Você está na página 1de 10
KONRAD HESSE Prof. da Universidade de Freiburg Juiz Ex- Presidente da Corte Const (Bundesverfassungsgericht) A FORCA NORMATIVA DA CONSTITUICAO (Die normative Kraft der Verfassung) Traducio de Gilmar Ferreira Mendes, Procurador da Repiiblica e Doutorado pela Universidade de Minster, Alemanha, SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR Porto Alegre/1991 Titulo do original: Die normative Kraft der Verfassung ©J.C.B. Mohr (Paul Siebeck), Tubingen As caracteristicas graficas desta obra e os direitos {de publicagdo, total ou parcial, em lingua portuguesa, pertencem ao editor. SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR Rua Riachuelo,1238 Fone: (51)3227-5435 90010-273 / Porto Alegre / RS fabriseditor@terra.com.br APRESENTACAO Este trabalho do Professor Konrad Hesse que apresenta- ‘mos ao leitor brasileiro, base de sua aula inaugural na Univer- sidade de Freiburg-RFA, em 1959, € um dos textos mais signi- vos do Constitucional moderno. Contrapondo-se as reflexdes desenvolvidas por Lassalle (*), esforca-se Hesse pot demonstrar que 0 desfecho do embate entre os fatores reais de Poder e a Constituiclo nao ha de verificar-se, necessati mente, em desfavor desta. A Constituigio nao deve ser derada a parte mais fraca. Ressalta Hesse que a Consti ai fica apenas um pedaco de papel, como definido por . Existem pressupostos realizaveis (realizierbare Voraus- setzungen), que, mesmo em caso de eventual confronto, per- mitem assegurar a sua forca normativa. A conversio das ques- tes juridicas (Rechtstragen) em questoes de poder (Machefra- gen) somente ha de ocorrer se esses pressupostos no puderem ser satiseitos. Sem desprezar o significado dos fatores hist6ricos, politi- cos € sociais para a forga normativa da Constituicio, confere Hesse peculiar realce 4 chamada yontade de Constituigao (Wille zur Verfassung). A Constituicao, ensina Hesse, transfor- ma-se em fotca ativa se existir a disposigio de orientar a pré- pria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se fizerem- se presentes, na consciéncia geral — particulamermente, na consciéncia dos principais responsaveis pela ordem constitucio- ‘nal —, nio s6 a vontade de poder (Wille zur Macht), mas tam- bém a vontade de Constituicio (Wille zur Verfassung). A Forca Normativa da ‘Constituigio Em 16 de abril de 1862, Ferdinand Lassalle proferiu, nu- aga -progressista de Berlim, sua conferéncia da Constituicao (Uber das Verfassungswesen)s. Segundo sua tese fundamental, questes constitucionais no so questdes jutidicas, mas sim questées politicas. E que a Cons. tituigio de um pais expressa as relacdes de poder nele domi- nantes: o poder militar, representado pelas Forcas Atmadas, © poder social, representado pelos ios, 0 poder eco: nOmico, representado pela grande indéstria e pelo grande ca- Bial, ¢, finalmente, ainda que nao se equipate ao significado los demais, o poder intelectual, representado pela consciéncia ¢ pela cultura gerais. As relagoes faticas resultantes da conjuga- ¢40 desses fatores constituem a forca ativa determinante das Ieis e das instituigées da sociedade, fazendo com que estas ex. piessem, tlo-somente, a cortelagio de foreas que resulta dos atores reais de poder; Esses fatores teais do poder formamn a io real do pais. Esse documento chamado Constitui- so - a Constituicéo juridica - nfo passa, nas palavras de Las- salle, de um pedaco de papel (ein Sti i de de regular ¢ de motivar esta limit: de com a Constituicio real. Do contritio, torna-se inevitavel © conflito; cujo desfecho ha de se verificar contra a Constitui- so esctita, esse pedaso de papel que teré de sucumbir diante dos fatores reais de poder dominantes no pais. Questées constitucionais nao ofiginariamente, ques- tes juridicas, mas sim questdes politicas. Assim, ensinam-nos ‘no apenas os politicos, mas também os juristas. ‘Tal como tessaltado pela grande doutrina, ainda nao apreciada devida- Gesammelte Reden und Schriften, org. ¢ inttodugio de Eduard Bernstein 1 (1919), p. 25s.

Você também pode gostar