo
facto de ser das poucas empresas em Portugal com “Know how” para o efeito e dos
preços praticados serem mais baixos, sendo certo que a “Resin” dispunha do alvará de
empresas com quem se consorciava para realizar as obras necessárias para o efeito.
Referiu que o custo da reabilitação foi 32.410.480$00, precisamente o montante
constante do contrato de transacção, pelo que tal verba terá sido utilizada pelo Eng.
Menezes Basto para pagar os trabalhos de reabilitação da lixeira levados a cabo pela
“Resin”, o que desmente os termos constantes de tal contrato quanto à finalidade de tal
verba, tratando-se a celebração de tal contrato um estratagema que visava afinal permitir
o pagamento de tais trabalhos levados a cabo pela “Resin” (cfr. as declarações dos
arguidos Júlio Faria e Vítor Borges). Isto é, ao contrário do que expressamente
reconheceu e do que consta do documento respectivo, a celebração do contrato de
transacção visava o pagamento dos trabalhos de reabilitação da lixeira de Sendim
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
levados a cabo pela “Resin” (o que aliás se depreende também das suas declarações
acerca da real razão para a celebração do aditamento a tal contrato).
Referiu ignorar quem pagou as despesas relativas ao visto do TC, mas admitiu
que a “Resin” pagou algumas despesas (cfr. fls 226 do ap. 97 e 53 L do ap. 98).
Confirmou os termos do contrato-promessa de compra e venda do terreno onde
eram depositados os lixos, bem como os termos da escritura pública de compra e venda,
nos termos constantes da pronúncia.
Salientou a urgência na aquisição de tal terreno, já que os lixos continuavam a
ser depositados diariamente (mesmo para além do período do contrato de
arrendamento), razão pela qual era inconveniente submeter tal assunto à Assembleia
Municipal de Felgueiras (que normalmente reunia cinco vezes por ano, sem prejuízo da
realização de assembleias extraordinárias), o que em todo o caso seria necessário caso o
preço de aquisição ultrapassasse os 25.000 cts. Daí que, segundo se depreende do seu
depoimento, o preço se tenha cifrado em 24.754.820$00 (existe porém um diferencial
de 1.000.000$00, também recebidos pelo Eng. Menezes Basto, o que indicia que o
preço realmente acordado foi afinal de 25.754.820$00).
Ora, segundo referiu, o prazo de 6 meses previsto no contrato de transacção
terminou por alturas de Abril de 1994, altura em que a CMF deveria celebrar com o
Eng. Menezes Basto a escritura de compra e venda de tal terreno (cfr. os termos do
contrato-promessa), o que não foi possível pois este não tinha registado em seu nome o
direito de propriedade respectivo, além de que nessa altura a CMF não dispunha de
dinheiro para o pagamento do respectivo preço.
Consequentemente, só em Dezembro de 1994 se realizou a dita escritura de
compra e venda.
Não obstante, a “Resin” não deixou de trabalhar na lixeira entre Abril de 1994 e
Dezembro do mesmo ano, razão pela qual teriam de ser pagos os serviços prestados, não
obstante inexistir qualquer contratualização, dada a premencia do problema da recolha e
tratamento dos lixos e inexistência de outras alternativas.
A “Resin”, por seu turno, tinha interesse em manter-se no local já que pretendia
conquistar mercado no norte do país, sendo certo que operava também em Paços de
Ferreira e em Lousada sem qualquer contratualização. Porém, ameaçava demandar a
CMF e proceder à interrupção dos trabalhos de manutenção da lixeira caso não fosse
pago o valor correspondente a esses trabalhos (mais adiante, porém, referiu que a
“Resin” exigia o pagamento desses serviços ao Eng. Menezes Basto, razão pela qual
este fazia chegar à “Resin” o dinheiro que recebia da CMF e que não respeitavam à
aquisição do terreno, depreendendo-se do seu depoimento que a “Resin” recebia o
dinheiro do Eng. Menezes Basto na medida em que este recebesse da CMF o respectivo
pagamento).
Foi nesse contexto, em Fevereiro de 1996, já depois de ter assumido a
presidência da CMF (já que o arguido Júlio Faria foi eleito deputado na Assembleia da
República em Outubro de 1995), que submeteu à aprovação do executivo uma proposta
de aditamento ao contrato de transacção referido pelas razões mencionadas na mesma.
Ora, nesses termos veio a ser celebrado com o Eng. Menezes Basto o aditamento
referido ao contrato de transacção, que realmente mais não visava que o pagamento à
“Resin” dos trabalhos de manutenção da lixeira que entretanto vinha fazendo, segundo
se depreende do depoimento da arguida Fátima Felgueiras, e cujo pagamento não estaria
coberto pelo contrato de transacção inicialmente celebrado.
Confirmou os pagamentos efectuados no âmbito do contrato de transacção e
respectivo aditamento, nos moldes constantes da pronúncia (cfr. os documentos a
propósito mencionados na pronúncia, quer do processo principal quer do ap. 98).
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2º Juízo
Referiu que coube ao Eng. Menezes Basto a reabilitação do terreno pelas razões
já expandidas pela arguida Fátima Felgueiras.
A liquidação dos montantes ao Eng. Menezes Basto foi feita em prestações,
sendo certo que ele fazia chegar o dinheiro à “Resin”, de modo que esta pudesse
continuar com os trabalhos.
Aliás, ao que pensa, a “Resin” começou no local os trabalhos em Dezembro de
1993, tendo realizado os serviços constantes do contrato de transacção.
Mais referiu que se o contrato-promessa de compra e venda do dito terreno
ultrapassasse os 25.000 contos teria a sua aquisição de ser submetida à aprovação da
Assembleia Municipal (cfr. o respectivo contrato-promessa de compra e venda,
constante de fls 80 do apenso 98).
Aliás, não era conveniente submeter tal questão à Assembleia Municipal na
medida em que o problema dos lixos era premente (pelas razões já referidas, isto é, em
suma, pela falta de local alternativo e pelo problema ambiental e de saúde pública que
eram gerados pela forma como eram depositados os lixos na lixeira de Sendim) e dado
que já se vivia em clima pré eleitoral relativamente às eleições autárquicas de 1993 (e
essa questão poderia-se tornar numa arma de arremesso político por parte da oposição).
Afirmou que o preço de aquisição desse terreno é o que consta do contrato-
promessa e respectiva escritura pública de compra e venda, isto é, 24.754.820$00 (e não
25.754.820$00). Recorda-se porém que, de facto, a proposta incial do Engenheiro
Menezes Basto ultrapassava os 25.000 contos, de modo que o conseguiu convencer a
baixar o preço por forma a que o assunto não tivesse de ser submetido à aprovação da
Assembleia Municipal, pelas razões já referidas.
Referiu ignorar quem assumiu o pagamento das despesas com o visto do
Tribunal de Contas no que concerne ao contrato de transacção referido.
Por fim, visto que na altura já não exercia qualquer cargo autárquico, salientou
ser alheio ao aditamento ao dito contrato de transacção.
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2º Juízo
ao pagamento das facturas nºs 940056, de Janeiro de 1994 (constante de fls 220 do
apenso 97), 9402116, de Fevereiro de 1994 (constante de fls 221 do apenso 97), factura
nº 9400177, de Março de 1994 (constante de fls 222 do apenso 97) e parte da factura nº
9400251, de Abril de 1994 (constante de fs 223 do apenso 97). Cfr. ainda o depósito de
fls 231 (a 23.06.95) e o recibo de fls 230, de 03.06.95, todos do mesmo apenso 97.
Já o cheque pessoal do Eng. Menezes Basto nº 22543202, no montante de
5.000.000$00, destinou-se ao pagamento do remanescente (3.940.320$00) da factura nº
9400251, de Abril de 1994 (constante de fls 223 do apenso 97) e parte da factura nº
9400319, constante de fls 228 do apenso 97 (1.059.680$00). Cfr. ainda o recibo de fls
232, datado de 06.07.95 e o talão de depósito de fls 234, todos do apenso 97.
Quanto a este cheque de 5.000.000$00 emitido pelo Eng. Menezes Basto a favor
da “Resin”, constante de fls 338 do apenso 98 (o depósito consta de fls 234 do mesmo
apenso), não sabe porque razão foi emitido um cheque pessoal daquele.
Por fim, em Julho de 1996 o Eng. Menezes Basto pagou o remanescente da
factura nº 9400319 e parte da factura nº 9400480, constante de fls 203 do apenso 97,
datada de 29.07.94, através do endosso do cheque nº 9811598309, datado de 25.06.95 e
emitido a seu favor pela CMF, tendo sido emitido o correspondente recibo constante de
fls 213 do apenso 97 e datado de 26.06.96.
Tal testemunha assegurou que a “Resin” não recebeu do Eng. Menezes Basto
qualquer quantia em numerário, sendo certo que o recibo de fls 213 do apenso 97
reporta-se ao pagamento das facturas por si já indicadas, efectuado através do endosso
do cheque nº 98115983309, emitido pela CMF a 25.06.95.
Aliás, afirmou que o dito eng. nenhum outro pagamento efectuou.
A dívida (respeitante também à exploração da lixeira) transitou de ano para ano
desde 1994 na contabilidade da “Resin”, pelo que em Outubro/Novembro de 1998 foi
constituída uma provisão para clientes de cobrança duvidosa por forma a eliminar tal
dívida da contabilidade, desistindo pois a “Resin” de cobrar uma quantia que rondava os
24.000.000$00. Tal procedimento foi adoptado sem que lhe dessem qualquer explicação
por parte da administração, tendo-lhe transmitido porém que havia a expectativa de
receber esse dinheiro. Ignora se a “Resin” chegou a adoptar algum procedimento para a
receber, sendo certo que, se formalmente era o Eng. Menezes Basto o devedor, o certo é
que o real devedor era a CMF.
Só o fizeram em 1998 porque só nesse ano é que a “Resin” teve condições para
considerar essa dívida como custo.
Referiu ainda que não se recorda com que base fez a facturação da reabilitação
da lixeira, adiantando porém que o deverá ter feito segundo notas escritas do arguido
Vítor Borges.
Confirmou que veio de França uma máquina necessária para se dar início aos
trabalhos de rabilitação (cfr. doc. junto na audiência de julgamento), tendo visitado a
lixeira uma única vez (o mesmo sucedendo ao aterro).
A exploração da lixeira já foi efectuada com o recurso aos serviços da
“Translousada”, segundo as facturas por ela apresentadas.
A reabilitação importou em cerca de 31.000.000$00 (IVA incluído) e a
exploração em cerca de 26.000.000$00. Tais trabalhos foram facturados ao Eng.
Menezes Basto, tendo ficado em dívida cerca de 24.000.000$00, sendo certo que era a
CMF a real devedora. Expressou a propósito a ideia de que ficaram por pagar parte dos
trabalhos de exploração reportados a um tempo em que era a CMF a cliente de facto
mas não a proprietária do terreno onde se situava a lixeira, o que a impedia de
formalmente assumir o pagamento desses serviços prestados pela “Resin”.
Assegurou que a “Norlabor” não trabalhou na lixeira de Sendim.
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Nega ter alguma vez tido qualquer contacto com o arguido Barbieri Cardoso,
sendo certo que não conhecia pessoalmente quer a arguida Fátima Felgueiras quer o
arguido Júlio Faria.
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2º Juízo
levar a cabo as obras no local e por isso tal empresa apenas poderia ser considerada uma
prestadora de serviços (esclareceu que à data da sua inquirição na fase de inquérito
desde processo a única ideia que tinha para a não contratualização com a “Resin” era a
falta de alvará desta última).
O arguido Júlio Faria decidiu então celebrar o contrato de transacção com o Eng.
Menezes Basto como forma de se ultrapassar a questão, naturalmente depois de
consultar a assessoria jurídica.
Pronunciou-se o depoente acerca do documento de fls 98 e ss. do apenso 98, no
que aos aspectos técnicos concerne.
Assegurou que a missão de reabilitação foi executada no local conforme fotos
juntas aos autos a fls 11736 e ss. do 45º volume e de acordo com o que estava previsto.
Foi ao local de vez em quando acompanhar a execução dos trabalhos, razão pela
qual se lembra de ver ali uma máquina francesa e de outra maquinaria, não se
recordando se as mesmas estavam ou não identificadas com o logotipo ou outro sinal
identificativo de alguma empresa, sendo certo que nunca se interessou em saber a quem
pertenciam. Chegou a falar algumas vezes com o encarregado da “Resin” e com a Engª
Claudia Reibeiro.
Crê que lhe transmitiram que a “Translousada” também trabalhava no local.
O chefe da Divisão dos Serviços Urbanos (Eng. Adelino Leite) dava-lhe conta
também de que não tinha problemas com a deposição do lixo em face das obras que iam
sendo executadas no local.
Assegurou que era a “Resin” e a “France Déchets” quem executavam os
trabalhos referidos.
Recorda-se do arguido Júlio Faria ter estado doente e de ter sido substituído pela
vice-presidente da autarquia, a arguida Fátima Felgueiras.
Recorda-se ainda de terem sido adquiridos três terrenos contíguos, um
pertencente ao Eng. Menezes Basto, com a área de 22.160 m2 (onde ocorria a deposição
dos lixos), e dois ao Sr. Moura Borges (com as áreas de 3.135 m2 e 6.980 m2).
A proposta inicial efectuada pelo Eng. Menezes Basto quanto ao preço de venda
ultrapassava os 30.000.000$00, o que lhe pareceu excessivo, sendo certo que foi
chamado a pronunciar-se acerca do valor dos terrenos em causa.
Deu conta que ignora se o preço acordado entre as partes é ou não coincidente
com o que consta do contrato-promessa e da escritura pública de compra e venda.
Tem ideia que houve atraso na celebração desta última porquanto o Eng.
Menezes Basto “não tinha em ordem os documentos” necessários à concretização do
negócio (cfr. a este propósito a respectiva escritura, designadamente fls 84 verso do
apenso 98, donde emerge que o Eng. Menezes Basto só logrou proceder ao registo do
imóvel em seu nome no dia 11.04.94, o que terá justificado o dito atraso).
Quanto ao aditamento ao contrato de transacção celebrado com o Eng. Menezes
Basto, salientou que os trabalhos foram prosseguindo sem qualquer contratualização
formal com a “Resin”, havendo pois que encontrar soluções que não passassem pela
celebração de contratos de transacção no futuro.
Sabia que existiam facturas emitidas pela “Resin” à CMF sem suporte
administrativo que permitisse o pagamento por parte desta última.
A arguida Fátima Felgueiras foi pois confrontada com essa situação desde Junho
de 1994, isto é, existência de facturas para as quais inexistia suporte administrativo que
permitissem o respectivo pagamento.
Equacionaram-se pois quais as soluções necessárias para resolver esse problema,
que se arrastava desde Junho de 1994 e quais as soluções a adoptar para as situações
futuras.
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Tem a ideia que os preços foram discutidos com o arguido Barbieri Cardoso,
sendo certo que o vereador José Campos estava presente.
Não se recorda de quanto era o valor da proposta inicial que apresentou à CMF.
Não tem ainda presente por quanto vendeu o terreno; seja como for, o respectivo
preço consta da escritura de compra e venda celebrada. Não tem porém a certeza se o
preço declarado na escritura de compra e venda coincide com o preço realmente
acordado entre as partes.
Admite que a venda ter-se-á concretizado em 1993 ou 1994 (cfr. o documento de
fls 83 do apenso 98, datado de 27.12.94).
A testemunha em causa foi então confrontada com as declarações que prestou
perante a PJ a fls 2062 quanto ao preço de venda e razões da divergência entre o preço
realmente acordado e o que ficou expresso na escritura.
Confirmou então o que a esse propósito declarou à PJ. Recorda-se que foi por
uma questão de ordem técnica que ficou a constar um preço inferior a 25.000.000$00,
caso contrário seria necessária a realização de um concurso público (pensa que terá sido
essa a explicação que lhe foi transmitida pelo arguido Júlio Faria).
Por outro lado, por questões de ordem política, a questão tinha de se resolver
rapidamente (aproximavam-se eleições autárquicas).
Esclareceu que tinha herdado o terreno em causa e que não o tinha registado em
seu nome, tendo apenas diligenciado nesse sentido quando decidiu vender o imóvel à
CMF.
Antes de se ter concretizado a venda tornava-se necessário reabilitar o terreno,
sendo certo que se encontrava depositado lixo por todo o lado, mesmo fora dos limites
da lixeira, quer numa área de cerca de 10.000 m2 ainda pertencente ao depoente quer
ainda numa área de terreno pertencente a um vizinho.
Sugeriu então à CMF que fosse a “Resin” a proceder à reabilitação do terreno
porque entendeu que era a empresa adequada a tal. Porém, não celebrou com ela
qualquer acordo escrito. Como a responsabilidade pelos estragos provocados era da
CMF esta pagaria a reabilitação ao depoente, o qual por sua vez pagaria à “Resin”, daí a
celebração do contrato de transacção com a CMF.
Tomou conhecimento da “Resin” por andar pela lixeira, designadamente o
arguido Vítor Borges (aliás, ninguém o apresentou, tendo travado conhecimento com
ele porque o encontrou na lixeira).
Confirmou que inicialmente se mostrou renitente na capacidade da “Resin”
reabilitar o local, mas entretanto aproveitou o facto de ter ido de férias a França para
visitar um aterro sanitário (da “France Dechéts”), por intermédio do arguido Vítor
Borges, o qual queria convencê-lo de que faria uma reabilitação profissional da lixeira.
Ficou agradado com que viu em França e então acreditou que a “Resin” poderia
reabilitar adequadamente a lixeira, criando uma infra-estrutura semelhante à que vira.
Assim, desde o Verão de 1993 que o lixo passou a ser tratado na lixeira,
compactado e acondicionado, sendo certo que o lixo era depositado diariamente. Pese
embora não se encontrasse diariamente no local, das vezes que ali se deslocou passou a
ver a deposição do lixo efectuada nos moldes referidos.
O valor do contrato de transacção celebrado com a CMF foi de 32.410.480$00,
equivalente ao valor que acordou com a “Resin” (confirmou os termos do contrato de
transacção em causa, cuja cópia se acha a fls 76 e 77 do apenso 98).
Referiu que não foi a CMF a contratar directamente a “Resin” porque tal
obrigaria a um concurso e dada a proximidade das eleições autárquicas, segundo lhe
disse o arguido Júlio Faria.
236
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Tem a ideia que a quantia acordada para a transacção foi paga na totalidade em
prestações. Perguntava na contabilidade da CMF (à testemunha Terezinha do
Nascimento Lopes Domingues Carvalho) quando é que as prestações iriam ser pagas.
Como se deslocava à CMF muitas vezes (à contabilidade para saber dos pagamentos, já
que se registava grande atraso na liquidação do acordado) não era necessário ser avisado
por terceiros (designadamente pela “Resin”) da ocorrência desses pagamentos. Seja
como for, referiu que por vezes o arguido Vítor Borges contactava-o a dar-lhe conta de
que a CMF iria proceder a um pagamento parcial.
Entende que era natural que a “Resin” procurasse junto da CMF saber quando é
que ela iria efectuar ao depoente os pagamentos pois deles dependia os pagamentos
efectuados pelo depoente àquela empresa.
Sobre o assunto dos pagamentos não se recorda de ter tido qualquer conversa
com a arguida Fátima Felgueiras.
Por outro lado, não conhece o arguido Carlos Marinho.
Como referiu, recebia o dinheiro da CMF e pagava à “Resin”, por vezes
endossando à mesma o cheque que recebera da CMF.
Chegou também a depositar o dinheiro na sua conta e a emitir a favor da “Resin”
um cheque sacado sobre a sua conta pessoal.
Não se recorda se chegou a proceder algum pagamento em numerário à “Resin”
(tem a ideia que sim, mas não tem a certeza; mais à frente acabaria por referir não ter
ideia de ter feito qualquer pagamento em numerário, posição que manteve mesmo
depois de confrontado com as declarações que prestou a fls 2803 perante a PJ na fase de
inquérito).
Normalmente aparecia alguém da “Resin” para receber o pagamento sem
necessidade de prévio contacto da sua parte (o que pressupunha que já sabiam do
pagamento efectuado pela CMF, tanto mais que apareciam logo a seguir ao
recebimento).
Não tem ideia de ter feito qualquer pagamento directamente ao arguido Vítor
Borges.
Assim, os 32.410.480$00 destinaram-se à “Resin”.
À testemunha foi perguntado se tinha retirado dos pagamentos recebidos da
CMF a quantia de 1.000.000$00 referente à diferença entre o preço real e o preço
declarado na escritura de compra e venda celebrada com a CMF (e também no contrato-
promessa de compra e venda celebrado anteriormente), ao que respondeu “que é capaz”
de ter ficado com 1.000.000$00 por esse motivo.
Confirmou ainda os termos do aditamento ao contrato de transacção, celebrado a
28.02.96, conforme documento que consta a fls 57 e 57 verso do apenso 98, no
montante de 26.462.000$00.
Explicou que a sua razão de ser se deveu ao facto dos trabalhos se terem
prolongado por muito tempo e o dinheiro não chegar para pagar esses trabalhos, sendo
certo que “do seu bolso” nada pagou à “Resin” (só lhe pagava o que recebia da CMF).
De resto, até Dezembro de 1994 o terreno ainda era seu, de modo que era suposto que o
dinheiro que deveria receber da CMF se destinasse ao pagamento da reablitação da
lixeira e num seu terreno confinante com ela, onde também abusivamente se havia
depositado lixo.
A questão preocupava-o na medida em que tinha um terreno que confinava com
a área da lixeira e onde também se depositaram lixos, daí que também tivesse tal área de
ser reabilitada.
Nunca pediu à CMF qualquer indemnização, só pedindo à arguida Fátima
Felgueiras (à data presidente da edilidade) a conclusão da reabilitação do terreno. O
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
dinheiro que recebesse a propósito do aditamento era para pagar a quem o depoente
entregasse a conclusão dos trabalhos de reabilitação.
Referiu que contratou homens para limpar o seu terreno adjacente à área da
lixeira.
Na área da lixeira propriamente dita só a “Resin” ali trabalhou, segundo se
apercebeu, tendo-se procedido inclusivamente à vedação da área ocupada pela lixeira.
Em todo o caso o depoente reside em Guimarães e a casa da quinta dista cerca de
1.500/2.000 metros de distância relativamente à área da lixeira, sendo certo que não
tomava normalmente o caminho que dava acesso à dita lixeira. Viu lá máquinas – entre
as quais um caterpilar amarelo a fazer trabalhos de terraplanagem - e camiões a
trabalhar (não sabe a quem pertenciam pois não tinham qualquer sinal identificativo).
Quanto à “Translousada” referiu não ter qualquer ideia de que alguma vez
alguém lhe ter dito que operou na lixeira.
À pergunta feita no sentido de se saber se o dinheiro que lhe caberia receber por
força do contrato de transacção se destinaria apenas a reabilitar a lixeira ou também o
seu terreno confinante com aquela, respondeu não saber na medida em que a lixeira na
altura não estava vedada e na sua zona de confinância os terrenos confundiam-se.
Além disso, existem pagamentos feitos ao depoente que não se destinaram à
“Resin”, relativos a trabalhos não executados por esta empresa.
Quanto aos recebimentos confirmou o que a propósito consta dos seguintes
documentos:
- Cópia do cheque de fls 347, do apenso 97, emitido pela CMF a 30.03.94, no
montante de 5.235.080$00, a favor do depoente;
- Cópia do cheque de fls 345 do apenso 97, emitido pela CMF a 22.06.95, no
montante de 17.000.000$00, a favor do depoente (cfr. ainda o recibo de fls 339 do
apenso 97, de 23.06.95, o qual se reporta a 3 facturas e parte de outra; bem como o
recibo emitido pela “Resin” a 26.06.95 a favor do depoente, no montante de
6.000.000$00, constante de fls 231 do apenso 97);
- Cópia de talão de depósito na conta do depoente, no montante de
11.000.000$00, efectivado a 30.06.95, dos quais 6.000.000$00 destinaram-se ao
depoente (ainda referente ao preço da aquisição do terreno pela CMF) e 5.000.000$00 à
“Resin” pela reabilitação da lixeira (cfr. documentos de fls 338 e 353 do apenso 97);
- Cópia do cheque de fls 349 do apenso 97, emitido pela CMF a 25.06.98, no
valor de 4.410.480$00, a favor do depoente (cfr. o depósito respectivo referenciado no
extracto da conta do depoente, conforme documento de fls 389 do apenso 97); referiu a
testemunha não se recordar qual o destino que deu a esse dinheiro, o qual se tratou do
último pagamento efectuado pela CMF. Porém, essa quantia não vem referênciada no
que manuscreveu no documento de fls 334 do apenso 97 (onde estão indicados todos os
pagamentos efectuados), sendo certo que foi depositada na conta pessoal do depoente
(cfr. o extracto da sua conta a fls 389 do apenso 97).
Em face do que manuscreveu no documento de fls 335 do apenso 97 mostrou-se
baralhado quanto ao facto de em 1998 ter pago ou não à “Resin” a quantia de
3.410.480$00, retendo 1.000.000$00 para si. Porém, os seus apontamentos poderão não
ser contemporâneos a esse pagamento. Seja como for, entende que os seus manuscritos
são mais fidedignos (de fls 334 e 335 do apenso 97).
Consequentemente, a CMF pagou-lhe o total de 37.645.560$00, dos quais
apenas 6.000.000$00 se destinaram ao depoente.
Acha que mais nada recebeu da CMF, pelo que não foi paga a totalidade da
quantia referente ao aditamento ao contrato de transacção.
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2º Juízo
referido nos autos, confirmando que a única contrapartida então oferecida pela CMF foi
a pavimentação do acesso à casa da referida testemunha.
Foi no Verão de 1993 que se iniciou colaboração da “Resin”, numa altura em
que a testemunha Menezes Basto pressionava no sentido de cessar a deposição do lixo
no seu terreno.
Esclareceu que o Vereador José Campos detinha o pelouro da higiene e limpeza
(daí que não seja de estranhar que estivesse presente aquando da negociação do preço de
aquisição do terreno à testemunha Menezes Basto).
Procurou-se evitar que tal aquisição fosse sujeita à aprovação da Assembleia
Municipal pois estava-se às portas das eleições autárquicas, daí que o valor da aquisição
não pudesse exceder os 25.000.000$00, sendo certo que a operação teve de ter
igualmente o visto do Tribunal de Contas.
Quanto ao facto da testemunha referida se ter dirigido várias vezes à CMF para
saber da efectivação dos pagamentos referiu que era frequente os credores da CMF
dirigirem-se às suas instalações com o propósito de saberem quando os seus créditos
iriam ser liquidados.
*
- Testemunha José António de Sousa Ferreira
É funcionário da CMF desde 1983/1984 e há cerca de uma década que é chefe
da Divisão da DATA, respondendo directamente perante o arguido Barberi Cardoso.
Referiu que a “Resin” começou a fazer o tratamento da lixeira de Sendim, sendo
certo que quem pagava os serviços por ela prestados era o proprietário do terreno onde
estava implantada a referida lixeira (a testemunha Menezes Basto). Na altura discutia-se
se a CMF poderia ou não assumir o pagamento dos serviços prestados pela “Resin” em
terrenos que não eram seus, segundo se apercebeu em conversas informais que teve no
seio da CMF.
Segundo ouviu dizer a CMF fez um protocolo com o Eng. Menezes Basto em
que durante certo período de tempo pagou o tratamento do lixo a esta testemunha, para
que esta depois pagasse à “Resin”. Precisou que presume que era à “Resin” que o Eng.
Menezes Basto pagava na medida em que era quem no local prestava os serviços de
tratamento do lixo desde 1993, ano em que a CMF deixou de ter intervenção directa na
lixeira de Sendim.
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Por vezes era questionada acerca dessa inscrição no orçamento camarário pela
arguida Fátima Felgueiras e explicava-lhe que se tratava de um débito no âmbito do
aditamento ao contrato de transacção.
Confrontada com o orçamento camarário de 2001, cuja cópia se acha a fls 66 e
67 do apenso 98, constatou que o montante em dívida cifrava-se em 26.462.000$00,
montante que se reporta ao aditamento ao contrato de transacção já referido, admitindo
porém que não se possa reportar apenas a esse aditamento visto que no que se refere ele
tem a ideia de que a dívida rondava os 21.000.000$00 (porém esse montante coincide
com a verba constante no aditamento ao contrato de transacção).
Explicou que não tinha instruções para anular a inscrição daquela verba no
passivo, daí que tenha transitado sucessivamente de exercício para exercício.
Não tem memória de alguma situação similar em termos de atraso no pagamento
pela CMF. Não põe porém de parte essa possibilidade relativamente a outros débitos
visto que a CMF procede aos pagamentos com atraso em face das dificuldades
financeiras de que padece.
Explicou ainda que não era a depoente quem determinava a afectação das
verbas disponíveis aos pagamentos devidos pela CMF. Era a presidente da edilidade
quem assinava as ordens de pagamentos, sendo certo que a depoente informava-a das
disponibilidades de tesouraria.
Quanto à reabilitação da lixeira nada sabe, apenas se tendo deslocado a esse
local uma única vez há cerca de 2 anos.
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2º Juízo
hipótese das duas uma: ou eram corrigidas ou o depoente emitia reservas às contas
apresentadas.
No exercício de 1998 entendeu que a “Resin” deveria ter feito provisões
superiores (que quanto maiores menores serão os resultados do exercício).
Recorda-se aliás que por esse motivo chegou a colocar reservas às contas
apresentadas pela “Resin”, como sucedeu relativamente às contas referentes ao
exercício de 1997, sugerindo o aumento da provisão constituída para créditos de
cobrança duvidosa.
Relativamente à provisão a que se reporta o documento de fls 199 do apenso 97,
referiu que foi constituída em 1998, o que significa que no ano seguinte a “Resin”
acatou a sugestão efectuada pelo depoente (situação que aliás era normal).
A provisão para cobrança duvidosa deve ser constituída obedecendo a vários
critérios, desde logo critérios económicos que resultam de uma análise da situação do
cliente, mas no caso dos autos o Código do IRC impunha limitações à consideração
desse tipo de critérios (para efeitos fiscais). Foi pois um critério de natureza fiscal que o
motivou a levantar reservas (em função da idade dos saldos, quanto mais antigos maior
a percentagem da provisão a constituir, nos termos do artº 35º do CIRC: em créditos
com mais de 24 meses deve ser constituída uma provisão de 100%; há mais de 18
meses, 75%; há mais de 12 meses, 50%; há mais de 6 meses, 25%).
Confrontado com os documentos de fls 343 (de 04.09.95, onde se refere um
saldo de 9.175.400$00) e 344 do apenso 97 (de 14.10., apresentando um saldo de
26.175.400$00) referiu tratar-se dos mencionados pedidos de confirmação de saldo,
neste caso à testemunha Menezes Basto. Foi por iniciativa do depoente que essas
missivas foram-lhe enviadas, as quais aliás mereceram resposta dessa testemunha
(nesses documentos ele apôs a sua assinatura e apôs o que bem entendeu).
Esse tipo de documentos (que não são interpelações para pagar) são também
remetidas a fornecedores, a bancos e de um modo geral a todos os terceiros que mantém
com a empresa relações comerciais e que o revisor oficial de contas selecciona.
Recorda-se aliás que chegou a remeter documentos de idêntica natureza a um escritório
de advogados de modo a confirmar o saldo e para saber dos processos pendentes.
Confrontado com os documentos de fls 341 (de 6.11.97, apresentando um saldo
de 24.187.400$00, que coincide com a verba colocada como sendo de cobrança
duvidosa) e 342 do apenso 97 (datada de 26.08.96, onde o saldo apresentado é
exactamente o mesmo: 24.187.400$00) referiu tratar-se de documentos semelhantes,
mas a testemunha Menezes Basto não confirmou o saldo em causa na medida em que
não respondeu.
Explicou que certos clientes não dão qualquer resposta a esse tipo de missivas,
os quais aliás muitas vezes nem sabem para que servem, devolvendo-as sem confirmar
ou não o saldo apresentado. Não parece ser esse o caso dos autos na medida em que o
cliente em causa respondeu às missivas de fls 343 e 344 do apenso 97, tendo colocado
anotações nesses documentos. Não sabe porém por que motivo as missivas de fls 341 e
342 do apenso 97 não contêm qualquer resposta por parte da testemunha Menezes de
Basto.
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2º Juízo
montante) poderá ter sido escolhido para a construção do aterro (juntamente com o
terreno de outro proprietário), terrenos esses que teriam de ser adquiridos pela CMF.
Ignora a quem pertencia o terreno onde se situava a lixeira de Sendim, admitindo
que seria da CMF na medida em que ali eram depositados os lixos do concelho.
Ignora se existia alguma conta-corrente entre a “Resin” e a testemunha Menezes
Basto.
Confrontado com os quadros de fls 22 e 23 do apenso 12, referiu não os
conhecer.
No que toca à dívida da CMF para com a “Resin”, sabe que chegou à centena de
milhar de contos.
O arguido Vítor Borges referiu-lhe a certa altura que os accionistas da “Resin”
também fizeram sentir a necessidade da “Resin” receber os valores em atraso da CMF,
pois a manutenção dessa situação traduziam-se em resultados negativos, existindo um
entendimento entre a administração e os accionistas de que parar os trabalhos não seria
sensato em termos comerciais pois os valores em causa não eram significativos e viam o
trabalho desenvolvido em Felgueiras como um investimento que poderia potenciar a
expansão dos negócios com os fundos comunitários que tinham sido aprovados. Não
seria pois sensato cortar relações com potenciais clientes.
Consequentemente, não se equacionava a paragem dos trabalhos e procuravam-
se encontrar soluções com a CMF e mais tarde com a AMVS no sentido de se obter o
pagamento do montante em dívida.
O arguido Vítor Borges transmitia-lhe que iria encontrar a solução junto da
CMF quanto à questão dos pagamentos, sendo certo que assistiu a uma reunião na CMF
entre os arguidos Vítor Borges e Fátima Felgueiras em que foi manifestada a
preocupação pela falta de pagamento, tendo aliás o depoente dito à arguida Fátima que
era seu entendimento que a “Resin” deveria parar os trabalhos em face da falta de
pagamento dos trabalhos efectuados, tendo então o arguido Vítor Borges assentido em
aguardar durante mais algum tempo para que entretanto se encontrassem as soluções
necessárias para que a situação fosse desbloqueada.
Transmitiu também essa preocupação ao arguido Barbieri Cardoso.
Com a admissão do arguido Gabriel Almeida na “Resin” (para exercer as
funções de Director Geral) este passou a conduzir as negociações, juntamente com o
arguido Vítor Borges, afastando-se o depoente desse assunto, daí que não tenha grande
conhecimento das soluções que entretanto foram adoptadas no sentido de ultrapassar os
constrangimentos de natureza legal que impediam a CMF de proceder ao pagamento da
quantia em dívida para com a “Resin”.
Quando o depoente saiu da “Resin” era o arguido Carlos Marinho quem assumia
as funções de contabilista da empresa e, como tal, estando dependente hierarquicamente
do Director Financeiro, não tinha poderes de direcção.
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do apenso 97, onde se alude ao cheque que serviu de meio de pagamento, que é o
mesmo que foi emitido pela CMF).
A fls 213 do apenso 97 consta uma cópia de um recibo emitido pela “Resin” a
favor da testemunha Menezes Basto, no valor de 6.000 cts.
A fls 232 do apenso 97 consta uma cópia de um recibo emitido pela “Resin” a
favor da testemunha Menezes Basto, no valor de 5.000 cts.
A fls 349 do apenso 97 consta uma cópia de um recibo emitido pela “Resin” a
favor da testemunha Menezes Basto, no valor de 4.410.480$00.
A fls 388 e 399 do apenso 97 consta um extracto de conta da “Resin” para com a
testemunha Menezes Basto (apreendido na “Resin”).
Em face desse extracto, houve um montante por liquidar à testemunha Menezes
Basto pela “Resin”.(24.187.400$00 – cfr. ainda o documento de fls 199 do apenso 97 e
334 do mesmo apenso).
Em face disso, contabilisticamente a “Resin”fez um reforço da conta de clientes
de cobrança duvidosa no montante de 24.187.400$00, conforme está manuscrito nesse
extracto de conta.
A PJ não encontrou qualquer elemento que lhe permitisse concluir que houve
uma tentativa de cobrança coerciva desse montante.
Sem essa tentativa não compreende por que motivo foi aquele crédito
considerado de cobrança duvidosa.
Confrontado com as facturas juntas na audiência de julgamento pelo arguido
Carlos Marinho, constantes de fls 12.322 e ss. dos autos, emitidas pela “Resin” à CMF,
verificou-se que são iguais às que foram emitidas à testemunha Menezes Basto.
A fls 132 do apenso 97 consta um fax de 03.06.96 enviado pela “Resin” à
“Translousada” (ao cuidado da testemunha Carlos Sousa), onde se dá conta que quanto
aos valores em dívida referente aos anos de 1995 e 1996 inexiste suporte legal para que
a CMF pudesse pagar as verbas em causa, tendo solicitado a respectiva resolução à
CMF.
Admite que nessa altura as empresas não tinham muito “know how” na área de
actividade da “Resin”.
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Para pelo menos controlar o início dos incêndios, foi ali colocado um
encarregado, de modo a que os resíduos depositados fossem cobertos.
A “Resin” surge como sendo uma empresa com “know how” nessa área, a qual
se apresentou em Lousada (ao que pensa num restaurante) à AMVS e em Felgueiras (na
CMF), onde deu a conhecer as suas capacidades e possíveis soluções.
Crê que foi a partir de finais de 1994 que a “Resin” teve intervenção na lixeira
de Sendim.
Tomaram-se medidas para não poluir as águas da zona da lixeira.
A “Resin”, nos primeiros tempos, teve de tratar dos lixiviados da lixeira.
Considera que o trabalho desenvolvido pela “Resin” merece ser relevado na
medida em que resolveu um problema grave no concelho de Felgueiras.
Acabaram-se entretanto as queixas relacionadas com o funcionamento da lixeira
de Sendim.
O único interesse da CMF era o de resolver o problema. Não tem a percepção de
que a “Resin” tivesse sido beneficiada.
Tem a ideia que os contratos celebrados com a “Resin” foram aprovados na
CMF e que são legais (haviam pareceres jurídicos). Acabou por referir não ter
conhecimento concreto de algum contrato celebrado entre ambas.
O interesse inerente à sua celebração não era de índole pessoal, mas apenas de
resolução do problema dos lixos.
Não conhece a “Norlabor” e que a CMF tenha celebrado com essa empresa
algum contrato por causa da lixeira.
Nunca tinha ouvido falar da “João Tello”. Não sabe se foi celebrado algum
contrato entre a CMF e essa empresa a propósito da lixeira.
Não sabe se, para além dos contratos de locação, a CMF celebrou com a
testemunha Menezes Basto algum outro contrato.
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2º Juízo
Nos finais do ano de 1993 existiram conversações com o arguido Vítor Borges
e que permitiram a celebração da transacção com a testemunha Menezes Basto.
Em todo o caso, durante o tempo em que a testemunha Fernando Lima foi
vereador, a “Resin” não teve qualquer intervenção na lixeira.
Os problemas relacionados com a lixeira eram discutidos em reuniões de
Câmara e com os autarcas, devido aos problemas provocados pelo descontrolo da
lixeira.
Análise crítica
Os contratos de arrendamento/locação celebrados com a testemunha Menezes
Basto constam dos autos e foram já acima referenciados (cfr. os documentos de fls 3, 4,
11 e 12 do apenso 98).
Acerca da inexistência de local alternativo para a deposição dos resíduos e das
circunstâncias em que a “Resin” foi operar na lixeira de Sendim (subcontratando
designadamente os serviços da “Translousada”) já o tribunal teve oportunidade de
expressar a sua convicção, fundada nos depoimentos, em particular, dos arguidos Júlio
Faria e Vítor Borges e ainda no depoimento da testemunha Menezes Basto. Em relação
a essa matéria foram também relevantes os depoimentos dos arguidos Fátima Felgueiras
e Barbieri Cardoso.
Para além disso, muitas testemunhas relataram o estado da lixeira antes e depois
da reabilitação levada a cabo pela “Resin”.
A proposta para a celebração do contrato de transacção foi apresentada ao
executivo camarário pela arguida Fátima Felgueiras (cfr. fls 63 do apenso 98) na medida
em que, à data, o arguido Júlio Faria se encontrava doente (segundo o próprio, entre
Setembro e Novembro de 1993), sendo por isso substituído por ela (a qual, recorde-se, à
data, era a vice-presidente da autarquia) – cfr. as declarações dos arguidos Júlio e
Fátima Felgueiras.
Os termos dessa proposta não correspondiam porém à realidade dos factos, pois
o propósito da celebração do contrato de transacção foi na verdade outro, conforme já
tivemos oportunidade de explicitar.
Seja como for, estava subjacente uma situação que urgia resolver, de modo a
pôr cobro ao problema de saúde pública e ambiental que então se vivia em face da
forma como os resíduos eram depositados na lixeira de Sendim e ante a eminência da
CMF não ter à disposição local alternativo para os depositar.
Em todo o caso, a testemunha Menezes Basto não exigia na verdade o
pagamento de qualquer indemnização (conforme aliás referiu), apenas não estando
disposto a permitir a continuação da deposição dos resíduos, pelo menos nos mesmos
moldes (isto é, de forma descontrolada – cfr. por exemplo as informações de 01.10.90 e
de 10.09.90, constantes de fls 7 e 10 do apenso 98, proferidas pelo então Verador José
da Silva Campos, o qual entretanto se desligou desse assunto quando cessou o seu
mandato).
Já os termos do contrato de transacção, celebrado a 25.11.93, são os que
constam do respectivo documento (cfr. fls 76 e 77. do apenso 98), sendo certo que,
segundo a testemunha Maria Fernanda Castro Leal, foi ela quem redigiu esse contrato (e
o contrato-promessa de compra e venda) sob a supervisão do arguido Júlio Faria.
Por outro lado, o facto de ter sido a “Resin” a pagar o visto do Tribunal de
Contas (cfr. fls 226 do apenso 97 e 53L do apenso 98) é indício que corrobora a ideia de
que o contrato de transacção em causa é simulado (simulação relativa, nos moldes já
acima explicitados), além de que essa empresa foi a destinatária final dos pagamentos,
razão pela qual exercia pressões sobre a CMF em ordem à obtenção do pagamento
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2º Juízo
(sabendo aliás da respectiva ocorrência sem necessidade de ser informada desse facto
pela testemunha Menezes, sinal de que existia um canal de comunicação directo entre a
CMF e a “Resin” – cfr. a propósito, por exemplo, as declarações prestadas pelas
testemunhas Menezes Basto e Terezinha Carvalho).
Acerca da necessidade da dita simulação já tivemos a oportunidade de explicitar
a sua razão de ser – a CMF não podia celebrar o contrato dissimulado com a “Resin”
(em especial, segundo explicou a testemunha Fernanda Leal, porquanto não era dona do
terreno onde estava implantada a lixeira, não obstante, nos termos do contrato-promessa
de compra e venda desse terreno constar que a respectiva posse se havia transmitido
para a CMF por mero efeito desse contrato; por outro lado, a “Resin” não dispunha de
alvará que, de per si, lhe permitisse executar os trabalhos, dificuldade que poderia ser
ultrapassada usando o alvará de outra empresa; para o arguido Barbieri esta segunda
razão era a única de que tinha conhecimento e que impedia a CMF de proceder a um
ajuste directo desses trabalhos à “Resin”. Note-se aliás que a missão de reabilitação da
lixeira, levada a cabo pela “Resin”, pressupôs, como não podia deixar de ser,
movimentações de terras, daí que os trabalhos só pudessem ser legalmente levados a
cabo por quem dispusesse de alvará para o efeito).
De resto, reafirma-se, do depoimento daqueles arguidos e daquela testemunha
resulta que de facto tal contrato visou apenas permitir que a CMF pagasse à “Resin” os
serviços que ela viria a prestar na lixeira de Sendim (entre Dezembro de 1993 e Maio de
1994, segundo o arguido Vítor Borges), sendo certo que o valor desse contrato cobria o
preço da reabilitação da lixeira de Sendim, existindo um diferencial de 1.000.000$00
que diziam ainda respeito ao preço de aquisição desse terreno pela CMF, conforme mais
à frente iremos melhor explicitar (cfr. documentos de fls 142 e ss. – “Aterro de
Felgueiras – Hitorial” 6 - e 344, ambos do apenso 97).
Na verdade, a testemunha Menezes Basto pagava à “Resin” na medida em que
recebesse da CMF (conforme o demonstram os documentos respectivos – cfr. por
exemplo, a este propósito, as declarações do arguido Carlos Marinho e os documentos
mencionados na pronúncia).
De modo a evitar os constrangimentos que não permitiam à CMF legalmente
pagar à “Resin” a reabilitação da lixeira, era imperioso que aquela adquirisse o
respectivo terreno (terá sido o arguido Vítor Borges quem terá convencido a testemunha
Menezes Basto a vender esse terreno à CMF, conforme emergiu dos respectivos
depoimentos).
Para o efeito, foi celebrado entre as partes um contrato-promessa de compra e
venda (cfr. fls 80 e ss. do apenso 98), na sequência de proposta apresentada nesse
sentido pela arguida Fátima Felgueiras a 01.10.93 e aprovada pelo executivo camarário.
Verifica-se que o preço é na verdade simulado, pois, conforme aliás emerge das
declarações do arguido Júlio Faria, era importante que o mesmo não ultrapassasse os
25.000 cts, caso contrário tal contrato teria de ser submetido à apreciação da Assembleia
Municipal de Felgueiras, o que de todo era inconveniente (pelos motivos já referidos).
Ora, o tribunal convenceu-se que, na realidade, o preço acordado foi de
25.754.820$00, conforme a custo admitiu a testemunha Menezes Basto (facto negado
sem qualquer credibilidade pelo arguido Júlio Faria, o qual apenas admitiu que a
proposta inicial da testemunha Menezes relativamente ao preço – e pelos vistos final –
ultrapassava os 25.000 cts; cfr. ainda as declarações do arguido Barbieri Cardoso a este
propósito).
6
Documento apreendido na “Resin”.
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7
Onde a testemunha Menezes Basto manuscreveu “5.000.000$00 Resin” / “ 6.000.000$00 mim”.
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aquela a obrigação de pagar o preço acordado para a prestação dos serviços desta na
lixeira de Sendim, além de que, ainda que assim não fosse entendido, sobejaria sempre
o recurso ao instituto do enriquecimento sem causa).
Salientamos, em todo o caso, o facto de não se ter produzido qualquer prova de
que a “Resin” não tenha efectuado os trabalhos em causa ou que o respectivo valor
tenha sido empolado, mesmo em relação aos contratos mencionados nos pontos 1.3 e
1.4. da pronúncia; aliás, provou-se justamente o contrário (cfr. as declarações prestadas
pelos arguidos Fátima Felgueiras, Júlio Faria, Vítor Borges, Carlos Marinho e Barbieri
Cardoso e o depoimento das testemunhas que relataram o estado da lixeira antes e
depois da intervenção da “Resin”, com relevo para o depoimento da testemunha
Menezes Basto, o depoimento dos ex.funcionários da “Resin”, o auto de inspecção ao
local, as fotos tiradas aquando da inspecção, as fotos tiradas no momento em que a
“Resin” operava no local e os documentos de fls 12391 a 12396, 12426 a 12510, 12511
e 12512, 12513 a 12523, 12524 a 12565, 12576 a 12579, 12580 a 12584, 12585 a
12590, 12599 12613, bem como os documentos juntos no apenso 141, conjugados com
as explicações dadas pelo arguido Barbieri Cardoso, que aliás nos mereceram todo o
crédito pela forma escorreita com que depôs acerca dessa matéria).
O preço de 2.800 cts mensais + IVA mostrou-se pois ajustado em função dos
trabalhos levados a cabo e do crescente volume de deposição de resíduos registado na
lixeira de Sendim ao longo do tempo, cujo tempo de vida aliás se prolongou para além
do esperado.
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dos trabalhos efectuados pela “Resin” (invocação de natureza urgente e razões de saúde
pública ou abertura de um concurso limitado para trabalhos já excutados pela “Resin”
através de subempreitada à “Translousada” e à “Norlabor”).
Não se recorda de quem esteve presente (tem ideia de terem estado presente as
testemunhas Teresinha e Fernanda Castro Leal. Não tem ideia alguma do arguido
Barbieri Cardoso ter estado presente, tanto mais que ali não se discutiram questões de
natureza técnica).
Não se recorda se a esse propósito teve ou não mais reuniões, mas admite como
provável que sim.
Confirmou a celebração do contrato de consórcio de fls fls 145 do apenso 97 e
reafirmou as razões da respectiva celebração, acrescentando ainda que a “Norlabor”
receava ficar arredada das empreitadas quando a “ECOP” entrou no capital social da
“Resin”, sendo certo que a área do ambiente era potencialmente atraente, além de que
queria fixar uma listagem de preços de aluguer dos equipamentos (o que aliás foi feito
com a “Translousada”).
O concurso em apreço precipitou a celebração desse contrato de consórcio.
Pese embora não tenha já a certeza, tem a ideia de que foi o arguido Barbieri
Cardoso quem lhe telefonou (presume esse facto por lhe ter dirigido o fax de fls 301 do
apenso 21) solicitando-lhe que indicasse as empresas que deveriam ser convidadas (as
quais deveriam ter no seu objecto social a celebração de empreitadas de obras públicas e
que tivessem capacidade para as executar), daí a remessa do fax de fls 301 do apenso 21
a 24.11.95.
Como os trabalhos já estavam feitos (incluindo a execução das plataformas,
triagem do lixo, deposição do mesmo com compactagem e deposição de terra), o
concurso apenas visou o pagamento dos mesmos à “Resin” (a data muito próxima entre
a adjudicação e a conclusão dos trabalhos indicia que eles já estariam realizados, já que
não seria possível executá-los naquele pequeno período de tempo se nada estivesse feito
à data da adjudicação).
Nessa medida, já se sabia à partida que a “Norlabor” iria ganhar o concurso (e
que a “Resin” seria o destinatário final dos pagamentos a efectuar pela CMF). Houve
assim uma consertação entre os concorrentes nas propostas apresentadas de modo a que
a “Norlabor” apresentasse a melhor proposta. Nesse sentido, aliás, deu instruções aos
técnicos da “Resin” para conversarem com as outras empresas concorrentes.
Na altura haviam débitos da “Resin” à “Norlabor”. Porém, quem de facto
trabalhou na lixeira foi a “Translousada”, conforme verificou nos documentos depois da
sessão de julgamento do dia anterior.
Reafirmou que para si a “Norlabor” e a “Translousada” eram a mesma coisa,
pois tinham sócios comuns.
Explicou o percurso sinuoso que os meios de pagamento tiveram até chegar à
“Resin” (via “Norlabor” e desta para a “Translousada” até por fim chegar à “Resin”)
pelo facto da “Norlabor” ter ganho o concurso por ter alvará para o efeito, havendo que
fazer intervir a “Translousada” no circuito do pagamento porque quem de facto
executou trabalhos na lixeira foi esta empresa (subcontratada pela “Resin”), a qual já
tinha recebido parte dos pagamentos por banda da “Resin” (a “Resin” elaborou o
projecto, supervisionou a sua execução, mantendo no terreno um engenheiro, dois
seguranças e um encarregado).
Acrescentou que as relações comerciais que a “Resin” mantinha com a
“Translousada” a propósito do trabalho por esta desenvoilvido na lixeira de Sendim não
foi formalizado por escrito.
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pagamentos efectuados pela CMF, remetendo mais uma vez a explicação para os
responsáveis da “Norlabor”.
Foi então confrontado com os seguintes documentos, que não pôs em causa:
- fls 131 do apenso 95-A (ordem de pagamento da CMF no montante de
7.000.000$00, com o valor líquido – após as legais deduções – de 6.633.334$00);
- fls 133 do apenso 95-A (recibo nº 649, no montante de 7.000.000$00, emitido
pela “Norlabor” à CMF, datado de 13.05.98, reportado ao segundo pagamento parcial
da já referida factura cuja cópia se acha a fls 122 do apenso 95-A);
- fls 136 do apenso 95-A (ordem de pagamento da CMF à “Norlabor” do
montante de 7.550.664$00, o que perfaz o valor líquido de 7.155.153$00, após as legais
retenções);
- fls 138 do apenso 95-A (recibo da “Norlabor” à CMF no montante de
7.550.664$00, datado de 21.10.98, reportado ao terceiro e último pagamento parcial da
factura de fls 122 do apenso 95-A).
Por outro lado, confirmou que a “Resin” recebeu as quantias em causa do
seguinte modo:
- 4.738.095$00 a 25.06.96, através do cheque nº 1159765 da CGD, constante de
fls 1903 dos autos, para liquidação da factura nº 9500182, de 27.02.95 (cfr. fls 161 do
apenso 97) e parte da factura nº 9500280, de 31.03.95 - 1.462.095$00 (cfr. fls 162 do
apenso 97) -, tendo emitido o respectivo recibo à “Translousada” a 25.06.95 (cfr.
documento de fls 191 do apenso 97); cfr. ainda o talão de depósito na conta da “Resin”
a 25.06.96, constante de fls 192 do apenso 97;
- 6.633.334$00, através do cheque nº 40878643, de uma conta particular de
sócios da “Norlabor”, constante de fls 1910 dos autos (cfr. ainda o documento de fls 158
do apenso 95-A e o talão de depósito na conta da “Norlabor” constante de fls 1912 dos
autos), para pagamento do remanescente da factura nº 9500280, de 31.03.95, constante
de fls 162 do apenso 97 (1.813.905$00), da totalidade da factura nº 9500369, datada de
18.04.95, no montante de 3.276.000$00 (cfr. documento de fls 163 do apenso 97) e
parte da factura nº 9500451, de 31.05.95, constante de fls 164 do apenso 97
(1.543.429$00); cfr. ainda o documento comprovativo do depósito na conta da “Resin”
a fls 196 do apenso 97 e o recibo respectivo a fls 195 do apenso 97, datado de 14.05.98;
- 7.155.153$00, através de cheque endossado pela “Translousada” e emitido pela
“Norlabor”, correspondente à liquidação do remanescente da factura nº 9500451, de
31.05.95 (cfr. fls 164 do apenso 97 – 1.732.571$00), à totalidade da factura nº 9500571,
de 30.06.95, no montante de 3.276.000$00 (constante de fls 165 do apenso 97) e parte
da factura nº 9500665, de 31.07.95 (constante de fls 166 do apenso 97 - 2.146.582$00);
cfr. o recibo de fls 198 do apenso 97, datado de 22.10.98 e o documento e fls 151 do
apenso 95-A.
Quanto ao manuscrito a lápis no verso do recibo de fls 195 do apenso 97
(respeitante ao segundo recebimento), afirmou não ser da sua autoria, ignorando a que
se refere (cfr. fls 4629 dos autos).
Explicou, em todo o caso, que o IVA entre empresas era de 17% na altura e que
no que respeita a uma entidade pública era na altura de 5%. Consequentemente, as
facturas emitidas pela “Resin” à “Translousada” incluiam IVA a 17%, ao passo que a
factura emitida pela “Norlabor” à CMF incluíu IVA a 5%.
Assim, o valor do crédito da “Resin” é superior ao valor da factura emitida pela
“Norlabor” à CMF.
Tal facto explica porque razão a última factura emitida pela “Resin” à
“Translousada” (cfr. fls 166 do apenso 97) não foi integralmente paga.
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realizou-se a 27.12.94) quer porque a “Resin” não dispunha de alvará que lhe permitisse
executar obras de empreitada. A este propósito recorda-se que o TC rejeitou um
contrato de fornecimento de semáforos por entender que se tratava de um contrato de
empreitada e o mesmo por certo entenderia quanto à actividade desenvolvida pela
“Resin” na lixeira de Sendim. Havia pois dúvidas acerca da qualificação jurídica dessa
actividade (mera prestação de serviços ou empreitada?), sendo certo que a qualificação
como empreitada permitia à CMF pagar um IVA de apenas 5%, ao passo que se se
tratasse de um fornecimento ou de uma mera prestação de serviços teria de pagar o IVA
a 17%.
O arguido Júlio Faria, não obstante (dada a falta de alternativas), concordou em
que a “Resin” continuasse a operar no local (cfr. fax de fls 2773).
A “Resin”, a propósito, remeteu o respectivo orçamento (2.800 cts /mês + IVA),
conforme documento junto na audiência de julgamento.
A Drª Terezinha prestou informação escrita ao arguido Júlio Faria do que se
passou na reunião de 11.04.95, conforme documento de fls 2275, do 10º volume.
Em meados de 1995 o problema arrastava-se e só se procurou uma solução
quando a arguida Fátima Felgueiras tomou conta desse dossier em Setembro/Outubro de
1995.
Em 17.07.95 foram abertas as propostas para o concurso de construção do aterro
da Lustosa (Penafiel), criando a expectativa de uma resolução rápida do problema da
recolha e tratamento dos resíduos.
Como a arguida Fátima Felgueiras queria “colocar a casa em ordem” decidiu-se
que o serviço de recolha de resíduos deveria gerar receitas para se financiar, com a
criação de uma taxa em inícios de 1996 para os resíduos industriais (princípio
poluidor/pagador).
Além disso, em ordem a resolver questões passadas (pagamento dos trabalhos já
executados) ela mandou abrir um concurso ao Departamento Técnico, sendo certo que é
a assessoria jurídica quem prepara e elabora os contratos, dando seguimento ao que já
havia sido anteriormente decidido pelo arguido Júlio Faria (cfr. documento de fls 2275
do 10º volume).
Explicou que a lixeira de Sendim situava-se em terrenos que segundo o PDM
faziam parte da Reserva Ecológica, como acontecia com todos os terrenos com uma
inclinação superior a 30%. No caso o terreno tinha essa inclinação devido à deposição
do lixo, pelo que não fazia sentido integrar aquela área na “Reserva Ecológica”.
Ora, os trabalhos efectuados pela “Resin” entre Junho de 1994 até Abril de 1996
foram pagos com recurso ao expediente do concurso (precisou mais tarde que esse
expediente serviu para pagar os trabalhos efectuados entre Fevereiro de 1995 até Abril
de 1996; já antes desse perído de tempo a CMF teria lançado mão do contrato de
transacção e seu aditamento, referidos no ponto 1.2 da pronuncia, para pagar trabalhos
efectuados anteriormente).
Nega qualquer sobreavaliação pois foi paga a quantia de 977$00 por tonelada de
lixo, o que é um preço muito bom.
Esclareceu que o concurso em causa reportava-se formalmente a trabalhos a
executar num período de 30 dias na medida em que grande parte desses trabalhos já
haviam sido executados quanto à movimentação de terras. Para consolidar essa
movimentação de terras bastariam 30 dias. A ideia era a de abarcar todo o trabalho de
movimentação de terras e consolidação das plataformas até ao ajuste directo referido no
ponto 1.4.
O ajuste directo a que se reporta o ponto 1.4 da pronúncia serviu para pagar os
serviços que iriam ser prestados pela “Resin” sendo certo que o concurso a que se
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2º Juízo
reporta o ponto em causa serviu para pagar os trabalhos efectuados desde o final do
período coberto pelo aditamento ao contrato de transacção celebrado com o Eng.
Menezes Basto até à concretização do ajuste directo (entre Janeiro/Fevereiro de 1995
até Abril de 1996).
Havia a expectativa de que os encargos entretanto transitassem para a AMVS.
Recorda-se que na fase de indefinição da resolução da questão dos pagamentos à
“Resin” por banda da CMF, o arguido Vitor Borges ameaçou abandonar os trabalhos
pois “tinha de dar satisfações aos franceses”.
Foi-lhe então comunicado a abertura do concurso a que se reporta este ponto da
pronúncia em ordem a resolver o problema dos pagamentos e o arguido Vítor Borges
recomendou cuidado acerca das empresas a convidar para apresentar as respectivas
propostas visto que quem ganhasse teria de falar com a “Resin” dado ser ela quem de
facto operava no terreno. Dessa forma acalmou-se o arguido Vítor Borges. Admite o
depoente que possa ter sido quem lhe comunicou a decisão de realização desse
concurso, salientando em todo o caso que agiu sempre com base em instruções
superiores, relembrando que responde directamente perante a presidente da CMF.
Partiu assim do pressuposto, na altura, que a “Resin” não iria concorrer, até
porque não dispunha de alvará, daí que tenha apenas constatado que ela concorreu
aquando da abertura das propostas.
Nesse contexto, não achou estranho que a “Resin” tivesse indicado as empresas
a convidar.
Não se recorda de ter recebido ordens para contactar a “Resin” em ordem a
indicar as empresas a convidar. A esse propósito, foi confrontado com as declarações
prestadas perante o JIC, constantes do 2º parágrafo de fls 2267 e do 2º parágrafo de fls
3918, esclarecendo que as declarações que ali constam correspondem a respostas
parcelares. Reconheceu que na altura lhe foi presente o fax já referido e que lhe era
endereçado, mantendo a posição já adoptada perante o JIC. Em todo o caso, não põem
de parte que possa ter recebido instruções da arguida Fátima Felgueiras no sentido de
contactar a “Resin” com aquele desiderato. Adiantou que tal possa ter sido
eventualmente feito pelo Eng. Ferreira (responsável pela área dos concursos) ou pela
funcionária Conceição Ferreira, a qual dava apoio à área dos concursos.
Como achou na altura que a “Resin” não iria concorrer não entendeu então
imprudente solicitar-lhe a indicação de empresas a convidar para o concurso. Seja como
for, reafirmou não se lembrar se ter contactado a “Resin” para esse fim, reafirmando
ainda que esse contacto também poderia ter sido feito pelo Eng. Ferreira Leite
(responsável pelos concursos) ou pela funcionária Conceição. Admite em todo o caso
que possa ter conversado com o Eng. Ferreira acerca desse assunto. Seja como for,
nunca teve a percepção do cometimento de alguma ilegalidade, pois caso contrário o fax
de fls 301 do apenso 21 não constaria, como consta, do processo respeitante ao
concurso em causa.
Referiu então que o fax de fls 301 do apenso 21 (indicação das empresas pela
“Resin”) não lhe chegou às mãos, pois nesse caso teria despachado no mesmo, o que
não se verifica, sendo certo que os serviços administrativos já sabiam que se aguardava
essa indicação. Só mais tarde viu esse fax quando a Drª Maria Natal, a propósito de um
inquérito à CMF pela IGAT, o abordou acerca desse assunto. Sobre este ponto não foi
muito assertivo, admitindo que eventualmente já tivesse visto tal documento, embora
não se recorde de tal facto.
Confrontado com o convite dirigido à “Resin” (cfr. fls 70 o apenso 95-A),
salientou que esse convite foi feito sem o seu conhecimento, sendo certo que a letra
desse documento é de uma funcionária camarária (Conceção Ferreira, chefe de secção).
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Seja como for, existe proximidade temporal entre as datas de pagamento pela
CMF (cfr. os cheques acima referidos) e as datas de “retorno”, segundo o que consta
dos documentos de fls 159 e 163, do 1º volume. Existem também algumas
coincidências ao nível dos montantes.
Confrontado com o documento de fls 22 do apeso 12 (mapa apreendido num
computador da “Resin” – cfr. fls 7 do relatório referido, correspondente a fls 2291 dos
autos), o qual no seu verso tem aposta uma frase manuscrita (“recebemos e devolvemos
os valores de Norlabor e João Tello quase na integra”, referiu não ter assistido à
apreensão, tendo no entanto instruído os inspectores da PJ acerca dos documentos
contabilísticos que deveriam ser apreendidos.
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2º Juízo
Quanto aos supostos “retornos” para o chamado “saco azul”, partiu das
informações fornecidas pela investigação quanto às entregas em numerário pela “Resin”
(conforme consta do seu relatório).
Porém, não detectou nas contas e na caixa da “Norlabor” a saída de montantes
semelhantes ou iguais, pelo que não lhe foi possível fazer a ligação entre os pagamentos
efectuados pela CMF à “Norlabor” e as entregas para o “saco azul”.
Aquando da elaboração do seu relatório analisou o documento de fls 159 e estará
relacionada com a segunda entrega a 16.06.98, segundo depreende (o valor inicial
considerado – 7.000 cts – corresponde ao recibo do 2º pagamento pela CMF à
“Norlabor”, sendo certo que o montante líquido corresponde ao que de facto foi pago
pela mesma entidade, isto é, 6.633.334$00, depois de feitas as legais deduções –
33.343$00 + 333.333$00).
A referência nesse manuscrito a 800.000$00 (que não conseguiu explicar no
relatório) prender-se-á, ao que depreende, com o reembolso da diferença da taxa de IVA
(nas relações com a CMF foi de 5% por se tratar de uma empreitada, ao passo que entre
as empresas era de 17%, o que dá uma diferença de 12%).
Não consegue explicar as demais indicações contidas no manuscrito de fls 159.
Constatou-se que no manuscrito está aposta uma data de pagamento de cerca de
1 ano depois do 2º pagamento efectuado pela CMF à “Norlabor”.
Segundo o documento a entrega ao arguido Horácio ocorreu no dia 16.06.98,
sendo certo que o cheque emitido pela CMF a favor da “Norlabor data de 12.05.98 e o
depósito foi efectivado a 15.05.98.
Já o manuscrito de fls 163 estará relacionado com o 3º pagamento efectuado
pela CMF à “Norlabor”, efectuado a 21.10.98 (cfr. fls 162), segundo deduz (cfr. com
relevâcia o quadro de fls 22 e 22 verso do apenso 12). Constatou-se que 798.000$00
corresponde a 12% do valor da prestação em causa (7.000 cts) deduzida de 5% .
Nas contas que fazem os manuscritos referidos percorrem caminhos diferentes.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Foi então confrontado com o documento de fls 70 e 71, do apenso 95-A, datado
de 30.11.95, e nele reconheceu a assinatura da arguida Fátima Felgueiras (trata-se do
convite dirigido à “Resin”).
Não é normal que uma das empresas a convidar para o concurso indique outras
empresas concorrentes, mas sucede por vezes perguntarem a empreiteiros a indicação de
outras empresas com capacidade para executarem os trabalhos que estiverem em causa,
sobretudo se se tratarem de trabalhos muito específicos.
As propostas deveriam ser apresentadas até 18.12.95, conforme consta dos
convites, e o prazo de execução da obra era de 30 dias.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se quando o concurso foi aberto se
destinava ao pagamento de trabalhos já efectuados ou por fazer respondeu que não
controlava no terreno os trabalhos que iam sendo executados; em todo o caso, tem a
ideia de que alguns trabalhos já haviam sido realizados, pelo que pelo menos parte dos
trabalhos a que se reporta o concurso já estariam realizados (outros trabalhos porém
ainda não estariam realizados).
Confrontado com o manuscrito de fls 2275, do 10º volume, datado de 11.04.95,
nele reconheceu a letra da testemunha Terezinha, sendo certo que referiu não conhecer o
documento em causa. Em todo o caso, depois de o ter lido referiu que lhe parece não ter
qualquer relação com o concurso em causa. Referiu porém ignorar se a proposta nele
inserta de realização de um concurso se reporta ao concurso da “execução de
plataformas” (sendo certo que não tem conhecimento de outro concurso com essa
finalidade).
O depoente não fez a apreciação das propostas apresentadas, tendo a “Norlabor”
ganho o concurso, o que lhe causou estranheza dado o facto de ser a “Resin” quem
operava na lixeira (daí que pensou que esta iria vencer o concurso). Não sabe se falou
com alguém acerca desse assunto, designadamente com o arguido Barbieri Cardoso.
Ignora também se a “Norlabor” se associou ou não à “Resin” (na altura ignorava
que a “Resin” não dispunha de alvará que lhe permitisse sozinha realizar as obras
necessárias).
Fez o auto de medição de fls 119 do apenso 95-A (o auto de consignação consta
de fls 118 do apenso 95-A), não obstante não ser o depoente quem fazia a gestão dos
trabalhos que iam sendo executados no terreno. Aliás, não foi sequer à lixeira quando
fez o auto de medição (explicou que nem sempre vai ao local fazer os autos de
medição). Recorda-se que por curiosidade passou por lá três ou quatro vezes e constatou
que os trabalhos iam sendo executados.
Era o Eng. Leite quem fazia a gestão do lixo e deve ter sido ele quem reportou
ao arguido Barbieri que os trabalhos haviam sido executados.
Não foi elaborado o auto de recepção definitiva da obra porque não houve
iniciativa nesse sentido nem da dona da obra (CMF) nem do empreiteiro.
Porém, confrontado com o documento de fls 125 do apenso 95-A (trata-se de
uma informação feita pelo depoente e dá conta de um pedido de recepção definitiva da
obra pela “Norlabor” para permitir a libertação da caução prestada), esclareceu que a
“Norlabor” apenas pediu a libertação da garantia, tendo acrescentado na informação o
pedido de recepção definitiva da obra na medida em que se trata de um pressuposto
necessário à libertação da caução.
Nessa informação referiu que a execução da obra se prolongou para além dos 30
dias previstos (indicou o dia 06.05.96 como a data da conclusão da obra), o que não se
compagina com a data do auto de medição constante de fls 119 do apenso 95-A.
*
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2º Juízo
O arguido Barbieri Cardoso salientou que nunca foi chefe da testemunha José
António de Sousa Ferreira, chefiando antes um Departamento Técnico, do qual fazia
parte uma Divisão chefiada pela referida testemunha. Não obstante, não existia
propriamente com ele uma relação de subordinação.
Tem com ele uma relação de amizade pois trabalham juntos na CMF há mais de
20 anos.
A Divisão dessa testemunha era a responsável pelos concursos e pelo
acompanhamento das obras.
No concurso em causa neste ponto da pronúncia desde Abril que a testemunha
referida tinha conhecimento da sua realização, visto que o despacho do arguido Júlio
Faria a abrir o concurso é-lhe dirigido.
Ademais, a cabimentação orçamental tem de ir à Assembleia Municipal e pode
demorar meses a ser aprovada.
O Eng. José Ferreira tinha dificuldade em saber que firmas convidar, daí o fax
remetido pela “Resin” indicando as empresas a convidar (cfr. fls 301 do apenso 21).
O depoente tinha a ideia que a “Resin” não iria concorrer na medida em que não
dispunha de alvará (porém, na lista fornecida por ela, vem a mesma referida como
empresa a convidar).
De resto, não obstante lhe ter sido dirigido, o fax em causa pode nem sequer ter
chegado às mãos do depoente, pois não era responsável pelos concursos.
Seja como for, colaborou com a testemunha José Ferreira na elaboração do
concurso em causa.
Tal concurso serviu para regularizar o pagamento de obras já executadas.
Quanto ao auto de medição (cfr. documento de fls 119 do apenso 95-A), referiu
que foi elaborado na sequência de conversa com o depoente. Aliás, já explicou de que
forma se chegou à quantidade m3 ali referidos.
Ademais, o facto de não se ter ido ao local aquando da elaboração do auto de
medição prendeu-se em grande medida com o facto dos trabalhos à data já terem sido
executados.
*
- Testemunha Célia da Conceição Pacheco Lopes Martins
Referiu ter sido técnica de contas da “Norlabor” desde meados dos anos 90 até
2002.
Enquanto tal classificava e arquivava os documentos que lhe eram apresentados
e que se relacionavam com a contabilidade dessa empresa.
A PJ visitou duas vezes as instalações da “Norlabor” e pretendiam apreender
documentos relacionados com as relações estabelecidas entre essa empresa e a CMF.
Em face dos elementos de contabilidade que processou (facturas e recibos) acha
que a “Norlabor” prestou serviços para a CMF, mas não tem conhecimento pessoal
desse facto.
Como não se tratava da sua área de actividade, ignora se havia ou não na
“Norlabor” algum processo de obra relativa à lixeira de Sendim (não se recordando
mesmo se foi questionada acerca dele pela PJ aquando de uma das visitas às instalações
da “Norlabor”).
Falou com o Dr. Carlos Sousa (responsável da “Norlabor” e também sócio-
gerente da “Translousada”) acerca desse assunto.
Por norma deveria haver um processo de obra, o qual deveria estar na posse do
Eng. Barros (engenheiro responsável pela obra) ou no Departamento de Engenharia da
“Norlabor”.
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2º Juízo
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2º Juízo
sempre com ele a respeito deste assunto) no sentido de prestarem o respectivo auxílio
em ordem a que fossem ultrapassados os constrangimentos legais que impediam a CMF
de proceder aos pagamentos.
Para o efeito, foi-lhe dito que era necessário o lançamento de um concurso e que
para isso seria necessária a indicação de quatro ou cinco empresas a quem se iriam
endereçar convites (tratava-se de um concurso limitado).
Salientou que a “Translousada” tinha todo o interesse em manter com a “Resin”
as relações comerciais estabelecidas já que esta operava numa área de negócio que na
altura era nova (área do tratamento dos lixos).
Assim, o depoente contactou com a “Norlabor” (que tinha um sócio comum à
“Transloudada” – a testemunha Carlos Sousa), a qual aceitou ser incluída na lista de
empresas a enviar à CMF pela “Resin”, para que esta entretando remetesse depois os
respectivos convites.
Pese embora já não se recorde admite ser possível que tenha indicado outra
empresa para além da “Norlabor”.
Admitiu ainda conhecer a “Craveira” e manifestou então ter a ideia de que
contactou alguém da administração dessa empresa, já que sabia que ela tinha o alvará
necessário para que se pudesse apresentar a concurso em caso de convite.
A empresa ganhadora do concurso deveria fazer parte da lista a remeter à CMF
para que estivesse assegurado o encaminhamento para a “Resin” dos pagamentos que
iriam ser efectuados pela CMF. Tinham assim de ser convidadas empresas da confiança
da “Translousada” (a “Norlabor” era uma empresa de confiança porque tinha um sócio-
gerente comum, a testemunha Carlos Sousa).
Revelou que quando se indicaram as empresas a convidar ficou combinado que
seria a “Norlabor” a vencer, apresentando para o efeito o melhor preço (escudando-se
no facto de não ter acompanhado os pormenores desse acordo, referiu ignorar em
concreto que pessoas firmaram esse acordo).
Foi a “Resin” quem indicou os preços de cada uma das propostas apresentadas
(tem a ideia que foi a Engª Cláudia que os indicou ao depoente no que concerne às
propostas a apresentar pela “Translousada” e pela Norlabor”; pese embora sem tanta
assertividade, admite que também possa ter recebido a indicação do preço a apresentar
pela “Craveira”).
Foi o depoente quem posteriormente transmitiu essas indicações às empresas
referidas.
Por indicação da testemunha Carlos Sousa contactava o Engº Barros Sousa da
“Norlabor”.
No que concerne aos aspectos técnicos das propostas, cada empresa apresentou a
respectiva proposta conforme estava habituada a fazer.
Referiu porém que os técnicos da “Resin” deram orientações quanto a aspectos
técnicos específicos (seja como for, no anúncio do concurso constam os items a que
teriam de dar resposta).
Sabia assim de antemão que a “Norlabor” iria vencer o concurso.
Segundo lhe foi transmitido, a “Resin” não venceria o concurso porque não tinha
alvará (e nessa medida não iria concorrer).
Referiu que a “Translousada” concorreu consorciada com outra empresa (acha
que é possível que o tenha feito consorciada com a firma “Cunha Soares e Filhos, Ldª –
de que é o actual director comercial – por ter o alvará necessário. Tal empresa estava
porém mais vocacionada para a instalação de cabos de alta tenção ao passo que a
“Norlabor” estaria mais vocacionada para a área em questão, além de que a testemunha
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2º Juízo
Carlos Sousa era sócio gerente dessa empresa e da “Translousada, daí que fosse uma
empresa de confiança).
Tem a ideia que a CMF convidou assim a “Translousada”, a “Norlabor” e a
“Craveira” (cfr. os convites, constantes de fls 70 e 71 do apenso 95-A).
Salientou porém que, não obstante, os trabalhos já estavam executados e
reportavam-se a trabalhos levados a cabo pela “Resin” durante 6 meses na lixeira de
Sendim.
Referiu não se recordar do preço apresentado pela “Norlabor”, mas andaria na
casa dos 17 ou 18.000 cts (admite ser possível que rondasse os 19.000.000$00).
A “Norlabor” facturava os serviços prestados na lixeira à CMF (como se tivesse
executado a obra), a “Translousada” facturava os mesmos serviços à “Norlabor” (depois
de ver os documentos de fls 63 a 67 e 70 do apenso 97 corrigiu o seu depoimento e
reconheceu que a “Translousada” facturava à “Norlabor” o aluguer de máquinas, mas
exactamente no mesmo valor do débito da CMF, sendo certo que nenhuma máquina foi
alugada à “Norlabor” no âmbito daquela obra pois não foi executada por esta mas pela
“Resin”) e a “Resin” facturava à “Translousada” os serviços levados a cabo na lixeira de
Sendim (nas facturas respectivas, constantes de fls 161 a 167 do apenso 97 consta a
cedência de know how técnico; a testemunha confirmou serem as facturas em causa as
que foram emitidas pela “Resin”). Consequentemente, a CMF pagava esses serviços à
“Norlabor”, a qual por sua vez fazia chegar à “Translousada” esses pagamentos, os
quais por sua vez tinham como destino final a “Resin”.
Para o efeito, os cheques da CMF eram endossados à “Resin” ou as quantias por
eles tituladas eram depositadas e depois emitidos cheques da “Translousada”.
Se não lhe falha a memória, expressou a convicção de que os serviços foram
pagos em 3 ou 4 vezes.
No que respeita ao primeiro pagamento da “Norlabor” à “Translousada” referiu
que esta última depositou o cheque que recebera da CMF e um dos sócios (Eng. Barros
Sousa) emitiu um cheque pessoal à “Translousada” do valor correspondente (especulou
que tal se deveu ao facto da “Norlabor” ter sido pressionada a transferir de imediato o
pagamento que recebera da CMF, pelo que um dos seus sócios adiantou o dinheiro,
numa altura em que o pagamento pela CMF ainda não estaria disponibilizado).
Expressou ter a ideia de ter sido a “Norlabor” a levantar na CMF os pagamentos
respectivos, mas acerca desse facto não se mostrou muito assertivo.
Referiu que não foi exigida qualquer caução pelo dono da obra (CMF) pois já
estava executada.
O camião mencionado, segundo expressou sem grande assertividade, reporta-se
a outra obra e destinou-se ao transporte de resíduos.
Uma vez que a CMF atrasou-se nos pagamentos (segundo invocava por
dificuldades de ordem financeira) tentou-se diligenciar no sentido desses pagamentos
serem efectuados, razão pela qual o Dr. Carlos Sousa chegou a ter uma reunião na CMF,
ao qual o depoente não esteve presente. Ignora se nessa reunião participou alguém da
“Resin” ou da “Ecop”, embora admita tal possibilidade.
Não tem presente se nessa reunião se acordou numa caladarização dos
pagamentos, mas tem a ideia de que a CMF se comprometeu a ser mais célere nos
pagamentos.
Tem a ideia de uma dilação de cerca de 2 anos entre o primeiro e o último
pagamento, num total de três.
Uma vez que o dinheiro não pertencia à “Norlabor” esta empresa não
diligenciou pela obtenção do pagamento por parte da CMF.
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Recorda-se aliás que certa vez o Sr. Carlos Silva compareceu na “Norlabor” e
trazia um cheque da CMF referente a um dos pagamentos em causa, que o depoente, em
representação da “Norlabor”, endossou à “Translousada” (cfr. cheque de fls 1903 do 8º
volume, de 17.06.96.
De resto, era o Sr. Carlos Silva que entregava os recibos da “Norlabor” à CMF
contra o recebimento dos cheques desta.
Outro dos pagamentos efectuados pela CMF foi concretizado através do cheque
cuja cópia se acha a fls 1910 do 8º volume (ou fls 158 do apenso 95-A), de 12.05.98.
Não endossou esse cheque à “Translousada” na medida em que só ficaria
disponivel cerca de 5 dias depois, daí que tenha emitido um cheque pessoal naquele
valor, concordando assim em antecipar o pagamento à “Translousada” (cfr. o respectivo
depósito a fls 1912 dos autos), pois estavam “aflitos” para receber.
Por fim, o cheque de fls 1915 do 8º volume, datado de 08.10.98, no montante de
7.155.153$00, diz respeito ao terceiro e último pagamento efectuado pela CMF (cfr. o
depósito a fls 1917 dos autos).
Confrontado com o documento de fls 1906 do 8º volume (extracto de conta da
“Norlabor” relativo à CMF), referiu não saber explicar porque motivo o crédito que
detinham sobre a CMF foi considerado de cobrança duvidosa, deduzindo que se tratou
de algum arranjo contabilístico. Certo é que nada percebe de contabilidade e não deu
qualquer instrução para que se procedesse daquele modo.
Os documentos contabilísticos que justificaram os pagamentos da “Norlabor” à
“Translousada” são as facturas de fls 63 a 67 do apenso 97 emitidas por esta àquela
(reportam-se a aluguer de equipamento), sendo certo que, no que toca à obra em causa,
a “Translousada” não alugou qualquer equipamento à “Norlabor”. Tal pretexto foi a
justificação encontrada para os referidos pagamentos da “Norlabor” à “Translousada”.
No que toca a outras obras a “Translousada” chegou a alugar equipamento à
“Norlabor”, mas não na obra em causa (até porque a “Norlabor” nada executou na
mesma).
A propósito da “cedência” de alvarás de empresas que depois nada farão na obra
referiu que tal é prática corrente para que as empresas possam cumprir todas as
exigências dos concursos aos quais concorrem.
Não sabe que trabalhos foram executados no local pela “Translousada” mas
disseram-lhe que se tratou de movimentação de terras.
Quando passou pelo local viu uma placa que dizia “Resin”(empresa que aliás só
conhecia de nome) e viu equipamento sem identificação da empresa proprietária mas
que o Sr. Carlos Silva dizia ser da “Translousada”.
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Foi-lhe ainda dito que a CMF emitiu 3 ou 4 cheques e que a “Norlabor” tinha de
entregar as quantias recebidas à “Translousada”.
Não sabe se a testemunha Carlos Silva pediu à “Nrlabor” para insistir junto da
CMF pelos pagamentos.
A testemunha em causa foi então confrontada com os cheques emitidos pela
CMF à “Norlabor” e constantes de fls 1903 (datado de 17.06.96, no valor de
4.738.095$00), 1910 (datado de 12.05.98, no valor de 6.633.334$00) e 1915 (datado de
08.10.98, no valor de 7.155.153$00).
Em face da demora nos pagamentos ignora que atitude tomou a “Norlabor”,
designadamente a transferência do crédito em causa para a conta de clientes de cobrança
duvidosa, como resulta do documento de fls 1906 dos autos.
Em todo o caso referiu que sendo a CMF a devedora o crédito em princípio não
seria de cobrança duvidosa, sucedendo porém normalmente atrasos no seu cumprimeito.
Deduz que terá sido um arranjo contabilístico para efeitos fiscais.
Por outro lado, confrontado com a missiva de fls 293 do apenso 97, referiu que
deveria ter sido a “Translousada” que estaria por detrás da remessa dessa missiva da
“Norlabor” à CMF por causa do atraso nos pagamentos pois era ela quem estava
interessada no recebimento.
Normalmente a “Norlabor” depositava os cheques da CMF e emitiria cheques
seus à “Translousada”. Se chegou a endossar cheques da CMF fugiu à prática habitual
na empresa.
Não tem conhecimento de outras obras em Felgueiras da responsabilidade da
“Norlabor”, ainda que para a AMVS, conforme é referido no ponto 1.5.
Nunca existiu a percepção dos responsávies da “Norlabor” de que se estava a
cometer qualquer ilícito criminal.
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Foi então confrontada com a cópia da única factura emitida pela “Norlabor” no
âmbito do contrato referido, cuja cópia se acha por exemplo a fls 1891 do 8º volume (no
valor de 19.550.664$00, datada de 26.02.96 e reportada à execução de plataformas).
Referiu que essa factura lhe deve ter passado pelas mãos mas não se recorda
dela. Constata que tal factura não está visada (o documento em causa foi apreendido na
“Norlabor”). Também no respectivo original (constante de fls 199 do apenso 11) não
consta qualquer visto.
No que respeita ao primeiro pagamento a ordem de pagamento respectiva consta
de fls 1902, no valor de 4.738.095$00 (valor líquido depois de efectuadas as legais
retenções; o valor ilíquido é de 5.000 cts) e o cheque emitido pela CMF nesse valor
líquido, datado de 17.06.97 consta de fls 1903.
No que respeita ao segundo pagamento a ordem de pagamento consta de fls
1909 (no valor líquido 6.633.334$00) e o cheque emitido pela CMF nesse valor a
12.05.98 consta de fls 1910. O recibo de fls 1907 (igual ao que consta de fls 188 do
apenso 11, o qual só apresenta uma via), tem a indicação de anulado e depois a
indicação de que é válido, o que significa que terá sido entregue na CMF (no
documento de fls 200 do apenso 11 existem já 3 vias desse recibo).
No que concerne ao terceiro pagamento a respectiva ordem consta de fls 1914
(no valor líquido de 7.155.153$00, a que corresponde o valor ilíquido de 7.550.664$00)
e o cheque, datado de 08.10.98, consta de fls 1915, no valor de 7.155.153$00.
Os valores ilíquidos correspondem ao valor da factura apresentada pela
“Norlabor”.
Não se recorda se em face no atraso nos pagamentos a “Norlabor” tomou
alguma iniciativa em ordem a obter mais prontamente os pagamentos. Admite que possa
ter reclamado junto de si o respectivo pagamento.
Ignora se algum credor da CMF a colocou como cliente de cobrança duvidosa,
nunca tendo ouvido de quem quer que seja tal menção.
Confrontada com o documento de fls 1906 (extrato da conta-corrente entre a
“Norlabor” e a CMF, documento apreendido naquela e onde tal menção é feita), referiu
nunca o ter visto.
*
A propósito das declarações prestadas até ao momento pela testemunha
Terezinha o arguido Barbieri Cardoso refutou que tivesse estado presente na reunião
de 11.04.95, acima referida, pois tem a firme convicção de nela não ter participado.
Foi aliás o depoente quem entregou à PJ o manuscrito de fls 2275 e dele falou à
mesma entidade, sendo certo que nessa altura deu nota desse facto à testemunha
Terezinha, a qual lhe disse então não se recordar de nada. Entregou-lhe então cópia
desse documento.
Quanto ao seu conteúdo explicou que é difícil alterar o orçamento no que
concerne às despesas correntes, sendo mais fácil proceder alterações nas verbas adstritas
aos investimentos de capital, como por exemplo as empreitadas.
Além disso, se se considerasse a obra em causa como uma empreitada (e não
como uma mera prestação de serviços ou fornecimento) o IVA a liquidar seria menor.
Por outro lado, no orçamento, em face do equilíbrio orçamental que se exige, a
despesa não pode ser superior à receita.
*
A propósito das declarações acabadas de referir a testemunha Terezinha referiu
não se recordar do arguido Barbieri Cardoso lhe lhe ter fornecido uma cópia do
documento de fls 2275, pois só tem memória de o ter visto quando foi inquirida pela PJ.
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Não sabe se a “Norlabor” prestou ou não efectivos serviços à CMF. Não sabe
qual foi o destino final dos pagamentos efectuados a essa empresa.
Seja como for, a “Resin” procedia à recolha do lixo em Felgueiras e operava na
lixeira, não compreendendo por isso a que título a CMF procedeu a pagamentos à
“Norlabor”.
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2º Juízo
Sabe que essa empresa operou nas lixeiras de Lustosa e Penafiel. Não se recorda
porém se ela desenvolveu ou não alguma actividade na lixeira de Felgueiras, sendo
certo que se ela ali operou deverão existir facturas emitidas por essa empresa à
“Resin”.
A “Norlabor” fazia parte de um grupo de empresas de que a “Resin” se socorria
para a manutenção e encerramento de lixeiras, uma vez que não dispunha de alvará que
lhe permitisse executar essas obras.
Não tem qualquer ideia da “Norlabor” ter vencido qualquer concurso promovido
pela CMF relativamente à lixeira de Sendim.
De resto, a partir de Julho de 1997 Felgueiras passou-lhe ao lado, pois a partir
dessa altura foi o arguido Gabriel quem assumiu as funções de Director Geral da
“Resin” e tomou a seu cargo a responsabilidade pelo acompanhamento das obras que
iam sendo executadas em Felgueiras.
Referiu não ter conhecimento de alguma situação em que uma câmara municipal
tenha solicitado a um potencial concorrente para lhe indicar outros possíveis
concorrentes a um concurso limitado. Em todo o caso, tal é possível se se tratar de um
concurso promovido para regularizar situações passadas, circunstância em que terá de
existir um acordo entre todos.
Confrontado a propósito com o documento de fls 301 do apenso 21 (listagem de
empresas enviadas por fax pela “Resin” à CMF, à atenção do Director do Departamento
Técnico – o arguido Barbieri Cardoso -, fax esse assinado pelo arguido Vítor Borges,
indicando as seguintes empresas: “Resin”, “Translousada”, “Norlabor”, “Craveira” e
“Ecop”), referiu não se recordar desse documento; em todo o caso, disse ser provável
que na altura tinha tido conhecimento dele, visto ser na altura o responsável pelo
Departamento Técnico da “Resin”.
Tal documento relaciona-se com um concurso limitado promovido pela CMF,
em que são convidadas cinco empresas a apresentar as respectivas propostas (o número
legalmente estabelecido de empresas a convidar nesse tipo de concursos).
Terá pois havido concerteza um acordo entre a “Resin” e essas empresas,
tratando-se de um caso claro de uma tentativa de se encontrar uma forma de se justificar
pagamentos através do lançamento de um concurso limitado. Se esse concurso fosse
vencido por exemplo pela “Resin” estavam legalmente justificados os pagamentos
relativamente a trabalhos efectuados na lixeira.
Tal situação era aliás comum em todo o país (de modo a proceder-se ao
pagamento de trabalhos já efectuados).
Não tem conhecimento que o concurso em causa tenha sido vencido pela
“Norlabor”. Se tal aconteceu, tal situação poderá prender-se com o facto dessa empresa
dispor do alvará necessário (e a “Resin” não) para levar a cabo as obras necessárias na
lixeira de Sendim, de sorte que a “Resin” poderia, nessa hipótese, ter feito um acordo
com ela no sentido de que, vencendo essa empresa o dito concurso, faria chegar os
pagamentos à “Resin”, tratando-se assim a “Norlabor” de uma mera intermediária no
que toca ao recebimento dos pagamentos. Nesta hipótese, o concurso em causa poderia
destinar-se a dar cobertura legal a pagamentos necessários para que os trabalhos
prosseguissem.
Ainda a propósito do fax de fls 301 do apenso 12 referiu que era o arguido
Barbieri o elo de ligação da CMF com a “Resin”, daí que o fax seja dirigido ao Director
do Departamento Técnico da CMF.
Conheceu vagamente o Engº Ferreira da CMF, pois ele não era o intorlocutor da
“Resin” junto da CMF.
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2º Juízo
Não está a ver a arguida Fátima Felgueiras a assinar de cruz qualquer despacho
sem que previamente se informasse. Porém, no que diz respeito aos contratos celebrados
pela CMF, são os assessores jurídicos quem detêm o conhecimento dos respectivos
aspectos jurídicos.
Ignora se a arguida Fátima tomou ou não conhecimento do fax de fls 301 do
apenso 12.
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Análise crítica
Conforme emerge do documento de fls 142 e ss. do apenso 97 (documento
apreendido na “Resin”) a abertura do “concurso limitado” em causa foi igualmente
simulado (nos termos já referidos), pois na verdade tratou-se do estratagema encontrado
para pagar à “Resin” os trabalhos que esta realizou na lixeira de Sendim entre Fevereiro
de 1995 e Julho do mesmo ano (“3ª fase”), sendo certo que a forma encontrada para que
a “Resin” obtivesse o pagamento dos trabalhos realizados até Dezembro desse ano (“4ª
fase”) seria através do expediente mencionado a fls 144 do apenso 97, portanto, ainda
com recurso ao contrato de adjudicação em causa celebrado com a “Norlabor”,
designadamente pela existência de “trabalhos a mais”.
Isso mesmo aliás emerge de forma mais ou menos pacífica dos depoimentos
prestados (não totalmente coincidentes porém quanto ao período de trabalhos que foram
pagos através desse expediente), em especial dos arguidos envolvidos e dos
representantes da “Norlabor” e da “Translousada” (cfr. os depoimentos das testemunhas
Carlos Soares Silva, José António Brandão Barros Sousa, Adriano Ferreira e Carlos
Sousa).
Sinal dessa simulação (relativa) é ainda o facto de ter sido a “Resin” quem
remeteu à CMF a relação das empresas a convidar e de ter sido ela a destinatária final
dos três pagamentos efectuados pela autarquia felgueirense.
Consequentemente, os convites endereçados, as propostas apresentadas, a
respectiva abertura e análise tratou-se de um encadeado de actos combinados e
conformados numa espécie de concurso limitado em ordem ao desfecho que se viu,
culminando numa adjudicação de trabalhos que já se haviam realizado à data e no
almejado pagamento dos mesmos à “Resin”.
De facto, a “Norlabor”, por seu turno, nada fez na lixeira de Sendim (foi a
“Translousada” quem no terreno forneceu maquinaria com condutor - cfr com relevo o
depoimento da testemunha Mário Silva), como admitiram os seus então responsáveis
(de resto, o contrato foi assinado a 24.01.96 e a 26.02.96 foi emitida a respectiva factura
nº 427, elaborada pela testemunha Susana Alves, sinal evidente de que os trabalhos já
estariam realizados, visto que nesse curto período de tempo não seria possível executar
os trabalhos previstos no caderno de encargos).
301
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
De resto, curiosa foi a forma como foi assinado o auto de consignação da obra
(cfr. documento de fls 118 do apenso 95-A e o depoimento da testemunha José António
Brandão Barros Sousa).
O surgimento das empresas concorrentes (para além da “Resin”) tratou-se pois
de um mero favor, dadas as relações existentes entre umas e outras (referida na parte
introdutória da pronúncia) – cfr. os depoimentos prestados a esse propósito,
designadamente pelos responsáveis de algumas dessas empresas.
Note-se que essa solução terá sido engendrada na reunião ocorrida na CMF a
11.04.95 e a que o documento de fls 2275 do 10º volume faz alusão (trata-se de uma
informação elaborada pela testemunha Terezinha).
O documento em causa foi explicado de forma convicente pela testemunha
Terezinha, a qual foi muito assertiva na afirmação de que estiveram presentes na aludida
reunião as pessoas mencionadas na pronúncia.
Os arguidos Júlio e Barbieri Cardoso negaram porém terem estado presentes,
mas fizeram-no de forma pouco assertiva e estribados, “grosso modo”, no facto daquele
apontamento escrito da testemunha Terezinha ter sido dirigido ao presidente da
autarquia - o arguido Júlio Faria - e deste ter aposto um despacho de concordância,
mandando remeter cópia, designadamente, ao arguido Barbieri, o que na sua óptica não
faria sentido se eles tivessem estado presentes na dita reunião; a este argumento ripostou
porém a testemunha Terezinha, afirmando que tal não é necessariamente assim, pois
limitou-se a colocar por escrito o resumo do que nela foi discutido, sendo certo que essa
reunião ocorreu no gabinete da presidência, o que naturalmente pressupôs a presença do
presidente da edilidade, além de que a remessa de uma cópia dessa informação a cada
uma das pessoas mencionadas no despacho aposto pelo arguido Júlio Faria nada tem a
ver com o facto de terem estado presentes ou não nessa reunião; o arguido Vítor Borges
referiu, por seu turno, não se recordar quem esteve presente nessa reunião, não tendo
porém a ideia de ter estado nela com o arguido Barbieri pois não se discutiram ali
questões de ordem técnica. Ora, tratando-se de um assunto de suma importância, tendo
aliás chegado a “Resin” a ameaçar não continuar com o tratamento do lixo por falta de
pagamento, mal se compreenderia que o presidente da edilidade não estivesse presente
nessa reunião. Deu pois o Tribunal crédito ao depoimento da testemunha Terezinha,
sendo certo que não se vê por parte desta testemunha qualquer interesse em sustentar
uma posição que prejudica as posições assumidas pelos arguidos Júlio e Barbieri, tanto
mais que manifestou claro desconforto pelo facto de depôr como testemunha neste
julgamento, dada a circunstância de ser funcionária camarária e de algumas das suas
afirmações poderem prejudicar, designadamente, as posições de um ex-presidente da
CMF, da actual presidente da edilidade e de um colega de trabalho. Além disso, a
suposta ausência do arguido Barbieri coaduna-se mal com o facto de ter sido a ele quem
foi dirigida a relação das empresas a convidar para o dito concurso, conforme fax de fls
301 do apenso 21, sinal de que estava por dentro da maquinação em causa.
É certo que o arguido Barbieri referiu que não deve ter recebido o documento de
fls 301 do apenso 21 (pois não o despachou, além de que os serviços já estavam a contar
com a dita lista de empresas a convidar). Fê-lo porém sem assertividade e estribado
apenas no facto de não ter aposto qualquer despacho nesse documento.
Ora, o certo é que a testemunha José Ferreira referiu inicialmente que foi o
arguido Barbieri quem lhe forneceu essa lista para que o depoente elaborasse os
respectivos convites, acabando mais tarde por manifestar dúvidas acerca do facto desse
arguido ter recebido o fax de fls 301 do apenso 21 na medida em que mereceria por
parte dele um despacho.
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2º Juízo
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2º Juízo
pagamento, quanto aos três pagamentos efectuados pela CMF, quanto aos recibos
emitidos pela “Norlabor” e quanto ao circuíto do dinheiro até chegar à “Resin”,
passando pela “Translousada”, remete-se para os documentos mencionados na
pronúncia, para os depoimentos acima transcritos por súmula, em especial dos arguidos
Fátima Felgueiras, Vítor Borges, Barbieri Cardoso e Carlos Marinho, e das testemunhas
José Joaquim Mesquita Teixeira de Oliveira (em conjugação com os relatórios de fls
2285 e ss. e 4140 e ss.), Amadeu Fernando Costa Monteiro de Magalhães (que fez a
análise da factura nº 427 no relatório de fls 1893 e ss.), Carlos Soares Silva, Susana
Alves, José António Brandão Barros Sousa, Adriano Ferreira e Carlos Sousa.
Terá sido por alturas da reunião referida (em Abril de 1995) que os arguidos
Júlio Faria e Fátima Felgueiras, conluiados com o arguido Vítor Sousa, terão concebido
o plano que lhes permitiu obter o financiamento, designadamente das suas actividades
partidárias, aproveitando o lançamento do referido concurso limitado.
Esse facto decorre da circunstância da reunião onde foi decidida a abertura desse
concurso ter ocorrido em 11.04.95, de no âmbito do contrato celebrado entre a CMF e a
“Norlabor” terem existido dois “retornos” e de terem sido os ditos arguidos Júlio e
Fátima os beneficiários últimos de tal arrecadação de verbas.
Cerca de dois meses depois o arguido Júlio é convidado para integrar as listas do
PS às eleições legislativas e é pelo menos nessa altura que a arguida Fátima vê mais
próxima a expectativa de comandar os destinos da CMF e de naturalmente vir a
encabeçar a lista do PS à CMF nas eleições autárquicas que iriam ocorrer em Outubro
de 1997, factos que, com toda a naturalidade, se vieram a concretizar.
Acerca da suposta sobrevalorização dos trabalhos em ordem a permitir os
“retornos” e os recebimentos, mais à frente melhor explicitaremos a razão de ser da
convicção do Tribunal (sendo certo que, adiantámos já, da simples análise dos fluxos
financeiros não é possível tirar qualquer ilacção a esse propósito – cfr. os relatórios de
fls 1893 e ss., 2285 e ss. e 4140 e ss. -, de modo que então veremos se foram produzidos
outros meios de prova atendíveis que corroborem ou não a versão dos factos sustentada
na pronúncia, designadamente o mapa de fls 22 do apenso 12 e os documentos de fls
159 e 163 dos autos principais, em conjugação com as declarações prestadas a propósito
pelo arguido Horácio Costa, as quais, na óptica do Tribunal, podem e devem ser
valoradas – cfr. a este propósito a posição expressa pelo Tribunal na 75ª sessão da
audiência de julgamento, fls 13609 dos autos principais).
O crédito formalmente detido pela “Norlabor” sobre a CMF, antes da sua
liquidação total, foi considerado entretanto de cobrança duvidosa (cfr. a respectiva
conta-corrente e as declarações da testemunha Célia Martins).
A explicação dada pela testemunha Célia Martins não foi inteiramente
convincente, sendo certo que, tratando-se de facto de um crédito que a “Resin” detinha
sobre a CMF, percebe-se que nenhuma acção judicial tenha sido intentada de modo a
que coercivamente viesse a obter o respectivo pagamento, tanto mais que a “Resin”
viria a compensar-se através da empolação de valores no âmbito do concurso
internacional referido no ponto 1.5., conforme mais à frente iremos ver.
Concluiu em todo o caso o Tribunal que do ponto de vista contabilístico nenhum
óbice existe a que uma empresa que detenha um crédito sobre uma autarquia efectue a
provisão respectiva caso, por qualquer motivo atendível, venha a considerar de cobrança
duvidosa tal crédito; simplesmente, de tal operação não resultará qualquer benefício em
termos fiscais (cfr. o depoimento das testemunhas Lemolino Velosa, Rui Manuel
Correira de Pinho e Luís Esteves).
Por fim, tendo-se consorciado a “Resin” com a “Norlabor” (cfr., designadamente
o depoimento do arguido Vítor Borges e o respectivo contrato), ultrapassando-se dessa
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2º Juízo
forma a dificuldade daquela não dispôr de alvará, percebe-se que o facto dela não ter
afinal vencido o “concurso limitado” (chamemos-lhe assim) e de no circuito do dinheiro
se ter interposto a “Translousada”, só pode significar que se procurou deliberadamente
ocultar o “esquema” montado, sinal de que os seus mentores estavam perfeitamente
cientes da ilegalidade do procedimento adoptado.
Isto é, o facto do concurso limitado em causa ter sido vencido a “Norlabor” e de
no circuito do dinheiro se ter interposto a “Translousada”, inculca a ideia de que, de
facto, o esquema engendrado pelos arguidos Fátima Felgueiras, Júlio Faria e Vítor
Borges foi delineado de modo a esconder os “retornos”. Se assim não fosse, que
necessidade haveria de fazer vencer o dito concurso limitado pela “Norlabor” (a “Resin”
poderia perfeitamente ter vencido esse concurso, associada a uma empresa com o
necessário alvará, já que o objectivo primordial era o do pagamento dos serviços que
prestara na lixeira entre Fevereiro e Julho de 1995)? E que necessidade haveria de fazer
interpor a “Translousada” no circuito dos pagamentos efectuados pela CMF? Aliás, nos
procedimentos referidos nos autos, esse esquema de movimentação de verbas é mais
complexo nesta situação, o que por certo não terá sido por acaso (o próprio arguido
Barbieri mostrou-se surpreendido pelo facto da “Resin” não ter apresentado a proposta
com o preço mais baixo e assim não ter vencido o “concurso”, pois era ela quem
operava na lixeira de Sendim e o procedimento em causa destinava-se a pagar-lhe esses
trabalhos).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Ora, como não era opção a paragem dos trabalhos (já que a recolha e tratamento
do lixo era uma necessidade diária e inexistiam alternativas) e porque era premente a
resolução do problema (o que não se compadecia com o tempo necessário para
responder e pela concessão do visto, isto é, segundo calcula, cerca de 30 dias), optou-se
por não responder ao TC e pelo ajuste directo à “João Tello” de tais trabalhos
(formalizado a 10.09.96; cfr. fls 325 do apenso 98), não se recordando já das demais
opções que se chegaram a equacionar na altura, sendo certo que a “Resin” trabalhou no
local até à recusa do visto pelo TC, sem qualquer contratualização entre Janeiro e Abril
de 1996, serviços esses que teriam de ser pagos, daí a celebração com esta empresa do
contrato de transacção referido nos autos, a 20.09.96 (cfr. fls 314 do apenso 98).
Quanto ao documento de fls 255 do apenso 98, onde é feita a referência à
reunião de 04.09.96, pelas 17.30 horas, referiu ter sido a primeira vez que o viu,
parecendo-lhe no entanto que a letra é da Drª Fernanda Castro Leal e que no verso
reconhece a letra do arguido Barbieri Cardoso.
Em todo o caso, assegurou ignorar se naquela data as pessoas mencionadas na
pronúnica se reuniram ou não.
Quanto aos pagamentos efectuados à “Resin” no âmbito desse contrato de
transacção, referiu que as respectivas facturas não lhe chegavam às mãos, sendo os
serviços que controlavam o que devia ser pago, pelo que a depoente apenas se limitava a
assinar as respectivas ordens de pagamento.
Do mesmo modo se processavam os pagamentos à “João Tello”, admitindo que
os pagamentos sofreram atrasos, em face das disponibilidades financeiras da CMF.
Confirmou o teor do documento de fls 343 do apenso 98 (cfr. a missiva da “João
Tello” com a qual remete a factura nº 49, onde a arguida Fátima apôs um despacho
datado de 11.06.97, onde chamava a atenção para o términus do contrato e que a partir
daí seria de imputar ao aterro da Lustosa – selagem da lixeira de Sendim) e o teor da
comunicação à AMVS constante de fls 168 do apenso 21, de sorte que a facturação dos
serviços de selagem da lixeira de Sendim foram remetidas à AMVS (o que só ocorreu
com a construção do aterro de RIB do calçado).
Mais referiu ignorar se de facto a “João Tello” trabalhou ou não na lixeira de
Sendim, sendo certo que para a depoente só a “Resin” trabalhou no local.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
não foi o depoente quem enviou o fax em causa – como aliás se depreende do seu teor -,
sendo certo que a “Resin” alugava camiões para transporte de terra e gravilha,
necessária para a execução dos trabalhos (mormente para a cobertura do lixo), daí a
solicitação que efectuou à “Translousada” não obstante ela operar no terreno.
Confirmou a celebração a 24.04.96 do contrato com a CMF por ajuste directo,
nos termos descritos na pronúncia, e que o Tribunal de Contas recusou o visto, ao que
parece, pelo facto de não ter sido apresentado o alvará da “João Tello” (com quem
formalmente concorreu associada, pese embora esta empresa apenas tenha
“emprestado” o seu alvará) – cfr., em todo o caso, o teor dos documentos de fls 317 e
ss. do apenso 98 (contrato de adjudicação à “Resin”) e o teor de fls 219 a 222 do mesmo
apenso (apresentação do alvará da “João Tello” com a proposta).
Foi então chamado à CMF a fim de se resolver o problema, na medida em que,
em face da recusa do visto pelo T.C. as obras teriam de parar, o que na realidade nunca
chegou a suceder (visto que os lixos eram depositados diariamente), pelo que mais uma
vez foram prestados serviços pela “Resin” sem qualquer contratualização formal (cfr. o
documento de fls 255 do apenso 98, alusivo a essa reunião ocorrida a 04.09.96).
Para solucionar o impasse equacionaram-se várias hipóteses, tendo-se optado
pelo ajuste directo à “João Tello” dos trabalhos mencionados na proposta apresentada
formalmente por ela e pela “Resin” (afastou-se a possibilidade de se adjudicar os
trabalhos ao segundo classificado por ter uma proposta mais onerosa para a CMF).
Seja como for, não obstante, a “João Tello” nada fez no terreno, pois, como
disse, essa empresa apenas “emprestou” o seu alvará (tal empresa tinha sido aliás
indicada pela “Translousada”. Do mesmo modo, a “Craveira” foi também indicada por
aquela).
Subsistia porém o problema do pagamento dos trabalhos efectuados pela
“Resin” entre Janeiro e Agosto de 1996, isto é, entre a data da celebração do contrato
referido no ponto 1.3. entre a CMF e a “Norlabor” (a 24.01.96) e a recusa do visto pelo
TC (comunicada à autarquia no dia 23.08.96).
Consequentemente, foi celebrado o contrato de transacção cuja cópia se acha a
fls 314 e ss. do apenso 98, onde se constata que o valor ali encontrado corresponde ao
preço praticado pela “Resin” referente a 4 meses e 10 dias (a 2.800.000$00 por mês +
IVA).
Pese embora formalmente tivesse sido expresso nesse documento que se
destinavam a pagar os trabalhos efectuados entre 25.04.96 (dia seguinte ao da
adjudicação) e a data cessação dos trabalhos na sequência da recusa do visto pelo TC,
certo é que tal paragem nunca ocorreu.
O montante ali em causa terá sido pago (tem quase a certeza desse facto,
segundo expressou – cfr. a factura de fls 320 do apenso 98, datada de 30.09.96, e o
recibo de fls 321 do mesmo apenso, datado de 16.01.97).
Confirmou a celebração do contrato a que se reporta o documento de fls 325 e
326. do apenso 98 entre a CMF e a “João Tello” (o valor de 16.800.000$00 + IVA
corresponde a 6 meses de trabalho a 2.800.000$00 + IVA).
Confirmou que a “João Tello” recebeu os valores acordados e fê-los chegar à
“Resin”.
Explicou ainda que a selagem da lixeira de Sendim estava incluída no concurso
a fundos comunitários para a construção do aterro de Felgueiras, pelo que a partir do
momento em que no âmbito do concurso internacional lançado para o efeito ganhou a
proposta apresentada pela “Resin/Sita/ECOP” a arguida Fátima Felgueiras deu
instruções para que a facturação fosse emitida em nome da AMVS (cfr. documento de
fls 168 do apenso 21).
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2º Juízo
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2º Juízo
empreitada respectivo apenas ter sido validamente celebrado entre a CMF e a “João
Tello”, empresa que, segundo referiu, nada fez na lixeira de Sendim).
Além disso, confirmou os seguintes pagamentos à “Resin”:
- cheque da CMF de 12.12.97, endossado pela “João Tello” à “Resin”, constante
de fls 2450 do 10º volume, tendo sido emitido a 15.12.97 (data do endosso) o respectivo
recibo no valor de 9.472.400$00, constante de fls 241 do apenso 97, montante esse que
serviu para pagar a factura nº 97009, de 14.01.97, constante de fls 237 do apenso 97, e
parte da factura nº 970021, de 31.01.97 – 1.610.000$00 -, constante de fls 238-A do
apenso 97 (cfr. ainda o talão de depósito na conta da “Resin” de fls 242 do apenso 97 e
a ordem de pagamento da CMF a favor da “João Tello” a fls 327 do apenso 97, no valor
de 9.996.000$00, o que perfez o valor líquido de 9.472.400$00 após as legais
retenções);
- cheque da CMF de 09.02.97, endossado pela “João Tello” à “Resin”, constante
de fls 2451 do 10º volume, no montante de 7.253.077$00 (cfr. a guia de pagamento da
CMF, constante de fls 246 do apenso 97. O valor referido é o valor líquido após as
legais retenções, sendo pois o valor ilíquido de 7.288.615$00), tendo sido emitido o
respectivo recibo pela “Resin” à “João Tello”, conforme fls 245 do apenso 97 (cfr. ainda
o talão de depósito na conta da “Resin” constante de fls 244 do apenso 97). Tal quantia
destinou-se a liquidar o remanescente da factura nº 970021, de 31.01.97, constante de
fls 238-A do apenso 97 (1.666.000$00), a totalidade da factura nº 9700218, de 28.02.97,
no montante de 3.276.000$00 (cfr. fls 238 do apenso 97) e parte da factura nº 9700349,
de 31.03.97 (2.346.615$00), constante de fls 239 do apenso 97.
Deu a mesma explicação que já havia dado relativamente à “Translousada” para
o facto desta última factura não ter sido integralmente liquidada pela “João Tello”
(diferença da taxa de IVA).
Nega também qualquer sobreavaliação do preço da empreitada.
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2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
No auto de recepção definitiva da obra (cfr. fls 311 do apenso 98) não consta a
assinatura do representante legal da “João Tello” (só foi assinado pelo Eng. Ferreira).
Sem essa assinatura não é possível o levantamento da garantia bancária, razão
pela qual se remeteu uma missiva à “João Tello” para regularizar a situação (cfr.
documento de fls 310 do apenso 98, datado de 24.03.98). Ignora se entretanto a situação
foi ou não regularizada. Ignora as razões pelas quais existiam dificuldades no contacto
com a “João Tello” e não sabe em que data essa empresa cessou a sua actividade.
De resto, como prova de que a “Resin” operava no local, juntou os seguintes
documentos: fotos; um fax da “Resin” à CMF, datado de 22.05.96, dando conta de um
incêndio na lixeira e que a arguida Fátima Felgueiras despachou no mesmo dia; um fax
da “Resin” dirigido ao depoente, datado de 15.04.97, a dar conta da tonelagem
depositada e dos m3 ocupados, bem como a estimativa de ocupação e a solução técnica
a ser adoptada de entre duas hipóteses apontadas; fax de 17.06.96 do Director da
Direcção Regional do Ambiente e Recursos Naturais do Norte para o Eng. Ferreira
Leite acerca da localização de um aterro intermunicipal para a indústria do calçado em
Felgueiras.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Explicou que o concurso em causa foi realizado para garantir a continuidade dos
trabalhos na lixeira de Sendim na medida em que o aterro sanitário da Lustosa
(concelho de Lousada) não foi concluído no prazo previsto.
Tem a ideia que a “João Tello” concorreu associada com a “Resin” mas o TC
não concedeu o necessário visto, tendo-se então optado por fazer um ajuste directo à
“João Tello”, empresa que aliás o depoente não conhecia.
Perguntado acerca do seu conhecimento no que respeita à “Translousada” referiu
saber que se tratava de uma empresa que possuía maquinaria pesada e que mais tarde
também concorreu a concursos abertos a propósito de outras obras.
Reafirmou que era a “Resin” quem operava na lixeira de Sendim, ainda que se
pudesse socorrer de máquinas de outras empresas (conheceu aliás um seu encarregado
que ali prestava serviço em permanência).
Sabe que essa empresa não dispunha de maquinaria pesada na medida em que as
suas viaturas (carros do lixo e carrinhas) estavam identificadas com o logotipo da
“Resin”, tendo observado na lixeira maquinaria pesada a operar e que não faziam
qualquer referência à empresa a que pertenciam, presumindo assim que não pertenciam
à “Resin”. Reconheceu porém que não conhece o seu parque de máquinas.
A esse propósito foi confrontado com o doc. de fls 242 do apenso 21 (missiva da
“Resin” dirigida à CMF, datada de 30.07.96, dando conta da dificuldade de um seu
subempreiteiro em executar o serviço de máquinas no aterro de Sendim por falta de
pagamento ao mesmo subempreiteiro, na medida em que a “Resin” também não recebia
da CMF).
De resto, recorda-se que a lixeira já era em Sendim quando em foi trabalhar para
a CMF (em 1983/84) e quando a “Resin” começou a trabalhar no local a situação
modificou-se radicalmente, pois foram executadas plataformas para a correcta
deposição do lixo.
Até o lixo ser levado para o aterro intermunicipal da Lustosa a “Resin”
permaneceu no local.
Foi confrontado com o fax de fls 286 do apenso 98, remetido a 04.10.96 pela
“Translousada” à CMF, ao cuidado da testemunha Fernanda Leal, e acompanhada de
fotocópia dos BI dos sócios da “João Tello”.
Foi ainda confrontado com o fax de fls 292 do apenso 98, remetido pela
“Translousada” à CMF, ao cuidado da testemunha Fernanda Leal, com o qual envia
cópia do seguro-caução da “João Tello”.
Em face de tais documentos presume que os documentos em causa tenham sido
solicitados pela testemunha Fernanda Castro Leal, pois é ela quem faz os contactos com
os empreiteiros.
De resto, como o visto pelo TC foi recusado competia à “parte juridica” da CMF
encontrar soluções alternativas.
Foi então confrontado com o documento de fls 255 do apenso 98, datado de
04.09.96, onde reconheceu a letra da testemunha Fernanda Leal e no verso a letra do
arguido Barbieri Cardoso.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Conhece o arguido Vítor Borges há cerca de 5 anos, com quem travou amizade,
na sequência do facto do seu filho ter tido uma relação de namoro com a filha do dito
arguido.
Conhecia a “Norlabor” só de nome.
A “João Tello” construía escolas e a partir de certa altura, nos anos 80,
começaram a exigir nos concursos a apresentação de alvará de electricidade, que não
tinha, tendo-lhes então sido indicado que a “Norlabor” possuía esse tipo de alvará e que
o podia “emprestar”, o que veio a suceder 3 ou 4 vezes.
É aliás prática corrente as empresas emprestarem os alvarás umas às outras.
Muitos anos depois, talvez em 1996, recebeu um telefonema do chefe de
escritório da “João Tello”, o qual lhe transmitiu que um responsável da “Norlabor” tinha
pedido para que aquela firma (“João Tello”) “emprestasse” o seu alvará, pedido a que
acedeu.
Um pouco mais tarde o seu sócio (a testemunha José Miguel Santos Vieira
Neves) disse-lhe que teriam de se deslocar à CMF para assinarem o contrato de
empreitada relativamente ao qual haviam cedido o respectivo alvará (já que a “João
Tello” só se obrigava com a assinatura de ambos; não se recorda se quando esteve na
Alemanha, em 1996, deixou-lhe ou não alguma procuração que lhe permitisse obrigar
sozinho a “João Tello”).
Assim, alguns dias depois deslocaram-se ambos à CMF onde, em representação
da “João Tello”, assinaram o contrato cuja cópia se acha a fls 325 e 326 do apenso 98
(onde reconheceu a sua assinatura e a assinatura da testemunha José Miguel Neves).
Na escadaria do edifício da CMF cruzaram-se com um indivíduo que, segundo
pensa, seria representante da “Norlabor” (não o pode porém garantir).
Referiu que não foi a “João Tello” que tratou do expediente que levou à
celebração daquele contrato com a CMF, sendo certo que o depoente e o seu então sócio
limitaram-se a deslocar à CMF e a assinar o dito contrato.
Nas declarações da “João Tello” anexas ao contrato e constantes de fls 220 e 221
do apenso 98 parece-lhe reconhecer a sua assinatura.
Não obstante a celebração do dito contrato com a CMF, certo é que a “João
Tello” nenhuma obra executou, além de que não tinha capacidade a nível de maquinaria
para executar as obras em causa.
Esclarece que nessa altura ainda não conhecia o arguido Vítor Borges (o que só
viria a suceder em 2001 ou 2002 no contexto já referido), nem as firmas “Resin” e
“Translousada”.
Não conhece igualmente a testemunha Carlos Silva nem os arguidos Carlos
Marinho e Gabriel Almeida.
Afirmou nunca ter visto as facturas de fls 330, 331, 340, 342 e 344 do apenso
98, nem reconhece a assinatura nelas aposta.
O Sr. José António era o responsável de escritório da “João Tello” e a assinatura
não é a dele; tão pouco é a sua ou a do seu então sócio (cfr. porém as declarações da
testemunha José António Araújo Pereira).
No que respeita ao recibo de fls 328 do apenso 98 alegadamente passado pela
“João Tello” à CMF e respeitante ao pagamento das facturas de fls 330 e 331 do apenso
98, assegurou que, apesar de ali constar como sendo a sua assinatura, não assinou tal
documento.
No que respeita ao auto de recepção definitiva da obra, constante de fls 311 do
apenso 98, nega que tenha estado presente, ao contrário do que ali é afirmado. Ignora se
o seu então sócio esteve ou não presente.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
No que respeita à missiva de fls 307 do apenso 98 (onde a “João Tello” pede à
CMF a libertação dos 5% legalmente retidos) referiu que não assinou tal documento
nem o carimbo nele aposto pertencia à “João Tello”.
Aliás, a “João Tello” só usava um carimbo (sendo certo que em vários
documentos estão apostos carimbos diferentes alegadamente da “João Tello”).
De resto, também no documento de fls 330 do apenso 98, segundo lhe parece, o
carimbo ali aposto também não pertencia à “João Tello” .
Ignora quem forjou os carimbos e os apôs naqueles documentos.
Confrontado com cópia do cheque de fls 2450 (cheque emitido pela CMF à
“João Tello” no valor de 9.472.400$00, alegadamente endossado por esta à “Resin”
através da assinatura do depoente em representação da firma de que era sócio-gerente)
assegurou que não assinou o endosso à “Resin”, o qual é assim forjado, ignorando quem
foi o autor de tal falsificação.
O mesmo se diga no que respeita ao cheque de fls 2451, emitido pela CMF à
“João Tello” no valor de 7.253.077$00, pois também aqui a sua assinatura foi forjada no
local respeitante ao endosso à “Resin”.
Foi confrontado com a proposta da “Resin” de fls 107 do apenso 98, referindo
desconhecer a assinatura nele aposta (tal assinatura pertence ao arguido Vítor Borges).
No que respeita à declaração da “João Tello” constante de fls 115 do apenso 98,
supõe que a respectiva assinatura seja do seu então sócio.
O mesmo se diga no que respeita ao documento de fls 116 do apenso 98
(esclareceu que na altura se encontrava na Alemanha e que o seu sócio se encontrava
em Portugal).
Confirmou que o documento de fls 117 do apenso 98 é o alvará da “João Tello”.
Não tem conhecimento das circunstâncias que levaram ao ajuste directo à “João
Tello”.
Confrontado com o documento de fls 286 do apenso 98 (é a “Translousada” que
envia à CMF cópia dos BI dos sócios da “João Tello”) referiu ignorar porque motivo foi
essa firma a remeter a cópia dos referidos BI já que não conhece tal firma.
Da mesma forma não sabe explicar porque razão foi a “Translousada” a remeter
à CMF cópia do seguro-caução da “João Tello”, conforme emerge do documento de fls
292 do apenso 98.
Não tem memória da “Norlabor” ter pedido uma segunda vez por “empréstimo”
o alvará da “João Tello”; em todo o caso era frequente deixar folhas em branco
assinadas, a que o responsável pelo escritório tinha acesso, sendo certo que só com o
uso de uma dessas folhas admite que o alvará da “João Tello” possa ter sido usado uma
outra vez pela “Norlabor”. Reafirmou porém que com o seu conhecimento só se
efectuou um “empréstimo”.
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2º Juízo
Ou pelo arguido Vítor Borges ou por alguém a mando dele foi-lhe dito que seria
necessário a CMF abrir novo concurso (por razões idênticas ao referido anteriormente,
isto é, para que a CMF pudesse pagar os serviços já efectuados na lixeira de Sendim).
Foi o consórcio “Resin”/”João Tello” que venceu esse concurso, pois apresentou
o preço mais baixo.
Aliás, os preços a apresentados foram combinados de modo a que a
“Resin”/”João Tello” vencesse o concurso.
Disse ter sido abordado para indicar outra empresa que não a “Norlabor”, tendo
sido então indicada a firma “João Tello”, que aliás não conhecia e que lhe foi
apresentada pela testemunha Barros Sousa, sócio da “Norlabor”. O depoente limitou-se
então a apresentar à “Resin” essa empresa.
Ignora se o visto pelo TC foi ou não recusando, sabendo apenas que a “João
Tello” celebrou com a CMF o respectivo contrato de empreitada.
Confrontado com o fax de fls 286 do apenso 98 (documento da “Translousada”
com o qual se remeteu à CMF cópia do BI dos sócios-gerentes da “João Tello”) referiu
que o mesmo não está assinado pela gerência dessa empresa (talvez tenha sido assinado
por um funcionário administrativo dessa firma, segundo hipotisou).
A mesma posição adoptou em relação ao fax de fls 292 do apenso 98 (com o
qual se remeteu cópia do seguro-caução da “João Tello” à CMF).
Explica o facto de ter sido a “Translousada” a remeter elementos da “João
Tello” à CMF com a circunstância desta última estar interessada em fidelizar a “Resin”
como cliente, além de que em princípio só receberia na medida em que a “Resin”
também recebesse, daí estar disponível para prestar a sua colaboração. Existiram porém
situações em que a “Resin” pagou à “Translousada” ou emitiu letras antes de receber os
pagamentos da CMF.
De resto, esses elementos foram pedidos pela “Translousada” junto da
testemunha Barros Sousa, que foi quem lhes indicou essa empresa.
Não foi a “João Tello” a remeter esses documentos pois ela apenas estava a fazer
um favor, não sendo na verdade parte interessada no concurso em causa, apesar de
formalmente lhe terem sido adjudicados os trabalhos.
Referiu que a “Translousada” foi subempreiteira da “Resin” entre 1994 e
1998/99.
Salientou que nenhum prejuízo sofreu a CMF na medida em que pagou os
serviços que foram efectivamente realizados, sendo certo que os preços praticados
mantiveram-se nos dois concursos referidos nos pontos 1.3 e 1.4.
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2º Juízo
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2º Juízo
assim como o carimbo da mesma, o qual aliás se mostra assinado por um dos gerentes
de então.
Esclareceu que nunca teve qualquer contacto com quem quer que seja da
“Resin” e ficou surpreendido pela emissão dos cheques de fls 2450 e 2451 pela CMF,
dos quais só ouviu falar na fase de inquérito deste processo.
Por outro lado não tem presente na sua memória os documentos de fls 237 a 240
do apenso 97 (facturas emitidas pela “Resin” à “João Tello”), não tendo qualquer ideia
de lhe terem passado pelas mãos.
Por outro lado, os recibos emitidos pela “Resin” à “João Tello” foram-no numa
altura em que esta já tinha encerrado a sua actividade (cfr. documentos de fls 241 e 245
do apenso 97), pelo que nunca lhe passaram pelas mãos.
Confrontado com o documento de fls 97 do apenso 97 (missiva de Outubro de
1996 enviada pela “Translousada” à CMF remetendo cópia dos BI dos gerentes da
“João Tello”), referiu desconhecer porque razão foi a “Translousada” a remeter aqueles
elementos à CMF. Como já referiu, essa empresa nada lhe diz. Em todo o caso, deve ter
sido algum funcionário administrativo da “João Tello” quem por fax remeteu à
“Translousada” aqueles documentos (ou a outra entidade), que por sua vez os terá
remetido à CMF.
Com a “Norlabor” o depoente contactava com um indivíduo do sexo masculino
cujo nome não se recorda (terá sido a testemunha Carlos Silva).
Depois da declaração de falência a respectiva massa foi gerida por um
administrador nomeado judicialmente e não sabe o que ele fez (designadamente se
emitiu algum dos documentos atribuídos à “João Tello” já depois de ter fechado portas).
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2º Juízo
tem a percepção da existência dela pelo facto de ter concorrido a concursos abertos pela
CMF.
Não tem memória de ter falado com quem quer que seja da “Translousada”,
designadamente com o Sr. Carlos Silva, acerca dos supra referidos elementos da “João
Tello”
Não sabe se a “João Tello” fez alguma coisa no local.
Os engenheiros da CMF é que têm por missão fiscalizar o andamento das obras
e proceder a autos de medição.
Quanto ao pagamento do visto explicou que o TC remete a guia respectiva, o
empreiteiro é notificado para a pagar e depois a CMF remete ao TC o comprovativo do
pagamento.
Em face do documento de fls 226 do apenso 97 verifica-se que foi a “Resin” a
pagar o visto, ignorando porque motivo foi essa empresa a liquidar essa despesa e não a
“João Tello”.
*
A propósito das declarações prestadas pela testemunha Maria Fernanda Dá
Mesquita Castro Leal o arguido Barbieri Cardoso referiu que a decisão política do
arguido Júlio Faria foi no sentido da “Resin” permanecer a operar na lixeira após a
missão de reabilitação da mesma, o que criou embaraços jurídico-financeiros aos
serviços.
Refuta que a testemunha Fernanda Leal apenas tivesse conhecimento da “Resin”
após a mesma ter apresentado propostas nos concursos, pois antes disso ela teve de
tomar conhecimento de que a “Resin” operava no local, já que as facturas apresentadas
pela “Resin” à CMF, constantes de fls 12320 e ss. – e que foram devolvidas – foram
despachadas pelo arguido Júlio Faria à testemunha em causa, a qual também nelas
apunha um despacho. Consequentemente, ela teve comhecimento que a “Resin” operava
na lixeira antes de ter sido lançado qualquer concurso.
Aliás, tais facturas eram acompanhadas de uma missiva por parte da “Resin”, o
que sucedeu durante cerca de um ano.
*
A testemunha Fernanda Leal, porém, manteve o seu depoimento, reafirmando
que só se lembra da “Resin” dos concursos.
Os despachos referidos pelo arguido Barbieri Cardoso são de mero expediente,
onde se limitava a mandar remeter as facturas em causa ao serviço respectivo, sendo
certo que por dia despacha “montes” de facturas. Aliás, não tem qualquer ideia das
facturas de fls 12320 e ss. Porém, confrontada com os documentos em causa, confirma
que despachou nas missivas de envio de cada uma dessas facturas, mas não se recorda
de lhes ter aposto os despachos em causa, já que por dia despacha inúmeros papéis e a
sua intervenção foi secundária, já que não lhe cabia sequer fiscalizar o pagamento
dessas facturas.
De resto, o arguido Júlio Faria nunca lhe pediu qualquer parecer jurídico acerca
da problemática do pagamento à “Resin”.
*
A este propósito a arguida Fátima Felgueiras, referiu que uma vez que inexistia
suporte legal para que a CMF pagasse as facturas da “Resin” juntas a estes autos pelo
arguido Carlos Marinho (cfr. fls 12320 e ss.), concerteza que a testemunha Terezinha
colocou o problema à testemunha Fernanda Leal, até porque as mesmas acabariam por
ser devolvidas.
Aliás, acha estranho que a testemunha Fernanda Leal não se lembre da “Resin”
antes desta concorrer ao concurso a que se reporta o ponto 1.4. da pronúncia, pois
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2º Juízo
ameaçava deixar de prosseguir com os trabalhos na lixeira caso esses trabalhos não lhe
fossem pagos (o que na altura não poderia ser efectuado por falta de suporte legal, como
disse), problemática que foi abordada em todas as reuniões de coordenação de serviços.
*
A testemunha Fernanda Leal, porém, manteve a sua versão dos factos, pois não
se recorda desses assuntos (que se prendem com a “Resin”) terem sido abordados em
reuniões de vereação (ou reuniões de coordenação, designação mais recente mas que
tem o mesmo significado) a que tenha assistido.
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2º Juízo
aquando das suas declarações à PJ tinha a memória mais fresca, daí que as declarações
que então prestou sejam mais credíveis.
*
Por sua vez o arguido Júlio Faria reafirmou a importância do problema de
recolha do lixo e seu tratamento, razão pela qual essa problemática foi suficientemente
ventilada na altura.
A responsabilidade política era sua.
Consequentemente, seguramente que deu instruções ao Departamento de
Contabilidade para que as facturas em causa aguardassem uma solução para que a
“Resin” pudesse ser paga pelos serviços que prestava.
O Departamento Técnico e o arguido Barbieri Cardoso apenas tinham de se
preocupar com a aposição do visto nas facturas se estivessem em conformidade com os
trabalhos executados (não foi essa, como vimos, a posição do arguido Barbieri, pois
apenas invocou a falta de suporte legal para o pagamento para a recusa do visto).
*
- Testemunha Luís Vieira Lemolino Velosa
Relativamente à conta nº 211102, apresentando um saldo de 2.894.985$00, a
que se reporta o documento de fls 201 do apenso 97 (diz respeito à “João Tello”),
referiu que também foi considerado esse montante de cobrança duvidosa, constituindo-
se a respectiva provisão.
O somatório dos montantes em dívida relativos à testemunha Menezes Basto
(24.187.400$00), à “Translousada” (1.129.418$00) e à “João Tello” (2.894.985$00)
prefaz 28.211.803$00, valor que coincide com o valor da provisão constituída
relativamente aos créditos de cobrança duvidosa.
Referiu que apenas tomou conhecimento da “Translousada” e da “João Tello”
por serem clientes da “Resin”.
Pensa que terá sido o chefe da contabilidade da “Resin” quem terá aposto as
anotações manuscritas no documento de fls 199 do apenso 97 (arguido Carlos Marinho),
mas não reconhece a respectiva letra.
Em face dos elementos que consultou revelou que o volume de negócios da
“Resin” (volume facturado) em 1997 foi de 1.467.824.000$00, tendo sido apurado um
lucro de 15.604.781$00.
Explicou que era também revisor oficial de contas noutras empresas, algumas
das quais com maior volume de facturação.
Não considera problemática para a “Resin” a diferença de 20.000.000$00 entre
as projecções de lucro e o lucro efectivamente obtido no ano de 1997. Uma falha de
previsão nessa ordem de grandeza não é significativa numa empresa que teve um
volume de negócios na ordem do milhão e meio de contos, não sendo habitual a
emissão de uma factura no final do ano para cobrir essa diferença (não se factura o que
se quer mas o que se pode). Em todo o caso, se dissessem respeito a trabalhos
efectuados pela “Resin” não vê razões para a sua não emissão. A antecipação de
facturas porém não é um procedimento normal. O orçamento é uma mera previsão (um
instrumento de previsão do exercício), havendo que verificar por que motivo não se
atingiu a meta delineada e quem é o responsável.
Acabou por referir que se as metas estipuladas forem rigorosas, uma diferença
de 20.000 cts já pode ter algum significado. A cobrança de qualquer factura é
importante para a obtenção dos resultados do exercício.
Explicou que não tinha acesso às contas particulares dos sócios da “Resin”, mas
na contabilidade haviam contas atribuídas aos sócios (contas de suprimento).
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Análise crítica
Antes de mais, cabe referir que a adjudicação da empreitada de “exploração e
manutenção do aterro de Felgueiras” foi efectuada através de ajuste directo e não
através de um qualquer concurso público, conforme certamente por lapso emerge da
pronúncia.
O arguido Barbieri Cardoso referiu que a decisão de se proceder ao ajuste
directo em causa foi tomada pela arguida Fátima Felgueiras e que surgiu sensivelmente
ao mesmo tempo que a decisão de realização do concurso limitado a que respeita o
ponto 1.3 da pronúncia (logo, por alturas de Abril de 1995, numa altura em que ainda
era presidente da autarquia o arguido Júlio Faria. Aliás, ainda segundo o arguido
Barbieri, a decisão política da “Resin” permanecer na lixeira após a missão de
reabilitação foi tomada pelo arguido Júlio Faria, facto que este confirmou, o que
provocou embaraços jurídico-financeiros aos serviços camarários pelos motivos já
referidos).
Depreende-se assim que se tratam ambos de expedientes que visaram pagar à
“Resin” os trabalhos efectuados ou que entretanto esta houvesse de efectuar, já que a
deposição dos resíduos era diária e nunca parou, conforme parece ter resultado de forma
pacífica do depoimento de quem revelou conhecimento de causa acerca dessa
factualidade.
A ideia seria assim encontrar cobertura legal que permitisse à CMF pagar à
“Resin” tais trabalhos até ao momento em que essa responsabilidade passasse para a
AMVS, o que sucederia com a selagem da lixeira da Lustosa (cfr. o despacho de
11.06.97, manuscrito pela arguida Fátima Felgueiras na missiva remetida pela “João
Tello” à CMF e que acompanhou a factura nº 49 – cfr. fls 343 do apenso 98; cfr. ainda a
comunicação da CMF à AMVS de fls 168 do apenso 21, a missiva da “Resin” para a
CMF de fls 20 e 21 do apenso 12 e ainda o quadro de fls 22 do mesmo apenso).
Não foi posto em causa que a CMF endereçou os convites referidos na
pronúncia e que foram apresentadas as propostas pelas firmas ali referidas (cfr.fls 210 e
ss., 223 e ss. e 235 e ss. do apenso 98).
A “Resin” porpôs-se realizar os trabalhos, pelo período de um ano, ao preço de
2.800 cts mensais + IVA, partindo-se do pressuposto que se depositariam diariamente
65 toneladas de resíduos sólidos urbanos e 52 toneladas de resíduos industriais banais
(valor que parece ficar aquém da realidade, em face da anotação manuscrita aposta no
documento de fls 144 do apenso 97; cfr. ainda as declarações proferidas pelo arguido
Barbieri Cardoso a propósito da quantidade crescente de deposição dos resíduos ao
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Pese embora o não saiba com precisão, tem a ideia de que a CMF tinha uma
dívida na ordem dos 100.000.000$00 para com a “Resin” em meados de 1997.
Negou terminantemente qualquer alteração do valor global do orçamento com o
intuito expresso na pronúncia.
Porém, confrontado com os documentos de fls 21 a 23 do apenso 12, referiu ter
sido a primeira vez que os viu, desconhecendo em absoluto o seu conteúdo e remetendo
para o arguido Carlos Marinho a respectiva explicação, em face das funções que este
desempenhava então na “Resin” (arguido este que curiosamente também nada explicou
a esse propósito).
Do mesmo modo, referiu nada lhe dizer o documento de fls 1108 e 1112 do 5º
volume (documento recolhido num computador da “Resin”). Em face do seu conteúdo,
admitiu que esse documento tenha sido extraído do computador do Director Comercial
da “Resin”, Eng. Matias Rodrigues, o qual nunca tratou que qualquer assunto
relacionado com o aterro de Felgueiras.
O documento em causa não tem data, mas em face do seu conteúdo (refere 19
meses depois do dia 18.04.97) terá sido elaborado em Dezembro de 1998. Ora, nessa
altura a proposta de fls 336 já havia sido apresentada e adjudicada a empreitada em
causa. Consequentemente, interpretando o documento em causa e em face do seu título
(que aponta para o futuro), ele nada terá a ver com a matéria a que se reporta o ponto
1.5. da pronúncia.
Referiu em todo o caso que nenhuma compensação foi efectuada no aterro
“RIB”, não obstante o conteúdo do documento de fls 1112, do 5º volume.
Confrontado com o teor do documento de fls 302 do apenso 12, a propósito da
indicação dos 140.000.000$00 ali referida, explicou-a do seguinte modo:
Na altura os fundos comunitários cobriam 85% do custo de construção a fundo
perdido (mas já não os custos de manutenção, os quais seriam suportados a 100% pelo
dono da obra).
Como a exploração não era financiada no caderno de encargos apresentado
diminuiu-se em 140.000.000$00 os custos de exploração e distrubuíu-se essa verba em
vários items do caderno de encargos referente à construção do aterro.
Antes da entrega do caderno de encargos a “Resin” chegou a acordo com a
“ECOP” (na pessoa da testemunha Pedro Panzina) para que esses 140.000.00$00
revertessem para si, apesar de incluídos nos custos da construção (já que na verdade tal
verba – repartida e camuflada nos custos de construção - reportava-se antes aos custos
da exploração), sendo certo que as verbas destinadas à construção deveriam ser
entregues à “ECOP” e as verbas referentes à exploração destinavam-se à “Resin”.
Aliás, foi a ECOP quem procedeu à distribuição desses 140.000.000$00 pelos
vários items (cfr. fls 302 do apenso 12), sendo certo que a Comissão de Análise não
tinha qualquer possibilidade de detectar esse facto.
Os items escolhidos para a distribuição dos ditos 140.000.000$00 em princípio
não se reportavam a trabalhos que pudessem no futuro não estar previstos, já que nos
trabalhos a mais não poderia haver nem revisão nem empolamento de preços.
Confirmou que a “Resin” já possuia uma báscula, mas achou-se por bem incluir
na proposta referente ao aterro da Lustosa esse equipamento porque seria financiado a
85% pelos fundos comunitários.
Admitiu que o documento de fls 335 do apenso 12, datado de 14.07.97, é uma
cópia de um manuscrito constante de um papel timbrado da “ECOP”, sendo certo que a
proposta foi apresentada a 15.07.97 (cfr. fls 336 do mesmo apenso).
Do mesmo modo o documento de fls 328 consta de papel timbrado da “ECOP” e
que era usado para apontamento de notas.
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certeza desse facto (passando depois ambas as empresas a facturar directamente à dona
da obra quando cessou entre ambas a relação de confiança).
Não se recorda se existiu algum adiantamento de pagamento pela AMVS, sendo
certo que em caso afirmativo tal facto estaria plasmado no contrato e coberto por
garantias bancárias.
Foi então confrontado com os documentos de fls 223 e 224 do apenso 20 e com
o documento de fls 269 do apenso 12 (este último reportado a uma missiva da AMVS
autorizando que a factura emitida pela “Resin” referente ao montante de
389.970.778$00 fosse apresentada para adiantamento a uma empresa de factoring).
Confrontado também com o documento de fls 371 e ss. do apenso 105-B
(contrato de consórcio “Resin”/”Sita”/”Ecop” para a construção do aterro de
Felgueiras), constatou que afinal era a “Resin” a líder do consórcio (pelo que seria ela a
facturar directamente à AMVS). A razão de ser desse facto é a circunstância de caber à
“Resin” a exploração do aterro, pelo que a relação com a dona da obra seria mais
duradoira, factor que afastou a regra de que quem facturaria à dona da obra seria a
empresa com mais trabalhos, que neste caso era a “ECOP” (a qual se encarregou da
construção).
Confrontado com o documento de fls 4160 referiu tratar-se do mapa da obra em
causa (quadro elaborado no âmbito de uma das perícias efectuadas na fase de inquérito)
e, em face da sua análise, deduziu que o adiantamento beneficiou ambas as empresas
(segundo a perícia o recibo do adiantamento data de 08.02.99, ao passo que o
manuscrito do arguido Júlio Faria, constante de fls 170 data de 06.11.98, a mesma que
consta da missiva da AMVS para a “Resin” de fls 269 do apenso 12 a propósito da
autorização concedida para a apresentação de uma factura a uma empresa de factoring
respeitante a um adiantamento).
Confrontado com a missiva de fls 273 do apenso 12, da “Resin” para a “ECOP”
(onde aquela dava conhecimento a esta do teor da missiva da AMVS de fls 269 do
apenso 12 e onde se comprometia a liquidar o montante referido imediatamente após
boa cobrança), deduz agora que todo o montante do adiantamento tenha ido para a
“ECOP”, o que faz sentido na medida em que o adiantamento para materiais em
princípio deveria destinar-se a quem iria proceder à construção (no caso a “Ecop”) e não
para quem apenas iria proceder à exploração do aterro (a “Resin”). Em todo o caso, a
perícia chegou a conclusão diversa, pois segundo ela, uma verba que ronda os 50.000
cts ficou para a “Resin”.
Ignora se antes dessa obra a “Resin” tinha tido já alguma relação comercial com
a CMF.
Confrontado com os documentos de fls 20 (missiva da “Resin” à CMF), com os
quadros de fls 22 e 23, todos do apenso 12 e com o documento de fls 1112 (“Valores a
serem compensados via aterro RIB”) revelou acerca deles desconhecimento.
Referiu ainda ignorar se a “Resin” concedeu ou não algum donativo ao FCF,
pois o Conselho Fiscal não analisava esse tipo de assuntos e as respectivas reuniões
eram muito rápidas.
A propósito do quadro de fls 302 do apenso 12 referiu que quando foi ouvido
pela PJ foi confrontado com esse documento.
Esclareceu que a AMVS não tinha qualquer dívida para com a ECOP.
Havia um valor que se reportava a custos indirectos com a gestão da obra (por
exemplo os custos com a montagem do estaleiro).
O valor de 140.000.000$00 constante da coluna a azul no documento de fls 302
do apenso 12 não lhe é estranho e pode estar relacionado com o fecho da obra.
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Assegurou que nunca discutiu com o arguido Vítor Borges a distribuição dessa
verba de 140.000 cts (ao contrário do que foi referido por este).
O arguido Ferreira de Almeida era o único interlocutor da “Resin” com a “Ecop”
nas obras para a AMVS, o qual aliás foi contratado pela “Resin” para director-geral com
o acordo da “Sita” e da “Ecop”, tendo como missão desenvolver os negócios na zona
Norte do país (por seu turno, o arguido Vítor Borges, para além de ser administrador da
“Resin”, passaria a ocupar-se do desenvolvimento dos negócios noutra zona geográfica
de Portugal).
O arguido Carlos Marinho, por seu turno, era contabilista na “Resin”.
No fecho da proposta a apresentar ao concurso os representantes das empresas
do consórcio (no caso o arguido Ferreira de Almeida pela “Resin” e o Engº Paranhos
pela “Ecop”) faziam a distribuição dos custos indirectos e a margem de lucro pelos
vários items da proposta, de modo que esse facto é encapotado na proposta apresentada.
Um dos critérios utilizados era a da distribuição percentual por todos os items da
proposta ou então fazia-se incidir essa distribuição de custos indirectos e margem de
lucro num dos capítulos da proposta.
Explicou que a estrutura das propostas segue a estrutura dos cadernos de
encargos apresentados pelo dono da obra, sendo assim comum a todos os concorrentes.
Confrontado com o documento de fls 386 do apenso 12 (missiva dirigida por
advogados à “Resin” a propósito alterações a algumas cláusulas de uma minuta de um
contrato de consórcio, minuta essa que inexiste nos autos), referiu desconhecer esse
documento. Explicou que os representantes das duas empresas reuniram-se, tendo
ficado definido que um valor daquela ordem de grandeza deveria ser distribuído pelos
items da proposta a apresentar a concurso. Tal circunstância sucedia com todas as
empreitadas tanto quanto pôde experienciar. Deduz que a verba de 140.000 cts referida
se prenda com isso mas não tem a certeza.
A propósito da matéria em causa assegurou não ter visto qualquer manuscrito
dos arguidos Vítor Borges, Ferreira de Almeida e Carlos Marinho.
Não tem qualquer ideia de ter discutido o assunto da distribuição da verba de
140.000 cts com o arguido Vítor Borges.
Explicou que o fecho da proposta é diferente do fecho da empreitada. Nesta, no
final da execução dos trabalhos, há um acerto de contas.
Assegurou que não houve qualquer acréscimo ao valor da proposta
(designadamente de 140.000 cts) depois de ter sido apresentada a concurso. O que
existiu, conforme já referiu, foi a inclusão de um valor adicional antes da apresentação
da proposta, respeitante a lucros expectáveis e a custos indirectos, valor esse que foi
distribuído por vários items da proposta.
Confrontado com o documento de fls 335 do apenso 12, referiu que é o autor
desse documento, manuscrito em papel da “Ecop”.
Conforme resulta da proposta apesentada pela “Resin”, a mesma foi apresentada
a 15.07 (cfr. documento de fls 336 e ss. do apenso 12) e a reunião para fecho da
proposta realizou-se no dia anterior (14.07). Essas reuniões aliás nunca são feitas com
muita antecedência para evitar a violação do segredo industrial.
Explicou que as diferenças entre as propostas dos vários concorrentes
(designadamente no que respeita às principais empresas naquele segmento de mercado)
normalmente situa-se ao nível dos custos indirectos e nos custos de gestão. Tais
questões devem ser decidias por apenas uma pessoa e o mais em cima possível do fecho
da proposta para evitar fugas de informação.
Referiu que na reunião referida (de fecho da proposta, ocorrida no dia 14.07), o
depoente serviu de secretário e admite que tenha feito nessa altura o documento de fls
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335 do apenso 12, onde de facto aparece a dita verba de 140.000 cts. Aliás, à data, desse
documento apenas tinham conhecimento o depoente, o arguido Gabriel e a testemunha
Paranhos.
Explicou então o conteúdo do dito documento, referindo, em síntese, que nele se
retrata a distribuição da dita verba sobre os “preços secos” no fecho da proposta.
Esclareceu que 36.800 cts já estavam acrescidos e distribuídos pelos vários
items antes da reunião em causa, sendo certo que nesta foi acordado o remanescente do
acréscimo à proposta e respectiva distribuição pelos vários items.
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com o documento de fls 335 do apenso 12, cujo valor final é do mesmo montante.
Trata-se de uma fotocópia de um manuscito com contas elaborado em papel da “Ecop”.
Existe designadamente uma verba de 7.800 cts supostamente destinada à
aquisição de uma báscula, que aliás já existiria.
Nos documentos de fls 1108 e 1112 (encontrados num computador da “Resin”)
faz-se referência aos valores a serem compensados via aterro RIB.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Até essa data as facturas eram emitidas à “ECOP”, contactando com os Drs
Lima e António Marça (direcção financeira) relativamente aos assuntos que diziam
respeito ao consórcio.
Só a partir de 2000/2001 é que o arguido Carlos Marinho passou a ter essas
funções, razão pela qual passou a ter contacto com ele.
O pessoal da AMVS era requisitado à CMF e com avençados, pois nessa altura
não podia ter pessoal próprio (só a partir de 1999 é que passou a ter um quadro de
pessoal próprio).
O depoente era o coordenador na área administrativa relativamente aos contratos
(juntamente com a testemunha Albino Pinto Leitão).
Relativamente ao fundo de coesão, a AMVS decidiu fazer uma candidatura na
ordem dos 4.500.000 contos, relativamente à construção de três aterros, seis ecocentros
e duas estações de triagem.
Tiveram a fiscalização da União Europeia, tendo tudo decorrido normalmente,
não se registando qualquer tipo de anomalia. Aliás, a fiscalização reconheceu a
regularidade do que encontraram.
O arguido Carlos Marinho perguntava ao depoente quando é que a AMVS
poderia pagar.
Ganhou com ele uma relação de amizade em face dos contactos que mantinham.
Ao que pensa em 2004, a “Resin” propôs uma acção contra a AMVS por causa
de uma dívida vencida há muito tempo. Houve uma sentença condenatória e processo de
execução. Entretanto, por acordo, a “Resin” concedeu um prazo de pagamento mais
longo, tendo sido entretanto liquidado esse débito da AMVS.
Não estavam em causa serviços prestados pela “Resin” na lixeira de Sendim
numa altura em que já deveria estar encerrada. O objecto daquela acção prendiam-se
com serviços prestados nos concelhos de Paredes e Penafiel.
Existiriam outros litígios que deram origem a processos judiciais, mas a AMVS
foi sempre absolvida.
No âmbito do Conselho Superior de Obras Públicas, em sede de tentativa de
conciliação, chegou-se a acordo relativamente a outros litígios.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Só mais tarde, em data que não sabe precisar, conheceu o arguido Carlos
Marinho.
Conforme emerge da acta de abertura das propostas (cfr. fls 325 e ss. do apenso
105-B), a proposta apresentada pelo consórcio da “Resin”/”Sita”/”Ecop” era a que tinha
o preço mais elevado, seguida da proposta da “Soares da Costa”.
No que toca aos ecocentros foram efectuados três concursos, tendo a “Norlabor
vencido no que respeita à construção dos ecocentros em Lousada, Paredes e Felgueiras,
sendo certo que foi adjudicada a outra empresa a construção dos ecocentros nos
concelhos de Castelo de Paiva e Penafiel.
A transferências e competências da AMVS para a CMF relativamente ao aterro
RIB de Felgueiras ocorreu já no século XXI. Tem a ideia que essa transferência de
poderes já se equacionava logo desde o início do processo de abertura do concurso (a
CMF comparticipou com 15% do custo de construção do aterro).
A obra em causa teve a fiscalização da União Europeia, que a exerceu por duas
vezes através de comissões de análise (compostas por dois espanhóis, um italiano e um
português).
Após a abertura das propostas não é possível inflacioná-las.
Confrontado com o ponto 3 das conclusões do relatório da comissão de análise
(cfr. fls 352 do apenso 105-B), explicou que havia a possibilidade de dividir em duas
partes a adjudicação, faculdade aliás prevista no caderno de encargos (uma para a
construção e outra para a exploração). A proposta apresentada pelo consórcio
“Resin”/”Sita”/”Ecop” foi a melhor pontuada mas era muito mais cara no que diz
respeito à exploração.
Na altura, a AMVS não tinha capacidade para gerir o aterro.
Mesmo que pudesse ser adjudicada separadamente a construção e a exploração o
certo é que em determinadas áreas existe uma ligação entre ambas, daí que a ideia fosse
adjudicar tudo ao mesmo concorrente, evitando-se desse modo problemas ao nível da
exploração, razão pela qual achou boa a decisão da AMVS de adjudicar tudo ao
consórcio vencedor.
A “Resin” era a líder desse consórcio, cabendo-lhe a gestão ambiental do aterro
e à “Ecop” a respectiva construção.
Explicou que o concurso mais relevante lançado pela AMVS foi o da recolha
dos resíduos sólidos urbanos, no montante de 4.000.000 cts (não era comparticipado
pela União Europeia). Era o concurso mais apetecível pelas empresas da área do
ambiente. Foi a “Suma” quem venceu esse concurso, tendo o depoente integrado a
respectiva comissão de análise. Que tivesse chegado ao seu conhecimento, nenhuma
pressão foi exercida pela “Resin” em relação a algum elemento que integrou a comissão
de análise das propostas apresentadas no âmbito desse concurso.
Na região Norte a “Resin” era a única empresa a trabalhar na área do tratamento
do lixo porque tinha uma parceria com a “France Dèchets”.
Confrontado com o fax de fls 2273 do 10º volume (fax que foi remetido pela
“Resin” a 20.06.94 à CMF com conhecimento ao depoente), explicou que na altura era
já o coordenador da AMVS no que respeita aos resíduos sólidos urbanos e foi-lhe dado
conhecimento desse fax na medida em que havia a possibilidade de se construir em
Unhão o aterro, onde aliás se fizeram testes ao solo.
Em Junho de 1994 abriu-se o primeiro concurso da AMVS para a construção de
um aterro (aterro da Lustosa).
Conheceu os presidentes da CMF desde o 25 de Abril devido às suas funções.
O arguido Júlio Faria já foi presidente da AMVS e nessa altura tinha a
supremacia normal inerente a esse cargo. Foi aliás o grande impulsionador da AMVS.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Depois dele deixar a presidência da AMVS (em 1995) não se lembra de o ter
visto nas reuniões dessa associação, mas tinha uma sala onde, como deputado, podia
receber munícipes.
*
Ainda a propósito do fax de fls 2273 do 10º volume, o arguido Júlio Faria
referiu que em Junho de 1994 a AMVS já tinha decidido que a construção do aterro iria
ser efectuada em Lustosa.
Porém, o presidente da C.M. de Lousada tinha dificuldade em obter a aprovação
da respectiva assembleia municipal, razão pela qual ele pediu que se procedessem a
estudos em locais alternativos (Sendim e Unhão, ambos em Felgueiras, e mais dois
locais em Paços de Ferreira), de modo a que pudesse justificar perante a Assembleia
Municipal de Lousada a construção em Lustosa do aterro. Esse facto atrasou o arranque
das obras de construção desse aterro.
*
Em face das explicações agora dadas pelo arguido Júlio Faria, a testemunha
Joaquim Fernando Moreira admitiu que ele esteja correcto.
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2º Juízo
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2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Análise crítica
Antes de mais, cabe referir que os concursos mencionados neste ponto,
lançados pela AMVS, não terão beneficiado de qualquer quadro comunitário de apoio
mas de fundos de coesão, conforme explicou o arguido Barbieri Cardoso, já que se
tratava da construção de infraestruturas (cfr., a este propósito, por exemplo, o
documento de fls 486 do apenso 105-B).
Quanto à sequência cronológica dos acontecimentos, no que ao concurso
internacional concerne, a descrição efectuada na contestação apresentada pelos arguidos
Carlos Marinho e Vítor Borges é a que de facto se adequa com o teor dos documentos
juntos aos autos a propósito dessa matéria e referenciados naquela contestação (cfr.
documentos de fls 193 a 196 do apenso 105-B; fls 336 e ss. do apenso 12; fls 325 e ss.
do apenso 105-B; 329 e ss. do apenso 105-B; 353 e ss. do apenso 105-B; fls 388 e ss. do
apenso 105-B; fls 391 e ss. do apenso 105-B; fls 400 e ss. do apenso 105-B; e fls 355 do
apenso 12).
Os elementos que integraram a comissão de análise em ambos os concursos
negaram que tivessem sido exercidas quaisquer influências no sentido de favorecer
qualquer concorrente a esses concursos.
De forma assertiva foi explicado de que modo essas comissões eram compostas,
de sorte que nenhum reparo nos merece a inclusão de elementos da CMF nessas
comissões no que respeita aos concursos lançados pela AMVS referentes à construção
de infraestruturas no concelho de Felgueiras (cfr., com interesse, o documento de fls
6738 dos autos).
Por outro lado, os elementos dessas duas comissões, em particular o arguido
Barbieri, explicaram os critérios de análise das propostas e o trabalho de análise
desenvolvido de forma que nos pareceu assertiva e credível (cfr. os respectivos
relatórios de análise, constantes de fls 329 e ss. e de fls 452 e ss., ambos do apenso 105-
B).
Como se viu, pelas razões expressas pelo arguido Barbieri Cardoso, no que toca
à concepção e construção dos aterros, o critério “preço” não era o mais importante,
355
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
tendo apenas um peso de 10% em relação aos demais factores de ponderação (cfr. ainda
o depoimento da testemunha Joaquim Moreira).
Consequentemente, nenhum reparo pode o Tribunal fazer a esse propósito.
Não se provou pois que os arguidos Júlio Faria e Fátima Felgueiras tenham
influenciado a AMVS no sentido de favorecer o consórcio liderado pela “Resin” no que
respeita à construção dos aterros ou a “Norlabor” no que concerne à construção dos
ecocentros (e não ecopontos como por lapso é referido na pronúncia, já que o concurso
respectivo dizia respeito à construção de ecocentros, conforme emerge dos documentos
constantes do apenso 105-B e já acima referenciados aquando da reprodução por súmula
dos depoimentos prestados a esse propósito).
Note-se que nenhum indício existe de que a realização desses concursos
internacionais tenham sido simulados, de modo que cada concorrente apresentou as suas
melhores propostas, as quais, segundo nos pareceu, foram analisadas com rigor, tendo
em conta os factores de ponderação previamente definidos.
Conforme explicou o arguido Barbieri, no que toca ao concurso internacional
para a construção do aterro RIB, com as propostas os concorrentes apresentaram um
estudo prévio, tendo-se depois elaborado um projecto de execução quando a obra foi
adjudicada, sendo certo que não terá existido derrapagem de custos (obra que aliás foi
fiscalizada pela Tutela e pela dona da obra, designadamente através de uma empresa
contratada para o efeito – a “ETECLDA”; cfr. o depoimento da testemunha Ricardo
Ferreira).
Por outro lado, o protocolo celebrado entre a AMVS e a CMF acerca da
transferência de competências, poderes, deveres e obrigações relativas ao aterro RIB de
Felgueiras, consta de fls 5642 e 5643 dos autos (ou de fls de 400 e 401 do apenso 105).
Acerca desse facto nenhum comentário em especial cabe fazer, sendo certo que,
ao que parece, seria normal essa transferência de poderes e deveres da AMVS para os
municípios associados relativamente aos aterros que se situassem no respectivo
território concelhio, tanto mais que comparticiparam com 15% do respectivo custo de
construção (já que os fundos comunitários financiavam 85% do custo de construção).
Conforme confirmou o arguido Vítor Borges, em 1997 a dívida da CMF para
com a “Resin” era de 101.214.905$00 (cfr. os documentos indicados a fls 21 a 23 do
apenso 12), sem contabilizar eventuais juros de mora e encargos.
Ademais, a propósito dos 140.000 cts referidos na pronúncia, resultou de forma
pacífica dos depoimentos prestados que essa verba foi distribuída pelos vários items da
proposta apresentada pelo consórcio “Resin”/”Sita”/”Ecop” antes da mesma ter sido
apresentada (não se vê aliás que doutra forma possa ter sido – cfr., em especial, os
depoimentos do arguido Vítor Borges e das testemunhas Panzina e Paulo Ribeiro, bem
como os documentos de fls 302 do apenso 12 e de fls 286 a 324 do apenso 105-B).
Não se convenceu porém o Tribunal da explicação dada pelo arguido Vítor
Borges e pelas supra referidas testemunhas para a distribuição daquela verba pelos
vários items da proposta pelas seguintes ordens de razões:
1ª - a ser verdadeira a explicação dada, mal se compreende que, mesmo
retirando-se 140.000 cts ao custo da exploração, o respectivo preço, ainda assim, seja
bem mais elevado que os valores apresentados pelos demais concorrentes, mesmo
considerando-se que a proposta apresentada pelo consórcio “Resin”/”Sita”/”Ecop” fosse
a única que contemplava um sistema de compactagem dos resíduos (cfr. documento de
fls 325 e ss. do apenso 105-B);
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
9
A “Sita” procedeu à concepção e a “Resin” à exploração, ao passo que a “Ecop” procedeu à construção
do aterro RIB.
10
Consideram-se aqui os preços sem IVA.
11
O preço global real será assim de 841.467.570$00 (981.467.560$00 – 140.000$00) + IVA.
12
Não se coaduna ainda com o título aposto na segunda metade do documento – “ARTIGOS DA
PROPOSTA A CARGO DA ECOP MAS COM VERBAS INSCRITAS DA DÍVIDA DE 140.000 C”.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
admitiu porém que tenha sido elaborado pelo então director comercial da “Resin”, ante
o facto inquestionável de que tal documento foi retirado do disco rígido de um dos
computadores então em uso naquela empresa – cfr. o respectivo auto de busca e
apreensão de fls 697 e o auto de exame 1108 e ss.). De resto a interpretação desse
documento efectuada pelo arguido Vítor Borges – aliás a reboque do seu ilustre
mandatário -, orientou-se no sentido de se procurar demonstrar que esse mesmo
documento não se reporta à matéria em causa, mas com argumentação que nos pareceu
inconsistente, já que, mesmo que o documento tenha sido elaborado em Dezembro de
1998 (facto que não é líquido), certo é que nitidamente se reporta aos vários contratos
mencionados no 1º capítulo de apronúncia. Ademais, o “adiantamento” foi pago por
uma empresa de factoring no último trimestre de 1998 (Outubro/Novembro), conforme
emerge dos documentos de fls 269 e 272 do apenso 12 e documentos de fls 223 e 224
do apenso 20, sendo certo que desse documento resulta que metade do valor em dívida
da CMF tinha sido já pago em Novembro de 1998, facto que se relaciona com a
circunstância da “Resin” ter ficado com esse valor, que retirou do “adiantamento”
recebido nessa altura da dita empresa de factoring, conforme aliás já referimos. Além
do mais, tratando-se de um documento retirado de um ficheiro constante de um dos
computadores em uso na “Resin”, pode muito bem ter sucedido ter sido elaborado
muito antes de Dezembro de 1998 e de ter sido entretanto alterado e actualizado sem
que se alterasse o respectivo título (justificando-se pois o título desse documento,
apontando para o futuro, tanto mais que então só metade do valor em dívida havia sido
“compensado” via aterro RIB, pese embora os montantes nele expressos tivessem como
pressuposto a liquidação total da dívida da CMF em Novembro de 1998, o que, como se
viu, não sucedeu);
5ª - dos montantes que ainda permanecem em dívida para com a “Resin” por
banda da CMF, nenhum esforço efectuou aquela empresa para os cobrar coercivamente,
não obstante considerar algumas desses créditos como sendo de cobrança duvidosa.
Essas verbas foram aliás “perdoadas” em face dos movimentos contabilísticos já
referidos acima, o que só se percebe à luz do facto desses montantes terem sido
liquidados via aterro RIB (cfr. documento de fls 1112).
Convenceu-se pois o Tribunal de que a verba de 140.000 cts não dizia respeito
ao preço global da proposta apresentada pelo referido consórcio e que tal expediente se
tratou da forma encontrada pela “Resin” para, via aterro RIB, ser compensada dos
valores então em dívida pela CMF (claro está, caso vencesse o respectivo concurso
internacional, como efectivamente veio a suceder), conforme nesse sentido aponta o
documento de fls 1112 (que ninguém soube ou quis explicar).
Questão diferente é saber se esse facto, por si só, tem alguma elevância penal,
matéria que iremos dar atenção aquando da fundamentação de direito.
É que, além do mais, não dispõe o Tribunal de qualquer elemento que, com
segurança, permita concluir que tenha sido a arguida Fátima Felgueiras a execer
qualquer influência nesse sentido junto da “Resin”.
De resto, não se convenceu o Tribunal que os arguidos Júlio Faria e Fátima
Felgueiras se tenham concluiado com a “Resin” (representada pelo arguido Vítor
Borges) no sentido desta inflaccionar daquela forma a proposta do consórcio liderado
por si, de modo a obterem para si ou para terceiro vantagens económicas. Parece-nos
mais lógico que esse facto tenha sido feito à revelia e sem o conhecimento daqueles,
pois tratou-se da forma encontrada pela “Resin” para ver os seus créditos para com a
CMF solvidos (evitando assim o recurso aos tribunais), sendo certo que pelo menos
parte dos valores respeitantes àquele montante de 140.000 cts apenas foram acertados
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2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
Recebimentos
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2º Juízo
Nega ter dado qualquer ordem ao arguido Horácio Costa para se deslocar a
Matosinhos, aos escritórios da “Resin”, a fim de receber a quantia de 5.000.000$00,
conforme alegado na pronúncia.
Confrontada com o documento de fls 156, do 1º volume, reconheceu a letra do
arguido Júlio Faria, sendo certo que nunca falou com ele acerca do seu conteúdo.
Explicou que, por indicação do arguido Bragança (cunhado do arguido Horácio
Costa e secretário-coordenador do PS local), o arguido Horácio Costa foi inicialmente
recrutado como avençado para gerir a Central de Camionagem e elaborar alguns
projectos de desenvolvimento, devendo apresentar uma informação mensal (cfr. doc. de
fls 5797, datado de 01.10.97).
Esse contrato de avença foi alterado depois das eleições de 1997, pois o arguido
Horácio Costa, não tendo sido eleito pelo PS (pois concorreu em 5º lugar da lista e só
foram eleitos os primeiros 4 da lista do PS), entendia que deveria auferir uma
remuneração equivalente a vereador, o que lhe foi concedido.
Pese embora a arguida Fátima Felgueiras assegurasse que com o arguido
Horácio Costa tinha uma relação normal como qualquer avençado da CMF, sem que
tivesse na CMF qualquer estatuto de privilégio (raramente entrando aliás no seu
gabinete e não dispondo de gabinete próprio no edifício da CMF), certo é que referiu
que ele participava em algumas reuniões de cordenação na CMF e substituiu-a na sua
ausência em algumas reuniões das várias comissões existentes no concelho (como por
ex. a Comissão de Promoção e Protecção de Menores).
Referiu ignorar se o texto do documento de fls 64 do 1º volume foi elaborado
em casa do arguido Júlio Faria, numa reunião que teve com o arguido Horácio Costa,
pois se a mesma teve lugar nela não participou.
Entretanto, o arguido Horácio Costa assumiu as funções de verador, partilhando
um gabinete com o verador Lickefold da Silva.
Reconheceu no documento de fls 171, do 1º volume, a letra do arguido Júlio
Faria, sendo certo que o mesmo nunca lhe foi entregue.
Já o documento de fls 168, do 1º volume, datado de 08.03.98, é da sua autoria.
Nunca participou na angariação de fundos para o FCF, limitando-se a participar
em jantares para o efeito.
O documento de fls 185 é da sua autoria, salientando que se fosse verdade que
tinha poderes de facto para dispor da conta do BES e se nessa altura ela tinha um saldo
que variava entre 2.000 e 3.000 contos (cfr. documento de fls 30 e 31), jamais teria pago
do seu bolso aquela despesa de campanha.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
propósito do “retorno”), se tivesse lugar, teria ocorrido em 1997 – ano em que decorreu
a campanha eleitoral - e não em 1998, já que segundo a pronúncia as verbas
alegadamente entregues pela “Resin” destinavam-se a pagar despesas relacionadas com
a campanha eleitoral referente às eleições autárquicas de Dezembro de 1997 (admitiu
porém que houveram pagamentos respeitantes a despesas de campanha que ocorreram
depois das eleições respectivas); referiu ainda desconhecer a letra constante do
documento de fls 22 verso do apenso 12.
Mais referiu que o arguido Horácio Costa não tinha qalquer incumbência na
CMF que exigisse a realização de contactos com a “Resin” enquanto avençado (não se
mostrou tão assertiva quanto a esse facto quando ele assumiu as funções de vereador).
Não obstante, admitiu que a letra no corpo principal do documento de fls 73 do apenso
139-A é sua (datado de 28.05.97, numa altura em que o arguido Horácio Costa ainda era
avençado), onde este é encarregue de uma incumbência junto da “Resin”.
3. Nega ter adquirido 1550 bilhetes de um sorteio promovido pelo FCF por
ocasião do Natal de 1998 (quando muito terá adquirido 3 ou 4 bilhetes a título pessoal).
Ignora quais os movimentos efectuados na conta titulada pelo Júlio Faria e se
nela foi ou não efectuado o depósito referido no despacho de pronúncia, sendo certo que
algumas despesas de campanha foram liquidadas pelo arguido Júlio Faria, tendo
posteriormente sido reembolsado do respectivo valor.
Quanto ao mais negou ter qualquer conhecimento da factualidade ali descrita,
sendo certo que nunca recebeu qualquer quantia da “Resin”.
363
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
recebida por força do contrato de publicidade constante de fls 443 do apenso 96-A,
sendo certo que na mesma ocasião tinha sido já celebrado um outro contrato de
publicidade entre o FCF e a “Resin”, conforme documento de fls 442 do mesmo apenso
96-A, sendo pois estranha a celebração de 2 contratos na mesma ocasião, de valor
substancialmente diverso, o que, conjugado com o teor das facturas anuladas, inculca a
ideia de que o dito contrato de publicidade de 12.500 contos não foi celebrado na altura
e que terá sido forjado para encobrir o donativo efectuado pela “Resin” ao FCF).
3. A propósito deste ponto referiu que o FCF realizou, por alturas do Natal de
1998, um sorteio com o objectivo de angariar fundos (nessa altura era já o presidente da
Comissão Administrativa do clube) para reembolsar os avalistas do clube do que
haviam pago a uma instituição financeira relativamente à prestação vencida em Outubro
(1.600 cts cada um). Cada bilhete tinha o preço de 1.000$00 (cfr. os bilhetes respectivos
juntos aos autos e que são precisamente 1.550 ao preço referido, de que o bilhete de fls
84 é exemplo).
A propósito dos 1.850 cts depositados na sua conta do BES – facto que
confirmou (cfr. fls 167) -, referiu que lhe coube distribuir pelos seus camaradas do PS e
presidentes de Junta 1.850 bilhetes referentes ao sorteio referido, cada um ao preço
nominal já mencionado (tem a ideia, sem certeza, que foi o secretário-coordenador do
PS Felgueiras – O arguido Bragança - quem remeteu esses bilhetes aos militantes, não
fazendo ideia se a presidente da Comissão Política – a arguida Fátima Felgueiras - ou o
arguido Bragança remeteram algum desses bilhetes aos presidentes de Junta, pese
embora aquele tivesse um contacto mais fácil com estes últimos; quer crer que não terá
entregue pessoalmente nenhum bilhete a algum militante).
Consequentemente, em resultado da venda desses bilhetes foi depositada na sua
conta a quantia respectiva (cfr. o talão de depósito da quantia de 1.850.000$00,
constante de fls 167 e datado de 23.11.98), sendo certo que já havia depositado idêntica
quantia na conta do FCF, referente aos valor dos bilhetes que lhe coube distribuir (certo
é que só foram apreendidos 1.550 bilhetes que, assim, aparentemente, não terão sido
distribuídos).
Esta versão não é pois inteiramente coincidente com o que consta do artº 61º da
sua contestação (onde se afirma que os 1.850 bilhetes eram destinados à CMF; refere
agora que afinal eram destinados aos seus camaradas do PS e presidentes de Junta).
Não se recorda se entregou esses bilhetes acondicionados num envelope da
Assembleia da República (sendo certo que na altura era deputado), tendo referido que
naturalmente seria mais lógico acondicioná-los num envelope do FCF
(consequentemente, apesar de expressar ignorar como foram acondicionados tais
bilhetes e de numa primeira resposta ter referido ignorar se entregou os ditos bilhetes
acondicionados dessa forma, acabou por excluir tê-los entregue acondicionados num
envelope da Assembleia da República).
Reconheceu em todo o caso que fez chegar à CMF documentos acondicionados
em envelopes da Assembleia da República pelo que sugeriu que alguém tivesse usado
um desses envelopes para dar a aparência de que os bilhetes em causa nele foram
acondicionados.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Quanto ao “post-it” de fls 84, confirmou ter sido escrito por si, não tendo
explicado a quem era dirigido, limitando-se a referir que se tratava da indicação dos
bilhetes e do preço respectivo destinado aos seus camaradas (nesse documento alude-se
a 1550 bilhetes e não a 1850 bilhetes, como seria de esperar em face das declarações
prestadas por este arguido).
Além disso, no saco onde estavam esses bilhetes tem a expressão “Drª Fátima
Felgueiras” manuscrita pelo depoente.
Tendo-se constatado que nem todos os bilhetes apreendidos são sequenciais,
manifestou ingnorar se eles fazem parte ou não do lote de 1.850 bilhetes já referidos por
si. Em todo o caso, não sabe se todos os 1.850 bilhetes que lhe foram entregues eram ou
não sequenciais.
Além disso, não sabe se todos os bilhetes emitidos (que eram milhares) foram
vendidos pelo FCF.
Quanto ao mais referiu desconhecer qualquer entrega de dinheiro pela “Resin”
para além do auxílio monetário que prestou ao FCF e já relatado, sendo certo que se
desligou dos assuntos autárquicos desde que assumiu as funções de deputado na
Assembleia da República.
Confrontado com o documento de fls 199 do 1º volume (relatório do arguido
Horácio Costa dirigido à arguida Fátima Felgueiras), referiu desconhecer a respectiva
matéria, não tendo tido qualquer intervenção nessa situação.
Idêntica posição assumiu relativamente aos documentos de fls 158 a 161 do 1º
volume.
O mesmo se diga ao manuscrito de fls 163 do 1º volume, ignorando a que se
reporta a expressão “retorno”.
A propósito do documento de fls 22 e 23 do apenso 12, referiu desconhecê-lo,
ignorando a que se refere a anotação manuscrita a fls 22 verso.
Referiu também ignorar a que se refere o documento de fls 302 do apenso 12.
Da conta do BES titulada pelos arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas,
referidas nos autos, recebeu dinheiro para o reembolsar de despesas que pessoalmente
adiantou no âmbito da campanha eleitoral de 1997.
A esse propósito, não tem a certeza se foi esse facto que justificou a emissão a
seu favor do cheque cuja cópia se acha a fls 120 do apenso 1, no montante de
600.000$00, datado de 02.12.97, cheque esse que foi endossado pelo depoente
(reconhece no verso a sua assinatura e a assinatura do seu filho).
Não se recorda a que corresponde a quantia de 170.000$00, titulada pelo cheque
cuja cópia se acha a fls 197 do apenso 1, datado de 18.11.99, cheque esse emitido à sua
ordem (referiu ignorar de quem é a rúbrica do respectivo talão de depósito cuja cópia se
acha a fls 165 do 1º volume).
Quanto ao cheque cuja cópia se acha a fls 199 do apenso 1, no montante de
57.090$00 e datado de 25.02.99, emitido a seu favor, recorda-se que serviu para o
reembolsar do montante que despendeu num jantar em Lisboa, na altura do Congresso
Nacional do PS, em que os elementos de Felgueiras jantaram juntos (ignora de quem é a
rúbrica do talão de depósito dessa quantia cuja cópia se acha a fls 166 do 1º volume).
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2º Juízo
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2º Juízo
e que ter-se-á equivocado, admitindo que na altura da reunião com a “Resin” o arguido
Horácio Costa não era ainda vereador (o arguido Horácio Costa iniciou funções como
avençado da CMF a 01.10.96 e a 01.01.99 inicou as funções de verador).
Foram então recebidos pelos arguidos Vítor Borges e Gabriel Ângelo Ferreira de
Almeida, sendo certo que não foi efectuada qualquer apresentação do arguido Horácio
Costa pois, ao que perspectivou, o arguido Vítor Borges já o conhecia. Em todo o caso,
só conheceu nesse dia o arguido Gabriel.
Propuseram então a celebração de um contrato de publicidade no valor de
20.000.000$00 entre o FCF e a “Resin”, sendo certo que o arguido Vítor Borges acedeu
em celebrar tal contrato mas que o montante dependeria das disponibilidades de
tesouraria daquela empresa, pois referiram muitos créditos a receber da CMF e da
AMVS, dependentes do desbloqueamento de verbas comunitárias.
Ficou assim prometido que logo que esses montantes fossem recebidos pela
“Resin” comunicariam a ajuda que poderiam dar (da forma como depôs, parece mais
que os arguidos Júlio Faria e Horácio Costa foram pedir um donativo à “Resin” do que
propriamente propôr a celebração de um novo contrato de publicidade, sendo certo que
para o mesmo período já existia um contrato de publicidade, conforme confirmou o
arguido Júlio Faria, mas por valores substancialmente inferirores – cfr. doc. de fls 442
do apenso 96-A).
Já depois de Setembro de 1998 (vencida que estava a primeira prestação de
50.000 cts a pagar à CCAM) a “Resin” contactou-o dando conta de que já tinha
condições para ajudar o FCF, mas que havia na CMF a necessidade de haver uma
reunião com o arguido Barbieri Cardoso, reunião essa que, ao que pensa, se prendia
com os moldes em que aquela empresa continuaria a operar em Felgueiras.
Deu conta desse contacto ao Horácio Costa e pediu-lhe para que fossem criadas
condições para que o acordo com a CCAM fosse honrado.
Confirmou assim ter manuscrito o documento de fls 170 do 1º volume, datado
de 6.11.98 (esse manuscrito não faria sentido se nessa altura o arguido Júlio Faria já
soubesse que em Dezembro de 1998 o FCF iria receber pelo menos 12.500 cts a coberto
do alegado contrato de publicidade que consta de fls 443 do apenso 96-A, o que indicia
que este contrato é simulado, isto é, foi forjado pelo menos em finais de 1998 e serviu
apenas para disfarçar um donativo da “Resin” ao FCF no valor de 20.000 cts, dos quais
7.500 cts em numerário).
Não descarta a hipótese de ter abordado esse assunto com a arguida Fátima
Felgueiras (facto que parece resultar do manuscrito de fls 170 do 1º volume), não
sabendo já se essa abordagem ocorreu antes ou depois do compromisso assumido
perante a CCAM.
No final de 1998, mais concretamente a 30.12.98 (e segundo lhe contou o Dr.
Barata Feio em momento posterior), o Horácio Costa contactou o FCF no sentido de
que alguém fosse ter com ele (a local que desconhece) para receber os 20.000 cts, o que
foi feito pelo Dr. Barata Feio (que fazia a contabilidade do clube) e pelo Sr. Figueiredo,
os quais receberam um cheque de 12.500.000$00 (cfr. doc. de fls 466 do 2º volume) e o
montante de 7.500.000$00 em numerário, num total de 20.000.000$00, valores esses
que foram depositados na conta do clube (cfr. depósitos de fls 431 e 447 do apenso 96-
A, bem como o talão de fls 453 do mesmo apenso, de onde se vê que esses valores não
foram depositados pela mesma pessoa, visto ser diferente a letra; cfr. também as
entradas de caixa no FCF, datadas de 30.12.98, constantes de fls 430 e 432 do apenso
96-A, a primeira no valor de 12.500 cts e esta última referente ao IVA, no montante de
2.125.000$00) e que serviram para pagar a dita prestação de 50.000 cts à CCAM na
sequência do acordo com ela celebrado e já referido.
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2º Juízo
Não deu qualquer explicação para o facto do dinheiro ter sido entregue ao
arguido Horácio Costa e não directamente no FCF.
Confirmou ter remetido à CCAM a missiva de fls 63, do apenso 17, não se
recordando de quem recebeu a indicação de que a poderia mandar porquanto estaria
para breve o recebimento da quantia em falta (20.000 cts). Em todo o caso, referiu que
ou recebeu essa indicação da “Resin” ou do arguido Horácio Costa.
Ainda a propósito desse documento, onde se referem apoios de entidades, disse
que a “Resin” foi uma delas, não se lembrando se a CMF foi também uma dessas
entidades que apoiou financeiramente o clube.
Partiu do pressuposto que os 7.500 cts em numerário provieram também da
“Resin” dados os factos que relatou (cfr. ainda a factura anulada de 20.000 cts do FCF
referente a donativo e constante de fls 465 do 2º volume/425 do apenso 96-A e a factura
de 12.500 cts + IVA do mesmo clube, datada de 31.12.98, referente ao alegado contrato
de publidade de fls 443 do apenso 96-A, constante de fls 429 do mesmo apenso, bem
como a factura anulada referente a donativo de 12.500 cts e constante de fls 427 do
penso 96-A).
Ainda a propósito do pretenso contrato de publicidade constante de fls 443 do
apenso 96-A (igual a fls 9147), assinado por Fernando Sampaio em representação do
FCF e pelo arguido Vítor Borges em representação da “Resin” e datado de 03.08.98 (e
nos termos do qual o pagamento dos 12.500 cts estaria previsto para Dezembro desse
ano), o arguido Júlio Faria não soube precisar se ao respectivo valor correspondeu um
acréscimo de publicidade no estádio, admitindo porém que a publicidade que se vinha
efectuando se manteve nos mesmos moldes, muito aquém daquele valor de 12.500 cts
(o que reforça a ideia de que se tratou de um contrato simulado, de modo a disfarçar um
donativo).
Este arguido não conseguiu dar qualquer explicação para o facto de aparecerem
duas facturas referentes a donativos, uma referente a 20.000 cts (factura nº 1583, de
30.12.98) e outra referente a 12.500 cts (factura nº 1586, de 30.12.98), ambas anuladas,
e uma outra de 12.500 cts + IVA, datada de 31.12.98, referente ao dito contrato de
publicidade (cfr. fls 443 do apenso 96-A), pese embora tenha negado que o contrato de
publicidade já mencionado tenha sido simulado (se assim é, não se compreende que o
mesmo tenha sido celebrado em Agosto de 1998, em face do manuscrito de fls 170, do
1º volume. Essa posição coaduna-se ainda mal com o facto de ter declarado que o
montante que a “Resin” estaria disposta a disponiblizar dependeria dos montantes que
recebesse da CMF e da AMVS, sendo certo que desta apenas recebeu luz verde quanto
ao adiantamento referente à construção do aterro RIB de Felgueiras a que se reporta o
documento de fls 291 do apenso 12 em Novembro de 1998), tendo sido por isso apenas
contactado pela “Resin” - eventualmente através do arguido Horácio Costa - já depois
de vencida a primeira prestação a pagar à CCAM, vencida em 30 de Setembro de 1998,
no âmbito do contrato de transacção celebrado com essa instituição e já referido, no
sentido de que estariam dispostos a contribuir com os 20.000 cts em falta)
De resto, as incongruências assinaladas, o contexto em que se desenrolou a
reunião dos arguidos Júlio Faria e Horácio Costa na sede da “Resin” (onde se procurou
obter uma contribuição de 20.000 cts) e a veracidade do manuscrito de fls 170 do 1º
volume (confirmado pelo seu autor) parecem afastar o facto insinuado de que as
facturas anuladas e já referenciadas tenham sido forjadas.
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2º Juízo
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2º Juízo
Não pôs em causa o teor do documento de fls 162 do 1º volume (guia de receita
emitida pela CMF a favor da “Norlabor”, datada de 07.10.98, e um cheque emitido pela
CMF, ambos no valor de 7.155.153$00, datado de 08.10.98; cfr. ainda a respectiva
ordem de pagamento, constante de fls 136, do apenso 95-A, datada de 06.10.98, bem
como o recibo de fls 188 do apenso 97, emitido pela “Resin” à “Translousada” a
22.10.98), referindo porém desconhecer o teor do documento de fls 163 do 1º volume,
não conhecendo inclusive a respectiva letra.
Reafirmou que a “Resin” não efectuou o pagamento em causa e muito menos em
numerário, sendo certo que a “Resin” não fazia pagamentos em numerário desse
montante e não tinha a prática de distribuir dinheiro pelos autárcas das autarquias onde
prestava os seus serviços.
Quanto ao documento de fls 22 do apenso 12, referiu nunca o ter visto (cfr. a
anotação a lápis).
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2º Juízo
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2º Juízo
4. Nega a matéria constante neste ponto, visto que não entregou qualquer
quantia ao arguido Horácio Costa.
Esclareceu que apenas procedeu à contabilização do cheque de 12.500.000$00,
datado de 29.12.98, destinado ao pagamento do contrato de publicidade celebrado com
o FCF.
Reconhece que o valor em causa é exagerado para a publicidade, mas a decisão
não passou por si mas apenas pela administração da “Resin”.
Referiu que inicialmente o FCF tinha emitido uma factura de 12.500.000$00
referente a donativo (cfr. fls 427 do apenso 96-A), a qual viria a ser devolvida, pois
tinha de fazer referência ao contrato de publicidade referido. Foi por essa razão que a
mesma foi anulada e emitida nova factura no mesmo valor.
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Admite que possa ter falado desse assunto com a arguida Fátima Felgueiras, mas
não se recorda desse facto.
Recorda-se porém de ter sido questionado acerca desse assunto, numa reunião de
coordenação, pelo Vereador Manuel Faria.
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2º Juízo
Limitou-se a cumprir a ordem que lhe havia sido dada pela arguida Fátima
Felgueiras.
Na sequência do que consta no documento de fls 3720 do 15º volume (ou fls 73
do apenso 139-A), foi efectuada a publicidade da “Resin” na edição de 06.06.97 no
jornal “O Sovela” (cfr. documento de fls 3117 do 15º volume ou fls 68 a 70 do apenso
139-A).
2. Referiu que, ao que pensa, o arguido Carlos Marinho foi-lhe apresentado pelo
arguido Gabriel aquando da entrega da pasta com o dinheiro conforme referido na
pronúncia (o arguido Gabriel, por seu turno, já lhe havia sido apresentado pelo arguido
Vítor Borges). Recorda-se aliás do arguido Vítor Borges lhe ter dito que o arguido
Carlos Marinho ficaria responsável pela área do Vale do Sousa já que estava muito
ocupado noutros negócios em outras áreas do país.
Partiu do pressuposto que o arguido Carlos Marinho já tinha sido apresentado à
arguida Fátima Felgueiras na medida em que em certa ocasião o tinha visto a sair do
gabinete dela.
Sucede que, segundo referiu, a 16 de Julho de 1998 o arguido Carlos Marinho
(que se fazia acompanhar, ao que pensa, pelo arguido Gabriel) fez-lhe a entrega de uma
pasta com o timbre da “Resin” no seu gabinete, a qual era proveniente da empresa
referida e destinava-se à arguida Fátima Felgueiras. Tem a certeza que a pasta foi-lhe
entregue nesse dia pois anotou a data, tal como habitualmente fazia quando algo lhe era
entregue.
Entregou então a dita pasta à destinatária a qual, na sua presença, abriu-a e
verificaram que continha 5.250.000$00, dinheiro essa que ela lhe mandou guardar. Na
pasta vinham também papéis a que não prestou atenção (os documentos referidos na
pronúncia).
A pasta em causa não é senão aquela que foi já exibida na audiência de
julgamento e que ostentava o timbre da “Resin” (pasta essa que o arguido Vítor Borges
reconheceu ser da dita empresa).
Explicou que parte desse dinheiro foi usado na aquisição da viatura “Audi A4”
referida nos autos e 200.000$00 destinou-se à celebração do contrato de seguro
referente à mesma, o qual foi celebrado em Fafe num agente de seguros que o depoente
conhecia (o Sr. Palhares), tendo levado os documentos necessários para o efeito, os
quais mais tarde foram devolvidos à arguida Fátima Felgueiras, ao que pensa por
remessa para a sua residência, situada no “Edifício Águia”. Recorda-se que não se
aproveitou o seguro da viatura “Citroën BX” de que ela era proprietária.
Ainda a esse propósito, quando se começou a falar na aquisição de uma viatura
nova para a arguida Fátima Felgueiras o depoente expressou-lhe que a conta do BES
não estava aprovisionada com os fundos necessários para o efeito, ao que ela lhe
respondeu que o dinheiro haveria de aparecer.
Foi com ela no início do ano de 1998 a uma exposição automóvel que decorreu
na “Exponor” (acompanhava-os o filho dela e o arguido Joaquim Freitas), tendo na
altura ficado indecisa entre um “Volvo” e um “Audi A4”, tendo optado mais tarde por
esta última viatura por influência da filha.
Consequentemente, escolhida a viatura bem como a respectiva cor e os estofos,
ela ordenou-lhe que diligenciasse pela aquisição da referida viatura nova, o que fez em
Junho de 1998, mediante a obtenção de vários orçamentos (num stand em Guimarães,
onde foi recebido pelo Sr. Paulo Todo Bom e que pelo telefone lhe deu o respectivo
orçamento, tendo-lhe aliás querido impingir uma viatura já usada; contactou a
“Machado e Costas, SA” que o remeteu para a VW de Guimarães a fim de entrar em
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2º Juízo
contacto com o Sr. Carlos Santos, o que fez, tendo então telefonado à arguida Fátima
dando-lhe conta de que já tinham arranjado a viatura).
Ela, o depoente e o arguido Joaquim Freitas deslocaram-se então ao stand para
recolher a viatura (algures entre Junho ou Julho de 1998, sendo certo que entre a
encomenda da viatura e a respectiva entrega demorou cerca de um mês) e ela mostrou-
se desagradada com o facto de ter sido pintada na carroçaria, na traseira, o nome do
stand, tendo então o arguido Joaquim Freitas chamado um funcionário para remover da
pintura a alusão a “M. Costa, SA”.
Por volta da hora do almoço chegaram à CMF nessa viatura e o depoente
estacionou-a.
Explicou que a arguida Fátima Felgueiras exigiu que o dinheiro usado para a
aquisição da viatura passasse pela conta pessoal do arguido Joaquim Freitas, segundo
este lhe contou. Como este se recusou a tal colocou-se a hipótese de levar o dinheiro em
numerário, hipótese que foi posta de parte pois seria um comportamento desadequado
que poderia causar estranheza. Entretanto, durante um jantar em que estavam presentes
a arguida Fátima Felgueiras, o filho desta e o arguido Joaquim Freitas, aquela disse ao
depoente que o dinheiro deveria passar pela sua conta pessoal. Não obstante não ter
ficado agradado com tal situação teve de ceder. Consequentemente, retiraram
4.700.000$00 da pasta e procederam ao respectivo depósito na sua conta pessoal no dia
28.07.98 juntamente com um depósito de 50.000$00 (esses 50 cts reportavam-se a uma
prenda de aniversário que o seu sogro lhe tinha dado, já que faz anos no dia 27.07.). No
dia seguinte os 4.700 cts saíram da sua conta. Foi com esse dinheiro mais 1.000.000$00
depositados na conta do BES que a viatura foi adquirida (custou 5.700.000$00) – cfr. os
cheques de fls 77 do 1º volume (de 1.000 cts e de 4700 cts, datados de 29.07.98); o talão
de depósito de fls 79, a 28.07.98, de 4750 cts + 50 cts no “Banco Mello” (na sua conta
pessoal); fls 80 e ss., referente à proposta de seguro com os dados da arguida Fátima,
onde se verifica que a proposta foi aprovada a 29.07.98, tendo sido emitida a 11.08.98 a
respectiva apólice de seguro, com o nº 4598431-80, sendo certo que o “Audi A4” foi
matriculado a 29.07.98; fls 32 e ss, do apenso I, referente ao extracto da conta do BES
(onde é perceptível o movimento a débito de 1.000 cts a 31.07.98 referente ao cheque nº
59214457, de 29.07.98, cuja cópia consta de fls 77 do 1º volume).
Assegurou que nunca lhe passou pela cabeça que se poderia tratar de “lavagem
de dinheiro”.
O manuscrito de fls 159 encontrava-se também na dita pasta, sendo certo que a
nota a azul (ao fundo do documento), ao que presume, terá sido feita pelo arguido
Carlos Marinho (a dar conta que entregou ao depoente os ditos 5.250 cts); em todo o
caso não o viu a redigir essa nota.
Também o documento de fls 158 se encontrava na pasta referida (ordem de
pagamento da CMF à firma “Norlabor”), sendo certo que desconhecia em absoluto a
existência da firma referida.
Da mesma forma os documentos de fls 160 e 161 encontravam-se
acondicionados no interior da pasta a que se vem fazendo referência.
Explicou que por alturas das festividades (mormente pelo Natal) era costume a
arguida Fátima Felgueiras receber muitos presentes.
Salientou que documentos que tinha na sua posse só lhe suscitaram suspeitas da
prática de crime desde o momento em que surgiram notícias na comunicação social e
desde o momento em que sofreu pressões e das inquirições a que foi sujeito no âmbito
do inquérito a que respeitam estes autos.
Como surgiam também notícias que reputou de infundadas dando conta da sua
responsabilidade e da responsabilidade criminal do arguido Joaquim Freitas decidiram
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2º Juízo
proceder à entrega dos documentos que tinham na sua posse à PJ (cfr. fls 63 e ss. e
ainda a respectiva contestação à acção de prestação de contas que lhes foi movida pelo
PS, cuja cópia consta de fls 2897 e ss.). Explicou aliás que chegaram a guardar os
documentos num cofre do “Banco Mello” ao qual só tinham acesso com duas chaves
(cada uma delas ficou em poder respectivamente do depoente e do arguido Joaquim
Freitas), de sorte que só na presença dos dois é que podiam abrir o dito cofre.
Procederam desse modo porque sentiu que não podia guardar os documentos em sua
casa em condições de segurança (cfr. o extracto bancário da conta do “Banco Mello” de
fls 14738, onde se faz referência à caução paga pelo cofre – 13.200$00 -, e à respectiva
anuidade de 4.900$00).
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2º Juízo
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2º Juízo
Explicou que o arguido Júlio Faria deslocou-se a Matosinhos de Lisboa (pois era
deputado na Assembleia da República, sendo certo que o depoente tem a ideia de que
ainda decorriam as férias parlamentares), tendo sido combinado entre ambos que se
encontrariam em Matosinhos. Chovia torrenciamente e aguardou por ele cerca de duas
horas num café próximo da sede da “Resin”.
Como ele o não contactava via telemóvel telefonou-lhe, tendo-lhe então
transmitido que já se encontrava na sede da “Resin” e pediu-lhe para se deslocar para lá,
o que fez.
Uma vez ali chegado subiu umas escadas e dirigiu-se à recepção onde perguntou
pelo arguido Vítor Borges. Após lhe ter sido fornecida a informação pedida subiu outro
lanço de escadas e penetrou num gabinete (não sabe a quem pertencia), onde estavam à
conversa os arguidos Vítor Borges, Gabriel Almeida e Júlio Faria, de sorte que não
assistiu à maior parte do que entre ambos foi dito. Ouviu então o arguido Vítor Borges
dirigir-se ao arguido Gabriel pedindo-lhe que fosse buscar “aquilo” para o Júlio Faria, o
que este fez (uma vez cá fora o arguido Júlio Faria confidenciou-lhe que se tratava de
2.000.000$00 em numerário). O arguido Vítor Borges transmitiu ainda ao arguido Júlio
Faria que num futuro próximo iriam ver o que poderiam fazer (o arguido Júlio Faria
disse-lhe que se tinha deslocado à “Resin” para pedir um donativo avultado uma vez
que o FCF atravassava por grandes problemas financeiros). Despediram-se e
regressaram a Felgueiras.
Deu conta do que se passou à arguida Fátima Felgueiras e nunca mais esse
assunto veio à baila com o arguido Júlio Faria, à excepção de uma carta dele dirigida a
si (e que recolheu no GAPP), a qual faz referência a esse assunto, datada de 06.11.98
(cfr. fls 170). Era perceptível, não só pelo depoente mas por outras pessoas, que existia
mau estar entre os arguidos Júlio Faria e Fátima Felgueiras por causa do futebol (a
arguida Fátima chegou a participar num peditório para o FCF juntamente com alguns
dos seus dirigentes, como por exemplo os Srs Fernando Lima e Álvaro Costa).
Deu-a a ler à arguida Fátima Felgueiras e ela disse-lhe para “deixar correr”.
A propósito da versão apresentada pelo arguido Júlio Faria acerca da forma
como foi abordado para ir consigo a Matosinhos, explicou que foi uma única vez ao
estádio Dr. Machado Matos a propósito de uma iniciativa que envolvia as escolas do
concelho.
Só alguns vereadores e o presidente da Assembleia Municipal é que recebiam
convites do FCF para o camarote presidencial. O depoente nunca recebeu tal convite.
Nunca viu aliás com bons olhos o relacionamento existente entre o FCF e a
CMF.
Algures em Novembro de 1998 recorda-se de estar a sair com o arguido Joaquim
Freitas de um restaurante quando um empresário (dirigente do FCF) interpelou o
Joaquim Freitas e perguntou-lhe se já tinha vindo a “massa” da “Resin” para o FCF.
Sucede que cerca de um mês depois, nos últimos dias de Dezembro de 1998
(30.12.98) o arguido Carlos Marinho (não se recorda se acompanhado do arguido
Gabriel Almeida) dirigiu-se ao seu gabinete na CMF e entregou-lhe dois envelopes, um
com um cheque e outro com dinheiro em numerário e transmitiu-lhe que se destinava ao
FCF.
Pouco depois foi ao gabinete da arguida Fátima Felgueiras e deu-lhe conta do
sucedido, ao que ela lhe perguntou se era para o FCF, tendo-lhe respondido
afirmativamente. Instruiu-o então no sentido de guardar os envelopes e informou-o que
iria contactar alguém para os ir buscar.
Cerca de 1 ou 2 horas depois apareceram no seu gabinete o Dr. Barata Feio e o
Sr. Figueiredo os quais lhe transmitiram que vinham buscar o dinheiro destinado ao
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15.09.98, além de que, a ter sido celebrado um contrato de publicidade que já previa o
pagamento de 12.500 cts pela “Resin” no final do ano, não faria sentido o manuscrito de
fls 170. Não tem igualmente logica a celebração de dois contratos de publicidade no
mesmo dia e para a mesma época desportiva).
O depoente não tem memória de outra empresa que não a “Resin” ter entregue
quantias monetárias em circunstâncias semelhantes, não encontrando para esse facto
qualquer explicação.
A arguida Fátima Felgueiras nomeou-o seu representante na Assembleia Geral
da AMVS, em 1999, nos quais participaram os arguidos Vítor Borges e Gabriel
Almeida; nessa assembleia foi debatido o aterro da Lustosa (eram reclamações que
estavam em cima da mesa).
Em reunião de Câmara foi-lhe retirada essa representação e passou a ser o
verador Manuel Faria (principal opositor da arguida Fátima) quem assumiu esse papel,
justificando-se essa nomeação com o facto de estar distanciado dos contactos com as
pessoas da “Resin”.
A propósito do “Dia Mundial do Ambiente”, para além do manuscrio referido a
este propósito, não teve qualquer outra intervenção (limitou-se a proceder conforme
instruções que tinha).
Fez também contactos para a celebração de eventuais contratos de publicidade
entre o FCF e outras entidades, nomeadamente empresas, a pedido do arguido Júlio
Faria.
2. Quanto ao recebimento em causa referiu que certo dia (que não especificou),
no edifício da CMF, entrou no gabinete do arguido Horácio Costa sem bater à porta e
deparou-se com os arguidos Gabriel Almeida e Carlos Marinho à conversa com o
arguido Horácio Costa. Pediu desculpa e saíu. Aguardou então que aqueles saíssem,
tendo então questionado o arguido Horácio acerca da visita daqueles sujeitos, tendo-lhe
então explicado que tinham entregue um donativo acondicionado numa pasta, a qual na
altura viu e tinha aposto o nome da “Resin”. Tal pasta (igual à que lhe foi exibida e que
se encontra apreendida) foi guardada pelo arguido Horácio num armário. Não
inspeccionou o conteúdo dessa pasta, mas sabe que continha de 5.000 e tal contos (pelo
que lhe disse o arguido Horácio) e que tal dinheiro serviu para comprar o Audi A4
referido nos autos conforme melhor explicitará mais à frente. Nessa altura o arguido
Horácio não lhe referiu que no interior dessa pasta estavam acondicionados os
documentos referidos na pronúncia. Entretanto, tendo feito um esforço de memória,
admitiu que já não se recorda se os factos ocorreram conforme descreveu inicialmente
quando encontrou os arguidos Gabriel e Carlos Marinho no gabinete do arguido
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2º Juízo
Horácio ou se afinal estava com o arguido Horácio no gabinete deste quando surgiram
os arguidos Gabriel e Carlos Marinho e saíu para que pudessem conversar à vontade,
tendo depois questionado o arguido Horácio Costa nos termos referidos quando aqueles
funcionarios da “Resin” saíram.
Ignora porque razão a “Resin” entregou aquele donativo.
Na sequência do que lhe revelara a testemunha Manuel Faria num almoço de
trabalho que ocorreu cerca de 1 mês antes do telefonema para a PJ (testemunha com
quem mantém relações comerciais) – isto é da suspeita da existência de um “saco azul”
que se destinou a financiar a campanha eleitoral de 1997, o “Sovela” e o FCF –
vasculhou com o arguido Horácio Costa no gabinete deste os documentos que tinham na
sua posse e que poderiam indiciar a prática de um crime. Na sequência dessa recolha de
documentos remeteu à PJ a missiva de fls 63, datada de 28.03.2000, onde remeteu
igualmente vários documentos, entre os quais cópia de um cheque titulando o montante
de 6.633.634$00, emitido a favor da “Norlabor” (cfr. fls 66). Segundo lhe disse o
Horácio Costa, foi a arguida Fátima quem lhe ordenou que guardasse no seu arquivo
esses documentos.
Tais documentos estavam todos acondicionados numa pasta da “Resin”, a qual
continha o dinheiro acima referido (cinco mil e tal contos) - seria a pasta apreendida e
que lhe foi exibida -, segundo lhe disse o arguido Horácio quando o questionou acerca
da existência do dito “saco azul”.
Quanto ao documento de fls 67 (igual ao de fls 159) esclareceu que só o viu
quando verificou com o arguido Horácio os documentos que tinham na sua posse cerca
de 2 ou 3 dias antes de ligarem à PJ. Não sabe explicar o teor desse documento,
designadamente qual o concreto significado da expressão “retornos”.
Não conhece a firma “Norlabor”.
Nessa altura o depoente era apenas membro da Assembleia Municipal de
Felgueiras.
A “Resin” prestava serviços na área dos lixos à CMF, tendo sido a primeira
empresa a trabalhar com a CMF nessa área.
Ignora se a “Resin” prestava esses serviços por intermédio de outra empresa
(designadamente por subempreitada).
3. Soube pelo arguido Horácio Costa – no próprio dia ou no dia seguinte, ao que
pensa em 1998 (mas sem ter a certeza) - que a “Resin”, por intermédio do arguido
Gabriel Almeida, entregou-lhe mais um donativo, em montante que ignora, e que vinha
acondicionado numa pasta sem o logotipo dessa empresa.
Não se recorda se o donativo foi entregue em numerário ou em cheque, mas tem
a ideia de que foi em numerário na medida que, segundo se recorda, todos os donativos
da “Resin” foram entregues em numerário (à excepção de um donativo para FCF no
montante de 12.500.000$00).
Ainda segundo o que lhe foi dito pelo arguido Horácio, com esse diheiro foi
ainda entregue o cartão de fls 164 do 1º volume. O documento em causa foi rubricado
pelo depoente e pelo Horácio Costa, pois tinham o costume de rubricar todos os
documentos que recebiam, quer em termos de entrada quer em termos de saída de
dinheiro (isto é, rubricavam os respectivos documentos de suporte), para assim evitar
suspeitas de aproveitamento pessoal e para poderem prestar as respectivas contas.
Não sabe explicar o que está manuscrito nesse cartão.
Já o documento de fls 162 não está rubricado nem pelo depoente nem pelo
arguido Horácio na medida em que nada tinha a ver com a recolha de fundos ou com
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2º Juízo
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2º Juízo
funcionava como sede do PS de Felgueiras – o qual nunca foi posto em nome do partido
porque assim não quis a arguida Fátima - e foi pago segundo indicação manuscrita
aposta pelo arguido Horácio nesse documento, indicando ainda o cheque que serviu de
meio de pagamento no valor de 776.000$00 – cfr. doc. de fls 56 do apenso 1, datado de
08.08.97 -, já que se obteve um desconto num orçamento de 800.000$00).
A conta do BES serviu ainda para pagar bilhetes de um sorteio realizado pelo
FCF em 1997 ou 1998 (são aqueles que se encontram apreendidos nos autos e que
foram exibidos na audiência de julgamento), de que o documento de fls 84 é um
exemplo.
Confrontado com o manuscrito que acompanha esses bilhtes referiu ignorar a
quem pertence a respectiva letra.
Foi a arguida Fátima quem entregou ao arguido Horácio 1.550 bilhtes e pediu
para os “desenrascar”, segundo este lhe disse. Foi o arguido Horácio quem entregou o
dinheiro referente a esses bilhetes (a 1.000$00 cada um), não sabendo se o fez
directamente a ele (Júlio Faria) ou por entreposta pessoa.
Esclareceu que o arguido Horácio apenas lhe mostrava todos os documentos
relacionados com a conta do BES e com a caixa, sendo certo que quer uma quer outra
foram movimentadas também depois da campanha eleitoral, designadamente para pagar
despesas relacionadas com o “Sovela”, com as campanhas para o Referendo da
Regionalização e Legislativas e ainda para proceder a outros pagamentos, alguns dos
quais já referiu.
O arguido Júlio Faria tinha perfeito conhecimento dos movimentos da conta do
BES.
Depois de referir não se recordar de nenhuma ordem de pagamento dada pelo
arguido Júlio Faria foi confrontado com o documento de fls 171 do 1º volume e
explicou que se trata de um “post-it” amarelo escrito pelo arguido Júlio Faria (cuja letra
reconhece) e entregue ao arguido Horácio, reportando-se a uma ordem dada pelo
arguido Júlio no sentido de se proceder ao pagamento de 800.000$00 ao Sr. Orlando
Costa (o qual forneceu pendões e bandeiras para a campanha eleitoral de 97), tendo sido
por isso emitido o cheque cuja cópia se acha a fls 137 do apenso 1, emitido ao portador
a 09.12.97.
Sinal de que eram minuciosos em todas as despesas que pagavam deu como
exemplos os documentos de fls 226 do apenso 4 (manuscrito que se reporta à compra de
selos) e de fls 286 do apenso 4 (manuscrito alusivo a várias compras sem recibo
justificativo).
Recorda-se de que houve um donativo da “Resin” em que chegaram a entregar
centavos (em moedas), sendo certo que a “Resin” só efectuou um donativo em cheque
para o FCF no montante de 12.500.000$00, conforme já referido.
Confrontado com o documento de fls 289 do apenso 4 referiu tratar-se de um
manuscrito com referência a saídas em numerário. Tal documento está rubricado pelo
depoente e pelo arguido Horácio (pelas razões que já acima explicou) e relaciona-se
com a aquisição do “Audi A4” referido nos autos (4.700 cts referentes à aquisição da
viatura + 200 cts referentes ao seguro) e com a aquisição dos 1.550 bilhetes acima
referidos.
Referiu que esses pagamentos devem ter sido feitos com a terceira entrega por
parte da “Resin” pois antes disso tinham pouco dinheiro em gaveta e na conta do BES
(em Dezembro tinham um saldo que não chegou aos 800.000$00, conforme emerge do
respectivo extracto bancário constante do apenso 1, fls 42 a 44) e só a “Resin” fazia
donativos na ordem dos 5.000 cts.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
4. Ao que pensa no final do ano de 1998 (pouco tempo depois o arguido Horácio
haveria de assumir as funções de vereador na CMF), encontrou o Dr. Barata Feio e o Sr.
Figueiredo (os quais faziam a contabilidade do FCF) nas instalações da CMF e
perguntou ao arguido Horácio o que tinham ido lá fazer, ao que este lhe respondeu que
tinham ido buscar 20.000.000$00 que tinham sido doados pela “Resin” e que esse
donativo tinha sido conseguido através da arguida Fátima Felgueiras (cerca de 1 mês
antes, num jantar num restaurante em Santa Quitéria, esta tinha dito ao depoente que se
ia afastar do futebol. O Dr. Sousa Oliveira tinha aliás pedido ao depoente e ao arguido
Horácio para tentarem convencê-la a deixar o futebol).
Ignora se entre o FCF e a “Resin” foi ou não celebrado algum contrato de
publicidade.
Entre os documentos que foram remetidos às PJ com a missiva de fls 63 do 1º
volume encontra-se o documento de fls 88, o qual se trata de uma missiva do arguido
Júlio Faria dirigida ao arguido Horácio Costa alusivo à dívida do FCF à CCAM e ao
facto de faltar liquidar a quantia de 20.000.000$00 relativa a uma das prestações
acordadas entre aquelas duas instituições.
Recorda-se aliás que, antes da entrega desses 20.000 cts, estando o depoente
num restaurante acompanhado do arguido Horácio, ouviu da boca de um dos donos da
“Irmalex” que iria haver um grande donativo para o FCF por parte da “Resin”. Esse
indivíduo dirigiu-se-lhe antes de mais para saber se essa entrega já tinha ocorrido ou
não. Tratava-se de uma questão que era já do domínio público.
Esclareceu que durante menos de um mês foi vice-presidente do FCF (o arguido
Júlio era o presidente). Foi a arguida Fátima Felgueiras quem o aconselhou a sair
porque caso contrário iria ter problemas.
O arguido Horácio não ia assistir a desafios de futebol (apesar do FCF endereçar
para a CMF convites) e o depoente não gosta desse desporto e, enquanto vice-presidente
do FCF, apenas assistiu a 3 ou 4 desafios. Em 1997 foi uma vez ao estádio com o
arguido Júlio.
Normalmente eram a presidente da autarquia, o arguido Bragança, um verador
da oposição, o Sr. Júlio Pereira, entre outros, quem usavam os convites endereçados
pelo FCF à CMF.
Não tem conhecimento do facto da “Resin” ter procurado cobrar uma factura de
cerca de 20.000 cts à CMF no final do ano.
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2º Juízo
Por fim, foi emitida a factura nº 1596 pelo FCF a favor da “Resin”, respeitante a
um contrato de publicidade de 12.500.000$00 (+ IVA a 17%, o que representa mais
2.125.000$00, pelo que a factura prefaz o total de 14.625.000$00).
A esse propósito, a “Resin” emitiu o cheque nº 9112924417, de 12.500.000$00,
datado de 29.12.98.
Porém, só em Janeiro de 1999 pagou a quantia de 2.125.000$00, respeitante ao
IVA, através do cheque nº 812924566 (cfr. talão de depósito de fls 433 do apenso 96-A,
efectivado a 29.01.99).
O normal seria que o IVA fosse pago desde logo com o valor de 12.500.000$00.
Por outro lado, partindo do pressuposto que tal quantia se tratou de um donativo
não faria sentido a emissão de uma factura, a qual é emitida apenas quando se presta um
serviço. Em caso de donativo, o normal é apenas a emissão do respectivo recibo (e não
de uma factura). Ademais, se se tivesse tratado de um donativo não seria devido
qualquer IVA. Admite que poderia ser fiscalmente mais vantajoso para a “Resin” a
consideração de um donativo, mas tal depende da situação da empresa. Se a “Resin”
tivesse que pagar IVA ao Estado poderia deduzí-lo, o que será a situação normal), mas
se não tivesse que pagar IVA ao Estado não tinha qualquer interesse em considerar
como donativo a quantia referida. Em todo o caso, sempre poderia pedir o reembolso do
IVA pago a mais.
Ora, nesse ano de 1998 a “Resin” já tinha pago ao FCF a quantia de
1.750.000$00 + IVA respeitante ao contrato de publicidade datado de 03.08.98 para a
época desportiva de 1998/1999, o qual previa o pagamento desse valor aquando da
assinatura desse contrato, isto é, a 03.08.98.
Em face disso foi emitida pelo FCF a factura nº 1424, de 29.09.98, a favor da
“Resin” (esta por seu turno remeteu pelo correio, acompanhada de missiva, um cheque
datado de 14.10.98).
Sucede porém que consta dos autos um outro contrato de publicidade
semelhante ao já referido, datado de 03.08.98, celebrado entre o FCF e a “Resin”,
respeitante a um painel de publicidade situado no topo poente do estádio, pelo preço de
12.500.000$00, referente à mesma época desportiva (98/99). Ora, apesar do contrato ter
a mesma data, as assinaturas não são exactamente as mesmas em relação ao contrato de
publicidade incialmente referido.
Ademais, na época 96/97, a título de publicidade, a “Resin” pagou ao FCF
1.500.000$00 (cfr. factura nº 389, de 07.04.97, no valor de 750.000$00, e a factura nº
1030, no mesmo valor, datada de 30.06.97). Já na época desportiva seguinte (97/98) a
“Resin”, a esse título, pagou ao FCF 3.510.000$00 (cfr. factura nº 1193, de 21.01.98).
A fls 170 dos autos encontra-se um manuscrito escrito pelo arguido Júlio Faria e
dirigido ao arguido Horácio Costa (manuscrito esse datado de 06.11.98).
A fls 447 do apenso 96-A encontra-se cópia de um talão de depósito da quantia
de 7.500.000$00 em numerário, depósito esse efectivado a 30.12.98 às 16.27 horas na
conta do FCF.
No mesmo dia, às 16.25 horas, foi efectuado o depósito do cheque da “Resin” no
valor de 12.500.000$00, acima referido, conforme documentado a fls 431 do apenso 96-
A.
As duas quantias depositadas prefazem o total de 20.000.000$00.
Não é possível saber qual a proveniência da quantia de 7.500.000$00 em
numerário apenas pela análise dos documentos (cfr. ainda o documento de fls 430 do
apenso 96-A, referente às entradas de caixa no FCF).
Conforme consta de fls 444 do apenso 96-A, a “Resin” emitiu a factura nº
9801535 à CMF, no valor de 20.347.500$00 + IVA, o que prefaz o total de
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2º Juízo
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2º Juízo
Só no final de 1999 é que tal factura foi anulada porque existia a expectativa de
que a mesma pudesse ser paga quando fosse legalmente possível encontrar uma solução
que permitisse à CMF pagar os trabalhos que iam sendo executados na lixeira de
Sendim pela “Resin”. Como até ao final de 1999 não foi possível encontrar tal solução
anulou a factura em causa.
Além disso, em Outubro de 1999, a “SITA” (accionista maioritário da “Resin”)
decidiu recomprar a participação de 20% que a “ECOP” detinha no capital social da
“Resin” e vender a totalidade da sua participação à “CESPA”. Ora, o valor da venda
dessas acções seria superior ou inferior consoante os lucros ou prejuízos da “Resin”.
Consequentemente, a “CESPA” tinha todo o interesse que a “Resin” desse o mínimo
lucro possível. Tal foi a principal razão para que a factura em causa fosse anulada.
*
- Testemunha Manuel Ferreira de Faria
4. A oposição explorou politicamente os rumores e as notícias de que a “Resin”
tinha facturado à CMF serviços que não tinha prestado, designadamente uma quantia
que rondaria os 20.000 cts e que se relacionaria com um donativo dado por essa
empresa ao FCF.
Confrontado com o documento de fls 457 e ss. do 2º volume, referiu que se
tratou de uma intervenção política na assembleia municipal da testemunha Joaquim José
Teixeira Ribeiro, Presidente da Junta de Freguesia de Refontoura, eleito pelo PSD (a
este propósito o arguido Horácio Costa referiu ter estado presente e que a testemunha
Joaquim José Teixeira Ribeiro fez a sua intervenção na qualidade de líder do PSD na
assembleia municipal, sendo certo que ele era o porta-voz da comissão política do
PSD).
Ao que pensa em 2001, já depois da denúncia que deu origem a este processo,
numa reunião de câmara, o depoente questionou a CMF e o arguido Barbieri Cardoso
acerca desse assunto e ele respondeu-lhe que não visava “facturas falsas” (não tem a
certeza se a expressão usada foi esta mas a expressão empregue por ele tinha o sentido
de que a quantia em causa não era devida pela CMF).
Segundo foi dito na reunião de câmara a factura ou facturas (não sabe se era uma
ou mais do que uma) em causa foi devolvida (cfr. factura de fls 444, do apenso 96-A,
datada de 31.12.98, no montante de 23.806.575$00; cfr. a carta que acompanhou a
devolução dessa factura, subscrita pelo arguido Barbieri Cardoso e datada de 08.01.99,
constante de fls 445 do apenso 96-A).
O arguido Horácio Costa estava presente em tal reunião.
Pensa que existia um contrato de publicidade celebrado entre o FCF e a “Resin”
no valor de 20.000.000$00, sendo certo porém que nunca o viu (cfr. o contrato de
publicidade alusivo a um painel, no valor de 12.500.000$00, constante de fls 443).
Nunca tinha visto os documentos de fls 464 a 466.
Essas questões de ordem financeira do FCF discutiam-se sobretudo aquando da
apresentação do orçamento, no sentido de se saber que receitas iriam suportar os custos.
Não sabe se a “Resin” chegou a fazer publicidade nas camisolas do FCF, mas
tem a ideia de se falar disso.
Ouviu dizer que o FCF encontrava-se em incumprimento das suas obrigações
relativamente à CCAM e que com a dita verba de 20.000 cts regularizou esse débito,
mas não tem conhecimento directo desse facto (a este propósito, porém, o arguido Júlio
Faria referiu que a transacção celebrada entre a CCAM e o FCF a 15.09.98 pôs fim a 2
ou 3 acções nas quais a testemunha Manuel Faria figurava como demandado – enquanto
ex-dirigente do FCF -, facto que este confirmou. Referiu porém não ter tido parte activa
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2º Juízo
na celebração desse acordo; manifestou a sua convicção, não fundamentada, de que esse
acordo nenhuma relação teve com o aludido contrato de publicidade).
Ignora que dirigentes do FCF “bateram à porta” da “Resin” para lhe pedir um
donativo.
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2º Juízo
Confirmou que entre o FCF (representados pelos seus directores) e a CCAM foi
celebrado um acordo, nos termos do qual a dívida daquele clube à sua entidade patronal
foi consolidada em 325.000.000$00, acordo esse celebrado em finais de 1997 ou 1998.
Confrontado com o documento de fls 109 a 113, do apenso 14, datado de
15.09.98, confirmou tratar-se do acordo a que se referiu (o qual inclusive também foi
assinado pelo depoente enquanto representante da CCAM). Tais assinaturas, conforme
observou nesse documento, foram reconhecidas notarialmente no dia 15.09.98.
Explicou que o FCF tinha uma dívida para com a CCAM, de proveniência
variada (financiamentos concedidos até 1997, contas a descoberto bem superiores a
20.000 cts e porventura para além da prática bancária, etc), que esta procurou cobrar
pela via judicial, tendo para o efeito intentado várias acções judiciais em 1996 e 1997
(em que eram demandados quer o FCF quer os respectivos directores), processos esses
que terminaram por transacção. Foi pois para pôr fim a esses processos que se celebrou
a transacção a que se reporta o documento de fls 109 a 113 do apenso 14.
Conforme se observa em tal acordo, o FCF teria de pagar 50.000.000$00 até
30.09.98. Presume a testemunha que tal prestação tenha sido paga porque essa dívida
não existe. Tal testemunha não conseguiu precisar de que modo tal prestação foi paga.
Foi confrontado com o documento de fls 51 e 52, do apenso 17 (missiva da
CCAM ao FCF, de 16.10.98, solicitando o pagamento dos 20.000.000$00 em falta
relativos à prestação vencida em Setembro desse ano, pois já tinham sido pagos
30.000.000$00).
Foi ainda confrontado com o documento de fls 63 do apenso 17 (missiva do FCF
à CCAM, assinado pelo arguido Júlio Faria e por Álvaro Costa, a dar conta de que o
remanescente dessa prestação – 20.000 cts – iria ser pago até ao final do ano).
Confrontado com o manuscrito de fls 170, do 1º volume (exarado pelo punho do
arguido Júlio Faria e dirigido ao arguido Horácio Costa) assegurou ser a primeira vez
que vê esse documento, não garantido que esteja relacionado com a dívida de 20.000 cts
referente ao remanescente da prestação acima referida. Em todo o caso, para aquela data
inexistia qualquer outro compromisso do FCF para com a CCAM nesse valor.
Para além disso, concedeu que só após a celebração da aludida transacção é que
as partes passaram a conhecer qual o plano de pagamentos estipulado.
As negociações que levaram à celebração de tal acordo passaram por várias
etapas, envolvendo aliás o Dr. Tavares Moreira da Caixa Central (em cujas reuniões
com os responsáveis do FCF o depoente não participou), mas não acredita que estivesse
já apalavrado cerca de 9 meses antes da sua formalização. Já não o pode assegurar, mas
tem a ideia de que as negociações demoraram cerca de 1 a 3 meses, pois a CCAM teve
de avaliar o terreno dado em cumprimento parcial da obrigação, pelo que antes dessa
avaliação não era possível saber se esse acordo se iria concretizar ou não.
Confrontado com cópia do cheque de 20.000 cts emitido pelo FCF, datado de
31.12.98 e com cópia do respectivo talão de depósito de fls 451 do mesmo apenso,
admitiu que possam dizer respeito ao pagamento dos 20.000 cts referidos, salientando
porém que só poderia ter a certeza desse facto com o extracto da conta-corrente entre
ambas as entidades.
Ignora se o FCF pagou juros de mora pelo atraso na liquidação da totalidade da
prestação vencida a 30.09.98.
Referiu que por força do acordo celebrado o arguido Júlio Faria não assumiu
qualquer compromisso pessoal de pagar o débito do FCF, pois apenas teve intervenção
enquanto representante do clube.
*
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2º Juízo
Ouviu dizer que a “Resin” procurou cobrar cerca de 20.000 cts à CMF (cfr.
cópia de factura de fls 444, de 31.12.98, a qual foi devolvida pela CMF através da
missiva de fls 445, de 08.01.99, assinado pelo arguido Barbieri).
A esse propósito a testemunha Manuel Faria (então vereador eleito pelo PSD)
perguntou ao arguido Barbieri Cardoso por que razão não tinha visado a factura
apresentada pela “Resin”, ao que este lhe respondeu que “não visava serviços que não
tinham sido prestados”. Soube dessa conversa através da testemunha Manuel Faria,
conversa essa que, segundo ele, teve lugar num dos corredores da CMF aquando da
realização da Assembleia Municipal Extraordinária realizada a 28.07.2000.
O Sr. Vítor Vasconcelos era vice-presidente da Comissão Política do PSD local
à data e membro da Assembleia Municipal, ignorando se foi quem forneceu ao partido
algum desses documentos, os quais só poderiam provir dos arguidos Horácio Costa e
Joaquim Freitas.
393
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2º Juízo
cheque emitido a 12.05.98 (cfr. documento de fls 1910), quer quanto ao valor ilíquido
(7.000 cts) quer quanto às legais deduções (de que resulta um valor líquido de
6.633.334$00), fazendo ainda referência à diferença de IVA (pago pela CMF e pelas
empresas envolvidas). Suspeitou a investigação que esses dizeres tenham sido
manuscritos pelo arguido Carlos Marino, que era o responsável pela área de
contabilidade da “Resin”, não tendo sido possível efectuar prova pericial acerca da
respectiva letra (cfr. auto de recolha de autógrafos de fls 2131 e a cota de fls 2132).
Nesse documento faz-se referência a um pagamento a 14.05.97, devendo tratar-
se de lapso de escrita no que respeita ao ano (o cheque da CMF tem a data de 12.05.98,
tendo a “Resin” recebido o respectivo montante – via “Norlabor” e “Translousada” -
pouco tempo depois, sendo certo que o recibo que emitiu tem a data, precisamente, de
14.05.98, embora o depósito na conta da “Resin” se tenha verificado a 15.05.98,
conforme documento de fls 196 do apenso 97).
Os documentos constantes de fls 2009 a 2011 e 4627 a 4629 foram apreendidos
na “Translousada”.
Como já referido, a “Resin” foi a destinatária final dos pagamentos efectuados
pela CMF, tendo emitido à “Translousada” o respectivo recibo a 14.05.98, no valor de
6.633.334$00, conforme documento de fls 195 do apenso 97. Tal documento tinha no
verso manuscrito uns dizeres a lápis e que foi possível recuperar pelo Laboratório de
Polícia Científica, apesar de terem sido apagados (“acerto de contas. Diferença de IVA.
Resin factura à Translousada 17%. Translousada para a Norlabor 17%. Norlabor – CMF
5%). Tal tem ligação com o documento de fls 159, entendendo que tais documentos
possam estar relacionados com um retorno de 5.250 cts (provenientes do segundo
pagamento efectuado pela CMF à “Norlabor”, montante que, entretanto, através desta e
da “Translousada”, teve como destinatário final a “Resin”).
A expressão “custo do justificativo – 10%” reporta-se habitualmente a um custo
imputado a quem emite o documento (factura/recibo) e que serve para dar um aspecto
legal à operação. É prática habitual na fraude fiscal, conforme constata em função da
sua experiência profissional.
Porque tal recebimento se prende com a aquisição do “Audi A4” referido nos
autos (cfr. o capítulo 3º, al. b), da pronúncia), contactaram a firma “Machado e Costas”,
a qual comercializa viaturas da marca “Audi” e “VW”, solicitando-lhe documentos
contabilísticos alusivos ao negócio em causa.
Tal viatura foi adquirida tendo sido entregues, como meio de pagamento, um
cheque da conta do BES de 1.000.000$00 e um cheque de uma conta particular do
arguido Horácio Costa no montante de 4.750.000$00 (cfr. fls 103 do volume 1).
Conforme se pode verificar a fls 79, no dia 28.07.98 (véspera da dita aquisição),
foi efectuado um depósito nessa conta do “Banco Mello” titulada pelo arguido Horácio
Costa, no montante de 4.750 cts. em numerário.
O seguro da viatura foi feito num mediador em Fafe (através do arguido
Horácio).
A esse propósito é relevante o documento de fls 289 do apenso 4 (manuscrito do
arguido Horácio de 28.07.98 dirigido à arguida Fátima alusivo ao seguro do “Audi A4”
(cfr. ainda a contestação dos arguidos Horácio e Joaquim Freitas à acção de prestação
de contas, artigos 81º e 82º).
Já o documento de fls 106 (de 08.07.98) foi elaborado em papel da CMF (tem no
entanto riscada a palavra “presidente”).
3. Os documentos de fls 162 a 164 foram entregues pelo arguido Horácio Costa.
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Foi emitido um cheque de 20.000 cts dessa conta do FCF a favor da CCAM na
medida em que existia um acordo celebrado entre essas instituições de que resultava a
obrigação do clube de pagar uma prestação de 50.000 cts até 31.12.98 (porém, segundo
o acordo, essa obrigação venceu-se em 30.09.98) – cfr. os termos desse acordo,
conforme documento de fls 109 e ss. do apenso 14, datado de 15.09.98.
A fls 92 do apenso 14 consta cópia de um ofício da CCAM para o FCF, datado
de 16.10.98, solicitando o pagamento do remanescente em falta da prestação vencida
em 30.09.98 (20.000 cts, já que tinham sido pagos apenas 30.000 cts).
A fls 170 do 1º volume consta um manuscrito do arguido Júlio Faria para o
arguido Horácio Costa, datado de 06.11.98, onde se alude ao mencionado acordo e ao
montante de 20.000 cts em dívida, referente à prestação vencida a 30.09.98,
referenciando ainda o facto da “Resin” já poder ter recebido o “adiantamento”.
Nessa altura o arguido Júlio Faria fazia parte da comissão administrativa que
geria o FCF.
Os Srs Álvaro Costa e Fernando Lima eram directores ou pessoas ligadas ao
FCF, sendo certo que aquele tinha sido já presidente do clube.
Desse manuscrito resulta que a arguida Fátima estaria a par da situação na
medida em que faz alusão a uma conversa com a “Srª Presidente” (entre ela, o arguido
Júlio e os ditos Àlvaro e Fernando Lima), tendo sido na sequência dessa conversa que o
acordo foi assinado.
Entretanto, o FCF remeteu à CCAM uma carta onde se compromete a liquidar
os 20.000 cts em falta até ao final do ano, na sequência do facto de terem contactado
várias entidades no sentido de apoiar o clube (cfr. fls 63 do apenso 17).
O “adiantamento” referenciado no manuscrito referido só poderá referir-se ao
adiantamento recebido da AMVS (ou melhor, de uma empresa de aquisição de
créditos).
Ora, por missiva da AMVS para a “Resin”, de 06.11.98, foi comunicada a
deliberação favorável de desconto da factura referente ao adiantamento (cfr. doc. de fls
269 do apenso 12). A data dessa missiva é coincidente com a data do manuscrito do
arguido Júlio Faria de fls 170 do 1º volume, o que significa que este já teria
conhecimento da deliberação favorável da AMVS (o recebimento propriamente dito terá
sido posterior) – cfr. ainda o ofício de fls 268 do apenso 12 e a factura de fls 286 do
mesmo apenso, no valor de 389.970.771$00 (coincidente com o valor do adiantamento),
emitida a 22.10.98 pela “Ecop” à “Resin” (esta última era a líder do consórcio).
Em face do recebimento pelo FCF da quantia de 20.000 cts, o clube emitiu uma
factura nesse montante, alusivo a donativo (factura nº 1583, de 30.12.98 – cfr. fls 425
dos autos).
A missiva do FCF para a “Resin” a remeter essa factura consta de fls 464 dos
autos, onde se agradece a comparticipação monetária. Em face desse agradecimento
acha pouco provável que a quantia entregue pela “Resin” diga respeito ao cumprimento
de uma obrigação no âmbito de um contrato de publicidade.
Essa factura foi anulada e substituída por outra (constante de fls 427 do apenso
96 – factura nº 1586, datada de 30.12.98), desta feita no montante de 12.500 cts, mas
ainda alusiva a um donativo.
Não parece razoável que a referência a donativo se trate de um lapso se de facto
se reportasse ao pagamento de uma obrigação no âmbito de um contrato de publicidade
que à data já tivesse sido celebrado entre ambas as partes.
Esta factura foi também anulada e substituída por outra (factura nº 1596, de
31.12.98), no mesmo montante de 12.500 cts + IVA a 17%, fazendo agora alusão ao
397
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
contrato de publicidade (cfr. documento de fls 429 do apenso 96). O IVA foi pago mais
tarde (em Janeiro de 1999).
A fls 9144 (ou a fls 443 do apenso 96) consta uma cópia do aludido contrato de
publicidade, no valor de 12.500 cts, referente a publicidade estática (painel no topo
norte, o mesmo do ano anterior) no estádio para a época desportiva 98/99, datado de
03.08.98, o qual previa o pagamento dessa verba em Dezembro de 1998.
Ora, a publicidade estática nesse mesmo painel, no ano anterior, custou à
“Resin” mil e tal contos.
O contrato de publicidade de fls 443 do apenso 96 não lhes foi exibido aquando
das buscas à “Resin”, o que significa que foi recolhido pela investigação.
Em Dezembro de 1998 a “Resin” emitiu uma factura à CMF (mais precisamente
a 31.12.98 – cfr. documento de fls 444 do apenso 96), reportada ao serviço de
reabilitação e manutenção da lixeira de Sendim de 11.05.98 até 19.12.98, no montante
de 20.347.500$00 + IVA a 5%, num total de 23.866.565$00, factura essa que não foi
visada pelo arguido Barbieri Cardoso, tendo sido devolvida pela CMF a 08.01.99 (cfr.
ofício de fls 445 e 446 do apenso 96), pois nessa altura o pagamento deveria ser feito
pela AMVS.
A investigação presumiu que essa factura tinha uma relação com o donativo de
20.000 cts (procurava assim reaver uma quantia semelhante da CMF).
À data, segundo ideia que tem, a arguida Fátima era presidente da Assembleia
Geral do FCF.
Na CMF encontraram uma série de documentos relacionados com o FCF,
designadamente uma lista de credores do clube.
Em face do que encontraram na CMF a arguida Fátima estaria a par do que se
passaria no clube.
Não sabe precisar em que data começou a funcionar o aterro.
No ofício da “João Tello” para a CMF (cfr. fls 348 e 344 do apenso 98), de
06.06.97, em Junho de 97 foi aposto pela arguida Fátima um despacho a chamar a
atenção de que se deveria fazer a imputação ao aterro da Lustosa (Lousada), portanto à
AMVS.
No ofício de fls 168 do apenso 21, de 30.06.97, remetido pelo Departamento
Tecnico da CMF para a AMVS, assinado pelo arguido Barbieri, informava-se que a
“Resin” tinha sido instruída para apresentar à AMVS a facturação referente à
manutenção da lixeira de Sendim a partir de Abril de 1997.
Não sabe se quanto à questão de se saber que entidade deveria proceder a esses
pagamentos existiu ou não algum conflito.
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2º Juízo
A fls 165 do 1º volume consta uma cópia de um talão de depósito de 170 cts na
conta do arguido Júlio Faria (depósito de um cheque da conta do BES).
A fls 72 dos autos consta uma cópia de um cheque da conta do BES no montante
de 600 cts, emitido a favor do arguido Júlio Faria.
Esclareceu ainda que recolheram na CMF alguns documentos iguais aos que
foram entregues pelo arguido Horácio Costa, como por exemplo cópia dos cheques e
guias de receita referidos.
O documento de fls 22 do apenso 11 reporta-se a um quadro alusivo ao aterro de
Felgueiras/valor em dívida, apreendido na “Resin”. Esse quadro não está datado e dele
não consta qualquer valor semelhante aos valores constantes dos documentos entregues
pelo arguido Horácio Costa.
No verso desse documento tem um manuscrito com os dizeres “recebemos e
devolvemos os valores de Norlabor e João Tello quase na íntegra”. Relaciona esse
documento com os documentos entregues pelo arguido Horácio e alusivos a “retornos”.
4. Na denúncia anónima de fls 217 fazia-se alusão a um donativo ao FCF.
Existia uma dívida do FCF à CCAM que foi consolidada em 325.000 cts através
de um acordo celebrado entre as partes, ao que pensa em 1998 (cfr. o documento de fls
109 a 112 do apenso 14, de 15.09.98).
Até 30.09.98 o clube tinha de pagar uma prestação de 50.000 cts.
Tem a ideia que 10 ou 20.000 cts foram pagos através de um cheque emitido
pela esposa de um dirigente do FCF.
Certo é que o FCF apenas tinha pago 30.000 cts relativamente à prestação
vencida em Setembro de 1998, pelo que faltava a liquidação dos restantes 20.000 cts.
Esse remanescente em falta foi pago através de um donativo de 20.000 cts por
parte da “Resin” ao FCF.
A fls 92 do apenso 14 consta uma cópia de uma missiva da CCAM para o FCF,
datada de 16.10.98, dando conta do atraso no pagamento desses restantes 20.000 cts,
referentes à prestação vencida a 30.09.98.
A fls 170 consta um manuscrito do arguido Júlio Faria, datado de 06.11.98.
A PJ associou esse donativo da “Resin” ao adiantamento recebido da AMVS (ou
melhor, esta entidade autorizou a “Resin” a obter esse adiantamento de uma entidade
financeira de aquisição de créditos, referente ao aterro RIB de Felgueiras).
A esse propósito, a fls 223 e 224 do apenso 20 consta um fax da “Resin”
(assinada pelo arguido Carlos Marinho) para a AMVS a 27.10.98 remetendo uma
minuta para ser transcrita em papel timbrado desta última (esse fax foi remetido à Drª
Eduarda Brandão), minuta essa constante de fls 224 do apenso 20 (reporta-se a uma
autorização da AMVS para que a “Resin” pudesse receber o montante do adiantamento
por conta do aterro RIB).
A AMVS respondeu a 06.11.98 (a mesma data do manuscrito de fls 170 do
arguido Júlio Faria), conforme documento de fls 269 do apenso 12, comunicando que o
conselho de administração havia deliberado autorizar o desconto do adiantamento
pretendido desde que não viesse a pagar juros.
Pensa que essa decisão era já previsível, pois já era falada, pelo que a
deliberação do conselho de administração da AMVS constiuiu um mero formalismo.
Quanto à repartição desse adiantamento pelas empresas do consórcio, tem a
ideia que existem uns mapas alusivos a isso (cfr. o quadro de fls 4160 efectuado pela
perícia, donde emerge que uma verba aproximada de 50.000 cts destinou-se à “Resin” e
o restante à “Ecop”).
Relacionaram o adiantamento aludido no manuscrito do arguido Júlio, constante
de fls 170, com o adiantamento referido.
402
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Desse manuscrito resulta que existiram contactos com a “Resin” e que essa
empresa se disponibilizou por contribuir com 20.000 cts.
Ora, o FCF respondeu à missiva de fls 92 do apenso 14 que lhe havia sido
remetida pela CCAM, conforme cópia da missiva de fls 63 do apenso 17 (data de
04.12.98), comunicando que estaria em condições de proceder ao pagamento dos 20.000
cts em falta até ao final do ano, depois de terem contactado várias entidades. Essa
missiva mostra-se assinada pelo arguido Júlio Faria e pela testemunha Álvaro Costa.
A PJ recolheu documentos que comprovam o depósito desses 20.000 cts na
conta do FCF, 12.500 cts em cheque da “Resin”, datado de 29.12.98 (cuja cópia foi
remetida com a denúncia anónima de fls 217; cfr. ainda o talão de depósito de fls 431 do
apenso 96-A, alusivo ao depósito desse cheque no dia 30.12.98, às 16.25 horas), e o
restante em numerário (ver talão de depósito de fls 447 do apenso 96-A, respeitante ao
depósito dessa verba em numerário na conta do FCF, no banco “Totta & Açores”, em
30.12.98, às 16.27 horas).
O FCF emitiu uma factura no montante de 20.000 cts a favor da “Resin”, datada
de 30.12.98 (cfr. fls 465 do 2º volume), alusivo a donativo (a testemunha referiu que
tinha a ideia que essa factura era alusiva a publicidade).
A fls 464 consta a respectiva carta que enviou essa factura à “Resin”, onde se
procede ao agradecimento da comparticipação monetária concedida para ajuda do
normal desenvolvimento da época desportiva 98/99. Tratando-se de uma carta em que
se agradece a comparticipação, o respectivo teor é compatível com o recebimento de um
donativo.
Essa factura, porém, foi substituída por outra, no montante de 12.500 cts, ainda
alusiva a donativo (a testemunha tinha a ideia que seria alusiva a publicidade) – cfr.
documento de fls 427 do apenso 96-A).
Esta factura foi também substituída por uma outra, no mesmo valor de 12.500
(mais IVA, o que perfazia o montante global de 14.625.000$00), mas desta feita alusiva
a publicidade no estádio (cfr. documento de fls 429 do apenso 96-A).
A fls 433 do apenso 96-A consta um talão de depósito na conta do FCF de um
cheque da “Resin”, no montante de 2.125.000$00 e datado de 29.01.99, respeitante ao
pagamento do IVA a que se reporta a factura de fls 429 do apenso 96-A.
A fls 443 do apenso 96-A consta cópia do aludido contrato de publicidade, no
montante de 12.500 cts, contrato esse que foi datado de 03.08.98.
Tem a ideia que a “Resin” emitiu uma factura à CMF (de 31.12.98, no valor de
23.806.575$00) - cfr. documento de fls 444 do apenso 96-A - e que veio a ser
devolvida (o arguido Barbieri não a visou) porquanto nessa data competia à AMVS
proceder ao pagamento dos serviços descritos nessa factura (serviços de reabilitação e
manutenção da lixeira de Sendim) – cfr. a carta da CMF que devolveu essa factura,
constante de fls 445 do apenso 96-A, datada de 08.01.99 e assinada pelo arguido
Barbieri Cardoso.
No documento de fls 198 e 199 do apenso 105-A (anúncio a publicitar o
concurso internacional para a construção do aterro RIB), ponto 4.2.3., al. b), está
incluída a selagem da lixeira de Sendim.
A fls 233 e ss. do apenso 105-A (caderno de encargos dessa obra), no ponto
2.4.1., está prevista a recuperação e o encerramento das lixeiras, sendo certo que no
ponto 3.3.3. (cfr. fls 235 do apenso 105-A) faz-se referência ao encerramento da lixeira.
A fls 340 e ss. do apenso 105-A, consta a análise das propostas apresentadas,
onde se contempla também o encerramento das lixeiras (tratava-se de um dos
subcritérios de apreciação das propostas).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
A fls 388 e ss. do apenso 105-A consta uma cópia do contrato de empreitada
celebrado entre a AMVS e o consórcio vencedor do concurso internacional em causa,
onde está incluído o encerramento da lixeira.
De resto, na última factura remetida pela “João Tello” à CMF a arguida Fátima
apôs um despacho chamando à atenção para o facto de que a partir de Abril 1997 a
responsabilidade do pagamento é da AMVS.
Deduz pois que não haveria nenhuma razão para que a “Resin” emitisse à CMF
a factura de fls 444 do apenso 96-A.
Tem a ideia que esta factura foi anulada a 27.12.99 (cfr. fls 446 do apenso 96-
A), quase um ano depois de ter sido emitida.
No seu entendimento, a emissão desta factura tratou-se de uma tentativa de
reaver da CMF o que doou ao FCF.
Confrontado com o documento de fls 545 e ss. constatou-se tratar-se de uma das
propostas de acordo entre a CCAM e o FCF. Nesse documento está aposto um carimbo.
Não parece lógico fojar-se um contrato de publicidade para esconder um
donativo, não percebendo qual a razão que lhe está subjacente (relativamente aos 12.500
cts que estão contabilizados). A “Resin” teria interesse fiscal em que a entrega dessa
quantia se tivesse processado a título de donativo e muito mais interesse teria se fosse
contabilizado a esse título os 20.000 cts.
Relativamente à lixeira de Sendim não existem outras empresas, para além das
que referiu a propósito deste ponto da pronúnica e dos outros a que já foi ouvido, que
tenham emitido facturas à CMF.
Pensa que só depois da construção do aterro é que se criaram condições para a
selagem da lixeira de Sendim.
Presume assim que tenha existido um hiato de tempo em que continuou a
deposição do lixo na lixeira de Sendim sem que esta estivesse assim selada.
Parece-lhe que a “Resin” não tinha suporte legal para remeter à CMF a factura
de fls 444 do apenso 96-A.
Não sabe porém se os trabalhos nela referidos se reportam a trabalhos efectuados
antes do encerramento da lixeira de Sendim.
À época a arguida Fátima Felgueiras era a presidente da Assembleia Geral do
FCF.
Era uma pessoa informada acerca do que se passava no FCF, até porque na CMF
apreenderam muitos documentos alusivos ao FCF (por exemplo, iniciativas para recolha
de fundos para o clube e comunicação de assuntos relacionados com o FCF).
Ela, enquanto autarca, aprovou subsídios concedidos ao FCF.
Sem o apoio da CMF não seria possível o acordo celebrado entre a CCAM e o
FCF.
O FCF era a entidade desportiva mais representativa do concelho e por isso
considera legítimo que a arguida Fátima, enquanto presidente da edilidade, se
preocupasse com esse clube.
Em Portugal o futebol é que movimenta as massas, sendo certo que o FCF teve
um período de grande projecção quando subiu à 1ª divisão, mas quando desceu de
divisão começou a existir um afastamento das pessoas em relação ao clube.
Da experiência que tem na investigação de câmaras municipais, constatou que o
futebol costumava ser uma preocupação dos autarcas.
A esse propósito, recorda-se que a CMF usou um documento que copiou da CM
de Guimarães.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Análise critica
No que se refere ao intróito, já se deixou expresso que o Tribunal não se
convenceu que o arguido Carlos Marinho tenha sido um dos cérebros do plano
engendrado e que permitiu, por um lado, à “Resin” ver os serviços prestados de facto à
CMF totalmente pagos e, por outro, que o PS de Felgueiras, o FCF e a arguida Fátima,
por essa via, obtivessem verbas daquela.
Seja como for, ele terá auxiliado os arguidos Vítor Borges, Fátima Felgueiras e
Júlio Faria a levar por diante tal plano, em face das funções que exerceu na “Resin”
(como contabilista primeiro e depois como director financeiro), facto que aliás se
depreende da circunstância de ter elaborado as facturas e procedido a pelo menos duas
das entregas em numerário, conforme infra se irá melhor analisar.
Por outro lado, é certo que o arguido Gabriel Almeida apenas foi admitido ao
serviço da “Resin” em Setembro de 1997, conforme cópia do respectivo contrato de
trabalho que juntou com o seu requerimento de abertura de instrução, assumindo as
funções de director-geral de exploração, sendo o responsável pelas lixeiras e aterros,
designadamente da zona do Vale do Sousa.
Porém, a prova testemunhal produzida não foi de molde a que o Tribunal
pudesse em concreto definir os parâmetros da sua acção, conforme alegado na
respectiva contestação, artgs 20º e 21º.
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2º Juízo
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2º Juízo
13
As facturas emitidas para justificar contabilisticamente os pagamentos e recebimentos efectuados entre
as empresas envolvidas, de modo a que os pagamentos efectuados pela CMF fossem parar à “Resin”, são
falsas na medida em que não correspondem à existência de qualquer relação jurídica que justifique
qualquer pagamento da “Norlabor” à “Translousada” (cfr. facturas de fls 63 a 67 do apenso 97, onde se
refere o aluguer de equipamento) e desta à “Resin”. As facturas emitidas pela “Resin” foram elaboradas
pelo arguido Carlos Marinho, o qual não podia deixar de saber da respectiva falsidade, isto é, que não
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2º Juízo
correspondiam a qualquer serviço prestado pela sua entidade patronal à “Translousada”. Sabia pois do
“esquema” e auxiliou na sua execução (quer através da aparência contabilística que assim criou, quer
através de uma das entregas em numerário que protagonizou).
14
O pagamento ocorreu em 1998 e não em 1997.
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2º Juízo
no documento de fls 1112 15 dá-se conta de que tinham sido entregues em numerário
25.000 cts - relacionar-se-á essa indicação com os primeiros 5.000 cts entregues aos
arguidos Horácio e Joaquim Freitas e com o donativo de 20.000 cts concedido ao FCF?
Note-se ainda que no documento de fls 12 do apenso 22 16 , no verso, existe uma
inscrição manuscrita que refere o recebimento e a devolução das verbas entregues pela
“Norlabor” e “João Tello”. Procurou-se fazer crer que essa “devolução” o teria sido à
“Translousada” – empresa que se interpôs no circuito do dinheiro -, ante a circunstância
dela receber na medida em que a “Resin” também recebesse, sendo certo porém que,
não obstante esse acordo entre ambas, a “Resin” chegou a pagar antecipadamente os
serviços prestados por ela, segundo o arguido Vítor Borges. Essa explicação parece não
fazer grande sentido, pois, a ser verídica, não se perceberia por que razão a
“Translousada” não reteria os valores a que teria direito, uma vez na posse das quantias
monetárias e antes de as remeter à “Resin”, a destinatária final das mesmas. Essa
explicação foi apenas levantada como mera hipótese e não colheu qualquer crédito por
parte do Tribunal).
Além disso, não foi possível esclarecer – porquanto nenhuma explicação se
obteve – por que motivo, aquando da segunda entrega em numerário, no rol de
documentos entregues, constava uma cópia de duas facturas emitidas pela “Resin” à
AMVS, reportadas a trabalhos levados a cabo na lixeira de Sendim, constantes de fls
160 e 161.
Também o terceiro pagamento efectuado de facto à “Resin” (valor líquido) foi
devolvido na íntegra (deduzida da quantia referente a IVA calculado a 17% e da
“comissão” de 12% - verba que terá a mesma explicação que o “custo do justificativo”,
segundo os inspectores da PJ ouvidos, estribados na respectiva experiência
profissional). A este propósito foram relevantes as declarações prestadas pelo arguido
Horácio Costa, para as quais se remete. A forma assertiva como depôs e os documentos
pertinentes que referiu tornam credível o teor do seu depoimento, nessa parte.
Parece que para alguns o débito de pormenores a propósito dos encontros será
motivo de descrédito do depoimento do arguido Horácio. Esse facto foi apreciado de
forma radicalmente diferente pelo Tribunal, pois os pormenores contados pelo arguido
Horácio a propósito dos vários acontecimentos, na nossa óptica, conferiram
credibilidade ao seu depoimento (e não se equipara à situação descrita com humor negro
nas alegações pelo ilustre mandatário dos arguidos Vítor e Carlos acerca da mulher que,
ao ser violada, tem presença de espírito para contar os 37 peixinhos que nadavam num
aquário, facto que pelos vistos relatou ao Tribunal que procedia ao julgamento do
suposto violador; ora, a profusão de pormenores pode ser um factor de descrédito ou de
crédito de determinado depoimento, tudo dependendo do respectivo contexto; e, no caso
dos autos, não se vislumbra qualquer semelhança, ainda que remota, com a “história dos
peixinhos” e da pouco provável violação).
Ademais, convencemo-nos que o documento de fls 163 se reporta ao terceiro
pagamento (efectivado a 21.10.98) na medida em que o valor líquido apresentado é
coincidente com ele, não se vislumbrando a que outro pagamento tal documento se
possa reportar, em face dos fluxos financeiros ocorridos entre a CMF e as empresas
referidas, além de que esse “retorno” efectivou-se a já no final do ano de 1998 (Outubro
ou Novembro, segundo o arguido Horácio, o qual se inclina mais para a segunda
hipótese).
Além disso, fazendo ainda fé nas declarações proferidas pelo arguido Horácio
Costa, com a entrega da respectiva quantia em numerário foi ainda entregue, além do
15
Apreendido na “Resin”.
16
Apreendido na “Resin”.
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mais, cópia da guia de receita alusiva a esse pagamento à “Norlabor” pela CMF, daí que
se possa e deva estabelecer a ligação evidente entre esses documentos (acondicionados
numa pasta então em uso pela “Resin”).
Não atribui o Tribunal particular significado às diferenças registadas nos
documentos de fls 159 e 163 quanto à forma de cálculo do valor a devolver. Quem as
poderia explicar não o fez porque não quis, segundo nos convencemos.
Rejeita-se por completo que tais documentos tenham sido forjados pelo arguido
Horácio Costa ou por qualquer outra pessoa para dar a aparência dos factos tal como
plasmada na pronúncia, já que, como se disse e se reafirma, as declarações prestadas por
aquele arguido pareceram-nos credíveis – tanto mais que têm sustentação em prova
documental, alguma da qual apreendida pela PJ quer na “Resin” quer na “Norlabor” -,
além de que não se vislumbra qualquer interesse da sua parte em ocultar a “verdade dos
factos” contando uma versão que em última análise também o poderá prejudicar. Ser-
lhe-ia mais fácil e seguro, pura e simplesmente, negar o recebimento de qualquer
quantia em numerário por parte da “Resin” e inclusive não ter fornecido à PJ os
documentos referenciados.
Ademais, se tais documentos tivessem sido forjados, como expressão de um
plano cerebralmente levado a cabo para prejudicar a arguida Fátima Felgueiras e seus
sequazes, certamente que deles não constariam diferenças quanto à forma de cálculo dos
“retornos” nem qualquer lapso em termos de datas.
Isto posto, cabe agora salientar que não se convenceu o Tribunal da efectivação
de algum “retorno” no âmbito do contrato celebrado pela CMF com a firma “João
Tello” (como de resto com a testemunha Menezes Basto).
Se em relação ao contrato de transacção e seu aditamento celebrado entre a CMF
e a testemunha Menezes Basto inexiste qualquer elemento de prova que aponte no
sentido da existência de qualquer “retorno”, é certo que no que respeita ao contrato
celebrado entre a edilidade e a “João Tello”, no documento de fls 12 do apenso 22, no
verso, estão manuscritos uns dizeres donde parece resultar que a “Resin” recebeu e
devolveu os pagamentos efectuados à “Norlabor” e à “João Tello” (esse documento foi
apreendido na “Resin”).
Ora, já vimos que não se convenceu o Tribunal que esse retorno se reporte à
“Translousada”.
O certo, porém, é que não sabemos quem apôs esses dizeres nem em que
circunstâncias essa aposição ocorreu, sendo certo que, para além desse elemento – que
reputamos de insuficiente – nenhum depoimento ou documento confirma ou desmente
algum “retorno” no âmbito desse contrato mencionado no ponto 1.4 da pronúncia
(quanto à “Norlabor” estamos já conversados).
Dito doutro modo, essa inscrição no verso daquele documento de fls 12 do
apenso 22 é insuficiente em ordem a dar-se como demonstrado qualquer “retorno” no
âmbito do contrato mencionado no ponto 1.4 da pronúncia, em obediência ao princípio
in dubio pro reo.
Ora, tendo-se apenas provado a entrega em quatro ocasiões distintas de verbas
em numerário pela “Resin”, que duas delas se reportam a dois “retornos” referentes a
pagamentos emergentes do contrato celebrado com a “Norlabor”, não tendo sido
possível relacionar a entrega dos primeiros 5.000 cts com qualquer “retorno” e que o
donativo de 20.000 cts ao FCF não se prende com nenhum dos contratos mencionados
nos pontos 1.2 a 1.4 da pronúncia, conclui-se que não demonstrou que alguma verba
tenha sido devolvida no âmbito do contrato celebrado entre a CMF e a “João Tello” ou
do contrato de transacção e seu aditamento celebrado entre a CMF e a testemunha
Menezes Basto.
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data da formalização do ajuste directo efectuado a essa empresa e a recusa daquele visto
e, finalmente, também vimos que a adjudicação dos trabalhos à “João Tello” cobriu um
período de 6 meses de trabalhos (de meados de Outubro de 1996 a meados de Abril de
1997), sendo os respectivos valores consistentes com esses lapsos de período de tempo
(2.800 cts + IVA a 5% por mês).
Demonstrou-se assim que apenas houve empolação de valores no que se reporta
ao contrato celebrado entre a AMVS e a “Resin”, mencionado no ponto 1.5., e nas
circunstâncias já referidas (a que os arguidos Fátima e Júlio terão sido alheios).
Cabe ainda referir que o empolamento do valor da empreitada respeitante ao
concurso a que se reporta o ponto 1.5. da pronúncia atingiu o valor de 140.000 cts,
conforme já tivemos a oportunidade de referir.
Esse empolamento foi dissimulado na proposta apresentada a concurso e visava
essencialmente que a “Resin” visse liquidada a quantia que a CMF lhe devia (cerca de
100.000 cts + encargos resultantes da mora), sendo certo que foi esse empolamento que
permitiu ainda inflacionar o valor do adiantamento recebido pela “Resin” – de que uma
parte ficou para si, conforme já acima referido – e dessa forma proceder à concessão de
um donativo de 20.000 cts ao FCF (esse donativo foi pedido pelo arguido Júlio em
Setembro de 1998, conforme referiu o arguido Horácio Costa, e a sua concessão ficou
dependente do adiantamento referido nos autos, conforme se depreende do manuscrito
do arguido Júlio Faria de fls 170, datado de 06.11.98).
1. A propósito da entrega da quantia de 5.000 cts referida neste ponto da
pronúncia tivemos a oportunidade de ouvir duas versões radicalmente opostas:
Por um lado, os arguidos Vítor Borges, Carlos Marinho e Fátima Felgueiras
negaram a respectiva entrega (os primeiros referiram aliás que a “Resin” nunca
concedeu qualquer donativo em numerário; se assim é, como explicar a anotação
constante do documento de fls 1112, donde emerge que a “Resin” havia entregue
25.000 cts em numerário?) e a versão do arguido Horácio Costa (não se consideram
aqui, pelas razões já mencionadas, as declarações prestadas a esse propósito pelo
arguido Joaquim Freitas), as quais vão no sentido de confirmar a versão dos factos
plasmada na pronúncia (no que se refere à entrega desse donativo pela “Resin”), a qual
tem o suporte documental providenciado pelo documento de fls 198 e 199 dos autos.
É certo que a arguida Fátima assegurou que quando apôs o despacho “TC.
Óptimo. 97.06.10” não constava desse relatório a informação manuscrita aposta pelo
arguido Horácio, a qual, na sua versão, terá sido aposta posteriormente para dar aos
factos a aparência tal como consta na pronúncia.
Argumentou-se que não teria qualquer lógica a aposição dessa informação
manuscrita nesse documento, pois poderia ser comprometedora.
Porém, não se convenceu o Tribunal que esse documento tenha sido adulterado,
além do mais, porque nesse relatório foram apostos dois despachos pela arguida Fátima,
um na capa (de devolução) e outro o já referido na segunda página desse documento
(ora, apenas faria sentido a aposição de um único despacho). A aposição de dois
despachos inculca assim a ideia de que o segundo despacho apenas se refere à
informação manuscrita (cfr. os demais relatórios juntos pelo arguido Horácio, onde
apenas existe um despacho da arguida Fátima nas respectivas capas – cfr. documentos
de fls 12670 e ss., 12681 e ss. e 12689 e ss.; no documento de fls 13156 e ss. não existe
qualquer despacho na medida em que se trata de uma cópia tirada pelo arguido Horácio
antes de o entregar à arguida Fátima, conforme explicou).
Do cotejo dos documentos de fls 198 e 199 com o documento de fls 12681 e ss.
retira-se que, de facto, o documento de fls 198 não se pode referir à actividade
desenvolvida pelo arguido Horácio em Março de 1997, como por lapso é ali referido (a
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2º Juízo
actividade reportada a esse mês está plasmada no documento de fls 12681 e ss.), pelo
que é credível que esse relatório se reporte à actividade desenvolvida em Maio de 1997,
tanto mais que foi elaborado a 05.06.97 e os dois despachos apostos pela arguida Fátima
datam do dia 10.06.97, conforme emerge desse documento e foi referido pelo arguido
Horácio Costa.
Naturalmente que a informação manuscrita constante desse documento terá sido
exarada já depois de elaborado em computador e imprimido o documento em causa, daí
que tenha sido tal informação manuscrita pelo arguido Horácio Costa.
Além disso, não se vê qualquer motivo para estranheza quanto ao conteúdo de
tal informação, designadamente o teor da comunicação telefónica ali reportada e ao
facto do arguido Vítor Borges não ter contactado directamente com a arguida Fátima
acerca desse assunto e de o ter abordado com o arguido Horácio, o que reforça a ideia
de que este gozava da total confiança por banda da arguida Fátima Felgueiras, sendo
certo que, à data, relembra-se, ele já havia sido designado para integrar com o arguido
Joaquim Freitas o pelouro das finanças, pelo que esse assunto teria necessariamente de
passar por si, já que essa verba serviu para abrir a conta do BES, com mais 1.000 cts de
proveniência não concretamente apurada – cfr. o depósito de 6.000 cts a 11.07.97 a fls 9
do apenso 1 (faz assim sentido que a reunião em casa do arguido Júlio Faria tenha
ocorrido antes desse contacto telefónico do arguido Vítor Borges, isto é, como referiu o
arguido Horácio Costa, em Março de 1997, onde lhe terá sido entregue o manuscrito de
fls 156 e 157. Caso contrário, a que título é que o arguido Vítor Borges se sentiria à
vontade para fazer aquela comunicação ao arguido Horácio, de modo a transmití-la à
arguida Fátima? O teor dessa informação coaduna-se ainda com a circunstância do
primeiro depósito na conta do BES ter sido efectuado a 11.07.97, o que pressupõe,
conforme anunciado pelo arguido Vítor, que os 5.000 cts tenham sido de facto recebidos
no dia anterior pelo arguido Horácio Costa em Matosinhos, nos moldes por este
referidos).
Ademais, parece-nos inverosímil que o arguido Horácio adoptasse uma versão
dos factos que em última análise poderia prejudicar a sua posição, ainda que com
suicídio processual, fabricando, como foi sugerido pelos defensores da tese da cabala,
uma história e adulterando documentos que a conta-gotas fez juntar aos autos, na
execução de um plano cerebralmente delineado, na ânsia de prejudicar a arguida Fátima,
em face do suposto ódio visceral que lhe vota, pouco se importando com a possibilidade
de também vir a ser condenado.
Note-se que ao longo do julgamento o seu discurso foi sempre muito assertivo e
coerente, pelo que a defesa intransigente dessa “história” do princípio ao fim haveria,
aqui ou acolá, mais cedo ou mais tarde, de fazer notar a sua falsidade, o que nunca
sucedeu.
Mais uma vez, a abundância de pormenores relatados acerca do encontro que em
Julho de 1997 teve em Matosinhos com o arguido Vítor Borges (onde lhe terá sido
entregue o donativo) conferem credibilidade ao depoimento do arguido Horácio.
Demos pois crédito à versão apresentada a esse propósito pelo arguido Horácio
Costa, convencidos que estamos que o documento de fls 198 e 199 não foi adulterado.
Reafirma-se, em todo o caso, que não foi possível estabelecer a ligação entre
essa entrega em numerário e qualquer pagamento efectuado pela CMF no âmbito dos
contratos mencionados nos pontos 1.2. a 1.4. da pronúncia. Dito doutro modo, não se
apurou que tal donativo de 5.000 cts tenha constituído um “retorno”.
2. Acerca da entrega da quantia em numerário de 5.250.000$00, pelas razões já
acima explicitadas, demos crédito à versão dos factos tal como relatados pelo arguido
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2º Juízo
Horácio Costa, quer no que respeita à entrega propriamente dita quer no que concerne
ao destino dado a esse dinheiro, conforme mais à frente melhor iremos analisar.
Consequentemente, nenhum crédito nos merece a posição sustentada, sobretudo,
pelos arguidos Vítor Borges, Fátima Felgueiras e Carlos Marinho, os quais negaram
pura e simplesmente essa factualidade.
Seja como for, não podiam os arguidos Horácio e Joaquim Freitas ignorar qual a
proveniência desse montante em numerário, em face dos documentos que com essa
verba recepcionaram, como aliás o demonstra a forma como pretenderam (mal)
camuflar o emprego de parte dessa quantia na aquisição da viatura “Audi A4” referida
nos autos.
De facto, a relação de confiança existente entre os arguidos Horácio e Joaquim
Freitas por um lado e a arguida Fátima Felgueiras por outro, a circunstância de ter sido
ao arguido Horácio (na presença do arguido Joaquim) que essa verba em numerário foi
entregue – acompanhada dos documentos referidos na pronúncia - e a forma como
pretenderam camuflar a utilização de parte dessa quantia na aquisição da viatura “Audi”
mencionada nos autos – de modo até a que não se estabelecesse qualquer ligação com a
arguida Fátima - levam-nos a crer que eles bem sabiam da proveniência desse dinheiro,
isto é, que se tratava de um “retorno” no âmbito do contrato celebrado entre a CMF e a
“Norlabor”.
Note-se que o arguido Carlos Marinho, segundo referiu, chegou a abordar o
arguido Horácio no sentido de agilizar um pagamento à “Resin” por parte da CMF, pelo
que naturalmente o dito Horácio Costa teria de se inteirar ou de estar inteirado da
situação da CMF para com a “Resin”, pois caso contrário não faria sentido que o
arguido Carlos Marinho tivesse sido encaminhado para o arguido Horácio em ordem a
que essa questão fosse resolvida (questão essa que aliás extravasava, e de que maneira,
as competências do arguido Horácio Costa, em face do contrato de avença que então o
ligava à CMF).
Quanto ao mais, a propósito da matéria em causa, remete-se para tudo quanto,
relacionado com ela, acima já se disse.
3. Mais uma vez, pelas razões já referidas e repetidas, demos crédito à versão
dos factos tal como contada pelo arguido Horácio Costa.
Ao invés, a contrario sensu, devemos dizer que nenhuma credibilidade nos
mereceu o depoimento dos arguidos Vítor Borges, Carlos Marinho e Fátima Felgueiras
a propósito dessa factualidade.
Nenhum crédito nos mereceu ainda o relato efectuado pela testemunha Leonor
Costa, que ao longo do seu depoimento, acerca das várias matérias a que foi ouvida, se
mostrou muito tendenciosa.
Assim, com entrega da quantia em numerário de 5.381.653$00, foram entregues,
acondicionados numa pasta (apreendida), os documentos referenciados na pronúncia e
já acima analisados (inclusive o cartão comercial também entregue pelo arguido
Gabriel, constante de fls 164, que parece relacionar-se com um agradecimento
antecipado pelos bons ofícios no sentido da obtenção dos pagamentos em atraso pela
CMF. Dos termos do dito cartão comercial retira-se que pertence ao arguido Gabriel,
mas não se retira a quem o mesmo é dirigido, se à arguida Fátima – conforme
sustentado pelo arguido Horácio - se ao próprio arguido Horácio, o qual, pelos vistos,
também foi abordado, designadamente pelo arguido Carlos Marinho, relativamente à
questão do atraso nos pagamentos. Em todo o caso, tem lógica que esse cartão fosse
dirigido à arguida Fátima na medida em que o arguido Gabriel não contactou
directamente com ela, mas apenas com o arguido Horácio, fazendo fé nas declarações
deste último).
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2º Juízo
segundo conversa posterior relatada pela dita testemunha Barata Feio -, sendo certo que
com o envio da primeira factura remeteu pelo correio, a fim de ser assinado, um
contrato referente a um donativo de 20.000 cts, o qual entretanto viria a ser devolvido
com a indicação (segundo contacto telefónico que recebeu) de que deveria ser emitida
uma factura alusiva a um contrato de publicidade, razão pela qual foi inutilizada com
um furo a assinatura de tal contrato e, com o envio de uma nova factura (alusiva a
contrato de publicidade), remeteu o contrato de fls 443 do apenso 96-A, a fim de ser
assinado pelo legal-representante da “Resin” (a testemunha já não se recordava da
emissão factura alusiva a um donativo de 12.500 cts, constante de fls 427 do apenso 96-
A, documento com o qual foi confrontada, mas confirmou que inutilizou as facturas nºs
1583 e 1586).
Consequentemente, este contrato só foi “celebrado” aquando do envio da factura
de fls 428 do apenso 96-A, em Dezembro de 1998 e nunca a 03.08.98, conforme dele
consta, o que faz sentido, pois foi ele que justificou contabilistamente a saída da
“Resin” de uma verba 12.500 cts + IVA, na sequência do pedido de “apoio” efectuado
pelo arguido Júlio àquela empresa em Setembro de 1998 (dos restantes 7.500 cts em
numerário nem rasto, como seria de esperar). O IVA, por seu turno, só viria a ser pago
em Janeiro (cfr. documento de fls 433 do apenso 96-A).
Quanto às razões que terão estado na base de tão estranho comportamento da
“Resin”, que assim teve de pagar desnecessariamente 2.125.000$00 de IVA, só os seus
responsáveis o poderiam explicar, mas estes optaram antes por contar uma “história”
sem pés nem cabeça.
Seja como for, tendo presente a explicação dada pelo arguido Carlos Marinho
para a emissão da factura nº 444 do apenso 96-A, no montante de 23.806.575$00 (que
não conseguimos relacionar com a concessão do donativo de 20.000 cts, isto é, como
sendo uma tentativa frustrada da “Resin” para reaver uma verba semelhante ao donativo
concedido), ante a necessidade de compor resultados de exercício, difícil seria à “Resin”
explicar aos seus accionistas a razão de ser da concessão de tão avultado donativo ao
FCF, entidade que, à data, ainda não tinha o estatuto de utilidade pública (cfr.
documento de fls 4906), pelo que da concessão desse donativo não resultaria qualquer
benefício fiscal. Terá assim esse facto justificado a simulação (relativa – cfr. artgs 240º
e 241º do CC) do aludido contrato e a entrega em numerário (sem rasto contabilístico)
de uma verba de 7.500 cts?
Em face de tudo isto, só a posição expressa pelo arguido Horácio Costa parece
fazer sentido, pelo que nos convencemos que o donativo em causa foi concedido pela
“Resin” conforme descrito na pronúncia (e entregue pela mão do arguido Carlos
Marinho).
Quanto à participação da arguida Fátima Felgueiras, já tivemos a oportunidade
de a ela nos referirmos a propósito do ponto 1.5 da pronúncia (foi ela quem deu
indicações ao arguido Horácio para se deslocar a Matosinhos, às instalações da “Resin”,
com o arguido Júlio Faria, a fim do donativo em causa ser então solicitado, sendo certo
que a ela de tudo deu conta o arguido Horácio).
Não se provou porém que tenha sido ela a contactar directamente com o arguido
Vítor Borges no sentido de solicitar aquele donativo, em face dos depoimentos dos
arguidos Vítor Borges, Júlio Faria e Horácio Costa.
Questão diversa é a (ir)relevância penal destes factos, matéria que mais à frente
irá ser abordada aquando da fundamentação jurídica.
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Introdução
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autárquicas de 14.12.97, se lhe foram entregues para angariar fundos para o “Sovela” ou
para outra causa (que não a angariação de fundos para o FCF, na qual nunca participou).
Seja como for, muitas vezes a arguida Fátima indicava verbalmente as pessoas a
contactar (o Dr. Sousa Oliveira também lhe deu indicações nesse sentido) e chegava a
indicar com quanto elas deveriam contribuir (por exemplo, disse-lhe que o Eng.
Machado teria de dar um donativo de 6.000.000$00, donativo que ele se recusou a dar,
pedindo ao depoente para mentir à arguida Fátima transmitindo-lhe que o não tinha
conseguido contactar pois tinha problemas em recusar esse donativo; de resto, era difícil
dizer “não” à arguida Fátima).
Confrontado com o documento de fls 168 do 1º volume reconheceu nele a letra
da arguida Fátima Felgueiras. Porém, tal documento nada lhe diz.
A aposição de uma cuz à frente dos nomes de pessoas significava que elas
teriam de contribuir com mais dinheiro (não sabe explicar porquê). A lista respectiva
foi-lhe fornecida pela arguida Fátima no gabinete desta e mostrou-a ao arguido Horácio
Costa.
No GAPP perguntavam ao arguido Bragança e ao Sr. Júlio Pereira se já tinham
contactado as pessoas que iriam visitar no sentido de obter donativos (pois tal era
prática corrente).
Se alguém não contribuía com donativos comunicavam esse facto à arguida
Fátima Felgueiras.
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Julga que não teve qualquer conversa com a testemunha Helena Félix acerca
desse facto, designadamente no sentido de indagar qual o motivo de tal diminuição de
processos.
Julga não ter tido conhecimento de qualquer decisão de suspensão da tramitação
dos processos de contra-ordenação num período pré-eleitoral.
Porém, a esse propósito, foi confrontado com as declarações que prestou perante
a JIC a fls 3291, linhas 85 a 93 (tomou conhecimento pela testemunha Helena Félix que
a arguida Fátima Felgueiras ordenara que ela suspendesse a tramitação dos processos de
contra-ordenação cerca de 1 ano antes das eleições), reputando de mais fidedignas essas
declarações porque na altura tinha a memória “mais fresca”. Em todo o caso, no
momento presente recorda-se mal dessa conversa.
Referiu ainda que existiam pareceres de ordem geral quanto à tramitação dos
processos de contra-ordenação.
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*
A propósito desta testemunha o arguido Horácio Costa referiu que é um
pequeno empreiteiro e que fez pequenas obras para a CMF.
Ele entregou-lhe o cheque de 50 cts na CMF, no seu gabinete, depois do
respectivo donativo lhe ter sido solicitado pelo GAPP.
*
- Testemunha António Ferreira Pereira
É sócio-gerente da firma “António Ferreira Pereira, Ldª”
Confrontado com cópia do cheque de fls 3241 do 14º volume (no valor de
585.000$00 e datado de 24.09.97), confirmou tê-lo emitido.
Entregou-o ao arguido Joaquim Freitas e pensa que se tratou de um pagamento
de publicidade no jornal “O Sovela”, mas não tem a certeza.
Também não tem a certeza se ele ia ou não acompanhado pelo arguido Horácio
Costa quando lhe entregou tal cheque, embora tenha essa ideia.
Não se recorda de previamente ter sido contactado telefonicamente antes do
arguido Joaquim Freitas ter aparecido na sua empresa, local onde procedeu à entrega do
dito cheque (o qual foi depositado na conta do BES a 25.09.97, conforme documento de
fls 74 do apenso 1).
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Quem lhe solicitou tal donativo foi o arguido Joaquim Freitas, o qual ia
acompanhado de um outro senhor (que agora sabe ser o arguido Horácio Costa).
Explicou que teve processos de contra-ordenação na CMF, tendo pago por isso
duas coimas, uma de 500 cts e outra de 400 cts.
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assegurar que o donativo em causa tenha sido concedido através da emissão do cheque
referido.
Confrontado com o teor do documento de fls 121 do apenso 1, constatou-se que
o mesmo foi depositado a 04.12.97.
Que se lembre, nunca foi visitado pelo arguido Joaquim Freitas e pelo Dr. Sousa
Oliveira na sua fábrica. Sabia que este era marido da arguida Fátima Felgueiras e que
entretanto se separaram (não sabe de resto que profissão ele exerce).
*
Referiu o arguido Horácio Costa que a solicitadora São Rocha é muito próxima
do Dr. Sousa Oliveira e certo dia ela apareceu-lhe no gabinete e disse-lhe que a tinha de
acompanhar a um tal de Sr. Anselmo de Jugueiros (ao que pensa, segundo indicação do
Dr. Sousa Oliveira).
Assim fizeram e quando lá chegaram ela tratou a testemunha Anselmo com
muita familiaridade e disse-lhe que já sabia ao que iam e que tinha de contribuir como
das outras vezes. Ele lamentou-se então que estava farto de contribuir com donativos,
que tinha um problema com um ex-sócio e que tinha a vida desgraçada. Em suma, não
se mostrava disposto a conceder qualquer donativo.
Ela então insistiu para que ele concedesse um donativo e que tudo iria mudar
com a eleição da arguida Fátima Felgueiras. Ele então acedeu a contribuir com 120 cts e
a São Rocha ficou de ver com o Dr. Sousa Oliveira o que se passava acerca do problema
referido pela testemunha em causa.
Mais tarde o Dr. Sousa Oliveira passou pelo seu gabinete na CMF e
condidencou-lhe que o Sr. Anselmo tinha tido um sócio, com o qual se zangou, temendo
que ele pusesse em causa património que não lhe pertencia, existindo umas habitações
que não estavam legalizadas.
Segundo ouviu ao Sr. Anselmo, ele já teria contribuído com 500 cts nas últimas
eleições (de 1993) – quantia que entregou ao Dr. Sousa Oliveira - e que nada tinha sido
feito.
Foi-lhe pedido para ver o que poderia fazer e fê-lo de forma desinteressada,
sempre no sentido de lhe dar indicações acerca do que poderia fazer para licenciar a
obra.
Assim, na sequência dessa solicitação, pediu o processo de licenciamento de
obra respeitante à testemunha em causa e viu que já tinha sido aposto pela arguida
Fátima um despacho no sentido de legalizar a obra em causa (uma casa, com um
pavilhão no rés-do-chão).
A testemunha Fernando Pereira Sampaio tomou conta do processo de
licenciamento e conseguiu licenciar a obra.
*
- Testemunha José Luís Pereira Mendes
É sócio-gerente da firma “Rilix”.
Conhece de vista os arguidos Horácio e Joaquim Freitas.
Nunca contribuiu para campanhas políticas.
Normalmente todos os candidatos solicitavam donativos. Chegaram-lhe a pedir
donativos mas nunca o procuraram especificamente para esse fim.
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Ouviu dizer que ele acedeu ao pedido da arguida Fátima para integrar uma
comissão administrativa para gerir o FCF e que doou 2.000 cts ao FCF, o que motivou
problemas conjugais.
*
- Testemunha José Carlos Ferreira Pereira
Confrontado com a cópia do primeiro cheque constante de fls 524, de
300.000$00, datado de 22.12.97, emitido ao portador e sacado sobre uma conta pessoal,
confirmou tê-lo assinado.
Esclareceu que os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas o visitaram e
pediram-lhe um donativo para uma campanha eleitoral do PS e que já tinha decorrido.
Confrontado com o documento de fls 148 do apenso 1, constatou-se que o
depósito de tal cheque ocorreu a 23.12.97.
Mais esclareceu que os conhecia de vista e que sabia que o arguido Horácio era
funcionário da CMF (ignora que funções exercia), ignorando qual a profissão do
arguido Joaquim Freitas.
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É igualmente falso que esse donativo se destinasse às três causas que ele referiu
(campanha, FCF e sede do PS). De resto, relativamente à sede do PS, só faltava pagar
500 cts ao vendedor aquando da realização da escritura.
*
- Testemunha Manuel Martins Leite
Confrontado com o teor da cópia do cheque de fls 504 do 3º volume, no valor de
100.000$00, datado de 16.10.97 e emitido ao portador, confirmou ter assinado esse
cheque, o qual foi sacado sobre a sua conta pessoal.
Confrontado com o documento de fls 88 do apenso 1, constatou-se que o mesmo
foi depositado na conta do BES a 17.10.97.
Tem a ideia que se vivia em período de campanha eleitoral (não soube dizer qual
delas) e concedeu através daquele cheque um donativo para a campanha do PS.
Foram os arguidos Joaquim Freitas e Horácio Costa quem lhe solicitaram esse
donativo.
Pese embora tenha referido que não se recorda se tinha sido previamente
contactado dando-lhe conta de que eles iriam recolher o donativo, certo é que já tinha o
cheque passado.
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Revelou ainda que o arguido Joaquim Freitas também lhe solicitou vários
donativos, o mesmo sucedendo com o arguido Júlio Faria.
Em 1993 o Dr. Sousa Oliveira também lhe solicitou a concessão de um
donativo.
O arguido Bragança nunca o contactou para lhe pedir qualquer donativo.
Confrontado com o teor do documento de fls 106 do apenso 1, constatou-se que
o cheque de fls 510 foi depositado na conta do BES a 17.11.97.
Confrontado com o teor do documento de fls 170 do apenso 1, constatou-se que
o cheque de fls 534 foi depositado na conta do BES a 17.02.98.
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Referiu que se deve ter enganado na data aposta no cheque (em vez de 23.03.97
deve tê-lo emitido a 23.03.98).
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Precisou que a dita letra foi aceite quer pela testemunha em causa quer pelo
depoente, sendo certo que não foi paga.
Foi ele quem lhe entregou os donativos angariados junto de clientes seus, sendo
certo que se não fizesse qualquer contribuição os projectos que apresentou na CMF não
seriam aprovados.
*
Em face destas declarações, a testemunha Manuel Machado referiu que de
facto aceitou uma letra no valor de 6.000 cts conforme referido pelo arguido Joaquim
Freitas.
Explicou que foi o primeiro director do “Sovela”, ainda em 1994, e já então o
jornal debatia-se com inúmeras dificuldades financeiras, pelo que os credores
começaram-lhe a bater à porta. Era pois necessária a obtenção de donativos, subscrição
de assinaturas e publicação de publicidade.
Decidiu em face disso não continuar cerca de 8 ou 9 meses depois.
Foi entretanto confrontado com os problemas financeiros do jornal
(designadamente a dívida perante a gráfica) pelos arguidos Joaquim Freitas e Júlio Faria
e pelas testemunhas Horácio Reis e Bessa Pinheiro.
Dada a iminência do fecho do jornal, esse grupo de pessoas decidiram recorrer
ao pai do arguido Joaquim Freitas de modo a que ele pagasse as dívidas do jornal, ao
que ele aceitou desde que o depoente e o filho aceitassem uma letra no valor
disponibilizado por ele.
Certo dia o arguido Joaquim Freitas telefonou-lhe dando-lhe conta de que era
necessário resolver o problema do pagamento da letra, pois o seu pai aborrecia-o com
esse assunto.
Para o efeito era necessário reunir o grupo de pessoas co-responsáveis pelo
pagamento desse montante (as pessoas que acima referiu – incluindo o depoente e o
arguido Joaquim Freitas - comprometeram-se verbalmente a solidariamente pagarem
aquele montante, mas só estes últimos aceitaram a dita letra), o que até ao momento não
sucedeu.
Na ADEC chegou-se a fazer reuniões devido aos problemas financeiros do
jornal, mas sem dinheiro nada se resolvia.
Quando o arguido Joaquim Freitas lhe abordou esse assunto não lhe disse que
iria falar com a arguida Fátima Felgueiras a esse propósito.
*
Em face das contradições existentes entre o depoimento das testemunhas Jorge
Ramiro Magalhães Fernandes e Manuel Maria de Araújo Lopes Machado,
procedeu-se à respectiva acareação.
A testemunha Jorge Ramiro reafirmou o teor das suas declarações (assegurou ter
a certeza que era a testemunha Manuel Maria e o arguido Júlio Faria quem lhe
solicitaram o donativo a que respeita o cheque por si emitido e constante de fls 501,
tendo-lhe referido que andavam a pedir para a sede do PS, sendo certo que o terceiro
elemento que os acompanhava ficou à porta da sua empresa ao telemóvel). Não tem
memória de lhe terem solicitado um donativo para outro fim, sendo certo que emitiu o
referido cheque na data que nele consta (09.07.97).
Por sua vez, a testemunha Manuel Lopes Machado reafirmou que participou
num peditório para a sede do PS muito antes das eleições de 1997 (tal peditório foi
efectuado em 1996), não reconhecendo por isso que o cheque de fls 501 lhe tenha sido
entregue.
Explicou que após a ida do arguido Júlio Faria para a Assembleia da República
ele passou a ter mais disponibilidade para tratar dos assuntos respeitantes ao PS,
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2º Juízo
designadamente a respectiva sede local, daí que foi constituída uma equipa em 1996 de
recolha de fundos para a sede do PS (de que faziam parte, além do depoente e do
arguido Júlio Faria, o arguido Joaquim Freitas e a testemunha Fernando Sampaio).
No âmbito da recolha de fundos, visitaram a fábrica de calçado “Savana”.
O depoente também fez parte de uma equipa constituída para recolher fundos
para o “Sovela”, não se recordando em que ano esse peditório foi feito, mas pensa que
terá sido também em 1996 (andou no dito peditório – à data era o director do jornal -
com o Dr. Horácio Reis – à data subdirector do jornal – e o Dr. Bessa Pinheiro –
economista do jornal). Quando deixou de ser director do jornal colaborou ainda na
recolha de fundos para o “Sovela” com o arguido Júlio Faria, com o Dr. Bessa Pinheiro
e o Sr. Augusto Faria (eram ao todo 5 elementos, não se recordando da identidade do
quinto elemento).
*
Em face da acareação realizada entre as testemunhas Jorge Ramiro e Manuel
Machado, referiu o arguido Júlio Faria que esteve envolvido no processo de aquisição
da sede do PS.
Explicou que no final de Março de 1996 tomou posse como presidente da
Comissão Política do PS de Felgueiras.
Em Maio de 1996 o PS local ocupou as instalações da sua sede e a Comissão
Política viu-se confrontada com o problema da liquidação do preço da sede.
Constituíram-se assim equipas de angariação de fundos entre Junho/Julho de
1996 (data em que estavam vencidos os compromissos para com o vendedor).
Manuscreveu para o efeito uma lista de empresas a contactar pelas equipas
constituídas a fim de solicitarem o respectivo donativo.
É pois plausível que se tivesse deslocado à fábrica de calçado “Savana”, que
constava da referida lista, para solicitar e recolher um donativo, mas tal terá ocorrido em
1996.
Em 1997 o depoente já não liderava a Comissão Politica pelo que já não teria
participação nessa questão.
Não tem a certeza se todo o preço de aquisição da sede foi liquidado durante o
tempo em que presidiu à Comissão Política. Em todo o caso, grande parte do preço foi
liquidado nessa altura.
Confrontado com o cheque de fls 4126, no valor de 500.000$00, datado de
16.04.99, emitido ao portador (cfr. o respectivo talão de depósito na conta do PS, a fls
301, do apenso 30, a 20.04.99), referiu que se trata de um cheque do Sr. José Manuel
Monteiro Neves (mas a assinatura aposta nesse cheque não é a dele, pois tem a
assinatura da arguida Maria Augusta Faria Ferreira Neves), tratando-se de um donativo
para a sede do PS.
Conclui portanto que em Abril de 1999 ainda não estava totalmente liquidado o
preço de aquisição da sede do PS.
Explicou que esse espaço foi entregue ao PS em Abril/Maio de 1996 e ficou
acordado com o vendedor que em finais de Junho ou Julho de 1996 teriam de liquidar a
totalidade do preço (que foi de 15.000.000$00). Foi pois nesse período que encetaram
as diligências para angariar fundos em ordem a liquidar a totalidade do preço, o qual foi
liquidado em grande parte nessa altura.
Como deixou de presidir à Comissão Politica em finais de 1996, desligou-se
desse assunto.
Em Outubro de 1997 era deputado na Assembleia da República, era dirigente do
FCF e já integrava a direcção de campanha do PS nas eleições autárquicas desse ano.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Assegurou assim que nesse ano não diligenciou pela angariação de fundos para a
sede do PS.
Pode em todo o caso ter-se dirigido à fábrica de calçado “Savana” para recolher
um donativo para outras causas, designadamente para o FCF.
*
- Testemunha Henrique Manuel da Silva Correia
Explicou que os quadros de movimentos da conta do BES elaborados pela
investigação foram efectuados tendo por base o extracto da conta do BES (constante no
apenso 1), os documentos de suporte fornecidos pelo arguido Horácio Costa e
elementos recolhidos de depoimentos.
No quadro referente a entregas que não passaram pela conta do BES constam
três entregas em numerário (de 500 cts por Jorge Fonseca da “Anglomex”, 5.250 cts e
5.381.653$00, ambos pela “Resin”) – cfr. fls 2800 e 2801 (parece que a entrega de 500
cts deveria antes constar no primeiro quadro e não no segundo, pois na verdade esse
montante terá sido depositado na conta do BES).
De todas as entregas em numerário, segundo os quadros 1 e 2 referidos, apenas
três entregas em dinheiro não terão sido depositadas na conta do BES (parece que serão
apenas duas entregas, pois a inserção num dos quadros de uma entrega de 500 cts pela
testemunha Jorge Fonseca terá sido feita por lapso).
Não apuraram porque razão os dois valores entregues em numerário pela
“Resin” (de 5.250 cts e 5.381.653$00) não passaram pela conta do BES.
O quadro de fls 2787 a 2796 do 12º volume diz respeito aos movimentos da
conta do BES em função do extracto da conta do BES, documentos de suporte entregues
pelo arguido Horácio, documentos recolhidos pela investigação e elementos que
emergiram de inquirições.
Os documentos de fls 491 a 546 reportam-se a cópias de cheques referentes a
donativos. A generalidade deles estava datado do último trimestre de 1997 e na sua
maioria eram provenientes do tecido empresarial de Felgueiras.
A fls 2183 consta um cartão da “Anglomex” (testemunha Jorge Fonseca), onde
se faz referência a votos de vitória nas eleições, encontrando-se em tal documento
manuscrito o montante de 500 cts (correspondente ao donativo entregue. Essa inscrição
desse montante no cartão foi efectuada de forma claramente diferente dos restantes
dizeres do cartão e terá sido manuscrita por outra pessoa) – cfr. a cota de fls 2181
elaborada pelo depoente, designadamente o penúltimo parágrafo.
Referiu que é prática a recolha de donativos aquando das campanhas eleitorais.
Fizeram um cruzamento dos cheques referidos com os depósitos efectuados na
conta do BES e verificaram que todos eles ali foram depositados.
Constataram a existência de cheques emitidos com data posterior às eleições
autárquicas.
Explicou que podem acontecer recebimentos e pagamentos posteriores ao acto
eleitoral.
Nas denúncias anónimas constantes dos autos fazem-se referência a alguns
licenciamentos irregulares.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Foi o arguido Horácio Costa quem entregou cópia dos cheques referentes a
dinativos, juntos a fls 491 a 546 do 3º volume.
A PJ solicitou também aos bancos cópias dos cheques, na medida em que as
cópias dos cheques fornecidas pelo arguido Horácio reportavam-se apenas ao respectivo
rosto e muitos eram emitidos ao portador.
Ele tinha cópia desses cheques na medida em que eles lhe eram entregues.
Em face das datas dos cheques em causa, presume que a maior parte deles se
destinavam a suportar despesas de campanha.
A investigação elaborou um quadro de pessoas que deram donativos através de
cheque e que tinham processos de licenciamento na CMF.
Tentaram perceber a existência de uma relação, sobretudo temporal, entre a
entrega do donativo e certos actos praticados no âmbito dos respectivos processos de
licenciamento.
Solicitaram, para o efeito, o apoio da IGAT e da Inspecção Geral de Finanças.
Assim, dois inspectores da IGAT analisaram os processos de licenciamento e de
contra-ordenação.
Análise crítica
Em face das declarações do arguido Horácio Costa, dos documentos de fls 491 a
546, do depoimento das várias testemunhas que deram o seu donativo (designadamente
para a campanha eleitoral de 1997, ainda que por vezes esse donativo tenha sido
concedido em data posterior a Dezembro desse ano), a conta do BES e a “caixa
paralela” terão sido também aprovisionadas com donativos provenientes do tecido
empresárial felgueirense e também de outros particulares residentes no concelho.
Emerge das declarações do arguido Horácio Costa que, de facto, existiam umas
listas de pessoas a contactar, lista essa fornecida pela arguida Fátima ao arguido
Joaquim de Freitas.
Não é de estranhar que essas listas tenham sido fornecidas ao arguido Joaquim
Freitas (e não ao arguido Horácio Costa) na medida em que era aquele quem conhecia o
meio empresarial felgueirense e dado que anteriormente (a propósito da campanha
eleitoral para as eleições autárquicas de 1993) já tinha feito parelha com a testemunha
Sousa Oliveira na angariação de fundos (facto que esta testemunha aliás confirmou).
Era pois, além do mais, com base em listas ou com base em indicações verbais
da arguida Fátima que eles iam solicitando os respectivos donativos.
A lista de fls 168, da lavra da arguida Fátima, por seu turno, diz respeito a uma
angariação de fundos para o “Sovela” e não para a campanha eleitoral de 1997.
Não se apurou, em todo o caso, qual a razão de ser da aposição de cruzes em
frente dos nomes que constavam das “listinhas”, já que sobre essa matéria apenas o
arguido Joaquim Freitas depôs com melhor conhecimento de causa, sendo certo que o
seu depoimento, nessa parte, não poderá ser valorado pelos motivos que já deixamos
expressos.
Nenhuma relação pode assim ser estabelecida entre esse facto e a existência de
processos de licenciamento e/ou de irregularidades no respectivo âmbito.
Já vimos que a arguida Fátima Felgueiras assegurou, a propósito desta matéria,
que adoptou uma posição de total afastamento em relação à questão da recolha de
donativos.
Sobre essa alegação, bastamente reiterada ao longo do julgamento, já tivemos a
oportunidade de tecer alguns comentários a propósito do ponto 1.1. da pronúncia e que
aqui chamamos à colacção.
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2º Juízo
Seja como for, mesmo a fazer fé nas declarações proferidas pelo arguido
Horácio Costa, terá sido de forma residual que a arguida Fátima terá solicitado ou
recebido directamente donativos para a campanha eleitoral de 1997 (foi ela quem
entregou ao arguido Horácio, por exemplo, o donativo concedido pelo legal
representante da “Anglomex”, conforme emergiu do depoimento da testemunha Jorge
Fernando Moreira da Fonseca).
Quando os arguidos Joaquim Freitas e Horácio Costa não recebiam os donativos
directamente, as mais das vezes eles eram-lhes entregues por elementos do GAPP
(naturalmente que os elementos do GAPP ouvidos, sem qualquer credibilidade,
negaram terem recebido donativos, assim como negaram terem encetado alguns prévios
contactos de pessoas a serem visitadas pelos arguidos Horácio e Joaquim Freitas).
Neste particular, pareceu-nos mais credível, uma vez mais, a versão dos factos
contada pelo arguido Horácio Costa, pois pareceu-nos nítido que algumas das
testemunhas ouvidas não se quiseram comprometer (foram aliás ouvidas testemunhas
que referiram terem entregue o donativo respectivo na CMF ao arguido Horácio ou a
funcionários camarários que prestavam o seu serviço na “zona política” do edifício
camarário).
Em todo o caso, não ficou suficientemente esclarecido, em concreto, quais os
elementos do GAPP que receberam tais donativos e os encaminharam para o arguido
Horácio Costa e quem desse gabinete terá efectuado contactos telefónicos a dar conta da
visita dos arguidos Horácio e Joaquim no sentido de solicitar ou de recolher um
donativo.
Por outro lado, da análise dos processos de licenciamento referidos nos autos
salta à vista que a arguida Fátima Felgueiras decidiu sempre com base nos pareceres
técnicos (cfr. o relatório da IGAT de fls 3165 e ss.).
Seja como for, não se convenceu o Tribunal que ela, não obstante, sempre
decidiu sem qualquer intuito de beneficiar algum munícipe, sendo certo que, em todo o
caso, também não se demonstrou o contrário, até pela circunstância de – legais ou não –
as decisões tomadas se terem fundado sempre em pareceres técnicos, sendo óbvio que a
arguida Fátima não teria os conhecimentos técnicos necessários na área do urbanismo
para que, sem eles, pudesse decidir.
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2º Juízo
O arguido Anastácio Macedo emitiu dois cheques, constantes de fls 495 (de
25.09.97) e 502 (de 15.10.97).
Os processos de licenciamento suspeitos foram apreendidos e analizados por
técnicos da IGAT.
Para além das declarações recolhidas pela PJ não tem qualquer elemento
objectivo que lhe permita fazer a ligação entre os donativos concedidos e os processos
de licenciamento em causa.
Análise crítica
Em face da prova produzida, acima sintetizada, salta à vista que não se
demonstraram os factos indicados na pronúncia no que respeita à relação entre a entrega
dos dois donativos pelo arguido Anastácio Macedo e o andamento do processo de
licenciamento nº 68/83.
Os donativos concedidos (cfr. cheques de fls 495 e 502 dos autos e os talões de
depósito na conta do BES de fls 75 e 86, ambos do apenso 1) prefazem o valor global de
500 cts, sendo certo que, em face das declarações prestadas pelo arguido Horácio, o
segundo cheque foi-lhe entregue pela arguida Fátima (não se demonstrou em todo o
caso que esta o tenha recebido das mãos do arguido Joaquim, pois isso não emergiu de
nunhum dos depoimentos prestados).
Ademais, não emergiu de nenhum depoimento, designadamente dos arguidos
Horácio e Joaquim, que o arguido Anastácio tenha sido abordado por eles no Verão de
1997, na escadaria do edifício da CMF ou em qualquer outro local do mesmo edifício,
no sentido deste conceder o respectivo donativo e que terá concordado em concedê-lo
em duas tranches de 250 cts em face do compromisso daqueles em solucionar, junto da
arguida Fátima, o problema que ele tinha com o licenciamento de um pavilhão
industrial.
Como se viu, a versão dos factos contada pelos ditos Horácio e Joaquim foi
totalmente diferente da que consta da pronúncia, sendo certo que, com conhecimento de
causa, acerca dessa matéria mais ninguém foi ouvido.
Ao que parece, segundo o arguido Joaquim Freitas, era habitual o arguido
Anastácio conceder donativos para várias causas (entre as quais, naturalmente,
donativos para campanhas eleitorais).
Reafirma-se que nenhuma relação segura pode ser estabelecida entre a entrega
daqueles donativos e a concessão do almejado alvará de licenciamento no âmbito do
processo de licenciamento nº 68/83, tanto mais que as decisões tomadas no seu âmbito
pela arguida Fátima escudaram-se em pareceres técnicos, sendo certo que da prova
produzida não emergiu que tenha sido o arguido Horácio Costa quem entregou em mão
a dita licença ao arguido Anastácio.
Seja como for, diga-se, também não nos convencemos que a concessão da dita
licença não tenha sido a contrapartida pela entrega daquele donativo (segundo,
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Referiu não se recordar de ter falado com o arguido Carlos Teixeira acerca do
processo de licenciamento em causa, sendo certo que se isso tivesse ocorrido haveria de
existir uma folha no processo a dar conta desse facto.
Certo é que nos autos de licenciamento existe o registo de uma audiência
ocorrida a 09.07.98.
Esclareceu que se a fiscalização tivesse inspeccionado a obra, ao tempo, não
constaria essa informação no respectivo processo de licenciamento (ao contrário do que
sucede actualmente).
Com data de 15.09.98 proferiu o despacho final de indeferimento do
licenciamento.
Na sequência de novo requerimento (que entrou a 09.10.98), proferiu novo
despacho a 10.12.98, tendo sido aprovados os projectos de arquitectura e notificado o
requerente para apresentar os projectos de especialidade.
Confirmou que no dia 28.01.99 o Carlos Teixeira esteve na CMF mas não falou
com a depoente (cfr. informação da secretária da presidente e a informação da depoente
datada de 12.02.99).
Esclareceu que pode dar autorização para o início das obras, desde que tenha
sido emitida licença para caboucos e caso o projecto de arquitectura esteja aprovado
(faltando a aprovação dos projectos de especialidade).
Entretanto, a 13.10.99 despachou no sentido de conceder o respectivo alvará de
licenciamento.
Na sequência de informação do Ministério da Economia de concessão do
licenciamento industrial a depoente despacha no sentido do requerente ser notificado
para dar cumprimento ao solicitado pelo Departamento Técnico (despacho datado de
05.11.99).
Foi feita uma vistoria à obra a 03.04.2000 e notificado o requerente para se
pronunciar acerca da mesma e do parecer proferido.
Nova vistoria foi efectuada a 30.05.2000 (agora só faltava um ramal de
saneamento).
Foi efectuada nova vistoria a 27.06.2000, na sequência da qual, a 06.07.2000,
despacha no sentido de conceder a licença de utilização (em face da qual e depois de
pagas as taxas, no montante de 634.230$00, é emitido a 02.08.2000 o alvará nº
457/2000).
Em face da constatação de que a obra já estava concluída antes da aprovação dos
projectos de especialidade ignora se foi ou não aberto um processo de contra-ordenação,
sendo certo que não tinha de mandar instaurar tal processo, pois os Serviços de
Fiscalização estão integrados no Departamento Técnico, o qual têm competência para o
efeito.
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serviços da CMF e a matéria alvo de queixa, que assim foi abordada de forma mais
profunda).
Esclareceu que se debruçou mais sobre as matérias ligadas ao urbanismo, ao
passo que a testemunha Silvino Perdigão centrou mais a sua acção nas outras matérias
(os relatórios estão assinados por ambos, tendo esclarecido qual o método de trabalho
que prosseguiram).
No que se refere ao processo de licenciamento nº 255/98 (Fábrica “Jonil”) foram
juntas fotografias que demonstram que a construção já se tinha iniciado, o que deveria
ter dado aso a um processo de contra-ordenação, o que não sucedeu.
Não se recorda se essas fotografias foram juntas com a apresentação de um novo
projecto a 09.08.98 e que respeitava o PDM (cfr. em todo o caso o processo de
licenciamento em causa), na sequência do arquivamento do processo de licenciamento
nº 902/97.
Aliás, por despacho datado de 12.02.99 a arguida Fátima Felgueiras salientou
que era lamentável o facto da fábrica estar já quase construída e ainda nem sequer
haviam entregue os projectos de especialidades (cfr. fls 351 do processo de
licenciamento em causa).
Análise crítica
Emerge do documento de fls 520, em conjugação com as declarações prestadas
pelo arguido Horácio Costa, que o arguido Carlos Sampaio Teixeira concedeu um
donativo para a campanha eleitoral do PS relativo às eleições autárquicas de 1997, o
qual foi depositado na conta do BES conforme documento de fls 133 do apenso 1.
Da análise do processo de licenciamento nº 902/97, emerge que o requerimento
inicial deu entrada em 31 de Outubro de 1997, tendo merecido o primeiro despacho da
arguida Fátima nessa data.
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2º Juízo
É de salientar que pelo menos até de Dezembro de 1997 as obras em causa não
se iniciaram, pois existe uma informação nesse processo por banda da Fiscalização e
que aponta nesse sentido.
Já em 9 de Abril de 1998 esse processo viria a ser arquivado na medida em que
foi dado sem efeito o requerimento de licenciamento em causa, na sequência aliás de
pareceres negativos do SNB e do PDM local (logo, já depois de concedido o donativo).
O arguido Barbieri Cardoso, para além de analisar na audiência de julgamento
os processos de licenciamento nºs 902/97 e 255/98, explicou assertivamente em que
condições a CMF procedia à fiscalização das obras (cfr. pois as respectivas declarações,
acima reproduzidas por súmula).
Ora, não resulta da prova documental ou testemunhal produzida que a arguida
Fátima tenha enviado a Fiscalização ao local na sequência do facto dos arguidos
Horácio e Joaquim Freitas terem sucessivamente procurado contactar sem sucesso o
arguido Carlos (como retaliação pela falta de disponibilidade do dito Carlos Sampaio
Teixeira para apoiar financeiramente a sua candidatura); não obstante, por esse motivo –
segundo o arguido Horácio -, a arguida Fátima Felgueiras ter-se-á encarregue
pessoalmente da angariação desse donativo, que viria a ser entregue já em Novembro de
1997 (tendo-lhe a dita Fátima entregue o respectivo cheque, que o mencionado Horácio
depositou na conta do BES a 12.12.97).
Em todo o caso, em face da evolução desse processo de licenciamento, nenhuma
correlação se pode extrair entre a concessão do dito donativo e o andamento do dito
processo, tanto mais que, no âmbito do mesmo, nenhuma licença foi concedida.
Sucede que a firma de que o arguido Carlos Sampaio Teixeira é o legal
representante fez chegar à CMF, a 09.04.98, novo requerimento de licenciamento, ao
qual viria a ser dado o nº 255/98.
Com o requerimento inicial foram juntas fotos donde é perceptível que se
haviam iniciado os trabalhos de limpeza e de movimentação de terras (parece que a
CMF exigia a junção de fotos do terreno a que diziam respeito os licenciamentos,
segundo declarações proferidas pelo arguido Barbieri).
Desse processo não se retira se foi efectuada ou não uma vistoria ao local em
face do teor dessas fotos, mas admite o arguido Barbieri que tal possa não ter sido feito
já que as obras em causa – embora careçam de licenciamento – reportavam-se
essencialmente a obras de nivelamento do terreno. Não se extrai igualmente desse
processo se foi ou não instaurado um processo de contra-ordenação por esse facto (ao
que parece não foi – cfr., designadamente o relatório da IGAT). Essas informações, à
data, não eram por norma exaradas nos processos de licenciamento, visto que a
Fiscalização actuava autonomamente e acerca da instauração dos processos de contra-
ordenação não ficava exarada qualquer informação nos processos de licenciamento,
procedimentos que terão sido alterados na sequência da inspecção da IGAT (cfr., de
resto, o respectivo relatório de fls 3165 e ss. dos autos e o depoimento de quem o
elaborou, onde se faz uma análise sucinta do processo de obras nº 255/98).
Entretanto, na sequência de parecer negativo, a arguida Fátima, a 09.07.98,
concedeu uma audiência ao requerente (o que sempre sucedia em caso de parecer
negativo), vindo a licença a ser indeferida a 15.09.98.
Em face da evolução desse processo de licenciamento até então, também aqui
não se vê qualquer indício de favorecimento por banda da arguida Fátima, a qual,
sempre seguindo os pareceres técnicos proferidos, indeferiu o licenciamento, não
obstante o donativo concedido em Novembro de 1997.
Sucede que já em 09.10.98 deu entrada na CMF novo requerimento, na
sequência do qual a arguida Fátima, a 10.12.98, despachou no sentido da aprovação dos
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A fls 74 do processo de licenciamento existe um despacho de indeferimento que não foi assinado pela
depoente, segundo explicou, por dúvidas que estão expressas em despacho proferido à mão. Daí que de
facto pareça não ter existido indeferimento.
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Fiscalização essa efectuada na sequência de uma denúnica efectuada a 18.11.97 por Ana Maria
Sampaio Mendes, conforme consta do processo de licenciamento e que a arguida Fátima Felgueiras
mandou remeter à fiscalização.
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A 19.01.98 é junto um auto de notícia a dar conta que o embargo não foi
respeitado.
Porém, ao invés desse auto ser remetido ao MP por crime de desobidência, tal
não foi feito na medida em que o processo estava já em condições de ser licenciado pelo
que lhe é dado a perceber (inexiste qualquer despacho a mandar remeter o auto ao
Ministério Público ao contrário do referido na pronúncia, pois, conforme se oberva a fls
74 do proceso de licenciamento, esse despacho – elaborado pelos serviços – não foi
assinado pela arguida Fátima Felgueiras, a qual na mesma folha manuscreveu um outro
despacho a pedir informações ao arguido Barbieri Cardoso).
De facto, na sequência desse auto de notícia a arguida Fátima Felgueiras
solicitou que lhe confirmassem se se tratava de um determinado processo (o que inculca
a ideia de que de facto os processos não iam completos para o seu gabinete quando os
despachava, conforme referiu).
A 25.01.98 o depoente esclareceu-a de que ela estava equivocada quanto à
identificação do processo.
Em face disso e colocada ao corrente da identificação do processo em causa, no
mesmo dia ela despachou no sentido de a informarem se os pareceres em falta já tinham
sido proferidos.
A 26.01.98 é então proferido despacho de deferimento, sendo certo que foi
emitido o alvará de licença de construção nº 101/98, de 16.02.98.
O proceso foi taxado como tendo sido de legalização (o que pressupõe que se
tratou da legalização de obras iniciadas sem a necessária licença).
A propósito do atendimento do requerente pela arguida Fátima Felgueiras em
Setembro de 1997, referiu ignorar quem teve a iniciativa desse encontro (cfr. o registo
diário de telefonemas da empresa requerente, constante de fls 6659 do 26º volume,
linhas 3 e 4), sendo certo que ignora a forma como o atendimento aos munícipes era
feito e de que forma eram feitas as marcações (a este propósito a arguida Fátima
Felgueiras pediu a palavra e salientou que o documento de fls 6659 não se trata de um
registo diário de telefonemas da CMF mas da empresa requerente, sendo certo que
nunca promoveu reuniões individuais com industriais, além de que existem técnicos da
CMF que também dão audiências).
Acrescentou que sucedia não se remeter os autos de notícia ao MP por
desobediência sempre que o licenciamento era eminente (quanto à circunstância de não
ter remetido o auto de notícia para o MP por força da violação do embargo a arguida
Fátima Felgueiras explicou que procede desse modo sempre que a obra esteja em
condições de ser licenciada, sendo certo que ainda hoje procede desse modo).
. Era também habitual deferir-se o início das obras desde que obtida uma licença
para caboucos. Porém, como a obtenção desta licença demora quase o mesmo tempo
que a obtenção da licença de construção, normalmente não é pedida.
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Não encontra explicação para o facto do cheque em causa ter sido emitido em
nome do pai do depoente (que não andou a angariar fundos), sendo certo que o depoente
costuma ser tratado pelo primeiro e pelo último nome (cfr. cópia do cheque de fls 501
do 3º volume). O depósito respectivo foi feito a 13.10.97 pelo arguido Horácio Costa
conforme se constata no documento de fls 83 do apenso 1.
Ignora se o arguido Horácio chegou a mostrar à arguida Fátima o envelope onde
o cheque estava acondicionado.
Segundo lhe disse o arguido Horácio existiu um segundo donativo, que lhe terá
sido entregue ou entregue à arguida Fátima (cfr. cópia do cheque de fls 523 do 3º
volume, emitido a 06.02.98 ao portador e no montante de 150.000$00), o qual foi
depositado pelo arguido Horácio a 06.02.98 (cfr. fls 168 do apenso 1).
Ignora se o arguido Guilherme teve qualquer outra intenção que não fosse a de
contribuir para o financiamento da campanha eleitoral de 1997, sendo certo que o
arguido Horácio nunca lhe disse se a arguida Fátima tinha ou não dado autorização
verbal para o início das obras.
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Admite que possa ter sido o seu gabinete a solicitar a dita reunião, mas não tem
a certeza desse facto. A esse propósito foi confrontado com o documento de fls 6659, 4ª
linha (registo diário de telefonemas efectuados a 31.07.97 pelo seu gabinete e onde tem
anotações manuscritas nas 3ª e 4ª linha, aludindo a uma reunião na CMF para
apresentação de projecto). Porém, referiu a testemunha não saber se essa alusão se
reporta ou não à reunião referida.
Na dita reunião começou-se por abordar a aludida questão do ecoponto.
Depois, recorda-se que foram apresentados os projectos referidos e que pediram
à arguida Fátima Felgueiras, se possível, o início das obras de construção dos pavilhões
industriais (pois o arguido Guilherme tinha urgência na respectiva construção, já que a
sua empresa laborava em instalações sem as condições necessárias, além de serem
desadequadas em termos de espaço relativamente ao volume de encomendas a que tinha
de dar resposta), ao que ela respondeu que primeiro deveriam ser aprovados os projectos
e que só depois é que as obras se poderiam iniciar, ainda que a licença ainda não
estivesse emitida.
Deduziu das palavras da arguida Fátima Felgueiras que a construção se poderia
inciar uma vez aprovados os projectos de arquitectura (antes portanto da aprovação dos
projectos de especialidade).
A razão de ser da apresentação do projecto prendia-se com uma eventual
autorização para o inicio das obras, dada a urgência na sua execução.
Tem ideia que esse projecto foi apresentado em 1997 (o que poderá ser
confirmado no respectivo processo de licenciamento) e que aquando da dita reunião
ainda não tinha recaído sobre ele qualquer parecer.
As obras em causa iniciaram-se sem a respectiva licença e entretanto foram
embargadas. Ignora porém se antes da aprovação dos projectos de arquitectura o
arguido Guilherme tinha feito terraplanagens no local da obra.
Entretanto, em face da violação desse embargo, foi instaurado um processo
crime por desobediência contra o arguido Guilherme e que correu termos no TJ da
Comarca de Felgueiras, tendo sido ouvido como testemunha.
Certo é que entretanto foram obtidas as necessárias licenças de construção e
emitido o respectivo alvará de licença de utilização.
Foi confrontado com o primeiro cheque de fls 501 (emitido pelo arguido
Guilherme à ordem do arguido Joaquim Freitas).
Esclareceu que não participou na campanha eleitoral de 1997 e que já à data
mantinha (e mantém) com a arguida Fátima uma relação de amizade.
Mais esclareceu que na aludida reunião com a arguida Fátima não se abordou
qualquer assunto relacionado com donativos.
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2º Juízo
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2º Juízo
Nos documentos de fls 6674, 6675, 6676, 6677 e 6678, onde se refere “Eng.
Machado”, faz-se sempre referência à mesma pessoa (Eng. Machado do gabinete de
projectos “M2”), pois o número de telefone é sempre o mesmo.
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2º Juízo
A empresa tem no arquivo, desde o seu início (1984), o registo das visitas e
telefonemas, conhecendo bem os documentos em causa.
Confrontado com o documento de fls 6659, terceira linha, referiu que foi a
testemunha Sandra Monteiro quem efectuou essa chamada para a CMF, tendo falado
com uma tal de Rosinda (segundo consta do registo). Explicou que foi o depoente quem
apôs os dizeres “marcar uma audiência para apresentar projecto”, e fê-lo na altura em
que o arguido Guilherme foi constituído arguido (ou melhor, quando ele foi acusado e
era necessário fazer um levantamento dos documentos relevantes para a sua defesa).
Escreveu esses dizeres a vermelho (na audiência foi exibido o original desse
documento). A audiência foi marcada para o dia 02.09, às 11.15 horas.
Explicou que a firma “M2” pertencia ao Eng. Manuel Machado, sendo certo que
era o depoente quem fazia a ligação entre esse gabinete de projectos e o arguido
Guilherme Almeida. Normalmente o depoente falava com a esposa do Eng. Machado
(chama-se Fátima).
Apesar de ser o arguido Guilherme Almeida quem abria o correio, era o
depoente quem contactava o gabinete de projectos “M2”, normalmente por fax.
Sabe que a audiência mencionada no documento de fls 6659 teve lugar e que se
prendeu com o facto do arguido Guilherme Almeida ter urgência na construção de
novas instalações fabris na medida em que as instalações de que dispunham eram
insuficientes para dar resposta às necessidades da empresa (que já tinha na altura 80
funcionários e no espaço que então ocupavam apenas estava prevista a acomodação de
50 funcionários).
O terreno que o arguido Guilherme adquiriu para construir os novos pavilhões
tinha muita pedra (pelo que a terraplanagem seria demorada), tendo-lhe dito que fez o
pedido para iniciar a terraplanagem. Ele fez-se acompanhar do Eng. Machado nessa
audiência. Nunca antes ele tinha feito a apresentação de algum projecto dessa forma.
O arguido Guilherme disse-lhe que na dita audiência pediu à arguida Fátima
para iniciar a terraplanagem, o que ela não aceitou, admitindo apenas que a
terraplanagem avançasse quando o projecto fosse aprovado, ainda que a respectiva
licença não estivesse emitida.
Nunca foi à CMF tratar de assuntos relacionados com a construção dos
pavilhões, ignorando se o arguido Guilherme se deslocou à CMF com esse intuito (certo
é que a testemunha referiu que o arguido Guilherme tinha feito o pedido para que as
terraplanagens pudessem ser efectuadas, assunto que claramente se prende com a
construção em causa).
Em Outubro de 1997 foram visitados por causa da campanha eleitoral por um
grupo de pessoas que solicitaram um donativo.
Viu esse grupo de pessoas entrar e era composto por quatro pessoas, das quais
conhecia os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas (por os ver na companhia da
arguida Fátima em Felgueiras) e o Sr. Silvério (não se recorda do quatro elemento).
No documento de fls 6667, última linha (reportado ao dia 07.10.97), é
referenciado o nome de “Joaquim Costa”, o que atribui a lapso no respectivo registo.
Só sabe que foi nesse dia que a empresa recebeu a visita daquelas pessoas em
face do que observa no registo.
No dia em que receberam essa visita o arguido Guilherme disse-lhe para passar
um cheque (ele nunca passava os cheques) no valor de 250 cts (cfr. o segundo cheque
de fls 501, nesse valor, datado de 10.10.97, cheque esse que se mostra preenchido pelo
depoente).
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2º Juízo
Explicou que era o depoente quem fazia os depósitos na conta, depósitos esses
que então só ficavam disponíveis cinco dias depois e presume que terá sido por isso que
o cheque foi datado para o dia 10.10.97 (apesar de o ter emitido no dia 07.10.97).
Referiu que a empresa dispõe de várias contas e que o grosso dos pagamentos
são efectuados ao dia 5 de cada mês, pelo que à data da visita da comissão de
angariação de fundos as contas não deveriam ter saldo suficiente (daí a emissão do
cheque para uma data posterior, facto de que aliás já não se recordava).
O dito cheque foi emitido à ordem do arguido Joaquim Freitas na medida em
que não emitiam cheques ao portador.
Segundo lhe disse o arguido Guilherme eles comprometeram-se a passar um
recibo, visto que a empresa tinha contabilidade organizada, mas esse recibo nunca lhes
foi entregue.
O donativo em causa foi para a campanha eleitoral do PS.
Era frequente as instituições e os partidos políticos irem à empresa pedir
donativos. O arguido Guilherme sempre que pode ajuda.
Depois da obra de terraplanagem referida se ter iniciado, cerca de 8 ou 15 dias
depois, os fiscais da CMF elaboraram um auto de notícia, que foi assinado pelo arguido
Guilherme Almeida na empresa, mas os fiscais não disseram para parar a obra.
A fls 6671 consta uma cópia desse auto de notícia, datado de 27.11.97.
A fls 6672 consta um registo de telefonemas efectuados para o gabinete “M2”
(ver 19ª linha), presumindo que esses telefonemas foram efectuados depois de serem
notificados do auto de embargo da obra.
O auto de embargo da obra consta de fls 6673 e data de 09.01.98, às 15 horas.
A fls 6674 (linha 19ª) consta um registo de um telefonema (foi o arguido
Guilherme quem pessoalmente falou) para o Eng. Machado, pelas 14.34 horas.
Nesse mesmo dia foi efectuada outra chamada para o Eng. Machado, desta feita
às 17.20 horas.
Todos os documentos recebidos da CMF eram remetidos ao gabinete de
projectos “M2” (foi o depoente quem enviou para esse gabinete cópia do auto de
embargo).
A obra parou de imediato (terraplanagem), pois o arguido Guilherme, logo após
ter assinado o auto de embargo, foi à obra e ordenou a suspensão dos trabalhos.
A testemunha Arnaldo Pinto só tinha dois ou três camiões e andavam lá mais
empresas a trabalhar.
A suspensão dos trabalhos durou semana e meia.
Conforme se pode verificar a fls 6675, 6676 e 6678, foram efectuadas várias
chamadas telefónicas para o gabinete de projectos “M2” e que se prenderam com o
embargo e a forma de se ultrapassar essa situação.
Explicou que nesse período (Janeiro de 1998) foi o depoente quem fez as
chamadas e não a testemunha Sandra Monteiro na medida em que ela esteve ausente
numa feira de calçado na “Exponor”.
Num telefonema efectuado pelo arguido Horácio Costa para a empresa ele
identificou-se como sendo assessor da arguida Fátima Felgueiras.
Foi assim o depoente quem recebeu os telefonemas, tendo atendido uma
chamada do arguido Horácio Costa, o qual tinha urgência em falar com o arguido
Guilherme, razão pela qual o depoente lhe deu o respectivo número de telemóvel (isto
passou-se a meio da tarde).
Nesse mesmo dia o arguido Guilherme ligou ao depoente e disse-lhe que tinha a
autorização da arguida Fátima Felgueiras para que a terraplanagem avançasse, tendo-lhe
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2º Juízo
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A testemunha Paulo Baltazar, por seu turno, confirmou que no gabinete do
arguido Guilherme predominava o granito.
Reiterou que nesse gabinete viu quatro pessoas e que o arguido Guilherme lhe
deu instruções para emitir o cheque referido (o respectivo valor e à ordem de quem).
Recorda-se que o cheque foi assinado à frente das visitas pelo arguido
Guilherme Almeida. Levou então o cheque e tirou uma cópia, tendo colocado o original
num envelope fechado.
Foi o arguido Guilherme, após eles terem saído, quem lhe disse que eles
prometeram a emissão de um recibo (presume que do PS, visto que o donativo era para
esse partido) e também foi ele quem lhe disse que queriam um donativo de 1.000 cts.
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2º Juízo
Análise crítica
O arguido Guilherme Almeida emitiu dois cheques, cujas cópias constam de fls
501 (de 250 cts, emitido a 10.10.97, sacado sobre a conta da sua empresa a favor do
arguido Joaquim Freitas e depositado pelo arguido Horácio na conta do BES a 13.10.97,
conforme fls 83 do apenso 1) e 523 (emitido ao portador a 06.02.98 e no montante de
150 cts, cheque que foi sacado sobre a sua conta pessoal da CCAM; tal cheque viria a
ser depositado pelo arguido Horácio a 06.02.98, conforme documento de fls 168 do
apenso 1).
Trataram-se de donativos para a campanha eleitoral do PS relativa às eleições
autárquicas de 1997 (não obstante o segundo cheque ter sido emitido já em 1998,
reportou-se ainda a um donativo para essa campanha, já que mesmo depois da
ocorrência dessas eleições foram recolhidos donativos e procederam-se a pagamentos
de despesas relacionadas com essa campanha eleitoral, conforme emerge
designadamente das declarações que o arguido Horácio foi prestando ao longo do
julgamento a propósito dos donativos recebidos e dos pagamentos efectuados,
declarações essas sustentadas pelos documentos constantes do apenso1 e por outros
juntos aos autos principais alusivos a pagamentos).
Que tais cheques constituíram donativos resultou ainda de forma inequívoca do
depoimento da testemunha Paulo Baltazar Martins, funcionário de escritório da “Ricap”.
Ora, os processos de licenciamento em causa foram analisados muito
sumariamente pela IGAT (cfr. o relatório de fls 3165 e ss.) e mais profundamente pelos
arguidos Fátima Felgueiras e Barbieiri Cardoso, para cujas declarações remetemos.
A propósito do processo de licenciamento nº 630/97, quanto ao seu andamento,
a versão constante da contestação do arguido Guilherme parece estar “grosso modo”
correcta, em face do que se observa nesse processo e nos documentos mencionados em
tal contestação – para os quais remetemos -, em conjugação com o teor do depoimento
das testemunhas Sandra Monteiro e Paulo Martins.
Em todo o caso, há que atentar no seguinte:
Em face do que se observa na folha de atendimento constante em tal processo de
licenciamento, o arguido Guilherme e o seu técnico (a testemunha Machado) foram
recebidos pela arguida Fátima Felgueiras a 02.09.97, reunião na qual o respectivo
projecto foi apresentado, portanto já depois do requerimento inicial ter dado entrada na
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2º Juízo
Manifestou recordar-se de ter sido procurada por eles, em data que não se
recorda (não se recorda ainda que outros elementos participaram nessa reunião,
admitindo porém que era natural – dado o assunto em causa – que o Arquitecto Rui
Almeida estivesse presente), manifestando-lhe então o desejo de construir duas fábricas
(relativamente a cada uma das empresas referidas na pronúncia) ou no concelho de
Felgueiras ou no concelho de Fafe.
Foi-lhe manifestado que o terreno onde as duas fábricas deveriam ser
implantadas era de grandes dimensões (situava-se em Cabeça de Porca, Sendim, numa
zona de grande concentração industrial) e que não estavam a conseguir efectuar o
destaque, tendo então a depoente questionado os serviços acerca desse assunto.
Não tendo sido possível efectuar a operação de destaque, tiveram de lotear o
terreno, no que despenderam quantia superior a 20.000 contos, sinal de que eles não
tiveram qualquer tratamento de favor.
Nega ter dado autorização verbal para o início das obras de terraplanagem (as
quais apenas seriam legalmente possíveis com uma licença para caboucos e com a
aprovação do projecto de arquitectura).
Analizou-se então o processo de loteamento nº 10/97.
O requerimento respectivo deu entrada nos serviços camarários a 30.07.97,
apresentado pela firma “José Manuel Pimenta da Silva, Ldª”.
A 13.10.97 o pedido é rejeitado por falta de apresentação de documentos
necessários à análise do pedido de loteamento.
Recebeu o interessado a 11.11.97, acompanhado do técnico responsável e onde
o Arquitecto Rui Almeida terá estado presente.
A 26.11.98 o projecto de loteamento é reformulado, mas tal pretensão veio a ser
indeferida, pelas razões constantes da pronúncia.
A 19.02.98 manda notificar a requerente para se pronunciar quanto àquela
decisão.
Do processo consta uma folha de atendimento, donde se dá conta que no dia
05.03.98 recebeu o arguido Pimenta.
Entretanto, a 06.03.98, a arguida Fátima Felgueiras remete novamente o
processo ao Director do Projecto do PDM para reapreciação.
Dá conta que na altura em que o PDM foi feito não havia cartografia digital,
razão pela qual não havia rigor absoluto, constatando-se então um erro de cartografia,
razão pela qual o terreno referido estava todo em zona de construção industrial (isto é,
ao contrário do que resultava das cartas cartográficas pouco rigorosas, esse terreno não
se situava em parte em zona de floresta dominante).
A 03.06.98 foi junto o requerimento mencionado na pronúncia e a DRAEDM,
depois de ter exigido um estudo paisagistico e deste ter sido apresentado, considerou-o
globalmente equilibrado (cfr. acta de reunião com a tutela e o regulamento do PDM).
Consequentemente, inexistindo qualquer objecção à aprovação do loteamento,
por despacho de 25.01.99 é aprovado o projecto e mandada notificar a requerente para
apresentar os projectos de especialidade.
No processo de licenciamento está entretanto documentada uma reunião com o
arguido Pimenta, a 24.06.99, pois ele entendia que era excessiva a área a ceder à
autarquia e em localização que não lhe convinha.
Por despacho de 08.10.99 a arguida manifestou concordar com a posição dos
serviços acerca desse assunto.
Surge então uma informação dos serviços acerca da área de cedência, tendo a
arguida proferido despacho de deferimento nos termos dessa informação (a 15.12.99).
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chegado às suas mãos, pois dele não consta a informação que entretanto exarou (em que
mandava remeter à Divisão de Planeamento Urbanístico no sentido de verificar se o
terreno que se pretendia ceder era ou não contíguo ao aterro, visto que em caso
afirmativo poderia haver interesse nele por parte da CMF e assim aceitar a cedência
proposta pelos requerentes).
Entretanto a Divisão de Planeamento Urbanístico, a fls 66 do processo de
licenciamento do loteamento, exarou a respectiva informação, em face da qual o
depoente informou a arguida Fátima da não conveniência da cedência do terreno
conforme era pretendido pelos requerentes.
*
A propósito da mesma questão, a arguida Fátima Felgueiras confirmou as
declarações prestadas pelo arguido Barbieri Cardoso.
Explicou que as folhas onde são tiradas as notas das audiências concedidas por
si têm um químico. As audiências são marcadas pela funcionária (no caso a testemunha
Cândida). Assim, o documento de fls 13907 apenas deveria estar no dossier dessa
funcionária antes de chegar ao destinatário, pelo que alguém se deverá ter apropriado
desse documento, dele tendo retirado uma cópia antes ter sido entregue ao arguido
Barbieri Cardoso.
Quanto ao documento de fls 13906, esclareceu que nunca disse nunca ter
recebido os arguidos Pinto e Pimenta. Se os recebeu o respectivo documento deveria
constar no processo de loteamento.
Ora, o documento em causa nada tem a ver com o dito processo de loteamento.
Tem antes a ver com o licenciamento de um prédio no loteamento do Outeiro, o qual,
estando já devidamente licenciado, estavam a pavimentar a baia de estacionamento e
colocava-se a questão do prolongamento da pavimentação até outro limite.
Também desse documento foi tirada uma cópia abusiva antes de ser entregue aos
serviços a que se destinava.
*
Em face destas declarações, o arguido Horácio Costa reafirmou o que disse em
relação ao documento de fls 13906.
Explicou que quando a arguida Fátima despachava eram muitas vezes tiradas
cópias para si.
Em 22.10.98 e em 24.06.99 a testemunha Cândida estava no Departamento
Técnico e era a testemunha Leonor quem marcava as audiências.
A partir de determinada altura, por força das ausências da arguida Fátima
motivadas por compromissos profissionais, era o depoente quem fazia as audiências
menores. Fazia então um levantamento das questões suscitadas na audiência e juntava-a
ao processo, após o que eram remetidas à arguida Fátima para que ela despachasse
quando tivesse disponibilidade. Então, a testemunha Leonor tirava uma cópia do
despacho dela e entregava ao depoente para tomar conhecimento.
Tal também sucedeu relativamente a processos em que não teve qualquer
intervenção, como foi o caso dos documentos referidos.
*
Ainda sobre o documento de fls 13906, depois de proceder a uma pesquisa na
CMF, o arguido Barbieiri Cardoso referiu que esse documento consta do processo de
fiscalização nº 131/98 (“Conterfel – Soc. de Construções, Ldª”, em que o requerente é a
testemunha Engº Manuel Maria Lopes Machado). Ignora quem são os sócios dessa
sociedade.
Esse processo de fiscalização deu origem ao processo de contra-ordenação nº
238/98.
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dia 13.01.97 já estava concluída conforme se verifica nas fotografias juntas ao processo
de licenciamento nº 6/97.
Até essa data o depoente não esteve presente em qualquer audiência concedida
pela arguida Fátima Felgueiras ao arguido Joaquim Teixeira Pinto.
A pedido do requerente esse processo de licenciamento nº 6/97 foi suspenso.
Em 11.04.97 foi pedido um destaque de uma parcela desse terreno (pretendiam
dividir o terreno, o qual foi indeferido porque o processo nº 6/97 estava suspenso).
Isto é, tratava-se de uma zona industrial (e não um aglomerado urbano) e
inexistia um projecto aprovado para o terreno, daí que, segundo a lei, o pedido de
destaque tenha sido indeferido.
Consequentemente, tornava-se obrigatório o loteamento do terreno em ordem a
dividí-lo em dois lotes.
Foi na sequência dessa decisão que, inconformados, os requerentes pediram uma
audiência à arguida Fátima Felgueiras, que teve lugar em Abril/Maio de 1997 e onde de
facto o depoente foi chamado (estava presente, para além da arguida Fátima Felgueiras
e do depoente, um dos interessados – não se recorda qual dos dois – e o Engº Machado).
Nessa reunião manifestaram que não queriam fazer um loteamento do terreno e o
depoente explicou-lhes porque razão teriam de o fazer.
Numa fase inicial detectaram que parte do terreno a lotear estava implantado em
zona de floresta dominante e área percorrida por incêndios. Porém, a mesma área era
zona industrial, sendo certo que por erro de desenho é que se verificava a sobreposição.
Os mapas eram feitos à mão, não existindo à data meios de cartografia que com rigor
definissem os perímetros das áreas.
Para aquela área estava previsto um traçado do IC25, o qual não veio a ser
construído nessa área. Ficou assim nessa área uma clareira, tendo havido depois a
reposição da trama.
A zona industrial ficou castrada com uma profundidade que na zona
inviabilizava a construção de pavilhões industriais. Na planta 1mm corresponde a 10
mts, daí que o facto das plantas serem manualmente reproduzidas umas em cima das
outras dá aso a erros relevantes.
Assim, segundo o PDM, a parte da frente do terreno em causa era considerada
zona industrial, mas na parte de trás era zona florestal e área percorrida por incêndios.
Em face disso consultaram uma entidade externa, que definia as zonas florestais,
a qual deu um parecer favorável. Não se trata de uma desafectação, mas de uma
utilização diferente na medida em que o respectivo uso já não era de floresta, conforme
constataram no local.
Se a fábrica fosse entretanto demolida, o licenciamento de outra estrutura do
género obrigaria ao mesmo procedimento, pois uma parte do terreno continuava a estar
implantado em zona de floresta e em área percorrida por incêndios (tratava-se da zona
da lixeira, o que provocava incêndios em face da combustão dos resíduos).
A desafectação, por seu turno, só é feita em sede de alteração do PDM.
A desafectação é uma operação diversa de uma utilização diferente em relação
ao que está previsto no PDM. A desefectação é a retirada de uma determinada área, em
termos definitivos, de uma determinada utilização prevista para outra utilização
(desafecta-se assim em relação à utilização prevista e afecta-se em termos definitivos a
outra utilização, ao passo que a mera utilização diversa da prevista não é definitiva, já
que essa utilização prevista mantêm-se).
Deu como exemplo o facto de ser possível a construção de uma casa em terreno
de reserva agrícola, desde que seja autorizada pela Comissão Regional da Reserva
Agrícola (cujo paracer pode ser remetido para o Conselho Nacional da Reserva
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forma como interpreta a planta (entende que a interpretação deve ser feita em função do
interesse público subjacente à criação da área industrial).
Recorda-se que já nessa altura se tinham feito terraplanagens no terreno.
No processo de loteamento os requerentes tiveram de juntar um estudo de
integração e recuperação paisagistica, estudo que foi imposto pelos serviços florestais,
serviços esses que tinham colaborado na elaboração do PDM no que se refere à área
florestal.
Assim, esses serviços eram consultados quando podia estar em causa a área
florestal, emitindo assim o respectivo parecer.
Em 10 anos constataram que cerca de 1/3 da área florestal do concelho havia
sido devastada, o que não tinha paralelo nos concelhos limítrofes.
Assim, a preservação da floresta era um interesse estratégico para o concelho,
interesse esse que se tinha porém de harmonizar com outros interesses estratégicos,
como seja a construção de pavilhões industriais em determinada zona.
O PDM deve ser utilizado com prudência como instrumento de gestão
urbanística. É sobretudo um instrumento orientador e estratégico. Procura representar
graficamente a estratégia de arrumação das várias componentes de ordenação do
território.
O depoente dá os seus pareceres olhando genericamente para a planta do PDM e
em face da localização indicada, as mais das vezes com uma bolinha, não curando saber
da dimensão da construção.
Mais referiu que ainda hoje encontram erros. Ainda há dias detectaram que uma
parte do território está em branco, por cartografar.
Presume que quando analisaram a pretensão dos requerentes detectaram o erro
que apontou, sendo certo que essa pretensão estava de acordo com o interesse
estratégico consagrado no PDM.
Em ordem a corrigir esse erro procuraram promover uma alteração ao PDM,
mais isso é um processo muito complicado e moroso. Tal intenção não foi entretanto
avante porque decidiu-se fazer um plano geral de alteração ao PDM.
Análise crítica
Quanto aos termos do que terá sido acordado entre os arguidos Teixeira Pinto e
Pimenta da Silva, a propósito da aquisição do terreno situado em Cabeça de Porca e da
construção das novas unidades fabris, no essencial, pareceu-nos verosímel a posição
expressa pelo arguido Pinto na sua contestação, em face do facto do terreno ter sido
apenas adquirido pela firma do arguido Pimenta da Silva (cfr. documento de fls 9003 a
9007), de ter sido posteriormente adquirido o lote que lhe competia pela sociedade de
que o arguido Teixeira é administrador (cfr. documento de fls 9008 a 9011) e desta
sociedade ter suportado metade dos custos com a operação de loteamento (cfr.
documentos de fls 8731, 9012 e 9013), sem esquecer que eles tentaram levar a cabo
uma operação de destaque (procedimento mais rápido e barato) antes de terem sido
forçados a lotear o terreno.
Não se provou que o terreno referido nos autos tenha estado registado em nome
do arguido José Pimenta da Silva, mas antes em nome da firma “José Manuel Pimenta
da Silva & Cª Ldª”, em face do teor da certidão emitida pela conservatória do registo
predial competente, junta aos autos a fls 9003 e ss.
Ora, essencialmente pelas razões indicadas na pronúncia, a arguida Fátima
Felgueiras confirmou ter recebido os arguidos Pimenta da Silva e Teixeira Pinto, não se
recordando porém em que data de 1997 tal sucedeu, mas tal terá seguramente ocorrido
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antes de qualquer um dos processos de licenciamento referidos ter dado entrada na CMF
(isto é, antes de 30.07.97).
Não se demonstrou porém que ela tenha verbalmente autorizado o arranque das
obras de terraplanagem, pois tal não emergiu de qualquer elemento de prova produzido
em sede de audiência de julgamento.
Demonstrou-se que a testemunha Rui Almeida participou nessa reunião, facto
que a arguida Fátima admitiu, sendo certo que a testemunha Rui confirmou ter
participado numa audiência em que se discutiu a necessidade da realização de um
loteamento, na sequência do indeferimento de uma operação de destaque, ocorrida por
alturas de Maio de 1997 e antes portanto da entrada do requerimento que deu origem ao
processo de loteamento nº 10/97, sendo certo que acerca desse facto nenhum outro
elemento de prova foi produzido.
Note-se que a necessidade da reunião terá surgido pelo facto da operação de
destaque não estar a ser conseguida (cfr. as declarações da arguida Fatima e o
depoimento da testemunha Rui Almeida), sendo certo que, tendo consultando os
serviços, demonstrou-se que ela terá transmitido que apenas seria possível dividir o
terreno em duas parcelas através de uma operação de loteamento, o que naturalmente
terá desagradado os arguidos Pimento da Silva e Teixeira Pinto.
Assim, não se provou de todo que essa reunião tenha ocorrido no início de 1997.
Ora, os trabalhos de terraplanagem e a costrução dos pavilhões ter-se-ão iniciado
sem a respectiva licença, daí que a construção dos dois pavilhões tenha sido embargada
já em 1998.
Porém, não foi possível apurar em que altura de 1997 essas obras de
terraplanagem ter-se-ão iniciado de modo a permitir a construção dos pavilhões, mas o
arranque das mesma ter-se-á iniciado seguramente no primeiro semestre de 1997.
Por uma questão de brevidade, chama-se aqui à colacção as declarações
proferidas pelos arguidos Fátima Felgueiras e Barbieri Cardoso acerca da análise ao
processo de loteamento nº 10/97, com o qual tais arguidos foram confrontados na
audiência de julgamento.
De resto, da sua análise, resulta demonstrada a generalidade da matéria que a
propósito do seu andamento é referida na pronúncia.
O mesmo se diga em relação aos processos de licenciamento de obras
particulares nºs 413/99 e 414/99.
Em termos genéricos, olhando globalmente para eles, verifica-se que os arguidos
Joaquim Pinto e José Silva (ou melhor, as respectivas empresas) tiveram de, a
contragosto, proceder a uma operação de loteamento que lhes custou cerca de 26.000 cts
(cfr. documentos de fls 8730 a 8735), sendo certo que, de permeio, viram requerimentos
indeferidos, tiveram um discenso acerca das áreas a ceder, não foi aceite um terreno
como forma de cedência ao domínio público, foram efectuados embargos de obras e
pelo menos foi instaurado um processo de contra-ordenação (cfr. documentos de fls
8728 e 8729) e um processo-crime por desobediência.
A actuação da arguida Fátima, por sua vez, estribou-se sempre em pareceres
técnicos.
Em face destes dados de natureza objectiva, em consciência, não é possível
estabelecer qualquer ligação entre os donativos concedidos por banda daqueles arguidos
e o concreto andamento e deferimento das suas pretensões no âmbito dos aludidos
processos de loteamento e de obras particulares, tanto mais que o estabelecimento dessa
ligação não emergiu de qualquer depoimento ou testemunho prestado na audiência de
julgamento (o inverso, porém, também não se demonstrou – cfr. por exemplo, os artgs
7º a 13º, 28º e 29º da contestação do arguido Pimenta da Silva).
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2º Juízo
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2º Juízo
Já os factos alegados dos artgs 14º a 18º da contestação apresentada pelo arguido
Pimenta da Silva estão demonstrados em face da análise dos processos de licenciamento
referidos e dos documentos juntos com a contestação em causa.
Por ausência absoluta de prova, não se demonstrou a factualidade vertida nos
artgs 25º a 27º da mesma contestação.
Não se tendo convencido o Tribunal que a concessão dos supra aludidos
donativos se tenham prendido com o andamento dos processos de licenciamento
referidos, o certo é que também não nos convencemos do contrário, daí que,
naturalmente, não se tenha dado como provada qualquer uma das versões apresentadas a
esse propósito, quer na pronúncia quer nas contestações.
Por ausência absoluta de prova nesse sentido ou por prova manifestamente
insuficiente, em face do que se vem a dizer e com as ressalvas já assinaladas, não se
demonstrou a matéria constante dos artgs 2º a 5º, 7º a 16º, 19º, 28º, 29º, 35º, 36º, 37º,
46º, 47º, 56º, 63º 64º, 65º, 68º, 69º, 70º, 74º, 77º e 89º da contestação apresentada pelo
arguido Joaquim Teixeira Pinto.
Já a matéria alegada no artº 26º dessa contestação coaduna-se com a matéria de
facto alegada na pronúncia e emerge quer dos processos de licenciamento referidos quer
dos documentos de fls 9003 a 9011.
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2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
Na data em que procederam à inspecção nada havia sido feito para regularizar
essa situação.
Não foi instaurado qualquer proceso de contra-ordenação apesar das obras terem
sido executadas em desconformidade com o projecto aprovado.
A inspecção propôs a instauração de um processo de contra-ordenação e que se
accionasse os mecanismos de regularização, sendo certo que entenderam que já havia
decorrido o prazo para que se pudesse instaurar a respectiva acção tutelar contra a
arguida Fátima Felgueiras.
Nos demais processos entenderam que ela não agiu com culpa pois estribou as
suas decisões em informações prestadas pelos serviços.
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2º Juízo
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2º Juízo
Presume que ela era amiga da arguida Fátima Felgueiras (segundo lhe transmitiu
a arguida Maria Augusta e porque viu fotos de jornal em que apareciam as duas,
designadamente numa inauguração).
Julga que ela teria acesso directo à arguida Fátima Felgueiras se necessitasse de
contactar com ela.
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2º Juízo
Ela tem uma vida intensa de investigação na área da matemática, com livros
escolares nessa área do 7º ao 12º ano.
Ela é amiga da arguida Fátima Felgueiras. Esta era visita constante da Escola
Superior de Gestão e Tecnologia de Felgueiras e do Instituto Politécnico do Porto em
eventos.
A arguida Maria Augusta ocupava o seu tempo na vida académica.
Que saiba, ela não despendia muito tempo na vida política.
A depoente foi colega de gabinete do Dr. Jorge Neves (cunhado da arguida
Maria Augusta) e ele disse-lhe que elas eram amigas.
A arguida Maria Agusta dizia-lhe sempre “diga sem medo, o máximo que pode
acontecer é dizer não”. Ela é pessoa que “não tem papas na língua”.
Não a vê a recorrer a terceiros para pedir algo à arguida Fátima Felgueiras. Ela é
uma pessoa directa.
Não conhece qualquer ilegalidade que ela tenha cometido.
Não a imagina com tempo para uma actividade industrial.
Análise crítica
A arguida Maria Augusta era, respectivamente, esposa e mãe do presidente do
conselho de administração e de um administrador da “Calzeus” (pessoas que foram
arroladas como testemunhas mas que recusaram o respectivo depoimento, conforme
aliás direito que lhes assiste), fazendo aliás parte da administração dessa empresa, ao
que parece, sem funções executivas, centrando a sua actividade essencialmente na
docência e na autoria de manuais escolares (cfr. o depoimento das testemunhas que
arrolou e que depuseram acerca dessa matéria, bem como o seu currículum vitae
constante dos autos).
Tal empresa grangeou prestígio nacional e internacional no mercado do calçado
(cfr. os documentos referenciados a esse propósito pela arguida Maria Augusta na sua
contestação).
Ela era militante do PS antes da arguida Fátima se ter tornado militante desse
partido (cfr. documento nº 1, junto com o requerimento de abertura de instrução da
arguida Maria Augusta) e foi membro da Assembleia Municipal de Felgueiras desde
Janeiro de 1998 (na sequência de ter sido eleita nas eleições de Dezembro 1997) até ao
ano de 2000, tendo aliás desempenhado um papel activo na campanha eleitoral de 1997,
conforme aliás alegado no artº 11º da sua contestação (cfr. os depoimentos dos arguidos
Fátima Felgueiras e Horácio Costa).
Para além disso, colaborou com a revista “Rubeas”.
Ora, os donativos referenciados nos autos emergem dos cheques cujas cópias
constam de fls 519 (cheque da “Calzeus”, no valor de 200 cts, datado de 07.11.97 e
assinado pelo marido e pelo filho dela), 522 (de 70 cts, assinado por ela e datado de
12.12.97) e 541 (cheque da “Calzeus”, no valor de 100 cts, emitido a 13.05.98, assinado
pela arguida Maria Augusta e por outra pessoa) – cfr. ainda as declarações prestadas
pelo arguido Horácio Costa a esse propósito.
Não se demonstrou que tenham sido os arguidos Horácio e Joaquim a abordá-la
no sentido de serem concedidos esses donativos, pois isso não emergiu com clareza do
depoimento do arguido Horácio (o único que acerca dessa factualidade depôs).
Aliás, como o arguido Horácio Já não se recorda em que circunstâncias recebeu
o cheque de fls 519, ignoramos se ele foi entregue pela arguida Maria Augusta ou pelo
seu marido.
Já o cheque de fls 541 foi entregue, segundo o arguido Horácio, para pagar a
credores da revista “Rubeas” os respectivos créditos.
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2º Juízo
Existe ainda um cheque emitido pelo marido dela, no valor de 500 cts (datado de
16.04.99 – cfr. doc. de fls 4126) e depositado na conta oficial do PS de Felgueiras (cfr.
o talão de depósito de fls 301 do apenso 30-D, depósito esse efectuado pela testemunha
Armindo Brochado, funcionário do GAPP; cfr. ainda o extracto dessa conta, a fls 171
do apenso 30-D e as declarações prestadas pela testemunha José Júlio Pereira).
A propósito do alegado no artº 67º da contestação do arguido Bragança,
demonstrou-se que o donativo de 500 cts se destinou a auxiliar o pagamento da sede
local do PS (cfr. o depoimento da testemunha José Júlio da Silva Pereira), mas
ignoramos quem o terá solicitado pois esse facto não emergiu de qualquer meio de
prova produzido.
Da análise do processo de licenciamento nº 6/98 emerge a matéria que a
propósito do seu andamento é alegada na pronúncia 20 (cfr. ainda o relatório da IGAT de
fls 3165 e ss., mais concretamente, págs 35 a 37. desse relatório, e a resposta da CMF,
constante de fls. 3160), sendo certo que a arguida Fátima Felgueiras estribou sempre as
suas decisões em consonância com os pareceres técnicos que foram sendo proferidos.
Não se demonstrou que antes de se iniciar a construção do armazém, a arguida
Maria Augusta tenha contactado com a arguida Fátima Felgueiras para saber da sua
viabilidade legal e que esta e técnicos da CMF se tenham deslocado ao local da obra nos
termos referidos pela pronuncia, pois tal não foi referenciado por quem quer que seja na
audiência de julgamento.
Das declarações proferidas pela arguida Fátima Felgueiras retira-se que entre ela
e a arguida Maria Augusta existiriam relações cordiais, mas não propriamente de
amizade íntima.
Tudo quanto foi dito por variadas testemunhas no sentido de que a dita Maria
Augusta não tinha tempo para o exercício de actividades políticas e que não necessitaria
de interpostas pessoas para contactar com a arguida Fátima Felgueiras, mais não passou
do que meras suposições efectuadas na ânsia de defender certas e determindas posições,
visto que não revelaram a cerca dessa factualidade qualquer conhecimento de causa
directo ou sustentado em razão de ciência consistente (cfr. as declarações prestadas a
esse propósito pelas testemunhas José Júlio da Silva Pereira, António Carlos Sepúlveda
Machado e Moura, Fernando José Melheiro de Magalhães e Maria Tereza Morais
Taveira de Barros).
Na verdade, ainda que por norma o contacto com alguém que nos é próximo seja
directo, pode muito bem suceder que, por qualquer motivo, numa concreta
circunstância, não tenhamos a possibilidade de estabelecer esse contacto directo. Se
assim é em relação a pessoas que nos são muito próximas, por maioria de razão assim
será em relação a pessoas com as quais mantemos uma relação cordial mas mais
distante.
Por ausência absoluta de prova não se demonstrou a matéria alegada no artº 24º
da contestação apresentada pela arguida Maria Augusta.
Seja como, for, não se demonstrou – pois não emergiu de qualquer meio de
prova produzido na audiência de julgamento – que a arguida Maria Augusta tenha
contactado o arguido Bragança no sentido de transmitir à arguida Fátima o recado
referenciado na pronúncia.
Do mesmo modo também não se demonstrou que a arguida Fátima tenha
instruído o arguido Bragança conforme descrito na pronúncia, quer acerca da exigência
da entrega de um donativo de 500 cts quer acerca da correlação entre a entrega desse
donativo e o arquivamento do processo de contra-ordenação referido nos autos (com o
20
Apenas com uma precisão: é correcto o que está alegado no artº 16º da contestação apresentada
pela arguida Maria Augusta.
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2º Juízo
nº 466/98, cujo auto de notícia foi lavrado a 02.09.98), já que tal factualidade não
emerge com segurança da prova produzida na audiência de julgamento.
É certo que esse processo de contra-ordenação viria a ser arquivado, mas, em
face da prova produzida, para além da mera suspeita, nenhuma relação segura pode ser
estabelecida entre esse facto e a entrega de qualquer um dos donativos referenciados,
designadamente o donativo de 500 cts.
É que, quanto ao processo de contra-ordenação nº 466/98, também analisado na
audiência de julgamento (donde emerge aliás a factualidade alegada no artº 21º da
contestação apresentada pela arguida Maria Augusta – cfr. ainda os documentos ali
referenciados), cabe referir que, a dado passo, a arguida Fátima despachou no sentido de
admitir o respectivo arquivamento se o processo de licenciamento estivesse legalizado à
data da conclusão do dito processo de contra-ordenação.
Esta posição é consentânea com a prática seguida na CMF de arquivamento com
admoestação em casos análogos, não constituindo assim qualquer tomada de posição
excepcional, pelo que, nessa medida, não deverá ser interpretada como um “favor” (cfr.
os outros processos de contra-ordenação, cujas cópias foram juntas aos autos já no
decurso da audiência de julgamento para ilustrar isso mesmo).
Ora, nesse processo de contra-ordenação, a 27.11.99, foi junta uma informação a
dar conta que o processo de licenciamento havia sido regularizado, pelo que a arguida
despachou no sentido de se arquivar, caso se confirmasse essa informação.
O Departamento Técnico confirmou entretanto que a obra estava legalizada,
faltando apenas a emissão do respectivo alvará de construção, o qual estaria já em
condições de ser emitido, o que viria a suceder a 15.12.99 (alvará nº 940/99, respeitante
às alterações ao projecto inicial).
É certo que, não obstante aquela manifestação da arguida Fátima, o processo
viria a ser pura e simplesmente arquivado sem qualquer outro despacho daquela arguida
que não aquele que exarou a 27.11.99.
Inexiste pois decisão final idêntica à que se observou relativamente a outros
processos de contra-ordenação em situação semelhante (no caso inexistiu a
admoestação).
Em face disso poderá ficar a suspeita de que esse arquivamento puro e simples
se possa relacionar com a entrega, em Abril de 1999, ao arguido Bragança, do donativo
de 500 cts para o PS (foi o arguido Bragança quem entregou esse cheque à testemunha
José Júlio da Silva Pereira, tendo sido depositado pela testemunha Brochado na conta
oficial do partido, conforme já referido).
Em todo o caso, na prática, o arquivamento puro e simples representa o mesmo
que um arquivamento com admoestação, tanto mais que nesta última hipótese nem
sequer são devidas custas.
Restará assim sempre a dúvida no que se refere à alegada correlação entre o
arquivamento de tal processo de contra-ordenação e a entrega do donativo de 500 cts em
Abril de 1999, dúvida essa que não poderá deixar de beneficiar os arguidos Fátima
Felgueiras, Maria Augusta e António José Leite Bragança da Cunha.
Quanto às funções exercidas por este último na CMF, afigura-se-nos correcto o
alegado no artº 29º da respectiva contestação (cfr. os documentos ali referenciados).
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2º Juízo
foi encaminhado para a sua pessoa. Referiu ignorar quem foi a pessoa que o
encaminhou para um gabinete onde se encontrava o arguido Horácio).
Confrontado com o talão de depósito de fls 473, confirmou que se trata de um
depósito na conta da sua empresa de um cheque do BESCL no valor de 776.000$00,
admitindo que tal cheque se trate do pagamento do serviço efectuado em face do
respectivo valor.
À pergunta efectuada no sentido de se saber a quem foi facturado o serviço
respondeu que provavelmente a uma empresa, segundo instruções que receberam nesse
sentido.
Confrontado com a factura de fls 474, constatou-se que o serviço foi facturado à
“Marfel – Empresa de Confecções” (empresa que aliás também é cliente da “Araújo e
Araújo, Ldª”). Reafirmou que o serviço foi facturado a essa empresa segundo indicações
recebidas nesse sentido. Ignora quem forneceu essa indicação, admitindo que possa ter
provindo do arguido Horácio. Assegurou que nunca contactou com a arguida Fátima
Felgueiras.
*
A propósito das declarações da testemunha Carlos Araújo, referiu o arguido
Horácio Costa que a decisão de aquisição do ar condicionado partiu da arguida Fátima
Felgueiras por alturas da realização de uma reunião na sede do PS em que ela se
queixou do calor que então se fazia sentir nesse espaço.
Instruiu então o arguido Bragança para tratar desse assunto e para ver com o
depoente a questão do respectivo pagamento.
Certo dia, depois do ar condicionado já estar instalado, o arguido Bragança
encaminhou ao gabinete do depoente, na CMF, a testemunha Carlos Araújo, tendo-lhe
sido então apresentado como o senhor que instalara o ar condicionado. Nessa altura
pagou-lhe, entregando-lhe um cheque sacado sobre a conta do BES. Fez o pagamento
com base no orçamento que na altura lhe foi presente. Recorda-se que nessa ocasião
pediu um desconto e o Sr. Araújo concedeu um desconto de 3%.
Mais tarde, já na fase de inquérito deste processo, a PJ confrontou-o com o teor
da factura respectiva, com a qual ficou espantado, pois ignorava o respectivo teor, tanto
mais que apresentava um valor superior ao que efectivamente foi pago.
Passado uns dias falou desse assunto ao arguido Joaquim Freitas e procurou o
arguido Bragança para esclarecer esse assunto, o qual entretanto lhe telefonou no
sentido de saber o que a PJ investigava acerca dessa factura, referindo-lhe que tinha
problemas com ela e que teria de explicar à PJ o respectivo conteúdo.
Assegurou o depoente que não pediu qualquer factura à firma “Araújo e Araújo,
Ldª”.
No orçamento de fls 474, em baixo, foi o depoente quem apôs os dizeres
manuscritos que ali constam e foi esse o documento que entregou à PJ.
Trata-se de um orçamento remetido por fax ao arguido Bragança.
Confirmou que o talão de depósito de fls 473 se reporta ao depósito do cheque
que entregou à testemunha Araújo.
Nega que tenha mostrado à dita testemunha a sala onde o ar condicionado foi
instalado (só falou com ele quando lhe pagou). Aliás, a chave da sede do PS estava na
mão do arguido Bragança, secretário-coordenador do PS de Felgueiras. Era sempre ele
quem abria a sede ou entregava a chave a uma pessoa de confiança para o fazer. Nunca
o depoente teve nas suas mãos essa chave.
Ouviu comentar que a “Marfel” também pagou o ar condicionado em causa.
*
- Testemunha Horácio António Magalhães Lopes dos Reis
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pagar essa despesa, conforme se pode confirmar a fls 15 do apenso 1 (extracto da conta
do BES).
Foi ainda confrontado com o cheque de fls 56 do apenso 1, sacado sobre a conta
do BES, datado de 08.08.97, no montante de 776.000$00, emitido a favor da firma
“Araújo e Araújo, Ldª”, firma que remeteu o orçamento de fls 173 do 1º volume (neste
documento está aposto o número do cheque que serviu como meio de pagamento,
coincidindo com o nº do cheque de fls 56 do apenso 1).
Ignora porque razão foram os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas a pagar
a aquisição e instalação do dito sistema de ar condicionado na sede do PS local, facto
que aliás referiu desconhecer.
Foi confrontado com o documento de fls 187 do 1º volume (fotocópia do cheque
de 150.000$00 datado de 23.11.98 e sacado sobre a referida conta do BES, documento
esse que tem aposto uns dizeres manuscritos em baixo alusivos a uma despesa do PS).
Referiu que por norma as despesas de água e luz da sede do PS eram pagas
através da conta oficial do partido, mas pontualmente recorriam “a este ou aquele” para
pagar as despesas quando a conta não dispunha de saldo.
Nesse contexto, admite que possam ter pedido aos arguidos Horácio e Joaquim
Freitas o pagamento de despesas do PS, como pediram a outras pessoas.
Não se recorda porém porque motivo recorreram a eles, especulando que seria
talvez pelo facto de saberem que eles geriam a conta da campanha eleitoral de 1997 e
que ainda disporia de saldo.
O arguido Horácio era assessor na CMF e o arguido Joaquim Freitas era
industrial de calçado e membro da Assembleia Municipal, sendo certo que tinham
aquela conta conjunta por pertencerem ao pelouro das finanças para a campanha de
1997. Assim sendo, admite que já conheceria da existência dessa conta do BES antes de
1999/2000, mas não a associava então à conta bancária da campanha (haveria outro
motivo para terem uma conta conjunta? Não se percebe pois por que motivo tal
associação não foi logo feita pela testemunha, sabendo ela que era habitual a abertura de
uma conta para a campanha e que aqueles arguidos faziam parte do pelouro das
finanças, tanto assim que recorreram a eles, segundo a testemunha, talvez porque
soubessem que ainda haveria saldo da conta da campanha).
Confrontado com cópia da guia dos CTT de fls 219 do apenso 4, de 08.06.99 e
no valor de 94.690$00 (em que figura como cliente o PS), cópia essa em que tem uns
dizeres manuscritos alusivos à despesa em causa (reportadas às eleições europeias),
confirmou que esse documento foi por si assinado (cfr. ainda cópia do cheque que
serviu para pagar essa despesa, constante de fls 205 do apenso 1, datado de 08.06.99 e
sacado sobre a dita conta do BES).
Quanto ao facto de mais uma vez terem recorrido aos arguidos Horácio Costa e
Joaquim Freitas, deu a mesma explicação já acima referida.
Nas iniciativas da Juventude Socialista era essa estrutura do PS que teria de
suportar os respectivos custos, visto que dispunham de autonomia e com estatutos
próprios. Se não dispusessem de verba poderiam recorrer ao PS ou a pessoas.
Normalmente eram conseguidos patrocínios.
As despesas de campanha normalmente são ainda liquidadas dois ou três anos
depois de cessada a campanha.
Admite que a propósito das despesas do acampamento possam ter recorrido ao
arguido Horácio na medida em que ele continuava a lidar com o dinheiro angariado para
a campanha eleitoral de 1997.
Confrontado com o documento de fls 35 do apenso 4 (fotocópia de guia dos
CTT, de 23.09.97, no valor de 95.940$00), confirmou ter preenchido e assinado tal
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guia. Tal fotocópia tem uma anotação manuscrita alusiva ao respectivo pagamento
através de um cheque ali identificado pelo número, o qual não é mais que o cheque de
fls 73 do apenso 1, de 23.07.97, naquele montante de 95.940$00, sacado sobre a conta
do BES.
Explicou que a pré-campanha inicia-se cerca de 3 a 4 meses antes das eleições e
a campanha cerca de 15 dias antes.
Quando o arguido Horácio Costa lhe entregava cheques não sabia se eram
sacados sobre a conta da campanha ou não. Ia ter com ele porque ele esteve ligado ao
pelouro das finanças para a campanha eleitoral de 1997 e poderia ainda ter fundos que
pudesse disponibilizar para custear as despesas em causa.
Acha que ele não tinha autonomia para pagar as despesas do PS. Era o
secretariado que tinha de pedir essas contribuições.
As despesas referidas prendiam-se com despesas de índole administrativa do PS,
presumindo por isso que delas a arguida Fátima Felgueiras não tivesse conhecimento.
Confrontado com cópia da Guia dos CTT de fls 8 do apenso 4 (no valor de
98.980$00 e datada de 30.06.97), confirmou ter sido por si assinada, sendo certo que o
recibo foi passado ao PS.
Confrontado com o documento de fls 2 do apenso 4, constatou-se tratar-se de
uma nota que se reporta a despesas de fax e correio com menção do cheque que serviu
como meio de pagamento.
De fls 3 até fls 7 do apenso 4 constam documentos alusivos a despesas com
correios.
Admite que se tratam de despesas de pré-campanha e que é possível que tenha
sido o arguido Horácio Costa a pagá-las.
Confrontado com a fotocópia da guia dos CTT de fls 18 do apenso 4 (de
22.07.97 e no valor de 48.461$00), afirmou ter sido preenchida e assinada por si. Tem
essa fotocópia um apontamento manuscrito a vermelho identificando o cheque que
serviu de meio de pagamento.
Confrontado com a cópia do documento de fls 209 do apenso 1 (cópia de um
cheque de 12.036$00, de 30.06.99), verificou-se que no verso consta a expressão
manuscrita “avença nº 4”, referindo não reconhecer a respectiva letra. Tal documento
deve reportar-se a despesas de correio.
Confrontado com cópia do documento de fls 208 do apenso 1 (cópia de um
cheque de 29.06.99, no valor de 11.524$00), verificou-se que no verso tem manuscrita a
expressão “avença nº 3”.
Confrontado com o documento de fls 222 do apenso 4 (cópia de guia dos CTT,
de 28.06.99, no valor de 11.524$00, referente a uma despesa da JS), referiu que esse
documento mostra-se assinado pela testemunha David Queirós.
Confrontado com o documento de fls 223 do apenso 4 (cópia de guia dos CTT,
de 03.06.99 referente a avença, documento também assinado pela testemunha David
Queirós), constatou-se que tem manuscrita uma alusão ao acampamento de Vila Fria,
organizado pela JS.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se em Junho de 1997 já sabia que o
arguido Horácio Costa fazia parte do pelouro das finanças (os documentos demonstram
que nessa altura o depoente já recorria a ele para suportar despesas), referiu não ter tido
essa percepção nessa altura. Explicou que pelo facto de ter preenchido e/ou assinado as
guias dos CTT não significa que tenha recebido os cheques em causa e que tinha
procedido ao pagamento respectivo, pois quem fazia a entrega do correio nos CTT é que
procedia ao pagamento e não era normalmente o depoente que fazia essa entrega.
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Explicou ainda que, de modo a ser emitido o respectivo recibo, era necessário
fornecer o respectivo número de contribuinte. Como a comissão de angariação de
fundos não tinha número de contribuinte o PS fornecia o seu.
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A dita conta do BES estava titulada pelos arguidos Horácio Costa e Joaquim
Freitas.
Na contestação à acção de prestação de contas os arguidos Horácio e Joaquim de
Freitas relataram quem controlava essa conta (os arguidos Júlio Faria e Fátima
Felgueiras).
A testemunha Carlos Alves expressou não acreditar que esses arguidos (Fátima e
Júlio) se mantivessem à margem das movimentações dessa conta.
A fls 2183 do 10º volume consta aliás um cartão da “Anglomex”, com o qual se
procedeu à entrega de um cheque de donativo, cartão esse dirigido à arguida Fátima.
A fls 185 do 1º volume consta cópia de uma factura emitida pela “Audiomédia”
ao PS, no valor de 256.345$00 (serviço de campanha através de mensagens pré-
gravadas transmitidas por telefone). Nesse documento a arguida Fátima apôs um
despacho de 01.04.98 (“Dr. Horácio, veja se consegue liquidar se não passarei cheque
pessoal”).
Nessa data o saldo da conta do BES era de 2.855.570$00 (cfr. o respectivo
extracto no apenso 1).
A fls 184 do 1º volume consta um cartão a enviar novamente uma factura da
“Audiomédia” à arguida Fátima pela testemunha Manuel Seabra.
Já antes tinha ido enviada outra factura reportada ao mesmo serviço (cfr. o
cartão de fls 182).
A fls 186 consta o respectivo cheque da conta do BES de fls 256.345$00.
*
O arguido Horácio Costa referiu que quer ele quer o arguido Joaquim Freitas
actuavam em função das ordens que recebiam.
Enquanto não lhe chegassem ordens para proceder a determinado pagamento,
não o fazia ainda que a conta dispusesse de saldo suficiente. Directa ou indirectamente
as ordens provinham da arguida Fátima Felgueiras.
Durante a campanha as ordens que recebia eram verbais, daí a inexistência de
despachos escritos a ordenar pagamentos por parte da arguida Fátima, com excepção do
despacho aposto por ela no documento de fls 185 do 1º volume.
O depoente era um “faz tudo” e agia sob as ordens dela.
Em face da relação de confiança então existente entre ambos, ela sabia que não
necessitava de dar ordens escritas no sentido do pagamento de alguma despesa.
A propósito dos depósitos na conta pessoal do arguido Júlio Faria, este deu uma
entrevista ao “Comércio do Porto”, onde referiu que esses depósitos foram feitos por
ordem da Srª presidente da comissão política concelhia do PS de Felgueiras (a arguida
Fátima Felgueiras).
Todos os cheques que chegaram à mão do depoente foram depositados na conta
do BES.
O dinheiro da gaveta era encaminhado segundo ordens que recebia.
A arguida Fátima nunca se vinculou a alguma orientação da Distrital do PS
Porto.
O pagamento à “Audiomédia” ocorreu a 09.04.98.
No entanto existe uma primeira factura de 22.12.97 no mesmo valor e não foi
paga porque não tinha ordens para proceder ao respectivo pagamento.
A segunda factura, de 30.01.98, não foi paga de imediato (só foi paga em Abril
de 1998 por ordem escrita da arguida Fátima, aposta nessa factura – cfr. fls 185 do 1º
volume) porque não teve ordens nesse sentido. Nessas datas aliás a conta tinha um saldo
suficiente para a liquidação da factura em causa (em 22.12.97 a conta dispunha de um
saldo de 2.445.481$00 e em 30.01.98 dispunha de um saldo de 1.540.081$00).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Expressou ter sido vítima de uma maquinação no sentido de dar aos factos a
aparência plasmada na pronúncia, sendo certo que o Joaquim Freitas chegou a deslocar-
se a sua casa e a pedir-lhe desculpa por esse facto e deu-lhe conta de que colaborou
nessa maquinação (designadamente não esclarecendo a comunicação social) porque foi
ameaçado de morte e porque sofreu pressões nesse sentido. Aliás, segundo referiu, ele
lamentou-se desse facto junto de outros membros do PS local (a arguida não esclareceu
porém quem terá exercido as ditas pressões).
Assegurou nunca ter exercido qualquer pressão sobre o Joaquim Freitas no
sentido de corroborar a sua versão dos factos mas, curiosamente, não deixou de dizer
que faria revelações comprometedoras para o mesmo caso, na audiência de julgamento,
“não contasse a verdade” acerca deste assunto.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Aliás, ele tem as chaves de casa da arguida Fátima e entra lá quando quer.
Nega igualmente que a aquisição da viatura referida tivesse alguma coisa a ver
com as partilhas do extinto casal formado pela arguida Fátima e pelo Dr. Sousa
Oliveira.
Relatou então que em 15.08.2000 a esposa do Juiz Conselheiro Almeida Lopes
veio ter consigo à sua casa de praia (no Mindelo) e disse-lhe que o marido iria pedir-lhe
um favor e pediu-lhe para o não aceder ao favor que ele lhe iria pedir. Cerca de 3 ou 4
minutos depois surgiu o dito Juiz Conselheiro, transmitindo-lhe que lhe queria falar e
que não queria estar parado no mesmo local. Deram então uma volta pelo pinhal e ele
começou por lhe dizer que o depoente lhe iria fazer um favor, que tinha muito poder,
que pertencia à “Opus Dei” (chegou a convidá-lo para um retiro) e que se acedesse ao
favor que lhe iria pedir nada de mal lhe aconteceria (percebeu que nada de mal lhe iria
acontecer em termos fiscais, já que ele era Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal
Administrativo e Fiscal).
Referiu-lhe então que a sua prima Fátima estava “encravada” na questão da
aquisição do “Audi A4” e que tal era a única coisa que a poderia fazer condenar porque
ao resto “dar-se-ia a volta por cima”. Pediu-lhe então para depor no sentido de que lhe
tinha emprestado o dinheiro.
Porque o pedido não era normal nada lhe respondeu.
Entretanto eram já 22.58 horas (hora que verificou na factura referente ao seu
telemóvel) e ele pediu-lhe para usar o telemóvel do depoente, no que acedeu (fez tal
pedido porque o dele estava sob escuta). Ele ligou então à arguida Fátima e disse-lhe
para marcar um encontro ou um jantar com o depoente, que a iria ajudar, alterando o
depoimento na PJ, após o que se moveria um processo ao arguido Horácio. Não falou
com a arguida Fátima ao telemóvel nessa altura.
O dito Almeida Lopes queria que o depoente fizesse um depoimento por escrito
no sentido de que tinha emprestado dinheiro para a aquisição do “Audi” e que o “saco
azul” era invenção do arguido Horácio.
Salienta que nessa altura nem acedeu nem negou o pedido em causa.
Uns dias depois o Dr. Sousa Oliveira convidou o depoente para almoçar, convite
que aceitou. Almoçaram no restaurante “Estrada Real”, em Lousada, e ele disse-lhe que
tinha de safar a sua esposa e pediu-lhe para alterar o seu depoimento na PJ, ao que o
depoente lhe respondeu que tal era impossível pois já tinha prestado depoimento. Ele
retorquiu-lhe que quem mandava era o MP e não a PJ e para não se preocupar.
Acrescentou que tinha dinheiro para lhe dar de modo a sustentar a versão de que lhe
havia emprestado o dinheiro para a aquisição do “Audi A4”. Referiu-lhe ainda que
posteriormente seria movida uma acção ao arguido Horácio Costa. Ele falou consigo a
chorar e nem acabaram o almoço. Ficou incomodado e com pena dele. Porém, não
acedeu a tal pedido.
Outras pessoas a mando do referido Juiz Conselheiro Almeida Lopes
pressionaram o depoente a alterar o seu depoimento.
Relatou à PJ tais pressões.
Deu ainda conta de que foi visitado na sua fábrica, nas vésperas de ir à PJ prestar
declarações, pelo Sr. Júlio Pereira (à data funcionário do GAPP) e pelo vereador
Antonio Pereira, e pressionaram-no no sentido de alterar a verdade dos factos no seu
depoimento acerca da conta paralela e dos financiamentos, alegando que o Dr. Sousa
Oliveira resolveria tudo ao nível da justiça, o que recusou.
Já depois de ter prestado declarações perante a PJ foi ao escritório do Dr. Sousa
Oliveira, à noite, a pedido dele, o qual lhe pediu para não contar nada do que sabia, caso
contrário o pai do depoente poderia ser prejudicado pela mulher (a arguida Fátima, a
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
quem ele sempre se referia como “a sua mulher”), enquanto presidente da edilidade, nos
vários projectos que tinha no concelho.
Relatou também o depoente o episódio ocorrido num restaurante em Stª
Quitéria, onde jantava com os arguidos Horácio Costa e Gabriel Almeida, sendo certo
que este se mostrava muito nervoso, o qual lhes pediu para não falarem e para “não irem
para a comunicação social” na matéria respeitante à “Resin”.
Chegou a ser oferecida uma quantia monetária ao arguido Horácio para se calar,
o que não foi aceite.
Referiu ainda o encontro em Lousada, já relatado pelo arguido Horácio Costa
em termos similares. A esse propósito o Sr. Pimentel, na altura assessor da CMF, disse-
lhe para ter cuidado porque estava a lidar com gente poderosa e que envolvia muito
dinheiro. Tiveram assim medo, razão pela qual se fizeram acompanhar do irmão do
arguido Horácio no referido encontro em Lousada com o arguido Gabriel Almeida.
Pouco tempo depois de enviarem as missivas aos vários órgãos do partido a dar
conhecimento do que se passava em Felgueiras (conforme referido pelo arguido
Horácio, enviadas em Setembro de 2000, Fevereiro e Maio de 2001), o deputado Renato
Sampaio ligou várias vezes para o seu telemóvel (sendo certo que o não conhecia). Ele
pediu-lhe para estarem calados.
Tal deputado marcou um almoço no restaurante “Scala” na Praça Velasquez, no
Porto, onde estiveram os deputados Renato Sampaio, Barros Moura, o vereador Edgar
Pinto da Silva, o arguido Horácio Costa (o qual chegou no final e não almoçou) e o
depoente. O dito Renato Sampaio transmitiu ao depoente que oferecia ao arguido
Horácio um lugar de director, a ganhar bem e sem trabalhar se se calassem. Como este
ainda não tinha chegado alertou-os de que o arguido Horácio poderia levar a mal tal
oferta. Quando o arguido Horácio chegou o dito Renato Sampaio tomou a palavra, mas
foi interrompido por aquele na medida em que se apercebeu imediatamente que lhe iam
propor algo para que se calasse, tendo ido então embora aborrecido. O Renato Sampaio
recomendou então ao depoente que se mantivesse em silêncio. Pelo contrário, o
deputado Barros Moura referiu que existiam condições em Portugal para levar a cabo
uma “operação mãos limpas” à italiana e recomendou que fossem para a praça pública
contar tudo.
Chegou a ter encontros em Matosinhos com o Narciso Miranda (no restaurante
“Lusíadas”, onde, para além do depoente, esteve presente o arguido Horácio, o arguido
Bragança, Orlando Costa e o Narciso Miranda). Abordaram o assunto da aquisição do
“Audi A4” e o Narciso ironizou perguntando se tinham comprado um triciclo para o
depoente e para o arguido Horácio. O Narciso Miranda referiu ainda que as contas
deveriam ser prestadas ao Guterres e não ao Dr. Sousa Oliveira (“a esse gajo não”, foi a
expressão que utilizou). Ele referiu ainda que iria resolver o assunto, mas soube pelo Dr.
Barros Moura que ele avisou a arguida Fátima Felgueiras. Dias depois o arguido
Bragança foi expulso da CMF. Foi o depoente quem pagou o almoço e ficou com a
respectiva factura.
Reuniram-se ainda na Federação Distrital do Porto do PS, tendo sido o depoente
e o arguido Horácio convocados pelo Narciso Miranda para uma acareação com a
arguida Fátima (que não compareceu e em sua substituição mandou o arguido António
Pereira, acompanhado do presidente da junta de freguesia de Barrosas, o Sr. Augusto
Faria) e com Orlando Costa.
Como a arguida Fátima não compareceu o Narciso Miranda ausentou-se. A
reunião acabou por ser inconclusiva.
Cerca de um mês depois o depoente e o arguido Horácio encontraram-se com o
Guilherme Pinto na Foz, no Porto. Ele queria ver os documentos, os quais lhe foram
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
exibidos pelo arguido Horácio sem que lhes fossem passados para as mãos com receio
de que os lançasse ao mar. Depois de os observar concluiu que a situação era grave.
Chegou ainda a ter outros encontros com o Narciso Miranda, como por exemplo
na Bairrada (tendo aliás pago também o jantar).
A este propósito, foi junto aos autos documento comprovativo do pagamento
dessas refeições (quer em Matosinhos no restaurante “Lusíadas”, quer na Bairrada no
“Restaurante Típico da Bairrada”), o qual se reporta ao extracto do seu cartão de
crédito.
513
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Confirmou que tem um colega de trabalho chamado Paulo Todo Bom. Não sabe
em que ano ele foi admitido ao serviço da “M. Costas, SA”.
Confirmou que vendeu um “Audi A4” à arguida Fátima Felgueiras.
Foi contactado nesse sentido pelo arguido Horácio Costa, não se recordando se
por fax se pelo telefone.
Ele também o contactou por telefone para acertar preços e chegaram a um
acordo. Segundo ele lhe disse, a viatura era para a arguida Fátima Felgueiras.
Tem a ideia de ter recebido um fax do arguido Horácio para confirmação do
negócio.
Confrontado com o fax de fls 106 (com o timbre da CMF) e assinado pelo
arguido Horácio Costa, confirmou que se trata do fax a que se referiu.
A PJ pediu esclarecimentos à sua entidade patronal acerca do negócio e foi a
administração que tratou de responder. Ignora o que então foi informado à PJ (cfr fls
103 – ofício da “M. Costas” à PJ a prestar os esclarecimentos em causa, onde vem
referido que a venda concretizou-se a 29.06.98, identificou os cheques entregues como
meio de pagamento – cfr. fls 77 -, refere que os cheques foram depositados a 30.06.98 e
identifica a quem foi vendida a viatura).
Não se recorda preço de venda da viatura em causa, mas tendo em atenção a
pessoa da cliente (Fátima Felgueiras), o desconto efectuado no preço foi acima do
habitual.
Foi o depoente quem fez a entrega da viatura contra o seu respectivo pagamento.
Fez a entrega da viatura ao arguido Horácio Costa (a quem explicou o respectivo
funcionamento), o qual se fazia acompanhar de mais outra pessoa (não sabe quem era).
Tem a ideia que a arguida Fátima não estava presente (pelo menos não se recorda de a
ter visto ou de com ela ter falado).
Tem a ideia que lhe foram entregues dois cheques pelo arguido Horácio, mas
não tem a certeza desse facto.
Confrontado com os cheques de fls 77, referiu não saber se se tratam ou não dos
cheques a que aludiu.
Não sabe quem ia a conduzir o “Audi” quando saíram das instalações da “M.
Costas, SA”.
A si não lhe foi comunicado para retirar a alusão à firma vendedora na traseira
da viatura, mas admite que tal tenha sido solicitado na oficina, pois é lá que se procede a
essa operação.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Explicou que o Joaquim Freitas ficou de fazer contas com o depoente, ainda que
pudesse adiantar o dinheiro necessário para essa aquisição. Seria o depoente a pagar o
“audi A4” porque tinha mais dinheiro que a arguida Fátima e porque os seus filhos
andavam com a mãe.
Não obstante, o depoente não foi consultado acerca do modelo, do preço e das
condições de pagamento da nova viatura.
O arguido Joaquim Freitas ficou de fazer contas consigo quando se vendesse o
“Citroën BX” referido nos autos.
Foi por isso que ficou admirado quando soube pela comunicação social que um
dos cheques era proveniente da conta do BES e que outro era proveniente da conta
pessoal do arguido Horácio Costa e só compreende esse facto à luz de uma tentativa de
assassinato político da sua ex-mulher e de uma luta pelo poder (de que a carta anónima
e a visita à testemunha Narciso Miranda por parte de um grupo de seis pessoas foi
também um exemplo disso).
Sobre a aquisição do “Audi A4” nunca conversou com o arguido Horácio Costa
(pessoa com quem conversava raramente).
O arguido Joaquim Freitas é muito mau a negociar, daí que tenha especulado
que foi o arguido Horácio a negociar a aquisição dessa viatura.
Em Agosto ou Setembro encontrou o arguido Joaquim Freitas junto à CMF e ele
mostrou-lhe o “Audi A4”, tendo-lhe perguntado se gostava dessa viatura, ao que lhe
respondeu afirmativamente, mas acrescentou que o não compraria porque lhe tinham
furtado em tempos um “Audi”. O arguido Joaquim Freitas, nessa conversa, referiu-lhe
ainda que tinha oferecido os estofos em pele (e que custaram 1.000.000$00).
Cerca de um ano depois de ter intentado a acção de divórcio por mútuo
consentimento (essa acção foi intentada em meados de 1998), encontrou a testemunha
Carlos Marinho (advogado) e, quando subia as escadas da CMF, viu o arguido Joaquim
Freitas e interpelou-o na medida em que ele nunca mais tinha aparecido (para fazerem
contas) e perguntou-lhe quando é que então apareceria, ao que ele lhe respondeu que
depois passaria por lá (pelo escritório do depoente). A essa conversa assistiu a
testemunha Carlos Marinho.
Salientou que esse perído foi difícil para si e que não se preocupou com o facto
do arguido Joaquim Freitas não ter aparecido para fazerem as respectivas contas (ele é
que ficou de aparecer), numa altura em que pouco contacto tinha com ele, de modo que
quando o encontrou lhe relembrou que deveriam fazer contas.
Explicou que a viatura “Audi A4” foi paga pelo arguido Joaquim Freitas (ele
pagava sempre as respectivas despesas com o cartão de crédito da firma), ou melhor,
pelo pai dele (pois este é que tinha o dinheiro) e se ele pedisse dinheiro ao seu
progenitor não teria qualquer problema em obtê-lo.
O depoente não teve quaisquer dúvidas de que foi o arguido Joaquim Freitas
quem pagou a dita viatura (ou melhor, o pai dele). Não sabe qual foi o preço pago pela
respectiva aquisição (embora como qualquer um tivesse uma ideia de quanto poderia
custar uma viatura como aquela), sabendo apenas que os estofos em pele custaram
1.000.000$00, segundo soube pelo arguido Joaquim Freitas já depois da concretização
da compra da viatura.
Assegurou que a sua ex-mulher é despida de qualquer interesse patrimonial.
Foi em 1999 (referiu depois que a notícia data de 21.06.2000) que saíu uma
notícia no “Público” acerca da aquisição do “Audi A4”, o que o deixou muito magoado.
Fez por isso queixa-crime contra o jornalista do público (que entretanto viria a
ser condenado), tendo ficado assente que as fontes de tal notícia foram os arguidos
Joaquim Freitas e Horácio Costa.
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2º Juízo
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2º Juízo
O Dr. Sousa Oliveira esperou sempre que o arguido Joaquim Freitas fizesse
contas com ele, visto que era ele quem suportaria o custo de aquisição dessa viatura,
com excepção dos estofos em pele (oferecidos pelo arguido Joaquim Freitas).
Quando em 2000 “rebentou” este processo e saíu a notícia referente à aquisição
do “Audi” na televisão, estava o depoente a almoçar com a testemunha Sousa Oliveira
em Felgueiras e no restaurante fez-se silêncio porque as pessoas nessa altura prestaram
atenção ao relato dessa notícia, tendo o Dr. Sousa Oliveira ficado branco, ao ponto do
depoente recear que lhe “fosse dar alguma coisa”.
Os arguidos Horácio e Joaquim Freitas foram para a televisão dizer que pagaram
o “Audi A4” com dinheiro do “saco azul” (1.000 cts).
Dizia a notícia que os 1.000 cts teriam servido para sinalizar a aquisição da
viatura.
*
Em face do depoimento da testemunha António Silva o arguido Horácio Costa
referiu que se fosse verdade o que essa testemunha contou acerca da aquisição do “Audi
A4” a testemunha Sousa Oliveira teria feito uma queixa-crime contra o depoente e
contra o arguido Joaquim Freitas por calúnia, o que nunca sucedeu.
*
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Para justificar o facto daquela missiva ter sido dirigida ao arguido Horácio
Costa, referiu que este empenhou-se na angariação de fundos para o FCF numa altura
em que o arguido Júlio Faria era dirigente do clube, daí a proximidade entre ambos.
Confrontada com o teor do ofício de fls 64 do apenso 17, dirigido pelo FCF à
CCAM, referiu desconhecer o seu teor, reconhecendo no entanto que uma das
assinaturas é do arguido Júlio Faria (a outra assinatura é do Sr. Álvaro Costa). Referiu
ainda ignorar por que forma foi tal dívida saldada.
Nega ainda que o arguido Horácio Costa lhe tenha comunicado qualquer
recebimento de 20.000 cts da Resin (facto que aliás referiu desconhecer) e muito menos
de modo a pagar qualquer dívida do FCF.
Confrontada com o teor do documento de fls 446 (cheque emitido pela Resin a
favor do FCF), referiu que, ao que pensa, tratar-se-á do pagamento de um contrato de
publicidade celebrado com o clube, no valor de 12.500 cts (cfr. a este propósito as
declarações dos arguidos Júlio Faria, Vitor Borges, Carlos Marinho e Horácio Costa,
bem como os documentos de fls 170, do 1º vol.; 427 do ap. 96-A; 2133 do 9º vol.; 465
do 2º vol.; 466 do 2º vol.; 447 do ap. 96-A; 431 do ap. 96-A; 444 do ap. 96-A; 445 do
ap. 96-A; 22 do ap. 12; 73 do ap. 139-A; 442 e 443 do ap. 96-A; 429 do ap. 96-A; 430
do ap. 96-A, 432 do ap. 96-A; 63 do ap. 17; e 109 a 113 do ap. 14).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Recorda-se porém de ter sido questionado acerca desse assunto numa reunião de
coordenação pelo Vereador Manuel Faria.
Referiu ainda que tomou conhecimento do adiantamento da AMVS à “Resin” do
montante de 389.970.768$00, conforme referido na pronúncia, a 01.02.99, pois a
deliberação camarária respectiva foi precedida de um parecer que deu no sentido da
“Resin” dever prestar uma caução pois o projecto ainda não estava sequer aprovado (cfr.
documento de fls 64 e 65 do apenso 137).
Nega terminantemente ter comunicado ao arguido Júlio Faria que podia
comunicar à CCAM de Felgueiras que o pagamento dos 20.000 cts em falta referente à
primeira prestação (de 50.000 cts) da transacção celebrada entre essa instituição e o FCF
(cfr. documento de fls 109 a 113 do apenso 14) a breve trecho se iria concretizar.
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2º Juízo
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2º Juízo
estranheza pelo facto do dinheiro ter sido acondicionado em dois envelopes, não
percebendo porque tinha recebido 12.500 cts em cheque e 7.500 cts em numerário.
Esclareceu que quando foi à CMF recolher o dinheiro já sabia que se tratava de
20.000 cts, tendo o arguido Júlio Faria instruído o depoente para emitir uma factura à
“Resin” no valor de 20.000 cts. Assim, quando foi buscar o dinheiro essa factura já
estava emitida (eventualmente no mesmo dia em que recolheu o dinheiro, sendo certo
que não lhe parece verosímil que a “Resin” tivesse em seu poder a dita factura no
mesmo dia em que foi emitida e que nesse mesmo dia o tivessem contactado
telefonicamente para emitir uma nova factura).
Esclareceu que não conhece quem quer que seja da “Resin”.
Mais esclareceu que não era o depoente quem elaborava os contratos de
publicidade, sendo certo que o clube dispunha de minutas já elaboradas. Acontecia por
vezes que com o envio da primeira factura seguisse um exemplar do contrato de
publicidade para ser assinado pela contraparte (não foi este o caso dos autos).
Recorda-se que quando foi contactado por alguém da “Resin” na sequência da
emissão da primeira factura, não só pediu a respectiva devolução como também pediu a
devolução do contrato referente ao donativo de 20.000 cts, que tinha sido assinado pelos
representantes do FCF e da “Resin” (aliás, com essa factura foi enviado também esse
contrato de donativo, o qual foi devolvido com essa factura pela “Resin”, tendo sido a
respectiva assinatura inutilizada com um furo no local onde foi aposta). Nessa altura
inexistia qualquer contrato de publicidade de 12.500 cts, o qual foi enviado para ser
assinado pelos legais representantes da “Resin” aquando do envio da factura de 12.500
cts + IVA referente a publicidade (esse contrato de publicidade foi assim celebrado em
Dezembro de 1998).
Confrontado com o documento de fls 443 do apenso 96-A referiu tratar-se do
contrato de publicidade em causa, no montante de 12.500 cts, datado de 03.08.98,
contrato esse assinado pelo Sr. Fernando Sampaio em representação do FCF.
Não se recorda da existência de qualquer outro contrato de publicidade nesse
montante.
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2º Juízo
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2º Juízo
Recorda-se aliás da arguida Fátima o ter acompanhado duas ou três vezes a duas
empresas em Barrosas e em Torrados no sentido de solicitarem donativos para o FCF
(não se recorda em que ano, tendo a ideia que foi em 1997, sendo certo que ela já era
presidente da CMF e os donativos reportavam-se à época desportiva de 1996/97; tem
em todo o caso a ideia que foi em 1997 na medida em que os peditórios intensificavam-
se normalmente no final da época desportiva).
Todos os felgueirenses sabiam que o clube tinha grandes dificuldades
financeiras.
*
Em face destas declarações a arguida Fátima Felgueiras referiu que enquanto
vereadora com competências na área cultural e do desporto, foi-lhe apresentada uma
proposta para que Felgueiras participasse nos “Jogos Sem Fronteiras” e que fosse
organizada em Felgueiras uma etapa da “Volta a Portugal em Bicicleta”. Como a CMF
não tinha fundos contactaram empresas para os obter, sendo certo que a testemunha
Fernando Lima auxiliou nos contactos com alguns empresários.
Nega porém que lhe tenham entregue qualquer quantia, pois era a organização
que recebia as contribuições.
Enquanto presidente da CMF e da Assembleia Geral do clube fez várias
reuniões na Biblioteca Municipal para angariar fundos.
Nega ter andado com a testemunha Fernando Lima na angariação de fundos para
o FCF.
*
A testemunha Fernando Lima, por seu turno, manteve o que disse,
confirmando que aquando das visitas às empresas nunca receberam dinheiro, pois um
funcionário do FCF é que posteriormente se dirigia às empresas para recolher o
donativo, sendo certo que por vezes já se sabia com quanto é iriam contribuir. Tem a
ideia de terem arrecadado dois ou três mil contos.
*
O arguido Júlio Faria, por seu turno, referiu que se tratou de uma livrança (e
não de uma letra) o título de crédito aceite pelo FCF à CCAM e avalisado por dirigentes
do clube, confirmando o depoente que foi um dos avalistas, apesar de apenas ser
presidente da Assembleia Geral do clube (não fazia parte da Direcção à data).
Quando foi celebrada a transacção entre o FCF e a CCAM a testemunha
Fernando Lima já não era dirigente do FCF (tem a ideia que ele se demitiu em Maio de
1997). Em todo o caso ia-lhe sendo dada nota do que se passava a esse propósito na
medida em que ele foi uma das pessoas demandadas por causa de dívidas do FCF.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se foi o depoente quem lhe contou
que esperavam da “Resin” uma contribuição de 20.000 cts, referiu que é possível que
lhe tenha transmitido a forma como se propunham resolver o problema do pagamento
da prestação de 50.000 cts respeitante ao contrato de transacção entre o FCF e a CCAM,
sendo certo que o depoente ficou incumbido de procurar obter junto da “Resin” um
esforço suplementar desta empresa ao nível da publicidade, tendo-se feito acompanhar
do arguido Horácio Costa na visita que a propósito efectuou às instalações da “Resin”,
onde lhe solicitou uma verba de 20.000 cts, montante que estava em falta para que se
liquidasse na íntegra a referida prestação.
*
O arguido Horácio Costa referiu que se recorda da família da testemunha
Fernando Lima, pois os pais deste eram clientes da mercearia dos pais do depoente,
sendo certo porém que não tinha qualquer contacto com ele.
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2º Juízo
pelo depoente, pois era presidente da Assembleia Geral do FCF (era na altura presidente
da CMF), e por outros elementos da Direcção do clube.
Tal livrança foi sendo amortizada pelo FCF e pelos seus dirigentes, valendo-se
de um financiamento concedido pelo BES.
Tratou-se de um financiamento que se pretendia liquidar quando o clube
obtivesse o financiamento público, mercê das candidaturas referentes às obras no
estádio em consequência da subida à 1ª Divisão Nacional de Futebol.
Houveram membros do Governo de então (designadamente o Secretário de
Estado Marques Mendes) que no Verão de 1994 publicamente comprometeram-se a
apoiar o clube.
O FCF apresentou essas candidaturas, mas as mesmas não foram devidamente
encaminhadas, e com a alteração de Governo as expectativas foram por água abaixo.
A testemunha Luís Lima, enquanto presidente do Conselho Fiscal do FCF,
conversou com o depoente, tendo-lhe então dado conta da situação financeira do clube,
dos objectivos a prosseguir e das formas de se ultrapassar a crise. Deu-lhe conta ainda
da intenção de se constituir a SAD.
*
A testemunha Luís Lima, por seu turno, confirmou o teor das conversas que
teve com o arguido Júlio Faria acerca do FCF.
Acrescentou que é natural que o arguido Júlio Faria tenha mais presente os
factos em causa e que os apresente de forma mais estruturada.
A “caixa paralela”:
Análise crítica
Quanto à matéria constante do intróito, teve-se em consideração o extracto
bancário da conta do BES, constante do apenso 1, em conjugação com as declarações
prestadas pelo arguido Horácio Costa, o qual explicou de que forma foram gastas as
verbas depositadas em tal conta, socorrendo-se para o efeito de variada documentação
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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2º Juízo
documento de fls 2 do apenso 4), Henrique Manuel da Silva Correia (em conjugação
com o quadro de fls 2786 a 2796) e Carlos Alves (em conjugação com o quadro de fls
2786 a 2789).
b) A propósito das incidências da aquisição da viatura “Audi A4”, cabe desde
logo referir que o Tribunal atribuiu credibilidade à posição expressa pelo arguido
Horácio Costa, para cujas declarações – acima reproduzidas por súmula – remetemos
(cfr. ainda a informação de fls 103 e documentos de fls 104 a 106 dos autos, bem como
o depoimento das testemunhas José Meireles da Costa Rodriguies e Carlos Santos).
Mais uma vez realça-se a assertividade do depoimento do arguido Horácio.
O depoimento do arguido Joaquim Freitas, por seu turno, não poderá ser
valorado, pelas razões que já deixamos expressas.
Por outro lado, parece-nos bem evidente que a arguida Fátima acompanhou os
arguidos Horácio e Joaquim ao “stand” da firma “Machado & Costas, SA” aquando da
entrega da viatura, pois só assim se percebe o episódio relatado, designadamente pelo
arguido Horácio Costa, de que ela exigiu que a firma vendedora retirasse da carroçaria
do dito “Audi A4” o respectivo logotipo, o que logo foi feito na hora, pois entendia que
tal era “parolo”.
Quis-nos parecer, aliás, a esse propósito, que a testemunha Carlos Santos,
funcionário dessa empresa, não relatou ao Tribunal tudo o que sabe quando à presença
da arguida Fátima aquando da entrega da viatura adquirida por ela.
Por outro lado, a “história” contada, designadamente pela arguida Fátima
Felgueiras e pelo seu ex-marido (mas com quem ainda vive no mesmo apartamento), a
testemunha Sousa Oliveira (a qual aliás revelou não ter qualquer distanciamento
emocional em relação aos factos em causa, pois as “dores” da sua ex-mulher, neste
particular, são também as suas), afigurou-se-nos altamente inverosímel, isto é, que a
compra dessa viatura se deveu a uma repartição equitativa dos bens comuns do casal, na
sequência do respectivo divórcio, tendo o arguido Joaquim Freitas adiantado a verba
necessária para que essa aquisição se concretizasse, com a obrigação de posteriormente
a testemunha Oliveira lhe devolver essa quantia (o que até hoje não sucedeu porque o
dito Joaquim ainda não lhe solicitou essa verba...), com excepção do custo dos estofos
em pele, alegadamente oferecidos pelo “benemérito” Joaquim.
Acerca da proveniência dos fundos que permitiram a aquisição dessa viatura e o
pagamento do respectivo seguro (seguro efectuado através da testemunha Palhares em
Fafe – cfr. documentos de fls 80 a 83, relativos ao seguro, e de fls 289 do apenso 4,
relativo ao respectivo pagamento), já tivemos a oportunidade de expressar a nossa
convicção (relaciona-se com a entrega pela “Resin” da quantia de 5.250 cts,
consubstanciada num “retorno” de um dos pagamentos efectuados pela CMF à
“Norlabor”, ou melhor, à “Resin”, com intervenção de permeio da “Translousada”, o
que só se compagina com uma tentativa, aliás não conseguida, de encobrir o rasto do
dinheiro).
Quanto à “história” contada e já sintetizada em traços muito gerais, começa a
mesma desde logo por ser inverosímel em face dos documentos de fls 77 do 1º volume
(um cheque de 1.000 cts da conta do BES e o restante titulado por um cheque sacado
sobre a conta pessoal arguido Horácio, domiciliada na agência de Fafe do Banco Mello,
no valor de 4.700 cts, montante esse que havia sido depositado nessa conta pessoal a
28.07.98, conforme documento de fls 79 do 1º volume, sendo certo que 50 cts referentes
a esse depósito – no valor global de 4.750 cts - trata-se de um presente de aniversário
recebido pelo arguido Horácio do seu sogro, montante que assim depositou juntamente
com os 4.700 cts, o que é verosímel na medida em que esse arguido faz anos no dia
27.07.).
532
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Se essa versão dos factos contada pela arguida Fátima e pela testemunha
Oliveira fosse verídica, como explicar então que 1.000 cts se reportem a fundos
depositados na conta do BES (cfr. ainda o extracto respectivo a fls 32 do apenso 1) e
que o restante seja proveniente da conta particular do arguido Horácio (montante que
tinha sido depositado na sua conta pessoal nas circunstâncias referidas por ele)? A
arguida Fátima, mais uma vez, adoptando a postura da vitimização e da cabala, sustenta
ser alheia a tudo isso e que tudo terá sido urdido (pelos arguidos Horácio e Joaquim)
para dar aos factos a aparência que deles consta da pronúncia (numa altura em que as
“comadres” eram unha com carne?).
Por outro lado, a testemunha Sousa Oliveira foi surpreendida (conforme emerge
das suas declarações) com a venda do “BX” referido nos autos e com a intenção da
arguida Fátima em adquirir o “Audi A4”, o que aliás só soube por terceiros. Isto é, ele
não foi tido nem achado nessas decisões, mas elas prendiam-se com a repartição
equitativa dos bens comuns do casal na sequência do respectivo divórcio?!...
E que dizer dos depoimentos “encomendados” das testemunhas Fernando
Marinho e António Celestino Magalhães da Silva e do “surpreendente” testemunho do
Sr. Conselheiro Almeida Lopes?
c) Acerca do adiantamento recebido pela “Resin” e do donativo de 20.000 cts
concedido por essa empresa ao FCF pouco mais haverá a dizer para além do que já, a
esse propósito, acima se deixou expresso.
Seja como for, terá sido o arguido Júlio Faria, acompanhado pelo arguido
Horácio (por determinação da arguida Fátima), quem terá solicitado esse apoio à
“Resin”, na pessoa do arguido Vítor Borges, em Setembro de 1998, conforme
declarações prestadas pelo arguido Horácio Costa, a que demos crédito pelas razões já
explicitadas.
Não se provou, em todo o caso, que a arguida Fátima tenha contactado
directamente, a esse propósito, com o arguido Vítor Borges, pois tal não emergiu de
nenhum dos depoimentos proferidos a esse propósito.
Do resultado desse encontro deu naturalmente o arguido Horácio conhecimento
à arguida Fátima, conforme explicou, o que de todo é verosímel na medida em que, por
um lado, foi por determinação dela que ele acompanhou o arguido Júlio a Matosinhos à
sede da “Resin” e, por outro lado, ela era pessoa empenhada na angariação de fundos
para o FCF (como o demonstram os vários documentos constantes nos autos alusivos à
angariação de fundos para esse clube e que foram, designadamente, apreendidos no
GAAP), tanto mais que era presidente da respectiva assembleia geral (nessa medida, é
credível a alegação contida nos artgs 58º a 61º da sua contestação).
Pese embora não se tenha demonstrado que a “Resin” desde logo se tenha
comprometido a apoiar o FCF com um donativo de 20.000 cts (isso não resultou das
declarações prestadas pelos arguidos Vítor Borges, Júlio Faria e Horácio Costa), embora
tenha sido esse o montante solicitado, comprometendo-se pelo menos a apoiar o clube
em face das suas disponibilidades financeiras, o certo é que com propriedade se pode
concluir que a mesma fez depender a concessão do donativo solicitado do recebimento
do “adiantamento” referido, conforme parece emergir do manuscrito de fls 170, da
autoria do arguido Júlio Faria.
Já depois da solicitação desse donativo, a “Resin”, por pessoa cuja identidade
não foi possível apurar, remeteu o fax de fls 223 e 224 do apenso 20 (a 27.10.98), tendo
o conselho de administração da AMVS autorizado o desconto de uma factura junto de
uma instituição de crédito, no montante correspondente ao adiantamento da empreitada
referida no ponto 1.5 da pronúncia, desde que à dita associação não fossem imputados
533
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
juros de mora pela sua não liquidação nos prazos previstos (cfr. fls 269 do apenso 12),
decisão que terá sido comunicada a 06.11.98.
Note-se que no documento de fls 223 do apenso 20, por debaixo do lugar
destinado à assinatura, consta a letra de máquina o nome do arguido Gabriel Almeida,
mas a assinatura manuscrita não parece corresponder à sua (parece aliás referir-se ao
arguido Carlos Marinho – veja-se em todo o caso as assinaturas empregues na outorga
das respectivas procurações, a fls fls 2130 e 3666 dos autos). Daí que, em face das
dúvidas existentes, não se tenha apurado quem da “Resin”, em concreto, terá remetido
esse fax.
Nesse mesmo dia o arguido Júlio Faria remeteu ao arguido Horácio o
manuscrito de fls 170 dos autos, em face do qual se pode concluir que existiria um canal
de comunicação entre a “Resin” e o arguido Júlio e entre este e a AMVS, apesar de, à
data, ser já deputado à Assembleia da República.
Não se demonstrou porém que tenha sido o arguido Barbieri Cardoso e a arguida
Fátima quem terão informado o arguido Júlio de que podia comunicar à CCAM que o
problema do pagamento do remanescente da prestação vencida em 30.09.98 seria
resolvido a breve trecho, na medida em que os arguidos Barbieri Cardoso e Fátima
Felgueiras negaram esse facto e sobre essa matéria resulta do depoimento do arguido
Júlio Faria que ele teve esse conhecimento por comunicação ou da “Resin” ou do
arguido Horácio Costa (do depoimento deste último não resulta porém que tenha sido
ele a dar essa informação ao arguido Júlio). Ignoramos pois quem forneceu ao arguido
Júlio Faria a dita informação.
Aliás, em boa verdade, ignoramos de que modo o arguido Júlio Faria soube que
o adiantamento ao consórcio liderado pela “Resin” havia sido autorizado, mas, segundo
o arguido Júlio Faria, ele terá sido contactado ou pelo arguido Horácio Costa ou pela
“Resin”, informando-o de que estariam já em condições de apoiar o clube e de que
poderia enviar a missiva de fls 64 do apenso 17, que confirmou ter sido remetida pelo
FCF à CCAMF (deduz-se que ele terá sido informado que a “Resin” estaria disposta a
contribuir com os almejados 20.000 cts, pois só assim fará sentido o teor da missiva de
fls 64 do apenso 17, quando é certo que o arguido Júlio esperava dessa empresa um
contributo nessa ordem de valores).
Seja como for, tendo ele obtido esse conhecimento, no dia 04.12.98 o FCF
remeteu a dita missiva à CCAM (assinada pelo arguido Júlio e por Álvaro Costa),
conforme documentos de fls 63 e 64 do apenso 17.
Quanto às incidências da entrega dos 20.000 cts pela “Resin”, através do arguido
Carlos Marinho, remete-se para tudo quanto a esse propósito já se disse a respeito da
matéria constante do ponto 1.5 da pronúncia.
Destaca-se o facto do arguido Horácio já não se recordar se o arguido Carlos
Marinho se fazia ou não acompanhar do arguido Gabriel Almeida, matéria que assim
ficou por demonstrar.
Por outro lado, conforme emerge dos próprios termos do acordo celebrado entre
a CCAM e o FCF, o arguido Júlio Faria não avalisou qualquer livrança no âmbito desse
acordo e aquele entrega de 20.000 cts serviu para pagar o remanescente da prestação
vencida a 30.09.98.
Conforme explicou de forma assertiva o arguido Júlio Faria - foi assertivo no
modo como expôs essa factualidade, manifestada na postura corporal e verbalizada sem
hesitações, o que, diga-se, nem sempre sucedeu a propósito de outras matérias,
designadamente quando a sua versão dos factos divergiu da versão dos factos contada
pelo arguido Horácio, que quase sempre se mostrou muito assertivo nas suas afirmações
-; diziamos, conforme explicou com credibilidade o arguido Júlio, ele apenas avalisou
534
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
uma livrança em branco (na qual viria a ser aposta a verba de cerca de 113.000 cts)
numa altura em que era o presidente da assembleia geral do clube, título de crédito esse
que viria a ser liquidado pelos avalistas e outros dirigentes do FCF e com recurso a um
empréstimo junto do BES, sendo certo que a contracção dessa obrigação se prendeu
com o pagamento das obras de melhoramento do Estádio Dr. Machado Matos, as quais
eram necessárias em face da subida à 1ª Divisão Nacional de Futebol do dito clube,
tendo sido entretanto frustradas as expectativas de um prometido financiamento público
para esse fim.
Ademais, acerca da factualidade referente à “conta paralela” ou “caixa
paralela” foram relevantes as declarações assertivamente prestadas pelo arguido
Horácio Costa, em conjugação com o teor do quadro de fls 2798 a 2801 do 12º volume
dos autos e vários documentos constantes do apenso 4, aliás explicados por esse
arguido.
Acerca do depósito de 1.850 cts em numerário na conta do arguido Júlio Faria
(cfr. documento de fls 162) o arguido Horácio teve a oportunidade de explicar a sua
razão de ser de modo convincente (cfr. as respectivas declarações reproduzidas por
súmula e documentos por ele referenciados a esse propósito; cfr. ainda os testemunhos
de Fernando Lima, Luís Lima e, sobretudo, de Fernando Ferreira Sampaio).
Tal depósito prendeu-se com a realização de um sorteio pelo FCF, em Dezembro
de 1998, no contexto que foi explicado de forma assertiva pelo arguido Júlio Faria.
O arguido Júlio Faria explicou que lhe coube a distribuição pelos seus
“camaradas” de 1850 bilhetes, à razão de 1.000$00 cada um (que pagou à cabeça,
cabendo-lhe depois o respectivo reembolso na medida em que os vendesse).
Confirmou assim que na sua conta foram depositados os 1.850 cts, em resultado
da venda desses bilhetes através, talvez, do arguido Bragança, ignorando se este ou a
arguida Fátima remeteram alguns desses bilhetes aos presidentes de junta para que
também estes os procurassem vender.
Certo é que pelo menos 1550 bilhetes (que não se integram naquele lote de 1850
bilhetes) terão sido destinados à arguida Fátima Felgueiras, tanto assim que vinham
acondicionados num saco onde foi manuscrita a frase “Drª Fátima Felgueiras”, sinal de
que lhe eram dirigidos.
Tais bilhetes foram também pagos com dinheiro proveniente de uma das
entregas em numerário efectuadas pela “Resin” (mencionada no ponto 3 do ponto 1.6 da
pronúncia, conforme emerge das declarações prestadas pelo arguido Horácio Costa).
De resto, a posição expressa pelo arguido Júlio Faria na audiência de julgamento
não é inteiramente coincidente com a posição que expressou na sua contestação no artº
61º, onde se afirma que esses 1850 bilhetes eram destinados à CMF.
Confirmou esse arguido que escreveu o “post-it” de fls 84, ainda alusivo a esta
matéria.
Tudo isto confere credibilidade à versão dos factos contada pelo arguido
Horácio Costa, o qual, além do mais, referiu que foi a arguida Fátima quem o instruiu
no sentido de fazer aqueles dois pagamentos, um de 1.850 cts, que depositou na conta
do arguido Júlio Faria a 23.11.98 (cfr. fls 167 do 1º volume), e outro de 1.550 cts, verba
que entregou nas mãos da arguida Fátima e que serviram para pagar 1.550 bilhetes de
um sorteio promovido pelo FCF.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Introdução
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Análise crítica
Chama-se aqui à colação a análise que foi efectuada na audência de julgamento
do processo de licenciamento em causa pela arguida Fátima.
Dessa análise resulta, de resto, a matéria de facto que a propósito foi dada como
provada (cfr. ainda o relatório da IGAT de fls 2007 e 2008 dos autos).
O licenciamento acabaria por ser deferido na medida em que inexistiu oposição
do proprietário confinante acerca do desrespeito da implantação da construção aos
limites da propriedade, de acordo aliás com a prática habitual da CMF em situações
análogas (conforme se verificou na audiência de julgamento em casos semelhantes).
Nessa medida, porque não constitui uma situação excepcional, não se vislumbra
que qualquer “favor” tenha sido concedido neste caso.
Foi aliás referido que o Dr. José de Barros (assessor jurídico da CMF) entendia
que tal prática não constituiria qualquer problema do ponto de vista jurídico (não foi
dito expressamente porquê, mas subentende-se que essa posição se estriba na
circunstância de, dessa forma, não se pôr em causa qualquer norma de direito
urbanístico cuja ratio legis se prenda com a realização de qualquer interesse público,
designadamente de ordenamento do território).
Independentemente da bondade dessa posição, certo é que a arguida Fátima agiu
estribada em pareceres técnicos e, pelos vistos, com o aval da assessoria jurídica da
CMF.
Deste modo, a prova produzida afasta a demonstração de qualquer intenção por
parte da arguida Fátima no sentido de beneficiar a requerente em tal processo de
licenciamento, bem como a consciência de que, ao licenciar a obra em causa, estaria a
praticar uma ilegalidade.
Note-se aliás que, na parte introdutória, faz-se referência genérica à análise e
deferimento de inúmeros pedidos de licenciamento de obras particulares contra os
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
pareceres técnicos proferidos, para depois apenas se apontar duas únicas situações (os
processos nºs 130/88 e 5/I/93), o que de alguma forma nos parece contraditório.
538
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
máxima de ocupação do solo é de 1.000 m2, sendo certo que neste caso a construção
tinha uma área de ocupação de 3.996 m2).
Quando o projecto foi aprovado já estava em vigor o PDM, visto que o despacho
de aprovação data de 02.02.94 (entende que nessa altura inexistia deferimento tácito) e
o PDM de Felgueiras entrou em vigor a 29.01.94.
Referiu que a doutrina dominante vai no sentido de que à data da aprovação se
deve aplicar o PDM ainda que os processos de licenciamento se tenham iniciado antes.
Normalmente quando entra em vigor o PDM os Municípios têm consciência
desse facto na medida em que o respectivo processo de aprovação é moroso. Em todo o
caso o estudo do PDM demorará vários dias.
O licenciamento em causa é nulo, sendo certo que já estava prescrito um
eventual procedimento tutelar contra a arguida Fátima Felgueiras.
Propuseram assim que o Município de Felgueiras reconhecesse a nulidade desse
acto de aprovação e que o declarasse.
539
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Análise crítica
Em face da análise do processo de licenciamento em causa (cfr. as declarações
da arguida Fátima Felgueiras e o relatório da IGAT de fls 3165 e ss., em particular fls
18 e 19 de tal relatório), parece evidente que, tendo entrado em vigor o PDM de
Felgueiras a 28.01.94, aquando da aprovação do projecto de arquitectura a 02.02.94,
este violava esse mesmo instrumento de regulação do ordenamento do território pelas
razões enunciadas na pronúncia.
Não obstante, esse despacho de aprovação estribou-se em pareceres favoráveis,
sendo certo que o último dos quais foi emitido a 01.02.94, portanto, alguns dias depois
da entrada em vigor do PDM.
540
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Introdução
541
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Referiu que a “Proeme” prestou serviços para a CMF, tendo sido responsável
por parte da estratégia de comunicação e imagem da edilidade.
Assim, a propósito da comemoração dos “20 Anos do Poder Local”, que
ocorreria a 12.12.96, sendo certo porém que a esse propósito, em Maio desse ano, iria
ocorrer uma exposição na Exponor e em que a CMF iria marcar presença com um stand,
foi aberto um concurso limitado, efectuando-se o convite a 3 empresas: “Proeme”,
“Nortimagem” e “Isto É” (para o efeito chegou a auscultar a CM do Porto, já que o
município felgueirense não conhecia empresas do ramo para dar resposta aos serviços
que pretendia).
Nessa altura inexistia pois qualquer relacionamento entre a CMF e a “Proeme”.
Tomou conhecimento dessas empresas, para além de terem auscultado a CMP,
nas seguintes circunstâncias:
- A “Proeme” por ter organizado a representação nacional da “Bibliomédia”
numa exposição em Paris da “Rede Pública de Bibliotecas” e porque fez um trabalho
para o Instituto do Livro e da Leitura;
- A “Nortimagem” porque tratou da linha gráfica da Biblioteca Municipal; e
- A “Isto É” porque ganhou um concurso relativo à realização de uma exposição
da ADERSOUSA (Associação de Desenvolvimento Regional das Terras do Sousa).
Optou-se na altura por um concurso limitado (e portanto mais rápido) na medida
em que a referida exposição na Exponor se realizaria em Maio de 1996, tendo para o
efeito os serviços elaborado o respectivo caderno de encargos, sendo certo que só duas
empresas apresentaram as suas propostas (“Proeme” e “Isto É”), as quais foram abertas
no dia 28.02.97.
Nega ter tido qualquer reunião com os responsáveis da “Proeme” antes do
lançamento do mencionado concurso limitado (tal concurso foi lançado no dia 18.02.97
e as propostas abertas no dia 28.02.97), já depois portanto da dita exposição e do dia
previsto para a comemoração dos “20 Anos do Poder Local”).
Pese embora o Sr. Renato Guerra (pai) ter sido candidato pela lista do PS à CM
de Paredes, não o conhecia na altura.
Naturalmente que o objectivo delineado com a abertura de tal concurso resulta
do respectivo caderno de encargos junto aos autos (cfr. apenso 103, fls 29 e ss.).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
A fls 2121 consta um manuscrito sem data, com contas, que englobam serviços
prestados ao PS (campanha), à ADEC e à CMF (tem a ideia que foi o arguido Horácio
Costa quem entregou esse documento à PJ).
A fls 2115 consta uma missiva dirigida à CMF pela “Proeme”, datada de
11.11.97, onde são referidos uma série de valores acerca dos serviços prestados.
A fls 2116 consta uma carta dirigida ao arguido Horácio Costa, datada de
18.03.98, onde se alude a uma reunião no dia 17.03.98, alegando que havia cumprido
tudo o que estava facturado à CMF.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
obrigou a imprimir mais 30 revistas com a galha já corrigida, apesar da informação que
lhe foi dada não ter sido da sua responsabilidade mas da CMF, tendo sido a maior
humilhação profissional por que passou, já que a arguida Fátima Felgueiras apelidou-o
publicamente de incompetente.
Também por telefone foi contactado por alguém (do sexo feminino – uma
“menina”) do jornal “O Sovela”, tendo sido combinada uma reunião com elementos
desse jornal para que o depoente procurasse alterar a respectiva imagem, tendo logo o
depoente perguntado se tinha alguma coisa a ver com alguém da CMF, designadamente
com a arguida Fátima Felgueiras (depois da humilhação que passou no dia 25.04.97
nada mais queria ter a ver com ela), tendo-lhe sido respondido que não.
Ao que pensa em inícios de Maio de 1997, reuniu-se então com cinco ou seis
elementos desse jornal na respectiva sede (entre eles estava a testemunha Horácio Reis;
a arguida Fátima não esteve presente).
Em relação ao “Sovela” não estava então disposto a acompanhar pessoalmente
esse projecto na medida em que perspectivava ser candidato à C.M. de Paredes. Pediu
então ao seu filho (“Portcom”) para acompanhar esse projecto, tendo-o esclarecido dos
preços combinados.
Essa testemunha (Horácio Reis), em Junho ou Julho de 1997 contactou-o no
sentido de realizar um trabalho para o PS, designadamente para a revista “Rubias”.
De resto, para o PS apenas colaborou nessa revista. Exigiu que essa revista
tivesse o registo oficial (ISBN) e a testemunha Horácio Reis transmitiu-lhe que usariam
o registo do “Sovela” (jornal que procedia à distribuição da revista).
A “Portcom” continuou esse projecto pelas razões já referidas.
Além dos atrasos nos pagamentos por parte da CMF, começaram a existir
problemas com o “Sovela” e com a revista “Rubias” ao nível dos pagamentos (cujos
atrasos classificou de “escandalosos”).
Quanto à revista “Rubias”, era o PS ou os anunciantes da revista que teriam de
proceder ao pagamento respectivo (segundo lhe foi transmitido na reunião que referiu
em que esteve presente a testemunha Horácio Reis).
A responsabilidade pelo pagamento dos serviços prestados ao “Sovela” era, por
seu turno, da responsabilidade deste jornal.
O seu filho (“Portcom”) debitou os serviços prestados aos assinantes do jornal,
os quais acabaram por proceder à respectiva liquidação depois de ameaçar exigir do
“Sovela” o pagamento em causa.
No que respeita à “Rubias” houve uma interpelação à testemunha Horácio Reis
para que o pagamento fosse efectuado, pedindo-lhe que intercedesse junto dos
assinantes para que procedessem ao pagamento. Essa interpelação foi feita verbalmente
pelo depoente, ignorando se o seu filho fez algum interpelação por escrito.
Foi então confrontado com o documento de fls 2126 e 2127 (fax da advogada da
“Portcom” – Drª Paula Barbosa -, de 02.04.98, enviado para o “Sovela” às 16.16 horas
desse dia, referente a um acordo extrajudicial de pagamento e onde se comunicava que,
segundo os assinantes, a publicidade havia sido paga), referiu que o seu filho melhor
poderá esclarecer o teor desse fax.
Foi confrontado com o teor do documento de fls 2125 (o fax referido terá sido
remetido pelo “Sovela” - João Ivo - à arguida Fátima Felgueiras no dia 02.04.98),
referiu ignorar quem é o dito João Ivo, não sabendo também por que razão esse
documento foi enviado à dita arguida.
As relações entre a “Proeme” e a CMF foram atribuladas, sendo certo que os
serviços que lhe foram prestados acabaram por ser pagos após intervenção do arguido
Horácio Costa.
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2º Juízo
Análise crítica
Antes de mais, cabe referir que a matéria constante da pronúncia e que diz
exclusivamente respeito ao crime de abuso de poderes imputado à arguida Fátima
Felgueiras não irá ser objecto de análise, na medida em que o procedimento criminal
relativo a tal crime foi declarado prescrito (cfr. a acta relativa à 94ª sessão de
julgamento).
Resta assim apreciar a matéria de facto invocada relativamente ao crime de
prevaricação de que a arguida Fátima também veio pronunciada (e que essecialmente se
reporta à alegada preterição da firma “Isto É” no concurso limitado referido neste
capítulo).
Acerca da factualidade em causa, é relevante o relatório da IGAT de fls 3165 e
ss. (cfr. fls 52 a 54 de tal relatório), bem como o relatório de fls 4677 e ss.
Nesses relatórios vêm descritas as relações contratuais estabelecidas entre a
CMF e a “Proeme” e entre a “ADEC” e a “Portcom” (além dos fornecimentos
efectuados para a campanha eleitoral), bem como os valores facturados e recebidos por
estas empresas. De resto, no despacho de pronúncia vêm indicados os documentos
pertinentes relativos quer ao concurso referido quer aos vários contratos celebrados,
para os quais remetemos, já que eles não suscitam qualquer dificuldade de interpretação
e a respectiva veracidade não foi posta em causa.
A conta do BES, como se viu, serviu igualmente para liquidar facturas
apresentadas pela “Proeme”/”Portcom”, mas no âmbito de trabalhos realizados por
essas empresas para a “ADEC” e para a campanha eleitoral (matéria acerca da qual já
nos pronunciamos sumariamente a propósito do 1º capítulo da pronúncia).
Por outro lado, já tivemos também a oportunidade de referir que não terá sido
por acaso que a arguida Fátima Felgueiras procurou melhorar a imagem da CMF,
divulgando a sua actividade, pois dessa forma, naturalmente, também se promovia.
Para além disso, era arguida Fátima quem de facto mandava na “ADEC” (cfr.
por exemplo as declarações proferidas pelo arguido Horácio a esse propósito; assim se
explica, por exemplo, que o fax de fls 2125 tenha sido remetido à arguida Fátima).
Tudo isto faz suspeitar da existência de um “projecto global”, a ser executado
em várias frentes (divulgação da actividade camarária, melhorando a respectiva
imagem; prestação serviços para a “ADEC”, proprietária do “Sovela”, jornal que
propagandeava a actividade político-partidária da arguida Fátima, bem como a sua
acção à frente dos destinos da edilidade; e fornecimento de material para a campanha
eleitoral de 1997).
Nesse sentido aponta o documento de fls 2121, onde a testemunha Renato
Guerra apontou os valores em dívida, sem fazer qualquer distinção entre as entidades
para quem os serviços foram efectuados (CMF, ADEC e PS) e sem fazer qualquer
distinção em relação às firmas que prestaram esses mesmos serviços (“Proeme” e
“Portcom”).
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2º Juízo
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2º Juízo
ponto 5.1. do dito caderno de encargos, o que efectivamente veio a suceder com a
celebração do respectivo contrato de prestação de serviços no dia 01.04.97 com a
“Proeme”, pelo valor global de 6.450.000$00 + IVA (7.546.500$00), nos moldes
descritos na pronúncia.
Confirmou o teor do despacho constante de fls 14 do apenso 103, quanto à
suspensão dos efeitos do contrato.
Quanto aos demais trabalhos que ficaram de fora do supra aludido contrato
celebrado com a “Proeme” a depoente referiu ter decidido fazer um ajuste directo desses
serviços, cujo limite se cifrava em 25.000 contos, conforme aprovado pela Assembleia
Municipal (cfr. acta nº 26 de 16.10.95, documento junto já no decurso da audiência de
julgamento).
Consequentemente, foram celebrados os demais contratos referidos na
pronúncia.
A propósito, referiu que fiezeram ainda mais duas exposições aproveitando o
material utilizado na exposição da Exponor (na Lixa e em Idães).
Quanto às serigrafias, referiu que deveriam reportar-se a 5 temas, mas porque os
serviços não forneceram à “Proeme” as informações necessárias as mesmas
circunscreveram-se apenas a três temas. Consequentemente, houve uma redução de
preço.
Quanto às medalhas (concebidas pelo escultor José Rodrigues), referiu que os
autarcas receberam as mesmas no dia 25.04.97 (assim, quando o contrato respectivo foi
formalizado as medalhas já estavam feitas), data que coincidiu com a primeira
exposição.
No que concerne aos desdobráveis, referiu que também apenas disseram respeito
a 3 temas (ao invés de 5), pelo que se verificou igualmente uma redução no preço.
No que respeita ao aluguer dos 40 outdoors referiu que procurou baixar o preço
da adjudicação, o que não conseguiu uma vez que os mesmos estiveram em uso pela
CMF até Dezembro de 1997, independentemente das serigrafias que ali foram
colocadas.
Quanto ao videograma, esclareceu que dizia respeito à apresentação do projecto
de ampliação da Alameda de Stª Quitéria.
Quanto ao facto de terem sido celebrados contratos distintos, referiu que
relativamente aos contratos celebrados em data diferente a sua celebração foi decidida
em momento diverso.
Além disso, dada a urgência na realização desses serviços e para evitar a
realização de um concurso, os contratos só foram formalizados nas datas que deles
constam, apesar de terem sido negociados antes em datas diferentes (aliás, alguns desses
contratos dizem respeito a serviços já contemplados na proposta da “Proeme”
relativamente ao concurso limitado supra referido).
Esclareceu que teve problemas com o Sr. Renato Guerra quando reduziu o preço
de dois dos contratos celebrados (cfr. as facturas da “Proeme” constantes do apenso 133
e os respectivos recebimentos, nos moldes descritos na pronúncia).
Referiu ter ficado satisfeita com o trabalho desenvolvido pela “Proeme” (o que
parece ser contraditório com alguns despachos que a propósito proferiu; cfr. fls 2094 a
2097 do 9º volume, no qual, segundo a depoente, foi aposto um projecto de despacho) e
que sempre controlou o cumprimento dos contratos em causa, chamando à atenção dos
serviços para o facto de se verificarem atrasos no fornecimento de informação à
“Proeme”, necessárias aliás para o desenvolvimento dos seus serviços para com a
edilidade.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
De resto, confirmou que teve uma reunião com o Sr. Renato Guerra em Março
de 1998 (cfr. fls 2093 do 9º volume) e que na sequência da mesma pediu um parecer ao
Departamento Administrativo da CMF.
Referiu que não tinha plena noção do que efectivamente havia sido executado
pela “Proeme” na medida em que os serviços camarários fizeram solicitações a essa
empresa sem o seu conhecimento. Daí que não tivesse a informação necessária para
saber se a “Proeme” tinha ou não razão nas reivindicações que fazia a propósito dos
pagamentos.
Explicou a depoente que mandou encerrar a assessoria de comunicação e
imagem em finais de Julho de 1997, mas os serviços só o comunicaram à “Proeme” em
Setembro desse ano, sendo certo que esse cancelamento retroagia a Agosto de 1997 (cfr.
fls 14 do apenso 103 e o fax de fls 219 dirigido ao arguido Horácio Costa). Referiu
nunca ter visto o documento de fls 2121.
Ora, a “Proeme” queria receber pelos serviços prestados em Agosto de 1997,
cujo pagamento acedeu em face do facto de juridicamente ser difícil sustentar a posição
da CMF.
A propósito do despacho de fls 2094 (recusa de pagamento), referiu que na
verdade não lhe assistia razão, visto que a responsabilidade era da CMF ao não fornecer
a informação necessária, conforme já referido.
A propósito do documento de fls 2101, que diz respeito ao stand, ironizou
dizendo que a dois meses das eleições, se tivesse querido beneficiar a “Proeme”, não
teria tomado a posição que consta daquelas notas (dirigidas à DDA – Directora do
Departamento Administrativo), sendo certo que o essencial foi a exposição da Exponor
e não as outras exposições que tiveram lugar no concelho de Felgueiras.
A propósito do documento de fls 2104, referiu que não é verdade que nenhuma
assessoria tenha sido prestada pela “Proeme” (conforme consta daquela nota), sendo
certo que esses documentos não constam do processo existente na CMF e estiveram
guardados por alguém com objectivos pouco claros (algumas dessas notas não
chegaram às mãos da DDA e terão sido subtraídas pelo arguido Horácio Costa).
Esclareceu que o Horácio Costa integrou uma comissão coordenada pela Drª
Fernanda Leal de modo a avaliar o que era devido pela CMF à “Proeme”.
De resto, referiu ainda que as suas notas (de 19.03) foram colocadas na
secretária da DDA e que o Horácio Costa pegou nelas e, confrontando a depoente com
elas, aconselhou-a a aceder às reivindicações da “Proeme”, pedindo-lhe para ponderar
melhor a sua decisão, o que acabou por fazer depois de ter falado com a DDA, Drª
Fernanda Leal (e, ao que pensa, também com o Dr. José de Barros), de sorte que
proferiu o despacho de fls 3 do apenso 103 (igual ao que consta de fls 2122), datado de
29.03.98.
Explicou o facto de aparecerem folhas iguais com despachos diferentes pela
circunstância de, tendo desaparecido as suas notas, foi produzida nova informação,
tendo então aposto o despacho de fls 3 do apenso 103 (igual ao que consta de fls 2122).
Explicou as diferenças do seu despacho conforme consta de fls 2093 e o
respectivo despacho que consta desse dossier na CMF com uma falsificação do mesmo
(cfr. as respectivas diferenças comparando o que consta de fls 2093 e o que consta de fls
3 do apenso 103 ou de fls 2122).
Conforme se pode ver nos documentos de fls 2093 e ss., a generalidade dos
mesmos estão rubricadas pela Fernanda Leal, pela Teresinha e pelo Horácio Costa, não
encontrando explicação para o facto do mesmo não suceder com o documento de fls
2101 (mapa).
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2º Juízo
que consta de fls 2093 nem acerca dele teve qualquer conversa com o arguido Horácio
Costa, designadamente de que teriam de comunicar tal decisão ao Sr. Renato Guerra
(pai), desfavorável às suas pretensões.
A arguida Fátima Felgueiras é pessoa determinada e os funcionários não
ousavam contrariá-la (pelo que é inverosímil que quer a depoente quer o arguido
Horácio tenham procurado demovê-la de não proceder ao pagamento à “Proeme”).
Não tem qualquer elemento que a leve a concluir que foram pagos trabalhos não
executados pela “Proeme”, caso contrário teria concerteza elaborado a respectiva
informação. O despacho da arguida Fátima Felgueiras foi no sentido de se pagar o que
tinha sido visado pelos serviços.
Confrontada em concreto com o teor das expressões apostas pela arguida Fátima
Felgueiras no alegado despacho de 18.03.98, a fls 2093 a 2096 (anotações e
exclamações), parecem-lhe comentários ao teor do relatório, sendo certo que não é usual
a aposição desse tipo de comentários e exclamações ao longo do texto da informação.
Ignora se esse despacho foi apenas um projecto.
*
A este propósito a arguida Fátima Felgueiras referiu que a cópia do relatório
em causa com os comentários que apôs era um documento de trabalho para si.
Não sabe se esse relatório foi-lhe entregue ao final do dia na pasta da testemunha
Terezinha, hipótese que seria a mais natural.
Ignorava que havia sido tirada uma cópia desse relatório para cada um dos seus
subscritores.
Reafirma que o documento de fls 2093 e ss. era um documento de trabalho onde
apôs um projecto de despacho com as suas reflexões, as quais não facultou aos serviços.
Quanto às funções exercidas pelo arguido Horácio Costa, reafirmou que ele era
assessor da CMF e não da depoente.
De resto, ele era pessoa da sua confiança nos serviços que prestava.
Reafirmou que inicialmente ele ocupou um gabinete no Centro de Camionagem.
Admite porém que ele, quando tivesse necessidade, pudesse usar as instalações da CMF
nos paços do concelho, pois inicialmente o edifício do Centro de Camionagem estava
em conclusão.
*
Ainda propósito desta última matéria referida pela arguida Fátima Felgueiras, foi
referido pelo arguido Horácio Costa que quando iniciou funções na CMF iniciavam-se
os acabamentos no edifício do Centro de Camionagem, faltando inclusive a construção
dos respectivos acessos.
Foi por essa razão que por indicação da arguida Fátima Felgueiras que ocupou
um gabinete na CMF. Partilhou-o com o Dr. Sousa Oliveira quando ele era o presidente
da Assembleia Municipal e com a testemunha Cândida quando ela foi deslocada para a
recepção da parte política da CMF. Foi nesse gabinete que vendeu as lojas do Centro
Coordenador de Transportes. Chegaram ali (nesse gabinete) a ser dadas explicações ao
filho da arguida Fátima Felgueiras.
Quanto à “Proeme” reafirmou que numa reunião de veração ocorrida em 1998
foi incumbido pela arguida Fátima Felgueiras (juntamente com as testemunhas
Fernanda Leal e Terezinha) de apurar o que de facto havia sido executado por essa
empresa. Quem liderou os trabalhos foi a testemunha Fernanda Leal.
A informação prestada pela Comissão de Análise ao trabalho da “Proeme” foi no
sentido de não se proceder ao pagamento dos trabalhos, razão pela qual não compreende
porque razão a testemunha Fernanda Leal não alertou a arguida Fátima Felgueiras para
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2º Juízo
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2º Juízo
Era difícil confirmar junto dos serviços camarários o que de facto havia sido
feito pela “Proeme”.
Confirmou que teve intervenção na informação que foi presente à arguida
Fátima Felgueiras acerca dos serviços realmente prestados pela “Proeme” (cfr.
documento de fls a fls 3 e ss. do apenso 103 ou fls 2122 e ss. do 9º volume dos autos,
onde contém o despacho a autorizar o pagamento; a fls 2093 e ss., do 5º volume, consta
o relatório referido com um despacho de sentido inverso, datado de 18.03.98, aposto
numa folha que é uma cópia da 1ª folha do relatório, sendo as restantes o original dessa
informação).
Quanto ao contrato de assessoria foi a depoente e a testemunha Fernanda Leal
que averiguaram os serviços prestados pela “Proeme”, na sequência da qual a arguida
Fátima Felgueiras decidiu suspender esse contrato.
Mais tarde é que foi determinado pela arguida Fátima Felgueiras numa reunião
de vereação que a depoente, a testemunha Fernanda Leal e o arguido Horácio Costa
averiguassem e informassem o que na verdade havia sido feito pela “Proeme”, na
sequência do qual produziram o relatório ou informação em causa.
Em ordem a tal procuraram junto dos serviços averiguar quais os trabalhos
efectuados, o que não fácil.
Solicitaram esclarecimentos à testemunha Renato Guerra. Ele enviou-lhes então
um fax, mas como esse documento não era conclusivo decidiram reunir com ele, o que
sucedeu no dia anterior ao da data constante na informação ou relatório, tendo então
recebido dele os esclarecimentos que se julgaram pertinentes. Não se recorda se nessa
reunião ele elaborou ou não algum apontamento. Não se recorda de nela se terem
comentado outros trabalhos que não os executados para a CMF (designadamente para a
ADEC e para a campanha).
Feito o relatório (salvo erro pela testemunha Fernanda Leal no computador que
na CMF lhe está adstrito, no qual, como em todos os da CMF, inexiste “password”) e
subscrito pelos três, foi o mesmo entregue à arguida Fátima Felgueiras.
No mesmo ela apôs um despacho a mandar pagar o que tinha sido facturado pela
“Proeme”.
Um dos inspectores da IGAT confrontou-a com um despacho de sentido inverso,
mas dele não tinha conhecimento nem ouvido falar sequer (só conhece pois o despacho
constante de fls 3 do apenso 103 ou fls 2122 do 9º volume dos autos, datado de
29.03.98).
A testemunha Fernanda Leal só conversou consigo acerca desses despachos
contraditórios aquando da inspecção da IGAT.
Foi então confrontada com as declarações que prestou perante a PJ a fls 2820 e
2821, linhas 127 a 129, tendo-as confirmado, admitindo então que soube desse
despacho que determinava o não pagamento pela testemunha Fernanda Leal antes da
referida acção inspectiva. Presume que lhe tenha falado desse despacho depois dela ter
sido ouvida na PJ.
Foi a testemunha Fernanda Leal quem lhe fez chegar o despacho proferido a
29.03.98, em face do qual diligenciou pelo pagamento das facturas apresentadas pela
“Lusofactor”, relativamente aos serviços confirmados junto dos serviços.
Constata agora que no documento de fls 2122 não consta o despacho da
testemunha Fernanda Leal para si a fim de lhe dar o seguimento normal. Não seria
anormal dar cumprimento ao despacho da arguida Fátima Felgueiras sem passar pela
testemunha Fernanda Leal, mas recorda-se que esta, na primeira página do relatório,
também apôs um despacho remetendo o documento para si.
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2º Juízo
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2º Juízo
como objectivo discutir o pagamento dos serviços prestados por essa empresa (faz
referência a serviços globais).
No manuscrito de fls 2121 faz-se referência a serviços prestados para a
campanha eleitoral, para o “Sovela”, para a revista “Rubeas” e para a CMF. Presume
que esse documento tenha sido elaborado pela testemunha Renato Guerra (pai), mas não
tem a certeza desse facto.
Não considera normal que no mesmo documento estejam incluídas contas
respeitantes a serviços prestadas para entidades diferentes e autónomas entre si,
designadamente a CMF e a ADEC. Não se recorda de que forma tal documento chegou
aos autos (foi o arguido Horácio quem o entregou).
Esse documento não está datado e não tem qualquer elemento objectivo que nos
permita concluir em que data terá sido elaborado. Não obstante, liga esse documento ao
fax de fls 2116.
Análise crítica
Para além do já referido, a propósito da introdução, provou-se que em Fevereiro
de 1997 foi aberto o concurso limitado sem apresentação de candidaturas nos termos
referidos na pronúncia, tendo a CMF endereçado convites às três empresas ali referidas,
mas apenas as firmas “Proeme” e “Isto É” apresentaram as respectivas propostas (cfr.
apenso 103).
A comissão de análise respectiva foi constituída pelas testemunhas Fernanda
Leal e Manuel Jordão e pelo arguido Barbieiri Cardoso.
Ora, não obstante a proposta da “Proeme” ser a mais cara, o certo é que a mesma
foi a melhor pontuada (cfr. o respectivo relatório de análise a fls 19 e ss. do apenso
103).
De resto, nos critérios de apreciação o factor “preço” tinha apenas um peso de
25%.
Compreende-se que, em face do tipo de prestação de serviços em causa, tenha
mais relevo o mérito da proposta (no caso, 40%), factor que mereceu uma pontuação
superior em dois pontos a favor da proposta apresentada pela “Proeme” em relação à
proposta apresentada pela “Isto É”, o que terá sido decisivo na pontuação final de ambas
as propostas.
Porém, sendo a diferença entre a pontuação de ambas as propostas quase
irrisória (“Isto É” – 15; “Proeme” – 15,3), a comissão de análise não se considerou
habilitada a pronunciar-se inequivocamente quanto ao sentido da opção a tomar na
adjudicação.
Considerou-as portanto similares, remetendo a decisão para a presidente da
edilidade.
Ora, a fls 29, a arguida apôs um despacho, datado de 07.03.97, onde determinou
a adjudicação à firma melhor pontuada com base na informação técnica.
Em face destes elementos de carácter objectivo e que não foram postos em
causa, naturalmente que não se demonstrou que a arguida Fátima Felgueiras tenha
beneficiado ilicitamente qualquer uma das concorrentes, limitando-se a determinar a
adjudicação dos serviços em causa à firma melhor pontuada.
Esse contrato viria entretanto a ser suspenso, conforme descrito na pronúncia
(cfr. documento de fls 14 do apenso 103 e as declarações prestadas a esse propósito).
Quanto à celebração dos demais contratos, porquanto é matéria que diz já
respeito ao alegado crime de abuso de poderes – cujo procedimento criminal foi
declarado prescrito -, abstemo-nos de tomar posição.
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2º Juízo
Introdução
Análise crítica
A arguida Fátima Felgueiras confirmou a matéria alegada na pronúncia quanto à
criação da ADEC e objectivos que prosseguia.
De resto, essa factualidade emerge dos documentos de fls 98 e ss., 102 e ss. e
119 e ss. do apenso 139-A.
No âmbito dessa associação foi criado o jornal “O Sovela” (cfr. acta nº 1,
constante de fls 119 do apenso 139-A) e o clube de natação “A Foca” (cfr. acta nº 3,
constante de fls 78 do apenso 139-A).
Não obstante os objectivos e interesses que formalmente essa associação visava
prosseguir, o certo é que a mesma acabaria por se tornar numa extensão do PS local e de
quem ocupava o poder na CMF. Basta para o efeito analizar as diferentes actas para se
perceber que assim era em função dos elementos que sucessivamente integraram os seus
corpos sociais e simultaneamente desempenhavam cargos autárquicos ou exerciam
funções na CMF que dependiam da confiança política, numa promiscuidade aliás
descarada (cfr. acta de fls 134 do apenso 139-A, datada de 06.01.94, a qual se reporta à
acta de instalação da CMF, na sequência das eleições autárquicas de Dezembro de 1993,
onde a arguida Fátima toma posse como veradora; cfr. documento de fls 119 a 121 do
apenso 139-A – acta nº 1 -, onde se elegeram os corpos sociais da ADEC e se criou o
jornal “O Sovela”; cfr. acta de fls 137 do apenso 139-A, datada de 05.01.98, respeitante
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2º Juízo
acta nº 18, cuja cópia se acha a fls 97 do apenso 139-A, a qual se reporta à nomeação da
mesma pessoa como director do “Sovela”).
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2º Juízo
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2º Juízo
Confrontado com os documentos de fls 183 e 196 do apenso 139-A, referiu que
a tiragem do “Sovela” e do “Semanário de Felgueiras” era igual (5.000 ex.). O “Jornal
da Lixa” tinha, por seu turno, uma tiragem mais baixa (1.900 ex. – cfr. fls 194 do
apenso 139-A).
Quer o Departamento de Pessoal quer o Departamento de Planeamento e Gestão
Urbanística da CMF fizeram consultas aos jornais para saber preços (em 2000 e 2002).
Por via de regra, na publicação de eventos ocasionais registou-se uma
prevalência do “Sovela”.
Constataram a existência de duas tabelas de preços por parte do “Sovela”, uma
destinada a clientes institucionais (com preços mais elevados) e outra para os restantes
clientes (cfr. fls 174 e 176 do apenso 139-A, respeitante às duas tabelas de preços
referidas).
O “Jornal da Lixa” não tinha duas listas de preços. Não se recorda se o
“Semanário de Felgueiras” tinha ou não duas listas de preços à semelhança do que
sucedia com o “Sovela” (porém tal informação não consta do relatório que elaborou).
Tem a ideia de que o “Sovela” levava mais barato nos quartos de página e mais
caro nas contracapas (o anúncio por norma saía sempre maior que ¼ de página). Nas
meias páginas o “Sovela” apresentava o preço mais elevado.
A generalidade das publicações era de ¼ de página. Porém, no figurino do
jornal, ocupava muitas vezes quase meia página (os jornais praticavam preços
intermédios quando a dimensão da publicação não coincidia com a que consta da tabela
de preços, o que poderá justificar a não coincidência entre o preço de tabela e o preço
cobrado efectivamente).
No que respeita aos anúncios na área do urbanismo de contratação de pessoal
não detectaram qualquer anormalia, tendo concordado com a exclusão do “Semanário
de Felgueiras” (cfr. fls 245 e 246 do apenso 139-A e o respectivo relatório, constante de
fls 13 e ss. do apenso 139-A, em particular fls 35 e ss. desse apenso; cfr. ainda fls 350
do apenso 193-B).
Porém, no que respeita à publicidade a outros eventos constataram o seguinte:
Antes de 2002, detectaram situações de opção por publicações mais caras e às
vezes sem consulta prévia do mercado (por exemplo, a propósito da uniformização
documental, “Dia Mundial do Consumidor” e do “Rali Lixa/Amarante”, sendo certo que
neste último caso só o “Sovela” e o “Jornal da Lixa” foram consultados, tendo sido dada
como justificação a de que se estava no final do ano e haviam constrangimentos
orçamentais. Tal argumentação não colhe porque a opção pelo “Sovela” foi mais cara) –
ver o que consta do relatório respectivo, em particular fls 39 e ss. do apenso 139-A.
Seja como for, as situações irregulares detectadas tiveram pouco peso no volume
global da publicidade mandada publicar pela CMF entre 1998 e Fevereiro de 2003 (cfr.
o relatório em causa). Quanto à prevalência do “Sovela” no volume da facturação
naqueles anos (1998 a Fev. de 2003), ver fls 14 do referido relatório (correspondente a
fls 27 do apenso 139-A).
*
A arguida Fátima Felgueiras referiu nesta altura, além do mais, que a CMF não
estava obrigada a fazer prospecção de mercado para publicitar as suas iniciativas, além
de que rebateu as conclusões vertidas no relatório aludido (em parte, diga-se, fundadas
em depoimentos colhidos).
*
- Testemunha Vítor Manuel Ribeiro Pinto
Referiu que procedeu a um inquérito ao Município de Felgueiras com a
testemunha António Pêga, entre Março e Abril de 2003, por força de ordem de serviço
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PJ lhe ter mostrado um “estudo” comparativo dos pagamentos efectuados – cfr. fls
3199).
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Esse jornal pertencia à ADEC, não sabendo em que data havia sido criado, mas
tem a ideia que cerca de 7 anos antes de ter sido nomeado o respectivo director (cfr., em
todo o caso, a acta nº 1 da Assembleia Geral da ADEC, de 04.03.94, constante de fls
119 a 121, do apenso 139-A, na qual foi criado esse jornal).
Explicou que sucedeu ao arguido António Pereira na direcção do jornal
“Sovela”.
Na direcção da ADEC estavam os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas,
não se recordando quem era o presidente da direcção dessa associação na altura em que
era o director do “Sovela”.
A arguida Fátima, por sua vez, assumira a direcção da ADEC quando ela foi
criada em 04.03.94.
A partir de certa altura a testemunha Vítor Sousa passou também a integrar o
Gabinete de Imprensa da CMF, ao que pensa, por decisão da arguida Fátima Felgueiras
(talvez em 2000 ou 2001 – cfr. porém o respectivo contrato de prestação de serviços,
datado de 01.0.97, constante de fls 150 do apenso 139-A, celebrado entre a CMF e o
dito Vítor Sousa).
À pergunta efectuada no sentido de se saber quem efectivamente mandava no
“Sovela” respondeu que ou era o presidente da dircção da ADEC (arguido António
Pereira) ou o depoente enquanto director do jornal, em matéria editorial.
As suas receitas emergiam essencialmente da publicidade, facturando por ano
cerca de 76.000 cts (no período em que foi director, de 1998 até 2003), conforme
verificou no balancete. Tinha cerca de 500 clientes que faziam publicidade no jornal.
Tratava-se de uma publicação semanal e inicialmente a sua tiragem rondava os
2.000 ex., a qual desceu progressivamente até aos 1.500 ex., sendo certo que nos
últimos anos a tiragem (real) cifrava-se entre 1.500 e 1.000 exemplares.
Pensa que no cabeçalho indicava-se uma tiragem de 5.000 ex., mas era um
número empolado, situação que considera habitual nos jornais por questões de
marketing.
À época existia ainda o “Semanário de Felgueiras” (do qual tinha sido
proprietário e director de 1990 a 1993). Explicou que vendeu a sua quota ao seu sócio
de então na sociedade detentora desse semanário, a testemunha Manuel Faria. A
respectiva tiragem era também inferior à que anunciava no cabeçalho e cuja tiragem real
era semelhante à do “Sovela” (quando saíu do “Semanário de Felgueiras” a tiragem real
rondava os 1.500 ex., sendo actualmente de 800 a 1.000 ex.).
No documento de fls 183 do apenso 139-A vem indicada uma tiragem para o
“Semanário de Felgueiras” de 5.000 ex. (tabela dos preços da publicidade em
25.03.2003), mas que não corresponderá à tiragem real.
Existia também o “Jornal da Lixa”, com uma dimensão muito menor em relação
aos jornais já referidos (não sabe em todo o caso qual a respectiva tiragem. No
documento de fls 194 do apenso 139-A, indica-se uma tiragem de 1.900 ex. por
semana), o qual se limitava sobretudo a divulgar notícias referentes à cidade da Lixa.
O “Semanário de Felgueiras” estava claramente conotado com o PSD, embora
tal não fosse assumido (a testemunha Manuel Faria aliás não assumiu esse facto no
julgamento). A testemunha Manuel Faria era o presidente da Comissão Política do PSD
local e candidato à presidência da CMF por esse partido.
O “Sovela”, por seu turno, era claramente conotado com o PS e assumia isso. De
facto, as pessoas responsáveis por esse jornal eram militantes do PS ou ligadas a esse
partido como independentes.
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2º Juízo
Durante dois ou três anos, no período em que foi director do “Sovela”, este
jornal conseguiu sobreviver com as suas receitas, tendo depois entrado em défice
irreversível.
A partir de 2001/2002 o jornal entrou num declínio financeiro irreversível, não
gerando os meios necessários para pagar aos seus credores, tendo por isso chegado a
propor o seu encerramento. As receitas provenientes dos 300 a 500 assinantes pagantes
eram manifestamente insuficientes, como sucedia aliás com todos os jornais. Também
as receitas da publicidade (com cerca de 500 clientes, nem todos regulares) eram
insuficientes para que as despesas do jornal fossem pagas.
Lembra-se do arguido Horácio lhe ter referido que pagava dívidas do “Sovela”
Ele aliás tinha sido encarregue de renegociar um crédito que uma gráfica detinha sobre
o jornal, no montante de cerca de 5.000 cts. Não sabe donde proveio o dinheiro, mas
não era seguramente do “Sovela”.
O arguido Horácio, cerca de um ou dois meses depois de ter integrado a direcção
da ADEC, demitiu-se.
A CMF era cliente do “Sovela”, pois nesse jornal publicava publicidade.
Era um cliente importante mas nem de longe nem de perto era fundamental.
A CMF fazia publicar no “Sovela” editais, avisos e publicidade de eventos por si
promovidos.
À pergunta efectuada no sentido de se saber quem decidia a publicação nos
jornais, respondeu que era a arguida Fátima ou os vereadores. Ignora se os directores de
departamento tinham competência delegada para o efeito.
A publicação no “Sovela” de editais e avisos pela CMF devia-se ao facto de
apresentar o preço mais barato. Aliás, todos os anos eram convidados pela CMF a
apresentar a respectiva tabela de preços.
A demais publicidade (relativa aos eventos) era pedida verbalmente ou por
escrito (na maior parte das vezes era solicitada por escrito).
A publicidade acordada verbalmene, as mais das vezes, era combinada entre o
depoente e o arguido António Pereira, pese embora se recorde que também a arguida
Fátima e os vereadores solicitaram verbalmente a publicação de publicidade de eventos.
Essa publicidade era efectuada cerca de 3 a 5 vezes por ano no “Sovela”.
Pensa que os outros jornais locais também enviavam a respectiva tabela de
preços, mas tal procedimento administrativo passava-lhe ao lado.
As mais das vezes a CMF utilizava, para a publicação dos anúncios, ¼ de
página.
Antes de 1998 conhecia a tabela de preços do “Semanário de Felgueiras”.
Ambos os jornais tinham sensivelmente o mesmo número de leitores.
Entre 1998 e 2003 não tem ideia qual o volume de publicidade efectuada no
“Sovela” e no “Semanário de Felgueiras” pela CMF. No “Sevela” tem a ideia que o
valor da publicidade atingiu um valor na ordem dos 6 ou 7.000 cts.
Foi então confrontado com o quadro de fls 203 do apenso 139-A (documento
assinado pela testemunha Fernanda Leal), constatando que nesse período de tempo a
publicidade publicada no “Sovela” ascendeu a cerca de 52.000,00 euros, no “Semanário
de Felgueiras” 9.652,00 euros e no “Jornal da Lixa” 8.166,00 euros.
Em face da discrepância de valores entende que a justificação é meramente de
índole política, já que o “Semanário de Felgueiras” era hostil à CMF e à arguida Fátima
Felgueiras (atacava politicamente a CMF e a arguida Fátima, chegando ao ponto de
muitas vezes protagonizar ataques pessoais).
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2º Juízo
É pois natural que o poder instituído na CMF não quisesse financiar os jornais
da oposição (ninguém pertencente ao poder instituído está disposto a subsidiar a
oposição para que depois ela ataque esse mesmo poder).
Era do domínio público a hostilidade existente entre a arguida Fátima Felgueiras
e a testemunha Manuel Faria.
Seja como for, a si directamente nunca lhe deram instruções no sentido de
favorecer o “Sovela” em termos de publicidade.
Regra geral a publicidade era encaminhada para o “Sovela”, para o “Jornal da
Lixa” e para a “Rádio Felgueiras”.
As pessoas que tinham o poder de dar as orientações quanto à publicação de
publicidade eram a arguida Fátima e os vereadores.
Ou a arguida Fátima, ou o arguido António Pereira ou os dois (não consegue
neste momento precisar) deram-lhe orientações no sentido da publicidade ser efectuada
naqueles órgãos de comunicação social.
Não sabe se o arguido António Pereira tinha autonomia, mas acha que ele
deveria dar nota da sua acção à arguida Fátima Felgueiras (até porque tem a percepção
de que nem ele nem vereador algum tinham autonomia na sua acção, em face do que
conhece da personalidade da arguida Fátima, pessoa que era centralizadora e que não
gostava de ser contrariada, sendo certo que o depoente não se atrevia a contrariá-la nas
questões ligadas à CMF). Nunca viu qualquer vereador a contrariar as suas indicações,
salientando porém que não assistia às reuniões.
A arguida Fátima preocupava-se com o que se passava no Gabinete de Imprensa
e no “Sovela”.
Era normal que ela se preocupasse com o Gabinete de Imprensa na medida em
que 90% da informação publicada no “Sovela” provinha daquele gabinete, informação
essa que ela controlava, pois o depoente estava na sua dependência directa. Por essa via,
indirectamente, controlava o que era publicado no “Sovela”.
A questão dos preços da publicidade era relevante na medida em que se os
preços praticados pelo “Sovela” fossem mais altos a publicidade não lhe seria atribuída.
O “Sovela” tinha duas tabelas de preços, uma para os clientes habituais (com
preços mais baixos) e outra para agências de publicidade e para clientes ocasionais.
A CMF era cliente habitual no que se refere a publicidade institucional (editais e
avisos) e um cliente ocasional no que respeita à publicidade de eventos.
Confrontado com as tabelas de preços de fls 174 (esta com um manuscrito de
10.03.2003, donde resulta ter sido enviada à Divisão Administrativa da CMF) e 176
(com preços mais baratos), ambas do apenso 139-A, referiu serem as duas tabelas de
preços do “Sovela” que referiu (tudo indica porém que se tratam de tabelas que se
reportam a anos diferentes).
Explicou que a Divisão Administrativa da CMF fazia muita publicidade
obrigatória. Não sabe assim porque razão lhe terá sido enviada a tabela de fls 174 do
apenso 139-A (e não a de fls 176 do mesmo apenso), tanto mais que não foi o depoente
quem a enviou. Argumenta que pode mesmo ter sido um lapso. Em todo o caso,
especulou que a situação deverá ter sido pontual na medida em que a solicitação do
envio da tabela de preços, neste caso, foi verbal e normalmente era feita por ofício. De
facto, a solicitação verbal da tabela só era feita em situações pontuais. Não se recorda
porém de qualquer publicidade pontual efectuada pela Divisão Administrativa.
Os orçamentos pedidos pela CMF normalmente reportavam-se a quartos de
página.
Porém, melhor analisadas as duas supra referidas tabelas, parecem as mesmas
ser de anos diferentes (a de fls 174 do apenso 139-A parece ter sido enviada a
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antes de ir para a CMF chegou a ser director do “Sovela” durante cerca de três meses,
tendo saído por não querer comprometer a sua independência enquanto colaborador do
“Público”. A arguida Fátima, porém, disse-lhe que não haveria problema.
Consequentemente, o depoente sentiu que se não aceitasse o convite o seu
vínculo à CMF cessaria.
Para o depoente o desempenho dessa tarefa extra era um fardo e não auferia
qualquer remuneração pelo desempenho dessa função nesse jornal.
Oficialmente a testemunha Pimentel também não, mas ele disse-lhe que auferia
algum dinheiro (não sabe quanto e com que regularidade). De facto, recorda-se que a
certa altura a funcionária administrativa e um jornalista do “Sovela” dirigiram-se ao
Gabinete de Imprensa da CMF reclamando o pagamento de salários em atraso e a
testemunha Pimentel referiu-lhes que primeiro tirava o dinheiro para si.
Inicialmente o “Sovela” tinha uma viatura muito deteriorada, tendo sido por isso
adquirida uma outra viatura (“Ford Fiesta”) pouco depois de 01.05.98, viatura essa que
mais tarde viria a ser vendida e a ser substituída por uma outra que entretanto foi
adquirida (“Fiat Uno”).
Essa viatura era usada pela testemunha Pimentel (que a levava para casa) e pelo
jornalista do “Sovela” quando se tinha de deslocar a propósito de reportagens.
O “Sovela” era um jornal semanal. Não sabe qual era a sua tiragem. Ignora
também qual o número efectivo de exemplares que eram distribuídos.
No concelho exisitiam ainda outros órgãos de comunicação (o “Semanário de
Felgueiras”, o “Jornal da Lixa” e a “Rádio Felgueiras”).
O “Sovela” era conotado com o PS e o “Semanário de Felgueiras” com o PSD
(cujo proprietário era a testemunha Manuel Faria, líder local do PSD, o qual fazia
oposição ao executivo camarário). Daí a necessidade do “Sovela” fazer o contraponto.
O “Semanário de Felgueiras” foi sempre publicado regularmente, mas o
“Sovela” não.
O “Semanário de Felgueiras” estava mais implantado, mas a partir de certa
altura “descambou” e passou a fazer oposição à CMF.
Não tem dúvidas que esse semanário tinha mais circulação que o “Sovela”, até
porque era mais antigo e não sofria flutuações em termos de publicação como sucedia
com o “Sovela” (o que prejudicava a fidelização dos leitores a este último).
O “Jornal da Lixa”, por sua vez, representava as gentes da Lixa, as quais são
muito bairristas. Era pois um jornal mais localizado. Não faz a mínima ideia de qual
seria a respectiva tiragem.
O “Sovela” em termos financeiros era alimentado pela publicidade. Lutava com
dificuldades financeiras, facto de que se apercebeu em face das dificuldades sentidas em
pagar os salários aos seus funcionários. Aliás, quando assumiu funções nesse jornal
existiam hiatos de tempo sem publicação do mesmo.
Quando o depoente entrou para a CMF conheceu o arguido Horácio Costa na
medida em que ele era assessor.
Chegaram ambos a fazer parte da direcção de campanha nas eleições autárquicas
de 1997, sendo o arguido Horácio o responsável pela parte financeira.
Ignora se foram pagas despesas do “Sovela” com dinheiro que não pertencia à
ADEC, designadamente despesas pagas pelo arguido Horácio Costa.
Nunca assistiu à negociação de qualquer dívida do “Sovela”. Tais matérias
passavam-lhe ao lado, daí que acerca delas nada saiba (cfr., em todo o caso, as
declarações prestadas pela testemunha a esse propósito perante o JIC e exaradas a fls
7781º, terceiro parágrafo, com as quais foi confrontada).
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traumatizante pela forma como saíu (foi dispensado da CMF por ter apoiado um
candidato que não venceu as eleições autárquicas. Processou a CMF no Tribunal de
Trabalho e recebeu dela uma indemnização. Teve uma depressão psicológica à conta
desses factos).
Referiu que acha que a testemunha Pimentel pontualmente auferia uma
remuneração pela sua prestação no “Sovela”. Reafirmou que em 2005 (quando prestou
declarações perante o JIC) tinha a memória mais fresca.
No que se refere às suas declarações prestadas perante o JIC e exaradas a fls
7779, último parágrafo, reiterou o que aí afirmou, sendo certo que em 2005 tinha a
memória mais fresca.
No que concerne às declarações que prestou perante o JIC e exaradas a fls 7781,
terceiro parágrafo, assegurou já não se recordar do facto em causa (negociação da dívida
do “Sovela” pelo arguido Horácio), reiterando que as declarações que prestou em 2005
são mais fidedignas por ter nessa altura a memória mais fresca.
No que se refere às suas declarações exaradas a fls 7782, penúltimo parágrafo,
referiu não ter hoje a percepção que então transmitiu ao JIC, mas atribui mais
fidedignidade às declarações então prestadas pelas razões que já acima apontou.
Tem a ideia que a IGAT, quando inspeccionou a CMF, levantou problemas
quanto à falta de justificação para a publicitação, sendo certo que os procedimentos
entretanto alteraram-se. Trata-se de matéria da qual já não se recorda com muita
precisão.
Não se recorda se a testemunha Pimentel era ou não contitular de uma conta
bancária destinada a depositar as verbas geradas pelo “Sovela” e a pagar aos seus
credores.
No “Sovela” o depoente recolhia a informação e programava as notícias que
iriam ser tratadas durante a semana, após o que dava instruções ao jornalista do
“Sovela” para durante a semana em causa dar seguimento a essas notícias. Dava
também apoio na elaboração de notícias mais complexas.
Não fazia a paginação.
Pontualmente fazia entrevistas a membros do PS.
Elaborava textos no Gabinete de Imprensa da CMF para o “Sovela”. Às vezes
passava pela redacção do jornal. Recorda-se que inicialmente a redacção do “Sovela”
não tinha condições para que ali se pudesse processar o texto, usando por isso os meios
de que dispunha no Gabinete de Imprensa da CMF (ou melhor, do Gabinete de
Comunicação e Imagem da CMF).
No Gabinete de Comunicação e Imagem da CMF fazia o tratamento em termos
de imagem da publicidade da CMF e que era encaminhada para a comunicação social.
A digitalização de imagens para o “Sovela” era também feita no Gabinete de
Imprensa da CMF, bem como a paginação (elaborada pela testemunha Pimentel).
Acha que a arguida Fátima tinha conhecimento de tudo o que se passava na
CMF.
Presume que ela sabia que o depoente elaborava textos e digitalizava imagens
para o “Sovela” no Gabinete de Imprensa (tem quase a certeza desse facto).
Em todo o caso, estava no ADN da arguida Fátima Felgueiras controlar tudo de
perto.
*
O arguido Horácio Costa referiu então que quando a testemunha Pimentel
iniciou funções no “Sovela” (Maio de 1998) o depoente ainda não fazia parte da
direcção da ADEC, o que só veio a suceder em Novembro de 1998 (como secretário),
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Análise crítica
Sobre esta matéria assume alguma relevância o relatório da IGAT de fls 3165 e
ss. dos autos (cfr. fls 40 e ss. de tal relatório), bem como o depoimento de quem o
elaborou (testemunhas Luís Maia e Silvino Perdigão), em conjugação com os
documentos que acima são referenciados a propósito de tais depoimentos.
Além do mais, nesse relatório, foi abordada a questão da incompatibilidade de
funções exercidas simultaneamente pela testemunha Pimentel na CMF e no “Sovela”,
matéria que aqui só reflexamente poderá ter algum interesse.
Mais importante foi análise, do ponto de vista procedimentar, no que respeita à
publicação de publicidade pela CMF nos jornais locais, tendo-se detectado deficiências
ao nível da fundamentação das respectivas decisões, afigurando-se insuficiente, a quem
levou a cabo a acção inspectiva ao município felgueirense, a fundamentação genérica
contida no despacho proferido pela arguida Fátima a 17.10.96.
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2º Juízo
Esta questão, porém, só reflexamente poderá ter interesse para o que agora nos
ocupa.
Bem mais importante, acerca desta matéria, é o relatório da IGAT de fls 3 e ss.
do apenso 139-A, bem como o depoimento de quem o elaborou (testemunhas Fernandes
Pêga e Vitor Pinto).
Esse documento, como é bom de ver, consubstancia-se em prova documental
que pode ser valorada livremente pelo Tribunal (cfr. artº 127º, do CPP).
Porém, desde logo se coloca o problema de se saber se o Tribunal poderá valorar
os depoimentos dos (aqui) arguidos Bragança e António Mesquita de Carvalho,
depoimentos esses que foram tomados no âmbito daquela acção inspectiva pelos Srs
inspectores da IGAT, tendo presente que esse organismo não é um órgão de polícia
criminal.
É que, não obstante esse relatório constituir prova documental, além do mais, as
conclusões nele vertidas fundam-se em parte em depoimentos tomados no âmbito da
respectiva acção inspectiva.
Nos termos do artº 355º, nº 1, do CPP, “Não valem em julgamento,
nomeadamente para o efeito de formação da convicção do Tribunal, quaisquer provas
que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência”, isto é, provas não
submetidas ao contraditório na audiência de julgamento.
Ressalvam-se as provas contidas em actos processuais cuja leitura seja permitida
em audiência de julgamento (cfr. nº 2, do artº 355º, do CPP).
Ora, está vedado ao Tribunal, designadamente, valorar os autos que contenham
declarações de testemunhas ou de arguidos, tomadas no inquérito ou na instrução (cfr.
artº 356º, nº 1, al.b), do CPP), sendo certo porém que, neste último caso, essas
declarações poderão ser valoradas se o respectivo auto puder ser lido nas condições
previstas no nº 3, als. a) a c), do artº 356º, do CPP (não se cura aqui da hipótese contida
no nº 4, do mesmo artigo), no caso das testemunhas, ou nas condições contidas no artº
artº 357º, nº 1, als a) e b), do mesmo diploma legal, no caso dos arguidos.
Pergunta-se: as declarações produzidas em outros processos, de natureza
diversa, vertidas em auto, poderão ser valoradas, ainda que sob a capa da prova
documental?
Sucede que as declarações tomadas a testemunhas no âmbito da respectiva acção
inspectiva foram apenas conduzidas pelos Srs inspectores sem qualquer contraditório.
Por outro lado, o estatuto de quem foi ouvido nessse processo inspectivo era o
de testemunha, com a inerente obrigação de depôr e de o fazer com verdade.
Os arguidos António Mesquita Pereira de Carvalho e António José Leite
Bragança da Cunha foram ali ouvidos na qualidade de testemunhas.
Nestes autos eles têm o estatuto de arguidos, não tendo por isso qualquer
obrigação de colaboração com a Justiça, isto é, de contribuir para a descoberta da
verdade material, podendo mesmo remeter-se ao silêncio, o que aliás fizeram.
Tendo-se remetido ao silêncio, seria estranho que o Tribunal pudesse valorar as
respectivas declarações – que estão vertidas em auto no processo inspectivo e
referenciadas no relatório mencionado -, declarações essas que nem sequer foram
proferidas no âmbito destes autos e foram-no numa altura em que os ditos arguidos
tinham outro estatuto.
Conclui-se portanto que o Tribunal não pode valorar os respectivos autos de
inquirição em tal processo inspectivo ao município de Felgueiras (bem como as
conclusões que, vertidas no relatório de fls 3 e ss. do apenso 139-A, se fundem
exclusivamente em tais declarações), sob pena de se postergar o direito ao silêncio dos
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2º Juízo
arguidos António e Bragança, direito processual esse que eles legitimamente exerceram,
designadamente, na audiência de julgamento.
Trata-se pois de uma proibição de valoração de prova semelhante à contida no
artº 356º, nº 1, al. b), do CPP, a contrario, pois a razão de ser é idêntica.
De resto, remetendo-se o arguido ao silêncio no julgamento, ele não poderá ser
confrontado, em circunstância alguma, com declarações prestadas quer na fase de
inquérito quer na fase de instrução.
Se assim é relativamente a declarações prestadas no âmbito do processo-crime
respectivo, assim deverá ser em relação a declarações prestadas no âmbito de outro
processo, ainda que de outra natureza (como por exemplo depoimentos de parte em
acções de natureza cível, depoimentos prestados enquanto testemunha em acções
inspectivas ou em processos disciplinares).
Porém, não sendo a IGAT um órgão de polícia criminal, pergunta-se: os Srs
inspectores não poderão ser inquiridos acerca do conteúdo dessas mesmas declarações?
Poder-se-á sustentar que sim, em face do disposto no artº 356º, nº 7, do CPP, a
contrario sensu.
Nesta hipótese, o Tribunal estaria apenas a valorar prova testemunhal, produzida
acerca de declarações prestadas perante essas mesmas testemunhas.
Porém, a situação em causa não é similar àquela em que alguém é ouvido como
testemunha acerca de afirmações produzidas, por exemplo, por algum dos arguidos, em
qualquer dos casos em contexto informal e sem que sobre este penda qualquer
obrigação de as produzir.
Nessa hipótese, as declarações ouvidas sê-lo-iam em contexto informal e a
pessoa que as proferiu fê-lo de livre vontade, sem que para tanto estivesse obrigada.
Nesse caso, seria lícita a inquirição de testemunha que tenha ouvido tais
declarações, desde que não seja órgão de polícia criminal, depoimento esse que assim
poderia ser valorado (cfr. artº 356º, nº 7, a contrario sensu, do CPP) e, ainda assim, nas
circunstâncias previstas no artº 129º, nº 1, do CPP.
Só nessa hipótese admitiriamos a valoração de prova testemunhal acerca do
conteúdo de tais declarações informais (produzidas por quem nestes autos assume a
qualidade de arguido).
Ora, não é exactamente esse o caso em apreço.
Os arguidos António e Bragança, enquanto testemunhas nesse processo
inspectivo, tinham a obrigação de depôr e de o fazer com verdade, conforme já se disse.
E, inexistindo liberdade de recusa de depoimento enquanto testemunhas nesse
processo inspectivo e assumindo agora, nestes autos, os ditos António e Bragança, o
estatuto de arguidos, remetendo-se os mesmos ao silêncio, a valoração daquela prova
testemunhal (tomada acerca do conteúdo das afirmações produzidas por eles na acção
inspectiva), teria como consequência a postergação desse direito ao silêncio, fazendo-se
entrar pela janela o que a lei pretende que entre pela porta.
De facto, além do mais, seria estranho que a lei fosse mais exigente
relativamente à valoração no julgamento de provas produzidas no âmbito do respectivo
processo-crime e que igual exigência, por identidade de razão, não fosse tomada em
consideração relativamente a provas produzidas no âmbito de outros processos, ainda
que de natureza diversa.
Dito de outro modo:
- choca a nossa sensibilidade jurídica que um arguido legitimamente se remeta
ao silêncio mas que o Tribunal possa valorar as declarações por ele prestadas em outros
processos, ainda que de diferente natureza, enquanto sujeito processual ou interveniente
acidental (desde que essas declarações estejam vertidas em auto), ou que sobre o
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fls 3 e ss. do apenso 139-A, mais concretamente fls 27 desse apenso, correspondente à
pág. 14 do mesmo relatório, e ainda a relação dos pagamentos efectuados ao “Sovela”,
constante de fls 153 e ss. do apenso 139-A);
tem alguma consistência a suspeita de que, na verdade, pelo menos aqui e acolá,
procurou-se beneficiar o “Sovela” em detrimento dos demais jornais locais.
Isso, porém, não basta para que o Tribunal dê como assente a totalidade da
factualidade alegada na pronúncia a esse propósito.
Na verdade, dos elementos de prova produzidos resultam indícios algo
contraditórios.
É que, pese embora o acima referido quanto às várias circunstâncias que de
alguma forma apontam no sentido da factualidade descrita na pronúncia (embora com
uma extensão muito menor), o certo é que o “Sovela”, pelo menos na esmagadora
maioria dos casos, fazia o preço mais barato (cfr. as tabelas de preços de fls 174, 176,
177, 181, 183, 184 a 191, do apenso 139-A; cfr. ainda fls 304 e ss. do apenso 139-D),
pois a generalidade das publicações era efecuada a preto e branco em ¼ de página.
É certo que a concorrência era à partida desleal, pois elementos da CMF
(testemunhas Vítor Sousa e Pimentel), que simultaneamente exerciam funções no
“Sovela” (cfr., por exemplo, o contrato de avença de fls 96 do apenso 139-A, respeitante
à testemunha Pimentel, e a acta nº 18, cuja cópia se acha a fls 97 do apenso 139-A,
respeitante à sua nomeação para director do “Sovela”), dispunham de informação
privilegiada acerca dos preços praticados pela concorrência e das necessidades de
publicitação por banda da CMF.
Ser-lhes-ia pois muito fácil adequar os preços praticados pelo “Sovela” em
função dos preços praticados pela concorrência e também ser-lhes-ia mais fácil a
angariação de publicidade junto dos serviços municipais.
Neste sentido apontam as regras da experiência comum.
Seja como for, como se disse, o “Sovela” fazia o preço mais barato nas
publicitações em ¼ de página a preto e branco (a esmagadora maioria dos anúncios e
demais publicidade era publicitada neste formato), mas era o mais caro nas contracapas,
na meia página e na página; o “Semanário de Felgueiras”, por seu turno, era o mais caro
no ¼ de página.
Por vezes os preços cobrados não coincidiam com o que constava da tabela de
preços, ao que tudo indica porquanto a publicitação não se enquadrou em qualquer um
dos formatos previstos nas tabelas (por exemplo, um pouco mais que ¼ de página ou
um pouco menos que meia página), sendo então o preço cobrado ajustado em função da
dimensão da publicação (cfr. por ex. o depoimento da testemunha Pimentel Silva em
conjugação com o documento de fls 454 do apenso 139-C).
Mais difícil porém se torna a imputação dessa conduta - a dar-se de facto como
provada (e que visava o benefício do “Sovela” em detrimento de outros jornais locais,
pelo menos em situações pontuais) - a um concreto sujeito, quando é certo que o
Tribunal, pelas razões já referidas, não valora as declarações proferidas pelo arguido
Bragança no âmbito da acção inspectiva levada a cabo pela IGAT e que deu origem ao
relatório de fls 3 e ss. do apenso 139-A.
Na verdade, os potenciais suspeitos são vários, a começar pela arguida Fátima, a
passar pelo arguido António Mesquita de Carvalho e a terminar na testemunha António
Pimentel Silva (cujo pagamento da respectiva remuneração pelo exercício das funções
de director do “Sovela” passavam pela saúde financeira desse semanário, para além de
que, conforme disse, a conta do “Sovela”, de que ele era contitular com a testemunha
Edgar, estava a descoberto).
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Ora, tal facto poderá causar alguma estranheza, já que, sendo a testemunha em
causa elemento do Gabinete de Imprensa, reunindo assim com a presidente da edilidade
– que controlava o que era publicado no “Sovela”, abordando com ele questões de
ordem editorial (cfr. o depoimento das testemunhas Pimentel e Vítor Sousa) – poder-se-
á argumentar que não teria qualquer lógica a circunstância de ter sido o arguido António
a correia de transmissão dessas ordens verbais da arguida Fátima Felgueiras e muito
menos relativas à publicitação de eventos que nada tinham a ver com os seus pelouros,
quando é certo que o arguido António, à data, nem sequer era o vice-presidente da
autarquia.
Além disso, com conhecimento de causa, a testemunha Vítor Sousa referiu a
conotação política dos jornais “O Sovela” e “Semanário de Felgueiras”; referiu as
dificuldades financeiras do “Sovela”; que era a testemunha Pimentel, articulado com os
funcionários camarários, quem tratava dos assuntos relacionados com a publicidade de
eventos; que a partir de determinada altura verificou que era publicada muito mais
publicidade de eventos da CMF no “Sovela” relativamente a outros jornais (facto que se
prende com uma sugestão da testemunha Pimentel à arguida Fátima de maior
publicação de publicidade dos eventos da CMF ou patrocinados por ela e com o facto
do “Sovela” ser o “órgão oficial da CMF”, isto é, de quem estava no poder, tanto assim
que era na CMF que parte do trabalho para o “Sovela” era feito).
Ora, tudo isto parece tornar credível o facto relatado pela testemunha Pimentel –
de forma pouco linear no julgamento e de forma mais assertiva na instrução – de que
recebeu instruções verbais no sentido da publicação de eventos se fazer no “Sovela” ou
de não se fazer no “Semanário de Felgueiras” (a despeito de despachos de sentido
diverso).
Tendo sido a testemunha Pimentel quem tratava dessa publicidade de eventos, à
partida seria ela quem estaria em melhores condições para, com fundada razão de
ciência, relatar ao Tribunal o que de facto se passou a esse propósito.
Porém, a testemunha Vítor Sousa, na fase de instrução, grosso modo confirmou
o facto alegado na contestação do arguido António Carvalho, de que a testemunha
Pimentel manifestava vaidade pelo cargo que ocupava no “Sovela”.
Não o referiu porém no julgamento (manifestando aliás que presumia que a
testemunha Pimentel tenha exercido esse cargo desagradado), razão pela qual,
confrontado com essas declarações prestadas na instrução, atribuiu-lhes mais
fidedignidade alegando que então tinha a memória mais fresca.
É claro que esta explicação não nos convenceu, já que o facto em causa não se
trata de um simples pormenor ou uma data que facilmente se possa esquecer.
Consequentemente, acerca desse facto, ficou o Tribunal convencido da versão
apresentada por ele na fase de instrução.
Ademais, de algum modo, das declarações prestadas pela mesma testemunha
perante a JIC, a fls 7779, quinto e último parágrafos, emerge que a testemunha Pimentel
teria interesse na visibilidade e rentabilidade do “Sovela” (note-se que ele auferia uma
remuneração, conforme o assegurou o arguido Horácio, e era contitular da conta desse
jornal, a qual estaria a descoberto, segundo o próprio) e que, depois de receber as ordens
escritas do arguido António Pereira, decidia onde eram efectuadas as publicações.
A testemunha Vítor Sousa foi confrontado com essas declarações prestadas na
fase de instrução, vertidas nos quinto e último parágrafos de fls 7779, sendo certo que
nos pareceu estranho que acerca da factualidade em causa a mesma tenha agora alegado
esquecimento para depois reiterar o que aí tinha dito por na altura ter a memória mais
fresca, quando é certo que essas mesmas declarações foram proferidas em Janeiro de
2005 e versaram sobre factos que, a terem ocorrido, não poderiam ter sido esquecidos.
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2º Juízo
testemunha Pimentel se tenha devido à razão alegada), 53º, 54º e 55º, bem como a
matéria alegada pela arguida Fátima Felgueiras na sua contestação nos artgs 72º e 73º.
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2º Juízo
não saber se essa operação ficou registada num documento, onde consta falsamente que
o telemóvel foi montado noutra viatura.
*
A propósito das declarações da testemunha José Maria Mendes de Castro referiu
a arguida Fátima Felgueiras que ele foi funcionário da CMF e aposentou-se pouco
antes da depoente assumir a presidência da CMF, tendo também exercido as funções de
motorista.
Nunca tratou com ele de qualquer assunto relacionado com a matéria sobre a
qual versou a sua inquirição, estranhando por isso que ele tenha algum conhecimento de
causa acerca da mesma.
*
Entretando, a testemunha José Maria Mendes de Castro foi confrontada com
os documentos de fls 5948 (factura de instalação de um telemóvel numa carrinha da
CMF, da marca “Pegeot”, matrícula NO-55-23) e 5949 (guia de remessa), confirmando
apenas que a CMF era proprietária de uma carrinha com essa matrícula, não garantindo
que em tal viatura alguma vez tenha instalado um telemóvel, mas tem a ideia desse
facto.
Explicou que recolhia as facturas de quem reparava as viaturas camarárias e que
confirmava se o serviço havia sido de facto efectuado de acordo com essas facturas.
Assim, verificava tais documentos, visava-os e entregava-os ao Eng. Leite, de
quem recebia ordens.
Constatou-se que não visou o documento de fls 5948 e 5949, a propósito do que
referiu não saber se à data ainda era funcionário da CMF (isto é, em Outubro de 1996).
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2º Juízo
De facto, quando estacionou o “BX” atrás da CMF, quer o Sr. Pinto quer o João
Felgueiras estavam presentes.
A testemunha Pinto assistiu pois à retirada dos pertences da arguida Fátima
Felgueiras, bem como assistiu o João Felgueiras a retirar o auscultador do telemóvel
nele instalado.
Além disso, negou alguma vez ter entrado na CMF com um saco contendo um
telemóvel portátil.
*
A testemunha Manuel Ferreira Pinto referiu que se recorda de ir com um
mecânico à garagem onde o “BX” estava estacionado para o pôr a trabalhar, mas
reafirmou não ter assistido à entrega dessa viatura à testemunha Sampaio.
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2º Juízo
Oliveira (à data era amigo pessoal dele há já 5 anos) a dar-lhe conta do sucedido e ele
mostrou-se surpreendido pelo negócio (tendo-lhe dito que a arguida Fátima não tinha
nada que vender essa viatura), acrescentando que a mesma valia mais 100.000$00.
Demonstrou ainda ignorar que ela tivesse adquirido um “Audi A4”, segundo lhe disse
na altura ao telefone.
Tem a ideia que o arguido Horácio Costa também falou com a arguida Fátima ao
telefone acerca do telemóvel “AEG” (ouviu-o perguntar “e o telefone?”), mas depois
deixou de perceber o que ele dizia.
Aquando da dita aquisição recorda-se de ter aparecido o João (filho da arguida
Fátima e da testemunha Sousa Oliveira) e que inclusive ajudou a retirar os objectos
pessoais da mãe. A este respeito não se recorda de qualquer episódio em particular
(assegurou que não chegou a ver o auscultador do telemóvel). O filho da arguida Fátima
só apareceu quando o negócio já estava concretizado.
Em sede de reinquirição afirmou porém que os objectos retirados foram
colocados num saco plástico, que entregou ao arguido Horácio, o qual estava
acompanhado do filho da arguida Fátima (João Felgueiras), sendo certo que este não
tirou o auscultador da viatura.
Assim, o depoente apenas ficou com o kit de instalação do telemóvel, pois para
o retirar era necessária ferramenta.
Entregou então ao arguido Horácio o cheque de 400 cts por si emitido e foi-se
embora com a viatura “BX”.
O depoente manteve a viatura “BX” até Junho de 2001, altura em que o vendeu
(tinha a intenção de oferecer essa viatura à sua irmã, mas como era muito grande ela não
quis ficar com ele).
Durante esse período o telemóvel (ou melhor, o que restava dele) manteve-se
nessa viatura sem que ninguém lho tivesse pedido. O depoente, nesse período de tempo,
nunca ia à mala dessa viatura.
Chegou a emprestar a viatura “BX” durante uma semana à testemunha Sousa
Oliveira.
*
O arguido Horácio Costa referiu que quando falou à testemunha Sampaio da
possível aquisição da viatura foi em Junho/princípios de Julho de 1998 e não em
Setembro de 1998.
*
A testemunha Fernando Pereira Sampaio referiu então que a data da aquisição
da viatura coincide com a data do cheque que emitiu, sendo certo que o recibo do
seguro é posterior (data de Setembro). Pensa pois que foi em Julho que comprou a
viatura.
*
O arguido Horácio Costa manifestou estar espantado com as declarações
prestadas pela testemunha Fernando Sampaio em sede de reinquirição, reafirmando a
sua versão dos factos no que se refere ao telemóvel que estava instalado na viatura
“BX”.
Acrescentou que na altura em que se prestava para entregar o carro à dita
testemunha telefonou à arguida Fátima e que esta, a propósito do telemóvel em causa,
disse-lhe para o deixar ir na medida em que estava em desuso, tendo dito o mesmo em
relação ao rádio.
Os objectos pessoais retirados do “BX” reportaram-se apenas a uns óculos,
cassetes e material de propaganda.
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2º Juízo
em Setembro de 1998 (logo, já depois da venda da viatura é que esses objectos lhe
foram entregues).
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2º Juízo
Análise crítica
A matéria contida nos primeiros três parágrafos de fls 156 do despacho de
pronúncia emerge da cota de fls 5844 e 5845 e dos documentos que se lhe seguem (em
especial os documentos de fls 5865 a 6875, do 23º volume dos autos; cfr. ainda os
documentos de fls 5908 a 5915, 5948 e 5959 do 24º volume dos autos), em conjugação
com o teor dos depoimentos dos inspectores da PJ ouvidos.
Não nos custa acreditar que à data, existindo apenas uma viatura para o serviço
da presidência e da vereação (sobre este ponto a prova testemunhal revelou-se pacífica),
a arguida Fátima tenha usado a sua viatura particular em deslocações de serviço –
conforme referiu - e que tenha sido por esse facto que mandou instalar na sua viatura
particular (“Citroën BX”) o telemóvel “AEG” referido nos autos.
A testemunha Pinto, motorista da CMF, confirmou a perda total do veículo
“Volvo” referenciado, facto que aliás ficou bem marcado na sua memória, tanto mais
que o acidente ocorreu em Lisboa no dia 19.03.96, “dia do pai”, e era essa testemunha
quem o conduzia.
Em face do teor da cota de fls 5844 e 5845, quando a PJ se deslocou aos
Serviços Operativos da CMF, em Novembro de 2003, encontrou o telemóvel da marca
“AEG” referido nos autos, tendo-o aliás identificado.
De acordo com a informação de fls 5978, de 05.01.2004, esse telemóvel estava
desactivado e foi entregue no armazém da CMF por determinação da presidência.
Essa informação foi elaborada pela testemunha Adelino Leite (chefe da Divisão
de Apoio Operativo), o qual exibiu na audiência de julgamento o equipamento em
causa, esclarecendo que o recebeu do GAPP em Setembro de 1998 dentro de um saco
plástico (só o encaixe não lhe foi entregue, encaixe esse que permaneceu na viatura,
conforme se constacta nas fotos de fls 5957 e ss.; cfr. ainda a cota de fls 5955 e 5956).
Pese embora não tenha deposto de uma forma que nos tenha parecido totalmente
isenta, a testemunha Fernando Sampaio, pessoa que em meados de 1998 adquiriu a
viatura “BX” à arguida Fátima, por intermédio do arguido Horácio Costa, referiu que o
telemóvel foi retirado com excepção do encaixe, pois não tinham ferramenta para o
efeito.
Por seu turno, o arguido Horácio Costa assegurou que esse telemóvel não foi
retirado aquando da entrega da viatura (relatando até que o filho da arguida Fátima ficou
com os respectivos auscultadores), facto que foi negado pela arguida Fátima e não foi
confirmado quer pela testemunha Sampaio quer pelo motorista da CMF, Sr. Pinto,
pessoa que, segundo o arguido Horácio, terá presenciado esse facto.
Por outro lado, emerge do depoimento das testemunhas Fernando Sampaio e
Sousa Oliveira que aquele terá emprestado tal viatura a este, em Setembro de 1998, já
depois de concretizado o dito negócio de compra e venda do “BX”, assegurando o ex-
marido da arguida Fátima que nessa altura o automóvel não dispunha daquele telemóvel
“AEG” (quer a parte dos auscultadores que se encontravam na consola central do
tabelier, quer a caixa montada na mala, já que que se encontravam apenas montados os
respectivos suportes), facto confirmado pela testemunha António Celestino Magalhães
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2º Juízo
da Silva, a quem o dito Sousa Oliveira terá dado boleia em certa ocasião (depois das
férias judiciais de Verão, em Setembro de 1998).
Os suportes foram aliás retirados pela PJ e encaixam perfeitamente no
equipamento exibido na audiência de julgamento pela testemunha Leite, conforme se
constactou.
Ora, independentemente da credibilidade que nos merecem alguns dos
depoimentos prestados (designadamente os depoimentos prestados pelas testemunhas
Fernando Sampaio e Adelino Leite; pena foi aliás que não tivesssemos tido a
possibilidade – por impedimento legal - de confrontar essas testemunhas com as
declarações que prestaram na fase de inquérito!), no sentido da matéria constante da
pronúncia apenas temos o depoimento do arguido Horácio, o qual porém não é
corroborado por qualquer outro meio de prova no que ao busilis da questão concerne,
sendo certo que, em todo o caso, o equipamento em causa encontra-se na posse da
CMF.
Consequentemente, não se provou que a arguida Fátima se tenha apropriado de
tal equipamento ou que tivesse agido com qualquer intenção apropriativa.
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2º Juízo
Resulta dos bilhetes que no dia 18.08.97, pelas 17.00 horas, ocorreu a partida e
que pela 01.00 hora do dia 18.08.97 ocorreu o regresso a Portugal.
No dia 14.08.97, pelas 13 horas, partiram do Sal para São Vicente, tendo
regressado ao Sal a 17.08.97 pelas 9.10 horas.
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2º Juízo
nem prática habitual na sua agência de viagens. Não tem conhecimento aliás de
qualquer situação do género na sua empresa.
À pergunta efectuada no sentido de saber se a factura seria emitida dessa forma
se se tratasse de uma viagem de grupo, referiu que normalmente na factura referir-se-ia
ao número de pessoas que viajaram e ao respectivo nome.
Explicou que o pagamento do alojamento foi oferecido pelos presidentes das
Câmaras Municipais do Sal e de S. Vicente, daí que só tenham sido pagas as passagens
mais os transferes.
Confrontado com o documento de fls 314, constatou-se que o pagamento foi
efectuado em Março de 1998.
O arguido Joaquim Freitas é seu cliente há muitos anos.
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2º Juízo
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2º Juízo
Análise crítica
A suspeita de que a viagem a Cabo Verde serviu, além do mais, para que a
arguida Fátima e os seus filhos Sandra e João ali se tenham deslocado em férias pagas
pela CMF (cfr. os documentos acima referenciados quanto às passagens aéreas e
transferes, à factura emitida pela “Navitur” e ao pagamento pela CMF, constantes de fls
308 a 310, 311, 312, 313 e 314), resulta, em síntese, para além de uma denúncia
anónima, do facto de na CMF inexistir qualquer documento onde conste a composição
da comitida (ao contrário do que sucede por exemplo com a viagem a França, que mais
à frente irá ser objecto de análise), da arguida Fátima e os seus filhos terem despendido
mais tempo na ilha do Sal do que era suposto (atenta a razão de ser oficial da viagem),
de na factura emitida pela “Navitur” apenas constar o nome da arguida Fátima (não
aludindo à viagem dos seus filhos) e do teor das declarações prestadas pelo arguido
Joaquim Freitas.
Ora, conforme já vimos, as declarações deste último não poderão ser valoradas.
Por outro lado, tendo presente:
- a razão de ser das geminações, sendo certo que neste particular não parecem
existir diferenças assinaláveis entre as geminações com cidades dos países da União
Europeia e dos PALOPS (cfr. depoimentos da arguida Fátima e das testemunhas
Anabela Gonçalves, Mário Hermenegildo Almeida e Paulo Ramalheira Teixeira);
- a circunstância da viagem em causa se inserir num acordo de geminação com
S. Vicente (cfr. os depoimentos da arguida Fátima e da testemunha Anabela);
- de ser habitual as comitivas serem integradas pelos autarcas e cônjuges ou
familiares mais próximos (cfr. os depoimentos da arguida Fátima e das testemunhas
Anabela, Hermenegildo e Ramalheira);
- dessa viagem ter sido marcada à última da hora em plena época de Verão e de
em S. Vicente se celebrar o “Festival da Baía das Gatas”, o que torna complicada a
reserva das viagens e os transferes (razão que poderá explicar o tempo despendido pela
comitiva na ilha do Sal – cfr. o depoimento da arguida Fátima e da testemunha
Anabela);
existem pelo menos dúvidas acerca da matéria constante da pronúncia no que ao
seu núcleo essencial diz respeito, isto é, que a viagem em causa, além do mais, se tratou
de uma viagem de férias suportada pela CMF.
É certo que não se obteve qualquer explicação plausível para que na factura de
fls 311 apenas conste a viagem da arguida Fátima (embora com o valor global das três
viagens e transferes – cfr. o depoimento da testemunha Álvaro Lemos e da arguida
Fátima, no confronto com declarações por si prestadas na fase de instrução a esse
propósito), mas isso não é suficiente para que aquela factualidade se tenha por
demonstrada.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Introdução
Análise crítica
Acerca deste ponto da pronúncia, é relevante o relatório de fls 1503 e ss. dos
autos, elaborado pela testemunha Amadeu Magalhães.
No período indicado na parte introdutória a este capítulo, no que toca ao
reembolso de despesas com as viagens, os montantes pagos à arguida Fátima – pode ler-
se no dito relatório – ascendeu a 1.434.767$00.
Todas as viagens realizadas estão justificadas por notas de despesa e a maior
parte delas foi paga através de cartões de crédito ou de débito.
Em muitas delas (30) apenas aparecem os talões de pagamento referentes aos
cartões utilizados, inexistindo qualquer documento comprovativo das viagens
realizadas, não permitindo assim apurar quem de facto terá viajado (supostamente
deveria ser a arguida Fátima).
Ainda segundo o relatório de fls 1503 e ss., elaborado pela testemunha Amadeu
Magalhães, nos anos de 1997 a 1999, o montante global pago à arguida Fátima a título
de ajudas de custo acendeu a 1.220.846$00, sendo certo que em 2000 não lhe foram
pagas quaisquer ajudas de custo.
Ora, chama-se desde já à atenção para o facto de na pronúncia se alegar que no
período compreendido entre 1997 e 2000 a CMF pagou várias despesas à arguida
Fátima, relativas a despesas aéreas efectuadas pela própria ou por seus familiares e que
suportou despesas de alojamento que não eram devidas.
Sucede que, não obstante nos traçar um quadro reiterado de comportamento
daquela índole, o certo é que só estão expressas na mesma peça processual três
situações, tendo sido apenas sobre elas que a prova produzida na audiência de
julgamento incidiu (de facto, outras situações referenciadas no relatório de fls 1503 e ss.
não foram objecto de análise, tanto assim que sobre elas nenhuma questão foi colocada
e nenhum interveniente se pronunciou e sobre elas aliás não e funda o PIC deduzido).
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2º Juízo
Tal bastaria para que a factualidade alegada na parte introdutória se tenha por
confinada àquelas três situações, sendo certo que, alegadamente, duas das mesmas terão
ocorrido em 1997 e outra em 1999, o que, quanto a nós, afasta qualquer ideia de
reiteração bastante para que se tenha por preenchido um dos pressupostos legais do
crime continuado.
Quanto ao mais, remete-se para o que infra se irá expressar.
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2º Juízo
Em face disso, à primeira vista não lhe parece ser devido o pagamento das
ajudas de custo pela CMF.
Não se recorda se a arguida Fátima devolveu ou não alguma quantia (cfr., em
todo o caso, a guia de reposição de fls 3474, no valor de 83.130$00 em Agosto de
1999).
Análise crítica
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2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
Verificaram que o filho da arguida Fátima (João Felgueiras) viajou com ela, cujo
custo da viagem foi pago pela CMF.
A restante comitiva era integrada por elementos ligados à CMF.
Solicitaram à CMF a respectiva informação, tendo exarado na cota de fls 3358
as informações então prestadas pela testemunha Fernanda Leal.
Foi a “Agência de Viagens de Santa Quitéria” que organizou a viagem.
A requisição das passagens a 14.05.97 por essa agência consta de fls 437 do
apenso 7.
A factura emitida pela mesma agência reporta-se a 8 viagens Porto/Paris/Porto e
tem o valor global de 394.296$00 – cfr. doc. de fls 436 do apenso 7.
A fls 1549 do 7º volume consta o bilhete de avião respeitante a João Felgueiras
no montante de 49.287$00 (Porto/Paris/Porto, com partida no dia 16.05.97 e regresso no
dia 19.05.97).
A ordem de pagamento dessas viagens consta de fls 83 do apenso 10 (essa
ordem de pagamento tem o valor global de 752520$00, sendo certo que a verba nº 7
reporta-se à factura de fls 436 do apenso 7).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Análise crítica
Quanto ao espírito que preside à celebração de acordos de geminação e quanto à
composição das respectivas comitivas, remete-se para o que acima já se disse a
propósito do ponto 1 do 9º capítulo da pronúncia (chama-se, em todo o caso, à colacção,
os documentos juntos na 12ª sessão de julgamento, a fls 12036 e ss., bem como a razão
de ser da sua inclusão nos autos, conforme requerimento de fls 12061, requerimento
esse deferido na mesma sessão de julgamento; cfr. ainda o depoimento da testemunha
Engrácia Pereira).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Nessa medida, entendemos como boa a explicação dada pela arguida Fátima
Felgueiras para a inclusão do seu filho João na comitiva que se deslocou a Pont-Saint-
Mexence, em França, não obstante o teor da cota de fls 3358 do 14º volume.
Ao que parece, a testemunha Fernanda Leal terá questionado a testemunha
Anabela Gonçalves antes de prestar a informação a que se reporta a cota de fls 3358,
afigurando-se-nos algo estranho que, em face do depoimento da testemunha Anabela, a
testemunha Fernanda Leal não tenha esclarecido a PJ a que título é que o João
Felgueiras viajou integrado na referida comitiva.
De resto, a pessoa que na CMF estaria em melhores condições de explicar a
inclusão do João Felgueiras na comitiva seria a testemunha Anabela Gonçalves e não a
testemunha Fernanda Castro Leal, sendo certo que o nome do filho da arguida Fátima
consta da lista de pessoas que integraram a dita comitiva, lista essa remetida a Pont-
Saint-Mexence, conforme afirmado pela testemunha Anabela e emerge do documento
de fls 14174 e ss.
Sobre a matéria em causa versou ainda o relatório de fls 1503 e ss., elaborado
pela testemunha Amadeu Magalhães.
Foi a “Agência de Viagens de Santa Quitéria” que organizou a viagem em causa
e a requisição das passagens (a 14.05.97) por essa agência consta de fls 437 do apenso
7.
A factura emitida pela mesma agência reporta-se a 8 viagens Porto/Paris/Porto e
tem o valor global de 394.296$00 – cfr. doc. de fls 436 do apenso 7.
A fls 1549 do 7º volume consta o bilhete de avião respeitante a João Felgueiras
no montante de 49.287$00 (Porto/Paris/Porto, com partida no dia 16.05.97 e regresso no
dia 19.05.97).
A ordem de pagamento dessas viagens consta de fls 83 do apenso 10 (essa
ordem de pagamento tem o valor global de 752.520$00, sendo certo que a verba nº 7
reporta-se à factura de fls 436 do apenso 7).
Seja como for, parecendo-nos justificada a inclusão do João Felgueiras na
comitiva que viajou a França, não se vislumbra qualquer locuptamento da arguida
Fátima à custa da CMF.
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2º Juízo
Análise crítica
A propósito da matéria em causa assume relevância o relatório de fls 1503 e ss.,
bem como o depoimento de quem o elaborou (testemunha Amadeu Magalhães).
Desse documento e da documentação analisada (cfr. documentos de fls 48 e 49
a 49-C do apenso 9, os quais estavam anexados na CMF à ordem de pagamento de fls
45 do mesmo apenso 9; documento de fls 46 do apenso 9; bilhetes de fls 50 do apenso 9
e de fls 1650 dos autos; cfr. ainda as informações prestadas pela “Portugália” a fls 1597
a 1599 e 1648 a 1702), podemos retirar as seguintes conclusões:
- Pelas 10.44 horas do dia 15.09.97 a arguida Fátima liquidou com o seu cartão
de crédito o montante de 56.373$00 (cfr. documento de fls 48 do apenso 9);
- Ela, com esse pagamento, adquiriu um bilhete de avião Porto/Lisboa/Porto,
voo de ida das 11.15 horas do dia 15.09.97, no valor de 37.582$00, emitido em seu
nome (cfr. fls 50 do apenso 98 ou 1650 do 8º volume dos autos), e um bilhete de avião
para o mesmo voo Porto/Lisboa do dia 15.09.97, às 11.15 horas, emitido em nome de
Sandra Felgueiras, no montante de 18.791$00 (cfr. documento de fls 1650 dos autos);
- Naturalmente que, tendo sido feito o pagamento às 10.44 horas do dia
15.09.97, o documento de fls 48 do apenso 9 não se reporta ao pagamento do bilhete
Lisboa/Porto, voo das 18.05 horas, desse mesmo dia 15.09.97, emitido em nome da
arguida Fátima, atenta a explicação dada por ela para a sua aquisição;
- Dos documentos de fls 49-A e 49-C do apenso 9 pode concluir-se que a
arguida Fátima embarcou duas vezes em dois voos distintos (possivelmente de
companhias aéreas diferentes) de Lisboa para o Porto, no referido dia 15.09.97, já que
um embarque teve lugar às 18.10 horas e outro (voo da “Portugália”) às 18.15 horas;
- Consequentemente, ela adquiriu um outro bilhete de avião de Lisboa para o
Porto no mesmo dia, voo no qual terá viajado, não chegando assim a utilizar na
totalidade o bilhete de ida e volta que adquirira na manhã desse dia;
Emerge do acima referido que, como justificativo para a ordem de pagamento de
fls 45 do apenso 9, apenas foram apresentados pela arguida Fátima os documentos de fls
49-A a 49-C do apenso 9, bem como o talão comprovativo do pagamento da
importância da quantia global de 56.373$00 (cfr. fls 48 do apenso 9).
Ora, como com esse talão ela pagou a viagem da filha do Porto para Lisboa
(realizado no mesmo voo em que ela viajou para a capital), concluir-se-ia que a CMF,
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2º Juízo
liquidando esse montante, liquidou o bilhete que ela adquirira para a filha na mesma
ocasião.
Neste sentido apontam os depoimentos dos inspectores da PJ ouvidos e da
testemunha que elaborou o relatório de fls 1503 e ss.
É certo que na CMF não foi apresentado o bilhete de avião respeitante ao voo
Lisboa/Porto adquirido pela arguida Fátima quando regressou ao Porto, pelo que falta a
justificação para o pagamento de uma verba de 18.791$00.
O argumento invocado, segundo nos parece, tem uma natureza meramente
formal, pois não atende ao facto da arguida de facto ter despendido essa verba de
18.791$00 na viagem de regresso, para além do valor referente ao bilhete
Porto/Lisboa/Porto, no montante de 37.582$00.
É claro que arguida Fátima deveria ter também apresentado nos competentes
serviços camarários o comprovativo da aquisição do segundo bilhete relativo à viagem
Lisboa/Porto, com o qual justificaria o reembolso da dita verba de 18.791$00, para além
da verba de 37.582$00 (a qual está plenamente justificada).
Seja como for, ela foi integralmente reembolsada da quantia a que tinha na
verdade direito, isto é, 56.373$00, o que, a nosso ver, salvo melhor opinião, afasta
qualquer intenção de locuptamento.
É aliás por isso que nos parece credível que só por lapso a arguida Fárima não
entregou na CMF, para além dos documentos entregues, o comprovativo da aquisição
da viagem Lisboa/Porto, no valor de 18.791$00.
Introdução
Análise crítica
No despacho de pronúncia estão descritas de forma genérica situações de uso
indevido da viatura “BMW” referida nos autos (sendo certo que o uso de uma viatura
camarária pela presidente da edilidade por razões de serviço decorre da lei).
O certo porém é que, a propósito do uso de tal viatura, a prova produzida apenas
versou acerca das duas situações referidas no ponto 10.1. da pronúncia, pelo que,
naturalmente, a matéria dada como provada a propósito do ponto introdutório a este
capítulo reflecte isso mesmo.
Quanto à utilização do GAPP, remete-se para o que infra se dirá.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Nessa cidade viu o Sr. Pinto (motorista da CMF), o qual pernoitou em Lisboa.
Aliás, no processo constam os documentos comprovativos das despesas que ele
efectuou e cujos originais lhe foram entregues por ele. Esses documentos foram
entregues ao depoente porque pagou essas despesas com o dinheiro da “gaveta” (cfr.
documentos de fls 196, 197, 547 e 548).
Explicou que não lhe foram apresentadas despesas relacionadas com portagens
porque a viatura “BMW” tinha “via verde”, cujo pagamento era suportado pela CMF.
O Sr. Pinto dispunha de um fundo de maneio para algumas despesas. Ignora se
fez uso desse fundo nessa viagem a Lisboa.
A arguida Fátima foi também ao dito congresso e nele teve aliás intervenção.
Ignora de que modo ela se deslocou a Lisboa nem alguma vez lhe foi transmitido que
ela se tenha deslocado à capital para qualquer acto oficial relacionado com a CMF, para
além de participar no Congresso Nacional do PS.
Ora, a viatura só pôde ser usada à ida com autorização da arguida Fátima
Felgueiras, até porque certa vez o vereador Edgar Pinto da Silva lhe referiu que,
enquanto responsável pelo pelouro da educação, não tinha autorização da Fátima
Felgueiras para “pregar um prego numa escola” (a testemunha Edgar referiu não se
recordar desse desabafo mas admite tê-lo feito).
A arguida Fátima agia segundo o “quero, posso e mando”.
Quanto à viagem da arguida Fátima ao casamento de um dos filhos do Dr. Pais
Martins referiu ignorar a factualidade em causa.
Em todo o caso, à pergunta efectuada no sentido de se saber se tinha
conhecimento dela alguma vez ter sido convidada para casamentos enquanto presidente
da CMF, respondeu que tem a ideia de que ela chegou a ir ao casamento de um filho de
um presidente de uma Junta de Freguesia, mas acha que o convite foi efectuado a título
pessoal, já que os convites eram dirigidos para a sua residência e não para a CMF (neste
último caso entende que se os convites fossem dirigidos a ela na CMF deveriam estar
arquivados e com um carimbo de entrada aposto pela funcionária Maria Leonor Alves
da Costa). Aliás, até os postais de “Boas Festas” tinham registo de entrada. Porém,
quando as missivas tinham aposta a menção de “particular”, eram apenas distribuídas ao
respectivo destinatário sem qualquer registo de entrada.
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2º Juízo
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2º Juízo
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2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Sabe onde ele habita, onde aliás almoçou várias vezes com ele (acabou por
referir terem sido duas ou três vezes).
Reiterou não se recordar de lhe levar pastas com documentos à Sexta-feira, após
a ida dele para a Assembleia da República, mas acabou por referir achar natural que sim
(admitindo pois que tal possa ter sucedido esporadicamente, pese embore insista que
não se recorda desse facto, sendo certo que se tal tivesse sucedido com frequência
concerteza lembrar-se-ia).
No seu horário de trabalho chegou a conduzir o “BX” e o “Audi A4” da arguida
Fátima, quando ela usava essas viaturas em deslocações oficiais.
Levou também o filho dela ao colégio, em Amarante, o qual tinha aulas às 8.30
horas, conduzindo para o efeito a viatura particular dela (fê-lo pois fora do seu horário
de trabalho). Raras vezes o foi buscar ao colégio, às 18 ou 18.20 horas (o depoente saía
do trabalho às 17 horas).
*
Reafirmou o arguido Horácio Costa que no âmbito das entregas que a
testemunha Manuel Pinto fazia ao arguido Júlio Faria incluíam-se jornais locais, um
jornal do Vale do Sousa (pelo menos) e expediente. Esses documentos eram retirados
por ele de uma prateleira (no GAPP) especialmente destinada aos documentos para o
arguido Júlio, sem necessidade da testemunha Pinto receber qualquer indicação nesse
sentido, pois tratava-se já de uma rotina.
*
Em face destas declarações, a testemunha Manuel Pinto assegurou não saber de
qualquer prateleira onde eram depositados os documentos destinados ao arguido Júlio
Faria, admitindo apenas que uma vez ou outra lhe tenha entregue em casa documentos,
designadamente jornais, não podendo agora precisar se iam acondicionados em capas,
não se recordando mesmo se nessa altura ele ainda era o presidente da autarquia (ainda
hoje leva os jornais a casa da arguida Fátima Felgueiras) – cfr., em todo o caso, as
declarações prestadas pela testemunha José Júlio da Silva Pereira a este propósito (no
ponto 1.1. do 1º capítulo).
*
O arguido Júlio Faria, por sua vez, reafirmou que após ter cessado funções na
CMF sempre procurou sensibilizar tanto a CMF como as câmaras do Vale do Sousa
para certas questões relevantes para a região, visto que era deputado eleito pela região
do Vale do Sousa.
Nessa medida, algumas vezes entregaram-lhe informações incorporadas em
documentos, designadamente da CMF (um dos assuntos, por ex., era o do apoio
governamental para a remodelação do hospital).
Nesse âmbito, seguramente que a testemunha Manuel Pinto ou outro funcionário
camarário lhe entregaram documentos em sua casa.
Na maior parte das vezes nem sequer os recepcionava directamente, não se
recordando mesmo de ter recebido das mãos do Sr. Pinto qualquer documento (hipótese
que, em todo o caso, não descarta).
Isso também sucedeu quando, não sendo já deputado, era o presidente da
Assembleia Municipal de Felgueiras, de Janeiro de 2002 até Janeiro de 2003 (ao que
pensa).
*
Esclareceu então o arguido Horácio Costa que quando referiu que a testemunha
Pinto entregava documentos ao arguido Júlio Faria reportou-se em especial ao período
da campanha eleitoral referente às eleições autárquicas de 1997, bem como no período
em que o depoente esteve na CMF (entre 1996 e 1998).
638
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Acrescentou que o Sr. Pinto não cumpria um horário rígido de trabalho, sendo-
lhe por isso remuneradas muitas horas extraordinárias.
*
- Testemunha Armindo Álvaro Pimenta Brochado
Tendo integrado o GAPP desde Agosto de 1998 até 2005, com conhecimento de
causa, referiu que na altura os vereadores não tinham um veículo à disposição.
Mais tarde dispuseram de uma viatura oficial da vereação (não pode precisar
desde quando, mas tal só sucedeu quando a CMF adquiriu um “BMW”).
Quando foi adquirido o “BMW” essa viatura passou a ser usada nas deslocações
da arguida Fátima Felgueiras e o “Volvo” já existente passou a ser usado pelos
vereadores.
A testemunha Pinto era o motorista do veículo da presidência. O “Volvo” era
conduzido pelos próprios vereadores ou por um funcionário camarário (que não o Sr.
Pinto), inclusive por elementos da Polícia Municipal.
O Sr. Pinto era motorista da presidente mas admite que possa ter feito serviço
para os vereadores.
Presume que era a arguida Fátima quem dava as instruções acerca do uso do
“BMW”.
Quando ela estava ausente era talvez o vice-presidente da CMF (o arguido
António Pereira) quem dava instruções acerca do uso dessa viatura.
Julga que o GAPP não poderia dar instruções acerca da utilização dessa viatura à
revelia da arguida Fátima Felgueiras, mas acabou por referir não saber se os seus
superiores tinham autonomia nessa matéria, mas presume que não.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Referiu que em termos formais não havia poderes delegados pela presidente da
autarquia.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se sobre o uso do veículo “BMW”
tinham algum poder decisório referiu que o GAPP procurava coordenar o respectivo uso
com o motorista (a testemunha Pinto). Isto é, por vezes recebiam solicitações de
utilização desse veículo para deslocações (que não da arguida Fátima) e então
perguntavam ao Sr. Pinto se a satisfação dessa solicitação colidiria ou não com algum
serviço que ele tivesse de efectuar para a presidente da autarquia e, em caso, negativo,
ele fazia o dito serviço.
Por decisão do GAPP não poderiam determinar o uso da viatura em causa para
uma deslocação a Lisboa, pois o Sr. Pinto não faria esse serviço sem ordens expressas
da arguida Fátima Felgueiras.
Recorda-se que o Sr. Pinto transportou no “BMW” umas pessoas ao congresso
do PS em Lisboa (levou a testemunha Edgar e a Sãozinha Rocha, não se recordando se
o arguido Bragança viajou ou não com eles nessa viatura).
Reafirmou que o GAPP não poderia dar a ordem de utilização dessa viatura para
esse fim na medida em que Sr. Pinto a não acataria sem primeiro obter a anuência da
arguida Fátima Felgueiras.
Salientou que o GAPP não tinha qualquer poder hierárquico sobre o Sr. Pinto.
À pergunta efectuada no sentido de se saber se a arguida Fátima se deslocava
com frequência a Lisboa, referiu que ela teve várias audiências em ministérios e
secretarias de estado, sendo certo que se deslocava muitas vezes de avião à capital.
Durante as suas ausências acha que não era pedida autorização à arguida Fátima
para o uso da viatura “BMW”.
Recorda-se que na altura do congresso do PS em Lisboa ela não se encontrava
em Felgueiras.
Ignora quem autorizou o uso da viatura “BMW” para a deslocação a Lisboa,
sendo certo que a testemunha Edgar era o número dois e, nessa medida, não estranharia
que tivesse sido ele a dar essa autorização. Ele, aliás, deslocou-se a Lisboa nessa viatura
(o vice-presidente da autarquia era porém o arguido António).
O depoente abria o correio oficial dirigido, por exemplo, à presidente da CMF.
Às vezes recebiam correio particular dirigido à arguida Fátima Felgueiras e se
não tivessem indicações nesse sentido dela, não abriam tal correspondência e apenas a
colocavam no seu gabinete.
Essa operação tanto poderia ser feita pelo depoente como pelo arguido
Bragança.
As testemunhas Cândida e Armindo Brochado tinham funções mais
administrativas e não abriam correio.
Tem a ideia de ter aberto correspondência dirigida à arguida Fátima e respeitante
a convites para casamentos, sendo certo que ela recebia muitos convites para festas e
casamentos.
Recorda-se dela ter recebido um convite para um casamento em Lisboa (não se
recorda se foi o depoente ou o arguido Bragança a abrir a correspondência que nesse
sentido lhe foi enviada), proveniente de uma pessoa ligada ao Instituto Superior de
Ciências Educativas, convite esse que tem a ideia de ter visto, mas não se mostrou
muito assertivo neste ponto na medida em que a arguida Fátima recebe dezenas de
convites. Porém, como esse casamento iria realizar-se em Lisboa, recorda-se de se ter
falado desse evento no GAPP.
640
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
A viatura “BMW” referida nos autos, tanto quanto pôde perceber, destinava-se
ao uso exclusivo da arguida Fátima.
O respectivo motorista era a testemunha Manuel Ferreira Pinto.
Essa viatura foi usada numa deslocação a um congresso nacional do PS em
Lisboa durante um fim-de-semana.
O Sr. Pinto alojou-se então numa pensão de Lisboa (“Residencial Avenida”),
conforme emerge dos documentos de fls 547 a 549 do 3º volume.
A referida viatura dispunha de “via verde”.
Entende que o uso dessa viatura para a deslocação a um congresso de um partido
extravasa o âmbito do uso que deveria ser dado àquela viatura camarária.
641
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Se a arguida Fátima Felgueiras não fosse à data a presidente da CMF não seria
convidada para o casamento dos seus filhos, já que apenas existia um relacionamento
institucional com ela (assim como com os presidentes da Câmara Municipal de
Mangualde e Odivelas).
O convite para esses casamentos foram enviados para a CMF por escrito.
Análise crítica
Neste ponto estão descritas duas situações distintas referentes à utilização da
viatura “BMW”, propriedade da CMF, em duas deslocações que supostamente nada
teriam a ver com necessidades de deslocação em serviço para a CMF.
Começemos então pela deslocação ao Congresso Nacional do PS.
Dos depoimentos colhidos a propósito, poderemos assentar que a viatura
“BMW” era usada quase em exclusividade pela arguida Fátima nas suas deslocações de
serviço e só residualmente pelos vereadores e, ainda assim, só com autorização dela e
sobretudo na sua ausência (do cotejo das declarações prestadas pelo arguido Horácio e
pelas testemunhas Manuel Pinto, Edgar Silva, Armindo Brochado e José Júlio Pereira
parece resultar isso mesmo).
Assim, quanto à utilização desse veículo, em face daqueles depoimentos, nem se
convenceu o Tribunal que essa viatura poderia ser usada com frequência pelos
vereadores e pelos técnicos superiores da CMF, conforme parece emergir das
declarações da arguida Fátima, nem que a mesma era apenas usada em exclusividade
por esta, conforme referido pelo arguido Horácio (portanto, nem tanto ao mar nem tanto
à terra).
Em face da prova produzida, parece ser pacífico que, na véspera da partida para
Lisboa, a arguida Fátima ausentou-se para a capital (segundo ela, em serviço para a
CMF).
A generalidade das testemunhas que referiram esse facto não sabem ou não se
recordam do motivo pelo qual a arguida Fátima se deslocou a Lisboa na véspera.
Em todo o caso, não se vislumbra razão alguma para não tomar com verídica a
razão dessa deslocação segundo a versão da arguida Fátima Felgueiras.
Ora, tendo-se ela deslocado a Lisboa de véspera por motivos de serviço,
naturalmente que só poderia ser determinado por ela que a viatura “BMW”, conduzida
pela testemunha Pinto, deveria deslocar-se a Lisboa para a trazer de volta a Felgueiras
(cfr. o depoimento da testemunha José Júlio da Silva Pereira, o nº 2 de então do GAPP).
É que, a não ser assim, a testemunha Pinto não acataria a ordem de deslocação a
Lisboa.
É certo que a testemunha Pinto referiu que recebeu a ordem respectiva do
GAPP, mas naturalmente que a não acataria se não tivesse o aval da arguida Fátima,
conforme afirmado com credibilidade pela testemunha José Pereira.
A testemunha Pinto, diga-se, segundo nos pareceu, não foi totalmente isenta no
seu depoimento, pois procurou aqui e acolá puxar a brasa à sardinha da arguida
Fátima, procurando diluir a responsabilidade pela decisão de uso da viatura num
gabinete e não numa pessoa concreta, gabinete esse que dependia directamente da
presidente da edilidade e os respectivos elementos dependiam da confiança política
neles depositada por uma pessoa que era centralizadora, pois isso estava-lhe no ADN.
Note-se que a viagem em causa é longa, daí que não seja crível que a decisão de
utilização dessa viatura fosse tomada à revelia da “Srª Presidente”, a tal pessoa de feitio
centralizador.
Consequentemente, já se saberia de véspera que a viatura da CMF iria deslocar-
se a Lisboa por determinação da arguida Fátima.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Ao permitir o uso de tal viatura camarária para fins que nada tinham a ver com
razões de serviço da CMF, ela não podia deixar de saber que tal actuação não lhe era
permitida por lei.
Já no que concerne ao uso da dita viatura camarária numa deslocação à zona de
Lisboa a fim da arguida Fátima Felgueiras participar na cerimónia de casamento de um
dos filhos do Dr. Pais Martins, ficou demonstrado que essa viagem foi oficial, na
medida em que a arguida Fátima apenas recebeu o respectivo convite por ser presidente
da CMF e não porque mantinha com os pais do noivo uma relação de amizade.
Com assertividade foi explicado em que contexto surgiu o convite e qual a sua
razão de ser (cfr. os depoimentos da arguida Fátima Felgueiras e sobretudo da
testemunha Isabel Martins, viúva do dito Pais Martins, entretanto falecido).
644
Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Explicou ainda que o Prof. Bragança foi afastado do GAPP por quebra de
confiança política e que foi retirada a memória do computador desse gabinete antes dos
arguidos Bragança e Horácio Costa terem retirado das instalações camarárias tal
equipamento (que mais tarde devolveram).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
Na sede local do PS existiam três salas, uma delas de acesso mais restrito,
ignorando se a mesma já dispunha de computador.
O pagamento das quotas pelos militantes era tratado pelo secretário-coordenador
do PS de Felgueiras (arguido Bragança), ignorando em que local ele tratava desses
assuntos.
Seja como for, nunca presenciou qualquer militante a pagar quotas no GAPP.
À pergunta efectuada se na CMF não se tratavam de assuntos relacionados com
o FCF referiu que ali se tratavam de assuntos relacionados com as diversas entidades do
concelho.
Em todo o caso, não se recorda de no GAPP se tratar de assuntos relacionados
com a angariação de fundos para o FCF.
Confrontado com o documento de fls 403 a 411 do apenso 15 (documento
recolhido no GAPP e referente a um mapa de recolha de fundos para o FCF, onde se
alude a contactos efectuados na CMF), referiu que tem a assinatura da testemunha Júlio
Pereira.
Ignora se no GAPP existia ou não algum dossier relativo ao FCF.
Confrontado com o documento de fls 440 do apenso 15 (missiva datada de
19.11.98, dirigida aos empresários no sentido de os convidar para um café no gabinete
da presidente com vista à angariação de fundos, documento esse feito em papel do
GAPP), confirmou que o logotipo aposto no papel alusivo ao GAPP era o que na altura
estava em uso.
Foi confrontado com o manuscrito da arguida Fátima, constante de fls 456 do
apenso 15, dirigido ao GAPP (dando instruções referentes à angariação de fundos para o
FCF, designadamente a elaboração do ofício de fls 440 do apenso 15, dirigido a vários
industriais).
Foi ainda confrontado com o documento de fls 466 do apenso 15 (ofício
assinado pela arguida Fátima em papel timbrado do GAPP e dirigido à “Calzeus,
respeitante a um agradecimento pela contribuição para o FCF) e com o documento de
fls 476 do apenso 15 (documento igual mas dirigido à “CAC, Cunha Almeida e Cª,
Ldª”, também assinado pela arguida Fátima).
Já quanto ao documento de fls 186 a 189 (que se encontrava num dossier da
CMF e relativo ao FCF, reportando-se a uma relação entre empresas e donativos para
esse clube), assegurou nunca o ter visto no GAPP, tanto quanto se recorda,
desconhecendo que se encontrava num dossier relativo a esse clube (dossier cuja
existência disse desconhecer).
Foi ainda confrontado com o documento de fls 219 do apenso 16 (ofício da
CMF, referente a uma convocatória relacionada com o FCF, a qual é assinada pela
arguida Fátima Felgueiras – em papel da presidente -, na qualidade de presidente da
autarquia, mas no texto do documento faz alusão à sua qualidade de presidente da
Assembleia Geral do FCF).
Confrontado com o documento de fls 255 a 259 do apenso 16 (listagem de
donativos), apreendido no GAPP, referiu desconhecer tal documento.
Antes dessa lista existem uma série de cópias de cheques destinados ao FCF, os
quais foram apreendidas no dossier alusivo ao FCF, dossier esse que estava no GAPP.
Não se recorda se alguma vez viu algum cheque destinado ao FCF e que tenham
sido entregues no GAPP.
Não tem qualquer explicação para o facto de no GAPP se tratarem de assuntos
relacionados com o FCF, pois esses assuntos não passavam por si.
Nessa altura quem trabalhava com os computadores existentes no GAPP eram as
testemunhas Júlio Pereira e Leonor Costa e ainda o arguido Bragança.
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2º Juízo
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2º Juízo
ao arguido Bragança desse facto (mas sem lhe dar grandes justificações), o qual não lhe
colocava qualquer entrave.
Desde que o arguido Bragança saíu do GAPP nunca mais ali foram tratados
assuntos relacionados com o PS, na medida em que o depoente entendeu que deveriam
ser tratados na sede do PS. Foi aliás por isso que o PS adquiriu um computador para a
sua sede.
Entretanto a testemunha manifestou algumas dúvidas quanto ao momento em
que o dito computador foi adquirido (em 2000 ou em 2002), mas tem a ideia que terá
sido em 2000 (talvez pelo facto de relacionar essa aquisição com a saída do GAPP do
arguido Bragança).
Explicou que o arguido Bragança era o adjunto da presidente (coordenava o
GAPP e abria o Diário da República e correspondência oficial dirigida à presidente), o
depoente era o secretário (cabia-lhe abrir a correspondência oficial e o Diário da
República, redigia documentos à máquina ou no computador, tratava das requisições e
marcava as audiências com a presidente).
As testemunhas Cândida e Armindo Borchado desempenhavam tarefas mais
administrativas.
Por via de regra a correspondência particular dirigida à arguida Fátima não era
aberta, sendo apenas colocada no seu gabinete.
Em termos formais não existiam poderes delegados pela arguida Fátima
Felgueiras.
A partir de certa altura, no GAPP, trataram de assuntos relacionados com o FCF.
A esse propósito recorda-se de dois jantares promovidos no sentido de se
angariar fundos para o FCF e para colmatar o vazio directivo que entretanto se verificou
no clube, jantares esses que tiveram lugar no restaurante “S. José”.
Nessa altura a arguida Fátima era a presidente da Assembleia Geral do clube e
foi o GAPP que organizou esses jantares (fizeram contactos telefónicos e ofícios), por
determinação da dita arguida (foi ela quem teve a iniciativa).
Tinham no GAPP um dossier relativo ao FCF e que foi apreendido pela PJ.
Tinham ainda outros dossiers relativos a outras colectividades.
Confrontado com o documento de fls 411 a 413 (mapa de recolha de fundos para
o FCF em 1998), referiu que esse documento foi rubricado e numerado por si quando
foi apreendido pela PJ no GAPP (antes disso não estava rubricado nem numerado).
Pela disposição desse documento acha que ele não foi elaborado no GAPP, pelo
que presume que tal documento deverá ter-lhes sido enviado pelo FCF. Tal documento
prende-se com a realização dos dois jantares a que aludiu.
Explicou que os documentos de fls 440 a 443 do apenso 15 se tratam de convites
com uma relação das entidades a convidar (pela forma como está elaborada acha que
esta lista deverá ter sido feita no GAPP; designadamente os documentos de fls 441 e
443 têm o timbre em uso na altura – “CMF – GAPPresidente”).
O convite (para um café no gabinete da arguida Fátima com vista a uma
comparticipação mensal para o FCF) foi feito com papel da CMF – GAPP e é assinada
pela arguida Fátima Felgueiras.
A fls 455 a 459 do apenso 15 constam ainda documentos relacionados com o
mesmo tema (a fls 455 consta um ofício em papel usado pelo GAPP dirigido a empresas
para solicitar donativos; a fls 456 uma nota da arguida Fátima no sentido de serem
remetidos os ofícios; a fls 457 e 458 consta uma lista das empresas às quais os ofícios
deveriam ser remetidos; a fls 459 consta uma lista de empresas de calçado para
patrocinar as camisolas do FCF, documento que a testemunha referiu não saber onde foi
feito).
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2º Juízo
Análise crítica
Antes de mais, cabe referir que o GAPP foi criado por lei, mas a concreta
composição desse gabinete foi definida pela arguida Fátima após as eleições de
Dezembro de 1997, na justa medida em que o exercício de funções nesse lugar
pressupõe a confiança política de quem comanda os destinos da autarquia, conforme
aliás o reconheceu a arguida Fátima Felgueiras.
Ora, da panóplia de documentos acima referidos a propósito dos vários
depoimentos (e para os quais remetemos) e dos autos de exame aos dois discos rígidos
do computador usado pelo arguido Bragança (um desses exames já realizado no decurso
do julgamento), temperados sobretudo pelos depoimentos do arguido Horácio Costa e
da testemunha José Júlio Pereira, pode-se concluir que, de facto, no GAPP tratavam-se
de assuntos relacionados exclusivamente com o PS local, com a ADEC, com o jornal
“O Sovela” e com o FCF, nos moldes dados como provados.
Argumenta a arguida Fátima que na CMF existiam dossiers a propósito das
diferentes colectividades do concelho e que cabe à autarquia apoiá-las (não existia
porém, por exemplo, um dossier relativo ao FC da Lixa).
Porém, no que respeita ao FCF, a “colaboração” – chamamos-lhe assim –
ultrapassa em muito o mero apoio da autarquia, pois dir-se-ia que o GAPP, a dada
altura, constituiu-se numa espécie de serviços administrativos desse clube e da
presidente da respectiva assembleia geral.
Essa parece-nos ser, s.m.o, a conclusão a retirar da variada documentação
referenciada (no que a esse clube diz respeito), sendo certo que quanto ao facto de
serem ali tratados assuntos do PS, da ADEC e do “Sovela” nos parece mais gritante a
exorbitância das funções para as quais, por lei, o GAPP foi criado.
Triste figura fizeram as testemunhas Leonor Costa e Armindo Brochado, os
quais, trabalhando num espaço exíguo de cerca de 12 m2, conseguiram a proesa de nada
se terem apercebido, chegando a desfaçatez da testemunha Leonor ao ponto de, tendo
estado na recepção do GAPP, ter declarado nunca ter rececpcionado pessoas que ali iam
tratar de assuntos, por exemplo, ligados ao PS.
A credibilidade de tais testemunhas é assim pouco maior do que zero.
Já as declarações do arguido Horácio, nesse particular, são fidedignas, pois a
suportá-las estão vários documentos referenciados ao longo do julgamento, ainda que
não mencionados especificamente por causa deste ponto da pronúncia.
É claro que, na senda da postura típica de quem procura a torto e a direito
sacudir a água do seu capote, a arguida Fátima Felgueiras assegurou que, caso de facto
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2º Juízo
tenham sido tratados assuntos relacionados com o PS no GAPP, disso não teve
conhecimento nem deu autorização.
Ora, se os vereadores não podiam espetar um prego que fosse sem o
conhecimento dela ou autorização, muito menos o fariam os funcionários do GAPP,
cujas funções dependiam da respectiva confiança política, sendo certo que o exercício
das respectivas funções era executado em estreita colaboração com a arguida Fátima
Felgueiras, como aliás não poderia deixar de ser.
Não é assim manifestamente credível que ela não tivesse conhecimento e que
não tivesse dado o aval ao facto do secretário-coordenador do partido tratar no GAPP de
assuntos relacionados com o PS, tanto mais que na sede local deste partido, à data,
inexistia qualquer computador, facto de que a arguida Fátima não podia ignorar.
Seja como for, o uso abusivo do GAPP para fins que exorbitavam a sua
competência, traduz-se, ao fim ao cabo, no uso dos respectivos funcionários, de material
informático, incluindo uma fotocopiadora e papel.
A propósito do valor dos objectos em causa (s.m.o., o uso de pessoas é
irrelevante em face do tipo legal em causa) nenhum meio de prova foi produzido.
De resto, não será já possível proceder-se a qualquer avaliação, sendo certo que
ignoramos qual era o modelo dos equipamentos usados, qual o seu tempo de uso e se
eram ou não obsuletos, sendo aliás previsível que tenham sido destruídos.
Assim, quando muito, só baseados nas regras da experiência comum poderemos
vislumbrar qual o valor global aproximado, o que, diga-se, é fundamento que não deixa
de ter pés de barro.
Na verdade, sem termos os dados já referenciados quanto àquele equipamento,
mesmo socorrendo-nos das ditas regras da experiência comum, seria temerário adiantar
qualquer valor.
Quanto à relevância penal dos factos apurados a propósito deste ponto da
pronúncia, a seu tempo tomaremos posição neste acórdão.
O loteamento do Bustelo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
enquanto presidente da edilidade, salientando porém que sempre agiu de acordo com as
informações prestadas pelos serviços.
Assim, por exemplo, explicou que não foram aceites os lotes nºs 30 e 31 como
garantia de execução das obras de urbanização na medida em que eram grandes e
periféricos, sendo certo que ao longo de tal processo de licenciamento de loteamento
foram tomadas decisões desfavoráveis ao requerente, tendo sempre em conta as
informações dos serviços.
Confirmou que de facto foi instaurado o processo de contra-ordenação nº 307/92
ao Sr. Fortunato pelas razões expostas na pronúncia, por participação dos Serviços de
Fiscalização, datada de 22.10.92 (e não 20.10.92, conforme consta da pronúncia).
Explicou que, entretanto, uma vez que o processo de licenciamento do
loteamento foi regularizado, conforme era prática habitual na CMF, o processo de
contra-ordenação foi arquivado com admoestação por decisão de 14.01.98.
Ignora se o seu marido ou o Sr. Fortunato tentaram vender lotes ao arguido
Joaquim Freitas ou ao Sr. Fernando Sampaio da Lixa.
Ignora se algum dos lotes 30 e 31 se destinava ao seu marido.
Aliás, nunca teve qualquer reunião com o Sr. Fortunato a propósito do
loteamento do Bustelo.
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O Sr. Sampaio da Lixa foi também contactado pelo Dr. Sousa Oliveira para
adquirir o loteamento (não sabe se antes ou depois do depoente).
Recorda-se que já em 1996 o arguido Júlio Faria queria dinheiro para o FCF e
disse-lhe que que a arguida Fátima estava “refém” porque tinha participado numa
votação a propósito do licenciamento do loteamento do Bustelo e que lhe poderia
acarretar a perda de mandato.
Foi o arguido Bragança quem entregou ao arguido Horácio o manuscrito de fls
280 a 287 do 2º volume (manuscrito do Dr. Sousa Oliveira dirigido à arguida Fátima
acerca do loteamento em causa).
Era do domínio público que esse loteamento pertencia também ao Dr. Sousa
Oliveira e à arguida Fátima.
Esta, de resto, não admitia que o Dr. Sousa Oliveira lhe escondesse qualquer
informação acerca desse negócio e ele tudo lhe revelava. Até para comprar um carro
novo ele dava conhecimento à arguida Fátima (pensa que terá sido antes de 1998,
quando adquiriu um “BMW”).
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
O dito loteamento era problemático por estar situado na área do Monte de Stª
Quitéria.
Entretanto começaram a surgir notícias nos jornais de que o Dr. Sousa Oliveira
era parte interessada nesse loteamento (na altura ele era presidente da Assembleia
Municipal de Felgueiras, mandato de 1994 a 1998).
Não obstante ter inicialmente referido não se recordar de alguma menção
especial em relação a esse loteamento na reunião camarária que aprovou o respectivo
licenciamento, acabou por referir que, ao que pensa o arguido Júlio Faria, informal e
lateralmente, mencionou que o Dr. Sousa Oliveira tinha um contrato não formalizado
com a testemunha Fortunato Alves relativo a esse loteamento, precisando mais tarde
que a menção em causa ou foi no sentido de que esse relacionamento próximo entre as
testemunhas Fortunato e Sousa Oliveira se devia ao facto deste, no que ao loteamento
concerne, prestar os seus serviços àquele enquanto advogado ou de serem sócios no dito
loteamento, facto que já não pode precisar (essa menção foi negada porém pelo arguido
Júlio Faria, o qual assegurou não ter na altura qualquer suspeita acerca desse assunto,
apenas tomando mais tarde conhecimento dos interesses nesse loteamento por parte da
testemunha Sousa Oliveira pela imprensa. Também a arguida Fátima negou
veementemente qualquer comentário especial na dita reunião de câmara, sendo certo
que a funcionária que prestava assistência à reunião – testemunha Fernanda Leal - tinha
o cuidado de perguntar se algum vereador estava impedido de deliberar. Reafirmou que
só mais tarde tomou conhecimento dos interesses do marido no dito loteamento).
Nos meios políticos foi comentado o facto da arguida Fátima ter participado
numa deliberação que aprovou o licenciamento de um loteamento em que o marido era
sócio, tendo mesmo circulado panfletos acerca desse assunto em 1996 e 1997.
Deduz que a arguida Fátima, enquanto esposa da testemunha Oliveira, soubesse
que o marido era sócio nesse loteamento, mas em rigor desconhece esse facto.
Em todo o caso, do que conhecia desse casal, tem dúvidas que a arguida Fátima
soubesse de tudo o que o marido fazia e vice-versa.
Não se recorda se o Dr. Barros Sousa, enquanto presidente da Assembleia
Municipal de Felgueiras, introduziu este tema a debate (cfr. fls 279 e ss.).
Chegou a ver manuscritos referentes a este assunto e que alegadamente tinham
sido redigidos pelo então marido da arguida Fátima Felgueiras (cfr. manuscrito de fls
280 a 283, da testemunha Sousa Oliveira; o documento de fls 284 a 286, dactilografado
e dirigido à arguida Fátima, reportando-se a valores de despesas; manuscrito da arguida
Fátima, de fls 287 a 291; cfr. ainda cópia de uma entrevista dada pela arguida Fátima ao
“Independente”, cuja cópia consta de fls 294).
Os documentos em causa suportaram uma intervenção na Assembleia Municipal
por um elemento do PSD (Vítor Vasconcelos), tendo sido ele quem os entregou ao Dr.
Barros Moura (cfr. ofício de fls 279 a remeter esse manuscrito à Procuradoria Geral da
República).
Não sabe se apenas existiu uma reunião em que o loteamento do Bustelo
estivesse em discussão. Recorda-se em todo o caso de ter estado numa reunião em que
esse assunto foi discutido e no qual, informalmente, o arguido Júlio fez a referência
acima mencionada (precisou que essa menção foi informal e restrita, de sorte que nem
todos os presentes a ouviram. Precisou ainda que interpretou esse comentário no sentido
de que o Dr. Sousa Oliveira tinha interesse nesse loteamento como advogado do
requerente do respectivo licenciamento).
As reuniões de Câmara referidas na pronúncia realizaram-se numa altura em que
não era vereador (1991 e 1993). Consequentemente, a reunião onde esse assunto foi
abordado não se prendia com a aprovação do licenciamento desse loteamento.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
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2º Juízo
Tem a ideia que o terreno já estaria em nome do seu pai no tempo em que o Sr.
Armindo detinha 50%.
Manifestou não saber com exectidão por que motivo nunca o terreno passou
para o nome da testemunha Sousa Oliveira, pese embora tenha a ideia que seria por se
tratar de uma parte indevisa.
As despesas com o loteamento e com a contribuição autárquica eram pagas pelo
seu pai. Ignora se a testemunha Sousa Oliveira pagou alguma parte dessas despesas
Confrontado com o manuscrito de fls 280, da autoria da testemunha Sousa
Oliveira, referiu nunca o ter visto. As despesas que nesse manuscrito a testemunha
Sousa Oliveira referiu ter pago (até 1996) reportar-se-iam a trabalhos preparatórios às
obras de urbanização (sendo certo que estas últimas foram acompanhadas pelo
depoente).
O loteamento era composto por 36 lotes, desde 500 m2 a 9.000 m2 (dois lotes
tinham 9.000 m2, os lotes 35 e 36 segundo referiu sem ter a certeza, sendo certo que
parecem ser antes os lotes nºs 30 e 31). Seja como for, só existiam dois lotes grandes
(que faziam sentido pela configuração do loteamento).
Acerca do destino desses lotes, tem a ideia que a testemunha Sousa Oliveira
adquiriu a parte do Sr. Armindo para construir a sua casa num dos lotes, presumindo
que se trataria de um dos lotes grandes. Explicou que quando a testemunha Sousa
Oliveira fez essa aquisição os lotes já estavam definidos em projecto. Não conseguiu
identificar qual a sua razão de ciência (acerca das intenções da testemunha Oliveira),
mas deverá ter sido por conversas que ouviu.
No sentido de que as contas fossem feitas entre o seu pai e a testemunha Sousa
Oliveira, tentou que ambos se entendessem no que a essa matéria diz respeito, o que
nunca sucedeu.
Desde o inicio até ao fim das obras de urbanização do loteamento que abordou
três ou quatro vezes a testemunha Sousa Oliveira no escritório dele acerca desse assunto
(mais ou menos entre 1997 e 1999).
As obras de urbanização demoraram cerca de ano e meio a serem concluídas.
Foram apresentadas as contas à testemunha Sousa Oliveira, mas nunca chegou a
haver um consenso acerca delas.
Transmitiu entretanto ao seu pai a impossibilidade de se chegar a um acordo.
Tem a ideia que a testemunha Sousa Oliveira conversou acerca desse assunto
com outra pessoa (que não soube identificar).
Não sabe se ele procurou vender a sua parte.
Já ouviu falar da testemunha Sampaio (da Lixa), mas não o conhece
pessoalmente.
Ignora se ele foi contactado pela testemunha Sousa Oliveira no sentido de
adquirir a parte deste.
Que se lembre, referiu não ter falado deste assunto com a arguida Fátima
Felgueiras.
Tem a ideia que o seu pai também não falou com ela acerca deste assunto, mas
só ele é que o poderá esclarecer.
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2º Juízo
Nessa altura ele referiu-lhe ainda que estava a tratar do divórcio (era à data ainda
casado com a arguida Fátima) e que precisava de despachar aquilo.
Ele manifestou-lhe a intenção de vender a sua parte e perguntou ao depoente
senão estaria interessado nesse negócio ou se conhecia alguém interessado.
O depoente não se mostrou interessado na aquisição e chegou a levar lá um
cliente seu para ver os lotes com a testemunha Sousa Oliveira.
Recorda-se que quando ele mostrava os lotes identificava aqueles que lhe
pertenciam.
Que se recorde, nunca a testemunha Sousa Oliveira lhe referiu que a arguida
Fátima era comproprietária.
Não se recorda dele utilizar a expressão “casal”.
Não tem presente se ele relacionou a venda da sua parte nesse loteamento com a
partilha dos bens comuns do casal, mas tem a ideia que nunca comentou esse facto.
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deduz, correspondência essa levada para esta através do João e que foi divulgada na
comunicação social e na Assembleia Municipal de Felgueiras.
Ignora se a arguida Fátima respondeu ao Dr. Sousa Oliveira.
*
Em face destas declarações, o arguido Horácio Costa referiu que a testemunha
Sousa Oliveira adquiriu uma casa em Felgueiras para viver com a família (ou antes,
celebrou um contrato-promessa de compra e venda referente a uma casa), sendo certo
que o contrato definitivo ainda não foi celebrado. Sabe disso porque foi assessor da
arguida Fátima Felgueiras.
Além disso, actualmente, a arguida Fátima vive com o seu ex-marido, a
testemunha Sousa Oliveira.
*
Da acareação efectuada entre as testemunhas Maria Natal e Sousa Oliveira
resultou o seguinte:
A testemunha Maria Natal referiu que se no seu relatório escreveu o que foi lhe
referido pela testemunha Sousa Oliveira é porque na verdade colheu essa informação do
documento onde se baseou (auto de declarações) – cfr. relatório de fls 567 a 584.
Por seu turno, a testemunha Sousa Oliveira manteve que não deu conhecimento
à sua então esposa do negócio relativo ao “monte”.
Explicou que só no dia seguinte a ter prestado declarações é que assinou o
respectivo auto.
No processo inspectivo referiu que só em 1989 é que deu conhecimento à
arguida Fátima da celebração do referido contrato-promessa e que nos anos posteriores
não lhe deu conhecimento do desenvolvimento do loteamento do Bustelo.
Explicou que na verdade existem dois loteamentos no local, um referente à parte
de baixo do terreno (que foi apresentado mais cedo), sendo certo que o loteamento
efectuado na parte de cima do terreno só veio a ser aprovado muito mais tarde.
À data da celebração do contrato-promessa, assegurou que só prometeu comprar
a parte do monte sobre o qual à data não incidia qualquer processo de loteamento
(existia um processo de loteamento, à espera de aprovação, referente à parte de baixo do
terreno e com o qual nada teve a ver).
Deu conhecimento à arguida Fátima de que tinha comprado parte do monte
depois das eleições de 1989 (mas não lhe mostrou o contrato-promessa), quando ela foi
para a CMF como vereadora, não lhe tendo dado entretanto conhecimento dos passos
subsequentes e que conduziram ao loteamento em causa nos autos.
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2º Juízo
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2º Juízo
venda sobre o terreno referido nos autos, mas o mesmo não estava registado em nome
do promitente vendedor mas a favor de uma sociedade comercial).
A testemunha Sousa Oliveira estava “à rasca” porque se tivesse que ir para
tribunal com a testemunha Fortunato teria de dar conhecimento à arguida Fátima.
Foi com o dinheiro que ele obteve da venda de um lote que ele pôde celebrar o
dito contrato-promessa (cuja data já não se recorda).
Está convencido que a arguida Fátima desconhecia esse assunto.
Referiu porém que em 1989/90 via a arguida Fátima e a testemunha Sousa
Oliveira como um casal normal e que a testemunha Sousa Oliveira lhe disse que quando
“comprou o monte” queria nele construir uma habitação, o que nunca se concretizou.
Admite assim que a testemunha Sousa Oliveira tenha comunicado à mulher a
realização desse negócio.
A arguida Fátima tinha (e tem) uma personalidade mais forte que a
personalidade da testemunha Sousa Oliveira (o que se reflectia no relacionamento entre
ambos).
Referiu ainda que quem frequentava mais o escritório de advogacia da
testemunha Sousa Oliveira era o Dr. Celestino (ouvido já como testemunha) e o
depoente.
Numa conversa sugeriu ao Dr. Sousa Oliveira que escrevesse uma carta à
arguida Fátima a contar o historial do Bustelo, o qual lhe mencionou que o Dr.
Celestino já lhe havia sugerido o mesmo.
Em 2000 a testemunha Sousa Oliveira contou-lhe que tinha enviado à arguida
Fátima a dita carta.
Assegurou que da relação de bens comuns junta ao processo de divórcio não
consta qualquer direito de crédito emergente desse contrato-promessa (só constava o
apartamento, a casa de praia e o carro do Dr. Sousa Oliveira).
Análise crítica
A testemunha Maria Natal elaborou o relatório de fls 567 a 584, no âmbito de
uma acção inspectiva ao município de Felgueiras e que se prendia, além do mais, com o
loteamento do Bustelo.
Nesse relatório estão descritos os actos mais importantes praticados pela arguida
Fátima, enquanto vereadora e presidente da edilidade, no respectivo processo de
licenciamento do loteamento do Bustelo (actos esses praticados até Julho de 2000).
Acerca da prática destes actos a arguida Fátima confirmou-os, os quais aliás
emergem do respectivo processo de licenciamento.
Negou porém que tivesse conhecimento que, ao assim agir, soubesse que o
processo de licenciamento em causa se reportava a um terreno onde tinha interesses de
ordem patrimonial por força de contrato celebrado pelo seu ex-marido.
Na sequência da inspecção em causa foi instaurada uma acção de perda de
mandato da arguida Fátima, da qual contudo viria a ser absolvida, conforme se colhe,
designadamente, da cópia da sentença proferida junta aos autos a fls 2875 e ss.
Ora, além do mais, o busilis da questão prende-se com o facto de se saber se a
arguida Fátima, ao ter a aludida intervenção no processo de licenciamento do
loteamento do Bustelo, sabia que nele tinha interesses patrimoniais.
O episódio relatado pela testemunha Manuel Faria acerca de um comentário que
ouviu da boca do arguido Júlio Faria a esse propósito acabou por ser inconclusivo, não
só porquanto este negou esse facto, mas sobretudo devido à circunstância daquela
testemunha ter acabado por referir que esse comentário foi feito por ocasião de uma
reunião de câmara onde se tomou uma deliberação sobre o loteamento em causa, mas
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2º Juízo
que foi feita à margem dessa reunião, não resultando muito claro se esse alegado
comentário do arguido Júlio dava conta de interesses patrimoniais nesse loteamento por
parte da testemunha Oliveira ou se dava conta que este seria o advogado do requerente
do dito loteamento.
A testemunha Sousa Oliveira, por sua vez, descreveu os negócios que teve a
propósito desse loteamento, quer com os anteriores proprietários do terreno, Armindo
Leite da Silva e esposa (com quem celebrou um contrato-promessa de compra e venda
em que figurou como promitente-comprador), quer com a testemunha Fortunato Sousa e
esposa (com quem celebrou outro contrato-promessa de compra e venda, figurando
igualmente como promitente-comprador, de modo a assegurar a sua posição numa
espécie de sociedade irregular, emergente do acordo então celebrado com a testemunha
Fortunato e que se orientou no sentido de ambos arcarem a meias com os custos da
operação de loteamento e de repartirem a meias os respectivos lucros, pese embora
viesse a testemunha Oliveira a descobrir posteriormente que esse imóvel foi afinal
registado em nome de uma firma de que esse Fortunato era sócio - “F. Sousa & Filho,
Ldª” -, em nome de quem aliás o processo de licenciamento do loteamento do Bustelo -
processo nº 173/90 - viria a ser averbado em meados de 1993).
Consequentemente, não sendo possível a execução específica desse contrato-
promessa, resta à testemuha Sousa Oliveira apenas um eventual direito obrigacional
dele emergente.
Seja como for, a testemunha Sousa Oliveira, ao celebrar tal negócio, teve em
vista, além do mais, a construção num dos lotes de uma moradia para nela habitar com a
sua família, conforme o próprio confirmou e foi referido por outras testemunhas.
Nessa altura as relações que mantinha com a sua então esposa eram normais,
causando muita estranheza que acerca desse negócio – feito além do mais na
perspectiva de no terreno construir a casa de morada de família – ele apenas lho tivesse
referido de forma altamente lacunar e genérica, conforme referiu.
Tal não constitui de todo um comportamento normal e lança sérias dúvidas
acerca da veracidade desse depoimento, nessa parte, testemunha essa que aliás –
conforme se viu na audiência de julgamento – tomou como suas as dores da ex-mulher,
com quem ainda vive aliás na mesma casa, não tendo consequentemente qualquer
distanciamento emocional em relação ao que aqui se discute.
Por outro lado, se em meados de 1998 o arguido Horácio, a solicitação da
testemunha Oliveira, teve uma intervenção de mediação no conflito existente entre esta
testemunha e a testemunha Fortunato – pois não se entendiam quanto ao montante das
despesas que a testemunha Oliveira deveria pagar -, procurando ainda junto de uma
técnica da CMF inteirar-se acerca de problemas relacionados com esse loteamento (a
testemunha Oliveira não afasta aliás a hipótese de ter abordado esse assunto com o
arguido Horácio, alegando já não se recordar), parece verosímel que pelo menos nessa
altura a arguida Fátima já soubesse do loteamento do Bustelo, dado que, na prática, o
arguido Horácio era assessor dela e de toda a sua actividade lhe ia dando conta.
Regista-se que a “história do terreno”, tal como contada pela testemunha
Oliveira à ex-mulher através do manuscrito de fls 280 e ss. e do aditamento
dactilografado de fls 284 e ss. (datado de 15.12.99), seria altamente lacunar quanto às
circunstâncias da celebração do negócio com a testemunha Fortunato se a sua
destinatária não conhecesse já os seus contornos, sendo certo que esse manuscrito, no
essencial, visava dar-lhe conhecimento em pormenor das despesas tidas com a operação
de loteamento e qual o posicionamento da testemunha Oliveira quanto ao conflito que, a
esse propósito, o opunha à testemunha Fortunato, tudo na perspectiva dela mediar e
resolver o dito conflito, que, para além de passar por um acordo quanto à questão das
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2º Juízo
despesas, passaria por uma de duas soluções: ou comprar ao Fortunato os 50% que este
detinha do loteamento (o qual formalmente pertenceria na sua totalidade à firma “F.
Sousa & Filho, Ldª”) ou arranjar comprador para a totalidade dos lotes e repartir os
lucros a meias por ambos os “sócios” desse negócio, deduzidas que fossem as despesas,
deixando mesmo à consideração da ex-mulher o caminho a seguir.
Certo é que, a despeito do que a testemunha Oliveira referiu, este procurou
vender pelo menos a “sua parte” (cfr. as declarações proferidas pelo arguido Horácio
Costa e pela testemunha Fernando Sampaio).
Ademais, da análise dos rascunhos de fls 288 e ss. (parece tratar-se de um
rascunho de uma missiva a dirigir à testemunha Fortunato pela arguida Fátima) não
sobressai qualquer espécie de surpresa pelo facto da testemunha Oliveira e dela própria
terem interesses no dito loteamento.
Note-se que esses rascunhos, independentemente de terem sido recebidos ou não
pela testemunha Oliveira, foram-lhe enviados pela arguida Fátima para que ele
ponderasse na solução a adoptar (cfr. fls 287 e ss.) e na nota que lhe deixou (constante
de fls 287) não sobressai igualmente a mínima ponta de surpresa quanto à questão do
loteamento e dos interesses que ambos detinham no mesmo (interesses que iam muito
para além do contrato-promessa referido, pois a testemunha Oliveira, em relação a esse
empreendimento, comportava-se como se fosse comproprietário, em face do acordo
verbal que tinha com o seu “sócio”).
Desses documentos extrai-se que a arguida Fátima se iria ausentar e que se
ocuparia da resolução dessa questão logo que regressasse.
Ora, numa altura em que eles já só comunicavam por escrito, se ela não soubesse
de nada, é verosímel que na resposta não manifestasse desde logo estranheza pelos
negócios celebrados pelo ex-marido à sua revelia?
É crível que, perspectivando a testemunha Oliveira a construção da casa de
modada de família nesse terreno, apenas tivesse reportado à sua então mulher
generalidades acerca desse negócio e sem que esta revelasse a mínima ponta de
curiosidade, numa altura em que o relacionamento era normal?
Todos estes elementos de prova parecem apontar no sentido de que a arguida
Fátima sabia que detinha interesses patrimoniais no loteamento referido no momento
em que teve intervenção no respectivo processo de licenciamento.
Para além disso, emergiu das declarações prestadas pelas testemunhas Oliveira,
Fortunato e Eugénio (cfr. ainda as declarações prestadas pelos arguidos Fátima e
Horácio) que surgiram conflitos emergentes do facto das partes não acordarem quanto
ao montante das despesas, sendo certo que era suposto a testemunha Oliveira suportar
metade de todos os encargos com o imóvel e com o loteamento (nesse sentido apontam
aliás os manuscritos referidos).
Esses conflitos ainda hoje perduram, sendo certo que revelaram-se infrutíferas
todas as tentativas de mediá-lo, quer protagonizadas pela testemunha Eugénio, quer
pelos arguidos Horácio Costa (em meados de 1998, segundo o próprio, tendo-lhe sido
fornecida pela arguida Fátima uma planta do loteamento – cfr. fls 2895), quer pela
arguida Fátima (talvez já em 2000 e na sequência do facto de ter recebido, através do
seu filho João Felgueiras, o manuscrito de fls 280 e ss., da autoria da testemunha Sousa
Oliveira).
O simples facto da testemunha Oliveira ter tido a necessidade de remeter à
arguida Fátima o manuscrito de fls 280 e ss. e desta remeter-lhe os seus rascunhos
através da nota de fls fls 287 (que a testemunha Oliveira assegurou não ter recebido), é
apenas indício de que a comunicação entre ambos era difícil (a ruptura entre ambos já se
prolongava pelo menos desde 1993 e em 1999 já só comunicavam por escrito, fazendo
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
do filho “pombo correio”) e que ela não estaria informada dos pormenores relativos às
despesas tidas com a operação do loteamento (sobre os contornos do negócio acordado
com o Fortunato, em 1989, o manuscrito faz-lhe referência como gato sobre brasas,
sinal de que ela já estaria por dentro desse assunto e que esse intróito serviu apenas para
enquadrar o que se lhe seguiu).
Por outro lado, esta testemunha confirmou que, de facto, falou acerca desse
assunto com a arguida Fátima, mas não conseguiu situar essa conversa (ou essas
conversas) no tempo, de sorte que em bom rigor não sabemos quando ocorreram (em
todo o caso, a razão de ser do manuscrito de fls 280 prendia-se com uma tentativa de
fazer intervir a arguida Fátima no sentido de procurar mediar o conflito existente entre
as testemunhas Oliveira e Fortunato – cfr. os depoimentos das testemunhas Oliveira,
Almeida Lopes, Celestino e Fernando Marinho -, daí que não seja dispiciendo poder-se
concluir que essa conversa da arguida Fátima com a testemunha Fortunato tenha
ocorrido já depois de meados Dezembro de 1999).
Ademais, as notícias de jornal chamadas à colacção pelo arguido Horácio (cfr.
fls 294 e 295) datam de 09.06.2000 e de 23.07.2000 e comprovam que pelo menos
nessa altura a arguida Fátima estaria já ao corrente que o processo de loteamento
versava sobre um imóvel onde ela e o ex-marido tinham interesses por força do
contrato-promessa referido nos autos.
Note-se que a arguida Fátima praticou o último acto em 27.07.2000,
consequentemente, já depois daquelas notícias terem sido publicadas, onde aliás os
jornalistas colheram dela declarações que apontam no sentido inequívoco de que, pelo
menos à data, ela já teria conhecimento que o processo de licenciamento referente ao
loteamento do Bustelo versava sobre um imóvel objecto de um contrato-promessa
celebrado pelo seu ex-marido (numa altura em que ainda eram casados) com a
testemunha Fortunato e do qual emerge um direito de natureza meramente obrigacional,
loteamento do qual esperavam retirar os inerentes lucros com a venda de lotes,
conforme se deduz da corresponência trocada entre ela e o seu ex-marido (quanto à
fidelidade das declarações tomadas pelo jornalista à arguida Fátima e plasmadas na
notícia de fls 294, cfr. o depoimento da testemunha José Ribeiro).
Seja como for, dos despachos por ela proferidos no âmbito do processo de
licenciamento do loteamento em causa não emerge de forma clara qualquer intenção de
beneficiar o requerente, na medida em que esses despachos fundam-se sempre em
pareceres técnicos e, conforme se constata da análise do sobredito processo, nem todas
as decisões foram favoráveis ao requerente.
Ademais, no âmbito do processo contra-ordencional instaurado contra a
testemunha Fortunato, por ter iniciado as obras de loteamento antes do respectivo
licenciamento, há que salientar que, ao contrário do alegado na pronúncia, não foi
proferida qualquer decisão em que se tivesse imposto qualquer coima (cfr. documento
de fls 12202) nem que a arguida Fátima tenha proferido qualquer despacho a alterá-la
(cfr. despacho manuscrito de fls 12203). De facto, a única decisão por ela proferida foi a
de arquivamento com admoestação, por despacho de 14.01.98 (cfr. fls 12204).
Seja como for, há que considerar aqui um facto estranho e que emerge da análise
do processo de contra-ordenação em causa: o tempo em que, sem razão aparente, esse
processo de contra-ordenação esteve parado, como que à espera da legalização das
obras do loteamento (cfr. a esse propósito o relatório produzido pela testemunha Maria
Natal).
Seja como for, em face dos elementos de prova acima mencionados, convenceu-
se o Tribunal que a arguida Fátima, no momento em que teve intervenção nos
sobreditos processos de licenciamento e contra-ordenação, bem sabia que detinha,
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2º Juízo
Análise crítica
As testemunhas José Joaquim Oliveira e Amadeu Magalhães procuraram
quantificar os montantes em que a CMF terá sido alegadamente lesada.
Para o efeito elaboraram o relatório de fls 5964 e ss. (numa altura em que a
acusação ainda não havia sido proferida).
Da análise desse documento salta à vista que partiram de pressupostos fácticos
que não se demonstraram no julgamento.
Na verdade, tomaram em consideração os pagamentos efectuados pela CMF
como se eles não fossem devidos de todo em todo, imputando a respectiva
responsabilidade aos arguidos Júlio Faria e Fátima Felgueiras tendo como pressuposto a
circunstância de, em face dos pagamentos efectuados e da época em que eles tiveram
lugar, terem sido os responsáveis pelas respectivas ordens de pagamento por na altura
chefiarem os destinos da CMF.
É pois nesse pressuposto que a responsabilidade entre ambos é repartida a
propósito dos negócios celebrados por causa da lixeira de Sendim (capítulo 1º da
pronúncia).
Nesse particular, diga-se, em síntese, emergiu da prova produzida que a CMF
pagou à “Resin” (ainda que por interpostas pessoas) os trabalhos que ela realizou, não
se tendo demonstrado, por outro lado, qualquer empolamento de preços de modo a
permitir “retornos”.
Além disso, no que toca às ajudas de custo, remete-se para o que supra já
tivemos a oportunidade de referir, sendo certo que o relatório, nessa matéria, tem uma
abrangência mais vasta relativamente à que é considerada no PIC (abarca ajudas de
custo pagas – segundo esse documento indevidamente e na senda de outro relatório
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2º Juízo
elaborado a esse propósito – nos anos de 1997 a 1999, ao passo que o PIC, nesse
particular, circunscreve-as às ajudas de custo pagas a propósito da viagem à Irlanda do
Norte, mas sem atentar que a arguida Fátima tinha direito a 70% do valor total das
ajudas de custo, pelo que o locuptamento só se reporta a 30% desse valor).
No que toca às viagens dos filhos da arguida Fátima, já tivemos a oportunidade
de expressar a nossa convicção, donde emerge que eles viajaram integrados em
comitivas de geminação e, no caso da viagem a Lisboa, que a arguida Fátima recebeu o
que tinha direito, isto é, o custo de três passagens aéreas, uma Porto/Lisboa e duas
Lisboa/Porto, nas circunstâncias que já abordamos.
No que toca ao arguido Barbieri, constata-se que o PIC fundou-se na matéria da
acusação que a propósito é alegada no ponto 9.2. dessa peça processual, mas na
sequência da instrução, essa matéria acabararia por não ser vertida na pronúncia, pois
dela foi o arguido em causa despronunciado.
Dito doutro modo, essa matéria cai fora do objecto destes autos.
Em conclusão, tudo sumado e subtraído, o único prejuízo provado suportado
indevidamente pela CMF traduziu-se em 35.625$00.
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2º Juízo
Ele tem ainda uma boa relação com a progenitora, senhora que aliás foi
professora primária do depoente.
Segundo a família, este processo afectou-o. Não falou com ele acerca deste
assunto.
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2º Juízo
Não sabe se nessa empresa ele era só o director técnico ou também o director-
geral. Porém, era na qualidade de director técnico que contactava com ele nas reuniões
que referiu.
A partir dos finais de 2000 ele esteve ao serviço de uma empresa de construção
civil.
Ele deu sempre aulas no ISEP, salvo no período em que trabalhou na “Resin”.
Ele teve vários empregos na medida em que há oportunidades que não se podem
desperdiçar.
Ele sempre foi uma pessoa impecável para com o depoente.
É pessoa correcta e honesta.
Não o acha capaz de cometer o crime que lhe é imputado. Se o cometeu tal facto
constituiria surpresa para si.
Ele tem uma condição económica “normal”.
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2º Juízo
localidade Moçambicana (eram alferes milicianos), tendo mantido desde então uma
relação de amizade.
Ele impunha-se pela sua seriedade. Era uma pessoa muito considerada por todos.
Ele muitas vezes chamava à razão os companheiros por causa de comportamentos
próprios da juventude e menos ponderados.
Ao longo da sua vida teve a percepção de que continou a ser uma pessoa
ponderada e equilibrada.
Ele foi louvado duas vezes, sendo certo que os louvores eram excepcionais.
Quando ele regressou a Portugal casou-se (o depoente tinha-se casado alguns
meses antes), tendo ido ao casamento dele.
Entretanto ele foi bancário. Esteve no Banco de Portugal no Porto.
Almoçavam ou jantavam de vez em quando no Porto quando ele estava no
Banco de Portugal.
Falavam também por telefone.
Ele foi entretanto presidente da CMF e deputado na Assembleia da República.
Uma vez ou outra o depoente deslocava-se a Felgueiras (onde convivia com ele)
e ele deslocava-se a casa dos seus pais e à própria casa do depoente.
Passam cerca de dois ou três fins-de-semana juntos por ano.
Tem grande admiração por ele.
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2º Juízo
Análise crítica
No que respeita aos antecedentes criminais dos arguidos, teve-se em
consideração os vários certificados de registo criminal juntos aos autos (cfr., por ex., os
mais recentes, constantes de fls 14862 a 14875 e 14879 a 14882).
Quanto ao mais, muito sinteticamente, diremos que a matéria de facto dada
como provada a propósito do percurso de vida dos arguidos reflecte quase na íntegra o
teor dos relatórios sociais juntos aos autos, sendo certo que de uma forma geral todos
eles foram confirmados pelos arguidos neles retratados.
Apenas os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas decidiram recusar-se a
colaborar com o IRS (cfr. a informação de fls 13010, os faxes de fls 13011 e 13012,
bem como o despacho de fls 13019), de sorte que, no que a eles concerne, teve-se
apenas em conta o que a propósito foi por eles referido.
No que respeita ao arguido Anastácio não foi possível a elaboração do
respectivo relatório social (pelas razões aduzidas pelo IRS), sendo certo que esse
arguido nunca se dignou comparecer em Tribunal em nenhuma das sessões de
julgamento realizadas.
No que se refere ao arguido Júlio Faria, para além do referido, diremos que o
extenso auto-elogio que efectuou na sua contestação - e que confirmou na audiência de
julgamento – vale o que vale. Assinala-se que algumas das obras mencionadas no artº
72º da sua contestação não foram executadas pela CMF e outras foram concluídas já no
mandato da arguida Fátima (de sorte que parece querer colher os louros alheios).
Seja como for, alguns dos factos ali alegados emergiram de alguma prova
testemunhal e documental entretanto junta aos autos pelo arguido Júlio.
Teve-se ainda em consideração o teor das declarações proferidas pelas
testemunhas abonatórias, acima reproduzidas por súmula, uma vez retirado algum
exagero no endeusamento de alguns dos arguidos abonados, sobretudo por algumas das
testemunhas ouvidas (veja-se por exemplo o exagero exarcebado do depoimento da
testemunha Manuel Sá Pinto Pereira da Cunha, perceptível – perdoe-se-nos a ironia -
quer no seu conteúdo, quer no tom de voz que empregou em jeito de discurso ensaiado,
quer no brilhozinho dos olhos com que enfeitou a face, quer ainda na postura corporal
abraçada por fato de fino corte e encimada por cabelo puxado para trás à custa de meia
embalagem gel).
Seja como for, salvo poucas excepções, para o que costumamos apreciar, os
depoimentos pautaram-se por alguma sobriedade.
É claro que as testemunhas em causa relataram ao Tribunal aquilo que é a sua
percepção dos abonados, umas com maior conhecimento de causa e outras nem tanto,
umas com algum floreamento no discurso e outras mais sóbrias, sendo certo que não se
deve perder de vista, sob pena do depoimento analisado não ser credível, que se está a
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2º Juízo
reportar a pessoas, com a grandeza e pequenez que lhe é inerente, pois errar é humano e
no melhor pano cai a nódoa.
II – FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
2.2.1. – Qualificação jurídica dos factos dados como provados:
Feita a fundamentação de facto, importa agora proceder à respectiva
qualificação jurídica, pois, conforme refere Cavaleiro Ferreira, “o facto só é definível na
sua unidade ou pluralidade em função dum critério, duma perspectiva que em Direito
tem de provir da própria lei” (Concurso de Normas Penais, in Scientia Juridica, XXIX,
nºs 164 e 165, pág.1180), sendo certo que, conforme ensinamento de Eduardo Correia,
ter-se-á de ter em conta que para o Direito Penal o facto só interessa se perspectivado
como desvalor (cfr. Direito Criminal, I, págs. 231-237), sendo o ponto de partida de
toda a elaboração do direito criminal “a conduta, o comportamento humano, a acção em
sentido lato como juízo teleológico, como negação de valores ou interesses pelo
homem.”
Assim:
2.2.1.1. – A propósito dos 1º e 3º capítulos da pronúncia
Vieram:
- a arguida Fátima Felgueiras pronunciada pela prática de 5 crimes de
participação económica em negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de
16.07., a título de co-autoria e na forma consumada;
- o arguido Vítor Borges pronunciado pela prática de 5 crimes de participação
económica em negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07., a título de
co-autoria e na forma consumada;
- o arguido Carlos Marinho pela prática de 5 crimes de participação económica
em negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07., a título de co-autoria e
na forma consumada;
- o arguido Júlio Faria pela prática de 2 crimes de participação económica em
negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07., a título de co-autoria e na
forma consumada (referentes ao contrato de transacção celebrado com a testemunha
Menezes Basto e ao contrato celebrado entre a CMF e a “Norlabor”, factos alegados nos
pontos 1.1., 1.2. e 1.3 da pronúncia);
- o arguido Barbieiri Cardoso pela prática de 3 crimes de participação económica
em negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07., a título de
cumplicidade e na forma consumada (referentes à matéria alegada nos pontos 1.1., 1.3.,
1.4 e 1.5 da pronúncia);
- o arguido Gabriel Almeida pela prática de 1 crime de participação económica
em negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07., a título de
cumplicidade e na forma consumada (referente à matéria alegada nos pontos 1.3 e 1.6
da pronúncia);
- os arguidos Horácio Costa e Joaquim Freitas pela prática de 2 crimes de
participação económica em negócio, p. e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei nº 34/87, de
16.07., a título de cumplicidade e na forma consumada (referentes à matéria alegada nos
pontos 1.3., 1.5 e 1.6 e capítulo 3º da pronúncia);
A propósito da qualificação jurídica dessas condutas, escreveu-se no despacho
de pronúncia o seguinte:
Estabelece o art. 23º, nº 1 da Lei nº 34/87, de 16/07 que “o titular de cargo
político que, com o intenção de obter para si ou para terceiro participação económica
ilícita, lesar em negócio os interesses patrimoniais que, no todo ou em parte, lhe
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2º Juízo
cumpra, em razão das suas funções, administrar, fiscalizar, defender ou realizar será
punido com prisão até cinco anos e multa de 50 a 100 dias”. (sublinhado nosso)
Por sua vez, prevê o nº 2 que “o titular de cargo político que, por qualquer
forma, receber vantagem patrimonial por efeito de um acto jurídico-civil relativo a
interesses de que tenha, por força das suas funções, no momento do acto, total ou
parcialmente, a disposição, a administração ou a fiscalização, ainda que sem os lesar,
será punido com multa de 50 a 150 dias”. (sublinhado nosso)
O bem jurídico aqui tutelado consiste na “protecção de interesses públicos –
sempre o interesse na fidelidade dos funcionários, na transparência e legalidade da
administração, contra intenções lucrativas do agente (para si ou para outrem) e ainda,
no caso do nº 1, de interesses públicos patrimoniais que o agente tem a seu cargo”
(vide Conceição Ferreira da Costa, in “Comentário Conimbricense do Código Penal”,
Tomo III, Coimbra Editora, págs. 723 e segs.).
Este tipo de ilícito corresponde a um crime específico, já que o agente terá de
ser um titular de cargo político, devendo ainda exercer um dos cargos referidos no tipo
legal (que em razão da suas funções tenha ao seu cuidado, no todo ou em parte,
determinados interesses), sendo ainda necessária “a relação causal entre o cargo do
agente e a vantagem patrimonial obtida (nº 2) ou que intentou obter (nº 1)” (cfr. ob.
loc. cit.).
No caso do nº 1 são lesados os próprios interesses públicos patrimoniais que o
agente, por causa da sua função, tinha o dever de defender, e este lesa-os no próprio
negócio jurídico em que participa, ou seja, “o agente na mira de obter (para si ou para
outrem) participação económica ilícita, lesa os interesses patrimoniais que lhe foram
confiados”.
No nº 2 não é necessário que estes interesses patrimoniais sejam lesados, mas
que o agente aufira vantagem patrimonial (que é exterior ao comportamento do agente)
em resultado do acto relativo aos interesses que estão a seu cargo, ou seja, “o agente
recebe, por qualquer forma, vantagem patrimonial em resultado de acto jurídico-civil
relativo aos interesses que estão ao seu cuidado” (ob., loc. cit.).
Há, assim, em qualquer dos casos um interesse lucrativo do titular do cargo
político nos actos em que, por virtude da função, intervém (negócios com a função
pública em que o titular, por força do seu cargo, tem poderes decisórios ou
fiscalizadores).
Por outro lado, a vantagem patrimonial poderá ter como destinatário o próprio
agente ou um terceiro e destina-se à satisfação de interesses particulares (os crimes
cometidos no exercício de funções públicas traduzem sempre um desvio no exercício
dos poderes conferidos pela titularidade do cargo, ou seja, “em vez de usados na
prossecução dos fins públicos a que se destinam, são deslocados para a satisfação de
interesses particulares ou privados, do agente ou de terceiro” – neste sentido,
Figueiredo Dias, in Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 121º, pág. 380).
Porém, há diferenças importantes entre o nº 1 e o nº 2:
- no primeiro, a participação opera-se ao nível do próprio acto jurídico e
adquire realidade no próprio conteúdo desse acto, exigindo, ainda, a lesão dos
interesses patrimoniais que ao agente foram confiados (não se exige que o agente tenha
efectivamente auferido uma vantagem, mas que se produza um dano patrimonial e que
a intenção do agente fosse a de auferir essa vantagem);
- no segundo, essa participação é exterior ao acto jurídico e, embora exija a
obtenção de um resultado – a recepção de uma vantagem patrimonial – não implica a
produção de um dano patrimonial.
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2º Juízo
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2º Juízo
determinada altura) não deverão ser considerados titulares de cargos políticos no âmbito
da lei em apreço.
Porém, a esse propósito, escreveu-se no despacho de pronúncia:
Na generalidade dos casos, as normas incriminadoras não exigem qualquer
elemento típico referentes ao agente, pelo que pode ser sujeito activo do crime qualquer
pessoa.
Noutras situações, porém, verifica-se em determinadas normas incriminadoras,
uma restrição do círculo dos possíveis agentes, dando assim origem a tipos (de ilícito)
especiais.
O núcleo definidor destes crimes é o dever específico, que “só vincula certas
pessoas e cuja violação é sancionada plenamente no tipo respectivo” (cfr. Henrique
Salinas Monteiro, in “A comparticipação em crimes especiais no Código Penal”,
Universidade Católica Editora, Lisboa, 1999, pág. 16).
Por isso, as dificuldades surgem quando colaboram na prática do mesmo crime
agentes vinculados ao dever especial (intranei) e agentes não vinculados àquele dever
(extranei) – crimes especiais próprios e impróprios.
Ora, estabelece o art. 28º, nº 1, do Código Penal que “se a ilicitude ou o grau
de ilicitude do facto dependerem de certas qualidades ou relações especiais do agente,
basta, para tornar aplicável a todos os comparticipantes a pena respectiva, que essas
qualidades ou relações se verifiquem em qualquer deles, excepto se for outra a intenção
da norma incriminadora”.
Os dois referidos elementos “qualidades ou relações especiais do agente”
delimitam, assim, o âmbito de aplicação deste normativo [estão fora do seu domínio: os
elementos do tipo que não se refiram à pessoa do agente; os estados de espírito,
intenções, fins específicos, que não podem considerar-se “qualidades ou relações
especiais”; estas últimas também não o serão caso não influenciem a “ilicitude” ou o
“grau de ilicitude” do facto ou respeitem à culpa] - vide Henrique Salinas Monteiro,
ob. cit. págs. 92 a 94).
Desta forma, tal preceito é aplicável a todas as hipóteses de comparticipação
em factos cuja ilicitude ou grau de ilicitude dependa de qualidades ou relações
especiais do agente, bastando que um deles as detenha para que a pena aplicável se
estenda a todos os outros, desde que isso seja conhecido por todos (Teresa Pizarro
Beleza, in “Direito Penal – Textos de Actualização”, 2º volume, A.A.F.D.L., 1988, pág.
12).
Isto significa que basta que um dos co-autores seja intraneus para que todos
respondam pelo crime especial: o co-autor intraneus do crime especial responderá por
este crime com a pena correspondente à autoria, nos termos do art. 26º do C.P. (esta
seria, aliás, a pena aplicável pela qual teria de responder caso tivesse cometido o crime
isoladamente, não sendo esta situação alterada pelo facto de colaborar também na sua
execução um extraneus) e o agente extraneus, que executar o facto conjuntamente com
o intraneus, será punido pelo crime especial, com a pena correspondente à autoria
desse crime (neste sentido, Cavaleiro de Ferreira, in “Lições de Direito Penal”, I,
1992, págs. 464-467; Teresa Pizarro Beleza, in “Ilicitamente comparticipando”,
B.F.D.U.C., Número Especial, 1984, pág. 607 e segs.).
No caso vertente, verifica-se que os co-arguidos Fátima Felgueiras e Júlio
Faria exerciam, à data do acordo mencionado na acusação, cargos políticos na CMF
(este último, pelo menos até Outubro de 1995, momento a partir do qual passou a
ocupar o cargo de Deputado à Assembleia da República – infra veremos se esta
circunstância tem ou não relevância na sua posição), designadamente os [cargos] de
Presidente e Vereadora da autarquia, respectivamente, revestindo, por isso, uma
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2º Juízo
qualidade especial, cujo regime vem previsto na Lei nº 34/87, de 16 de Julho (diploma
que determina os crimes de responsabilidade que os titulares de cargos políticos
cometam no exercício das suas funções).
Tal qualidade era conhecida pelos co-arguidos Vítor Borges e Carlos Marinho.
Pelo que, em princípio, a punição destes arguidos seria pelo crime especial
(prevista naquele diploma) com a pena correspondente à autoria desse crime,
verificando-se, assim, a chamada comunicabilidade de que falámos supra.
No entanto, duas excepções importantes estão contidas no final do art. 28º, nº 1,
e no seu nº 2:
- aquela permitirá sempre afastar à partida a aplicação do art. 28º, nº 1, 1ª
parte, quando “a intenção da norma incriminadora” o exija;
- a do nº 2 pretenderá dar ao juiz a faculdade de atenuar o rigor da lei em casos
em que lhe pareça desfavorável, chocante, o resultado obtido através da aplicação da
regra da 1ª parte do nº 1.
Ocupemo-nos da primeira, já que só esta releva nesta fase processual.
Tal segmento contém uma ressalva, a qual teria em vista os chamados crimes de
mão própria, ou seja, aqueles cuja “definição legal torna impensáveis em qualquer
forma de autoria que não seja directa, imediata, material, dado que a acção só é
susceptível de ser praticada por “mão própria”, isto é, com o próprio corpo” (Teresa
Pizarro Beleza, ob. cit., pág. 63), ou dito de outra forma, estes ilícitos apenas podem
ser cometidos mediante execução corporal de certas pessoas, ou seja pela intraneus
(por ex. bigamia, incesto).
Mas podem ainda existir outras hipóteses de aplicação da ressalva constante da
parte final do normativo em apreço.
Na verdade, a determinação dos tipos que se devem considerar abrangidos por
tal ressalva é, assim, um problema interpretativo que só pode ser resolvido na presença
da norma incriminadora em causa (quer da parte especial do Código Penal, quer em
legislação avulsa), de forma a concluir-se se o seu conteúdo é compatível com o regime
constante da primeira parte do preceito citado (neste sentido, Henrique Salinas
Monteiro, ob. cit., pág. 248)
No caso vertente, estamos, sem dúvida, em face de uma legislação extravagante.
E analisado o diploma que referimos supra, designadamente o teor do seu art.
23º (relativamente ao art. 18º, esta problemática não tem razão de ser atenta a sua
actual redacção, já que a sua consumação não depende do preenchimento, por parte do
agente, de quaisquer qualidades especiais enunciadas na lei), nada nos permite
concluir pela sua incompatibilidade com o regime previsto no art. 28º do C.P..
Aliás, alguma jurisprudência (que corroboramos) já se debruçou sobre esta
questão e concluiu que nos crimes cometidos por titulares de cargos públicos [onde se
incluem crimes cometidos por titulares de cargos políticos] no exercício das suas
funções não está excluída a comunicabilidade da ilicitude (neste sentido, vide Ac. da
R.C. de 13/03/1996, in C.J., XXI, tomo II, pág. 51; ver, ainda, Almeida Costa,
“Comentário Conimbricense, Parte Especial”, Tomo III, Coimbra Editora, 2001, pág.
663).
Pelo que não existem razões para afastar o regime previsto no nº 1 do art. 28º
do C.P., sendo o mesmo aplicável ao caso sub judice aos co-arguidos Vítor Borges e
Carlos Marinho.
No que respeita ao co-arguido Júlio Faria, cuja questão também se coloca a
partir de Outubro de 1995, data em que deixou de ser autarca, passando a ser, desde
então, extraneus, já que não praticou quaisquer factos no âmbito das suas funções de
Deputado – é que os tipos legais falam sempre em “cargos políticos no exercício das
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2º Juízo
suas funções”, ou seja, das suas funções concretas (por ex. de membro de órgão
representativo de autarquia, Deputado à Assembleia da República, e outros) - diremos
que tal regime lhe é igualmente aplicável, nos precisos termos anteriormente
explicitados.
Donde se conclui pela aplicabilidade do regime previsto no disposto no art. 28º,
nº 1 do C.P.
As mesmas considerações valerão aqui para os arguidos Barbieri, Horácio
Costa, Joaquim Freitas e Gabriel Almeida.
Por outro lado, tendo presente o nº 2, do artº 28º, do CP, nem assim entendemos
que, em caso de condenação, fosse chocante a aplicação da regra em causa, quando é
certo que, em sede de determinação concreta da pena, por certo se teria em atenção que
a conduta do titular do cargo político é, por via de regra, mais censurável, fazendo-se
então uma diferenciação positiva ao nível da punição relativamente aos arguidos que
não tinham essa qualidade.
Chama-se agora aqui à colacção a matéria dada como provada a propósito dos 1º
e 3º capítulos da pronúncia, que não se reproduz – como costumamos - para não tornar
ainda mais incomportável a extensão deste acórdão.
Já vimos que um dos elementos do tipo objectivo de ilícito, no que respeita aos
crimes de participação económica em negócio em causa (p e p. pelo artº 23º, nº 1, da Lei
nº 34/87, de 16.07), é a lesão de interesses patrimoniais que, no todo ou em parte,
cumpra ao titular do cargo político, em razão das suas funções, administrar, fiscalizar,
defender ou realizar.
Ora, como é bom de ver, nenhuma das condutas em causa teve como
consequência a ocorrência de qualquer prejuízo patrimonial para a CMF.
Na verdade, a simulação relativa dos contratos celebrados entre a CMF e a
testemunha Menezes Basto, entre a CMF e a “Norlabor” e entre a CMF e a “João Tello”
mais não visou - em face das dificuldades administrativas que por um motivo ou por
outro impediam a CMF de contratar directamente com a “Resin” –, dizíamos, mais não
visou que a efectivação dos pagamentos dos trabalhos realizados pela “Resin” na lixeira
de Sendim, primeiro numa missão de reabilitação sumária (que durou 6 meses) e depois
na respectiva exploração (quanto às noções de simulação absoluta e simulação relativa,
cfr. os artgs 240º e 241º do Código Civil).
Tratou-se pois da contraprestação devida a quem no terreno coordenou e
executou os trabalhos, ainda que recorrendo a outras empresas.
A simulação dos concursos, dos ajustes directos e dos contratos formalizados,
mais não constituiu que uma dissimulação do real contrato celebrado entre a CMF e a
“Resin”, a qual, por ajuste directo encapotado daquela forma, viu todos esses trabalhos
lhe serem adjudicados.
Não cabe aqui ao Tribunal discorrer sobre a problemática – certamente
politicamente interessante para a vida político-partidária local - de se saber se, neste
caso, os fins justificaram os meios, cabendo-nos apenas verificar se, em face da
factualidade apurada, estão ou não preenchidos todos os elementos do respectivo tipo
legal, em face da concreta imputação fáctico-jurídica que é feita na pronúncia e que
dessa forma delimitou o objecto do processo.
Ora, no caso em apreço, estamos em condições de concluir que não se verificou
um dos seus elementos típicos essenciais, que neste caso se traduziria na ocorrência
(não demonstrada) de um prejuízo para a CMF.
O mesmo se diga, aliás, em relação à conduta imputada aos arguidos a propósito
do ponto 1.5 da pronúncia, sendo certo que, neste caso, com a agravante de que nenhum
dos respectivos elementos típicos se provou.
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2º Juízo
É tanto quanto basta para que todos os arguidos acima referenciados tenham de
ser absolvidos daquela imputação, seja à luz da versão original da Lei nº 34/87, de
16.07, seja à luz da versão decorrente da Lei nº 108/2001, de 28.11, pelo que não haverá
sequer que proceder ao cotejo dos regimes penais em causa (que no caso é o mesmo,
pois nessa parte não se registou qualquer alteração).
É certo que, tendo presente a matéria dada como provada a propósito do capítulo
1.3 da pronúncia, os arguidos Fátima Felgueiras, Júlio Faria, Vítor Borges, Carlos
Marinho, Gabriel Almeida, Horácio Costa e Joaquim Freitas (uns como co-autores e
outros como cúmplices) deveriam ser punidos pela prática de um crime de participação
enconómica em negócio, p. e p. pelo nº 2 do artº 23º da Lei nº 34/87, de 16.07.
Na verdade, demonstrou-se que duas entregas de verbas em numerário pela
“Resin” constituíram dois retornos no âmbito do contrato formalmente celebrado entre
a CMF e a “Norlabor”, sendo certo que parte dessa verba viria a servir para a aquisição
do “Audi A4” referido nos autos e para financiar, designadamente, a campanha eleitoral
do PS local relativa às eleições autárquicas de 1997 (cfr. a matéria dada como provada a
propósito do capítulo 3º da pronúncia).
Tal conduta representa um minus em relação ao objecto do processo, pelo que
poderia aqui ser considerada, desde que se procedesse à comunicação a que alude o artº
358º, nº 1, do CPP (cfr. artº 1º, al. f), a contrario, do mesmo diploma legal).
Sucede, porém, que esse crime é punível com pena de multa de 50 a 150 dias.
Consequentemente, o prazo de prescrição do procedimento criminal é de 2 anos
(cfr. artº 118º, nº 1, al. d), do CP), prazo esse que entretanto se esgotou, prescrevendo
assim o respectivo procedimento criminal.
Não podem pois os aludidos arguidos ser punidos, seja a que título for, pela
prática desse crime.
Note-se, em todo o caso, que o arguido Barbieri, em face da factualidade
apurada, não deveria ser punido pela prática desse crime, ainda que o procedimento
criminal não estivesse prescrito, pois ele ignorava que através da simulação daquele
contrato com a “Norlabor” a arguida Fátima e os seus sequazes iriam obter verbas que
lhes permitiram, designadamente, financiar as suas actividades.
Não devendo nenhum dos arguidos ser punido pela prática desse crime, perde
interesse discorrer acerca do grau de participação do arguido Carlos Marinho, em
termos de se saber se deveria ser punido a título de co-autoria ou de cumplicidade (cfr.
artgs 26º e 27º do CP), assim como já não valerá a pena fazer a distinção entre os
conceitos de consumação formal e consumação material dos crimes, em ordem a saber
se o arguido Gabriel Almeida (tendo presente que só em Setembro de 1997 entrou para
os quadros da “Resin”) poderia ou não ser punido a título de cumplicidade.
Ademais, poder-se-ia colocar o problema de se saber se a conduta provada não
integra a previsão do artº 14º, al, b), da referida Lei nº 34/87, de 16.06 (crime de
violação de normas de execução orçamental), quando é certo que a “Resin” acabou por
receber da CMF várias verbas, no âmbito de um ajuste directo encapotado por vários
outros negócios formalmente celebrados com “testas de ferro”, sem que fosse aposto
qualquer visto pelo TC (no que respeita portanto ao real negócio em causa – o contrato
dissimulado).
Sucede porém que, nestes autos, está vedado ao Tribunal a imputação de tal
ilícito penal, sob pena de nulidade, por extravasar o objecto deste processo (cfr. artgs 1º,
al. f); 118º, nº 1; 359º, nº 1; e 379º, nº 1, al. b), do CPP), além de que, em face de
certidão mandada extrair pelo MP no final do inquérito, presume-se que tal matéria seja
objecto de outros autos, ignorando-se em que fase se encontram.
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No que ao tipo subjectivo concerne, a acção tem de ser dolosa, mas não em
qualquer uma das suas formas (não abarca o dolo eventual, pois só assim se percebe a
expressão “conscientemente”).
De facto, a actuação contra o direito, por um lado, tem de ser consciente e, por
outro, exige-se ainda o dolo específico, consubstanciado na intenção de, dessa forma,
prejudicar ou beneficiar alguém (entendidas em sentido lato).
O tipo de consciência exigível por parte do agente (conteúdo do dolo) deverá
reconduzir-se à representação, no momento da condução ou decisão do processo, do
conteúdo das normas e princípios jurídicos conscientemente violados pelo agente, caso
contrário poder-se-ia punir a negligência (que no caso é insusceptível de punição).
Disto decorrerá, por via de regra, a ilicitude do comportamento em causa.
Ora, tendo presente estes princípios e a matéria de facto dada como provada a
propósito do capítulo em apreço, haverá, muito sinteticamente, que averiguar se no
âmbito dos processos referenciados, alguma decisão foi tomada contra o direito
(enquanto elemento objectivo do tipo) e, em caso afirmativo, se existiu alguma
consciência desse facto por banda da arguida Fátima (enquanto elemento subjectivo do
tipo de ilícito em questão).
Naturalmente que, falhando algum desses pressupostos, a decisão a proferir terá
de ser de absolvição.
Assim:
No âmbito do processo de obra particular nº 130/88, a questão que se levanta
relativamente à legalidade da emissão da licença de construção por parte da CMF
prende-se com a inobservância dos limites da construção à propriedade do vizinho.
Ora, sempre que o vizinho, nessas hipóteses, não se oponha a tal, a CMF
costuma deferir o respectivo licenciamento, desde que todos os demais requisitos
estejam preenchidos.
A declaração de vontade do vizinho terá assim algum relevo?
Tudo dependerá do facto de considerarmos se o que aqui está em causa são
interesses de natureza pública ou meramente privados.
S.m.o., o afastamento ao limite da propriedade do vizinho visa em primeira linha
a protecção do direito de propriedade deste, direito esse que, sendo disponível, pode ser
comprimido, e só reflexamente poderá a regra em causa tutelar algum interesse público
(já não assim no que respeita ao afastamento da construção à via pública).
Nessa medida, a posição adoptada pela CMF parece ser defensável.
Seja como for, ainda que assim não se entenda, inexistiu qualquer violação
consciente de qualquer norma, designadamente do RGEU, por banda da arguida Fátima
Felgueiras, tanto mais que estribou-se sempre em pareceres técnicos.
Consequentemente, deve ser absolvida no que ao crime em causa concerne
(ponto 4.1. da pronúncia).
O mesmo se diga, de resto, em relação ao outro crime, da mesma natureza,
reportado agora ao processo de obra particular nº 5/I/93 (ponto 4.2. da pronúncia).
É certo que quando foi deferido o licenciamento da obra em causa já estava em
vigor o PDM de Felgueiras e que a construção em causa, pela sua volumetria, viola esse
instrumento de ordenamento do território.
Porém, o processo de licenciamento mencionado iniciou-se antes do PDM ter
entrado em vigor, colocando-se a questão de se saber qual a lei a aplicar.
Sendo defensável qualquer uma das teses em confronto (aplicação imediata do
PDM ou aplicação dos regulamentos urbanos em vigor ao tempo da entrada do processo
na CMF) e tendo a arguida Fátima estribado as suas decisões em pareceres técnicos
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2º Juízo
favoráveis, não se demonstrou de todo que ela conscientemente tenha decidido contra o
direito.
Deve pois ser igualmente absolvida no que a este crime concerne.
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2º Juízo
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2º Juízo
Por outro lado, o agente será ainda punido se, fraudulentamente, efectuar
concessões ou celebrar contratos em benefício de terceiro ou em prejuízo do Estado.
Ainda aqui se descortina uma ideia de instrumentalização de poderes em ordem
à prossecussão de fins estranhos à razão de ser da atribuição desses poderes ou de
violação de deveres funcionais em subordinação a interesses de natureza particular, em
todo o caso consubstanciada na efectivação de concessões ou na celebração de contratos
a favor de terceiro.
Tendo presente estes considerandos e a matéria de facto dada como provada a
propósito do capítulo 6º da pronúncia, constata-se que não se demonstraram sequer os
seus elementos objectivos, isto é, que a arguida Fátima Felgueiras, abusando dos seus
poderes ou violando os seus deveres, tenha procurado beneficiar o “Sovela” (o tal
benefício ilegítimo).
Isto é, dito doutro modo, não se demonstrou que ela, instrumentalizando aqueles
poderes ou violando os respectivos deveres, tenha prosseguido qualquer fim a eles
estranho.
Deve por isso ser absolvida da imputação em causa.
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Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras
2º Juízo
títulos e os cartões de crédito) ou outra coisa móvel (nestes se pode incluir os títulos e
os cartões de crédito, se não se optar por um conceito amplo de dinheiro, na medida em
que estão corporizados em documentos; a energia; veículos, etc. Parece não ser de
incluir, face ao princípio da tipicidade, a energia de trabalho de funcionários públicos
cujo labor é desviado para fins particulares, entendimento extensível ao peculato de uso
e que terá relevância mais à frente, a propósito do capítulo 10º da pronúncia).
O dinheiro ou a coisa móvel tem de ser alheia ao agente e pode pertencer ao
Estado ou a particulares (apesar de não vir referida na norma, ao contrário do que
sucede no artº 375º, nº 1, do CP), em todo o caso, desde que eles estejam submetidos,
ainda que temporariamente, ao poder público.
Por outro lado, esses bens têm de ter sido entregues, estarem na posse ou serem
acessiveis ao agente em razão das suas funções, sendo certo que a posse deve ser
entendida em sentido lato, abrangendo por conseguinte quer a detenção material quer a
disponibilidade jurídica do bem ou detenção indirecta (isto é, o bem encontra-se na
detenção material ou directa de outrem, mas o titular do cargo político pode dispor do
bem ou conseguir a sua detenção material mediante um acto para o qual tem
competência em razão das suas funções. Será assim o caso do titular do cargo político
que – fazendo uso dos seus poderes - dá uma ordem de pagamento em seu benefício,
desde que esse pagamento não lhe seja devido).
Por via de regra, exige-se a anterioridade da posse ou da detenção do bem, mas,
em caso de detenção indirecta ou de disponibilidade jurídica do bem, a detenção
material e a apropriação poderão ocorrer simultaneamente.
No exemplo dado, o poder de disposição é exercido mediante uma ordem de
pagamento, que ocorreu antes da apropriação ou detenção material propriamente dita.
Dito doutro modo, a posse, entendida em sentido lato, é pré-existente (pois o
poder de disposição foi efectivamente exercido mediante uma ordem de pagamento) em
relação à apropriação e detenção material do dinheiro com o acto do recebimento.
Estas considerações terão sobretudo interesse a propósito do capítulo 9º, ponto
1, conforme mais adiante se verá.
O agente deverá ter a posse em razão das suas funções, factor que aliás agrava a
ilicitude da apropriação, pois dessa forma ele trai a relação de fidúcia pré-existente.
Dito doutro modo, terá sempre de existir uma relação causal entre a posse (que
facilita a apropriação) e a função exercida pelo titular do cargo político.
A apropriação (isto é, o acto de fazer seu o bem, agindo como se fosse o seu
proprietário) terá de ser ilícita (ou ilegítima), na justa medida em que a dita apropriação
não deriva de qualquer título aquisitivo do direito de propriedade e contraria as normas
existentes no ordenamento jurídico que regulam o direito de propriedade e a sua
transmissão e aquisição.
A apropriação pode ser efectuada em proveito próprio do titular de cargo
político ou de terceiro (a concepção de apropriação não coincide com a concepção do
proveito ou da vantagem).
No que ao tipo subjectivo diz respeito, trata-se de um crime doloso, pelo que o
agente terá de ter conhecimento da factualidade típica, designadamente terá de ter
consciência de que se trata de um bem alheio de que tem a posse em razão das suas
funções, conhecimento esse que pode ser de “leigo” (sob pena de se excluir o elemento
intelectual do dolo), e terá ainda de ter consciência, entrando já no elemento volitivo do
dolo, e a vontade de fazer seu o bem para o seu próprio benefício ou de terceiro.
Ora, tendo presente a factualidade apurada a propósito do 7º capítulo da
pronúncia – que aqui se invoca mas que não se reproduz para não tornar ainda mais
extenso este acórdão -, somos de imediato levados a concluir que não se provou que a
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2º Juízo
arguida Fátima se tenha sequer apropriado do telemóvel “AEG” referido nos autos,
propriedade da CMF.
Não se tendo sequer demonstrado os elementos objectivos do tipo, é óbvio que a
arguida deve ser absolvida no que ao crime em causa concerne.
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21
Cfr, ac. do STJ, de 23.10.91, in CJ, XVI, IV, p. 43 e ss.
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2º Juízo
alojamento, apenas teria direito a receber, antecipadamente ou não, 70% do valor das
ajudas de custas respectivas.
Foi aliás por isso que a AMVS lhe pagou as ajudas de custo num valor
equivalente a cerca de 70%, que ela no mesmo dia devolveu à CMF.
Houve assim um locuptamento indevido da quantia de 35.620$00 (118.750$00 –
83.130$00), que não foi restituída à CMF e que, salvo melhor opinião, o deveria ter
sido.
Por outro lado, note-se que essa apropriação deu-se por causa e no exercício das
funções da arguida Fátima enquanto presidente da CMF e, por via disso, membro do
concelho de administração da AMVS.
A dita apropriação, conforme é bom de ver, reverteu, neste caso, em proveito
prórprio.
Com a conduta demonstrada ela violou a relação de fidúcia pré-existente, na
medida em que, em razão das suas funções, detendo indirectamente os fundos
camarários (que estão adstritos à prossecução das finalidades públicas prosseguidas pela
autarquia) – pois deles detinha a disponibilidade jurídica, que exerceu ao emitir a
respectiva ordem de pagamento, no exercício de poderes que lhe são conferidos
enquanto administradora da coisa pública -, vindo-se a apropriar e a deter materialmente
a verba em causa no momento em que a recebeu.
A este propósito, recorda-se o que já se escreveu:
(...) esses bens têm de ter sido entregues, estarem na posse ou serem acessiveis
ao agente em razão das suas funções, sendo certo que a posse deve ser entendida em
sentido lato, abrangendo por conseguinte quer a detenção material quer a
disponibilidade jurídica do bem ou detenção indirecta (isto é, o bem encontra-se na
detenção material ou directa de outrem, mas o titular do cargo político pode dispor do
bem ou conseguir a sua detenção material mediante um acto para o qual tem
competência em razão das suas funções. Será assim o caso do titular do cargo político
que – fazendo uso dos seus poderes - dá uma ordem de pagamento em seu benefício,
desde que esse pagamento não lhe seja devido).
Por via de regra, exige-se a anterioridade da posse ou da detenção do bem,
mas, em caso de detenção indirecta ou de disponibilidade jurídica do bem, a detenção
material e a apropriação poderão ocorrer simultaneamente.
No exemplo dado, o poder de disposição é exercido mediante uma ordem de
pagamento, que ocorreu antes da apropriação ou detenção material propriamente dita.
Dito doutro modo, a posse, entendida em sentido lato, é pré-existente (pois o
poder de disposição foi efectivamente exercido mediante uma ordem de pagamento) em
relação à apropriação e detenção material do dinheiro com o acto do recebimento.
Para além disso, ela agiu voluntariamente e ciente de que apenas teria direito a
receber a quantia de 83.130$00 e que ao embolsar o remanescente (35.620$00) se
apropriava ilicitamente (por não lhe ser devida) de uma verba camarária a que teve
acesso e se apropriou do modo descrito, bem sabendo que ao assim agir, tal conduta era
susceptível de ser punida por lei.
Deve pois a arguida Fátima ser punida pela prática de um crime de peculato, p. e
p. pelo artº 20º, nº 1, da Lei 34/87 de 16.07.
Quanto às situações referidas na pronúncia no capítulo 9º da pronúncia, pontos 2
e 3., tendo presente que não se demonstrou qualquer apropriação ilegítima por parte da
arguida Fátima – concluímos nós da factualidade apurada a esse propósito -, não
estando pois demonstrados sequer os elementos objectivos do tipo do tipo de ilícito em
causa, constata-se que inexistiu qualquer outra violação do bem jurídico protegido pela
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2º Juízo
norma, de sorte que, conforme já referido, ela não poderá ser punida pela prática do
crime em causa a título de crime continuado.
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No triénio 1998/1999/2000 a unidade de conta cifrava-se em 14.000$00, pelo que 50 Ucs, ao tempo,
representavam 700.000$00 (cfr. o DL nº 212/89, de 30.06).
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2º Juízo
A conduta, por seu turno, consiste em fazer uso ou permitir que outrem faça uso
(que neste caso parece dever-se entender como um empréstimo gratuíto), para fins
alheios àqueles a que se destinem, dos referidos veículos ou coisas móveis de valor
apreciável.
A utilização deverá ser temporária, sem que haja apropriação e intenção de
apropriação, e sem que haja alteração do bem, sendo este reposto ulteriormente no lugar
que lhe compete após o uso indevido (há pois apenas uma alteração do destino do bem).
De fora do respectivo tipo legal, segundo alguma jurisprudência, parece estar o
uso indevido de coisas fungíveis, como o dinheiro ou o combustível, pois o uso
determina o desaparecimento da coisa em si, ainda que possa posteriormente ser reposta
(cfr. ac. da RP, de 25.05.88, in CJ, XIII, tomo 3, p. 251; em sentido diverso, porém cfr.
Conceição Ferreira da Cunha, ob cit, págs. 711 e 712).
Trata-se de um crime doloso, em que a intenção do agente é o de usar
temporariamente o bem ou de permitir o seu uso temporário por outrem, o que se
compagina com qualquer uma das formas de que pode revestir o dolo (directo,
necessário e eventual).
A intenção de restituição terá, por outro lado, de existir ab initio, pois se o
agente actuou com intenção de apropriação mas depois decidiu restituir o bem poderá
estar-se perante a prática de um crime de peculato
Por outro lado, o agente terá de ter conhecimento de todos os elementos do tipo
(elemento intelectual do dolo – cfr. artº 16º, nº 1, do CP), isto é, saber que é titular de
um cargo político, ter a consciência de que se trata de um bem alheio de que tem a posse
em razão das suas funções e que o está a usar ou a permitir o seu uso para fins alheios
àqueles a que se destina. Em relação aos elementos normativos do tipo legal, exige-se
apenas que deles tenha uma percepção de “leigo”.
Tendo presente a factualidade provada a propósito do ponto 10.1. da pronúncia,
bem como as considerações de ordem jurídica efectuadas a propósito quer do respectivo
tipo legal quer do crime continuado, estamos em condições de concluir que:
1 - Quanto à conduta provada a propósito do ponto 10.1. da pronúncia
A arguida Fátima, de forma consciente, sabendo que a viatura “BMW” estava
adstrita às suas viagens de serviço e residualmente às viagens de serviço dos vereadores,
permitiu que – aproveitando uma viagem a Lisboa para a ir buscar (pois ali se tinha
deslocado na véspera em missão de serviço para a CMF) – nela viajassem a testemunha
Edgar, o arguido António Carvalho e a solicitadora Conceição, a fim de participarem no
Congresso Nacional do PS.
Permitiu ainda que esse trio, em Lisboa, nessa viautura, se deslocasse do hotel
para o local do congresso e vice-versa.
Fê-lo de forma deliberada e consciente, bem sabendo que tal comportamento não
era permitido por lei.
Parecem pois estar preenchidos todos os elementos típicos, com referência ao nº
1, do artº 21º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07.
A referência na pronúncia ao nº 2 do preceito em causa parece, por outro lado,
não fazer qualquer sentido.
Note-se que o fundo de maneio atribuído ao motorista Pinto foi usado para pagar
as portagens e o combustível, despesas essas que se podem considerar efectuadas no
âmbito da viagem que ele teria de fazer para trazer de volta a presidente da autarquia (o
nº 2 da norma em pareço pressupõe que o dinheiro público tenha sido usado
indevidamente com um destino igualmente público, pois se o foi para um fim particular,
tendo sido depois reposto, pode-se entender que se está já no domínio do nº 1 da
referida norma, se se entender que a mesma comporta as coisas fungíveis).
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2º Juízo
A segunda dificuldade prende-se com o valor dos bens móveis utilizados que,
como se sabe, têm de ter valor apreciável.
Ora, não se provou qual o valor desses bens (basicamente um computador, uma
impressora e papel), de modo que não sabemos, sem margem para dúvidas, se eles
tinham ou não, à data, valor apreciável.
Note-se que ignoramos qual era o modelo daqueles equipamentos, qual o seu
estado de conservação, qual o tempo de uso, se eram actuais ou obsuletos.
Sobre essa matéria não se fez a mínima prova.
Consequentemente, não se tendo apurado esse elemento típico, deve a arguida
ser absolvida do crime em causa.
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Isto é, o dever de não retirar vantagens directas ou indirectas, pecuniárias ou outras, das funções que
exerce, actuando com independência em relação a interesses e pressões particulares de qualquer índole.
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Isto é, o desempenho das funções em subordinação exclusiva a objectivos do serviço e na perspectiva
da prossecussão do interesse público.
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probidade das decisões que nesse âmbito foram tomadas e, nessa medida, pondo xeque
a autoridade e a credibilidade da administração, como aliás sempre acontece com a
tomada de decisões em causa própria.
Por outro lado, tendo agido consciente de todos esses factos, de forma livre e
deliberada, com aquela particular intenção de obtenção de uma vantagem, bem sabendo
que a conduta em causa era punida por lei, estão também preenchidos todos os
elementos do dolo (intelectual e volitivo), que no caso é directo (pois agiu com a
consciência do facto e com a intenção de o praticar).
Assim, s.m.o., entendemos que estão reunidos todos os pressupostos
conducentes à condenação.
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2º Juízo
Em todo o caso, ainda comanda os destinos da CMF, o que não sucederá caso
seja confirmada a decisão de perda de mandato, que mais à frente se irá decretar.
Consequentemente, parecem-nos relevantemente mitigadas as necessidades de
prevenção especial.
Ora, variando a moldura penal da pena de prisão entre 3 e 8 anos, parece-nos
adequada a imposição de uma pena de 3 anos de prisão.
A conduta em causa é ainda pnível com pea de multa, que varia entre 10 e 150
dias (cfr. artº 47º, nº 1, do CP, quanto ao limite mínimo).
Tendo presente as considerações efectuadas acerca do grau de censurabilidade
da sua conduta e as necessidades de prevenção geral e especial, parece-nos adequada a
imposição de uma pena de 25 dias de multa.
Sendo pessoa de condição sócio-económica mediana, parece-nos justa a fixação
de uma taxa diária de 50,00 euros, ainda assim situada relativamente perto do limite
mínimo estabelecido no artº 47º, nº 2, do CP (teve-se em consideração as despesas
acrescidas que nesta fase da sua vida a arguida tem de suportar).
b) Quanto ao crime de peculato de uso (ponto 10.1. da pronúncia):
Tendo presente que a arguida agiu com dolo directo, o concreto cargo que
exercia à data e que não foi ela a beneficiária do desvio do “BMW” para fins que nada
tinham a ver com a sua utilização no âmbito da CMF, no circunstancialismo descrito,
parece-nos não ser muito relevante o grau de censurabilidade da sua conduta.
Quanto às necessidades gerais e especiais, remete-se para o que já se referiu a
propósito da determinação concreta das penas a impor por força da prática do crime de
peculato.
O crime em causa é punível com pena de prisão até 18 meses ou com pena de
multa de 20 a 50 dias.
Conforme é sabido, sempre que possível, dever-se-á optar pela pena de multa, na
senda aliás da evolução da opção legislativa no sentido de privilegiar as medidas não
privativas da liverdade e que se acentuou com a recente reforma do CP.
Assim, nos termos do artº 70º, do CP, se ao crime forem aplicáveis, em
alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à
segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da
punição, as quais estão enunciadas no artº 40º, nº 1, do mesmo diploma legal.
Tendo presente que a arguida está plenamente inserida socialmente, não tem
antecedentes criminais relevantes, a conduta em causa terá sido pontual (pelo menos só
se demonstrou uma ocorrência do género), parecem-nos reunidas as condições para a
opção pela pena de multa.
Tudo visto, parece-nos assim adequada a imposição de uma pena de 30 dias de
multa à já referida taxa diária de 50,00 euros.
c) Quanto ao crime de abuso de poderes (capítulo 11º da pronúncia):
Tendo presente que a arguida agiu com dolo directo, os cargos políticos que
ocupava aquando da sua conduta e o concreto benefício almejado, parece-nos relevante
o grau de censurabilidade da sua conduta.
Quanto às necessidades de prevenção geral e especial, remete-se para o que a
propósito já foi referido, pois neste particular não vislumbramos qualquer especificidade
relevante.
É sobretudo tendo em atenção a relavância do grau de censurabilidade da sua
conduta que, neste caso, não se opta pela imposição da pena de multa, pois entendemos
que esta pena não tem, neste caso, a virtualidade de salvaguardar de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição, mormente (mas não só) a de reafirmação da norma
violada e do bem jurídico que ela pretende tutelar.
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Prevê o artº 29º, al. f), da Lei nº 34/87, de 16.07, como efeito das penas
aplicadas a titulares de cargos políticos de natureza electiva, no caso uma presidente de
câmara municipal, a perda do respectivo mandato.
Trata-se de uma verdadeira pena acessória, pelo que dever-se-á ter em conta que
nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda de direitos civis, profissionais ou
políticos (cfr. o artº 30º, nº 4, da Constituição da República, e o artº 65º, nº 1, do CP).
Dito doutro modo, a imposição daquela pena acessória não deverá ser
automática.
Julgamos aliás que entendimento diverso implicaria sempre um juízo de
inconstitucionalidade dessa norma, interpretada portanto no sentido da respectiva
aplicação automática, conforme assim se entendeu, por exemplo, no ac. do STJ de
27.01.98, com texto integral em www.dgsi.pt (nº de documento: SJ199801270006753),
para cujos argumentos remetemos.
Não sendo então de aplicação automática a pena acessória em causa, caberá
averiguar se a mesma é ou não adequada no caso em apreço, tendo-se ainda em atenção
o princípio da proporcionalidade.
Já vimos que as necessidades de prevenção geral são elevadas no âmbito dos
tipos de ilícitos em questão.
Além disso, a relativa mitigância das necessidades de prevenção especial, neste
caso, prende-se também com a impossibilidade de continuação da actividade criminosa
se a arguida se vir impedida de continuar a exercer o seu mandato.
De resto, mais do que uma pena de prisão suspensa na sua execução, cremos que
a imposição da pena acessória de perda de mandato tem um efeito dissuasor bem mais
eficaz.
É certo que se nos afiguraria algo excessiva a imposição dessa pena acessória
caso a arguida Fátima apenas devesse ser condenada pelos crimes de peculato e
peculato de uso (num caso porque a vantagem se cifrou nuns míseros 35.620$00 e no
outro porque, sendo pontual, não foi ela quem beneficiou do uso indevido de uma
viatura camarária).
Porém, considerando no seu conjunto as três infracções criminais registadas e
sobretudo o crime de abuso de poderes acima referido, parece-nos não só adequada
como proporcional à gravidade dos ilícitos cometidos a imposição da pena acessória de
perda de mandato.
Por fim, a talhe de foice, cabe referir que a consideração da prática do aludido
crime de abuso de poderes em ordem a decretar-se a perda de mandato não fere o caso
julgado material formado pela decisão que absolveu a arguida Fátima Felgueiras na
acção de perda de mandato referida nos autos.
Na verdade, chamando à colacção as breves considerações que fizemos em sede
de questão prévia acerca do caso julgado, s.m.o., conclui-se que a causa de pedir nessa
acção de perda de mandato é diversa daquela que aqui está em causa, aliás com
pressupostos fácticos e jurídicos não inteiramente coincidentes.
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2º Juízo
acrescida dos juros de mora à taxa legal, contados desde a data de cada um dos
pagamentos em causa, custas e demais despesas legais;
- da arguida Fátima Felgueiras no pagamento à CMF da quantia de 680.380$00
(ou 3.393,72 euros), como reparação pelos prejuízos sofridos com as condutas descritas
nos itens 8º, 9º, 10º e 11º do PIC, acrescida dos juros de mora à taxa legal, contados
desde a data de cada um dos pagamentos em causa, custas e demais despesas legais;
- do arguido Barbieiri Cardoso no pagamento solidário com a arguida Fátima
Felgueiras à CMF da quantia de 118.750$00 (ou 592,32 euros), como reparação pelos
prejuízos sofridos com as condutas descritas nos itens nºs 10 e 15º do PIC, acrescida dos
juros de mora à taxa legal, contados desde a data de cada um dos pagamentos em causa,
custas e demais despesas legais.
A indemnização por perdas e danos emergentes da prática de um crime é
regulada pela lei civil (cfr. artº 129º, do CP, e artº 45º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07).
Por regra, vigora o princípio da adesão (artº 71º, do CPP; cfr., em todo o caso, o
artº 47º da Lei nº 34/87, de 16.07), sendo certo que o pedido deve ser deduzido pelo
lesado (artº 74º, do CPP).
Temos vindo a entender que no processo penal, em princípio, só pode conhecer
do pedido de indemnização civil por factos ilícitos quando estes se consubstanciam ou
resultam da prática de um ilícito criminal, restringindo-se tal conhecimento ao âmbito
da responsabilidade civil extracontratual decorrente da prática daqueles factos (neste
sentido, cfr. acs. do STJ, de 6.11.96, de 10.12.96, e de 09.07.97, in CJ, ano IV, tomo III,
págs. 185 e ss., 202 e ss., e CJ, ano V, tomo II, págs. 260 e ss., respectivamente; em
sentido contrário, contudo, pode ver-se, entre outros o ac. da RP, de 3.05.95, in CJ,
tomo III, págs. 248 e ss. Entretanto, por assento, fixou-se jurisprudência no primeiro dos
sentidos apontados – assento nº 7/99).
Começemos então por apreciar a responsabilidade civil da arguida Fátima
Felgueiras.
Preceitua o art. 483º, nº 1, do Código Civil:
“Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses
alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes
da violação”.
São cinco as condições que terão de se mostrar preenchidas e pelas quais
depende a responsabilidade civil extracontratual do demandado (o facto, a ilicitude, a
culpa, o dano e o nexo de causalidade) e que fundamentam o seu dever de indemnizar
enquanto agente da acção criminosa geradora de danos.
Em face da factualidade apurada a propósito do ponto 1, do 9º capítulo da
pronúnicia, ela apenas poderá ser responsabilizada pelo pagamento da quantia de que se
apropriou.
Ora, o facto reporta-se a uma acção/omissão voluntária do agente, ou seja, uma
conduta objectivamente dominável ou controlável pela vontade (no caso dos autos, a
conduta da arguida/demandada de subtrair se apropriar de uma quantia em dinheiro que
indevidamente recebeu, nas circunstâncias a propósito acima referidas; tal facto
reconduz-se a uma acção voluntária que empreendeu).
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2º Juízo
Esse facto tem de ser ilícito, ou seja, antijurídico - seja pela violação de um
direito de outrem; seja pela violação da lei que protege interesses alheios 25 ; seja pelo
abuso de direito (no caso dos autos a ilicitude do comportamento voluntário da
demandada reside no facto de ter violado o direito de propriedade daquela verba em
dinheiro).
Por outro lado, terá de se afirmar um nexo de imputação do facto ao lesante
(culpa - dolo - ou mera culpa - negligência).
A este propósito diz A. Varela in Das Obrigações em Geral, vol. I, 5ª ed., 514,
que agir com culpa (apreciada em abstracto – cfr. artº 487º, nº 2, do CC) significa
actuar em termos de a conduta do agente merecer a reprovação ou a censura do
direito, o que se verifica quando ele podia e devia ter agido de outro modo - cfr. no
mesmo sentido Dario M. Almeida, Manual de Acidentes de Viação, 3ª ed., 62. Dito por
outras palavras, a culpa exprime um juízo de reprovação ou de censura normativa da
conduta do agente e que tanto se pode reportar ao dolo como à negligência; quando
reportada à mera culpa, funda-se quer em inconsideração, imperícia ou negligência,
quer na inobservância de preceitos legais ou regulamentares.
Ora, no caso dos autos esse nexo de imputação é patente, visto que a demandada
agiu com dolo directo (cfr. artº 14º, nº 1, do CP).
Ademais, provou-se a existência um dano patrimonial.
Destarte, para que o demandado possa ser responsabilizado, é necessário
estabelecer-se um nexo de causalidade adequada entre o facto e o dano.
Dispõe o artº 563º, do CC, que “A obrigação de indemnização só existe em
relação aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”.
Assim, em face do direito constituído, o autor do facto só será obrigado a
reparar aqueles danos que não se teriam verificado sem esse facto e que, abstraindo
deste, seria de prever que não se tivessem produzido (A. Varela in Das Obrigações em
Geral, vol. I, 6ª ed., 869), em termos tais que o facto tenha actuado como condição
adequada do dano em termos abstractos.
Além disso, conforme observa Pereira Coelho, in Obrigações, p. 166, não é
necessário uma causalidade directa, basta uma indirecta (o autor da lesão é responsável
por todos os factos ulteriores que eram de esperar segundo o curso normal das coisas,
ou foram especialmente favorecidos pela conduta do agente quer na sua própria
verificação quer a sua actuação concreta em relação ao dano de que se trata.
Ou seja, o agente só deve responder pelos resultados para cuja produção a sua
conduta era adequada, e não por aqueles em que tal conduta, de acordo com a sua
natureza geral e o curso normal das coisas, não era apta a produzir e que só produziram
em virtude de uma circunstância extraordinária (formulação negativa da teoria da
causalidade adequada, comummente aceite pela doutrina e jurisprudência no caso de
responsabilidade por factos ilícitos; a sua formulação positiva, com um âmbito mais
restrito, aplica-se normalmente à responsabilidade por factos lícitos).
. No caso dos autos, em virtude do comportamento da arguida/demandada, o
demandante viu o seu património empobrecido em 177,67 euros, correspondente ao
valor de que ela ilicitamente se apropriou.
Constituiu-se assim a demandada Fátima na obrigação de indemnizar o
demandante.
25
Nesta hipótese necessário seria a violação de uma norma legal, que a tutela dos interesses
particulares figure entre os fins da norma violada e que o dano se tenha registado no círculo de interesses
privados que a lei visa tutelar.
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(sobre estes aspectos, veja-se os acs. da RC, de 07.06.94, CJ, Tomo III, p. 31; da RL, de 23.06.94, CJ,
Tomo III, p. 134; do STJ, de 21.09.93, CJ Acs. do STJ, Tomo III, p. 13; do STJ, de 30.11.93, CJ Acs. do
STJ, Tomo III, p. 53; do STJ, de 10.05.94, CJ Acs. do STJ, Tomo II, p. 91; do STJ, de 12.05.94, CJ Acs.
do STJ, Tomo II, p. 98; da RL, de 27.05.93, CJ, Tomo III, p. 117 e, finalmente, da RL, de 20.02.90, CJ,
Tomo I, Ano XV, p. 188).
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“Sempre que a indemnização pecuniária por facto ilícito ou pelo risco tiver sido
objecto de cálculo actualizado, nos termos do nº 2 do artº 566º do Código Civil, vence
juros de mora, por efeito no disposto nos artigos 805º, nº 3 (interpretado
restritivamente), e 806º, nº 1, também do Código Civil, a partir da decisão
actualizadora, e não a partir da citação.”
Por conseguinte, com recurso às taxas de inflação publicadas pelo INE (com
exclusão da habitação), poder-se-ia actualizar o montante acima referido até à data de
hoje, passando a correr desde então os respectivos juros moratórios, sendo certo que
apenas estaríamos limitados pelo valor global do pedido – artº 661º, nº 1, do CPC (cfr.
Assento nº 13/96, de 15.10, in DR nº 274, I Série, p. 4262 e ss.).
Não obstante, a demandante optou pela contagem dos juros moratórios desde a
data de recebimento da quantia de 177,67 euros, por razões que certamente ponderou,
pelo que nos parece curial respeitar tal opção, razão pela qual deverá proceder o pedido
de condenação no pagamento de juros moratórios nos precisos termos peticionados.
Procede pois em parte a pretensão do demandante.
Quanto ao mais, isto é, quanto ao pagamento de outras quantias peticionadas,
deverá a arguida/demandada Fátima ser absolvida, na medida em que os pressupostos
da responsabilidade civil extracontratual – acima mencionados – não se demonstraram,
designadamente, a ocorrência de qualquer dano patrimonial na esfera jurídica do
Município de Felgueiras.
O mesmo se diga em relação aos demandados Júlio Faria e Barbieri Cardoso,
sendo certo que, quanto a este último, conforme aliás observa na sua contestação, tendo
sido despronunciado pela prática do alegado crime que está na base da pretensão cível
em causa, sempre seria de improceder o pedido civel em apreço.
***
III - DECISÃO
Pelo exposto
3.1. Este tribunal colectivo julga a pronúncia parcialmente procedente, por
parcialmente provada, pelo que, consequentemente, decide:
3.1.1.1. Absolver a arguida Maria de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida
de Sousa Oliveira da pronúncia na parte em que lhe é imputada a prática de 5 (cinco)
crimes de participação económica em negócio, p. e p. pelo art. 23º, nº 1, da Lei n.º
34/87, de 16/07, a título de co-autoria e na forma consumada (reportados aos 1º e 3º
capítulos da pronúncia);
3.1.1.2. Absolver a arguida Maria de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida
de Sousa Oliveira da pronúncia na parte em que lhe é imputada a prática de 6 (seis)
crimes de corrupção passiva para acto ilícito, p. e p. pelo art. 16º, nº 1, da Lei n.º 34/87,
de 16/07, a título de autoria material e na forma consumada (reportados ao 2º capítulo
da pronúncia);
3.1.1.3. Absolver a arguida Maria de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida
de Sousa Oliveira da pronúncia na parte em que lhe é imputada a prática de 3 (três)
crimes de prevaricação, p. e p. pelo artº 11º, da Lei nº 34/87, de 16.07, a título de autoria
material e na forma consumada (reportados aos 4º e 5º capítulos da pronúncia);
3.1.1.4. Absolver a arguida Maria de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida
de Sousa Oliveira da pronúncia na parte em que lhe é imputada a prática de 1 (um)
crime de abuso de poderes, p. e p. pelo artº 26º, nºs 1 e 2, da Lei nº 34/87, de 16.07, a
título de autoria e na forma consumada (com referência ao 6º capítulo da pronúncia);
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Sem prejuízo da condenação constante do ponto 3.1.1.9. do dispositivo deste acórdão, visto que a
absolvição apenas se reporta ao crime continuado (pois não se provou qualquer violação plúrima do
mesmo bem jurídico) e não à prática de um crime de peculato (ponto 1 do 9º capítulo da pronúncia).
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Cfr. artº 513º, nºs 1 a 3, do CPP.
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Dada a situação económica da arguida Fátima (acima dada como provada) e a evidente complexidade
dos autos – mas tendo-se em atenção que ela foi absolvida no que respeita à maior parte dos crimes -,
optou-se pela fixação de uma taxa de justiça de 20 ucs, ainda assim situada relativamente perto limite
mínimo – cfr. artgs 82º, nº 1, e 85º, nº 1, al. a), do CCJ.
30
A demandada Fátima decaíu em 177,67 euros e o demandante em 788.572,33 euros (cfr. artg. 446º, nºs
1 e 2, do CPC, ex vi dos artgs 520º, al. a), e 523º, do CPP).
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Cfr. Artº 2º, nº 1, al. e), do CCJ.
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