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4210 DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A N.° 203 — 35 1992 Artigo 47.2 Revogapio E revogado 0 Decreto-Lei n.° 354/88, de 12 de Ou- tubro, alterado pelos Decretos-Leis n.”"'140/89, de 28 de Abril, 33/90, de 24 de Janeiro, 276/90, de 10 de Setembro, ¢ 379/91, de 9 de Outubro, bem como as normas regulamentares aprovadas ao seu abrigo. Visto € aprovado em Conselho de Ministros de 2 de Julho de 1992. — Anibal Antonio Cavaco Silva — Anténio Fernando Couto dos Santos. Promulgado em 25 de Agosto de 1992. Publique-se. O Presidente da Republica, MARIO SOARES. Referendado em 26 de Agosto de 1992. 0 Primeiro-Ministro, Anibal Anténio Cavaco Silva. MINISTERIO DO EMPREGO E DA SEGURANGA SOCIAL 0 3 de Setembro A existéncia de situagdes de criangas e jovens cujas familias naturais ndo se encontram em condigdes de po- der desempenhar a sua funcdo sécio-educativa, condi- cionando negativamente a formacdo ¢ 0 desenvolvi- mento da personalidade dessas criangas e jovens, é constante fonte de preocupacao. Impde-se 0 encaminhamento desses casos para res- postas substitutivas da familia natural, enquanto esta ndo possa retomar a plenitude das suas fungdes Entre elas, surge 0 acolhimento familiar, genuina prestacdo de accao social, com a qual se visa'o acolhi: mento tempordrio de eriangas ou jovens em outras fa- milias, designadas genericamente neste diploma por fa- milias de acolhimento. Sao patentes as vantagens do acolhimento familiar, sobretudo quando confrontadas com outras respostas de cardcter institucional mais tradicionais, como € 0 caso do internamento em lares. Deste modo, a uma situagdo artificial e pouco per- sonalizada contrapde-se a inequivoca preferéncia pelo meio familiar, mesmo que em substituicdo da familia natural, como espaco essencial e capaz de satisfazer as necessidades afectivas, materiais psico-sociais das criangas ¢ dos jovens. © acolhimento familiar apela a solidariedade das fa- milias e das pessoas que, podendo e querendo acolher criangas e jovens, gratuita ou remuneradamente, 0 pos- sam fazer mediante a garantia de apoios necessarios & sua_acgai Constréi-se, assim, uma sociedade solidariamente ac- fa, capaz de integrar no tecido social e familiar os seus elementos mais vulnerdveis, assumindo o Estado uum papel de subsidiariedade e complementaridade para com a sociedade civil. Cumpre-se, por outro lado, 0 preceituado na lei fundamental relativamente & respon- sabilidade da sociedade e do Estado pela protec¢ao das criangas e jovens, em particular as que experimentam, transitoriamente, condigdes de vida familiar pouco ade- quadas as suas necessidades psicoldgicas, afectivas materials Decorridos mais de 10 anos apés a entrada em vi gor do Decreto-Lei n.° 288/79, de 13 de Agosto, que pela primeira vez definiu o instituto, designando-o por colocacao familiar, e the fixou os objectivos, impde-se proceder a sua reformulacdo, numa perspectiva de aper- feigoamento € maior adequagio as actuais realidades sociais Assim: No desenvolvimento do regime juridico estabelecido pela Lei n.° 28/84, de 14 de Agosto, e nos termos da alinea c) do n.° 1 do artigo 201.° da Constituigao, 0 Governo decreta 0 seguinte: Artigo 1.° Conceito 1 — 0 acolhimento familiar € uma prestagdo de ac- 40 social que consiste em fazer acolher transitéria € temporariamente, por familias consideradas idéneas ara a prestacdo desse servico, criancas e jovens cuja familia natural nao esteja em condigdes de desempe- nhar a sua fungao sécio-educativa, 2— Para efeitos do presente diploma sao conside- rados como familia natural apenas os parentes em 1.° grau da linha recta ¢ 05 do 2.° grau da linha cola- teral. Artigo 2.° Objective © acolhimento familiar destina-se a assegurar a crianga ou ao jovem acolhido um meio sécio-familiar adequado ao desenvolvimento da sua personalidade, em substituicdo da familia natural, enquanto esta ndo dis- ponha de condicaes. Artigo 3.° " liuigdes de enquadramento 1 —O acolhimento familiar, enquanto prestagdo de acgdo social, sé pode ser promovido pelos centros re- gionais de seguranga social e pela Santa Casa da Mi- sericérdia de Lisboa, no ambito das respectivas com- peténcias. 2.— Mediante acordos de cooperagao celebrados com 8 centros regionais de seguranca social ou com a Santa Casa da Misericérdia de Lisboa, e de harmonia com © seu estatuto, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 119/83, de 25 de Fevereiro, as instituigdes particulares de soli- dariedade social que disponham de meios adequados podem actuar como instituigdes de enquadramento, nos termos previstos neste diploma. 3 — Cabe as instituigdes de enquadramento promo- ver © acolhimento familiar das criangas ou jovens, em articulagZo com as comissOes de protecedo de meno- res, os servigos competentes do Ministério da Sustica, bem como os tribunais, sempre que tal Ihes for solici- tado, Artigo 4.° Pressupostos do acolhimento familiar 1 —O acolhimento familiar sé pode ser decidido quando se tenham esgotado as possibilidades de a fa milia natural desempenhar cabalmente a fungo edu- N.® 203 — 3-9-1992 cativa que Ihe cabe ¢ esteja demonstrada a sua incapa- cidade de resposta imediata e construtiva aos apoios que the possam ser facultados ou a manifesta insufi- ciéncia destes. 2— Podem beneficiar do acolhimento familiar as criangas ou jovens com idade inferior a 14 anos qu @) Estejam a ser afectados no seu desenvolvimento fisico, psiquico ou afectivo, bem como na sua formacao social, ética e cultural, por disfungdes verificadas na sua familia natural ou estejam em risco grave e evidente de virem a encontrar- se nessa situacdo; b) Sejam portadores de deficéncias fisicas, senso- riais ou intelectuais que determinem a necessi- dade prolongada de recuperagéo ou educacao especial, que exija ambiente especialmente orientado para a observacdo, tratamento ou aprendizagem, ou com localizagdo geografi préxima das estruturas de apoio as criancas € jovens com deficiéncia, 3 — Em casos devidamente justificados podem be- neficiar do acolhimento familiar jovens que, & data da verificagao de uma das situagdes previstas nas alineas do nimero anterior, tenham idade igual ou superior a 14 anos ¢ inferior a 18. 4 — Excepcionalmente, a requerimento do acolhido ¢ da familia de acolhimento, podem as prestacdes de- vidas pelo acolhimento familiar manter-se ap6s a maio ridade do acolhido e até aos 21 anos ou aos 24 anos de idade, desde que este se encontre a frequentar com, aproveitamento, respectivamente, curso médio ou de formacao profissional ou curso superior. Artigo Audigso dae nga ou Jovem 1 — A audigdo da crianga ou do jovem com idade superior a 12 anos, ou com idade inferior se 0 seu de- senvolvimento mental 0 permitir, precede a decisao so- bre 0 acolhimento familiar. 2—A audi¢ao da crianga ou jovem ¢ extensiva a outros momentos do acolhimento familiar, nomeada- mente & permanéncia na familia de acolhimento, even- tual transferéncia ou reintegracdo na familia natural Artigo 6.° Competéncias das instituigdes de enqus ramento 1 — As instituigdes de enquadramento compete: @) Acordar 0 acolhimento familiar com os deten- tores do exercicio do poder paternal; b) Celebrar os acordos para a prestacao de servigo de acolhimento familiar com as familias de aco- Thimento; ©) Pagar as familias de acolhimento os montan- tes devidos pela prestacdo de servico € os sub- sidios para a manutencao do acolhido; @) Proporcionar as familias de acolhimento os meios materiais para fazer face a despesas ex- traordindrias relacionadas com a garantia do di- reito dos acolhidos a satide ¢ educacdo; €) Proporcionar as familias de acolhimento, sem- Pre que necessario, a disponibilidade do equi- DIARIO DA REPUBLICA —1 SERIE-A 4211 pamento indispensdvel ao acothimento da eri- anga ou joven; J) Promover a realizacao de contratos dle seguros de acidentes pessoais para cobertura dos riscos, a que fiquem sujeitas as criangas ou jovens aco- Ihidos. 2 — 0 acordo dos detentores do exercicio do poder paternal para o acolhimento familiar referido na ali nea a) do n.° 1 deve ser reduzido a escrito, 3 — No ambito das suas competéncias devem as ins- tituigdes de enquadramento promover a execugio de medidas judicidrias ou outras relativas a criancas ou jovens, em articulagéo com as comissGes de proteccio a menores ou servigos competentes do Ministvio da Justiga e os tribunais, quando for caso disso. Artigo 7.° Decisio sobre © acolhimento familiar 1—A familia natural tem direito @ participar no processo de decisio de acothimento familiar 2.— A decisio de acolhimento familiar compete con- juntamente aos detentores do exercicio do poder pa- ternal ¢ as instituigdes de enquadramento 3—O acolhimento familiar da crianga ou jovem deve ser precedido de uma avaliagdo ¢ diagndstico so: bre as condigdes que a determinam Artigo 8.° Avaliagio © diagndstico 1 — A avaliagdo ¢ 0 diagnéstico referido no artigo anterior sao realizados por uma equipa técnica da ins- tituigdo de enquadramento constituida por um assistente social, um psicélogo, um técnico de educ: fermeiro. 2 — Quando tal se mostrar necessario, deve a insti- tuicdo de enquadramento promover a articulagio com outros servigos puiblicos ou instituicdes particulares de solidariedade social para a constituicao das equipas tée: nicas de avaliacdo. 3 — A articulagdo prevista no nimero anterior deve ser efectivada, designadamente, mediante a realizacio de protocolos de cooperacao. Artigo 9." Competéncia das equipas tenicas As equipas técnicas compete: @) Seleccionar e dar formagao as familias candi datas & prestardo do servigo de acolhimento fa- miliar; ) Analisar a situagdo da crianga ou joven a aco- Iher ¢ da respectiva familia natural; ©) Acompanhar regularmente a situagao de aco- Ihimento familiar para verificacao da manuten- ¢d0 da capacidade formativa da familia de aco- Thimento, do desenvolvimento da crianga ou jovem acolhido e da sua ligagao a familia na- tural; d) Apoiar as familias naturais com vista 4 reinte- gragdo familiar dos acathidos; 4212 ) Emitir pareceres inerentes & permanéncia na fa- milia de acolhimento, eventual transferéncia ou reintegragao na familia natural. Artigo 10.° Obrigagdes da familia natural A familia natural obriga-se a: 4) Colaborar com a familia de acolhimento ¢ com as institui¢des de enquadramento na assistén- cia e educagdo da crianca ou joven acolhido; Comparticipar na manutencao da crianca ou jo- ver acolhido de acordo com as normas sobre comparticipacdes familiares em vigor para a uti- lizagdio de equipamentos e servigos de acgdo so- cial o Artigo 11.° Acompanhamento da familia natural Na vigéncia do acolhimento familiar, a instituigdo de enquadramento deve acompanhar, através dos seus téc- nicos, a familia natural do acolhido, com vista a: 4) Facultar 05 apoios que contribuam para a pro- gressiva capacidade da familia para o desem- penho das suas fungdes sécio-educativas, com vista 4 reintegragdo da crianga ou jovem aco- Ihido no mais curto prazo; +b) Promover € inventivar o desenvolvimento de contactos regulares com a crianga ou jovem acolhido, Artigo 12.° Requisios das familias de acothimento 1 — Para serem seleccionadas pelas instituigdes de enquadramento para a prestagao do servigo de acolhi- mento familiar, as familias devem reunir os seguintes requisitos: a) Serem constituidas por casais com capacidade intelectual e afectiva, equilibrada situagdo emo- cional ¢ conjugal ¢ estabilidade econémica; Nao ter qualquer dos cOnjuges, em principio, idade superior a 50 anos: ©) Possuir 0 casal condigdes de satide, bem como aptiddo ¢ disponibilidade para assistir e educar; @) Constituir a prestagao do servico de acolhi- mento familiar actividade profissional exclusiva, Principal ou secundaria de um dos membros do casal; Dispor o agregado familiar de adequadas con- digdes de higiene e habitacdo; J) Estarem disponiveis para seguir as acgdes de formacao promovidas pela instituigdo de enqua- dramento. » @) 2— Podem também ser seleccionadas para a pres- tagdo de servico de acolhimento familiar pessoas que satisfagam os requisitos referidos no nimero anterior. 3 —'Sempre que o casal ou a pessoa a seleccionar sejam familiares ou padrinhos da crianga ou jovem, a ponderagdo dos requisitos referidos no n.® I deve ser Feita com a flexibilidade que 0 interesse do acolhido 0 exija, DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A Artigo 13.° Obrigasdes das familias de acothimento ‘As familias de acolhimento seleccionadas pelas ins- tituigdes de enquadramento obrigam-se a: @) Orientar ¢ educar os acolhidos com diligéncia € afectividade paternais; b) Participar nos programas e accdes de formayao e esclarecimento promovidos pelas instituigdes de enquadramento; Assegurar as condicSes para o fortalecimento das relagdes do acolhido com a familia natural; Manter informada a familia natural e a insti- tuigdo de enquadramento dos aspectos relevan- tes ligados ao desenvolvimento fisico ¢ psiquico do acothido; Comunicar & instituigdio de enquadramento ¢ familia natural qualquer alteragdo da. residén- cia do acolhido, incluindo situagdes Ue period de férias e fins-de-semana; J) Providenciar os cuidados de satide adequados a idade do acolhido, inclusive mantendo actua- lizado o seu boletim individual de sade; 8) Assegurar ao acolhido a frequéncia de estabe- lecimento de ensino adequado a sua idade ¢ condigdes de desenvolvimento; 1h) Nao receber a titulo permanente outras crian- {¢as ou jovens que nao sejam membros da fa- milia de acolhimento, para além das abrangi das pelo contrato de acolhimento familiar; i) Comunicar a instituicao de enquadramento qualquer alteragao na constituicéo do agregado familiar. o @) Q Artigo 14.° Direitos das familias de acolbimento 1 — As familias de acolhimento acolhido, 0 direito de exercer os poderes de facto ine: rentes & obrigacdo que Ihes incumbe de orientar e edu- car 0s acolhidos com diligéncia e afectividade paternais. 2 — As familias de acolhimento tém direito a rece- ber da instituigao de enquadramento: 4) Apoio técnico ¢ formagao continuada; 6) Os montantes correspondentes a retribuicao do servigo de acolhimento prestado; ©) Os valores dos subsidios para manutengao dos acolhidos; @) Os montantes necessirios cobertura de des- pesas extraordindrias relativas a satide e a edu- casio dos acolhidos. 3 — A realizagdo das despesas referidas na alinea d) do n.° 1 do artigo 6.° deve ser proposta a instituicdo de enquadramento, com indicagéo do montante esti- mado ¢ sua fundamentacdo. Artigo 15.° Prestagdes pecumniirias Os valores das prestagdes referidas nas alineas 5) € ¢) do n.° 2 do artigo anterior sao fixados por despa- cho ministerial ¢ sujeitos a actualizagao anual, até 15 de Dezembro do ano anterior a que respeitam:

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