Você está na página 1de 3

Aos Exmos

Presidente da República
Presidente da Assembleia da República
Grupos Parlamentares
Provedor de Justiça
Conselho Científico para a Avaliação de Professores
Ministério da Educação
Director Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo
Conselho Geral Transitório da Escola Secundária Ibn Mucana
Conselho Pedagógico da Escola Secundária Ibn Mucana
Conselho Executivo da Escola Secundária Ibn Mucana
Associação de Pais da Escola Secundária Ibn Mucana

PEDIDO DE SUSPENSÃO DO ACTUAL MODELO


DE
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE

Os Professores da Escola Secundária Ibn Mucana abaixo-assinados, em


nome de uma avaliação promotora do sucesso e da dignificação da carreira
docente, vêm por este meio manifestar o seu profundo descontentamento
face ao actual modelo de Avaliação de Desempenho, introduzido pelo
Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro e solicitar a sua
suspensão imediata pelos motivos a seguir enunciados:

1. A aplicação do modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008


tem-se revelado inexequível, por ser inviável praticá-lo segundo critérios de
rigor, imparcialidade e justiça, tão caros aos Professores desta Escola, cujo
hino canta o valor da liberdade como sinal de um carácter nobre.

2. O modelo de Avaliação do Pessoal Docente ora em vigor pauta-se


pela subjectividade dos seus parâmetros e, portanto, será passível, a todo o
tempo, de ser questionado.

3. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 não tem em conta a


complexidade da profissão docente que não é redutível a um modelo
burocrático e não cabe, portanto, em grelhas e fichas pré-formatadas, numa
perspectiva desmesuradamente quantitativa e ao mesmo tempo redutora, do
desempenho dos docentes. Recorda-se que todo o modelo foi concebido pelo
ME, mas, perversamente, entregue à autonomia das escolas e que a sua
implementação vive à custa de incontáveis horas de trabalho dedicadas à
realização de tarefas burocráticas de elaboração e reformulação de
documentos.

4. Este modelo de avaliação agrava de forma desumana as condições de


trabalho dos docentes cujo horário imposto pelo ME não se ajusta às inúmeras
tarefas e funções que lhes são atribuídas ou solicitadas. Dez ou onze horas de
trabalho individual são claramente insuficientes para a planificação de aulas,

1
análise de estratégias mais adequadas, criação de recursos diversificados e
inovadores, elaboração de recursos para apoios educativos e para alunos que
exigem um ensino diferenciado, preparação de instrumentos de avaliação
diagnóstica, formativa e sumativa, correcção dos mesmos, reflexão sobre os
resultados e reformulação de práticas. Acrescente-se ainda a participação em
reuniões e a dinamização/participação em actividades extra-curriculares e de
intervenção na comunidade educativa que também constituem parâmetros da
actual avaliação dos docentes.

5. O modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008, pela sua


absurda complexidade, não se traduz em qualquer mais-valia profissional;
desvaloriza objectivos formativos num primado da estatística face aos
processos. Estabelece os números como seu princípio e fim e como meta da
acção didáctico-pedagógica dos professores.

6. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 tem por objectivo melhorar a


qualidade da escola pública. Este pressuposto não pode ser alcançado devido
ao clima de insustentável instabilidade e mal-estar resultante da
implementação do concurso para Professor Titular, concurso baseado em
parâmetros arbitrários e por isso injusto.

7. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 impõe quotas para as menções de


“Excelente” e “Muito Bom”, e, com isso, desvirtua qualquer perspectiva dos
docentes de ver reconhecidos os seus efectivos méritos, conhecimentos,
capacidades, competências e investimento na carreira.

8. Não é aceitável que se estabeleça qualquer paralelo entre a


avaliação interna e a avaliação externa, quando sabemos que este critério
apenas é aplicável às disciplinas que têm exame a nível nacional, havendo,
por isso, uma violação evidente do princípio da igualdade consagrado no
Artigo 13º da Constituição da Republica Portuguesa.

9. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 implica um enorme acréscimo de


trabalho burocrático para os docentes, sem benefício correspondente para
ninguém, correndo-se o risco de ficar relegado para um plano secundário o
processo de ensino aprendizagem, prevendo-se graves consequências nas
novas gerações e, naturalmente, no futuro do país.

10. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 condiciona a avaliação do


professor aos resultados escolares dos seus alunos. Os professores desta Escola
consideram que mecanismos como a consideração directa do sucesso
educativo dos alunos na avaliação dos docentes são incorrectos, injustos e
perniciosos e estão em desacordo com as recomendações da Comissão
Científica da Avaliação de Desempenho, que está, aliás, também ela, parada.

Pelo exposto, os professores abaixo-assinados desta Escola decidiram


solicitar a suspensão de todas as iniciativas e actividades relacionadas com o
processo de Avaliação de Desempenho, até que se proceda a uma revisão que
o torne num modelo não burocrático, exequível, justo, facilitador das boas
práticas e do clima harmoniosos e cooperativo que se pretendem numa Escola
2
Pública de qualidade.

Alcabideche, 12 de Novembro de 2008

Você também pode gostar