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VISITAO EM PESSOA

Na entrada, j perplexo com o devaneio dos textos que dominavam o espao como num bal silencioso. De repente sou capturado em meu reflexo. Vi a mim mesmo como texto, embaralhado e embrulhado para presente. Senti-me demasiado valioso por ser presenteado por mim, dado em surpresa por um reflexo to amorosamente cuidadoso com as palavras e com os sinais. As palavras j no eram apenas smbolos, j se faziam gestos e toques que me emocionavam, pois sentia que todos aqueles textos em poemas, cartas, frases, as mais soltas e livres que j vi, eram pra mim em Pessoa. Agora entendo o significado dos nomes. Aquele, Fernando, era na verdade, eu mesmo, muitos, em Pessoa. Ao chegar no Museu da Lngua Portuguesa, existia um clima de sobriedade intelectual na organizao das salas. Cada espao era como se tentasse expressar uma das vrias facetas da personalidade de Fernando Pessoa, poeta dos mais expressivos de nossa lngua. Contemporneo, sarcstico, chegando ao limite da crueldade, pois desnuda as diversas caras que temos e no as assumimos. Expresso mxima da ridicularizao do absurdo mundo cartesiano que vivemos, e ainda nos sentimos timos por no sermos de verdade. Ouvir, sim, ouvir em texto, o Guardador de Rebanhos era como danar ao som de uma melodia cuidadosa e romntica. Ver as frases dos diversos eus, nos mostra como divertido brincar de faz de conta com a vida. Por que no? Afinal ele nos mostra que ela, a vida, j no tem mais o poder sobre o seu eu, pois os eus so vrios e a vida se confunde e se esquece dele ou deles. Franklin Costa.

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