Você está na página 1de 177
HLL A.HART, O Conceito de Direito Seige Com um Péceseri edad por Penelope A. Bulloch Joseph Raz Trad de A. Risto Mendes HLRENKIAN | LISBOA FUNDACAO CALOUSTE G Tradugio o original inglés intitulad: ‘THE CONCEPT OF LAW HLA. Harr © Oxford Univesity Press, 1961 Primera edigiopublicada em 1961 ‘Segunda edigio pubticads em 1994, (com um novo Pés-scrita) Reservado todos os direitos de acordo com a lei Edigéo da FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN ‘Avenida de Berna, Lisboa NOTA PREVIA DO TRADUTOR (O tio de HLA. Han cus talus a Fundjo Cause Guenian ares gra ao plica deiingu popu, Com cra uo de rade resin ete ‘seats dis d deo eda era gral deo Tras Se mo ge ‘slau grader de ti era seo cain arena! sobre {Ss eliges eo stean eo subd, sete sages ene ajsignes mort eee fstaco deo. Em especial concep do Ptssor de Oxford qu cosine o deo emo uma unae de epas ema ecards em so vo de vivo debe en 05 ‘rf praca penn as verso fel do penser de Har, mss ‘area no fel nomsadamenteporgve nk existe em Poa a exper ‘esc ng porugest de obra nice ou noe amercnss Pricing ‘repel desea do sao. de eur ay minim ar ean ep de pga Onder incr as expresses lias nga igs plo ar ud wn eve expiago Sebre norma, nts ey eft imo qs er popes Mo fai ‘ano, Tae te prec radio asin om atric, Pres rad ‘ever agar ext tam wo esa secur pr eet pee ‘em ingress nas aes de eo. Et ref ner ss eprint vad cabo em fea ax aioe ingest ¢ dcp Har Exe poate dean prin aa do Dr Sane Bo ‘eo i peering ore pel rar 8 Fano Cole Guleran Mi ‘Src done aon apo tnd psec concep Duss Sms {era ena da tai, mind a, Or eran Rio Mens pla ‘stele qe fia em en res ds prepa el eo NOTA DOS EDITORES Decors lgus anos dete ass peso, Cone de Dito wana ‘oma como eracompreentha cota Ten eral do Dito rnd de on ipie ora dele Ose enorme inact de igen + ua mip Se pu 90 Cano de Din Na sev loro ext, cia re ‘ecg menos: Miso utr guna Jar espa mus dewses Ste Bee. pala ‘lene su pig cot gu iereara incor rela 3c ‘su infndae fat gor sums igual porn seus los —aetando apr edna dan ics justia e upendo dos Se aaa suis Scr Prt iv caeomtro domes poten A chews deo novo cp — cones, emp ‘itn com petit cou pesca encod 00 ‘ero da tena, pease pans fits dve oo eu peresknismn tora, Ta io adverse mt sun ds perso eles hota pete ‘acted a tas ome havi sd iain conceti. Nio sai © com tities, pesreou no nl sore pcr, chandose us com ‘tn airs ds te meio Ws dos cps ejecta “Quan emer Ha ns pa prs Yermos Sus pape pr Scio Se ies lo suscep de ser peta,» moss rnc ea de 0 ear isso pblicese quar eto cm o al rt ao tia ead sft Fanos pe ih, eoanados a desir ue aun mapa, o prio cpl do “sci se achat em ni final Je rein Descbrines apenas nots mans. e «sistema juridico; lembrem-ae de que além destes casos. “padrio, irdo encontrar também conformacées na vida social que, fembora’partilhem de alguns destes aspectos salientes, tambem cearecem de outros, Sio casos controvertidos, elativamente aos quais indo pode haver argumentos conclusivos pro ou contra a sa classif ceagdo como direitos ‘Um tal tratamento da questio seria agradavelmente breve, Mas do teria mais nada a recomendéslo, Porque. em primero lugar. € claro que aqueles que se sentem mais perplexos com a questo +0 que ¢0 direito?» nao se esqueceram e nao necessitam que st [hes recordem o5 factos familiares que esta resposta esquematica Ihes oferece. A perplexidade profunda que tem mantido viva a pergunta, rio ¢ ignorancia,esquecimento ou incapacidade de reconhecimento ‘dos fenémenos a que a palavra «direito» normalmente se refere. Mais ‘ainda, se considerarmos os termos da nosea deserigio esquematica de lum sistema juridico, ¢ evidente que esta pouco mais faz do que afirmar que num caso-padrio normal aparecem juntas lis de varias especies. Ito assim, porque quero tribunal, quet 0 poder leyislativo, fs quais aparecem nesta descrigdo breve como elementos tipicos de tum sistema juridico-padrio, so eles proprios cragées do direito. So ‘quando hi certos tipos de leis que déem aos homens jurisdicao para 10 ‘quesroes rensisrenres| julgar casos e autoridade para fazer leis € que so criados um tribunal ou um poder legislativo. Este breve tratamento da questo, © qual pouco mais faz do que recordar ao seu autor as convencées existentes que regem o uso das palavras «direito» «sistema jurdicos,¢, por isso, nti. Claramente, ‘© melhor caminho consiste em diferir a formulacio de qualquer Tesposta a questao «O que éodireito?s, até que tenbamos descoberto ‘aquilo que existe acerca do direito que tem efectivamente confundido ‘0s que fizeram esta pergunta ou tentaram responder-Ihe, mesmo que 2 sua familiaridade com odireto ea sua capacidade para reconhecer ‘0s exemplos estejam fora de questio. Que mais querem saber © por ‘que razdo querem sabé-lo? A este questéo pode darse algo que se assemelhe a uma resposta de ordem geral. Porque hi certas questées principais recorrentes que tém constituido um foco constante de Aargumentos e contra-argumentos sobre a natureza do direito e tém provocado afirmagies exageradas e paradoxais sobre 0 dreito, tals ‘como as que jt referimos, A especulagao sobre a natureza do dieito tem uma historia longa e complicada; todavia, vista em retrospectiva, € nitido que se centrou quase continuamente sobre alguns pontos principais. Estes ndo foram gratuitamente escolhidos ou inventados pelo prazer da discussio académica: dizem respeito 2 aspectos do direito que parecem naturalmente dar origem a incompreensbes em todos os tempos, de tal forma que a confuséo © uma necessidade consequente de maior clareza acerca deles podem coexist mesmo nos espiritos de homens avisados, dotados de firme mestria ¢ cconhecimento do direit, 2. ‘Tris questées recorrentes Distinguiremos aqui trés dessa principais questdes recorrentes€ ‘mostraremos mais tarde por que razio surgem juntas sob a forma de um pedido de definicdo de dieito ou de uma resposta a questio +0 que ¢ 0 direito?s ou em questées formuladas de forma mais ‘obscura, tais como «0 que é a natureza (ou a esséncia) do direito’ Duas destas questdes surgem do seguinte modo: a caracteristiea ‘eral mais proeminente do direito em todos of tempos e lugares Cconsiste em que a sua existéncia significa que certas espécies de ‘condita humana jé néo sio facultativas, mas obrigatorias em cero ‘sentido. Contudo, esta caracteristica aparentemente simples do direito no é de_ cto simples, porque dentro da esfera da conduta ‘obrigatoria nao facultativa, podemos distinguir formas diferentes. © sentido primeiro e mais simples em que a conduta ja nio & facultativa acorre quando um homem é forgado a fazer © que outro The diz, nio porque seja fisicamente compelido, no sentido de que 0 seu corpo & empurrado ou arrastado, mas porque 0 outro o ameaca ‘com consequéncias desagradaveis se ele recusar-O assaltante armado ‘ordena a sua vitima que The entregue a bolsa e ameaca que Ihe da um tiro se esta recusar: se a vitima acede, referimo-nos & maneira por ‘que foi forcada a agir assim, dizendo que fos obrigada a agir assim Para alguns, tem parecido claro que nesta situagio em que uma pessoa da uma ordem a outra baseada em ameacas,e, neste sentido de sobrigars, 0 obriga a obedecer, temos a essencia do dieito, ou, pelo menos, «a chave da ciéncia do direitos. E este 0 ponto de partida da analise de Austin, a qual tanta tem influenctado a cigncia do direito inglesa Nao ha davida, claro, de que um sistema juridico apresenta frequentemente este aspecto,entre outros. Uma lei penal, que declara ser certa conduta crime e que estatui a punigdo a que ¢infractor se sujeita, pode parecer ser a situacéo facilmente identificavel do assaltante armado; © a unica diferenga pode parecer ser uma relativamente de somenos importancia, a de que, no caso das les, as ‘ordens sio dirgidas geralmente a um grupo que obedece em regra & tais ordens. Mas, por atraente que posse parecer esta reducio do fenémeno complexo do direitoa este simples elemento, descobrissse ‘que, quando examinada de perto, ¢ uma distorio © uma fonte de ‘confusiio, mesmo no caso de uma lei penal em que uma anise nestes termos simples parece mais plausivel. Entao com diferem o direitoe ‘ obrigagao juridica das ordens baseada em ameagas e como 5 Felacionam com estas? Tal tem sido em todos 0s tempos uma questav nuclear latente na pergunta «0 que é 0 direito?» ‘Uma segunda de tais questoes surge de um segundo modo em ‘que uma conduta pode nio ser facultativa, mas obrigatoria. Ae regras ‘morais impoem obrigagGes e retiram certas zonas de conduta da livre ‘opcio do individuo de agir como Ihe apetece. Tal como um sistema juridico obviamente contém elementos estreitamente ligados com os casos simples de ordens baseadas em ameacss, tambem contém ‘bvia e igualmente elementes estreitamente ligados com certos aspectos da moral. Igualmente em ambos ot casor existe uma dlificuldade ei identifcar precisamente a relagio.e uma tentagio de ver uma identidade na sua conexao obviamente estreta. Nao #6 0 ©) "Novo ingl, the Rey fo te sekence of ripen 1 direito @ moral partiham um vocabulirio, de tal modo que ha obrigacaes, deveres e direitos, quer morais. quer juridicos, mas também todos os sistemas juridicos iternos reproduzem a substancia de certas exigéncias morais fundamentais, O homicidio e 0 uso gratuito da violencia sio apenas os exemplos mais ébvios da coin Sencia entre as proibigaes do direito e da moral. Mais ainda, existe tuma ideia, ade justiga, que parece unir ambos os campos: ¢ simulta: ‘neamente uma virtude especialmente apropriada ao direito e a mais juridica das virtudes, Pensamos e falamos de «justga, de kanmonia como diteitor e, todavia, também de justica ou injustiga das leis. Estes factos sugerem o ponto de vsia de que direitoé mais bem compreendido como tm «ramio» da moral ou da justica e de que a respectiva congruéncia com os prineipios da moral eda justica é da sua vessénciae, mais do que @ sua integragio por ordens ameacas Esta € 2 doutrina caracteristica no s6 das teorias escolasticas do Gireito natural, mas também de alguma teoria juridica contempo- rrinea que se morta critica face ao «positivismo» juridicoherdado de ‘Austin. Porem, agui de novo as teorias que fazem esta assimilacio estreita do direto e da moral parecem, no fim, confundirfrequente- mente uma espécie de conduta obrigatéria com a outra e deixar fespaco insuficiente para as diferencas em espécie entre as regras juridicase as moraise para as divergéncias nas suas exigéncias. Estas Sao, pelo menos, td0 importantes como a semelhanca € a conver- xEéncia que também podemos descobrir. Assim a assergio de que ‘uma lei injusta ado ¢ leis! tem o mesmo timbre de exagero € paradoxo, se nao de falsidade, que as afirmagies «3s leis do parla: rento no s0 leis+ ou so direito eonsttucional nio € direito» E caracteristico das oscilagdes entre os extremos, que constituem a historia da teoria juridica, ue aqueles que nfo viram na assimilago estreita do direito.e da moral mais do que uma inferéncia errada do facto de o direito © a moral partilharem um vocabulario comum de direitos e deveres, ivessem protestado contra ela, em termes igual- mente exagerados¢ paradoxais, «As profecias sobre 0 que os tribunais larao de facto © nada de mais pretencioso, eis © que entendo por direitos? ‘A terceira questio principal que perenemente suscita a pergunta +0 que € 0 direito? ¢ uma questao mais geral. A primeira vista, poderia parecer que a alirmagao de que um sistema juridico consist Non idea ise lex quae ja non Fert — Sarto Agi 1 De Lie Arh SS Temas de Aqui, San Tesi Ome KEW, 24 Holme ec pelo menos em geral, em regras, dificilmente padia ser posta duvida ou tida come dificil de compreender, Quer aqueles « fencontraram a chave da compreensao do direta na nosio de ord ‘baseadas em ameacas, quer os que a encontraram aa sua relagao« 4 moral ou a justia, todos falam de igual forma do direito co contendo regras, se é que ndo consistindo largamente em rex Contudo, subjazem a muitas das perplexidades acerca da natureza direito a insatisfacdo, a confusio e a incerteza respeitantes & c nnogio aparentemente nio problematica. O que sdo regras? O « significa dizer que uma regra existe? Os iribunais aplicam realidade regras ou fingem meramente fazé-lo? Uma vex que no seja questionada, como tem sido especialmente na teoria jurid este século, surgem importantes divergéncias de opinigo, Limi nos-emos a esbosé-las aqut Claro que € verdade que existern regras de muitos tipos d rentes, ndo sé no sentido dbvio de que, a0 lado das regras judi hha regras de etiqueta e de linguagem, regras de jogos eclubes, 1 também no sentido menos dbvio de que, mesmo dentro de qual estas esferas, as realidades que se chamam regras podem surgi ‘modos diferentes © podem ter relagées muito diferentes com conduta a que dizem respeito. Assim, mesmo dentro do dir algumas regras sio estabelecidas através de legislacio; outras sio fetas por nenhum acto intencional. Mais importante do que is algumas regras sio imperativas no sentido de que exigem que pessoas se comportem de certas maneiras, vg. se abstenham violéncias ou paguem impostos, quer o desejem fazer, quet n ‘outras regras, como as que preserevem ot procedimentos, forms dades ¢ condigoes para a celebracio de casamentos, testamentes ‘contratos, indicam o que as pessoas devem fazer para efectivarem seus desejos. O mesmo contrast entre estes dois tips de regras também ver-se entre aquelas regras de um jogo que proibem cer tipos de conduta, sob cominacio de um castigo (jogo contrario regras ou insultos ao arbitro) e aquelas que estabelecem o que d fazer-se para marcar pontot ov para ganar. Mas mesmo se 1 latendermos por ora a esta complexidade e considerarmos apena primeira espécie de regra (que ¢tipica do direto criminal) encant +emos, mesmo entre autores contemporineos, a maior divergéncia Pontos de vista quanto ao significado da assercio de que existe egra deste tipo imperativo simples. Na verdade, alguns achaa ddescrigdo totalmente misteriosa ‘A nocio que, a principio, estamos talver naturalmente tentade dar da ideia aparentemente simples de uma regra imperativa tem 1“ ‘QuESTORS PERSISrENTES breve de ser abandonada. E que dizer que existe uma regra significa somente que um grupo de pessoas, ou a maior parte destas, se ‘comporta scomo fegras, isto é gerabmente. de um modo especifico similar, em certostipos de cireunstancias. Assim, dizer que em Ingla terra hé uma regra a estabelecer que os homens nso devem usar chapéu na igreja ou que uma pessoa se deve levantar quando se toca ‘Deus Salve a Rainhae"" significa apenas, neste aspecto da questo, que a maior parte das pessoas faz geralmente estas coisas, Claramente ue isto ndo € suficiente, mesmo se transmite parte do que se quer dizer. A mera convergencia de comportamentos entre membros de ‘um grupo social pode existir (todos podem tomar cha regularmente 20 pequeno almoco ou ir semanalmente ao cinema) e contudo pode indo existir uma regra a erigilo, A diferenca entre as duas shtuagces sociais, de meros comportamentos convergentes ¢ da existéncia de ‘uma regra social, mostra-sefrequentemente de forma linguistica. Ao deserevermos a ultima podemos, embora no seja necessario, usar certas palavras, que seriam enganadoras se 50 quiséssemas afirmar a rimeira. Estas palavras sto «ter des", «devers™!, «ter 0 dever des!" as quais partilham de certasfungSes comiuns, no obstaate as diferencas, 20 indicarem a presenga de uma regra que exige certa ‘conduta, Nao ha em Inglaterra qualquer regra, nem ¢ verdade, que todas as pessoas tenham de ou tenham o dever de ow devam ir a0 ‘cinema todas as semanas: s6¢ verdade que hi ur habito regular de ir ao cinema todas as semanas, Mas hd uma regra a estabelecer que 05 homens devem descobrir a cabeca na igreja, Entio, qual ¢a dierenca crucial entre o comportamento habitual meramente convergente tum grupo social e a existéncia de uma regra de que as palavras «ter des, «devers ou ster 0 dever des sio ‘multas vezes um sinal? Na verdade, aqui os juristas tedrcos tém-se dividido, especialmente nos nossos dias, quando varias coisas trou ‘xeram esta questo para a primeira linha, No caso de regras juridicas Emuitas vezes sustentado que a diferenga crucial (o elemento de ster des ou «ter o dever des) reside no facto de que os desvios de certo tipos de comportamento serio provavelmente objecto de reacyio hhostl,e, no caso das regras juridicas, sero punidos por funcionarios No caso daquilo a que podem chamar-se merus habitos de grupo, TF Reeve ao hino nacional bitin. No orginal ings al Sa he ween, "No ginal ngs cohol ‘No orginal ngs, sgh P= ‘como o de ir semanalmente ao cinema, os desvios no si0 objecto de eastigo ou mesmo de censura; mas sempre que ha regras que exigem certa conduta, mesmo regras nao juridicas, como a que exige que os homens descubram a cabeca na igreja algo deste tipo € provavel que resulte do desvio. No caso de regras juridicas, a consequéncia previsivel &definida e urganizada de forma oficial, enguanto que no ‘caso no juridico, embora seja provivel uma reacgao hostil seme- Thante perante u desvio, esta ndv organizada, nem definida em substancia E obvio que a previsibilidade do castigo € um aspecta importante das regras juridicas; mas nio € possivel aceitar isto como uma ddescrigdo exaustiva do que se quer dizer com a afirmagio de que uma regra Social existe ou do elemento «ter de> ou =terodever de> abran: ido nas regras. Ha muita objecgoes contra esta deserigdo.em termos de previsibilidade, mas uma em particular, que caracteiza toda uma ‘escola de teoria juridica na Escandinavia, merece consideragao ‘cuidadosa, E que, se examinarmos de perto a actividade do juiz ou do funcionario que pune os desvios das regras juridicas (ou os part cculares que reprovam ou crticam os desvios das regrasndo juridicas), vemos que as Fegras estio envolvidas nesta actividade de uma maneira que a descricio em termos de previsibilidade”” deixa Praticamente por explicar. Porque 0 juiz, ao punir, toma a regra ‘como seu guia ea violagio da regra como a razdoe ustifcagdo para ppunir 0 autor da violagéo. Ele no considera a regra como uma aft magio de que cle € outros previsivelmente punirao 0s desvios, fembora um espectador pudesse considerar 2 regra precisamente desta maneira. © aspecto de previsibilidade da regra (embora suficientemente real) ¢ irelevante para os seus objectives, enquanto ue 0 respective estatuto como guia e justificagio € essencial (© mesmo € verdade quanto 4s censuras informals proferidas por causa da violacao de regras nio juridicas. Também estas no si0 rmeras reacydes previsives aos desvios, mas algo a que a exsténcia da regra serve de guia e € considerado como justficagao. Por 1880, ddizemos que censuramos ou castigamos um homem porgue violou regra endo meramente que era provavel que © censurariamos ou castigariamos. Contudo, entre os criticos que suscitaram estas objeccies escrigao em termos de previnbilidade, alguns confessam que ha aqui algo de obscure; algo que resiste 8 uma anslise em termos No rial ngs, peice act 6 ‘uestoes rensisrenTEs ee eee erence ee es eta Pines ceee daar tmar npr aati obo de prpo! Foe reaienc cus gs preset ets pie peat renerua einererinernt Juritque oh dure fako pre purr? Acide de ier 6 joes marraige sey eigieireropmen ripper anita prea Fegins © uso corespondente de palavras como sdever,edeviae © ee ee ae eeepc petra ne tee outa s es ma noo uma la, inde gue re ana iis ul, Tudo our pare lem os facts crest rer nel do conpartamente de per meso pervnrlo Ber, Siow toto wsonmentsr pole compulio pre ns Comores de harmonts coma repa «pare at conta out eripeain tert ioe aguerneepi ive Zui gusto, as taginren que ig cs alga pate te eee ae pha tiene are een ane dito que o direito tem estado sempre ligado. E s6 porque adoptamos: ee eee ee eae eee pape apnea eepieniird Snsporaento Est ainge crcl part compres do Gree grands pre dos primes cptule dese ve at dee © copia, sere da natura dae ros Jct ten ce ee ee eae ener earner aera ee ae peepee ean eee ee Sedge eee ae ee patel eat cetetrenl pen nena yinee Shur dese ns fonsgucnet ncesra de Tres preecr Se ee cera Pierre iy nara aoe uo TE ee eee ee, hha sempre uma escolha, 0 juiz tem de escolher entre sentides alterna tivos a dar as palavras de uma lel ou entre interpretagoes conflituan tes do que um precedente «significa, E 56a tradigbo de que os juies sdescobrem= o direito ¢ nio 0 =fazem» que esconde isto e apresenta ‘as suas decisbes como se fossem deducoesfeitas com toda a facilidade ide regras claras preexistentes, sem intromissio da eseolha do juz ‘As regras juridicas podem ter um nucleo central de sentido indis: ‘cutive, e em alguns casos pode parecer difieil imaginar que sur ‘uma discusedo acerca do sentido de uma regra. A previsio doart°9: da Lei dos Testamentos" de 1837, que estabelece que deve haver duas testemunhas em cada testamento, pode razoavelmente parecer qu rio dara origem a problemas de interpretacio. Contudo, todas 3 regras tém uma penumbra de incerteza em que o juiz tem de escolhe entre alternativas. Mesmo 0 sentido da previsio aparentement inocente da Lei dos Testamemos de que o testador deve assinar« testamento pode revelar-se duvidosa em certascircunstincias. Ese ¢ testador usou um pseudénimo? Ou se alguém pegou na mao dele pars fazer a assinatura? Ou se ele escreveu apenas as suas iniciais? Ou s cle pos o seu nome completo, correctoe sem auxilio, mas no prineipi ‘da primeira pagina, em vez de no fim da dltima? Poderiam ser todo testes casos considerados como «assinars, no sentido da reer juridiea? ‘Se tanta incerteza pode surgit nas humildes esferas do direto privado, quantas mais hao encontraremes nas frases grandiloqua de uma constituigéo, por exemplo nos Quinto © Décimo-Quarto ‘Aditamentos & Constituiséo dos Estados Unidos, quando se estat ‘que ninguém seré «privado da vida, liberdade ou propriedade sem a Observancia dos tramites legalso"? Acerea disto disse um autor {que 0 verdadeiro sentido desta frase ¢ na realidade bastante claro Signifiea que enenhum w seré x ou y sem z, sendo que w, x,y ©: podem assumir quaisquer valores dentro de um extenso conjuntor Para ser ainda mais incisivo, os céptics recordam-nos que nao so as regras sio incertas, mas a interpretagio delas pelo tribunal pode ser no s6 revestida de autoridade, como também defintiva. Tendo em conta tudo isto, nio sera a concepeio do dreito como essencialmente (© Nerina! inglés, Wil Acre 1 "Tradusios tiebre expres de prices of ln por absence do rime 5D. March, «Sociological Jurspraence Revisited Steno la Rein new 1986 pag 3 1 ‘uesTons rensisTewTEs| luma questdo de regras um enorme exagero, se nio mesmo um erro? TTais pensamentos levam-nos i negagéo paradoxal que ja citémos «As leis so fontes de direto, ndo parte do proprio dreiton' 3. Definicio Aqui estéo, pois, as trés quesdes recorremes: Como difere © direito de ordens baseadas em ameacas e como se relaciona com estas? Como difere a obrigacio juridica da obrigagio moral e como sts relacionads com esta? O que sio regras € em que medida 0 Gireto uma questao de regras? Afasiar duvidas © perplexidades respetantes estas irs questdes tem sido o principal objective da Imalor parte das especulages sobre a snatureza» do drei, E possivel fgora ver por que razio estas especulagoes tém sido geralmente Concebidas como uma procura de uma definigio do direto, ¢ tambem por que razdo pelo menos as formas familiares de definigio tm feito tio pouco para resolver as dficuldades eas divas persis: tentes. AMefinigio, como a palara suger, éprimariamente uma ‘questao de tragado de lias ou de distingso entre uma expécie de Govsa eoutra, as quals a linguagem delimita por palavras dstnts ‘A necessidade de al ragado de linhas €muitas vere sentida por aqucles que esto perfetamente& vontade com o so no dia a da da palavra em questio, mas nao. podem exprimir ou explicar a8 Eistingdes que, segundo sentem, divider uma expécie de coisas de ‘ura, Todos nbs estamos por vezes nesta provasi é fundamental mente o caso do homem que diz: «Sou eapar de reconhecer um Clefante quando vejo um, mas no sou capaz de 0 defini, A mesma provacie foi expresa pelas famosas palavras de Santo Agostisho? {cerca da nocdo de tempo «O que €, pois 0 tempo? Se ninguém me perguntar, eu ese desejarexpics-toaquele que me pergunta no Seis. E deste modo que mesmo habeis jurstas tém sentido que, fembora conhecam 0 dirit, ha muito acerca do diretoe das suas Telages com outras coisas que nio so capazes de explicare que no Compreendem plenamente Tal como um homem que capaz de ir de tum ponto a outro numa cidade familia, mas no capaz de explicar fou mostrar a outros como faxi-o, aqueles que insistem por oma Gefinigao. precisa de um mapa que demonsire claramente 0s > Confetanes XIV, 17 o-coxcero ve oinstro 8 relacoes tenuemente sentidas entre o direito que conhecem ¢ as Por vezes, nesses casos a definigo de uma palavra pode fornecer lum tal mapa: a um s6 e a0 mesmo tempo, pode tornar expicito © principio latente que yuia 0 nosso uso de uma palavra pode ‘manifestar relacdes entre 0 Upo de fendmenos a que nos aplicamos & Palavra e outros fenomenos. Diz-se por vezes que a definigao «mers ‘mente verbal» ou «30 relativa a palavrase; ma isto pode ser muito fenganador, quando a expressio definida € de uso corrente. Mesmo definicdo de um triingulo como «uma figura recilinea de trésladose, ou a definigdo de elefante como um «quadnipede dstinto dos outros pela posse de uma pele grossa, presas e tromba» elucida-nos de uma forma modesta, quer quanto 20 uso-padrio destas palavras, quer quanto as coisas a que as palavras se aplicam, Uma definigio deste tipo familiar faz duas coisss de imediato, Simultaneamente for fhece um cOdigo ou formula de tradugio da palavra para outros termes bei conhecides e localiza-nos a expécie de coisa pare cuja Teferéncia a palavra é utilizada, através da indicacao dos aspecton ue parila em comum com una lamiia mai ata de cost dow ue a distinguem de outras da mesma familia. Ao procurar ¢ 20 escobrir tais definigdes, endo estamos simplesmente a olhar para palavras... mas também para as redlidades relativamente as quais, ‘usamos palavras para delas falar, Usamos um conhecimento aguado das palavras para agurar a nossa percepeo dos fendmense! Esta forma de definigao (per genus et diferentiamd, que se vé no ‘caso comezinho do triingulo ou do elefante, ¢a mais simples e. para alguns. a mais satisfatria, porque nos di uma série de palavras que Pode ser sempre substituida pela palavra definids, Mas nem sempre festa disponivel, nem & sempre clarificadora, quando. disponivel, O seu sucesso depende de condigées que frequentemente nio estao Preenchidas. A principal entre estas ultimas € que devia haver uma familia mais extensa de coisas ou genus, relativamente @ cuja natureza estamos esclarecidos e dentro da qual a definiio localiza 0 ue define; porque, claramente, uma definigao que nos die que algo € ‘membro de uma familia nio nos pode ajudar, se tivermos apenas ideias vagas ou confusas quanto & natureza da familia, E esta exigncia que, no caso do dreito, toma nuit esta forma de definigio, Porque aqui nio ha uma categoria geral bem conhecida e familiar, de ‘Que o'direto seja membro, O mais dbvio candidato para uso deste vor sy dg tin. 2 Bes or Es, Psns fe Ann Sect 2» ‘questors rensisrevres modo numa definiglo de direito ¢ a familia geral de regras de ‘comporiamento; contudo 0 conceito de regra, como vimos, & tio causador de perplexidade como odo préprio direto, de tal forma que GefinigBes de direito que comecam por identificar as leis como uma espécie de regras, normalmente no aumentam mais @ nossa tom- preensao do direito. Para isto, exige-se algo de mais fundamental do que uma forma de definicio que seje utlizada com sucesso para Tocalizar um tipo especial e subordinado dentro de um tipo genérico de coisa, familiar e bem conhecido. His, contudo, formidaveis obstaculosulteriores a0 uso vantajoso desta simples forma de definigao no caso do direio. A suposicio de {gue uma exprestio geral posta ser definida deste modo baseia-se na ‘astungio ticita de que todos os casos daquilo que vai ser definido ‘como tringulo ou elefante tenham caracteristicas comuns que sejam referidas pela expressio definids. Claro que, mesmo num estadio relativamente elementar, a existéncia de casos de fronteira impoe-se nossa atencio, etal mostra que pode ser dogmatica a assungéo de {ue varios casos de urn terme geral devem ter as mesmas caracteris- tHeas. Muito frequentemente o uso comam, ou mesmo téenico, de ura termo é bastante saberto», na medida em que nio probe a extensio do termo a casos em que apenas algumas das caracteristicas rnormalmente concomitantes estao presentes. Isto, como jé notamos, € verdadeiro quanto ao dreito internacional e quanto a certas formas de direito primitivo, de mado que é sempre possivel argumentar de forma plausivel a favor © contra tal extensio. O que € mais importante € que. excluidos tas casos de fronteira, os virios casos de lum termo geral estio frequentemente ligadas entre si de maneira bastante diferente da postulada pela forma simples de definicio. Podem estar ligados por analogia como quando se fala do «pe» de um homem e também do ssopé= de uma montanha, Podem estar ligadas por relacdes diferentes a um clemento central. Vése esse principio unficador na aplicasao da palavra «saudavele nao s6.a um hhomem, mas também sua tez © a0 Seu exercicio matinal; no segundo caso, tratase de um sinal e no terceiro de uma cause da primeira caracterstica central. Ou de novo — e aqui talvez tenhamos |um principio similar a0 que unica os diferentes tipos de regras que formam um sistema juridico—os diferentes casos podem ser clementos constituintes diferentes de certa actividade complexa. O ‘uso da expressio «caminhor-de-ferro» no s6 quanto a um comboio, fo ees arena Cae oy shade unnine ede per ities pencpo ccs Tascaas mules corpse eis one eae eal a Sel es otc exo ac occ SS er peel map rectiorerd Seotatianctsiesnceem Oeste ues Seulclenmeste coco nacelde te toaeeas cece ints he pada dar rope nttase noses Sodematet dtrentumassacurercdennnie eden para nem apans dr pode lete-A Nad antes Fars dur defo cape moron ian, Conese tae pt potion cose ena ener ejeatees tot ice pasa pda dee nee a partie cea meats esteeeis sae Ine eerie (eraser coven eniral riaceee oe eran oe ae coe 6 epoca slr evi cmsa laren coe Tic cporquereie msm ingots gu oe ae taewvads mc fr, ul cnlncanoed sali: of eden Primcamcns wm dea dence dnt oe ne {timed a cnc franglo, doe gue Aaa capt toe tn ome Prete te ture she oc socpenea ie dite w enconta i nolo simples eau een home oe nea Qu 9 ont ana apnia eS ne tacio tas 'detchncin daa Torts ccSSAFaEED prninos Etatoe Ace a poses cc donarpen eatin te Gols sells damn pip i nls ener as Imesh edn: hrs poraira sedan iets nl Soe pan beam eh phar i ntact partner eal epg get shut tt tli, er Aaa Saco Bela Sy tomou como alvo principal de ataque, A nossa desculpa, se se Presa de puna para traranta nde Heide cs fc o eros de te perie simples ss oe orb Perna vrdode do quece dtssau met congo ‘Em visor pnd Io evemurd over douse de cios denim yore utes doves tea ta apleaio du cps vnc su cons pouien tars Tesh ride partis gue eben coo on ‘Soni apenvunepoccapetdosecadien ceive orterotes tev th mee uma denisto dots nosewi sews regu or rida tal pole anasto tas Dalavn ¢ ate fee neat «tote iden ean ot

Você também pode gostar