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$444-(2) ‘ASSEMBLEIA DA REPUBLICA Lei Constitucional n.° 1/92 0 25 de Novembro TTorceire revisho constituconal ‘A Assembleia da Republica, no uso dos poderes de revisio constitucional previstos na alinea a) do ar- tigo 164.° da Constituigdo, decreta o seguinte: ‘Artigo 1.° A Constituigao da Republica Portuguesa, de 2 de Abril de 1976, na redac¢ao que Ihe foi dada pela Lei Constitucional n.° 1/82, de 30 de Setembro, € pela Lei Constitucional n.° 1/89, de 8 de Julho, é alterada nos termos dos artigos seguintes. Art. 2.° — 1 — No n.° 5 do artigo 7.° € aditada a expresso «da democracian entre a expressao «a favor» € a expresso «da paz». 2 —E aditado no mesmo artigo um novo n.° 6, com a seguinte redaccdo: 6. Portugal pode, em condigdes de recipro« dade, com respeito pelo principio da subsidiarie- dade ¢ tendo em vista a realizacdo da coesto eco- némica e social, convencionar o exercicio em comum dos poderes necessérios a construcdo da unigo europeia. Art. 3.° — 1 — E aditada a epfgrafe do artigo 15.° a expressdo «, cidadaos europeus». 2—No n.° 4 do artigo 15.° é aditada a expressio «activa e passivan entre «capacidade eleitoral» e «para a eleicao». 3 —E aditado no mesmo artigo um novo n.° 5, com a seguinte redacao: 5. A lei pode ainda atribuir, em condigdes de reciprocidade, aos cidadaos dos Estados membros da Unido Europeia residentes em Portugal 0 di- reito de elegerem e serem cleitos Deputados a0 Parlamento Europeu. Art. 4.° O texto do artigo 105.° € substituido por © Banco de Portugal, como banco central na- cional, colabora na definicao e execugdo das poli- ticas monetaria ¢ financeira e emite moeda, nos termos da lei. Art. 5.° No artigo 166.° é aditada uma nova ali- nea f), com a seguinte redaceac J) Acompanhar e apreciar, nos termos da lei, a participagao de Portugal no proceso de constru- ¢40 da unido europeia. Art. 6° No n.° 1 do artigo 200.° é aditada uma nova alinea ), com a seguinte redaccao: 4) Apresentar, em tempo itil, & Assembleia da Repiiblica, para efeitos do disposto na alinea J) do artigo 166.°, informagdo referente ao processo de construgéo da unio europeia. Ant. 7.° — 1 — No n.° | do artigo 284.° a expres- so «de qualquer lei de revisdo» € substituida pela ex- pressao «da ultima lei de revisdo ordindrian, DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A N.° 273 — 25-11-1992 2—No n.° 2 do mesmo artigo o inciso «constitu- cional» € substituido pelo inciso «extraordinarian. Aprovada em 17 de Novembro de 1992. O Presidente da Assembleia da Republica, Antonio Moreira Barbosa de Melo. Promulgada em 21 de Novembro de 1992. Publique-se. © Presidente da Republica, MARIO SOARES. Referendada em 24 de Novembro de 1992. O Primeiro-Ministro, Anibal Anténio Cavaco Silva. CONSTITUIGAO DA REPUBLICA PORTUGUESA Preambulo A 25 de Abril de 1974, 0 Movimento das Forgas Ar- ‘madas, coroando a longa resisténcia do povo portugués € interpretando os seus sentimentos profundos, derru- bow o regime fascista. Libertar Portugal da ditadura, da opressdo e do co- lonialismo representou uma transformagao revolucio- ndria e 0 inicio de uma viragem histOrica da sociedade portuguesa, A Revolucdo restituiu aos Portugueses os direitos € liberdades fundamentais. No exercicio destes direitos € liberdades, os legitimos representantes do povo retinem- -se para elaborar uma Constituigéo que corresponde as aspiracées do pats. ‘A Assembleia Constituinte afirma a decisto do povo portugués de defender a independéncia nacional, de ga- rantir os direitos fundamentais dos cidadaos, de esta- belecer os principios basilares da democracia, de asse- gurar 0 primado do Estado de Direito democritico e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no res- peito da vontade do povo portugués, tendo em vista a construgdo de um pais mais livre, mais justo e mais Sraterno. A Assembleia Constituinte, reunida na sesso plend- ria de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta a seguinte Constitwiséo da Repiiblica Portuguesa: Principios tundamentais Artigo 1.° (epiblicn Portuguesa) Portugal é uma Repiiblica soberana, baseada na dig- nidade da pessoa humana e na vontade popular e em- penhada na construcéo de uma sociedade livre, justa solidaria, Artigo 2.° (Estado de direto democrético) A Repiiblica Portuguesa é um Estado de direito de- mocrético, baseado na soberania popular, no plura- lismo de expresso e organizacao politica democraticas € no respeito e na garantia de efectivagdo dos direitos N.° 273 — 25-11-1992 DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A 5444-(3) ¢ liberdades fundamentais, que tem por objectivo a rea- lizagéo da democracia econémica, social e cultural ¢ © aprofundamento da democracia participativa, Artigo 3.° (Soberania ¢ legaldade) 1. A soberania, una ¢ indivisivel, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituigdo. 2. 0 Estado subordina-se & Constituigdo e funda-se na legalidade democrética. 3. A validade das leis e dos demais actos do Estado, das regides auténomas © do poder local depende da sua conformidade com a Constituigdo. Artigo 4.° (Cidadania portuguesa) So cidadaos portugueses todos aqueles que como tal sejam considerados pela lei ou por convengdo interna- cional. Artigo 5.° (Terrtério) 1. Portugal abrange o territério historicamente de- finido no continente europeu e os arquipélagos dos Acores e da Madeira, 2. A lei define a extensdo € 0 limite das Aguas terri- toriais, a zona econémica exclusiva ¢ os direitos de Por- tugal aos fundos marinhos contiguos. 3. O Estado nao aliena qualquer parte do territério portugués ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce, sem prejuizo da rectificagdo de fronteiras. Artigo 6.° (Estado unitirioy 1. 0 Estado é unitério ¢ respeita na sua organizagio 0s principios da autonomia das autarquias locais e da des- centralizacdo democratica da administracdo publica. 2. Os arquipélagos dos Acores ¢ da Madeira consti- tuem regides auténomas dotadas de estatutos politico- -administrativos ¢ de érgdos de govern préprio. Artigo 7.° (Relasées lnternacionals) 1. Portugal rege-se nas relagdes internacionais pelos principios da independéncia nacional, do respeito dos direitos do homem, do direito dos povos & autodeter- minagdo ¢ a independéncia, da igualdade entre os Es- tados, da solucdo pacifica dos conflitos internacionais, da ndo ingeréncia nos assuntos internos dos outros Es tados e da cooperacdo com todos 0s outros povos para a emancipacdo ¢ 0 progresso da humanidade. 2. Portugal preconiza a abolicdo de todas as formas de imperialismo, colonialismo e agressio, 0 desarma- ‘mento geral, simultaneo e controlado, a dissolucéo dos locos politico-militares ¢ o estabelecimento de um sis- tema de seguranca colectiva, com vista & criacdo de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz ¢ a justica nas relagdes entre os povos. 3. Portugal reconhece 0 direito dos povos a insur- reigéo contra todas as formas de opress4o, nomeada- mente contra 0 colonialismo e o imperialismo. 4. Portugal mantém lagos especiais de amizade ¢ cooperaao com os pafses de lingua portuguesa. $. Portugal empenha-se no reforco da identidade eu- ropeia ¢ no fortalecimento da acgdo dos Estados euro- peus a favor da democracia, da paz, do progresso eco- némico e da justia nas relagdes entre os povos. 6. Portugal pode, em condigdes de reciprocidade, com respeito pelo principio da subsidiariedade ¢ tendo em vista a realiza¢o da coesdo econdmica ¢ social, convencionar o exercicio em comum dos poderes ne- cessdrios & construgio da uniéo europeia. 1. As normas e os principios de direito internacio- nal geral ou comum fazem parte integrante do direito portugués. 2. As normas constantes de convencdes internacio- nais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna apés a sua publicacdo oficial e enquanto vincularem internacionalmente 0 Estado Portugués, 3. As normas emanadas dos érgios competentes das organizagdes internacionais de que Portugal seja parte vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respectivos tratados cons- titutivos. Artigo 9.° (Taretas fundamentals do Estado) Sdo tarefas fundamentais do Estado: @) Garantir a independéncia nacional ¢ criar as condicdes politicas, econémicas, sociais € cul- turais que a promovam; +b) Garantir 0s direitos ¢ liberdades fundamentais, € 0 respeito pelos principios do Estado de reito democratico; ©) Defender a democracia politica, assegurar centivar a participa¢do democratica dos cida- daos na resolucdo dos problemas nacionais; @) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do ovo e a igualdade real entre os portugueses, bem. como a efectivaco dos direitos econdmicos, so- ciais e culturais, mediante a transformacao ¢ mo- dernizagao das estruturas econdmicas ¢ sociais; ©) Proteger ¢ valorizar o patriménio cultural do povo portugués, defender a natureza ¢ 0 am- biente, preservar os recursos naturais © assegu- rar um correcto ordenamento do territério; A) Assegurar 0 ensino e a valorizagao permanente, defender 0 uso e promover a difusio interna- cional da lingua portuguesa. Artigo 10.° (Gutriglo universal ¢ partidos politicos) 1. O povo exerce 0 poder politico através do sufra- gio universal, igual, directo, secreto © periddico ¢ das demais formas previstas na Constituicao. 5444-(4) DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A N.° 273 — 25-11-1992 2. Os partidos politicos concorrem para a organiza- a0 € para a expresséo da vontade popular, no respeito pelos principios da independéncia nacional e da demo- cracia politica. Artigo 11.9 (Simbotos nacional) 1. A Bandeira Nacional, simbolo da soberania da Reptiblica, da independéncia, unidade e integridade de Portugal, é a adoptada pela Repiblica instaurada pela Revolucdo de 5 de Outubro de 1910. 2. O'Hino Nacional ¢ A Portuguesa, PARTE I Direitos © deveres fundamentais TITULO I Principlos gerais Artigo 12.° (Principio da universalidade) 1. Todos 0s cidadaos gozam dos direitos e esto su- jeitos aos deveres consignados na Constituicao. 2. As pessoas colectivas gozam dos direitos ¢ esto sujeitas aos deveres compativeis com a sua natureza. Artigo 13.° (Principio du Igualdade) 1. Todos 0s cidadaos tém a mesma dignidade social € sdo iguais perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, pre- judicado, privado de qualquer direito ou isento de qual- quer dever em razdo de ascendéncia, sexo, raga, lin- Bua, territério de origem, religiéo, conviegdes politicas ou ideolégicas, instrugdo, situado econémica ou con- digdo social. Artigo 14.° (Portugueses no estrangelo) s cidadaos portugueses que se encontrem ou resi- dam no estrangeito gozam da proteccdo do Estado para © exercicio dos direitos e esto sujeitos aos deveres que nao sejam incompativeis com a auséncia do pais. Artigo 15.° CEstrangeiros, apétridas, cldaddos europeus) 1, Os estrangeiros ¢ os apatridas que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos direitos e esto su- jeitos aos deveres do cidadao portugues. 2. Exceptuam-se do disposto no mimero anterior os direitos politicos, 0 exercicio das fungdes puiblicas que ndo tenham cardcter predominantemente técnico ¢ os direitos ¢ deveres reservados pela Constituicao ¢ pela lei exclusivamente aos cidadaos portugueses. 3. Aos cidaddos dos paises de lingua portuguesa po- dem ser atribuidos, mediante convenc&o internacional e em condigdes de reciprocidade, direitos ndo conferi- dos a estrangeiros, salvo 0 acesso a titularidade dos 6r- giios de soberania e dos drgaos de governo proprio das regides auténomas, o servigo nas Forgas Armadas ¢ a carreira diplomatica. 4. A lei pode atribuir a estrangeiros residentes no ter- ritério nacional, em condigées de reciprocidade, capa- cidade eleitoral activa ¢ passiva para a eleicdo dos ti- tulares de érgios de autarquias locais. 5. A lei pode ainda atribuir, em condigdes de reci- procidade, aos cidadaos dos Estados membros da Unido Europeia residentes em Portugal o direito de elegerem € serem eleitos Deputados ao Parlamento Europeu. Artigo 16.° (Ambit ¢ sentido dos direios fundamentals) 1, Os direitos fundamentais consagrados na Consti- tuigdo ndo excluem quaisquer outros constantes das leis e das regras aplicdveis de direito internacional. 2. Os preceitos constitucionais ¢ legais relativos aos direitos fundamentais devem ser interpretados e integra- dos de harmonia com a Declaraco Universal dos Direi tos do Homem, Artigo 17.9 (Regime 01 direitos, lberdades ¢ garantas) O regime dos direitos, liberdades e garantias aplica- se aos enunciados no titulo il ¢ aos direitos fundamen- tais de natureza andloga. Artigo 18.° (Forge Juridica) 1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direi- tos, liberdades ¢ garantias sdo directamente aplicdveis e vinculam as entidades puiblicas ¢ privadas. 2. A lei s6 pode restringir os direitos, liberdades ¢ garantias nos casos expressamente previstos na Cons- tituigdo, devendo as restrigdes limitar-se ao necessério para salvaguardar outros direitos ou interesses consti- tucionalmente protegidos. 3. As leis restritivas de direitos, liberdades e garan- tias tm de revestir cardcter geral ¢ abstracto ¢ nao po- dem ter efeito retroactivo nem diminuir a extensio ¢ 0 alcance do contetido essencial dos preceitos consti- tucionais. Artigo 19.° (Suspensio do exercicto de direitos) 1, Os érgdos de soberania no podem, conjunta ou separadamente, suspender o exercicio dos direitos, li- berdades e garantias, salvo em caso de estado de sitio ou de estado de emergéncia, declarados na forma pre- vista na Constituicdo, 2. O estado de sitio ou o estado de emergéncia 56 podem ser declarados, no todo ou em parte do terri- t6rio nacional, nos casos de agressdo efectiva ou imi- nente por forcas estrangeiras, de grave ameaca ou per- turbagdo da ordem constitucional democratica ou de calamidade publica.

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