CONCLUSO

O direito de famlia passou por diversas transformaes no decorrer dos sculos. Tais transformaes sempre ocorreram na esteira das mudanas sociais, no obstante terem como principal enfoque proteger e garantir os direitos do novo modelo familiar conforme se apresentava. Entretanto, no dessa maneira que devem ocorrer as mudanas, ou melhor dizendo, as evolues legislativas. O direito deve refletir o meio social em que est inserido, no momento presente, sob pena de perder sua funo. visvel o atraso do direito em amparar o novo modelo familiar, que foge ao tradicional modelo pai-me-filhos. Entretanto, fazendo uma anlise sistemtica e interpretativa de diversos dispositivos legislativos, possvel encontrar amparo jurisdicional ao elemento afeto como fator primordial nas relaes familiares. Nesse sentido a CF tutelou a presena do afeto nas relaes familiares, como valor inerente concretizao do princpio da dignidade da pessoa humana. E, acompanhando essa nova tendncia, determinou o fim das discriminaes antes existentes com relao filiao. Os filhos passaram a ser tanto filhos da consanginidade como filhos do corao, do afeto, pois so filhos tanto uns como outros. De outra banda, havendo o reconhecimento jurdico do afeto como elemento essencial nas relaes familiares, deixar de prov-lo no seio familiar passa a ser ilcito. Dentre as penalizaes aplicveis ao genitor que abandonar moral, intelectual ou afetivamente sua prole est a destituio de poder familiar. Assim, comprovado o abandono por parte do genitor, possvel destitu-lo de poder familiar. Da mesma forma que, comprovada a existncia de vnculo socioafetivo entre o padrasto, ou madrasta, e a criana, possvel refletir esse vnculo no mundo jurdico. Dessa forma, no h mais motivos para o no reconhecimento, na esfera judicial, da paternidade ou maternidade j exercida e explicitada nesse novo modelo familiar. No cabe privar uma criana de ver refletido em seu

registro civil a condio emocional, psicolgica e afetiva que j ostenta no meio social. No abrir os olhos importncia do afeto nas relaes paterno filiais desconsiderar efusivamente o princpio da dignidade da pessoa humana. Assim, observando que o exerccio da paternidade, ou maternidade, verdadeiro cumprimento do estgio de convivncia, disposto no artigo 46, 1, do ECA, fica evidente a possibilidade de adoo por quem efetivamente exerce a funo de pai ou me socioafetivo.