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Anais do XXVI Congresso da SBC 14 a 20 de julho de 2006

WIE l XII Workshop de Informática na Escola Campo Grande, MS

A formação dos professores universitários para ensinar a


distância: o estado da arte em Santa Catarina

Dulce Márcia Cruz1


1
Mestrado em Ciências da Linguagem – Universidade do Sul de Santa Catarina
(UNISUL) – Palhoça – SC – Brazil
dulce.marcia@gmail.com

Abstract. Distance education (DE) is presenting, in the 21st century, a new


challenge for teachers, asking for a change in their traditional roles, and
requiring them to be specially trained for it. In order to find out if the Higher
Education Institutions offering DE are training their teachers to work at a
distance and how this preparation has been done, a research was conducted in
the state of Santa Catarina, Brazil, using a questionnaire, sent by e-mail to 15
institutions. This article presents and discuss the results, showing that the
Higher Education Institutions offering DE are not concerned only about the
production of the course materials but are, also, creating support structures to
prepare their professionals to teach at a distance.

Resumo. A educação a distância (EAD) se apresenta no século XXI como um


novo espaço de trabalho docente, trazendo mudanças nos papéis tradicionais,
requerendo um preparo especial do professor. Para verificar se as IES que
oferecem EAD formam seus docentes para ensinar a distância e como fazem
este trabalho, foi feita uma pesquisa através de questionários enviados por e-
mail para 15 IES de Santa Catarina. O presente artigo discute os resultados
encontrados que mostraram que as IES catarinenses não apenas se
preocupam com a produção de materiais didáticos, mas estão criando
estruturas de apoio para formar seus professores para ensinar a distância.

1. Introdução
Em meados dos anos 1990, ao mesmo tempo em que se ampliava a oferta da televisão
educativa/cultural, teve início a entrada progressiva das universidades na educação a
distância, utilizando como base as novas mídias geradas pela união entre informática e
telecomunicações. Com a ajuda da internet e outras mídias, a educação a distância vem
possibilitando que se desenvolvam novas maneiras de ensinar e aprender, fazendo com
que o contato entre professor e aluno tenha um caráter enriquecedor, que deixa pouco a
desejar do presencial. Para a utilização desses novos métodos, o professor precisa ser
preparado tanto para que se adapte à diversidade de tarefas exigidas pelas mídias,
quanto para reconhecer o papel da tecnologia como um recurso de aprendizagem,
tornando-se ele mesmo cada vez mais um intermediário entre os estudantes e os
recursos disponíveis. É preciso lembrar que as tecnologias podem assumir muitas das 9
funções do corpo docente, liberando-o para novos modos de assistência aos alunos, mas
para isso, os professores têm que receber uma formação tanto técnica quanto pedagógica
para dar conta das situações criadas pela distância geográfica, mas não necessariamente
temporal.
A formação se torna fundamental porque, para ensinar a distância, os professores
precisam exercer uma variedade de talentos e habilidades não necessariamente
conhecidos do seu dia-a-dia presencial. Isso fica evidente quando suas tarefas vão se
tornando cada vez menos exclusivas quanto maior for o número de alunos envolvidos e
maior a divisão de tarefas docentes dentro da instituição responsável pelos cursos. Por
essas especificidades, a formação para a EAD já aparece como um dos requisitos para se
conseguir o credenciamento do MEC visando oferecer cursos a distância. No seu pedido
de autorização para funcionamento, as IES brasileiras têm que incluir como vão fazer a
preparação e o apoio para os docentes que vão ensinar a distância, pois, segundo os
Referenciais de Qualidade para cursos a Distância da SEED/MEC, “é um grande
equívoco considerar que programas a distância podem dispensar o trabalho e a mediação
do professor” (SEED/MEC, 2003, p. 8). Segundo tais critérios de qualidade do MEC,
para que a instituição tenha esses educadores, deverá incluir no desenho do seu projeto,
os seguintes itens:
preparar seus recursos humanos para o desenho de um projeto
que encontre o aluno onde ele estiver, oferecendo-lhe todas as
possibilidades de acompanhamento, tutoria e avaliação,
permitindo-lhe elaborar conhecimentos/saberes, adquirir hábitos,
habilidades e atitudes, de acordo com suas possibilidades; (...)
providenciar suporte pedagógico, técnico e tecnológico aos
alunos e aos professores/tutores e técnicos envolvidos no
projeto, durante todo o desenrolar do curso, de forma a assegurar
a qualidade no processo (SEED/MEC, 2003, p. 7).

No entanto, apesar desse pressuposto, a formação docente não entra como item
principal no momento da visita da comissão do MEC que analisa os pedidos de
credenciamento, o que de certa maneira demonstra que essa questão ainda não está
totalmente definida nas práticas da EAD, mesmo que sua necessidade e os parâmetros
básicos de como deve ocorrer já estejam formulados na legislação da área. Nosso
interesse neste trabalho é justamente verificar se, na prática, as instituições estão da
mesma maneira preocupadas com essas questões, inclusive aquelas que não precisam de
credenciamento para oferecer EAD, que é o caso das que ministram cursos de extensão.
Assim, as questões que a presente pesquisa tentou responder foram as seguintes:
Os professores universitários precisam de formação específica para ensinar à distância?
Se sim, como deve ser essa formação? As IES de SC estão fazendo este trabalho? Se
sim, quais são elas? Onde, quando e como vem sendo feita essa formação e quais são
seus resultados? Qual é o papel da IE na adoção da EAD pelos professores?

2. Material e métodos
Este projeto teve como objetivo principal fazer um levantamento das iniciativas de
formação docente para EAD pelas Instituições de Ensino Superior (IES) que oferecem
cursos à distância em Santa Catarina. Para levantar os dados, foram pesquisadas as IES 10
credenciadas pelo MEC para trabalhar a distância, na graduação e especialização lato
sensu, mas também os casos em que não há necessidade de autorização, como os dos
cursos de extensão. Durante o levantamento inicial foram visitadas as páginas do MEC e
das IES credenciadas, para a verificação de informações sobre a EAD e sobre os cursos
oferecidos e também.
Para a pesquisa em Santa Catarina criamos um questionário para ser enviado
para as IES por e-mail e ser preenchido e devolvido, de preferência, pela própria
internet. A amostra escolhida para o presente levantamento foi a do sistema ACAFE –
Associação Catarinense das Fundações Educacionais – associação civil, sem fins
lucrativos, fundada em 1974, que integra as entidades mantenedoras do ensino superior
do Estado de Santa Catarina, tanto públicas como privadas. Nessa escolha, pesou o fato
da ACAFE fazer parte de um grupo que vem trabalhando desde 2004 na estruturação de
uma Universidade Virtual, congregando o sistema e a UFSC.
Entre janeiro e fevereiro de 2005 enviamos 15 questionários e recebemos 13
respostas das seguintes instituições: UDESC, UNESC, UNISUL, FURB, UNIDAVI,
UNIVILLE, UNOESC, UNIPLAC, UNIVALI, UNERJ, UNIFEBE, FEHH, FEBAVE.
Essas instituições participantes da pesquisa se constituem, segundo dados do INEP,
respectivamente, em uma universidade estadual, três municipais e cinco privadas, dois
Centros Universitários Privados, uma Faculdade e uma instituição que agrupa
Faculdades Integradas Privadas e congregam a grande maioria de professores e alunos
do ensino superior do estado. Não incluímos a UFSC na amostra porque verificamos
que, apesar da experiência e pioneirismo, a IES passava por um momento de
reestruturação das políticas de EAD, com atividades esparsas e descentralizadas
dificultando a coleta de dados naquele momento.
O questionário possuía 43 perguntas, sendo 24 quantitativas e 19 qualitativas
com questões agrupadas nos itens: perfil do respondente e da IES; estruturação da EAD
na IES; disciplinas semi-presenciais oferecidas; apoio e formação docente para as
atividades a distância.

3. Resultados e discussão
Quando perguntados se a instituição oferecia educação a distância até 2004, das
treze IES, nove responderam que sim e quatro que não. A oferta de educação a distância
nas universidades pesquisadas teve início em 1998, sendo que 67% delas iniciaram suas
atividades entre 1999 e 2001. Na maioria das IES, a EAD teve origem na disciplina de
informática básica, e na faculdade de Educação. Quanto ao estágio em que a EAD se
encontrava na IES, 46% dos respondentes avaliavam que estavam com o projeto
implantado e em operação, com os cursos em andamento, enquanto 36% estavam na
fase de execução de projeto piloto e 18% se encontravam na fase inicial de estudos para
sua implantação. De qualquer maneira, o fato de a grande maioria das IES ter
respondido que estava em fase de execução de projeto piloto implantado e ou em
operação, prova que o processo de adoção da educação a distância no estado, já estava
em andamento.
As mídias utilizadas reforçam a tendência encontrada de modo geral na EAD da
diversificação de mídias, mas com uma concentração dos cursos baseados na internet. A
mídia mais utilizada pelas IES na EAD é o ambiente virtual de aprendizagem (AVA),
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utilizado por 10 IES. Em Santa Catarina, isso pode estar ocorrendo porque as IES
pesquisadas estão adotando os ambientes virtuais de aprendizagem no ensino presencial
e que são mídias que utilizam a WEB. Tanto que os ambientes de aprendizagem estão
presentes em 31% das IES, seguidas pelas homepages em 24%, enquanto que 18% delas
usam material impresso, 6% videoconferência e 6% teleconferência, 3% vídeo aulas e
12% outras mídias. Vale assinalar que a única instituição pesquisada que marcou todas
as opções foi a UDESC, enquanto a UNISUL apenas não marcou a homepage, o que
mostra a diversidade de mídias nos seus modelos de EAD.
As IES catarinenses estão tentando soluções que utilizem mão de obra local ou
da própria instituição, ao invés de comprar pacotes prontos ou buscando soluções
através de softwares livres. Tanto que 37% usavam o Learnloop (um software livre,
gratuito, que permite modificações e adequações para as necessidades de cada
instituição), enquanto 27% desenvolveram seu próprio ambiente, 9% usavam o
TelEduc, um software livre e gratuito desenvolvido na UNICAMP que vem sendo
utilizado por diversas universidades brasileiras e 27% adquiriram outro software de
empresa da área ou de outra IES.
Quanto à estrutura existente para o trabalho da educação a distância, três das IES
entrevistadas possuíam núcleo de EAD, três tinham um laboratório e duas utilizavam-se
do núcleo de informática. As restantes faziam uso de centro, biblioteca, departamento,
seção e outras estruturas.
Das nove IES que ofereciam EAD em Santa Catarina, 34% tinham de dois a
cinco cursos, 33% apenas o TV Escola, 22% mais de 60 cursos e 11% entre seis e 10
cursos. A porcentagem dos níveis oferecidos se dividia em 60% de cursos de extensão,
20% pós-graduação Lato Sensu: Especialização e 20% seqüencial. Pelas soma das
respostas, no total, Santa Catarina possuía ao final de 2004, quase 14 mil alunos a
distância nos três níveis educacionais.
Mesmo sendo nove que afirmaram oferecer EAD, dez IES responderam que
ofereciam algum tipo de formação para os professores ensinarem a distância ou em
disciplinas semi-presenciais, demonstrando uma preocupação que antecedia a própria
oferta. Numa pergunta que permitia múltiplas respostas, o tipo de formação declarado
pelos respondentes tinha a seguinte distribuição: 24% ofereciam atendimento
individualizado sempre disponível, 25% possuíam um tutorial no ambiente virtual de
aprendizagem, 19% organizavam cursos presenciais, 16% faziam seminário, 13%
produziram um manual impresso, enquanto 3% assinalaram outro tipo de formação. A
formação era obrigatória em cinco IES e facultativa nas outras cinco. Essa formação
incluía informações pedagógicas (33%), informações técnicas (31%), metodologia de
EAD (24%) e estratégias didáticas (14%).
A alta taxa de atendimento individualizado e o tutorial no AVA demonstraram a
preocupação das IES em manter uma continuidade na formação ao professor, ao
contrário de fazer ofertas pontuais. Isso pode ser confirmado na resposta à questão
seguinte, que mostrou que a formação acontecia nas IES de forma continuada
dependendo da demanda, em 26% dos casos, durante o planejamento e preparação da
disciplina ou do curso a distância também em 26%, no início de cada semestre em 21%,
durante o desenrolar da disciplina ou do curso a distância em 16% e apenas 11% antes
de iniciar a adequação da disciplina ou do curso a distância.
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4. Conclusão
A pesquisa demonstrou que as IES catarinenses investigadas estão formando seus
docentes especificamente para trabalhar na EAD. Essa formação vem sendo feita de
forma continuada, já que 24% das IES ofertavam um atendimento individualizado
sempre disponível, o que significa manter uma estrutura de apoio constante para o
professor. Dentre as informações oferecidas na formação, as pedagógicas tinham maior
incidência (33%) no conteúdo, mas 24% tratavam especificamente de metodologia de
EAD, o que demonstra o desenvolvimento de uma expertise nessa modalidade
relativamente nova nas instituições presenciais brasileiras. O período da formação
coincidia mais com o planejamento e a preparação da disciplina ou do curso a distância
(26% dos casos) sendo que apenas 16% ocorria durante o desenrolar do processo. Este
dado demonstra que, apesar do avanço de se oferecer atendimento continuado, o
professor ou trabalhava sozinho durante o desenrolar da disciplina ou, se havia apoio
para ele nesse processo, tal ato não foi considerado formação para os respondentes. No
mesmo questionário, no entanto, levantamos que, dentre as funções desempenhadas na
equipe de apoio das IES, a mais citada foi a de monitor (20% dos casos), tipicamente
um agente de formação e de apoio que acompanha o processo de ensino-aprendizagem
na EAD.
Apesar de obtermos as respostas de forma mais geral para nossas questões, a
pesquisa mostrou que ainda falta muito a se conhecer sobre a formação docente para a
EAD em Santa Catarina, principalmente porque os detalhes sobre quem faz e como ela
vem sendo feita não foram levantados de forma satisfatória pelo questionário. Da
mesma maneira, seria frutífera uma pesquisa qualitativa que levantasse se os parâmetros
colocados nos Referenciais de Qualidade para cursos a Distância da SEED/MEC para
criar competência para a EAD entre os docentes vêm sendo seguidos pelas IES.
Pode-se concluir finalmente que a formação para a EAD é uma preocupação para
as IES catarinenses e que suas estruturas de apoio tem tentado dar conta não apenas da
produção dos materiais didáticos e da execução dos cursos, mas também de preparar os
professores para suas novas funções. Pela quantidade declarada de alunos dos cursos a
distância, percebe-se que a modalidade vem crescendo rapidamente como uma
alternativa viável e de qualidade para o acesso à educação em seus diversos níveis e as
iniciativas de formação docente para a EAD vem acompanhando, mesmo que
timidamente, as demandas do setor. Neste sentido, pode-se dizer que percebemos nas
IES ações estruturadas para incentivar não só a adoção, mas a apropriação da EAD pelos
professores através da formação continuada.

Referências
BELLONI, M. L. (1999) “Da tecnologia à comunicação educacional”. 22ª Reunião
Anual da ANPED, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
Caxambu, mimeo.
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. (1998) Decreto nº 2.494 de 10 de fevereiro
de 1998. Regulamenta o Art. 80 da LDB (Lei nº 9.394/96). Disponível em
http://www.mec.gov.br/legis/defacult.shtm Acesso em 10/05/03

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CRUZ, D. M. (2001) O professor midiático: a formação docente para a educação a
distância no ambiente virtual da videoconferência. Doutorado em Engenharia de
Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis.
FREITAS, et. al . (2004) “Curso a distância de formação de professores para atuação em
ambientes virtuais: avaliando uma experiência”. XI Congresso Internacional de
Educação a Distância da ABED - Associação Brasileira de Educação a Distância,
Salvador-Ba. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/008-
TC-A2.htm acesso em 25/04/05
GATTI, Bernadete Angelina. (1997) Formação de professores e carreira: problemas e
movimentos de renovação. Campinas, SP: Autores Associados.
SEED/MEC. (2003) Referenciais de Qualidade para cursos a Distância. Ministério da
Educação e Cultura, Secretaria de Educação a Distância: Brasília. Disponível em
http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/ReferenciaisdeEAD.pdf acesso em
25/03/05.

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