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PLv|STA [UPlD|CA DA FACULDADL DL D|PL|TO ÷ v.

2 ÷ N
o
. 1 ÷ ANO ||
|SSN 1980÷7430
20
Artlgo 03
A Constituição BrasiIeira de 1988 e os Tratados
lnternacionais de Proteção dos Direitos Hunanos
AvtIgo 0J
1. Tratados lnternacionais de Proteção dos Direitos Hunanos: gênese e principioIogia. 2. O Estado BrasiIeiro en Face do
5istena lnternacionaI de Proteção dos Direitos Hunanos. 3. A lncorporação dos Tratados lnternacionais de Proteção de
Direitos Hunanos peIo Direito BrasiIeiro. 4. O lnpacto dos Tratados lnternacionais de Proteção dos Direitos Hunanos
.
!IavIa !Iovcsan
1
1
Piolessoia douloia da disciµlina de Diieilo Conslilucional e Diieilos Humanos da Ponlilicia \niveisidade Calolica de Sao Paulo, µiolessoia de Diieilos Humanos dos
Piogiamas de Pos-Giaduaçao da Ponlilicia \niveisidade Calolica de Sao Paulo, da Ponlilicia \niveisidade Calolica do Paiana e da \niveisidade PaLlo de Olavide de
Sevilla (Lsµanla); visiiing fellow do Human Riglls Piogiam da Harvard 1aw School (1995 e 2000), visiiing fellow do Cenlie loi Biazilian Sludies, da \niveisily ol Oxloid
(2005), visiiing fellow do Max Plancl !nslilule loi Comµaialive PuLlic Iaw and !nleinalional Iaw (HeidelLeig 2007), µiocuiadoia do eslado de Sao Paulo, memLio do
Consello Þacional de Delesa dos Diieilos da Pessoa Humana e da S\R Human Riglls \niveisily Þelwoil. Lsle ailigo loi µioduzido com Lase no livio de minla
auloiia, inlilulado Temas de Direitos Humanos, caµilulo 1, 3. ed., Sao Paulo: Saiaiva, 2008.
2
Como exµlica Iouis Henlin: ¨SuLsequenlemenle a Segunda Gueiia Mundial, os acoidos inleinacionais de diieilos lumanos lem ciiado oLiigações e iesµonsaLilidades
µaia os Lslados, com iesµeilo as µessoas sujeilas a sua juiisdiçao, e um diieilo coslumeiio inleinacional lem se desenvolvido. O emeigenle Diieilo !nleinacional dos
lodo individuo deve lei diieilos, os quais lodos os Lslados devem iesµeilai e µiolegei. Iogo, a oLseivância dos diieilos lumanos e nao aµenas um assunlo de inleiesse
µailiculai do Lslado (e ielacionado a juiisdiçao domeslica), mas e maleiia de inleiesse inleinacional e oLjelo µioµiio de iegulaçao do Diieilo !nleinacional¨. (HLÞK!Þ,
Iouis el al. International law: cases and materials. 3. ed. Minnesola: Wesl PuLlisling, 1993. µ. 375-376).
3
Þa liçao de Tlomas Bueigenllal: ¨Lsle codigo, como ja oLseivei em oulios esciilos, lem lumanizado o diieilo inleinacional conlemµoiâneo e inleinacionalizado os
diieilos lumanos, ao ieconlecei que os seies lumanos lem diieilos µiolegidos µelo diieilo inleinacional e que a denegaçao desses diieilos engaja a iesµonsaLilidade
inleinacional dos Lslados indeµendenlemenle da nacionalidade das vilimas de lais violações¨. (B\LRGLÞTHAI, Tlomas. Piologo. !n: Cançado Tiindade, Anlonio
Auguslo. A proteção internacional dos direitos humanos: fundamentos juridicos e instrumentos básicos. Sao Paulo: Saiaiva, 1991. µ. XXX!).
A µioµosla desle ailigo e enlocai os lialados
inleinacionais de µioleçao aos diieilos lumanos a luz da
Consliluiçao Biasileiia de 1988, com deslaque as inovações
inlioduzidas µela Lmenda Conslilucional n. 45/2004.
cidades desses lialados, Lem como de sua lonle o Direiio Inier-
nacional dos Direiios Hunanos. Þum segundo momenlo, seia
dado deslaque a µosiçao do Biasil em lace dos insliumenlos in-
leinacionais de µioleçao dos diieilos lumanos. Lm seguida, seia
leila uma avaliaçao do modo µelo qual a Consliluiçao Biasileiia de
o imµaclo juiidico que esses lialados aµiesenlam. Þesle momen-
lo, seiao analisados casos concielos da aµlicaçao desses lialados.
1. Tratados Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos:
gênese e principiologia
Os lialados inleinacionais de diieilos lumanos
lem como lonle um camµo do Diieilo exliemamenle iecenle,
denominado ¨Diieilo !nleinacional dos Diieilos Humanos¨,
conlecido como Diieilo do µos-gueiia, o qual suigiu como
iesµosla as aliocidades e aos loiioies comelidos µelo nazismo
2
.
Lm lace do iegime de leiioi, no qual imµeiava a logica
da desliuiçao e segundo o qual as µessoas eiam consideiadas
Mundial, emeige a necessidade de ieconsliuçao do valoi dos
diieilos lumanos, como µaiadigma e ieleiencial elico µaia
oiienlai a oidem inleinacional.
Assim, em meados do seculo XX suige o ¨Diieilo
!nleinacional dos Diieilos Humanos¨ suige em decoiiencia
da Segunda Gueiia Mundial e seu desenvolvimenlo µode sei
aliiLuido as monsliuosas violações de diieilos lumanos da
eia Hillei e a ciença de que µaile dessas violações µodeiiam
sei µievenidas se exislisse um elelivo sislema de µioleçao
inleinacional de diieilos lumanos
3
.

Ao lialai do Diieilo !nleinacional dos Diieilos
O movimenlo do diieilo inleinacional dos diieilos
lumanos e Laseado na conceµçao de que loda naçao
lem a oLiigaçao de iesµeilai os diieilos lumanos de
seus cidadaos e de que lodas as nações e a comunidade
inleinacional lem o diieilo e a iesµonsaLilidade de
µioleslai, se um Lslado nao cumµiii suas oLiigações.
21
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
O Diieilo !nleinacional dos Diieilos Humanos
consisle num sislema de noimas inleinacionais,
µiocedimenlos e insliluições desenvolvidas µaia
imµlemenlai essa conceµçao e µiomovei o iesµeilo
dos diieilos lumanos em lodos os µaises, no
âmLilo mundial. (...) LmLoia a ideia de que os seies
lumanos lem diieilos e liLeidades lundamenlais que
lle sao ineienles lenla la muilo lemµo suigido no
µensamenlo lumano, a conceµçao de que os diieilos
lumanos sao oLjelo µioµiio de uma iegulaçao
inleinacional, µoi sua vez, e Laslanle iecenle. (...)
Muilos dos diieilos que loje conslam do ¨Diieilo
!nleinacional dos Diieilos Humanos¨ suigiiam
aµenas em 1945, quando, com as imµlicações do
lolocauslo e de oulias violações de diieilos lumanos
comelidas µelo nazismo, as nações do mundo
decidiiam que a µiomoçao de diieilos lumanos e
liLeidades lundamenlais deve sei um dos µiinciµais
µioµosilos das Oiganizações das Þações \nidas
4
.
Þesse cenaiio, loilalece-se a ideia de que a µioleçao
dos diieilos lumanos nao deve se ieduzii ao dominio ieseivado
do Lslado, islo e, nao deve se iesliingii a comµelencia
nacional exclusiva ou a juiisdiçao domeslica exclusiva, µoique
ievela lema de legilimo inleiesse inleinacional. Poi sua vez,
essa conceµçao inovadoia aµonla µaia duas imµoilanles
conseqüencias:
1) a ievisao da noçao liadicional de soLeiania
aLsolula do Lslado, que µassa a soliei um µiocesso
de ielalivizaçao, na medida em que sao admilidas
inleivenções no µlano nacional, em µiol da
µioleçao dos diieilos lumanos; islo e, µeimilem-
se loimas de moniloiamenlo e iesµonsaLilizaçao
inleinacional, quando os diieilos lumanos loiem
violados
5
;
2) a ciislalizaçao da ideia de que o individuo deve
lei diieilos µiolegidos na esleia inleinacional, na
condiçao de sujeilo de Diieilo.
loima µela qual o Lslado lialava seus nacionais eia conceLida
como um µioLlema de juiisdiçao domeslica, decoiiencia em
sua soLeiania.
!nsµiiada µoi essas conceµções, suige, a µailii do
µos-gueiia, em 1945, a Oiganizaçao das Þações \nidas. Lm
1948 e adolada a Declaiaçao \niveisal dos Diieilos Humanos,
µela aµiovaçao unânime de 48 Lslados, com 8 aLslenções
6
.
A inexislencia de qualquei queslionamenlo ou ieseiva leila
µelos Lslados aos µiinciµios da Declaiaçao e a inexislencia
de qualquei volo conliaiio as suas disµosições, conleiem a
elica univeisal
7
, ao consagiai um consenso soLie valoies de
cunlo univeisal, a seiem seguidos µelos Lslados.
A declaiaçao de 1948 inlioduz a conceµçao conlem-
µoiânea de diieilos lumanos, maicada µela univeisalidade e
indivisiLilidade desses diieilos. \niveisalidade µoique a con-
diçao de µessoa e o iequisilo unico e exclusivo µaia a lilula-
iidade de diieilos, sendo a dignidade lumana o lundamenlo
dos diieilos lumanos. !ndivisiLilidade µoique, inedilamenle,
o calalogo dos diieilos civis e µolilicos e conjugado ao calalo-
go dos diieilos economicos, sociais e culluiais. Ao consagiai
diieilos civis e µolilicos e diieilos economicos, sociais e cullu-
4
B!IDLR, Riclaid B. An oveiview ol inleinalional luman iiglls law. !n: HAÞÞ\M, Huisl (Ldiloi). Guide to international human rights practice. 2. ed. Pliladelµlia:
\niveisily ol Pennsylvania Piess. 1992. µ. 3-5.
5
queslao cenlial, e inegavel que a anliga douliina da soLeiania exclusiva e aLsolula nao mais se aµlica e que esla soLeiania jamais loi aLsolula, como eia enlao conceLida
leoiicamenle. \ma das maioies exigencias inlelecluais de nosso lemµo e a de ieµensai a queslao da soLeiania (...). Lnlalizai os diieilos dos individuos e os diieilos dos
µovos e uma dimensao da soLeiania univeisal, que ieside em loda a lumanidade e que µeimile aos µovos um envolvimenlo legilimo em queslões que alelam o mundo
como um lodo. L um movimenlo que, cada vez mais, enconlia exµiessao na giadual exµansao do Diieilo !nleinacional¨. (BO\TROS-GHAI!, Boulios. Foreign Affairs.
Lmµoweiing lle \niled Þalions. v. 89, µ. 98-99, 1992/1993, apud HLÞK!Þ, Iouis, ei al, International law: cases and materials. op. cii. µ. 18.) Tiansila-se, assim, de uma
conceµçao ¨loLLesiana¨ de soLeiania, cenliada no Lslado, µaia uma conceµçao ¨lanliana¨ de soLeiania, cenliada na cidadania univeisal. Paia Celso Ialei, de uma
visao e\ parie principe, lundada nos deveies dos sudilos com ielaçao ao Lslado, µassa-se a uma visao e\ parie populi, lundada na µiomoçao da noçao de diieilos do
cidadao. (IA!LR, Celso. Comercio, Desarmamento, Direitos Humanos
6
A Declaiaçao \niveisal loi aµiovada µela Resoluçao 217 A (!!!), da AssemLleia Geial, em 10 de dezemLio de 1948, µoi 48 volos a zeio e oilo aLslenções. Os oilo Lslados
que se aLsliveiam loiam: Bieloiussia, Clecoslovaquia, Polonia, AiaLia Saudila, \ciânia, \niao Sovielica, Aliica do Sul e !ugoslavia. OLseiva-se que em Helsinli, em
1975, no Alo !inal da Conleiencia soLie Seguiidade e Cooµeiaçao na Luioµa, os Lslados comunislas da Luioµa exµiessamenle adeiiiam a Declaiaçao \niveisal. SoLie
o caialei univeisal da declaiaçao, oLseiva Rene Cassin: ¨Seane perniiido, anies de concluir, resunir a grandes rasgos los caracieres de la declaracion surgida de nuesiros
debaies de 1947 a 1948. Esia declaracion se caracieri:a, por una parie, por su anpliiud. Conprende el conjunio de derechos y faculiades sin los cuales un ser hunano no puede
desarrolar su personalidad fisica, noral y inieleciual. Su segunda caracierisiica es la universalidad. es aplicable a iodos los honbres de iodos los paises, ra:as, religiones y
¨iniernacional¨, la ¹sanblea General, gracias a ni proposicion, proclano la declaracion ¨Universal¨. ¹l hacerlo conscienienenie, subrayo que el individuo es nienbro direcio
de la sociedad hunana y que es sujeio direcio del derecho de genies. Naiuralnenie, es ciudadano de su pais, pero ianbien lo es del nundo, por el hecho nisno de la proieccion
que el nundo debe brindarle. Tales son los caracieres esenciales de la declaracion.(...) 1a Declaracion, por el hecho de haber sido, cono fue el caso, adopiada por unaninidad
(pues solo hubo 8 absienciones, frenie a 48 voios favorables), iuvo innediaianenie una gran repercusion en la noral de las naciones. 1os pueblos enpe:aron a darse cuenia de
que el conjunio de la conunidad hunana se inieresaba por su desiino¨. (CASS!Þ, Rene. Ll µioLlema de la iealizacion de los deieclos lumanos en la sociedad univeisal. !n:
Viente aõos de evolucion de los derechos humanos. Mexico: !nslilulo de !nvesligaciones 1uiidicas, 1974. µ. 397.)
7
lugai de simLolo e de ideal¨. (Þaluieza juiidica da Declaiaçao \niveisal de Diieilos Humanos. Revista dos Tribunais, Sao Paulo, n. 446, µ. 35, dez. 1972.)
22
Artlgo 03
iais, a declaiaçao inedilamenle comLina o discuiso liLeial e o
discuiso social da cidadania, conjugando o valoi da liLeida-
de ao valoi da igualdade
8
. Segundo Iouis B. Soln e Tlomas
Bueigenllal:
A Declaiaçao \niveisal de Diieilos Humanos se
dislingue das liadicionais Cailas de diieilos lumanos
que conslam de diveisas noimas lundamenlais e
conslilucionais dos seculos XV!!! e X!X e começo
do seculo XX, na medida em que ela consagia nao
aµenas diieilos civis e µolilicos, mas lamLem diieilos
economicos, sociais e culluiais, como o diieilo ao
liaLallo e a educaçao
9
.
Ao conjugai o valoi da liLeidade com o valoi da
igualdade, a declaiaçao demaica a conceµçao conlemµoiânea
de diieilos lumanos, µela qual os diieilos lumanos µassam
a sei conceLidos como uma unidade inleideµendenle, inlei-
ielacionada e indivisivel. Assim, µailindo-se do ciileiio
10
,
adola-se o enlendimenlo de que uma geiaçao de diieilos nao
suLslilui a oulia, mas com ela inleiage. !slo e, alasla-se a ideia
da sucessao ¨geiacional¨ de diieilos, na medida em que se acolle
a ideia da exµansao, cumulaçao e loilalecimenlo dos diieilos
lumanos consagiados, lodos essencialmenle comµlemenlaies
e em conslanle dinâmica de inleiaçao. Iogo, aµiesenlando os
diieilos lumanos uma unidade indivisivel, ievela-se esvaziado
o diieilo a liLeidade, quando nao asseguiado o diieilo
a igualdade e, µoi sua vez, esvaziado ievela-se o diieilo a
igualdade, quando nao asseguiada a liLeidade
11
.
Vale dizei, sem a elelividade dos diieilos economicos,
sociais e culluiais, os diieilos civis e µolilicos se ieduzem a
meias calegoiias loimais, enquanlo sem a iealizaçao dos
diieilos civis e µolilicos, ou seja, sem a elelividade da liLeidade
enlendida em seu mais amµlo senlido, os diieilos economicos e
cogilai da liLeidade divoiciada da jusliça social, como lamLem
inliulileio µensai na jusliça social divoiciada da liLeidade. Lm
suma, lodos os diieilos lumanos consliluem um comµlexo
inlegial, unico e indivisivel, em que os dileienles diieilos eslao
necessaiiamenle inlei-ielacionados e inleideµendenles enlie si.
Como eslaLeleceu a Resoluçao n
o
32/130 da AssemLleia
Geial das Þações \nidas:
8
Paia esle µioµosilo, e melloi nos deixaimos oiienlai, ao menos em deleiminado senlido, µoi um dos µais da Declaiaçao, o liances Rene Cassin, que descieveu seu escoµo
do modo a seguii. Piimeiiamenle, liala a Declaiaçao dos diieilos µessoais (os diieilos a igualdade, a vida, a liLeidade e a seguiança, elc. ails. 3
o
a 11). Posleiioimenle,
sao µievislos diieilos que dizem iesµeilo ao individuo em sua ielaçao com giuµos sociais no qual ele µailiciµa (o diieilo a µiivacidade da vida lamiliai e o diieilo ao
casamenlo; o diieilo a liLeidade de movimenlo no âmLilo nacional ou loia dele; o diieilo a nacionalidade; o diieilo ao asilo, na liµolese de µeiseguiçao; diieilos de
µioµiiedade e de µialicai a ieligiao ails. 12 a 17). O leiceiio giuµo de diieilos se ieleie as liLeidades civis e aos diieilos µolilicos exeicidos no senlido de conliiLuii µaia
a loimaçao de oigaos goveinamenlais e µailiciµai do µiocesso de decisao (liLeidade de consciencia, µensamenlo e exµiessao; liLeidade de associaçao e assemLleia; diieilo
de volai e sei eleilo; diieilo ao acesso ao goveino e a adminisliaçao µuLlica ails. 18 a 21). A quaila calegoiia de diieilos se ieleie aos diieilos exeicidos nos camµos
economicos e sociais (ex: aqueles diieilos que se oµeiam nas esleias do liaLallo e das ielações de µioduçao, o diieilo a educaçao, o diieilo ao liaLallo e a assislencia
social e a livie escolla de emµiego, a juslas condições de liaLallo, ao igual µagamenlo µaia igual liaLallo, o diieilo de lundai sindicalos e deles µailiciµai; o diieilo ao
descanso e ao lazei; o diieilo a saude, a educaçao e o diieilo de µailiciµai liviemenle na vida culluial da comunidade ails. 22 a 27)¨. (CASSLSSL, Anlonio. Human
rights in a changing world
leila µoi 1acl Donnelly, quando suslenla que a declaiaçao de 1948 enuncia as seguinles calegoiias de diieilos: 1) diieilos µessoais, incluindo os diieilos a vida, a
nacionalidade, ao ieconlecimenlo µeianle a lei, a µioleçao conlia lialamenlos ou µunições ciueis, degiadanles ou desumanas e a µioleçao conlia a disciiminaçao iacial,
elnica, sexual ou ieligiosa (ails. 2
o
a 7
o
e 15); 2) diieilos judiciais, incluindo o acesso a iemedios µoi violaçao dos diieilos Lasicos, a µiesunçao de inocencia, a gaianlia de
µiocesso µuLlico juslo e imµaicial, a iiielioalividade das leis µenais, a µioleçao conlia a µiisao, delençao ou exilio aiLiliaiios, e conlia a inleileiencia na lamilia, no lai e
na ieµulaçao (ails. 8
o
a 12); 3) liLeidades civis, esµecialmenle as liLeidades de µensamenlo, consciencia e ieligiao, de oµiniao e exµiessao, de movimenlo e iesislencia, e de
Lem-eslai µioµiio e da lamilia (ail. 25); 5) diieilos economicos, incluindo µiinciµalmenle os diieilos ao liaLallo, ao ieµouso e ao lazei, e a seguiança social (ails. 22 a 26);
6) diieilos sociais e culluiais, esµecialmenle os diieilos a insliuçao e a µailiciµaçao na vida culluial da comunidade (ails. 26 e 28); 7) diieilos µolilicos, µiinciµalmenle os
diieilos a lomai µaile no goveino e a eleições legilimas com suliagio univeisal e igual (ail. 21), aciescido dos asµeclos µolilicos de muilas liLeidades civis¨. (DOÞÞLIIY,
1acl. !nleinalional luman iiglls: a iegime analysis. !n: International organization. Massaclussells !nslilule ol Teclnology, Summei 1986. µ. 599-642, apud I!ÞDGRLÞ
AIVLS, 1ose Auguslo. O sistema internacional de proteção dos direitos humanos e o Brasil. Aiquivos do Minisleiio da 1usliça, Biasilia, v. 46, n. 182, µ. 89, jul./dez.1993).
Þa liçao de Celso D. de AlLuqueique Mello, a Declaiaçao \niveisal ¨lem sido dividida µelos auloies em qualio µailes: a) noimas geiais (ails. 1
o
e 2
o
, 28, 29 e 30); L)
diieilos e liLeidades lundamenlais (ails. 3
o
a 20); c) diieilos µolilicos (ail. 21); d) diieilos economicos e sociais (ails. 22 e 27)¨. (Curso de direito internacional publico.
6. ed. Rio de 1aneiio: !ieilas Baslos, 1979. µ. 531.)
9
International protection of human rights. !ndianaµolis: Tle BoLLs-Meiiill Comµany, 1973. µ. 516.
10
A µailii desse ciileiio, os diieilos de µiimeiia geiaçao coiiesµondem aos diieilos civis e µolilicos, que liaduzem o valoi da liLeidade; os diieilos de segunda geiaçao
coiiesµondem aos diieilos sociais, economicos e culluiais, que liaduzem, µoi sua vez, o valoi da igualdade; ja os diieilos de leiceiia geiaçao coiiesµondem ao diieilo
ao desenvolvimenlo, diieilo a µaz, a livie deleiminaçao, que liaduzem o valoi da solidaiiedade. SoLie a maleiia, vei LSP!LII, Hecloi Gioss. Estudios sobre derechos
humanos, Madiid: Civilas, 1988, µ. 328-332. Do mesmo auloi a oLia: Los derechos economicos sociales y culturales en el sistema interamericano. San 1ose, IiLio liLie,
1986. Ainda soLie a ideia de geiações de diieilos lumanos, exµlica Buins H. Weslon: ¨A esle iesµeilo, µailiculaimenle ulil e a noçao de ¨lies geiações de diieilos
lumanos¨ elaLoiada µelo juiisla liances Kaiel Vasal. SoL a insµiiaçao dos lies lemas da Revoluçao liancesa, eslas lies geiações de diieilos sao as seguinles: a µiimeiia
geiaçao se ieleie aos diieilos civis e µolilicos (liberie); a segunda geiaçao aos diieilos economicos, sociais e culluiais (egaliie); e a leiceiia geiaçao se ieleie aos novos
diieilos de solidaiiedade (fraierniie)¨. (WLSTOÞ, Buins H. Human iiglls, !n: CIA\DL, Riclaid Pieiie, WLSTOÞ, Buins H (Ldiloies). Human rights in the world
community, µ. 16-17). SoLie a maleiia consullai ainda I\ÞO, A. L. P. (Los derechos fundamentales. Madiid: Tecnos, 1988); T. H. Maislall (Cidadania, classe social e
status. Rio de 1aneiio: Zalai, 1967.)
11
dos goveinos nos diieilos civis e µolilicos, mas envolvem oLiigações goveinamenlais de cunlo µosilivo em µiol da µiomoçao do Lem-eslai economico e social,
µiessuµondo um Goveino que seja alivo, inleivenloi, µlanejadoi e comµiomelido com os µiogiamas economico-sociais da sociedade que, µoi sua vez, os liansloima
em diieilos economicos e sociais µaia os individuos¨. (The age of rights. Þew Yoil: ColumLia \niveisily Piess, 1990. µ. 6-7). Þo enlanlo, dilicil e a conjugaçao desses
valoies, e em µailiculai dilicil e a conjugaçao dos valoies da igualdade e liLeidade. Como µondeia ÞoiLeilo BoLLio: ¨As sociedades sao mais livies na medida em que
sao menos juslas e mais juslas na medida em que sao menos livies¨. (A era dos direitos. Tiad. Cailos Þelson Coulinlo. Rio de 1aneiio: Camµus, 1992. µ. 43.)
23
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
lodos os diieilos lumanos, qualquei que seja o liµo a
que µeilencem, se inlei-ielacionam necessaiiamenle
enlie si, e sao indivisiveis e inleideµendenles
12
. Lssa
conceµçao loi ieileiada na Declaiaçao de Viena de
o
, que os diieilos lumanos
sao univeisais, indivisiveis, inleideµendenles e inlei-
ielacionados.
univeisais, ineienles a condiçao de µessoa e nao ielalivos as
µeculiaiidades sociais e culluiais de deleiminada sociedade,
seja µoi incluii em seu elenco nao so diieilos civis e µolilicos,
mas lamLem diieilos sociais, economicos e culluiais, a
declaiaçao de 1948 demaica a conceµçao conlemµoiânea dos
diieilos lumanos.
\ma das µiinciµais qualidades da declaiaçao e cons-
liluii-se em µaiâmelio e codigo de aluaçao µaia os eslados
inlegianles da comunidade inleinacional. Ao consagiai o ie-
conlecimenlo univeisal dos diieilos lumanos µelos eslados, a
declaiaçao consolida um µaiâmelio inleinacional µaia a µio-
leçao desses diieilos. Þesse senlido, ela e um dos µaiâmelios
lundamenlais µelos quais a comunidade inleinacional ¨desle-
gilima¨ os eslados. \m eslado que sislemalicamenle viola a
declaiaçao nao e meiecedoi de aµiovaçao µoi µaile da comu-
nidade mundial
13
.
A µailii da aµiovaçao da Declaiaçao \niveisal
de 1948 e da conceµçao conlemµoiânea de diieilos lumanos
µoi ela inlioduzida, começa a se desenvolvei o Diieilo
!nleinacional dos Diieilos Humanos, medianle a adoçao
de inumeios lialados inleinacionais vollados a µioleçao
de diieilos lundamenlais. Os insliumenlos inleinacionais
conlemµoiânea comµailillada µelos eslados, na medida
em que invocam o consenso inleinacional aceica de lemas
cenliais aos diieilos lumanos. Þesse senlido, caLe deslacai que,
ale junlo de 2006, o Paclo !nleinacional dos Diieilos Civis e
Polilicos conlava com 156 Lslados-µailes; o Paclo !nleinacional
dos Diieilos Lconomicos, Sociais e Culluiais conlava com
153 Lslados-µailes; a Convençao conlia a Toiluia conlava
com 141 Lslados-µailes; a Convençao soLie a Lliminaçao
da Disciiminaçao Racial conlava com 170 Lslados-µailes;
a Convençao soLie a Lliminaçao da Disciiminaçao conlia a
Mullei conlava com 183 Lslados-µailes e a Convençao soLie
os Diieilos da Ciiança aµiesenlava a mais amµla adesao, com
192 Lslados-µailes
14
.
!oima-se o sislema noimalivo gloLal de µioleçao dos
diieilos lumanos, no âmLilo das Þações \nidas. Lsse sislema
noimalivo, µoi sua vez, e inlegiado µoi insliumenlos de
alcance geial (como os Paclos !nleinacionais de Diieilos Civis e
Polilicos e de Diieilos Lconomicos, Sociais e Culluiais de 1966)
inleinacionais, que Luscam iesµondei a deleiminadas violações
dos diieilos lumanos, como a loiluia, a disciiminaçao iacial,
a disciiminaçao conlia as mulleies, a violaçao dos diieilos das
ciianças, denlie oulias loimas de violaçao.
!iima-se assim, no âmLilo do sislema gloLal, a
coexislencia dos sislemas geial e esµecial de µioleçao dos
diieilos lumanos, como sislemas de µioleçao comµlemenlaies.
do sujeilo de diieilo, no qual o sujeilo µassa a sei vislo segundo
giuµos elnicos minoiilaiios, os giuµos vulneiaveis, as mulleies,
elc.). 1a o sislema geial de µioleçao (ex: os Paclos da OÞ\ de
1966) lem µoi endeieçado loda e qualquei µessoa, conceLida
segundo sua aLsliaçao e geneialidade.
Ao lado do sislema noimalivo gloLal, suige o sislema
noimalivo iegional de µioleçao, que Lusca inleinacionalizai
os diieilos lumanos no µlano iegional, µailiculaimenle na
Luioµa, Ameiica e Aliica. Consolida-se, assim, a convivencia
do sislema gloLal inlegiado µelos insliumenlos das Þações
\nidas, como a Declaiaçao \niveisal de Diieilos Humanos,
o Paclo !nleinacional dos Diieilos Civis e Polilicos, o Paclo
!nleinacional dos Diieilos Lconomicos, Sociais e Culluiais e as
demais Convenções inleinacionais com insliumenlos do sislema
iegional, µoi sua vez inlegiado µelos sislemas inleiameiicano,
euioµeu e aliicano de µioleçao aos diieilos lumanos.
Os sislemas gloLal e iegional nao sao dicolomicos,
mas comµlemenlaies. !nsµiiados µelos valoies e µiinciµios
da Declaiaçao \niveisal, esses sislemas comµõem o
univeiso insliumenlal de µioleçao dos diieilos lumanos no
12
a loimaçao desle novo eihos
lumanos e a µaz consignado na Ala !inal de Helsinque de 1975¨. (A µioleçao inleinacional dos diieilos lumanos no limiai do novo seculo e as µeisµeclivas Liasileiias.
!n: Temas de Politica Externa Brasileira, !!, v. 1, 1994. µ. 169).
13
Cl. Cassesse, Anlonio, Human rights in a changing world, op. cii.
algumas inslâncias, o lexlo das µievisões da Declaiaçao lem sido incoiµoiado em insliumenlos inleinacionais ou na legislaçao nacional e la inumeias inslâncias que
adolam a Declaiaçao como um codigo de condula e um µaiâmelio caµaz de medii o giau de iesµeilo e de oLseivância ielalivamenle aos µaiâmelios inleinacionais de
diieilos lumanos¨. (Soln, Iouis B. e ; Bueigenllal, Tlomas, oµ. cil., µ. 516.)
14
Allo Comissaiiado de Diieilos Humanos das Þações \nidas, . Disµonivel em: <lllµ://www.
unlcli.cl/µdl/ieµoil.µdl>
24
Artlgo 03
µlano inleinacional. Lm lace desse comµlexo univeiso de
insliumenlos inleinacionais, caLe ao individuo que solieu
violaçao de diieilo a escolla do aµaialo mais lavoiavel, lendo
em visla que, evenlualmenle, diieilos idenlicos sao lulelados
µoi dois ou mais insliumenlos de alcance gloLal ou iegional,
ou ainda, de alcance geial ou esµecial. SoL essa olica, os
diveisos sislemas de µioleçao dos diieilos lumanos inleiagem
em Lenelicio dos individuos µiolegidos. De acoido com a visao
de Anlonio Auguslo Cançado Tiindade:
O ciileiio da µiimazia da noima mais lavoiavel as µes-
soas µiolegidas, consagiado exµiessamenle em lanlos
lialados de diieilos lumanos, conliiLui em µiimeiio
lugai µaia ieduzii ou minimizai consideiavelmenle
menlos legais em seus asµeclos noimalivos. ConliiLui,
em segundo lugai, µaia oLlei maioi cooidenaçao enlie
lais insliumenlos em dimensao lanlo veilical (lialados
e insliumenlos de diieilo inleino), quanlo loiizonlal
(dois ou mais lialados). (...) ConliiLui, em leiceiio lu-
gai, µaia demonsliai que a lendencia e o µioµosilo da
coexislencia de dislinlos insliumenlos juiidicos ga-
ianlindo os mesmos diieilos sao no senlido de am-
µliai e loilalecei a µioleçao
15
.
!eilas essas Lieves consideiações a iesµeilo dos
lialados inleinacionais de diieilos lumanos, µassa-se a
analise do modo µelo qual o Biasil se ielaciona com o aµaialo
inleinacional de µioleçao dos diieilos lumanos.
2. O Estado Brasileiro em Face do Sistema Internacional de
Proteção dos Direitos Humanos
Þo que se ieleie a µosiçao do Biasil em ielaçao
ao sislema inleinacional de µioleçao dos diieilos lumanos,
oLseiva-se que somenle a µailii do µiocesso de democializaçao
O maico inicial do µiocesso de incoiµoiaçao de
lialados inleinacionais de diieilos lumanos µelo Diieilo
a Toiluia e Oulios Tialamenlos Ciueis, Desumanos ou
imµoilanles insliumenlos inleinacionais de µioleçao dos
diieilos lumanos loiam lamLem incoiµoiados µelo Diieilo
Biasileiio, soL a egide da Consliluiçao !edeial de 1988.
Assim, a µailii da Caila de 1988, imµoilanles
a) da Convençao !nleiameiicana µaia Pievenii e
Punii a Toiluia, em 20 de jullo de 1989;
L) da Convençao conlia a Toiluia e oulios
Tialamenlos Ciueis, Desumanos ou Degiadanles,
em 28 de selemLio de 1989;
c) da Convençao soLie os Diieilos da Ciiança, em
24 de selemLio de 1990;
d) do Paclo !nleinacional dos Diieilos Civis e
Polilicos, em 24 de janeiio de 1992;
e) do Paclo !nleinacional dos Diieilos Lconomicos,
Sociais e Culluiais, em 24 de janeiio de 1992;
l) da Convençao Ameiicana de Diieilos Humanos,
em 25 de selemLio de 1992;
g) da Convençao !nleiameiicana µaia Pievenii,
Punii e Liiadicai a Violencia conlia a Mullei, em
27 de novemLio de 1995;
l) do Piolocolo a Convençao Ameiicana ieleienle a
ALoliçao da Pena de Moile, em 13 de agoslo de
1996;
i) do Piolocolo a Convençao Ameiicana ieleienle
aos Diieilos Lconomicos, Sociais e Culluiais
(Piolocolo de San Salvadoi), em 21 de agoslo de
1996;
j) da Convençao !nleiameiicana µaia Lliminaçao de
lodas as loimas de Disciiminaçao conlia Pessoas
2001;
l) do Lslalulo de Roma, que ciia o TiiLunal Penal
!nleinacional, em 20 de junlo de 2002;
l) do Piolocolo !acullalivo a Convençao soLie a
Lliminaçao de lodas as loimas de Disciiminaçao
conlia a Mullei, em 28 de junlo de 2002;
m) do Piolocolo !acullalivo a Convençao soLie os
Diieilos da Ciiança soLie o Lnvolvimenlo de
de 2004;
n) do Piolocolo !acullalivo a Convençao soLie os
Diieilos da Ciiança soLie Venda, Piosliluiçao e
2004; e
o) do Piolocolo !acullalivo a Convençao conlia a
Toiluia, em 11 de janeiio de 2007.
15
CAÞÇADO TR!ÞDADL, Anlonio Auguslo. A inleiaçao enlie o diieilo inleinacional e o diieilo inleino na µioleçao dos diieilos lumanos. !n: Arquivos do Ministerio
da Justiça, Biasilia, v. 46, n. 182, µ. 52-53, jul./dez. 1993.
25
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
As inovações inlioduzidas µela Caila de 1988
esµecialmenle no que lange ao µiimado da µievalencia dos
diieilos lumanos, como µiinciµio oiienladoi das ielações
imµoilanles insliumenlos de µioleçao dos diieilos lumanos
16
.
Alem das inovações conslilucionais, como imµoilanle
aciescenle-se a necessidade do Lslado Liasileiio ieoiganizai
sua agenda inleinacional, de modo mais condizenle com
as liansloimações inleinas decoiienles do µiocesso de
democializaçao. Lsse esloiço se conjuga com o oLjelivo de
comµoi uma imagem mais µosiliva do Lslado Liasileiio no
conlexlo inleinacional, como µais iesµeiladoi e gaianlidoi
dos diieilos lumanos. Adicione-se que a suLsciiçao do Biasil
aos lialados inleinacionais de diieilos lumanos simLoliza
ainda o aceile do Biasil µaia com a ideia conlemµoiânea de
gloLalizaçao dos diieilos lumanos, Lem como µaia com a ideia
da legilimidade das µieocuµações da comunidade inleinacional,
giau de univeisalidade desses insliumenlos, que conlam com
inleinacional.
Iogo, laz-se claia a ielaçao enlie o µiocesso de
democializaçao no Biasil e o µiocesso de incoiµoiaçao de
ielevanles insliumenlos inleinacionais de µioleçao dos diieilos
lumanos, lendo em visla que, se o µiocesso de democializaçao
do µiocesso democialico, µoi meio da amµliaçao e do ieloiço
do univeiso de diieilos µoi ele asseguiado.
3. A Incorporação dos Tratados Internacionais de Proteção de
Direitos Humanos pelo Direito Brasileiro
Pieliminaimenle, e necessaiio liisai que a Consliluiçao
Biasileiia de 1988 conslilui o maico juiidico da liansiçao
democialica e da inslilucionalizaçao dos diieilos lumanos
no Biasil. O lexlo de 1988, ao simLolizai a iuµluia com o
iegime auloiilaiio, emµiesla aos diieilos e gaianlias enlase
exliaoidinaiia, siluando-se como o documenlo mais avançado,
aLiangenle e µoimenoiizado soLie a maleiia, na lisloiia
conslilucional do µais.
O valoi da dignidade lumana inedilamenle
elevado a µiinciµio lundamenlal da Caila, nos leimos do
ail. 1
o
, !!! imµõe-se como nucleo Lasico e inloimadoi do
oidenamenlo juiidico Liasileiio, como ciileiio e µaiâmelio de
valoiaçao a oiienlai a inleiµielaçao e comµieensao do sislema
conslilucional inslauiado em 1988. A dignidade lumana
e os diieilos lundamenlais vem a consliluii os µiinciµios
conslilucionais que incoiµoiam as exigencias de jusliça e dos
valoies elicos, conleiindo suµoile axiologico a lodo o sislema
juiidico Liasileiio. Þa oidem de 1988, esses valoies µassam a sei
dolados de uma esµecial loiça exµansiva, µiojelando-se µoi lodo
o univeiso conslilucional e seivindo como ciileiio inleiµielalivo
de lodas as noimas do oidenamenlo juiidico nacional.
L nesse conlexlo que la de se inleiµielai o disµoslo
no ail. 5
o
, , 2
o
do lexlo, que, de loima inedila, lece a inleiaçao
enlie o Diieilo Liasileiio e os lialados inleinacionais de diieilos
µelo ail. 5
o
, a Caila de 1988 eslaLelece que os diieilos e gaianlias
exµiessos na Consliluiçao ¨nao excluem oulios decoiienles
do iegime e dos µiinciµios µoi ela adolados, ou dos lialados
inleinacionais em que a ReµuLlica !edeialiva do Biasil seja
µaile¨. A luz desse disµosilivo conslilucional, os diieilos
lundamenlais µodem sei oiganizados em lies dislinlos giuµos:
a) o dos diieilos exµiessos na Consliluiçao;
L) o dos diieilos imµlicilos, decoiienles do iegime e
dos µiinciµios adolados µela Caila conslilucional; e
c) o dos diieilos exµiessos nos lialados inleinacio-
nais suLsciilos µelo Biasil. A Consliluiçao de 1988
inova, assim, ao incluii, denlie os diieilos consli-
lucionalmenle µiolegidos, os diieilos enunciados
nos lialados inleinacionais de que o Biasil seja
signalaiio. Ao eleluai lal incoiµoiaçao, a Caila
esla a aliiLuii aos diieilos inleinacionais uma
lieiaiquia esµecial e dileienciada, qual seja, a de
noima conslilucional.
Lssa conclusao advem de inleiµielaçao sislemalica e
leleologica do lexlo, esµecialmenle em lace da loiça exµansiva
dos valoies da dignidade lumana e dos diieilos lundamenlais,
como µaiâmelios axiologicos a oiienlai a comµieensao do
lenomeno conslilucional
17
. A esse iaciocinio se aciescenlam o
16
Paia 1. A. Iindgien Alves: ¨Com a adesao aos dois Paclos !nleinacionais da OÞ\, assim como ao Paclo de Sao 1ose, no âmLilo da OLA, em 1992, e lavendo
necessaiias a sua inlegiaçao ao sislema inleinacional de µioleçao aos diieilos lumanos. !nleinamenle, µoi oulio lado, as gaianlias aos amµlos diieilos enlionizados
na Consliluiçao de 1988, nao µassiveis de emendas e, ainda, exlensivas a oulios decoiienles de lialados de que o µais seja µaile, asseguiam a disµosiçao do Lslado
democialico Liasileiio de conloimai-se µlenamenle as oLiigações inleinacionais µoi ele conliaidas¨. (Os direitos humanos como tema global. Sao Paulo: Peisµecliva/
!undaçao Alexandie de Gusmao, 1994. µ. 108.)
17
Paia 1ose 1oaquim Gomes Canolillo: ¨A legilimidade maleiial da Consliluiçao nao se Lasla com um ¨dai loima¨ ou ¨consliluii¨ de oigaos; exige uma lundamenlaçao
suLslanliva µaia os aclos dos µodeies µuLlicos e dai que ela lenla de sei um µaiâmelio maleiial, diieclivo e insµiiadoi desses aclos. A lundamenlaçao maleiial e loje
essencialmenle loinecida µelo calalogo de diieilos lundamenlais (diieilos, liLeidades e gaianlias e diieilos economicos, sociais e culluiais)¨. (Direito constitucional. 6. ed.
iev. CoimLia: Almedina, 1993. µ. 74.)
26
Artlgo 03
µiinciµio da maxima elelividade das noimas conslilucionais
ieleienles a diieilos e gaianlias lundamenlais e a naluieza
maleiialmenle conslilucional dos diieilos lundamenlais
18
, o
iegime conslilucional conleiido aos demais diieilos e gaianlias
lundamenlais. Lssa conclusao decoiie lamLem do µiocesso de
gloLalizaçao, que µioµicia e eslimula a aLeiluia da Consliluiçao
a noimaçao inleinacional aLeiluia que iesulla na amµliaçao
do ¨Lloco de conslilucionalidade¨, que µassa a incoiµoiai
µieceilos asseguiadoies de diieilos lundamenlais. Adicione-se,
ainda, o lalo de as Consliluições lalino-ameiicanas iecenles
conleiiiem aos lialados de diieilos lumanos um siaius
juiidico esµecial e dileienciado, deslacando-se, nesse senlido,
a Consliluiçao da Aigenlina que, em seu ail. 75, , 22, eleva os
µiinciµais lialados de diieilos lumanos a lieiaiquia de noima
conslilucional.
Iogo, µoi loiça do ail. 5
o
, ,, 1
o
e 2
o
, a Caila de 1988
aliiLui aos diieilos enunciados em lialados inleinacionais a
lieiaiquia de noima conslilucional, incluindo-os no elenco
dos diieilos conslilucionalmenle gaianlidos, que aµiesenlam
aµlicaLilidade imediala. A lieiaiquia conslilucional dos
lialados de µioleçao dos diieilos lumanos decoiie da µievisao
conslilucional do ail. 5
o
, , 2
o
, a luz de uma inleiµielaçao
sislemalica e leleologica da Caila, µailiculaimenle da
µiioiidade que aliiLui aos diieilos lundamenlais e ao µiinciµio
da dignidade da µessoa lumana. Lssa oµçao do consliluinle
de diieilos lumanos e, no enlendei de µaile da douliina, da
suµeiioiidade desses lialados no µlano inleinacional, lendo
em visla que inlegiaiiam o clamado jus cogens (diieilo cogenle
e indeiiogavel).
Lnlalize-se que, enquanlo os demais lialados
inleinacionais lem loiça lieiaiquica inliaconslilucional
19
,
nos leimos do ail. 102, !!!, ¨L¨ do lexlo (que admile o
caLimenlo de iecuiso exliaoidinaiio de decisao que declaiai
a inconslilucionalidade de lialado), os diieilos enunciados
em lialados inleinacionais de µioleçao dos diieilos lumanos
delem naluieza de noima conslilucional. Lsse lialamenlo
lialados inleinacionais de diieilos lumanos aµiesenlam um
caialei esµecial, dislinguindo-se dos lialados inleinacionais
comuns. Lnquanlo esles Luscam o equiliLiio e a ieciµiocidade
de ielações enlie Lslados-µailes, aqueles lianscendem os
meios comµiomissos ieciµiocos enlie os Lslados µacluanles,
lendo em visla que oLjelivam a salvaguaida dos diieilos do
sei lumano e nao das µieiiogalivas dos Lslados. Þo mesmo
senlido, aigumenla 1uan Anlonio Tiavieso:
Ios lialados modeinos soLie deieclos lumanos en
geneial, y, en µailiculai la Convencion Ameiicana
no son lialados mullilaleiales del liµo liadicional
concluidos en luncion de un inleicamLio ieciµioco
los deieclos lundamenlales de los seies lumanos
indeµendienlemenle de su nacionalidad, lanlo
lienle a su µioµiio Lslado como lienle a los olios
Lslados conlialanles. Al aµioLai eslos lialados soLie
deieclos lumanos, los Lslados se somelen a un oiden
legal denlio del cual ellos, µoi el Lien comun, asumen
vaiias oLligaciones, no en ielacion con olios Lslados,
sino lacia los individuos Lajo su juiisdiccion. Poi
lanlo, la Convencion no solo vincula a los Lslados
µailes, sino que oloiga gaianlias a las µeisonas. Poi
como cualquiei olio lialado
20
.
siaius
conslilucional aliiLuido aos lialados inleinacionais de
µioleçao dos diieilos lumanos.
Conclui-se, µoilanlo, que o Diieilo Liasileiio laz oµ-
çao µoi um sislema mislo, que comLina iegimes juiidicos dile-
ienciados: um iegime aµlicavel aos lialados de diieilos luma-
nos e um oulio aµlicavel aos lialados liadicionais. Lnquanlo
18
do diieilo conslilucional: qual e o conleudo ou maleiia da Consliluiçao' O conleudo da Consliluiçao vaiia de eµoca µaia eµoca e de µais µaia µais e, µoi isso, e
Podei Consliluinle. Regislie-se, µoiem, que, lisloiicamenle (na exµeiiencia conslilucional), loiam consideiadas maleiias conslilucionais, par e\cellence, a oiganizaçao
maleiia conslilucional aliaves da inseiçao de novos conleudos, ale enlao consideiados de valoi juiidico-conslilucional iiielevanle, de valoi adminislialivo ou de naluieza
suL-conslilucional (diieilos economicos, sociais e culluiais, diieilos de µailiciµaçao e dos liaLalladoies e consliluiçao economica)¨. (Direito constitucional, op. cii.
µ. 68). Piossegue o mesmo auloi: ¨\m iopos caiacleiizadoi da modeinidade e do conslilucionalismo loi semµie o da consideiaçao dos ¨diieilos do lomem¨ como raiio
essendi do Lslado Conslilucional. Quei lossem consideiados como ¨diieilos naluiais¨, ¨diieilos inalienaveis¨ ou ¨diieilos iacionais¨ do individuo, os diieilos do lomem,
conslilucionalmenle ieconlecidos, µossuiam uma dimensao µiojecliva de comensuiaçao univeisal¨. (iden, µ. 18).
19
Suslenla-se que os lialados liadicionais lem lieiaiquia inliaconslilucional, mas suµialegal. Lsse µosicionamenlo se coaduna com o µiinciµio da Loa-le, vigenle no
diieilo inleinacional (o pacia suni servanda
20
TRAV!LSO, 1uan Anlonio. Derechos humanos y derecho internacional. Buenos Aiies: Heliasla, 1990. µ. 90. Comµailillando do mesmo enlendimenlo, leciona 1oige
Reinaldo Vanossi: 1a declaracion de la Consiiiucion argeniina es concordanie con as Declaraciones que han adopiado los organisnos iniernacionales, y se refuer:a con la
insiiiuciones iniernacionales. (La Constitución Nacional y los derechos humanos. 3. ed. Buenos Aiies: LudeLa, 1988. µ. 35.)
27
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
os lialados inleinacionais de µioleçao dos diieilos lumanos
µoi loiça do ail. 5
o
, ,, 1
o
e 2
o
aµiesenlam lieiaiquia de
noima conslilucional e aµlicaçao imediala, os demais liala-
dos inleinacionais aµiesenlam lieiaiquia inliaconslilucional
e se suLmelem a sislemalica da incoiµoiaçao legislaliva. Þo
que se ieleie a incoiµoiaçao aulomalica, diveisamenle dos
lialados liadicionais, os lialados inleinacionais de diieilos
lumanos iiiadiam eleilos concomilanlemenle na oidem
çao. Þao e necessaiia a µioduçao de um alo noimalivo que
ieµioduza no oidenamenlo juiidico nacional o conleudo do
lialado, µois sua incoiµoiaçao e aulomalica, segundo os lei-
mos do ail. 5
o
, , 1
o
, que consagia o µiinciµio da aµlicaLilida-
lundamenlais.
OLseiva-se, conludo, que la qualio coiienles
douliinaiias aceica da lieiaiquia dos lialados inleinacionais
de µioleçao dos diieilos lumanos, que suslenlam:
a) a lieiaiquia suµia-conslilucional desses lialados;
L) a lieiaiquia conslilucional;
c) a lieiaiquia inlia-conslilucional, mas suµia-legal e
d) a µaiidade lieiaiquica enlie lialado e lei ledeial
21
.
Þo senlido de iesµondei a µolemica douliinaiia
e juiisµiudencial conceinenle a lieiaiquia dos lialados
inleinacionais de µioleçao dos diieilos lumanos, a Lmenda
Conslilucional n
o
45, de 8 dezemLio de 2004, inlioduziu um
, 3
o
no ail. 5
o
, disµondo:
Os lialados e convenções inleinacionais soLie diieilos
lumanos que loiem aµiovados, em cada Casa do
Congiesso Þacional, em dois luinos, µoi lies quinlos
dos volos dos iesµeclivos memLios, seiao equivalenles
as emendas a Consliluiçao.
Lm lace de lodos os aigumenlos ja exµoslos, suslenla-
se que a lieiaiquia conslilucional ja se exliai da inleiµielaçao
conleiida ao µioµiio ail. 5
o
, , 2
o
, da Consliluiçao de 1988. Vale
dizei, seiia mais adequado que a iedaçao do aludido , 3
o
do
ail. 5
o
endossasse a lieiaiquia loimalmenle conslilucional
de lodos os lialados inleinacionais de µioleçao dos diieilos
aigenlino que os lialados inleinacionais de µioleçao de
lieiaiquia conslilucional
22
.
Þo enlanlo, eslaLelece o , 3
o
do ail. 5
o
que os lialados
inleinacionais de diieilos lumanos aµiovados, em cada Casa
do Congiesso Þacional, em dois luinos, µoi lies quinlos dos
volos dos iesµeclivos memLios, seiao equivalenles as emendas
a Consliluiçao.
Desde logo, la que alaslai o enlendimenlo segundo
o qual, em lace do , 3
o
do ail. 5
o
, lodos os lialados de diieilos
µois nao leiiam oLlido o quorun
demandado µelo aludido µaiagialo.
OLseive-se que os lialados de µioleçao dos diieilos
n
o
45/2004 conlaiam com amµla maioiia na Câmaia dos
Deµulados e no Senado !edeial, excedendo, inclusive, o quorun
dos lies quinlos dos memLios em cada Casa. Todavia, nao
loiam aµiovados µoi dois luinos de volaçao, mas em um unico
luino de volaçao em cada Casa, uma vez que o µiocedimenlo
de dois luinos nao eia lamµouco µievislo.
Reileie-se que, µoi loiça do ail. 5
o
, , 2
o
, lodos
os lialados de diieilos lumanos, indeµendenlemenle do
quorun de sua aµiovaçao, sao maleiialmenle conslilucionais,
comµondo o Lloco de conslilucionalidade. O quorun
esla lao-somenle a ieloiçai lal naluieza, ao adicionai um
µioµiciando a ¨conslilucionalizaçao loimal¨ dos lialados
de diieilos lumanos no âmLilo juiidico inleino. Como ja
delendido µoi esse liaLallo, na leimeneulica emanciµaloiia
dos diieilos la que imµeiai uma logica maleiial e nao
loimal, oiienlada µoi valoies, a celeLiai o valoi lundanle da
µievalencia da dignidade lumana. A lieiaiquia de valoies deve
coiiesµondei uma lieiaiquia de noimas
23
, e nao o oµoslo. Vale
dizei, a µieµondeiância maleiial de um Lem juiidico, como e o
caso de um diieilo lundamenlal, deve condicionai a loima no
µlano juiidico-noimalivo, e nao sei condicionado µoi ela.
Þao seiia iazoavel suslenlai que os lialados de
lei ledeial, enquanlo os demais adquiiissem lieiaiquia
conslilucional exclusivamenle em viilude de seu quorun de
aµiovaçao. A lilulo de exemµlo, deslaque-se que o Biasil e
µaile da Convençao conlia a Toiluia e oulios Tialamenlos
ou Penas Ciueis, Desumanos ou Degiadanles desde 1989,
laveiia qualquei iazoaLilidade se a esle ullimo um lialado
comµlemenlai e suLsidiaiio ao µiinciµal losse conleiida
21
A iesµeilo, vei P!OVLSAÞ, !lavia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, 8. ed. ievisla, amµliada e alualizada, Sao Paulo: Saiaiva, 2007,
µ. 51-81.
22
Delendi essa µosiçao em µaiecei soLie o lema, aµiovado em sessao do Consello Þacional de Delesa dos Diieilos da Pessoa Humana, em maiço de 2004.
23
MLIIO, Celso de AlLuqueique. O µaiagialo 2
o
do ail. 5
o
da Consliluiçao !edeial. !n: Teoria dos direitos fundamentais, µ. 25.
28
Artlgo 03
lieiaiquia conslilucional, e ao insliumenlo µiinciµal losse
conleiida lieiaiquia meiamenle legal. Tal siluaçao imµoilaiia
em agudo anacionismo do sislema juiidico, alionlando, ainda,
a leoiia geial da ieceµçao acollida no diieilo Liasileiio
24
.
Ademais, como iealça Celso Ialei, ¨o novo µaiagialo 3
o

do ail. 5
o
µode sei consideiado como uma lei inleiµielaliva des-
linada a enceiiai as conlioveisias juiisµiudenciais e douliinaiias
susciladas µelo µaiagialo 2
o
do ail. 5
o
. De acoido com a oµiniao
douliinaiia liadicional, uma lei inleiµielaliva nada mais laz do que
25
.
\ma vez mais, coiioLoia-se o enlendimenlo de que os
menle ao mencionado µaiagialo, ou seja, anleiioimenle a Lmen-
da Conslilucional n
o
45/2004, lem lieiaiquia conslilucional, si-
luando-se como noimas maleiial e loimalmenle conslilucionais.
Lsse enlendimenlo decoiie de qualio aigumenlos:
a) a inleiµielaçao sislemalica da Consliluiçao, de
loima a dialogai os ,, 2
o
e 3
o
do ail. 5
o
, ja que o
ullimo nao ievogou o µiimeiio, mas deve, ao ieves,
sei inleiµielado a luz do sislema conslilucional;
L) a logica e iacionalidade maleiial que devem
oiienlai a leimeneulica dos diieilos lumanos;
c) a necessidade de evilai inleiµielações que aµon-
lem a agudos anacionismos da oidem juiidica; e
d) a leoiia geial da ieceµçao do Diieilo Liasileiio.
A iesµeilo do imµaclo ail. 5
o
, , 3
o
, deslaca-se a decisao
do Suµeiioi TiiLunal de 1usliça, quando do julgamenlo do
RHC 18799, lendo como ielaloi o Minislio 1ose Delgado, em
maio de 2006:
(...) o ,3
o
do ail. 5
o
da C!/88, aciescido µela LC n. 45,
e laxalivo ao enunciai que os lialados e convenções
inleinacionais soLie diieilos lumanos que loiem
aµiovados, em cada Casa do Congiesso Þacional,
em dois luinos, µoi lies quinlos dos volos dos
iesµeclivos memLios, seiao equivalenles as emendas
conslilucionais.
Oia, aµesai de a eµoca o ieleiido Paclo lei sido
aµiovado com quorun de lei oidinaiia, e de se iessallai que
ele nunca loi ievogado ou ieliiado do mundo juiidico, nao
oLslanle a sua iejeiçao decanlada µoi decisões judiciais. De
acoido com o cilado ,3
o
, a Convençao conlinua em vigoi, desla
leila com loiça de emenda conslilucional. A iegia emanada
µelo disµosilivo em aµieço e claia no senlido de que os lialados
inleinacionais conceinenles a diieilos lumanos nos quais o
Biasil seja µaile devem sei assimilados µela oidem juiidica do
µais como noimas de lieiaiquia conslilucional. Þao se µode
escanleai que o ,1
o
suµia deleimina, µeiemµloiiamenle, que
lem aµlicaçao imediala¨. Þa esµecie, devem sei aµlicados,
imedialamenle, os lialados inleinacionais em que o Biasil
seja µaile. O Paclo de Sao 1ose da Cosla Rica loi iesgalado
µela nova disµosiçao (,3
o
do ail. 5
o
ielioaliva. A liamilaçao de lei oidinaiia conleiida a aµiovaçao
da mencionada Convençao (...) nao consliluiia oLice loimal
de ielevância suµeiioi ao conleudo maleiial do novo diieilo
aclamado, nao imµedindo a sua ielioalividade, µoi se lialai de
acoido inleinacional µeilinenle a diieilos lumanos¨
26
.
Lsse julgado ievela a leimeneulica adequada a sei
aµlicada aos diieilos lumanos, insµiiada µoi uma logica e
soL a loima
27
.
O imµaclo da inovaçao inlioduzida µelo ail. 5
o
, , 3
o
e
a necessidade de evoluçao e alualizaçao juiisµiudencial loiam
lamLem iealçadas no Suµiemo TiiLunal !edeial, quando do
julgamenlo do RL 466.343
28
, em 22 de novemLio de 2006, em
emLlemalico volo µioleiido µelo Minislio Gilmai !eiieiia
Mendes, ao deslacai:
(...) a ieloima acaLou µoi iessallai o caialei esµe-
cial dos lialados de diieilos lumanos em ielaçao aos
demais lialados de ieciµiocidade enlie Lslados µac-
luanles, conleiindo-lles lugai µiivilegiado no oide-
namenlo juiidico. (...) a mudança conslilucional ao
24
A lilulo de exemµlo, cile-se o Codigo TiiLulaiio Þacional (Iei 5.172, de 25 de ouluLio de 1966), que, emLoia seja lei oidinaiia, loi ieceµcionado como lei comµlemenlai,
nos leimos do ailigo 146 da Consliluiçao !edeial.
25
IA!LR, Celso. A internacionalização dos direitos humanos: Constituição, racismo e relações internacionais, Baiueii: Manole, 2005. µ. 16.
26
RHC 18799, Recuiso Oidinaiio em Habeas Corpus, dala do julgamenlo: 09/05/2006, D1 08.06.2006.
27
Lm senlido conliaiio, deslaca-se o RHC 19087, Recuiso Oidinaiio em Habeas Corpus, dala do julgamenlo: 18/05/2006, D1 29.05.2006, julgado µioleiido µelo Suµeiioi
TiiLunal de 1usliça, lendo como ielaloi o Minislio AlLino Zavascli. A aigumenlaçao do ieleiido julgado, ao ieves, insµiiou-se µoi uma logica e iacionalidade loimal,
µoi quorun
Diieilos Humanos)¨.
28
Vei Recuiso Lxliaoidinaiio 466.343-1, Sao Paulo, ielaloi Minislio Cezai Peluso, iecoiienle Banco Biadesco S/A e iecoiiido Iuciano Caidoso Sanlos. Þole-se que o
julgamenlo envolvia a lemalica da µiisao civil µoi divida e a aµlicaçao da Convençao Ameiicana de Diieilos Humanos. Ale novemLio de 2006, oilo dos onze Minislios
!edeial, ao enlienlai a mesma lemalica, suslenlou a µaiidade lieiaiquica enlie lialado e lei ledeial, admilindo a µossiLilidade da µiisao civil µoi divida, µelo volo de
oilo dos onze Minislios.
29
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
qual lem sido µieconizada µela juiisµiudencia do Su-
µiemo TiiLunal !edeial desde o iemolo julgamenlo
do RL n
o
80.004/SL, de ielaloiia do Minislio Xaviei
de AlLuqueique (julgado em 1.6.1977; D1 29.12.1977)
e enconlia iesµaldo em laigo ieµeiloiio de casos jul-
gados aµos o advenlo da Consliluiçao de 1988. (...)
Tudo indica, µoilanlo, que a juiisµiudencia do Su-
µiemo TiiLunal !edeial, sem somLia de duvidas, lem
de sei ievisilada ciilicamenle. (...) Assim, a µiemenle
necessidade de se dai elelividade a µioleçao dos diiei-
los lumanos nos µlanos inleino e inleinacional loina
imµeiiosa uma mudança de µosiçao quanlo ao µaµel
dos lialados inleinacionais soLie diieilos na odem
juiidica nacional. L necessaiio assumii uma µosluia
juiisdicional mais adequada as iealidades emeigenles
em âmLilos suµianacionais, volladas µiimoidialmen-
le a µioleçao do sei lumano. (...) Deixo acenluado,
lamLem, que a evoluçao juiisµiudencial semµie loi
uma maica de qualquei juiisdiçao conslilucional.
(...) Tenlo ceileza de que o esµiiilo desla Coile, loje,
mais que que nunca, esla µieµaiado µaia essa aluali-
zaçao juiisµiudencial.
lialados de diieilos lumanos.
Aciedila-se que o novo disµosilivo do ail. 5
o
, , 3
o
, vem
a ieconlecei de modo exµlicilo a naluieza maleiialmenle cons-
lilucional dos lialados de diieilos lumanos, ieloiçando, desse
modo, a exislencia de um iegime juiidico mislo, que dislingue os
lialados de diieilos lumanos dos lialados liadicionais de cunlo
comeicial. !slo e, ainda que lossem aµiovados µelo elevado
quorun de lies quinlos dos volos dos memLios de cada Casa
do Congiesso Þacional, os lialados comeiciais nao µassaiiam
a lei siaius loimal de noima conslilucional lao-somenle µelo
µiocedimenlo de sua aµiovaçao.
anleiioimenle a Lmenda n
o
45/2004, µoi loiça dos ,, 2
o
e
3
o
do ail. 5
o
da Consliluiçao, sao noimas maleiial e loimalmenle
conslilucionais, com ielaçao aos novos lialados de diieilos
o
do mesmo ail. 5
o
,
indeµendenlemenle de seu quorun de aµiovaçao, seiao noimas
maleiialmenle conslilucionais. Conludo, µaia conveileiem-
se em noimas lamLem loimalmenle conslilucionais deveiao
µeicoiiei o µiocedimenlo demandado µelo , 3
o
. Þo mesmo
senlido, Celso Ial
Com a vigencia da Lmenda Conslilucional n
o
45, de
08 de dezemLio de 2004, os lialados inleinacionais a
que o Biasil venla a adeiii, µaia seiem ieceµcionados
loimalmenle como noimas conslilucionais, devem
oLedecei ao ilem µievislo no novo µaiagialo 3
o
do
ail. 5
o29
.
!slo µoique, a µailii de um ieconlecimenlo exµlicilo
da naluieza maleiialmenle conslilucional dos lialados de
diieilos lumanos, o , 3
o
do ail. 5
o
µeimile aliiLuii o siaius
de noima loimalmenle conslilucional aos lialados de diieilos
lumanos que oLedeceiem ao µiocedimenlo nele conlemµlado.
Iogo, µaia que os lialados de diieilos lumanos a seiem
se a oLseivância de quorun
volos dos memLios de cada Casa do Congiesso Þacional,
em dois luinos que e juslamenle o quorun exigido µaia a
aµiovaçao de emendas a Consliluiçao, nos leimos do ail. 60,
, 2
o
, da Caila de 1988. Þessa liµolese, os lialados de diieilos
lumanos loimalmenle conslilucionais sao equiµaiados as
emendas a Consliluiçao, islo e, µassam a inlegiai loimalmenle
o Texlo Conslilucional.
Vale dizei, com o advenlo do , 3
o
do ail. 5
o
suigem
duas calegoiias de lialados inleinacionais de µioleçao de
diieilos lumanos:
a) os maleiialmenle conslilucionais; e
L) os maleiial e loimalmenle conslilucionais. !iise-
se: lodos os lialados inleinacionais de diieilos
lumanos sao maleiialmenle conslilucionais,
µoi loiça do , 2
o
do ail. 5
o30
. Paia alem de seiem
maleiialmenle conslilucionais, µodeiao, a µailii
do , 3
o
do mesmo disµosilivo, aciescei a qualidade
de loimalmenle conslilucionais, equiµaiando-se
as emendas a Consliluiçao, no âmLilo loimal.
4. O Impacto dos Tratados Internacionais de Proteção dos
Direitos Humanos na Ordem Juridica Brasileira
Relalivamenle ao imµaclo juiidico dos lialados
inleinacionais de diieilos lumanos no Diieilo Liasileiio, e
consideiando a lieiaiquia conslilucional desses lialados, lies
liµoleses µodeiao ocoiiei. O diieilo enunciado no lialado
inleinacional µodeia:
29
IA!LR, Celso. A internacionalização dos direitos humanos: Constituição, racismo e relações internacionais. Baiueii: Manole, 2005. µ. 17.
30
Como !ngo Wollgang Sailel leciona: ¨!noLslanle nao necessaiiamenle ligada a lundamenlalidade loimal, e µoi inleimedio do diieilo conslilucional µosilivo (ail.
5
o
, µaiagialo 2
o
da C!) que a noçao de lundamenlalidade maleiial µeimile a aLeiluia da Consliluiçao a oulios diieilos lundamenlais nao conslanles de seu lexlo, e,
µoilanlo, aµenas maleiialmenle lundamenlais, assim como la diieilos lundamenlais siluados loia do calalogo, mas inlegianles da Consliluiçao loimal¨ (
direitos fundamentais, µ. 81.)
30
Artlgo 03
a) coincidii com o diieilo asseguiado µela Conslilui-
çao (nesle caso a Consliluiçao ieµioduz µieceilos
do Diieilo !nleinacional dos Diieilos Humanos);
L) inlegiai, comµlemenlai e amµliai o univeiso de
diieilos conslilucionalmenle µievislos;
c) conliaiiai µieceilo do Diieilo inleino.
Þa µiimeiia liµolese, o Diieilo inleino Liasileiio,
em µailiculai a Consliluiçao de 1988, aµiesenla disµosilivos
inleinacionais de diieilos lumanos. A lilulo de exemµlo, me-
iece ieleiencia o disµoslo no ail. 5
o
, inciso !!!, da Consliluiçao
de 1988 que, ao µievei que ¨ninguem seia suLmelido a loiluia,
nem a lialamenlo ciuel, desumano ou degiadanle¨, e ieµio-
duçao lileial do ail. V da Declaiaçao \niveisal de 1948, do
ail. 7
o
do Paclo !nleinacional dos Diieilos Civis e Polilicos e
ainda do ail. 5
o
(2) da Convençao Ameiicana. Poi sua vez, o
µiinciµio da inocencia µiesumida, inedilamenle µievislo µela
Consliluiçao de 1988 em seu ail. 5
o
, IV!!, lamLem e iesullado
de insµiiaçao no Diieilo !nleinacional dos Diieilos Humanos,
nos leimos do ail. X! da Declaiaçao \niveisal, ail. 14 (3) do
Paclo !nleinacional dos Diieilos Civis e Polilicos e ail. 8
o
(2)
da Convençao Ameiicana. Lsses sao aµenas alguns exemµlos
que comµiovam o quanlo o Diieilo inleino Liasileiio lem
como insµiiaçao, µaiadigma e ieleiencia, o Diieilo !nleina-
cional dos Diieilos Humanos.
A ieµioduçao de disµosições de lialados inleinacio-
nao aµenas o lalo do legisladoi nacional Luscai oiienlaçao e
insµiiaçao nesse insliumenlal, mas ainda ievela a µieocuµaçao
do legisladoi em equacionai o Diieilo inleino, de modo a que
se ajusle, com laimonia e consonância, as oLiigações inleina-
cionalmenle assumidas µelo Lslado Liasileiio. Þesse caso, os
lialados inleinacionais de diieilos lumanos ieloiçam o valoi
juiidico de diieilos conslilucionalmenle asseguiados, de loima
que evenlual violaçao do diieilo imµoilaia nao aµenas em ies-
µonsaLilizaçao nacional, mas lamLem em iesµonsaLilizaçao
inleinacional.
1a na segunda liµolese, os lialados inleinacionais de
diieilos lumanos eslaiao a inlegiai, comµlemenlai e eslendei
a declaiaçao conslilucional de diieilos. Com eleilo, a µailii dos
e µossivel elencai inumeios diieilos que, emLoia nao µievislos
no âmLilo nacional, enconliam-se enunciados nesses lialados
e, assim, µassam a se incoiµoiai ao Diieilo Liasileiio. A lilulo
de ilusliaçao, caLe mençao aos seguinles diieilos:
a) diieilo de loda µessoa a um nivel de vida
adequado µaia si µioµiio e sua lamilia, inclusive
a alimenlaçao, veslimenla e moiadia, nos leimos
do ail. 11 do Paclo !nleinacional dos Diieilos
Lconomicos, Sociais e Culluiais;
L) µioiLiçao de qualquei µioµaganda em lavoi
da gueiia e µioiLiçao de qualquei aµologia ao
odio nacional, iacial ou ieligioso, que conslilua
incilamenlo a disciiminaçao, a loslilidade ou
a violencia, em conloimidade com o ail. 20 do
Paclo !nleinacional dos Diieilos Civis e Polilicos
e ail. 13 (5) da Convençao Ameiicana;
c) diieilo das minoiias elnicas, ieligiosas ou
lingüislicas de lei sua µioµiia vida culluial,
µiolessai e µialicai sua µioµiia ieligiao e usai sua
µioµiia lingua, nos leimos do ail. 27 do Paclo
!nleinacional dos Diieilos Civis e Polilicos e
ail. 30 da Convençao soLie os Diieilos da
Ciiança;
d) µioiLiçao do ieeslaLelecimenlo da µena de moile
nos Lslados que a lajam aLolido, de acoido com
o ail. 4
o
(3) da Convençao Ameiicana;
e) µossiLilidade de adoçao µelos Lslados de medidas,
no âmLilo social, economico e culluial, que
asseguiem a adequada µioleçao de ceilos giuµos
iaciais, no senlido de que a eles seja gaianlido o
µleno exeicicio dos diieilos lumanos e liLeidades
lundamenlais, em conloimidade com o ail. 1
o
(4)
da Convençao soLie a Lliminaçao de lodas as
loimas de Disciiminaçao Racial;
l) µossiLilidade de adoçao µelos Lslados de medidas
lemµoiaiias e esµeciais que oLjelivem aceleiai
a igualdade de lalo enlie lomens e mulleies,
nos leimos do ail. 4
o
da Convençao soLie a
Lliminaçao de lodas as loimas de Disciiminaçao
conlia a Mullei;
g) vedaçao da ulilizaçao de meios deslinados a
oLslai a comunicaçao e a ciiculaçao de ideias e
oµiniões, nos leimos do ail. 13 da Convençao
Ameiicana
31
;
l) diieilo ao duµlo giau de juiisdiçao como gaianlia
judicial minima, nos leimos dos ails. 8, ¨l¨ e 25,
µaiagialo 1
o
da Convençao Ameiicana
32
;
31
A iesµeilo, vei julgamenlo TR! 3
a
R RHC 96.03.060213-2-SP- 2
a
T, Relaloia µaia o Acoidao 1uiza Sylvia Sleinei, D1\ 19.03.1997.
32
Piocesso Penal, que eslaLelece a exigencia do iecollimenlo do ieu a µiisao µaia aµelai. Þesse senlido, vei Aµelaçao n. 1.011.673/4, julgada em 29.05.1996, 5
a
Câmaia,
Relaloi designado Di. Wallei Swensson, R1TACR!M 31/120.
31
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
i) diieilo do acusado sei ouvido, nos leimos do ail.
8, µaiagialo 1 da Convençao Ameiicana
33
;
j) diieilo de loda µessoa delida ou ielida sei julgada
em µiazo iazoavel ou sei µosla em liLeidade, sem
µiejuizo de que µiossiga o µiocesso, nos leimos
do ail. 7, (5) da Convençao Ameiicana
34
e
l) µioiLiçao da exliadiçao ou exµulsao de µessoa a
oulio Lslado quando louvei lundadas iazões
que µodeia sei suLmelida a loiluia ou a oulio
lialamenlo ciuel, desumado ou degiadanle, nos
leimos do ail. 3
o
da Convençao conlia a Toiluia e
do ailigo 22, V!!! da Convençao Ameiicana
35
.
Lsse elenco de diieilos enunciados em lialados
inleinacionais de que o Biasil e µaile inova e amµlia o univeiso
de diieilos nacionalmenle asseguiados, na medida em que nao
se enconliam µievislos no Diieilo inleino. OLseive-se que
se incoiµoiaiam a oidem juiidica inleina Liasileiia. Desse
modo, µeiceLe-se como o Diieilo !nleinacional dos Diieilos
Humanos inova, eslende e amµlia o univeiso dos diieilos
conslilucionalmenle asseguiados.
O Diieilo !nleinacional dos Diieilos Humanos
ainda µeimile, em deleiminadas liµoleses, o µieenclimenlo
de lacunas aµiesenladas µelo Diieilo Liasileiio. A lilulo de
exemµlo, meiece deslaque decisao µioleiida µelo Suµiemo
TiiLunal !edeial aceica da exislencia juiidica do ciime de
loiluia conlia ciiança e adolescenle, no Habeas Corpus
n. 70.389-5 (Sao Paulo; TiiLunal Pleno 23.6.94; Relaloi:
Minislio Sidney Sancles; Relaloi µaia o Acoidao: Minislio
Celso de Mello). Þesse caso, o Suµiemo TiiLunal !edeial
enlocou a noima conslanle no Lslalulo da Ciiança e do
Adolescenle que eslaLelece como ciime a µialica de loiluia
conlia ciiança e adolescenle (ail. 233 do Lslalulo). A µolemica
se inslauiou em iazao de o lalo dessa noima consagiai um
¨liµo µenal aLeilo¨, µassivel de comµlemenlaçao no que se
loiluia. Þesse senlido, enlendeu o Suµiemo TiiLunal !edeial
que os insliumenlos inleinacionais de diieilos lumanos em
µailiculai, a Convençao de Þova Yoil soLie os Diieilos da
Ciiança (1990), a Convençao conlia a Toiluia, adolada µela
AssemLleia Geial da OÞ\ (1984), a Convençao !nleiameiicana
conlia a Toiluia, concluida em Cailagena (1985) e a Convençao
Ameiicana soLie Diieilos Humanos (Paclo de Sao 1ose da
Cosla Rica), loimada no âmLilo da OLA (1969) µeimilem
a inlegiaçao da noima µenal em aLeilo, a µailii do ieloiço do
univeiso conceilual ielalivo ao leimo ¨loiluia¨. Þole-se que
o ciime de loiluia.
Como essa decisao claiamenle demonslia, os
insliumenlos inleinacionais de diieilos lumanos µodem
inlegiai e comµlemenlai disµosilivos noimalivos do Diieilo
Liasileiio, µeimilindo o ieloiço de diieilos nacionalmenle
µievislos no caso, o diieilo de nao sei suLmelido a loiluia.
Conludo, ainda e µossivel uma leiceiia liµolese no
ieilo !nleinacional dos Diieilos Humanos e o Diieilo inleino.
Lssa leiceiia liµolese e a que enceiia maioi µioLlemalica, sus-
cilando a seguinle indagaçao: como solucionai evenlual con-
de µioleçao dos diieilos lumanos'
Podei-se-ia imaginai, como µiimeiia alleinaliva, a
adoçao do ciileiio ¨lei µosleiioi ievoga lei anleiioi com ela
incomµalivel¨, consideiando a lieiaiquia conslilucional dos
lialados inleinacionais de diieilos lumanos. Todavia, um
exame mais cauleloso da maleiia aµonla µaia um ciileiio de
lela, que se silua no µlano dos diieilos lundamenlais. L o
ciileiio a sei adolado se oiienla µela escolla da noima mais
ao individuo, lilulai do diieilo. O ciileiio ou µiinciµio da
aµlicaçao do disµosilivo mais lavoiavel as vilimas e nao aµenas
consagiado µelos µioµiios lialados inleinacionais de µioleçao
dos diieilos lumanos, mas lamLem enconlia aµoio na µialica
ou juiisµiudencia dos oigaos de suµeivisao inleinacionais.
!slo e, no µlano de µioleçao dos diieilos lumanos inleiagem
o Diieilo inleinacional e o Diieilo inleino, movidos µelas
mesmas necessidades de µioleçao, µievalecendo as noimas que
melloi µiolejam o sei lumano, lendo em visla que a µiimazia
e da µessoa lumana. Os diieilos inleinacionais conslanles
dos lialados de diieilos lumanos aµenas vem a aµiimoiai e
loilalecei, nunca a iesliingii ou deLililai, o giau de µioleçao
dos diieilos consagiados no µlano noimalivo conslilucional.
Þa liçao laµidai de Anlonio Auguslo Cançado Tiindade:
33
A esle iesµeilo, vei RHC 7463/D!, iecuiso oidinaiio em habeas-corpus (98/0022262-6), de 23.06.1998, lendo como ielaloi o Minislio Iuiz Vicenle Ceiniccliaio.
34
SoLie a maleiia, vei ST1, RHC n. 5.239-BA, ielaloi Minislio Ldson Vidigal, 5
a
Tuima, v.u., j. 07.05.1996, D1\ 29.09.1997. Þole-se que esse diieilo acaLou µoi sei
loimalmenle conslilucionalizado em viilude da inclusao do inciso IXXV!!! no ail. 5
o
, liulo da Lmenda Conslilucional n. 45/2004.
35
A iesµeilo, vei Lxliadiçao 633, selemLio/1998, ielaloi Minislio Celso de Mello, em que loi negada a exliadiçao a ReµuLlica Poµulai da Clina de µessoa acusada de
ciime de eslelionalo, la µunivel com a µena de moile.
32
Artlgo 03
(...) desvencillamo-nos das amaiias da vella e ociosa
µolemica enlie monislas e dualislas. Þesle camµo
de µioleçao, nao se liala de µiimazia do diieilo
inleinacional ou do diieilo inleino, aqui em conslanle
inleiaçao: a µiimazia e, no µiesenle dominio, da
noima que melloi µioleja, em cada caso, os diieilos
consagiados da µessoa lumana, seja ela uma noima
de diieilo inleinacional ou de diieilo inleino
36
.
!nleinacional dos Diieilos Humanos e o Diieilo inleino,
adola-se o ciileiio da noima mais lavoiavel a vilima. Lm oulias
µalavias, a µiimazia e da noima que melloi µioleja, em cada
caso, os diieilos da µessoa lumana. A escolla da noima mais
aos TiiLunais nacionais e a oulios oigaos aµlicadoies do
diieilo, no senlido de asseguiai a melloi µioleçao µossivel ao
sei lumano.
A lilulo de exemµlo, um caso a meiecei enloque
ieleie-se a µievisao do ail. 11 do Paclo !nleinacional dos
Diieilos Civis e Polilicos, ao disµoi que ¨ninguem µodeia
sei µieso aµenas µoi nao µodei cumµiii com uma oLiigaçao
conlialual¨. Lnunciado semellanle e µievislo µelo ail. 7
o

(7) da Convençao Ameiicana, ao eslaLelecei que ninguem
deve sei delido µoi dividas, aciescenlando que esle µiinciµio
nao limila os mandados judiciais exµedidos em viilude de
inadimµlemenlo de oLiigaçao alimenlai.
amLos os insliumenlos inleinacionais em 1992, sem eleluai
qualquei ieseiva soLie a maleiia.
Oia, a Caila conslilucional de 1988, no ail. 5
o
, inciso
IXV!!, deleimina que ¨nao laveia µiisao civil µoi divida, salvo
a do iesµonsavel µelo inadimµlemenlo volunlaiio e inescusavel
Consliluiçao Liasileiia consagia o µiinciµio da µioiLiçao da
µiisao civil µoi dividas, admilindo, lodavia, duas exceções a
liµolese do inadimµlemenlo de oLiigaçao alimenlicia e a do
OLseiva-se que, enquanlo o Paclo !nleinacional
dos Diieilos Civis e Polilicos nao µieve qualquei exceçao ao
µiinciµio da µioiLiçao da µiisao civil µoi dividas, a Convençao
Ameiicana exceµciona o caso de inadimµlemenlo de oLiigaçao
qualquei ieseiva no que lange a maleiia, la que se queslionai
Mais uma vez, alendo-se ao ciileiio da noima
mais lavoiavel a vilima no µlano da µioleçao dos diieilos
lumanos, conclui-se que meiece sei alaslado o caLimenlo
37
, conleiindo-
os valoies da liLeidade e da µioµiiedade, o µiimeiio la de
µievalecei. Ressalle-se que se a siluaçao losse inveisa se a
inleinacional aµlicai-se-ia a noima conslilucional, inoLslanle
os aludidos lialados livessem lieiaiquia conslilucional e
Vale dizei, as µioµiias iegias inleiµielalivas dos lialados
inleinacionais de µioleçao aos diieilos lumanos aµonlam a
so se aµlicam se amµliaiem e eslendeiem o alcance da
µioleçao nacional dos diieilos lumanos. Þole-se que, no
leimos liLeidade e solidaiiedade (que asseguia muilas vezes
a soLievivencia lumana), meiecendo µievalencia o valoi da
solidaiiedade, como assinalam a Consliluiçao Biasileiia de
1988 e a Convençao Ameiicana de Diieilos Humanos.
Lm sinlese, os lialados inleinacionais de diieilos lu-
cionalmenle consagiados oia ieloiçando sua imµeialividade
juiidica, oia adicionando novos diieilos, oia susµendendo
µieceilos que sejam menos lavoiaveis a µioleçao dos diieilos
36
TR!ÞDADL, Cançado Auguslo Anlonio. A proteção dos direitos humanos nos planos nacional e internacional: perspectivas brasileiras. San 1ose de Cosla Rica/Biasilia:
e ceilo que os lialados mullilaleiais, sejam univeisais (µ. ex: Paclo da OÞ\ soLie diieilos economicos, sociais e culluiais e Convenções da O!T), sejam iegionais (µ. ex:
Caila Social Luioµeia), adolam a mesma conceµçao quanlo aos inslilulos juiidicos de µioleçao do liaLalladoi, soLieludo no âmLilo dos diieilos lumanos, o que lacilila
a aµlicaçao do µiinciµio da noima mais lavoiavel¨. (Direito internacional do trabalho. Sao Paulo: ITR, 1983. µ. 57). A iesµeilo, elucidalivo e o disµoslo no ail. 29 da
Convençao Ameiicana de Diieilos Humanos que, ao eslaLelecei iegias inleiµielalivas, deleimina: ¨Þenluma disµosiçao da µiesenle Convençao µode sei inleiµielada no
senlido de: a) µeimilii a qualquei dos Lslados-µailes, giuµo ou individuo, suµiimii o gozo e o exeicicio dos diieilos e liLeidades ieconlecidos na Convençao ou limila-los
em maioi medida do que a nela µievisla; L) limilai o gozo e exeicicio de qualquei diieilo ou liLeidade que µossam sei ieconlecidos em viilude de leis de qualquei dos
Lslados-µailes ou em viilude de Convenções em que seja µaile um dos ieleiidos Lslados (...)¨.
37
Þesse senlido, meiece deslaque o louvavel volo do 1uiz Anlonio Cailos Malleiios, do Piimeiio TiiLunal de Alçada do Lslado de Sao Paulo, na Aµelaçao n. 613.053-8.
Vei lamLem Aµelaçao n. 601.880-4, Sao Paulo, 1
a
Câmaia, 16.9.1996, ielaloi 1uiz Llliol Alel, v.u., e Habeas Corpus n. 3.545-3 (95.028458-8), Disliilo !edeial, 10.10.1995,
Rel. Min. Adlemai Maciel. Þole-se nao sei esse o enlendimenlo do Suµiemo TiiLunal !edeial, ainda que vencidos a eµoca os Minislios Cailos Velloso, Maico Auielio
e Seµulveda Peilence. A iesµeilo, vei HC 72.131-R1, 22.11.1995; RL 206.482-SP; HC 76-561-SP, Plenaiio, 27.5.1998 e RL 243613, 27.4.1999. Aciescenle-se que µaia o
cilado Recuiso Lxliaoidinaiio 466.343-1, em que, inedilamenle, oilo dos onze Minislios ja laviam se manileslado µela inconslilucionalidade da µiisao µaia o devedoi
33
A Costltulção 8rasllelra oe 1988 e os Trataoos |nternaclonals oe Proteção oos Dlreltos Humanos
lumanos. Lm lodas essas lies liµoleses, os diieilos inleinacio-
nais conslanles dos lialados de diieilos lumanos aµenas vem a
aµiimoiai e loilalecei, nunca a iesliingii ou deLililai, o giau de
µioleçao dos diieilos consagiados no µlano noimalivo consli-
lucional.
5. C
Como demonsliado µoi esle esludo, os lialados
inleinacionais de diieilos lumanos µodem conliiLuii de loima
decisiva µaia o ieloiço da µiomoçao dos diieilos lumanos no
Biasil. Þo enlanlo, o sucesso da aµlicaçao desse insliumenlal
inleinacional de diieilos lumanos iequei a amµla sensiLilizaçao
dos agenles oµeiadoies do Diieilo, no que se alem a ielevância
e a ulilidade de advogai esses lialados µeianle as inslâncias
nacionais e inleinacionais, o que µode viaLilizai avanços
concielos na delesa do exeicicio dos diieilos da cidadania.
inleiaçao e conjugaçao do Diieilo inleinacional e do Diieilo
inleino, que loilalecem a sislemalica de µioleçao dos diieilos
lundamenlais, com uma µiinciµiologia e logica µioµiias,
lundadas no µiinciµio da µiimazia dos diieilos lumanos.
Teslemunla-se o µiocesso de inleinacionalizaçao do Diieilo
Conslilucional somado ao µiocesso de conslilucionalizaçao
do Diieilo !nleinacional.
A Caila de 1988 e os lialados de diieilos lumanos
lançam um µiojelo democializanle e lumanisla, caLendo
aos oµeiadoies do diieilo inliojelai e incoiµoiai os seus
valoies inovadoies. Os agenles juiidicos lao de se conveilei
em agenles µioµagadoies de uma oidem ienovada,
democialica e iesµeiladoia dos diieilos lumanos, imµedindo
que se µeiµeluem os anligos valoies do iegime auloiilaiio,
juiidicamenle ieµudiado e aLolido.
Hoje, mais do que nunca, os oµeiadoies do Diieilo
juiidico seu µolencial elico e liansloimadoi, aµlicando a
Consliluiçao e os insliumenlos inleinacionais de µioleçao
de diieilos lumanos µoi ela incoiµoiados. Lslao, µoilanlo, a
µievalencia dos diieilos lumanos.

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