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Mille

A gente sempre sempre acha que essas coisas s acontecem com os outros, mas aconteceu comigo. Mesmo cinquento, de repente me vi cativo de uma paixo avassaladora. Na verdade esse um evento recorrente, especialmente quando os personagens so homens de meia-idade e experientes como eu quando menos se espera, a coisa acontece. Mille entrou em minha vida subitamente. Jovem, bela e insinuante, no tive como resistir aos seus encantos e fui presa fcil de seu charme. Em pouco tempo, desde que a vi pela primeira vez, apaixonei-me irremediavelmente e, quando dei por mim, enxerguei o que todo mundo j comentava: eu estava cado de quatro por ela. Confesso que no me esforcei nem um pouco para evitar um envolvimento mais intenso. Ao contrrio, entreguei-me por completo quela paixo que me inoculava um veneno de efeito retardado devastador, mas que, doce como mel e inebriante como vinho, proporcionava-me momentos extasiantes de alegria e felicidade que apenas os tolos e os apaixonados experimentam. Aquela tarde tinha todos os ingredientes que, em geral, proporcionam momentos romnticos e inesquecveis chovia l fora e os pingos da chuva salpicavam na janela ligeiramente embassada. Mille estava deitada no sof com a cabea apoiada em minhas pernas, que fazia as vezes de travesseiro. Exalando felicidade, dormia despreocupadamente com as carcias que eu lhe fazia. Meus pensamentos, estimulados por uma atmosfera to romntica e envolvente, me conduziam ora Paris, ora Veneza... mundo afora. S voltei realidade quando

ouvi um grito, vindo da cozinha: Acabou a rao! Acordei Mille com carinho, tomei-a para pertinho de mim, entrelacei as mos em sua nuca e, encostando meu nariz no dela, perguntei-lhe com voz dengosa: Quer ir com o vov comprar seu pap, quer? Au! Au!

Guilherme Cantidio Setembro/2010.

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