Você está na página 1de 1

Hugo tocou as cinzas e logo as deixou cair no cho com o leno. Cambaleou para trs.

T odos os seus planos, todos os seus sonhos desapareciam naquele montinho de cinza espalhada. Hugo investiu contra o velho, mas este foi mais rpido e o agarrou pel os braos. Por que todo esse apego a um caderninho? per-guntou o velho enquanto sa cudia Hugo. Por que voc no me diz? Hugo estava soluando. Ao tentar se livrar do vel ho, notou uma coisa esquisita. O velho parecia ter lgrimas nos olhos tambm. Por qu e diabos ele estaria chorando? V embora murmurou o velho, soltando Hugo. Por favo r, apenas v embora. Acabou. Hugo enxugou os olhos com as mos sujas de cinza, deixa ndo longas manchas negras no rosto. Virou-se e correu o mais depressa que pde. Hugo estava exausto, mas precisava conferir os rel-gios de novo. Por um momento, pensou em desistir. Ja-mais conseguiria ler a mensagem do autmato agora, ento bem que podia se entregar ao inspetor da estao e ser mandado para o orfanato. L, pelo m enos, no preci-saria roubar comida e se preocupar com o atraso dos relgios. Mas a ideia de perder o homem mecnico era 138 difcil de suportar. Sentia-se responsvel por ele. Mesmo que no funcionasse, ficando na estao, ele o teria por perto. O garoto se ps a trabalhar nos relgios. No entanto, por mais que tentasse se distr air, continuava a ver o len-o cheio de cinzas. Tinha dio do velho e jamais perdoaria a menina por ter mentido. No final do dia, Hugo colocou sua caixa de ferrame n-tas no cho e se sentou junto do relgio que estava con-ferindo. Colocou o relgio d e bolso na caixa, trouxe os joelhos para debaixo do queixo e segurou a cabea com as mos. O ritmo regular do relgio fez Hugo adormecer, mas ele sonhou com incndios e acordou sobressaltado. Frustrado, triste, e tendo terminado com os relgios, ele finalmente voltou para o quarto e tentou dormir. Mas sua mente no parava de rodop iar e, por isso, apanhou uma folha de papel e um lpis numa das caixas perto da ca ma. Sentou-se no cho e fez desenhos de relgios e engrena-gens, de mquinas imaginrias e mgicos no palco. Dese-nhou o autmato muitas e muitas vezes. Depois colocou os d esenhos debaixo da cama, sobre a grande pilha de outros desenhos que tinha feito , e foi se deitar, todo vestido. 139

Você também pode gostar