Você está na página 1de 11
PRLDVTRCAALEXANRE WONDER HELENO CLAUDIO FRACERS™ BIBLIOTECA SALO DB CARVALHO LIGOES DE DIREITO PENAL (PARTE GERAL) Atualizador: Fernando Fragoso 16* edigao Rio de Janeiro nna CIENCIA E EXPERIENCIA DO DIREITO PENAL* nei 1. O desaparecimento de Alfonso Quiroz Cuarén constitui grave perda para a ci criminoldgiea, que ele elevou, no quadre da América Latina, a nive peionais, pela seriedae exe seu trabalh Em homenagem ao a de alta categoria ¢ ‘go © antigo companheiro de tantas s. Trata-se de wongruéncias © problemas atu: examinar como se formula, no plano teérico, o siste punitive e de verificar como ele efetiva- ile opera na reulidade, para destaca, desta forma, as inquielagdes © perplexidades a que somos levailas, pois a realidade esti em desacordy com os princfpios du teoria com a qual se cumpre a fungio ideologica do sistema, 2. E paradoxal que a crise do sistema ocorra no momento em que a evolugao técnica do Direito Penal atingiu niveis de perfeigao realmente notaveis. A evolugao, nesse sentido, proces- sou-se desde o comego do século, alcangando, com a teoria finalista da agdo, grande correcao técnica e a elaboragdo de um sistema normative que deveria servir a aplivagdo mais justa e igualitéria da lei penal, 3. Velhos problemas, que conduziram a largos debates, se ndo foram de todo resolvidos, ram formulagdes de inegivel superioridade técnica. Poderfamos mencivnay a titulo de plu, a teoriu da ago e a problemstica da omissdo, particularmente a dos crimes comissivos por omissio. Assim tiubém a teoria do erro, distinguindo-se v erru de tipo, coma aquele que versa sobre us elementos, factuais ou juridicos, que integram o modelo legal de fato punivel, do certo de proibigdo, que versa sobre a ilicitude, Poderfamos também mencionar a reformulagao, pode-se dizer completa, da teoria do crime culposo. Entende-se hoje que os crimes dolosos e os ystituem categorias distintas do fato punivel. No crime culposo a lei protbe crimes culposos © causar através de negligéneia, imprudéncia ou impericia verto resultado, com ago que se ditige afins geralmente licitos, irrelevantes para a configuragiio da conduta tipica. O tipo dos erimes culposos é aberto © a conduta tipicu depende da violagio do cuidado objetivo exigivel nas circunstincias. 0 crime culposo nao é mais apenas uma forma de eulpabili gina » constitufa a esséneia do va a teria tradicional, Esta supunha que a previsibilidade do even crime culposo ¢ que este se consubstanciava num desvalor do resultado. A doutrina moderna reformulou a do idacle le tais ulposo, partindo da verificago de que a antijuridi * Trabalho escrito para o livro-homenagem a Alfonso Quiruz Cuarén, 544 no decisive odo cuidado exigivel na vida de relagdo e que nele 6 eles caimes depende da violag: snalor de agiv, Vejam-se, por igual, os conceitos de autoria © purticipagao, cujo 10 se pode Fazer, partindo, da sulugao simmplista do CP brasileivo. A participagio ested aun d estuda a rigos, atureza ese distingue da autoria no plano légico e na prép s Jizer que, em relagio aos problemas da teoria do delit, com us ques suma, podess ¢ os juristits, a doutrina apresenta hoje uma sistemdtica de grande exa- cuparamese lar lidio técnica, levada as Gltimas conseqiiéneias. teve por base a substituigie de conceitos I dessa evolugio téeni naturalfiticos © puramente descritivos por conceitos nonnatives © de valor, com os quais se Fiqueceu extraordinariamente a teoria do Direito Penal, Isso se ilustra claramente com 0 to de culpa, que a doutvina clissica entendia ser mera relaglo psicolégica entre o agente e o resultado, como se pode ver bem nas primeiras edigdes do Tratado de Von Lisat. A evolugéo posterior (que conduziu as concepgées puramente nermativas da doutrina moderna) foi no sentido de earacterizar a culpa como vontade reprovavel e nio mais como mera relagio psicolé- ics runsformando-se um conceito natural fiticu num conceito de valor. Introduzia-se, assim, como Entendia-se, por culpa nao a simples vontade, mas sim a vontade que ndo deveria ser, se pervebe claramente, na idéia de culpa uma reformulagdo completa, pois o merecimento de pena passava a estar em fungio da censurubilidade de comportamento. Essu evolugio penetvou, pode-se dizer, toda u moderna teoria do delito, 5. Deve-se dizer que essa evolugio deixou um poucu na sombra toda a parte relativa ds conseqiiénicias juridicas do delito, e, sobretudo, 0 que se refere & execugdo das penas, Essas questdes foram relegadus pelos juristas a um segundo plano, pois cles eniendiam que esta parte do sistema nao oferecia os grandes atrativos das questdes clegantes da teoria do delito, Partiaese but aqui, em geral, de uma concepgao retributiva da pena, completada € complementada pelas s do projeto sufgo, de Stooss, e, depois, cdidlas de seguranga. A partir das f origi do CP qual, ao lado da pena, fundada e medida na culpabilidade, aparece a medida dat seguranga, que mula taliano, de 1930, penetrou nas legislagies o chamude sistema do duplo bindrio, segundo hém, um sistema de tem por base a periculosidade do agente. Com isso constituiuese, aqui ta grande simetria logica ¢ perfeigdo teérica, A experiGueia desses dltimos 25 anos, no entanto, vein mostrar que esse sistema nie fu © que, na realidade, revelu_ geandes « insuperiiveis jas. O trabalho for incongrué ivel dos juristas wo campo da teoria do Direito Penal esté posto o du sistema repressive do Estado, ew xeque pelas realidades do funciona 6. Por que estamos, entdo, em situagdo de crise, se a eluboragdo téeniea dos juristas conseguiu, como vimos, eonduzira formulagao doutrindria do Direito Penal a um grau de grande 545

Você também pode gostar