Você está na página 1de 7
r PSICOLOGIA, SAUDE & DOENCAS, 2009, 10 (2), 163-174 PROPRIEDADES METRICAS DA VERSAO PORTUGUESA DA. SCALA DE SUPORTE SOCIALDO MOS (MOS SOCIAL SUPPORTSURVEY) COM IDOSOS José Lats Pais Ribeiro! & Ana Carolina Siva LC. Pome ‘clade de Popa itn da Bao, Universe do Pao, RESUMO: © suporte soe consite na varia de recursos fomecidos a uma pessoa pels outras pessoas, A Escalade Suporte Socal do MOS, fol desenvolvida no mbito {de um amplo estado com pessoas com doences erica o Media! Outcomes Study 8 MOS. O objetivo do presente estudo € estadar a adaptagio Portuguest desta escla ‘numa popula idos, Participaram 225 indviduas de ambos os gros, com idade Superior @ 65 anos, 658% mauheres. A escla inlui 19 Hens distibuides por 4 ‘imensbes: Interacgd socal positive, suport social tangive, suport social afetva, © ‘porte socal emeocionleinformacionl, ara skim de um resulta global ov suporte ‘soca otal. Os resltados do presente estido astra boas propriedies psicométias {uma estratra © propriedadssidétics As da versio orginal 2s verses aceioes Pertguesas, As dferengas enconiadas compartivamente com estudos anteriores sogerem senibilgsde a et grupo efi. Palavras-chave: Supode soa, Loses, Estodo de plas. METRIC PROPERTIES OF THE PORTUGUESE VERSION OF THE MOS ‘SOCIAL SUPPORT SURVEY WITH A SAMPLE OF AGED PEOPLE. ABSTRACT: Social support refers tothe vaity of wsoures provided by oer prs. “The MOS socal suppor survey was developed for patents in te Medical outcomes "The objective ofthe present ty sto study tne Portuguese adaptation ofthe MOS Seri Support Survey with an aged population. Paicipans are 225 individuals, aged over 6S yeas, 65.8% leas. Te scale contin 19 tems measuring four dimensions: emotinal nd inforational support, angle supp. affectionate support, and postive interaction, ‘mone sal see. Results othe prsentsidy exhibit mere propris similar to te ‘fginal version ofthe United Stats of America, and to the previous studies Portuguese ropean versions. Differences from previous stds suggest tha the sale is sensi the aged group of the presen study Keywords: Social suppot, Aged people, Adapation sty. "Reatidocm 12 Fevereiro de 2000 /Aceite em 22 de Jul de 2009 © funcionamento social & um conceito amplo ¢ genérico que pode incluir todo ‘0 comportamento humano no papel ¢ no contexto social (Sherbourne, 1992). Esta ‘autora explica que o fucionamento social pode ser visto como o ajustamerto 2s ex~ pectativas normativas sobre o papel e comportamento social no seio da comuni- coma pa Ena: pet. 164 10St: LUIS PAIS-RIBEIRO & ANA CAROLINA SILVA LC. PONTE dade. O funcionamento social tem sido considerado uma das dimensées de saide, mas a autora defende que ele também é indicativo do estado mental efisico, ou seja, problemas defuneionamento social podem ser causes por problemas de sade siea e ment ‘Sherbourne (1992) explica que o suporte social (SS) é diferente do funciona- ‘mento social referindo-se ao contexto onde o funcionamento social ocorre, sendo ‘onstitufdo pela variedade de recursos fornecidos pelas outras pessoas. Uma pessoa ‘pode fer um bom funcionamento social apesar de ter um SS fraco e pode ter limita- ‘gGes de funcionamento social mesmo com um forte SS Classicamente 0 $S define-se como “the existence or availability of people on ‘whom we can rely, people who Jet us know that they care about, value, and love us” (Sarason, Levine, Basham, & Sarason, 1983, p.127). Sydney Cobb (1976) explicava ‘que o suporte social é informagio que leva o individuo a acreditar que é apoiado e amado, que é estimado e valorizado, que pertence a uma rede de comunicacao e de obrigagdes métuas. A investigagao sobre o pape! do SS, ou apoio social, na satide ganhou prepon- \eréncia nos titimos decénios do século XX (Callaghan, & Morrissey, 1993; Cohen. & McKay, 1984), Numa reviso de investigagao sobre o SS, Callaghan e Morrissey, (1993) con- cluem haver evidéncia proveniente de uma grande vaciedade de estudos, ao longo ddos anos, de que o S$ pode ter um papel importante na manutengdo da satide e no amortecimento dos efeitos deletérios do distresse social e ambiental. Kaplan, Patter- son, Kemer, Grant, e o HIV Neurobehavioral Research Center (1997), numa revisio de estudos epidemiolégicos afirmam que parece haver uma relagio impressionante entre SS e diferentes indicadores de satide, da longevidade & mortalidade, em diver- sas doengas e condigbes. Estes autores questionam a direccionalidade da relagio: se 08S fraco que causa fraca saide ou 0 contritio, Rodin ¢ Salovey (1989) referem que o SS aliviao distresse em situagio de crise, pode inibir o desenvolvimento de doencas e, quando o individuo esté doente, o SS tem. ‘um papel importante na recuperagio da doenga. Sarason et.al (1983) expiicamn que © SS contribui para um ajustamento pusitivo e para o desenvolvimento pessoal e for- neve proteegio contra os efeitos do stresse. Parece haver evidéncia consistente de ue 0 $S dispontvel protege os individuos dos efeitos dos stressores (Bolger, & Ama- rel, 2007; Callaghan, & Morrissey, 1993; Cohen, 2004; Cohen & Hoberman, 1983). ‘A investigagio parece ser consensual sobre a importincia do SS para a sade (Berk- ‘man & Glass, 2000; Cohen & Lemay, 2007; Diong et al, 2005; Gottlieb, 1985), ou seja.a disponibilidade de alguém que forneca ajuda ou apoio emocional parece pro- teger 0s individuos das consequéncias negativas de doengas mais graves e de situa- es stressantes (Sherhourne & Stewart, 1991), Singer ¢ Lord (1984) colocam como hipstese que o efeito do $S cai dentro de ‘quarto categorias: a) o SS protege das perturbagées induzidas pelo stresse; b) a au- stncia de SS 6 um stressor; c) a perda de SS € um stressor; d) 0 SS é benéfico. Se- _gundo estes autores, todas estas hipSteses tm recebido confirmagiio da investigacio. PROPRIEDADES METRICAS DA VERSAO PORTUGUESA DA ESCALADE 165, SUPORTE SOCIAL DO MOS (MOS SOCIAL SUPPORT SURVEY) COM IDOSOS Cramer, Henderson Scott (1997) dstinguem entre SS pereehid ereebido. O primeiro refere-se ao que 0 individuo indica ter disponfvel quando necessério, o segundo, aquele que érecebido dealpuém, Wethingston e Kessler (1986) ver ficaram que os resultados de sade sio melhor explicados pela existncia do SS porcebido do que pea existncia de SS tangivel. Sherbourne e Stewart (1981), re- ferem que no SS € importante apercepgo de existneia de suport funcional, ¢ que este se vofere ao grat em que as relages interpessoais servem determinadss fun- fies. "consensual que o SS € consituido por mliplos dominios: Dunst e"ivette (1990) sugerem a exsténcia de cinco coraponcatesintelizados:consttucionl, re Iacions, funcional, esrutural satsgdo,Parece também exist concordéncia sobre a necessidade da exstnia de instrumentosmultdimensionss,psicometrcamente fundamentados, para ulizagio com popula doente, que sejam sufcientemente broves para nfo constitirem uma sobrecarga (Broadhead, Gehlbach, DeGruy & Ka- plan, 1988; Cohen & Syme, 1985; House & Kahn, 1985; Orth-Gomer & Unden, 1987), Jé antes desenvolvemos um questonio de svliagio do SS disgido popu lagio em geral Pais Ribeiro, 1999). Sherbourne e Stewart, (1991) desenvolvertm um questonéro destinado @ pessoas com doengas erénieas cujs itens avaliam: 1) o suporte emociomal, que onsite na expressdo de afecto postvo,compreensfo empaticaeencorajamento Ge expresto de semtimentos, 2) 0 suport informacional, que eonsisc em orien- tagiio ou feedback, que ajude a encontrar uma solugao para o problema, 3) 0 su- porte tangivel, que consisteno fomecimento de ajuda material ou de assitaci, 4) interacgdo socal posiiva, ou sea, aexistacia de outra pessoas com quem fazer coisas intressantese divertias c, 5) 0 suporteafectivo, que envolve a ex- pressto de amore afecto,O questonario destes autores tem sido muito ulizado gm context de doengae nas mais variades doengas e condigdes (Bai, Hiding, Vital, & Fsidland, 2008; Comming, Caithse, Rubin, Cat, & Pearce, 2008; Gaede, eal 2006; Kettmann, & Alter, 2008; Matin, & Levy, 2006; Surkan, Peterson, Hughes, & Gotlieb, 2006, Westaway, Seager, Rheeder, & Van Zyl, 2005). Estudos anteriores sobre est instromento realizados em Portugués Earopeu, ‘com pessoas com doenga crénica (Fachado, Martinez, Villalva, & Pereira, 2007) da comunidad (Pont & Pais Ribeiro, 2008) mostram ua estrwura factorial Je que- tro factors propredades pscométias semelhantes 2 versio original. forma em Portugués do Brasil (Griep, Chor, Fuerstein, Wemeck, &Lapes, 2005) encontou its factres, al como em Castthano (Requen,Salaero, & Gil 2007), ¢ Malai (Mah- mud, Avang, 8 Mohamed, 2004), mas com a constituiglo dos factoresinluindo itens dierent, Outros estudos de vaidag para nguase cults diferentes mos- tram também ma estrutara factorial diferente como seja de dos factors pao In- sls da Africa do Sul (Westway, tal. 2005), e para Chngs de Taiwan (Shy, Tang, Ting, & Weng, 2006) A adaptago para Franees most uma estar iatica & original ¢ & Portuguesa (Badoux, 2000). 166 30S LUIS PAIS-RIBEIRO & ANA CAROLINA SILVA L. PONTE, 0 objectivo do presente estudo € inspeccionar a estrutura ¢ os valores psico- métricos da versio para Portugués Europeu da Escala de Suporte Social do MOS numa populagdo de idosos. METODO. Participantes Participaram 225 individuos, 65,8% mulheres, 48% casados, 37,7% vitivos, dade média de 75,58 anos (entre 65 e 92), escolaridade média de 5,80 anos, 88% re formados. Nao se verificam diferengas estatisticamente significativas em fungo do _género e do estatuto profissional (reformado versus trabalhador), quer por dimensio uer para a pontuacao total. Material 0 MOS Social Support Survey que, na versio Portuguesa, denominaremos de Escala de Suporte Social do MOS, é uma escala breve, de auto-resposta, multidi- ‘mensional, desenvolvida para doentes erénicos no ambito do estudo MOS. MOS 0 acrénimo de Medical Outcomes Study, um estudio longitudinal de dois anos visando ‘9 processos ¢ resultados dos cuidados de satide com doentes crdinicos. A escala pro- ‘p6e-se avaliar as principais dimensGes do SS de forma pratica e breve, As autoras partiram da andlise das medidas e conceitos existentes para gerarem os 50 itens ex- ploratérios iniciais que se centravam na percepeiio da disponibilidade de diversas fungoes de SS. Ap6s diversas fases de tratamento dos itens passaram para 37, até se fxarem no ntimero final de 19. Os respondentes erarm 2987 pessoas com doenga cr6- nica, com idades entre os 18 e 98 anos de idade (M=55), 39% homens. Os 19 itens referem-se as cinco dimensdes de suporte social propostas pelos autores: tangivel (4 ‘questiies);nfectivo (2 questdes); emocionsl (4 questées); informacional (4 questes) € interacgéo social positiva (4 questOes). Na solugdo final duas dimensdes (emocio- nal ¢ informacional) fundem-se ficando o Escala de Suporte Social do MOS com uatro dimensdes. O respondente deverd indicar, para cada item, com que frequén- cia considera ter dispontvel cada tipo de apoio caso necessite entre, “nunca”, “rari Iente”, “Bs vezes”, “quase sempre” ou “sempre”. No final os resultados so {ransformados numa pontuagio de 0.2 100, por dimeaso, mais uma pontuacao total ‘Niimero de amigos -Com vista a encontrar indicadores estruturais,e tal como ‘no estudo original, perguntémos o nfimero de amigos fntimos que o respondente pos- sui, considerando este indicador como medida de convergéncia das dimensies da Es- ccala de Suporte Social do MOS Estado civil- Também como no estudo original, agrupdmos os individuos em 86s (Solteiros, dvorciados ¢ vitivos) ¢casados, para relacionar com 0 resultado do SS. PROPRIEDADES METRICAS DA VERSAO PORTUGUESA DAESCALADE 167 ‘SUPORTE SOCIAL DO MOS (MOS SOCIAL SUPPORT SURVEY) COM IDOSOS Procedimento Recorremos i anilise factorial exploratéria para o estudo preliminar dos dados, para identificar a estrutura da escala. Verificémos ainda a consisténcia interna de ccada uma das dimensGes ¢ da escala tote, assim como indicadores descritivos das di- ‘mensbes e da escala total. Foram eliminados os participantes que respondiam sem- pre nos lugares extremos das possibilidades de resposta (zero ou 100 para todas as ddimensies) o que poderia sinalizar falsificagzo, RESULTADOS Procerlemos a uma andlise em comporentes principais dos resultados, seguindo a regra Kaiser, com rotago varimax, encontrando quatro componentes ema cinco in- teracgdes, que explicavam 73,10% da varncia (quadro 1). A solugfo agrupe os itens propostos na solucio original, e idénticos ao nosso estudo anterior com populaczo adulta da comunidade (Ponte & Pais-Ribeiro, 2008) que explicava 68,99% da va- ridncia, com alteragio da ordem dos dois iiltimos factores que neste estudo trocam de. posigio entre si. 7 ‘Quadro 1 . Carga factorial nos componentes extraidos, mantendo as cargas factoriais acima de 040 Componenes 123 4 Frequénci de companhia para fazer 0 076 frequdncia de companhia para fazer se distair 0.80 Trequancia de compania para fazer relaxar 0.99 feequeneta de companbia para faze se dvestir 079 rrequenetn oe aiguem que ame e que 0 faga sentir amado 079 fiequéacia de algoém que the dum abrago 086 ‘equBncia de alguém que demonsie amor efecto 083 frequéncia de companhia para partlhar preocupaglesemedos 0,58 frequéncia de alguém que compreenda os ses problemas 067 frequéneia de alguém que confc para falar desi ou seus problemas 0,81 frequtncie de alguém que o ouga quando precisardedessbafer 0,80 frequénci de alguém que le d8 bons conseths em stuagéo decrise 0:89 froqutncia de algum para lhe dar sugestes sobre como lidar 085 ‘com um problema pessoal frequéncia de conselhos de quem reslmeate quer 075 fequéncia de compashia pra the dar infermagdo © 073 sjudar a compreendor cers stuagio

Você também pode gostar