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AVALIAÇÃO DA DOR DE ACORDO COM Apesar de todos os artifícios usados, tem sido difícil a
A IDADE DA CRIANÇA determinação da natureza e da extensão das experiências
dolorosas em lactentes, devido às dificuldades envolvidas
Recém nascidos e lactentes na avaliação uma experiência subjetiva em crianças na fase
Já acreditou-se que os lactentes não sentissem dor devi- pré-verbal, com imaturidade motora, cognitiva e do
do à mielinização incompleta de seus nervos sensitivos. Isso desenvolvimento. Deve-se lembrar também que alguns
porém constitui um erro, tanto do ponto de vista neuro- lactentes estão tão debilitados por doença, que se tornam
anatômico quanto do ponto de vista endócrino-metabóli- incapazes de responder em termos de comportamento à
co e o subtratamento da dor pode causar repercussões à estímulos dolorosos.
essas crianças.8 O quadro 1 resume os principais métodos utilizados na
A expressão facial é o artifício mais compreensivamen- avaliação da dor nessa faixa de idade.
te estudado, sendo considerado o padrão-ouro nessa faixa A maioria das pesquisas que focaliza os auto-relatos da
de idade e inclui: contração das sobrancelhas, aperto dos intensidade da dor refere-se a pré-escolares. Estas podem dar
olhos, aprofundamento da prega naso-labial, abertura dos informações simples sobre a sua dor e a localização da
lábios, boca esticada verticalmente, boca alongada hori- mesma, mas como as crianças nessa faixa etária não com-
zontalmente, contração dos lábios, língua esticada e tre- preendem conceitos abstratos, elas podem não ser capazes de
mor no queixo.9 O exame da expressão facial em resposta descrever a qualidade da dor ou discriminar sua intensidade.13
à imunizações entre crianças de um a nove meses de Instrumentos, tais como o diagrama corporal, (Figura 1)
idade10, além de estudos observando-se a punção do cal- foram criados para ajudar essas crianças a indicar a localiza-
canhar para coleta de exames mostraram ser as alterações ção de seu sofrimento. Esse diagrama consiste em um dese-
faciais significativas da presença de dor.9 nho em forma de linhas do corpo de frente e de costas.14
Características detalhadas do choro do lactente também Geralmente os cabelos e os genitais não são desenhados e as
são usadas como indicadores do comportamento da dor e características faciais são desenhadas de modo a não repre-
desconforto frente aos estímulos nocivos. sentar uma etnia ou sexo específico. Foi demonstrado que as
Escala de dor Recém-nascidos pré- Expressões faciais, movimentos corporais, Procedimentos dolorosos em recém-
comportamental termo e termo resposta à atitudes de carinho, rigidez dos nascidos em ventilação
membros
Escala de desconforto Recém-nascidos pré- Expressão facial, movimento corporal, cor, Procedimentos dolorosos em recém-
para recém-nascidos termo e termo freqüência cardíaca, pressão arterial e satu- nascidos em ventilação
em ventilação15 ração de oxigênio
Sistema de Recém-nascidos pré- Contração das sobrancelhas, aperto dos Procedimentos dolorosos
Codificação Facial termo e termo e olhos, aprofundamento da prega naso-labial,
Neonatal9 crianças de até 4 abertura dos lábios, boca esticada vertical-
meses mente, boca alongada horizontalmente, con-
tração dos lábios, língua esticada e tremor
no queixo
Escala de dor neonatal Recém nascidos pré- Expressão facial, choro, taquipnéia, movimen- Procedimentos dolorosos
e do lactente termo e a termo tos de membros, qualidade do sono (intermi-
tente)
Perfil de dor do Recém nascidos pré- Idade gestacional, freqüência cardíaca, sat. Procedimentos dolorosos
Prematuro e do termo e a termo de oxigênio, contração das sobrancelhas,
Lactente12 aperto dos olhos e aprofundamento da
prega naso-labial
* CRIES – Choro, oxigênio necessário para manter saturação maior que 95%, melhora dos sinais vitais, expressões e qualidade do sono. Pré-escolares
Direita Direita
Esquerda
Esquerda
ESCOLARES E ADOLESCENTES
Interrogar a criança sobre sua experiência dolorosa é o
método de medida mais acurado nessa idade, pois o auto-
Figura 2 - Escala de Tensão Facial relato é considerado o padrão ouro entre os métodos de
medição da dor.
Os escolares encontram-se na fase cognitiva de opera-
O diagrama de Oucher mostra seis fotografias do ções concretas e estão começando a compreender os fenô-
rosto de uma criança exibindo níveis crescentes de des- menos abstratos. À medida que a criança se sente mais à
conforto. A escala combina figuras com uma escala visual vontade com os números e os conceitos de quantificação,
analógica vertical. As crianças irão escolher a expressão as escalas gráficas, numéricas e de análogos visuais, criadas
facial que melhor reflete sua experiência com o sofrimen- para adultos, tornam-se mais adequadas à elas (Figura 4).
to naquele momento (Figura 3).
Em relação à escala de cores, ela encerra grande utili-
dade prática na clínica, e as crianças escolhem as cores
para indicar “a pior dor” por ela sentida, “aquela que não
dói tanto quanto”, “que dói apenas um pouco” e “a ausên-
cia de dor”. Quando cores são usadas em diagramas cor-
porais nota-se que as crianças tendem a escolher as cores
vermelho, preto e roxo para indicar a pior dor sentida.15 Figura 4 - Escala Numérica
Alguns métodos usados para idades anteriores e poste- necessária para dar maior substrato à decisão de intervir e
riores aos escolares podem também ser usados nessa faixa tratar as circunstâncias estressantes e dolorosas que mui-
de idade. Assim, as escalas de faces usadas em pré-escola- tas vezes acometem o paciente pediátrico.19 À rotina de se
res, e a escala visual analógica – EVA17 usada em adultos medir, nos pacientes internados, os quatro sinais vitais -
são utilizadas também em escolares. pressão arterial, freqüência respiratória, pulso e tempera-
A EVA, utilizada na maioria das situações dolorosas, tura deveria ser somada a avaliação e medição da dor.
consiste em uma linha reta, vertical ou horizontal tendo
em suas extremidades palavras âncoras como: sem dor e a SUMMARY
pior dor possível. A criança deve marcar um ponto no Several methods have being developed in order to evaluate chil-
contínuo da linha representante da sua intensidade da dor dren in pain. These methods are applied in accordance with both
(Figura 5). the child’s cognitive capacity and clinical conditions. There are
four of these methods.
The physiological methods, such as respiratory frequency, pulse,
blood pressure, sweating, etc, are more commonly used in neona-
tes. The behavioral methods more widely used in newborns and
infants reveal how the child answers to the painful stimulus. The
self-report, which translate what the child says about the intensity
of his or her pain, is considered the gold standard among all the
other available evaluation methods. Mixed methods consist of two
or more of the previously described methods.
Despite the difficulties found in evaluating pain in children, this
evaluation is of major importance, being necessary to serve as
basis to the decision of intervening and treating the stressful and
Figura 5 - Escala Visual Analógica painful circumstances that are often faced by the pediatric patient.
14- Savedra M. C., Tesler M. D., Holzemer W. L., et al. Pain location: vali- Cervero F (eds): Advances in Pain Research and Therapy, vol 9, New
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MARIA DO CARMO BARROS DE MELO*; MARCOS CARVALHO DE VASCONCELLOS**; HENRIQUE FONSECA DE ASSIS TONELLI***
Palavras-chave: Ressuscitação, suporte avançado de * Professora Adjunto do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Instrutora
vida, suporte básico de vida, ressuscitação cardiopulmo- do Curso de Suporte Avançado de Vida em Pediatria/ Pediatric Advanced Life Support (PALS).
** Professor Assistente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG.
nar, parada cardiorrespiratória. Instrutor do Curso de Suporte Avançado de Vida em Pediatria/ Pediatric Advanced Life Support
(PALS).
*** Médico do CTI pediátrico do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
Coordenador do Curso de Suporte Avançado de Vida em Pediatria/ Pediatric Advanced Life Support
INTRODUÇÃO (PALS) do Sítio de Minas Gerais.