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FERDINAND DE SAUSSURE CURSO DE LINGUISTICA GERAL Organizado por Cuarves BALLy e ALBERT SECHEHAYE com a colaboragio de ALBERT RIEDLINGER Prefacio 4 edicao brasileira: Isaac Nicotau SALuM (da Universidade de S. Paulo) > EDITORA CULTRIX So Paulo Titulo original: Cours de Linguistique Générale. Publicado por Payot, Paris. Tradugao de Ant6nio Chelini, José Paulo Paes ¢ Izidoro Blikstcin. Dados Internacionais de Catalogagio na Publicacio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Saussure, Ferdinand de, 1857-1913. Curso de lingitistica geral / Ferdinand de Saussure ; organizado por Charles Bally, Albert Sechehaye ; com a colaboragao de Albert Riedlinger ; prefacio da edicfo brasileira Isaac Nicolau Satum ; tradugdo de Anténio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. -- 27. Ed. -- Sdo Paulo : Cultrix, 2006. Titulo original : Cours de linguistique générale ISBN 978-85-316-0102-6 1. Linguistica I. Bally, Charles. Il. Sechehaye, Albert. III. Riedlinger, Albert. IV. Salum, Isaac Nicolau. V. Titulo. 06-3514 indices para catélogo sistemitico 1. Lingiistica 410 © primeiro nimero a esquerda indica a edigSo, ou reedigfo, desta obra. A primeira dezena a direita indica o ano em que esta edigfo, ou reedig&o foi publicada. Edigao Ano 28-29-30-31-32-33-34 07-08-09-10-11-12-13 Direitos de tradugdo para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX ETDA. Rua Dr. Mario Vicente, 368 - 04270-000 - Sto Paulo, SP Fone: 6166-9000 ~ Fax: 6166-9008 E-mail: pensamento@ecultrix.com.br http:/Avww.pensamento-cultrix.com.br que se reserva a propriedade literdria desta traduso. INDICE PREFACIO A EDICAO BRASILEIRA XIII Prerdcto A PRIMEIRA EDIGAO. 1 PrerMcio A SEGUNDA EDICAO. 4 PrerAcio A TERCEIRA EDICAO. 5 INTRODUCAO Capfruto I — Visto geral da bistéria da Lingiistica, 7 Capfruto Il — Matéria e tarefa da Lingiiistica; suas relagdes com as ciéncias conexas. 13 Capiruto III — Objeto de Lingdistica. S$ 1. A Mngua; sua definicio. 15 S 2. Lugar da Hngua nos fatos da linguagem. 19 $3. Lugar da Ingua nos fatos humanos. A Semiologia. 23 Cartruto IV — Lingiistica da lingua ¢ lingiltstica da fala. 26 CapituLo V — Elementos internos e elementos externos da lingua. 29 Cariruto VI — Representacao da lingua pela escrita. S 1. Necessidade de estudar este assunto. 33 5 2. Prestigio da escrita: causas de seu predominio sobre a forma falada. 34 $ 3. Os sistemas de escrita, 36 $ 5. Efeitos desse desacordo. 39 Carfruzo VII — A Fonologia. $ 1. Definigao. 42 § 2. A escrita fonoldgica. 4B $ 3. Critica ao testemunho da escrita. 44 VII APENDICE PRINCIPIOS DE FONOLOGIA Carftuto I — As espécies fonoldgicas. $k. $ 2. S 3. Definicgio do fonema. O aparelho vocal e seu funcionamento. Classificagéo dos sons conforme sua atticulacao bucal. Capfruto Lk — O fonema na cadeia falade. wenn wane 1. 2. 3. MO We Necessidade de estudar os sons na cadeia falada. A implosio ¢ a explosio. Combinacdes diversas de exploses e implosies na cadeia, Limite de sflaba ¢ ponto vocilico. Criticeas as teorias de silabacio. Duracio da implosio e da explosio. Os fonemas de quarta abertura. O ditongo. Ques- tdes de gratia. PRIMEIRA PARTE PRINCIPIOS GERAIS Capiruvo. I — Natureza do signo lingiistico. sh § 2. Signo, significado, significante. Primeiro principio: a arbitraiedade do signo. § 3. Segundo princtpio: cardter linear do significante. Capfruto Il — Imutabilidade e¢ mutabilidade do signo. $1. Imutabilidade. § 2. Mutabilidede. CapiruLo HI — A Lingiitstica estdtica e a Lingiilstica cvolutiva. wan A mw Dualidade interna de todas as ciéncias que operam com valores, A dualidade interna e a histéria da Lingiifstica. A dualidade interna ilustrada com exemplos. A diferenca entre as duas otdens ilustrada por com- paragGes. As duas Lingiifsticas opostas em seus métodos e em seus ptincfpios. Lei sincrénica ¢ lei diacrénica. Existe um ponto de vista pancténico? VII it $ 8. Conseqiiénciss da confuséo entre sincrénico e dia- crénico. $ 9. ‘Conchusies. SEGUNDA PARTE LINGUISTICA SINCRONICA Capfruto I — Generalidades. Carfruto Il — As entidades concretas da lingua. § 1. Entidades ¢ unidades. Definicdes. § 2. Métodos de delimitacio. $ 3. Dificuldades priticas da delimitacgo. S$ 4. Conclusio. Capiruto III — Identidade, realidades, valores. Capiruco IV — O valor lingiiistico. $1. A Hogue como pensamento organizado na matéria § 2. ©. lb igsizo considera em teu ape co $3. © nl Iingtize connidersdo sm sou especie te $ 4. © signo considerado na sua totalidade. Capiruto V — Relacdes sintagméticas e relagées associativas. $ 1. Definigdes. S$ 2. Relacdes sintagmaticas § 3. As relagdes associativas. Carfruto VI — Mecanismo da lingue. S 1. As solidatiedades sintagmdticas. § 2. Funcionamento simultineo de duas formas de agru- to pament S$ 3. O arbitrério absoluto ¢ 0 arbitririo relativo. Carfruzto VII — A Gramética e suas subdivisdes. § 4. Definigdes: divisdes tradicionais. § 2. Divisdes racionsis. Carfruto VIII — Papel das entidades absiratas em Gramitica. IX 112 4 7 119 121 122 123 125 130 132 136 139 142 143 145 148 149 152 156 158 160 TERCEIRA PARTE LINGUISTICA DIACRONICA Cariruto I — Generalidades. 163 Capiruco II — As mudangas fonéticas. 187 $ 1, Sua regularidsde absoluta: 167 $ 2. Condigdes das mudangas fonéticas, 168 S 3. Questées de método. 169 $ 4. Causas das mudangas fonéticas. 171 $5. A acio das mudancas fonéticas € ilimitada. Ws Cariruzo Ill — - Conseqiitncias gramaticais da evolucdo fonética. § 1. Ruprura do vinculo gramatical. 178 $ 2. Obliteragio da composicio das palavras. 179 § 3. Nao existem parelhas fonéticas. 180 S$ 4. A alternancia. 182 § 5, As leis de alternancia. 183 S 6. A alternancia ¢ o vinculo gramatical. 185 Carituro IV — A analogia. $ 1. Definigio e exemplos. 187 $ 2. Os fenédmenos analdgicos nfo sio mudancas. 189 S 3. A analogia, principio das criagdes da Mngua. 191 Carfruto V — Analogia e evolugao. § 1. Como uma inovagio analdégica entra na lingua. 1% S 2. As inovagdes analégicas, sintomas de mudangas de interpretagio. 197 $ 3. A analogia, principio de renovasdo ¢ de conserva- So, 199 CapiruLo VI — A etimologia popular. 202 Cariruco VIL — A aglutinagao. $ 1. Definigao. 205 § 2. Aglutinaciio ¢ amalogia. 206 Capituto VIII - Usidades, identidades e realidades diacrénicas. 209 Apéndices. A. ‘Andlise subjetiva e andlise objetiva. 213 B. A andlise subjetiva e a determinagio das subunidades. 215 C. A etimologia. 219 x QUARTA PARTE LINGUISTICA GEOGRAFICA Carituzo I — Da diversidade das linguas. 221 Cariruro Il — Complicagdes da diversidade geogréfica. § 1. Coexisténcia de virias Mnguas num mesmo ponto. 224 S$ 2. Lingua literdria e¢ idioma local. 226 Capfruto III — Causas da diversidade geogrdjica. §$ 1. O tempo, causa essencial. 228 § 2. Acdo do tempo num territério continuo. 230 $ 3. Os dialetos nio tém limites naturais. 233 Capfruto 1V — Propagagéo das ondas lingiiisticas. $ 1. A forga do intercurso e 0 espfrito de campandtio. 238 $ 2. As duas forgas reduzidas a um princfpio unico. 240 § 3. A diferenciagdo lingiifstica em tertitérios separados. 234 QUINTA PARTE QUESTOES DE LINGUISTICA RETROSPECTIVA CONCLUSAO Carituzo 1 — As dues perspectivas da Lingiiistica diacrénica. 247 Capiruto II — A dingua mais antiga e 0 protdtipo. 251 Carfruto II] — As reconstrugées. $ 1. Sua natureza e sua finalidade. 255 § 2. Grau de cetteza das reconstrugies. 257 Cariruto IV — O testemunbo da lingua ent Antropologia ¢ em Pré-Histéria. § 1. Lingua ¢ raca. 260 $ 2. Etnismo. 261 § 3. Paleontologia lingiifstiza. 262 § 4. Tipo lingiiistico ¢ mentalidade do grupo social. 266 Capfruto V — Familias de linguas € tipos lingilsticos. 268 Inpice ANAL{tICo. 273 XI PREFACIO A EDIGAO BRASILEIRA Estas palavras introdutérias 4 edicgao brasileira do Cours de linguistique générale nao pretendem expor ou discutir as doutri- nas lingiiisticas de Ferdinand de Saussure, nem tampouco apre- sentar a versio portuguesa no que ela significa como transposi- g&o do texto francés. Visam a uma tarefa bem mais modesta, mas, talvez, mais util ao leitor brasileiro, estudante de Letras ou simples leigo, interessado em Lingiiistica: fornecer informagoes sobre o famoso lingiiista suigo e sobre a sua obra e indicar algu- mas fontes para estudo das grandes antinomias saussurianas, ainda na ordem do dia, meio século depois da 1.* edigao do Cours, embora provocando ainda hoje didlogos mais ou me- nos calorosos. A 1. edigio do Cours é de 1916, e 6, como se sabe, “obra péstuma”, pois Saussure faleceu a 22 de fevereiro de 1913. A versio portuguesa saj com apenas 54 anos de atraso. Mas nesse ponto néo somos s6 nds que estamos atrasados. O Cours de linguistique générale no foi um best-seller, mas foi em francés mesmo que ¢le se tornou conhecido na Europa e na América. A 1} edicao francesa, de 1916, tinha 337 pdginas; as seguintes, de 1922, 1931, 1949, 1955, 1962... ¢ 1969, tm 331 paginas. No- te-se, porém, como crescem os intervalos entre as edicdes até a 4.2, de 1949, e depois se reduzem a constante de 7 anos, 0 que mostra que até a edigao francesa teve a sua popularidade aumen- tada nestas duas ultimas décadas. Uma vista de olhos sobre as tradugGes é bastante elucidati- va. A primeira foi a versio japonesa de H. Kobayashi, de 1928, reeditada em 1940, 1941 e 1950. Vem depois a alema de H. Lom- mel, em 1931, depois a russa, de H. M. Suhotin, em 1933, Uma divulgou-o no Oriente, ¢ a outra no mundo germ4nico (e nér- dico) e a terceira no mundo eslavo. A versio espanhola, de XII Amado Alonso, enriquecida com um excelente prefacio de 23 pa- ginas, saiu em 1945, sucedendo-se as edigdes de 1955, 1959, 1961, 1965 e 1967, numa cerrada competicgio com as edigdes france- sas, Sao as edigées francesa e espanhola os veiculos de maior divulgago do Cours no mundo romanico, A versdo inglesa de Wade Baskin, saida em Nova Iorque, Toronto e Londres, é de 1959. A polonesa é de 1961, e a hiingara, de 1967, Em 1967 saiu a notavel verso italiana de Tullio De Mauro, tradugio segura e fiel, mas especialmente notdvel pelas 23 pagi- nas introdutérias ¢ por mais 202 paginas que se seguem ao texto, de maior rendimento, em virtude do corpo do tipo usado, osten- tando extraordindria riqueza de informag6es sobre Saussure € sobre a sorte do Cours, com 305 notas ao texto e uma bibliogra- fia de 15 paginas (cerca de 400 titulos) (1). Tullio De Mauro por essa edigdo se torna credor da gratiddo de todos os que se interessam pela Lingiiistica moderna (?). Mas a freqiiéncia das reedigdes e tradugdes do Cours nesta década de 60 que acaba de expirar mostra que jd era tempo de fazer sair uma versio portuguesa dessa obra cujo interesse cresce com o extraordindrio impulso que vém tomando os estudos lin- gitisticos entre nés e em todo o mundo, Ja se tem dito, e com razZo, que a Lingiiistica é hoje a “vedette” das ciéncias huma- nas. Acresce que o desenvolvimento dos curriculos do nosso es- tudo médio nestes ultimos anos impede que uma boa percentagem de colegiais e estudantes do curso superior possam ler Saussure em francés, Verdade é que restaria ainda a versio espanhola, que é excelente, pelo prélogo luminoso de Amado Alonso, Mas, agora, o interesse piiblico em Saussure cresce, e uma edigao por- tuguésa se faz necessdria para atender 4 demanda das universi- dades brasileiras. (1) Ferdinand de Saussure, Corso di linguistica generale — Intro- duzione, traduzione e commento di Tullio De Mauro, Editori Laterza, Bari, 1967, pp. XXIII +488 pp. (2) As pp. V-XXIII dio uma boa introdugio, ¢ as pp. 3-282 tra- zem o texto, numa vetsao muito fiel. Da p. 285 a 335 vém informactes abundantes sobre Saussure ¢ sobre o Curso; da p. 356 4 360 se exami- nam as relagdes entre Noreen ¢ Saussure. Seguem-se, pp. 363-452, 305 notas, algumas longas. As pp. 455-470 trazem cerca de 400 titulos bi- bliogrdficos, alguns gerais, outros especialmente ligados a Saussure ¢ 20 Cours, As demais so de indices. XIV Se é verdade que a Lingijistica moderna vive um momento de franca ebulig&o, quando corifeus de teorias lingiiisticas numa evolugdo répida de pensamento e investigacdes se vao superan- do a si mesmos, quando nfo s4o “superados” pelos seus discipu- los, o Cours de linguistique générale € um livro classico. Nao é uma “biblia” da Lingiiistica moderna, que dé a Gltima palavra sobre os fatos, mas é ainda o ponto de partida de uma proble- matica que continua na ordem do dia. Nunca Saussure esteve mais presente do que nesta década, em que ele é As vezes declarado “superado”, S6 h4, porém, um meio honesto de superd-lo: é lé-lo, repensar com outros os pro- blemas que ele propés, nas suas célebres dicotomias: lingua ¢ fala, diacronia e sincronia, significante e significado, relagao as- sociativa (= paradigmdtica) e sintagmdtica, identidade e opo- sigdo etc. E bem certo que a Lingiiistica americana moderna surgiu sem especial contribuigao de Saussure; nao deixa, porém, de causar espécie a onda de siléncio da quase totalidade dos lin- giistas americanos com relagaéo ao Cours. Bloomfield, fazendo em 1922 a recensio da Language de Sapir, chama o Cours “um fundamento teérico da mais recente tendéncia dos estudos lin- giiisticos”, repete esse juizo ao fazer a recensio do préprio Cours, em 1924, fala em 1926, do seu “débito ideal” a Sapir e a Saus- sure, mas nao inclui o Cours na bibliografia de sua Language, em 1933 (3). Como a Lingiiistica norte-americana teve desenvolvimento proprio, isso se entende. Mas é conveniente que numa edigio brasileira do Curso se note o fato, para que nossos estudantes nao sejam tentados a “superd-lo” sem té-lo lido diretamente. E verdade que entre nés o que parece ter acontecido é uma (3) GE. De Mmuroy Corso, p. 339. De Mauro lembra algumas exce- goes -(1) “um dos. melhores. enssios de conjunto sobre Saussure é de R. S. Wells, "De Saussure’s System of Linguistics", in Word, IU, 1947, pp. 1-31: -(2) J. T. ‘Waterman, “Ferdinand de Saussure, Forerunner of Modern Structuralism”, in Modern Language Journal, 40 (1956), pp. ors -G) Chomsky, “Current Tesues in Linguistic Theory”, in J. Fodar, J. J. Katz, The Structure of Language. Readings in Philo peri ize, Englewood Cliffs, N. J., 1964, pp. 52, 53, 39 ¢€ ss. © 86. (Ver orto, pp. 339-340, ¢ Bibl., pp. 470 ¢ a. XV supervalorizacio do Cours, transformado.em fonte de “pesquisa”. As vezes 4 pergunta feita a estudantes que j4 onseguiram apro- vagio em Lingiiistica se j4 leram Saussure, obtemos a resposta sincera de que apenas “fizeram pesquisa” nele. E a pergunta sobre o que querem dizer com a expressio “pesquisa em Saus- sure”, respondem que assim dizem porque apenas leram o que ele traz sobre lingua ¢ fala! Entretanto, hoje nZo se pode deixar de reconhecer que 0 Cours levanta uma série intérmina de problemas. Porque, no que toca a eles, Saussure — como Sécrates e Jesus — é rece- bido “de segunda mao”. Conhecemos Sécrates pelo que Xeno- fonte e Plato escreveram como sendo dele. © primeiro era muito pouco filésofo para entendé-lo, € o segundo, filésofo de- mais para no ir além deie, ambos distorcendo-o, Jesus nada es- creveu sen3o na areia: seus ensinos so os que nos transmitiram os seus discipulos, alguns dos quais nao foram testemunhas oculares, Dé-se o mesmo com o Gours de Saussure. Para comegar, foram trés os Cursos de Lingiistica Geral que ele ministrou na Universidade de Genebra: 1" curso — De 16 de janeiro a 3 de julho de 1907, com 6 alunos matriculados, entre os quais A. Riedlinger e Louis Caille. A matéria fundamental deste curso foi: “Fonolo- gia, isto é, fonética fisiolégica (Lautphysiologie), Lin- giiistica evolutiva, alteragdes fonéticas e analdgicas, rela- ¢&o entre as unidades percebidas pelo falante na sincro- nia (anélise subjetiva) e as raizes, sufixes e outras unida- des jsoladas da gramAtica histérica (andlise objetiva), etimologia popular, problemas de reconstrugio”, que os editores puseram em apéndices e nos capitulos finais. 2.¢ curso —- Da 1.* semana de novembro de 1908 a 24 de julho de 1909, com onze alunos matriculados, entre os quais A. Riedlinger, Léopold Gautier, F. Bouchardy, E. Constantin. A matéria deste foi a “relacdo entre teo- ria do signo e a teoria’ da lingua, definigdes de sistema, unidade, identidade e de valor lingitistico. Daf se deduz a existéncia de duas perspectivas metodoldgicas diversas dentro das quais colocou o estudo dos fatos lingiiisticos; a descrigZo sincrénica e a diacrénica”. Saussure varias XVI vezes se mostra insatisfeito com os pontos de vista a que tinha chegado, 3.7 curso — De 28 de outubro de 1910 a 4 de julho de 1911, com doze alunos matriculados, entre os quais G. Dé- gallier, F. Joseph, Mme, Sechehaye, E. Constantin e Paul-F. Regard. Como matéria, “integra na ordem de- dutiva do segundo curso a riqueza analitica do primeiro”. No inicio se desenvolve o tema “das linguas”, isto é, a Lingiiistica externa: parte-se das linguas para chegar & “Jingua”, na sua universalidade e, dai, ao “exercicio e faculdade da linguagem nos individuos” (4). Os editores do Cours — Charles Bally, Albert Sechehaye, com a colaboracao de A, Riedlinger — sé tiveram em mios as anotagées de L. Caille, L, Gautier, Paul Regard, Mme. A. Se- chehaye, George Dégallier, Francis Joseph, e as notas de A. Riedlinger (5), E, tal qual ele foi editado, com a sistematizagao € organizacZo dos trés ilustres discipulos de Saussure, apresenta varios problemas criticos, 1.° — Saussure nfo estava contente com o desenvolvimento da matéria, Nao s6 tinha que incluir matéria ligada as nguas indo-européias por necessidade de obedecer ao programa (*), mas também ele proprio: se sentia limitado pela compreensio dos estudantes e por no sentir como definitivas as suas idéias. Eis o que ele diz a L, Gautier: “Vejo-me diante de um dilema: ou expor o assunto em toda a sua complexidade e confessar todas as minhas dividas, 0 que nZo pode convir para um curso que deve ser matéria de exame, ou fazer algo simplificado, melhor (4) Nao tendo tido acesso direto a obra de R. Godel, Les sources manuscrites du Cours de linguistique générale de Ferdinand de Saussure, Genebra — Paris, Droz, 1957, resumo 0 apanhado daf faz De Mauro, no Corso, pp. 320-321, ¢ o que diz o ptéprio R. em Cabiers Fer- dinand de Saussure, no. 16 (1958-1959), pp. 22-23. (5) Cf. “Préface de la premiére edition”, p. 8 (3.° ed.), 3° pa régrafo, (6) CE. Préface, p. 7. 1° pardgrafo (fim). XVII

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