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Utilizando o CobiT e o Balanced Scorecard como instrumentos para o

Gerenciamento de Níveis de Serviço

Win Van Grembergen, http://www/isaca.org


Tradução de Fátima Pires (fatima@ccuec.unicamp.br)

Na economia atual voltada a prestação de serviços, as organizações cada vez mais se apóiam em
terceiros para a obtenção de um grande número de serviços na área de Tecnologia da Informação
(TI). No entanto, estas organizações não estão normalmente satisfeitas com a qualidade dos
serviços recebidos e algumas vezes são dependentes de terceiros cujo futuro é incerto,
especialmente neste período caracterizado por economias em declínio.

Este artigo mostra como as organizações podem responder a este problema através de acordos de
nível de serviço (SLA – Service Level Agreemet) e gestão de níveis de serviço (SLM – Service
Level Management), apoiados por mecanismos tais como o modelo CobiT (Control OBjectives for
Information and related Technology) e o Balanced Scorecard (BSC).

A principal conclusão deste artigo é que um processo adequado de SLM deveria ser instalado nas
organizações e então, para evitar problemas de recebimento de serviços não satisfatórios, alguns
níveis de serviço deveriam ser expressos em termos do negócio. Implementar um processo de
SLM não é uma tarefa fácil e rápida. Uma abordagem utilizando mecanismos tais como o CobiT e o
BSC podem ajudar na definição ou aprimoramento do SLAs.

Definições

De acordo com o Foundations of Service Level Management, SLM é “a metodologia disciplinada e


pró-ativa e os procedimentos utilizados para garantir que os usuários de TI recebam serviços com
nível adequado de qualidade, de acordo com as prioridades do negócio, a um custo aceitável.”

O instrumento principal para o SLM é o acordo de nível de serviço (SLA). “Um acordo de nível de
serviço é um contrato escrito entre o fornecedor do serviço e o cliente deste serviço. O objetivo do
SLA é estabelecer metas mensuráveis de desempenho a fim de se ter um entendimento comum da
natureza e do nível de serviço desejado” de acordo com o International Federation of Accountants.

De forma geral, existem três tipos básicos de SLA: doméstico, externo e interno. As diferenças
entre estes tipos estão nas partes envolvidas na definição dos acordos:

- doméstico: acordo negociado entre, por exemplo, o departamento de TI e os outros


departamentos da mesma empresa.

- externo: acordo entre um fornecedor externo (terceirizado) e a empresa.

- interno: acordo utilizado pelo fornecedor para medir o desempenho dos grupos dentro do
seu próprio setor.

Independente do tipo de acordo, este deve ser sempre negociado com uma equipe multidisciplinar
com representação equilibrada entre o grupo de usuários e o fornecedor do serviço. Muitos
entendem que estas negociações devem resultar em acordos “soma-zero”, ou seja, obtenção de
serviços com alto nível de qualidade a um custo mínimo (por parte do usuário) e concebidos com
um mínimo de esforço e margem de lucro máxima (por parte do fornecedor). Buscar o equilíbrio
entre estas duas posições é crucial, mas, ao mesmo tempo, uma tarefa difícil para um SLM e SLAs
efetivos.

Um SLA é uma necessidade entre o fornecedor de serviço e o seu usuário já que um serviço pode
ser considerado “bom” ou “ruim” apenas se este serviço está claramente descrito. Além disso, o
acordo formaliza as necessidades e expectativas da empresa e serve como um tipo de garantia
para ambas às partes. Desta forma, prováveis mal-entendidos são minimizados e é possível uma
visão mais clara das prioridades do serviço e da sua disponibilidade.

Alguns componentes essenciais de um acordo são: participantes do acordo, definições da


terminologia utilizada, prazos, escopo, assunto, limitações, objetivos dos níveis do serviço
(disponibilidade, desempenho, níveis de carga, segurança, manutenção, qualidade), indicadores de
níveis de serviço, impactos do mau desempenho, mecanismos de preço, termos de pagamento,
procedimentos de segurança, procedimentos de auditoria, funções e responsabilidades, serviços
opcionais, relatórios, administração, revisões/atualizações, propriedade, aspectos legais e
homologações.

Os indicadores de níveis de serviço especificam as métricas e estatísticas que serão utilizadas para
medir os níveis de serviço. Além disso, devemos definir quem exatamente irá executar a atividade
de medir e como isto será feito. No registro das métricas, é importante coletar as métricas objetivas
(os números) assim como também as métricas subjetivas (tais como a percepção do grupo de
usuários finais) que podem ser muito diferentes das estatísticas objetivas.

Da mesma forma, as cláusulas de problemas de desempenho definem o que acontece se o


fornecedor do serviço não atender os objetivos do SLA como estabelecidos (avisos, ações
corretivas, penalidades financeiras).

Os procedimentos e processos de revisão e atualização deveriam ser incluídos para permitir a


identificação e adequada implementação de qualquer mudança solicitada, como, por exemplo,
outros indicadores, novas tecnologias, novos requisitos organizacionais ou de serviço e mudanças
na estratégia da organização. Revisões periódicas nos acordos são fatores chaves de sucesso já
que as organizações e seus serviços são dinâmicos por natureza.

É importante ressaltar que um SLA completo não existe. Sempre existirão certas cláusulas secretas
para os fornecedores se apoiarem quando os serviços fornecidos ficarem abaixo dos níveis
estipulados. Como conseqüência, muitas organizações se sentem ludibriadas pelo fato de que seus
SLA's não os protegem efetivamente contra tudo e então começam a acusar o fornecedor pela
qualidade do serviço e SLAs não confiáveis. No entanto, eles esquecem que quanto maior o
escopo do SLA, maior o custo da prestação do serviço. Um SLA equilibrado é um compromisso
entre as necessidades, expectativas e requisitos da organização (grupo de usuários) e a
capacidade de fornecimento do serviço e promessas do fornecedor. Ao mesmo tempo, um SLA
precisa proteger o fornecedor limitando suas responsabilidades legais e gerenciando racionalmente
as expectativas do usuário.

CobiT, SLM e SLAs

O CobiT, desenvolvido pelo IT Governance Institute, inclui o framework CobiT que define 34
processos de TI, distribuídos em 4 domínios de TI; (1) Planejamento e Organização (PO), (2)
Aquisição e Implementação (AI), (3) Delivery e Suporte (DS) e (4) Monitoramento (M)
(http://www.isaca.org). O CobiT define um nível mais alto de objetivos de controle para cada
processo e de 3 a 30 objetivos de controle mais detalhados. Os objetivos de controle contém
declarações dos resultados desejados ou metas a serem alcançadas na implementação de
procedimentos de controle específicos dentro de uma atividade de TI e fornecem uma política clara
para o controle de TI na empresa.

Um dos processos de TI identificados no framework é o de “Definição e Gerenciamento de Níveis


de serviço” do domínio Delivery e Suporte (DS). Segue-se um resumo dos objetivos de controle
deste processo de TI:

Objetivo de controle de alto nível:


Controle sobre os processos de TI, definindo e gerenciando níveis de serviço que
satisfaçam os requisitos do negócio para estabelecer um entendimento comum do nível de
serviço desejado.
Este objetivo é possível pelo estabelecimento de SLAs que formalizam os critérios
de desempenho a partir dos quais a quantidade e qualidade do serviço serão
medidos.

Devem ser levados em consideração:


 acordos formais
 definição de responsabilidades
 tempos de resposta e volumes
 garantia de integridade
 acordos de discrição
 critérios de satisfação do cliente
 análise de custo/benefício dos níveis de serviço exigidos
 monitoramento e notificações

Objetivos de controle detalhados (resumo):


- Framework de SLA
- Aspectos de SLAs
- Procedimentos de desempenho
- Monitoramento e notificações
- Revisão de SLAs e contratos
- Itens contábeis
- Programas de melhorias de serviço

Estes objetivos de controle dão ênfase à importância de um modelo de SLA e a necessidade de


acordo nos componentes de um SLA. Procedimentos de desempenho, monitoramento e controle
devem ser estabelecidos e os contratos devem ser revisados regularmente.

Para atender as necessidades gerenciais de controle e medição de TI, o CobiT fornece para os 34
processos de TI, diretrizes contendo ferramentas de avaliação e medição do ambiente de TI da
organização. O Management Guidelines inclui modelos de maturidade (MM), fatores críticos de
sucesso (CSFs), indicadores chaves de metas (KGIs) e indicadores chaves de desempenho (KPIs)
para cada processo.

Um modelo de maturidade é um método de avaliação que permite a uma organização graduar a


sua maturidade para um determinado processo, de não-existente (0) até otimizado (5) e assim
avaliar-se quanto as melhores práticas e padrões do mercado. Dessa forma, as deficiências podem
ser identificadas e ações específicas podem ser definidas para se atingir as posições desejadas.
Pode-se mover para um nível mais alto quando todas as condições descritas em um determinado
nível de maturidade são cumpridas.

O modelo de maturidade para o processo “Definição e Gerenciamento de Níveis de serviço” está


resumido abaixo:

Nível 0: Não existente


A gerência não reconhece a necessidade de um processo para a definição de SLAs

Nível 1: Inicial/ad hoc


Existe a conscientização da necessidade de se gerenciar SLAs, mas o processo é informal

Nível 2: Repetitivo e intuitivo


Existem SLAs acordados, mas são informais e não são revisados. O relatório de nível de serviço é
incompleto.

Nível 3: Processo definido


O processo de SLA está instalado com pontos de controle para reavaliação dos níveis de serviço e
satisfação do cliente.

Nível 4: Gerenciado e medido


Medidas de desempenho refletem cada vez mais as necessidades do usuário final e não somente
os objetivos de TI.

Nível 5: Otimizado
Os níveis de serviço são continuamente reavaliados para garantir alinhamento de TI e os objetivos
do negócio.

O Management Guidelines também fornece os fatores críticos de sucesso (FCSs), os KGIs (key
goal indicators) e os KPIs (key performance indicators) que podem ser úteis quando do esforço
para se alcançar um certo nível de maturidade. Os fatores críticos de sucesso são os elementos
mais importantes que uma organização deve ter como meta para contribuir com o processo de TI
no cumprimento de seus objetivos. KGIs são elementos de negócios indicando “o quê” deve ser
cumprido. Eles representam os objetivos do processo de TI. Os KPIs são orientados a processo,
focando no “como”, e indicando quão bem os processos de TI permitem que o objetivo seja
alcançado. Os FCSs, KPIs e KGIs para o processo “Definição e Gerenciamento de Níveis de
serviço” estão resumidos abaixo:

Fatores Críticos de Sucesso KGIs KPIs


- Os níveis de serviço são - Declaração pela unidade - Tempo de tratamento de um
expressos nos termos de negócio estratégica dos negócios que os pedido de mudança nos níveis de
do usuário final, sempre que níveis de serviço estão alinhados serviço.
possível. com os objetivos de negócio.
- Análise das causas deve ser - Freqüência de levantamento da
executada sempre que o nível de - Concordância do cliente que o satisfação do cliente.
serviço acordado não seja nível de serviço atende as
atendido. expectativas. - Tempo de tratamento de assuntos
- Habilidades e ferramentas estão relacionados a níveis de serviço.
disponíveis para fornecer - Níveis de serviço compatíveis com
informações sobre o nível de os custos orçados. - Impacto da quantidade de
serviço periodicamente recursos financeiros adicionais
- A dependência em TI de - Porcentagem de todos os para o atendimento do nível de
processos críticos de negócio está processos críticos de negócios serviço definido.
definida e coberta pelas SLAs. dependentes de TI cobertos pelos
- As responsabilidades de TI estão SLAs.
ligadas aos níveis de serviço.
- A área de TI pode identificar as - Porcentagem de SLAs revistas no
fontes de variação de custos. período acordado.
- Esclarecimentos detalhados e
consistentes sobre as variações - Porcentagem de serviços de TI
de custo estão disponíveis. que atendem SLAs.
- Um sistema para o
acompanhamento de mudanças
individuais está disponível.

Existe um relacionamento de causa-e-efeito importante entre KGIs e KPIs. KGIs, tais como o
“Concordância do cliente que o nível de serviço atende as expectativas”, sem KPIs, tais como o
“Tempo de tratamento para um pedido de mudança nos níveis de serviço”, não comunica como o
resultado será obtido. E KPIs sem KGIs pode levar a investimentos significativos sem uma medida
apropriada indicando se a estratégia SLM escolhida é efetiva. Alguns KPIs terão obviamente um
grande impacto em KGIs específicos, comparados com outros. É importante identificar os KGIs
mais importantes para um determinado ambiente e monitorar de perto os KPIs que mais
contribuem com eles.

SLM através do BSC

Uma maneira de simplificar o processo de SLM é utilizar o BSC. O BSC, desenvolvido por Kaplan e
Norton em 1990 é baseado na idéia de que a avaliação de uma organização não deve estar restrita
às tradicionais medidas de desempenho financeiro, mas também deveria ser complementada com
medidas relativas a satisfação do cliente, processos internos e a habilidade de inovar. Os
resultados conseguidos dentro destas perspectivas adicionais devem garantir resultados
financeiros futuros.

Kaplan e Norton propõem uma estrutura em 3 camadas para estas perspectivas: missão, objetivos
e medidas. Para colocar em ação o BSC, as organizações devem traduzir cada uma das
perspectivas nas métricas ou indicadores e medidas correspondentes que avaliem a situação atual.
Estas avaliações devem ser repetidas periodicamente e serem confrontadas com as metas
estabelecidas anteriormente.

O framework genérico do BSC pode ser traduzido em necessidades mais específicas de uma
função de TI, seus projetos e processos específicos, tais como “Definição e Gerenciamento de
Níveis de serviço”. Reconhecendo que TI é um fornecedor de serviço interno, as perspectivas
propostas no BSC genérico devem ser alteradas de acordo com as seguintes perspectivas:
distribuição corporativa, orientação ao cliente, excelência operacional e orientação futura. Um BSC
de SLM genérico que pode ser utilizado para medir e gerenciar o processo de SLM é mostrado na
tabela abaixo. Na construção do BSC deste SLM genérico, foram utilizadas medidas de
desempenho definidas em vários trabalhos do autor e no CobiT Management Guidelines.

BSC genérico
para um SLM
Orientação para o Usuário Contribuição para a Organização
Como os usuários vêem o processo SLM? Como a gerência vê o processo SLM?
Missão Missão
Atender aos requisitos do usuário e aumentar a sua Obter uma contribuição razoável para os negócios a partir
satisfação do processo SLM
Objetivos Objetivos
Desempenho de acordo com o nível de serviço acordado Controle de despesas para o SLM
Satisfação do usuário Máximo de impacto nos negócios
Medidas/indicadores Medidas/indicadores
Porcentagem de aplicações e serviços que atendem os Despesas reais versus as planejadas
SLAs Porcentagem de processos dependentes de TI cobertos
Nível de satisfação dos usuários nas pesquisas pelos SLAs
Excelência Operacional Orientação para o Futuro
O quanto efetivo é o processo SLM? A área de TI está preparada para atender os desafios
futuros do processo SLM?
Missão Missão
Processo SLM efetivo Desenvolver oportunidades para responder a futuros
Objetivos desafios
Melhoria no processo SLM Objetivos
Gerenciamento de contas eficiente Treinamento e educação permanentes em SLM para o
Notificações eficientes de não cumprimento de prazos pessoal de TI e usuários finais
Relatórios eficientes de desempenho Pesquisa em SLM
Processo de implementação eficiente Medidas/indicadores
Medidas/indicadores Porcentagem do orçamento total de TI para o processo
Nível de maturidade do processo SLM educacional em SLM
Número de falhas na presença de reuniões Porcentagem do pessoal de TI e usuários finais com
Número de falhas no fornecimento de relatórios de não treinamento completo em SLM
cumprimento de prazos em “x” horas Porcentagem da conta de TI gasta com pesquisas em SLM
Número de falhas no fornecimento de relatórios de
desempenho conforme determinado previamente
Número de implementações em atraso

A perspectiva de Orientação para o Usuário representa a avaliação do usuário do processo SLM e


representa a satisfação do usuário baseada em pesquisas e nos níveis de serviço atendidos para
as aplicações e operações.

A perspectiva de Excelência Operacional representa os processos SLM empregados para entregar


os serviços solicitados incluindo o nível de maturidade do processo SLM como um todo.

A perspectiva de Orientação para o Futuro representa os recursos humanos e tecnológicos


necessários para que o processo SLM entregue seus serviços de forma contínua.

A perspectiva da Contribuição para a Organização representa o valor de negócio agregado a partir


do processo SLM com a porcentagem dos processos de negócio cobertos pelas SLAs.
Na construção de um SLM utilizando o BSC específico para a organização, várias etapas precisam
ser seguidas. Primeiro, o conceito da técnica SLM-BSC precisa ser apresentada à alta
administração, a gerência de TI e aos colaboradores envolvidos no processo SLM e então uma
equipe do projeto SLM deve ser criada. Em segundo lugar, durante a fase de coleta de dados, as
informações são coletadas nas métricas definidas para o SLM. As métricas identificadas devem ser
específicas, mensuráveis, aceitáveis, realistas, realizáveis. Desta forma, a organização evita o
desenvolvimento ou a aceitação de métricas para as quais informações completas ou acuradas não
podem ser coletadas, ou que levam a ações contrárias aos melhores interesses da organização.

Finalmente, baseado nos princípios de Kaplan e Norton e em um modelo genérico, um SLM-BSC


específico para a organização, como apresentado aqui, pode ser desenvolvido.

Conclusão

SLAs e SLM são mecanismos efetivos para que uma organização resolva problemas de não
conseguir o serviço desejado. Estabelecer um processo eficiente de SLM é uma tarefa complexa e
difícil que requer recursos multidisciplinares e experiência. O modelo CobiT é certamente um
mecanismo muito útil para a definição e implementação de um processo SLM maduro pela
identificação de objetivos de controle, modelos de maturidade, KGIs, KPIs e fatores críticos de
sucesso. O modelo genérico do BSC também é um instrumento útil que, através da tradução em
um SLM-BSC, pode simplificar o processo SLM. Tanto o CobiT como o BSC podem permitir que
uma organização tenha SLAs mais balanceados e um processo SLM mais maduro com o objetivo
final de atingir os objetivos de negócio.

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