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Capítulo 8

INTEGRAÇÃO DUPLA

8.1 Integração Dupla sobre Retângulos


Denotemos por R = [a, b] × [c, d] = {(x, y) ∈ R2 /a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d} um retângu-
lo em R2 . Consideremos P1 = {x0 , x1 , ...., xn } e P2 = {y0 , y1 , ...., yn } partições de
ordem n de [a, b] e [c, d] respectivamente, tais que:

a = x0 < x1 < . . . . . . < xn = b e c = y 0 < y 1 < . . . . . . < yn = d

b−a d−c
e xi+1 − xi = , yj+1 − yj = .
n n

yj+1 R
R ij
yj

c
a xi x i+1 b

Figura 8.1: Partição de R.

O conjunto P1 × P2 é denominada partição do retângulo R de ordem n. Sejam os n2


sub-retângulos Rij = [xi , xi+1 ] × [yj , yj+1 ] e cij ∈ Rij arbitrário (i, j = 0, ...., n − 1).
Considere a função limitada f : R −→ R. A soma

X n−1
n−1 X
Sn = f (cij ) ∆x ∆y,
i=0 j=0

b−a d−c
onde ∆x = e ∆y = é dita soma de Riemann de f sobre R.
n n

203
204 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Definição 8.1. Uma função f : R −→ R limitada é integrável sobre R se

lim Sn ,
n→+∞

existe independente da escolha de cij ∈ Rij e da partição; em tal caso denotamos este limite
por:
ZZ
f (x, y) dx dy,
R

que é denominada integral dupla de f sobre R.

Teorema 8.1. Toda f : R −→ R contínua é integrável.

A prova deste teorema pode ser vista em [EL].

8.2 Significado Geométrico da Integral Dupla


Se f é contínua e f (x, y) ≥ 0 para todo (x, y) ∈ R, a existência da integral dupla de
f sobre R tem um significado geométrico direto. Consideramos o sólido W ⊂ R3
definido por:

W = {(x, y, z) ∈ R3 / a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}

Figura 8.2: O sólido W .

W é fechado e limitado superiormente pelo gráfico de z = f (x, y), inferiormente


por R e lateralmente pelos planos x = a, x = b, y = c, y = d. Se denotamos por
V (W ) o volume de W , então:
ZZ
V (W ) = f (x, y) dx dy
R

De fato, escolhendo cij como o ponto onde f atinge seu máximo sobre Rij (pois R
é fechado, limitado e f é contínua), então f (cij ) × ∆x × ∆y é o volume do parale-
lepípedo de base Rij e altura f (cij ).
8.2. SIGNIFICADO GEOMÉTRICO DA INTEGRAL DUPLA 205

Figura 8.3: Partição e os paralelepípedos de W , respectivamente.

n−1
XX n−1
Sn = f (cij ) ∆x ∆y
i=0 j=0

é o volume do sólido circunscrito a W . Analogamente se eij é o ponto onde f atinge


seu mínimo sobre Rij (pois R é fechado, limitado e f é contínua), então:

n−1
XX n−1
sn = f (eij ) ∆x ∆y
i=0 j=0

é o volume do sólido inscrito em W . Como f é integrável, os limites das somas de


Riemann Sn e sn independem da escolha de cij e eij :

ZZ
lim Sn = lim sn = f (x, y) dx dy.
n→∞ n→∞ R

Em outras palavras os volumes dos sólidos inscritos e circunscritos a W , tendem


ao mesmo limite. Portanto, é razoável chamar este limite de volume de W .

Figura 8.4: Reconstrução do sólido.


206 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Figura 8.5: Reconstrução do sólido.

Novamente notamos que é possível mostrar rigorosamente que o significado geo-


métrico da integral dupla independe da escolha da partição e dos pontos cij e eij .
A integral dupla tem propriedades análogas às das integrais das funções de uma
variável.

Proposição 8.1.
1. Linearidade da integral dupla. Se f e g são funções integraveis sobre R então
para todo α, β ∈ R, α f + β g é integrável sobre R, e:
ZZ ZZ ZZ

α f (x, y) + β g(x, y) dx dy = α f (x, y) dx dy + β g(x, y) dx dy.
R R R

2. Se f e g são integráveis sobre R e g(x, y) ≤ f (x, y), para todo (x, y) ∈ R, então:
ZZ ZZ
g(x, y) dx dy ≤ f (x, y) dx dy.
R R

3. Se R é subdividido em k retângulos e f é integrável sobre cada Ri , i = 1, ..., k então


f é integrável sobre R e,
ZZ k ZZ
X
f (x, y) dx dy = f (x, y) dx dy.
R i=1 Ri

8.3 Integrais Iteradas


Uma integral iterada de f sobre R é uma integral do tipo:
Z d Z b 
f (x, y) dx dy.
c a
Z b
Para calculá-la fixamos y e calculamos a integral f (x, y) dx como integral de uma
a
veriável em x; o resultado é uma função de y que é novamente integrada em y, com
limites de integração c e d.
Z b Z d 
A integral f (x, y) dy dx é calculada de forma análoga.
a c
8.3. INTEGRAIS ITERADAS 207

Exemplo 8.1.
Z 2 Z 3 
[1] Calcule x2 y dy dx.
0 1

3 3 Z 2 Z 3  Z 2
32
Z Z
x2 y dy = x2 y dy = 4x2 e x2 y dy dx = 4x2 dx = .
1 1 0 1 0 3

Z π Z π 
[2] Calcule cos(x + y) dx dy.
0 0
Z π x=π
cos(x + y) dx = sen(x + y) x=0 = sen(y + π) − sen(y),
0

e Z π Z π  Z π
cos(x + y) dx dy = (sen(y + π) − sen(y)) dy = −4.
0 0 0

Z 1 Z 1 
[3] Calcule (x2 + y 2 ) dx dy.
−1 −2

1
x3  x=1
Z
2 22
(x + y ) dx = + xy = 3 + 3 y2
−2 3 x=−2

e
Z 1 Z 1  Z 1
2 2
(x + y ) dx dy = (3 + 3 y 2 ) dy = 8.
−1 −2 −1

π
Z
3
Z 4 
2 ρ3
[4] Calcule ρ e sen(φ) dρ dφ.
π
6
0

eρ 4
4 4 3
e64 − 1
Z Z
2 ρ3 2 ρ3
ρ e sen(φ) dρ = sen(φ) ρ e dρ = sen(φ) = sen(φ)
0 0 3 0 3
e

π
4 π √
e64 − 1 (e64 − 1) ( 3 − 1)
Z Z  Z
3 3
2 ρ3
ρ e sen(φ) dρ dφ = sen(φ) dφ = .
π
0 3 π 6
6 6

Z 1 Z √1−y2 p 
[5] Calcule 1− y 2 dx dy.
0 0

Z √1−y2 p Z 1 Z √1−y2 p  1
2
Z
2
1− y 2 dx =1−y , e 1− y 2 dx dy = (1 − y 2 ) dy = .
0 0 0 0 3
208 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

[6] Seja a função f : [0, 1] × [0, 1] −→ R definida por:


(
1 se x ∈ Q
f (x, y) =
2y se x ∈
/ Q.

Então:
Z 1
dy = 1 se x ∈ Q

1
Z 

dy = Z0 1
0
2 y dy = 1 se x ∈
/ Q.



0
Z 1Z 1 
Logo, dy dx = 1.
0 0

1
1
Z
Por outro lado f (x, y) dx não existe, exceto quando y = ; logo,
0 2
Z 1Z 1 
dx dy
0 0

não existe. Em geral, nada garante a existência das integrais iteradas.

8.4 Teorema de Fubini


O seguinte teorema fundamental relaciona a integral dupla com as integrais itera-
das, o que facilitará seu cálculo.

Teorema 8.2. (Fubini): Seja f : R −→ R contínua sobre R. Então:

ZZ Z d Z b  Z b Z d 
f (x, y) dx dy = f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx
R c a a c

Prova: Veja o apêndice.

Uma visualização geométrica do teorema de Fubini pode ser feita usando o princí-
pio de Cavalieri: “ Dado um sólido, se denotamos por A(y) a área da seção trans-
versal ao sólido, medida a uma distância y de um plano de referência, o volume do
Rd
sólido é dado por: V = c A(y) dy, onde c e d são as distâncias mínima e máxima
ao plano de referência”.
ZZ
Se f é uma função contínua e f (x, y) ≥ 0 em todo R, então f (x, y) dx dy repre-
R
senta o volume do sólido W :

W = {(x, y, z) ∈ R3 /a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}.


8.4. TEOREMA DE FUBINI 209

c d
a

R
b

Figura 8.6:

Se intersectamos o sólido por um plano paralelo ao plano yz a uma distância x da


Rd
origem, obtemos uma seção plana que tem como área A(x) = c f (x, y) dy. Pelo
princípio de Cavalieri, o volume total do sólido é:
ZZ Z b Z b Z d 
f (x, y) dx dy = A(x) dx = f (x, y) dy dx.
R a a c
Analogamente, se intersectamos o sólido por um plano paralelo ao plano xz a uma
Rb
distância y da origem obtemos uma seção plana de área A(y) = a f (x, y) dx e pelo
princípio de Cavalieri:
ZZ Z d Z d Z b 
f (x, y) dx dy = A(y) dy = f (x, y) dx dy.
R c c a
Exemplo 8.2.
ZZ
[1] Calcule dx dy, onde R = [a, b] × [c, d].
R
ZZ Z b Z d  Z b
dx dy = dy dx = (d − c) dx = (b − a) (d − c);
R a c a
ZZ
numericamente a integral dupla dx dy, corresponde a área de R ou ao volume
R
do paralelepípedo de base R e altura 1.
ZZ
[2] Calcule f (x, y) dx dy, onde R = [a, b] × [c, d] e f (x, y) = h, h constante
R
positiva.
ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = h dx dy = h × A(R) = h (b − a) (d − c),
R R
onde a última igualdade expressa o volume do paralelepípedo de base R e altura
h. ZZ
[3] Calcule (x y + x2 ) dx dy, onde R = [0, 1] × [0, 1].
R

x y x3 x=1
ZZ Z 1 Z 1  Z 1 2 
(x y + x2 ) dx dy = (x y + x2 ) dx dy = + dy
R 0 0 0 2 3 x=0
Z 1 
y 1 7
= + dy = .
0 2 3 12
210 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

7
O número representa o volume do sólido limitado superiormente pelo gráfico
12
da função f (x, y) = x y + x2 e pelos planos coordenados. ((x, y) ∈ [0, 1] × [0, 1]).
0

Figura 8.7: Exemplo [4].


ZZ
[4] Calcule x y 2 dx dy, onde R = [−1, 0] × [0, 1].
R
Z 1 Z 0  1
1 1
ZZ Z
2 2
x y dx dy = x y dx dy = − y 2 dy = − .
R 0 −1 2 0 6
ZZ
[5] Calcule sen(x + y) dx dy, onde R = [0, π] × [0, 2π].
R
ZZ Z 2π Z π  Z 2π
sen(x+y) dx dy = sen(x+y) dx dy = (cos(y)−cos(y +π)) dy = 0.
R 0 0 0

[6] Calcule o volume do sólido limitado superiormente por z = 1−y e inferiormente


pelo retângulo definido por 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ y ≤ 1.
0.0
0.5
1.0
1.0

0.5

0.0
0.0
0.5

1.0

Figura 8.8: Sólido do exemplo [6].

O sólido está limitado superiormente pelo plano z = 1 − y e inferiormente pelo


retângulo R = [0, 1] × [0, 1]; então, o volume V é:
Z 1 Z 1  Z 1
1
ZZ
V = (1 − y) dx dy = (1 − y) dx dy = (1 − y) dy = u.v.
R 0 0 0 2
8.4. TEOREMA DE FUBINI 211

[7] Calcule o volume do sólido limitado por z = x2 + y 2 e pelos planos x = 0, x = 3,


y = 0 e y = 1.

Figura 8.9: Sólido do exemplo [7].

R = [0, 3] × [0, 1]. O volume é:


ZZ Z 1 Z 3  Z 1
2 2 2 2
V = (x + y ) dx dy = (x + y ) dx dy = (9 + 3y 2 ) dy = 10 u.v.
R 0 0 0

u.v. =unidades de volume.

[8] Calcule o volume do sólido limitado por z = 1−y 2 e pelos planos x = −1, x = 1,
y = −1 e y = 1.

Figura 8.10: Sólido do exemplo [8].

R = [−1, 1] × [−1, 1]. O volume é:

1 Z 1  1
8
ZZ Z Z
V = (1 − y 2 ) dx dy = (1 − y 2 ) dx dy = 2 (1 − y 2 ) dy = u.v.
R −1 −1 −1 3

8.4.1 Extensão do Teorema de Fubini


Antes de estudar a integral dupla em regiões mais gerais enunciaremos uma gene-
reralização do teorema 8.1.
212 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Definição 8.2. Seja A ⊂ R, R = [a, b] × [c, d]. O conjunto A ⊂ R tem conteúdo


nulo se existe um número finito de sub-retângulos Ri ⊂ R, (1 ≤ i ≤ n) tais que A ⊂
R1 ∪ R2 ∪ . . . ∪ Rn−1 ∪ Rn e:
n
X
lim |Ri | = 0;
n→+∞
i=1

onde |Ri | é a área de Ri .

Exemplo 8.3.

[1] Se A = {p1 , p2 , ......., pm }, pi ∈ R, (1 ≤ i ≤ m). O conjunto A tem conteúdo nulo.


Utilizando uma partição de ordem n de R como antes, temos:

(b − a) (d − c)
|Ri | = ,
n2
1 ≤ i ≤ n. Como cada ponto pode estar no máximo em quatro sub-retângulos,
então:
n
X 4 m (b − a) (d − c)
0< |Ri | ≤ .
n2
i=1
n
X
Logo lim |Ri | = 0.
n→+∞
i=1
[2] ∂R tem conteúdo nulo.

yj+1 R
Rij
yj

c
a xi x i+1 b

Figura 8.11: ∂R.

Os pontos de ∂R estão distribuido em 4 n − 4 sub-retângulos Rij :


n
X (4 n − 4) (b − a) (d − c) 4 (b − a) (d − c)
0< |Ri | ≤ 2
≤ ,
n n
i=1

pois n−1
n < 1. Logo:
n
X
lim |Ri | = 0.
n→+∞
i=1

É possível provar que o gráfico de uma função contínua f : [a, b] −→ R tem con-
teúdo nulo.
8.5. INTEGRAÇÃO DUPLA SOBRE REGIÕES MAIS GERAIS 213

Figura 8.12: G(f ).

Teorema 8.3. Se f : R −→ R é uma função limitada e o conjunto onde f é descontínua


tem conteúdo nulo, então f é integrav́el sobre R.

Prova: Veja [EL] na bibliografia.

8.5 Integração Dupla sobre Regiões mais Gerais


Definiremos três tipos especiais de subconjuntos do plano, que serão utilizados
para estender o conceito de integral dupla sobre retângulos a regiões mais gerais

8.6 Regiões Elementares


Seja D ⊂ R2 .

Regiões de tipo I
D é uma região de tipo I se pode ser descrita por:

D = {(x, y) ∈ R2 /a ≤ x ≤ b, φ1 (x) ≤ y ≤ φ2 (x)}

sendo φi : [a, b] −→ R (i = 1, 2) funções contínuas tais que φ1 (x) ≤ φ2 (x) para todo
x ∈ [a, b].

φ
2

φ2

D
D

φ
1 φ1
a b a b

Figura 8.13: Regiões de tipo I.


214 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Regiões de tipo II
D é uma região de tipo II se pode ser descrita por:

D = {(x, y) ∈ R2 /c ≤ y ≤ d, ψ1 (y) ≤ x ≤ ψ2 (y)}

sendo ψi : [c, d] −→ R (i = 1, 2) funções contínuas tais que ψ1 (y) ≤ ψ2 (y) para todo
y ∈ [c, d].

D ψ D ψ
ψ ψ 2
1 2 1

Figura 8.14: Regiões de tipo II.

Regiões de tipo III


D é uma região de tipo III se pode ser descrita como região de tipo I ou de tipo II.
As regiões de tipos I, II ou III são chamadas elementares. As regiões elementares
são fechadas e limitadas.

Exemplo 8.4.
[1] A região limitada pelas curvas y = x2 e y = 4 x − x2 pode ser descrita como de
tipo I:
A interseção das curvas é dada pela solução do sistema:
(
y = x2
y = 4 x − x2 ,

do qual obtemos: x = 0 e x = 2; logo, D = {(x, y) ∈ R2 / 0 ≤ x ≤ 2, x2 ≤ y ≤


4x − x2 }.
5

0.5 1.0 1.5 2.0

Figura 8.15: Região de tipo I.


8.6. REGIÕES ELEMENTARES 215

[2] Seja a região D limitada pelas seguintes curvas: y 2 − x = 1 e y 2 + x = 1.


A região pode ser descrita por:

D = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ y ≤ 1, y 2 − 1 ≤ x ≤ 1 − y 2 };
D é uma região de tipo II.

1.0

0.5

-1.0 - 0.5 0.5 1.0

- 0.5

-1.0

Figura 8.16: Região de tipo II.

[3] A região D limitada pela reta x + y = 2 e pelos eixos coordenados, no primeiro


quadrante, pode ser descrita como de tipo II:

D = {(x, y) ∈ R2 /0 ≤ y ≤ 2, 0 ≤ x ≤ 2 − y}.

2.0

1.5

1.0

0.5

0.5 1.0 1.5 2.0

Figura 8.17: Região de tipo III.

[4] A região D limitada pelas curvas y = x − 1 e y 2 = 2 x + 6, pode ser descrita


como de tipo II.
A interseção das curvas é dada pela solução do sistema:
(
y =x−1
y 2 = 2 x + 6,

do qual obtemos: x = −1 e x = 5; logo:

y2
D = {(x, y) ∈ R2 / − 2 ≤ y ≤ 4, − 3 ≤ x ≤ y + 1}.
2
216 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

1 2 3

Figura 8.18: Região de tipo II.

[5] Seja D a região limitada pela curva x2 + y 2 = 1; esta região é do tipo III. De fato:
De tipo I:
p p
D = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ x ≤ 1, φ1 (x) = − 1 − x2 ≤ y ≤ φ2 (x) = 1 − x2 }.

De tipo II:
p p
D = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ y ≤ 1, ψ1 (y) = − 1 − y 2 ≤ x ≤ ψ2 (y) = 1 − y 2 }.

8.7 Extensão da Integral Dupla


Seja D uma região elementar tal que D ⊂ R, onde R é um retãngulo e f : D −→ R
uma função contínua (logo limitada). Definamos f ∗ : R −→ R por:
(
∗ f (x, y) se (x, y) ∈ D
f (x, y) =
0 se (x, y) ∈ R − D.
f ∗ é limitada e contínua, exceto, possivelmente, em ∂D; mas se ∂D consiste de uma
união finita de curvas que são gráficos de funções contínuas, pelo teorema 8.1, f ∗ é
integrável sobre R.

R
R
D D

Figura 8.19: Gráficos de f e f ∗ , respectivamente.

Definição 8.3. f : D −→ R é integrável sobre D se f ∗ é integrável sobre R e em tal caso


definimos: ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = f ∗ (x, y) dx dy.
D R
8.8. INTEGRAL DUPLA E VOLUME DE SÓLIDOS 217

Se R1 é outro retângulo tal que D ⊂ R1 e f1∗ : R1 −→ R é definida como antes,


então: ZZ ZZ
f ∗ (x, y) dx dy = f1∗ (x, y) dx dy,
R R1

pois f∗ = f1∗ = 0 onde R e R1 diferem.

f* =f* =0
1
R

R1

Figura 8.20:

Logo, não depende da escolha do retângulo.


RR
D f (x, y) dx dy

8.8 Integral Dupla e Volume de Sólidos


Proposição 8.2. Se f : D −→ R é uma função contínua e limitada sobre D, então:

1. Se D é uma região de tipo I:

ZZ Z b Z φ2 (x) 
f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx
D a φ1 (x)

2. Se D é uma região de tipo II:

ZZ Z d Z ψ2 (y) 
f (x, y) dx dy = f (x, y) dx dy
D c ψ1 (y)

Para a prova, veja o apêndice.

Corolário 8.4. Se f (x, y) = 1 em todo D, então:


ZZ
dx dy = Área(D)
D

ZZ Z b
De fato, se D é de tipo I, temos

dx dy = φ2 (x) − φ1 (x) dx = A(D).
D a
218 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Se f (x, y) ≥ 0 e é contínua em D, podemos novamente interpretar a integral dupla


de f sobre D como o volume do sólido W limitado superiormente pelo gráfico de
f e inferiormente por D.

W = {(x, y, z) ∈ R3 /(x, y) ∈ D, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}

D é a projeção de W sobre o plano xy e:

ZZ
V (W ) = f (x, y) dx dy
D

8.8.1 Exemplos
Z 1 Z 1 
x2
[1] Calcule e dx dy. A integral não pode ser calculada na ordem dada.
0 y
Observe que:
ZZ Z 1 Z 1 
x2 x2
e dx dy = e dx dy.
D 0 y

A região D, onde está definida a integral, é de tipo II: 0 ≤ y ≤ 1 e y ≤ x ≤ 1.

Figura 8.21: A região D.

A região D é de tipo III; logo, D também é de tipo I. De fato: 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ y ≤ x


e:
Z 1 Z x  Z 1
1
ZZ
x2 x2 2
e dx dy = e dy dx = x ex dx = (e − 1).
D 0 0 0 2

Z 1 Z 1 
sen(y)
[2] Calcule dy dx.
0 x y
A região D, onde está definida a integral é de tipo I: 0 ≤ x ≤ 1 e x ≤ y ≤ 1. Por
outro lado, D é de tipo III, logo D também é de tipo II: 0 ≤ y ≤ 1 e 0 ≤ x ≤ y:
8.8. INTEGRAL DUPLA E VOLUME DE SÓLIDOS 219

Figura 8.22: A região D.

Z 1 Z 1  Z 1 Z y  Z 1
sen(y) sen(y)
dy dx = dx dy = sen(y) dy = 1 − cos(1).
0 x y 0 0 y 0

ZZ p
[3] Calcule 1 − y 2 dx dy, onde D é a região limitada por x2 + y 2 = 1 no pri-
D
meiro quadrante.

Figura 8.23: A região D.

Consideramos D como região de tipo II:


p
D = {(x, y) ∈ R/0 ≤ y ≤ 1, 0 ≤ x ≤ 1 − y 2 }.

Pela proposicão:

Z 1 Z √1−y2 p  Z 1
2
ZZ p
2
1 − y dx dy = 2
1 − y dx dy = (1 − y 2 ) dy = .
D 0 0 0 3

Note que se escrevemos D como região de tipo I, a integração é muito mais com-
plicada.
ZZ
[4] Calcule (x + y)2 dx dy, se D é a região limitada por y = x, 2 y = x + 2 e o
D
eixo dos y.
220 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

1 2

Figura 8.24: A região D.

As retas se intersectam no ponto (2, 2). Escrevendo D como região de tipo I:


x
0 ≤ x ≤ 2, x ≤ y ≤ + 1.
2
Z 2 Z x +1
1 2 3x

21
ZZ Z
2 3
2 2
+ 1 − 8x3 dx = .

(x + y) dx dy = (x + y) dy dx =
D 0 x 3 0 2 6
[5] Determine o volume do sólido limitado por y − x + z = 1 e pelos planos coor-
denados.
Para ter uma visão geométrica do problema, fazemos o desenho do sólido, que é li-
mitado superiormente pelo plano que passa pelos pontos (0, 0, 1), (0, 1, 0), (−1, 0, 0)
e inferiormente pelo plano z = 0.

-1

Figura 8.25: O sólido e a região, respectivamente.

A integral dupla representa o volume do sólido limitado superiormente pelo grá-


fico da função z = f (x, y) = 1 + x − y e, inferiormente pela região D projeção de W
no plano xy.
W = {(x, y, z) ∈ R3 / (x, y) ∈ D, 0 ≤ z ≤ 1 + x − y},
onde D = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ x ≤ 0, 0 ≤ y ≤ x + 1} é região do tipo I. Seu
volume é:
ZZ Z 0 Z x+1 
V (W ) = (1 + x − y) dx dy = (1 + x − y) dy dx
D −1 0
0
1 1
Z
= (x + 1)2 dx = u.v.
2 −1 6
8.8. INTEGRAL DUPLA E VOLUME DE SÓLIDOS 221

[6] Determine o volume do sólido limitado por z = 2 x + 1, x = y 2 e x − y = 2.

5
5
4
4
3
3
2
2
1
1 -2
-2 0
4 0
0 0
4
2
2 2 2
0
0
4 4
-2 -2

Figura 8.26: O sólido do exemplo [6].

1 2

-1

Figura 8.27: A região D.

Observe que z = f (x, y) = 2 x + 1 e


ZZ
V (W ) = (2 x + 1) dx dy,
D

onde D é a projeção do sólido no plano xy. Considerando D como região do tipo


II, ela é definida por:

D = {(x, y) ∈ R2 / − 1 ≤ y ≤ 2, y 2 ≤ x ≤ y + 2}.

O volume é:
ZZ Z 2 Z y+2 
V (W ) = (2x + 1) dx dy = (2 x + 1) dx dy
D −1 y2
2
189
Z
= (5 y + 6 − y 4 ) dy = u.v.
−1 10

[7] Calcule o volume do sólido que está acima do plano xy e é limitado por
z = x2 + 4 y 2 e x2 + 4 y 2 = 4.
222 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

O gráfico de z = x2 + 4 y 2 é um parabolóide elítico e o de x2 + 4 y 2 = 4 é um cilindro


elítico.

y y
1 0.5 1
0.5 0
0 -0.5
-0.5 -1

3 3

2 2
z z

1 1

-2
0 0-2
-1 -1
0 0
x
1 x 1
2 2

Figura 8.28: O sólido do exemplo [7].

-1 1 2

-1

Figura 8.29: A região do exemplo [7].

Pela simetria do sólido, calculamos o volume no primeiro octante e multiplicamos


o resultado por 4.

1 2

Figura 8.30: A região D.


4 − x2
D é a projeção do cilindro no plano xy. D é do tipo I: 0 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤
2
8.8. INTEGRAL DUPLA E VOLUME DE SÓLIDOS 223

e,


ZZ Z 2 Z 4−x2 
2
2 2 2 2
V =4 (x + 4y ) dx dy = 4 (x + 4 y ) dy dx
D 0 0
3
2
(4 − x2 ) 2 
Z p
2
=2 x 4− x2 + dx = 4 π u.v.
0 3

[8] Calcule a área da região plana limitada pelas curvas y = x2 e y = 4 x − x2 .

Os pontos de interseção das curvas são: (0, 0) e (2, 4).

0.5 1.0 1.5 2.0

Figura 8.31: A região D.

D é do tipo I: 0 ≤ x ≤ 2 e x2 ≤ y ≤ 4x − x2 .

Z 2 Z 4x−x2  Z 2
8
ZZ
A= dx dy = dy dx = 2 (2x − x2 ) dx = u.a.
D 0 x2 0 3

[9] Calcule o volume do sólido obtido pela interseção dos cilindros: x2 + y 2 = a2 e


x2 + z 2 = a2 , a 6= 0.

O sólido é simétrico em relação à origem.


224 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Figura 8.32: Interseção dos cilindros.

Calculamos o volume da porção do sólido no primeiro octante e multiplicamos o


resultado por 8.

Figura 8.33: O sólido no primeiro octante.



Claramente D é região do tipo
√ I: 0 ≤ x ≤ a e 0 ≤ y ≤ a2 − x2 . A altura do sólido
W é dada por z = f (x, y) = a2 − x2 e:
ZZ p
V =8 a2 − x2 dx dy
D

Z a Z a2 −x2 p 
=8 a2 − x2 dy dx
0 0
a
16 a3
Z
=8 (a2 − x2 ) dx = .
0 3
8.8. INTEGRAL DUPLA E VOLUME DE SÓLIDOS 225

[10] Calcule o volume do sólido limitado por 3 x + 4 y = 10, z = x2 + y 2 e situado


acima do plano xy, no primeiro octante.

0 1 2 3
8

2
6

1
2

0
3
2
1
0 1 2 3

Figura 8.34: Sólido e região do exemplo [10], respectivamente.

5 10 − 4y
D é uma região do tipo II: 0 ≤ y ≤ e0≤x≤ ; logo:
2 3
ZZ Z 5 Z 10−4 y 
2 3
2 2 2 2
V = (x + y ) dx dy = (x + y ) dx dy
D 0 0
5
2
Z
2
=− [2 y − 5] [43 y 2 − 80 y + 100] dy
81 0
5
2 15625
Z
2
=− [86 y 3 − 375 y 2 + 600 y − 500] dy = u.v.
81 0 1296

[11] Calcule o volume do sólido limitado por z − x y = 0, z = 0, y = x2 e y 2 − x = 0.

Figura 8.35: Sólido do exemplo [11].


D é uma região do tipo I: 0 ≤ x ≤ 1 e x2 ≤ y ≤ x,
226 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA

Figura 8.36: Região D.

Logo:
Z 1 Z √
x  1
1 1
ZZ Z
V = x y dx dy = x y dy dx = [x2 − x5 ] dx = u.v.
D 0 x2 2 0 12

8.9 Exercícios
ZZ
1. Calcule f (x, y) dx dy, se:
R

(a) f (x, y) = x2 y 3 e R = [0, 1] × [0, 1]


(b) f (x, y) = (x + y)2 (x2 − y 2 ) e R = [0, 1] × [0, 1]
(c) f (x, y) = x2 + 4 y e R = [0, 2] × [0, 3]
x2
(d) f (x, y) = e R = [−1, 1] × [−1, 1]
y2 + 1
(e) f (x, y) = ex y (x2 + y 2 ) e R = [−1, 3] × [−2, 1]
(f) f (x, y) = x y − y 2 e R = [0, 5] × [0, 4]
(g) f (x, y) = 5 x y 2 e R = [1, 3] × [1, 4]
(h) f (x, y) = 2 x + c2 y e R = [−2, 2] × [−1, 1]
(i) f (x, y) = x2 − y 2 e R = [1, 2] × [−1, 1].

2. Calcule o volume do sólido limitado superiormente pelo gráfico da função e


inferiormente pelo retângulo dado:

p
(a) z = 9 − y 2 e R = [0, 4] × [0, 2]
(b) z = x2 + y 2 e R = [−2, 2] × [−3, 3]
(c) z = y 2 − x2 e R = [−1, 1] × [1, 3]
(d) z = 2 x + 3 y + 6 e R = [−1, 2] × [2, 3]
(e) z = a cos(2 θ) + b sen(2 α) e R = [0, π2 ] × [0, π2 ]
(f) z = x sen(y) e R = [0, π] × [0, π]
8.9. EXERCÍCIOS 227

3. Calcule as seguintes integrais mudando a ordem de integração:

Z 1 Z 1 
(a) tg(x2 ) dx dy
0 y
2 Z x
x2
Z 
(b) dy dx
1 1 y2

Z 1 Z 1−x2 p 
(c) 1 − y 2 dy dx
0 0
Z 1 Z 1 
(d) sen(y 2 ) dy dx
0 x
Z 1 Z y 
2
(e) ex dx dy
0 3y
Z 3 Z 9 
2
(f) y cos(x ) dx dy
0 y2

4. Calcule as seguintes integrais sabendo que D é limitada pelas curvas dadas:

ZZ
(a) y dx dy; y = 2 x2 − 2, y = x2 + x
D
ZZ
x2 y2
(b) x y dx dy; a2
+ b2
= 1, x, y ≥ 0
D
ZZ
(c) x dx dy; x − y 2 = 0, x = 1
Z ZD
dx dy
(d) ; y − x2 = 0, y = 1
x2 + 1
Z ZD
(e) (x2 + y 2 ) dx dy; y = 0, y = x − 1 e x = 1, x = 0
Z ZD
(f) ex+y dx dy; y = 0, y = x e x − 1 = 0
D
ZZ
(g) x cos(y) dx dy; y = 0, y = x2 e x = 1
Z ZD
(h) 4 y 3 dx dy; y = x − 6 e y 2 = x
D
ZZ
(i) (y 2 − x) dx dy; y 2 = x e x = 3 − 2 y 2
Z ZD
(j) (x2 + 2 y) dx dy; y = 2 x2 e y = x2 + 1
Z ZD
(k) (1 + 2 x) dx dy; x = y 2 e y + x = 2
D
ZZ
(l) dx dy; y 2 = x3 e y = x
D
228 CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO DUPLA
Capítulo 9

MUDANÇA DE COORDENADAS

9.1 Introdução
Seja D ∗ ⊂ R2 uma região elementar no plano uv e:
x, y : D ∗ −→ R,
onde x = x(u, v) e y = y(u, v) são funções contínuas e com derivadas parciais
contínuas num retângulo aberto R tal que D ∗ ⊂ R. Estas duas funções determinam
uma transformação do plano uv no plano xy. De fato:
T : D ∗ −→ R2 ,
onde T (u, v) = (x(u, v), y(u, v)). A transformação T é também denotada por:
(
x = x(u, v)
y = y(u, v), (u, v) ∈ D ∗ .

Denotemos a imagen de D ∗ por T como D = T (D ∗ ), contida no plano xy.

v y

T D
D*

u x

Figura 9.1: Mudança de coordenadas.

Exemplo 9.1.
Seja D ∗ = [0, 1] × [0, 2π] e T (r, t) = (r cos(t), r sen(t)), Determinemos D = T (D ∗ )
no plano xy. (
x = r cos(t)
y = r sen(t);

229
230 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

logo: x2 + y 2 = r 2 ≤ 1; então D = {(x, y) ∈ R2 /x2 + y 2 ≤ 1}.

t
y

T
D
L D*
1 x

1 r

Figura 9.2:

Definição 9.1. Uma transformação T é injetiva em D ∗ se T (u1 , v1 ) = T (u2 , v2 ) implica


em u1 = u2 e v1 = v2 , para todo (u1 , v1 ), (u2 , v2 ) ∈ D ∗ .

No exemplo 9.1, temos que:

D∗ = [0, 1] × [0, 2π] e T (r, t) = (r cos(t), r sen(t)).

A transformação T não é injetiva: De fato, T (0, t1 ) = T (0, t2 ) = (0, 0) para t1 6= t2 .


Observe que:

T (L) = (0, 0), onde L = {(0, t)/0 ≤ t ≤ 2 π}.

Mas se D ∗ = (0, 1] × (0, 2π], T é injetiva.

9.1.1 Jacobiano da Mudança de Coordenadas


Seja T : D ∗ −→ D uma transformação definida por:
(
x = x(u, v)
y = y(u, v), (u, v) ∈ D ∗ .

Considere a seguinte matriz:


∂x ∂x
 
 ∂u ∂v 
J =
 

 ∂y ∂y 
∂u ∂v
onde as derivadas parciais são calculadas nos pontos (u, v) ∈ D ∗ . J é chamada
matriz Jacobiana (de Jacobi) da transformação T .

Definição 9.2. O determinante da matriz J, dito jacobiano de T , é denotado e definido


por:
∂(x, y) ∂x ∂y ∂x ∂y
= det(J) = −
∂(u, v) ∂u ∂v ∂v ∂u
onde as derivadas parciais são calculadas nos pontos (u, v) ∈ D ∗ .
9.1. INTRODUÇÃO 231

A importância da matriz Jacobiana de uma transformação deverá ser estudada com


mais rigor, em disciplinas mais avançadas. Por enquanto citaremos a seguinte pro-
posição, sem prova:

Proposição 9.1. Se:


∂(x, y)
(u0 , v0 ) 6= 0, (u0 , v0 ) ∈ D ∗ ,
∂(u, v)
então existe uma vizinhança do ponto (u0 , v0 ) tal que a restrição de T a esta vizinhança é
injetiva.

Exemplo 9.2.
[1] No exemplo 9.1, temos que D ∗ = [0, 1] × [0, 2π] e T (r, t) = (r cos(t), r sen(t)).
Logo,
∂(x, y)
= r.
∂(r, t)
∂(x, y)
Note que para todo (r, t) ∈ L temos = 0.
∂(r, t)

[2] Seja o quadrado D ∗ = [0, 1] × [0, 1] e T (u, v) = (u + v, u − v).


(
x =u+v
y = u − v.

Se u = 0, então y = −x; se v = 0, então y = x, se u = 1; então y = 2 − x e se v = 1,


então y = x − 2. A região D = T (D ∗ ) é a região do plano xy limitada pelas curvas
y = x, y = −x, y = x − 2 e y = 2 − x. O jacobiano:
∂(x, y)
= −2.
∂(u, v)

1 2

-1

Figura 9.3: Regiões D ∗ e D, respectivamente.

[3] Seja D ∗ a região limitada pelas curvas u2 − v 2 = 1, u2 − v 2 = 9, u v = 1 e u v = 4


no primeiro quadrante, sendo T (u, v) = (u2 − v 2 , u v). Determinemos T (D ∗ ) = D,
fazendo: (
x = u2 − v 2
y = u v;
232 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

se u2 − v 2 = 1, então x = 1; se u2 − v 2 = 9, então x = 9, se u v = 1, então y = 1 e se


u v = 4, então y = 4

1 2 3 1 5 9

Figura 9.4: Regiões D ∗ e D, respectivamente.

∂(x, y)
= 2(u2 + v 2 ), que não se anula em D ∗ .
∂(u, v)

9.2 Mudança de Coordenadas e Integrais Duplas


O seguinte teorema nos ensina o comportamento das integrais duplas sob mudan-
ças de coordenadas.

Teorema 9.1. Sejam D e D ∗ regiões elementares no plano, T uma transformação de classe


C 1 e injetiva em D ∗ . Suponha que T (D ∗ ) = D. Então, para toda função integrável f sobre
D temos:

∂(x, y)
ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = f (u, v)
du dv
D D ∗ ∂(u, v)

∂(x, y)
onde é o valor absoluto do determinante Jacobiano e f (u, v) = f (x(u, v), y(u, v)).
∂(u, v)
Em particular a área de D é:

∂(x, y)
ZZ ZZ
A(D) = dx dy = du dv
D ∗ ∂(u, v)

D

É possível mostrar que o teorema anterior é ainda válido se T não é injetiva num
subconjunto de conteúdo nulo de D ∗ , como no caso de L, no exemplo 1.
Observe que podemos ir do plano uv ao plano xy e vice-versa, pois T é bijetiva.

9.3 Mudança Linear de Coordenadas


Consideremos a seguinte transformação:

x = x(u, v) = a1 u + b1 v
y = y(u, v) = a2 u + b2 v
9.3. MUDANÇA LINEAR DE COORDENADAS 233

onde a1 b2 − a2 b1 6= 0. Como:

∂(x, y)
∂(u, v) = |a1 b2 − a2 b1 |,

do teorema anterior, segue:

Corolário 9.2. Se f (u, v) = f (a1 u + b1 v, a2 u + b2 v), então:


ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = |a1 b2 − a2 b1 | f (u, v) du dv
D D∗

Em particular, a área de D é:

A(D) = |a1 b2 − a2 b1 | A(D ∗ )

Note que:
 b2 x − b 1 y
 u= u(x, y) =
a1 b2 − a2 b1



,


v = −a2 x + a1 y
v(x, y) =

a1 b2 − a2 b1
∂(u, v) ∂(x, y) −1

e que
= .
∂(x, y) ∂(u, v)

Exemplo 9.3.

[1] Seja D a região limitada pelas curvas y = 2 x, y = x, y = 2 x − 2 e y = x + 1,


calcule: ZZ
x y dx dy.
D

A presença dos termos 2 x − y e y − x sugerem a seguinte mudança:


(
u = 2x − y
v = y − x.
A nova região D ∗ é limitada pelas seguintes curvas: u = 0, u = −2, v = 0 e v = 1.
4

1
3

1 2 3 -2 1

Figura 9.5: Regiões D e D ∗ , respectivamente.


234 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

Note que:
(
x =u+v
y = u + 2 v,

∂(x, y)
logo, = 1 e f (u, v) = (u + v) (u + 2 v) = u2 + 3 u v + 2 v 2 . Então:
∂(u, v)
ZZ Z 1 Z 0 
x y dx dy = (u2 + 3 u v + 2 v 2 ) du dv = 1.
D 0 −2

[2] Seja D a região limitada pela curva y + x = 2 e pelos eixos coordenados, calcule:
ZZ
y−x
e x+y dx dy.
D

A presença dos termos x + y e x − y sugerem a seguinte mudança:


(
u =x+y
v = y − x.
D é limitada pelas curvas x = 0, y = 0 e x + y = 2; então, D ∗ é limitada pelas curvas
u = v, u = −v e u = 2, respectivamente.
2 2

1
1 2

1 2 -2

Figura 9.6: Regiões D ∗ e D, respectivamente.



∂(u, v)
= 2 e ∂(x, y) = 1 , f (u, v) = e uv ; então:


∂(x, y) ∂(u, v) 2

Z 2 Z u 
1 1
ZZ ZZ
y−x v v
e x+y dx dy = e u du dv = e u dv du
D 2 D ∗ 2 0 −u
Z 2 v=u
1 v
= u e u du
2 0 v=−u
e − e−1 2
Z
= u du
2 0
= e − e−1 .

[3] Determine a área da região D limitada pela curva fechada

(2 x − 4 y + 7)2 + (x − 5 y)2 = 16.


9.3. MUDANÇA LINEAR DE COORDENADAS 235

Considere a mudança:
(
u= 2x − 4y
v= x − 5 y.

D∗ é a região limitada pela curva (u + 7)2 + v 2 = 16 que é um círculo centrado em


(−7, 0) de raio 4.
1 6

-10 -5 1
2

- 14 - 12 - 10 -8 -6 -4 -2

-2

-4

-3 -6

Figura 9.7: Regiões D ∗ e D, respectivamente.



∂(u, v)
= 6; então ∂(x, y) = 1 e:


∂(x, y) ∂(u, v) 6
1 1 8
ZZ
A(D) = du dv = A(D ∗ ) = πu.a.
6 D∗ 6 3

[4] Seja D a região limitada pela curva y + x = 1 e pelos eixos coordenados, calcule:

x − y
ZZ
cos dx dy.
D x+y

A presença dos termos x + y e x − y sugerem a seguinte mudança:


(
u =x−y
v = x + y.

1 -1 1

Figura 9.8: Regiões D ∗ e D, respectivamente.



∂(x, y) 1
D∗ é a região limitada pelas seguintes curvas: u = v, u = −v e v = 1,
=
∂(u, v) 2
e
236 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

u
f (u, v) = cos ; então:
v

 
y−x 1 u
ZZ ZZ
cos dx dy = cos du dv
D x+y 2 D∗ v
1 1
Z Z v 
u
= cos du dv
2 0 −v v
Z 1 Z 1
1 
= v sen(1) − sen(−1) dv = sen(1) v dv
2 0 0
sen(1)
= .
2

[5] Seja D a região limitada pelas curvas y − 2 x = 2, y + 2 x = 2, y − 2 x = 1 e


y + 2 x = 1, calcule:
y + 2x
ZZ
2
dx dy.
D (y − 2 x)

A presença dos termos y + 2 x e y − 2 x sugerem a seguinte mudança:


(
u = y + 2x
v = y − 2 x.

D∗ é a região limitada pelas seguintes curvas: u = 1, u = 2, v = 1 e v = 2.

1
1

-1 -0.5 0.5 1 1 2

Figura 9.9: Regiões D ∗ e D, respectivamente.



∂(x, y) 1 u
∂(u, v) = 4 e f (u, v) = v 2 ; então:

y + 2x 1 u
ZZ ZZ
2
dx dy = 2
du dv
D (y − 2 x) 4 D∗ v
1 2
Z Z 2 
u
= 2
du dv
4 1 1 v
3
= .
16
9.4. MUDANÇA POLAR DE COORDENADAS 237

9.4 Mudança Polar de Coordenadas


Um ponto P = (x, y) em coordenadas retangulares tem coordenadas polares (r, θ)
onde r é a distância da origem a P e θ é o ângulo formado pelo eixo dos x e o
segmento de reta que liga a origem a P .

P’
y P

r
r

θ
x

Figura 9.10: Mudança polar de coordenadas.

A relação entre as coordenadas (x, y) e (r, θ) é dada por:

( p
r = x2 + y 2
y
θ = arctg x 6= 0.
x

Ou, equivalentemente:
(
x = r cos(θ)
y = r sen(θ).

Esta mudança é injetiva em:

D ∗ = {(r, θ)/r > 0, θ0 < θ < θ0 + 2π},

com θ0 =constante.

Note que a região circular D = {(x, y) /x2 + y 2 ≤ a2 } corresponde, em coordenadas


polares, à região retangular:

D ∗ = {(r, θ) /0 ≤ r ≤ a, 0 ≤ θ ≤ 2 π} = [0, a] × [0, 2 π].

Exemplo 9.4.
p
[1] A cardióide é uma curva de equação cartesiana x2 + y 2 = x2 + y 2 − y; em
coordenadas polares fica r = 1 − sen(θ), r ≥ 0.
238 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

-1 1

-1

-2

Figura 9.11: Cardióide.

[2] A lemniscata de Bernoulli é uma curva de equação cartesiana:

(x2 + y 2 )2 = a2 (x2 − y 2 );
em coordenadas polares fica r 2 = a2 cos(2θ).

Figura 9.12: Lemniscata.

[3] O cilindro circular reto de raio a, em coordenadas cartesianas é definido como o


seguinte conjunto:

C = {(x, y, z) ∈ R3 / x2 + y 2 = a2 , a ≥ 0};
em coordenadas polares:

C ∗ = {(r, θ, z) ∈ R3 /r = a, 0 ≤ θ ≤ 2 π}.

Calculemos o jacobiano da mudança de coordenadas polares:



∂(x, y)
∂(u, v) = r > 0.

Do teorema anterior, segue:

Corolário 9.3. Se f (r, θ) = f (r cos(θ), r sen(θ)), então:


ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = r f (r, θ) dr dθ
D D∗

Esta igualdade ainda é válida se D ∗ = {(r, θ)/r ≥ 0, θ0 ≤ θ ≤ θ0 + 2π}.


Em particular a área de D é:
ZZ ZZ
A(D) = dx dy = r dr dθ
D D∗
9.4. MUDANÇA POLAR DE COORDENADAS 239

9.4.1 Regiões Limitadas por Círculos

Seja a > 0. A região D, limitada pelo círculo x2 + y 2 = a2 , em coordenadas polares


é dada por:

D∗ = {(r, θ) ∈ R2 /0 ≤ r ≤ a, 0 ≤ θ ≤ 2 π}.

Figura 9.13: A região D.

Neste caso:
ZZ Z 2π Z a 
f (x, y) dx dy = r f (r, θ) dr dθ
D 0 0

A região D, limitada pelo círculo (x − a)2 + y 2 ≤ a2 , em coordenadas polares é:


π π
D ∗ = {(r, θ) ∈ R2 /0 ≤ r ≤ 2 a cos(θ), − ≤ θ ≤ }.
2 2

Figura 9.14: A região D.

Neste caso:
π
ZZ Z
2
Z 2 acos(θ) 
f (x, y) dx dy = r f (r, θ) dr dθ
D −π
2
0

A região D, limitada pelo círculo x2 + (y − a)2 ≤ a2 , em coordenadas polares é:

D∗ = {(r, θ) ∈ R2 /0 ≤ r ≤ 2 a sen(θ), 0 ≤ θ ≤ π}.


240 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

Figura 9.15: A região D.

Neste caso:
ZZ Z π Z 2a sen(θ) 
f (x, y) dx dy = r f (r, θ) dr dθ
D 0 0

Exemplo 9.5.
ZZ
[1] Calcule (x2 + y 2 ) dx dy, onde D é a região limitada pelas curvas:
D

2 2 2 2 3x
x + y = 1, x + y = 4, y=x e y= ,
3
no primeiro quadrante.

1 2

Figura 9.16: A região D.

Usando coordenadas polares, a nova região D ∗ no plano rθ é determinada por:


π π
D∗ = {(r, θ) /1 ≤ r ≤ 2, ≤ θ ≤ }.
6 4
Como x2 + y 2 = r 2 , temos:
π Z 2 

ZZ ZZ Z
4
2 2 3 3
(x + y ) dx dy = r dr dθ = r dr dθ = .
D D∗ π
1 16
6

ZZ
[2] Calcule ln(x2 + y 2 ) dx dy, onde D é a região limitada pelas curvas:
D

x2 + y 2 = a2 e x2 + y 2 = b2 , (0 < a < b).


9.4. MUDANÇA POLAR DE COORDENADAS 241

Usando coordenadas polares temos que D ∗ está determinada por: a ≤ r ≤ b e


0 ≤ θ ≤ 2π. Por outro lado, ln(x2 + y 2 ) = 2 ln(r),
ZZ ZZ
2 2
ln(x + y ) dx dy = 2 r ln(r) dr dθ
D D∗
Z b
= 4 π r ln(r) dr
a
b
2

= π (r (2 ln(r) − 1))
a
= π (2 b ln(b) − 2 a ln(a) + a2 − b2 ).
2 2

[3] Determine o volume do sólido situado acima do plano xy e limitado pelos grá-
ficos de z = x2 + y 2 e x2 + y 2 = 2 y.
O gráfico de z = x2 + y 2 é um parabolóide centrado na origem e o de x2 + y 2 = 2y
é um cilindro circular reto centrado em (0, 1, 0) e de raio 1, pois, podemos escrever
x2 + y 2 − 2 y = x2 + (y − 1)2 − 1.
2
x
0.25 0
1
0
0.5
-1 0.75
-2 1
4
3
3
2
2
z
1 1
0
-2 02
-1
1.5
0 1
1 0.5
y
2 0

Figura 9.17: O sólido do exemplo [3].

Logo D = {(x, y) ∈ R2 /x2 + (y − 1)2 ≤ 1}, em coordenadas polares é:

D ∗ = {(r, θ) ∈ R2 /0 ≤ r ≤ 2 sen(θ), 0 ≤ θ ≤ π}.


ZZ
O sólido W é limitado superiormente pelo parabolóide. V = (x2 + y 2 ) dx dy.
D
Utilizando coordenadas polares temos x2 + y 2 = r 2 e:

ZZ ZZ Z π Z 2sen(θ)  Z π
2 2 3 3
V = (x + y ) dx dy = r dr dθ = r dr dθ = 4 sen4 (θ) dθ
D D∗ 0 0 0
Z π 
3 cos(4θ sen(2θ
=4 + − dθ
0 8 8 2
3 θ π

3 3
= −sen (θ) cos(θ) − cos(θ) sen(θ) +
2 2 0

= u.v.
2
242 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

[4] Calcule o volume do sólido limitado externamente por x2 + y 2 + z 2 = 25 e


internamente por x2 + y 2 = 9.
y
3
2
1
0
4

z 2

0
0
1
2
3
4
x 5

Figura 9.18: O sólido do exemplo [4].

3 5

Figura 9.19: A região D.

Pela simetria do sólido, calculamos o volume no primeiro octante e multiplicamos


o resultado por 8.
ZZ p
V =8 25 − x2 − y 2 dx dy,
D
onde D é a projeção do sólido no plano xy. Usando coordenadas polares obtemos
a nova região D ∗ definida por:
π
D ∗ = {(r, θ) / 3 ≤ r ≤ 5, 0 ≤ θ ≤ }
2
p √
e 25 − x2 − y 2 = 25 − r 2 :

π Z 5 
256π
ZZ p Z
2 p
V =8 2 2
25 − x − y dx dy = 8 r 25 − r 2 dr dθ = u.v.
D 0 3 3

[5] Calcule o volume do sólido limitado pelo elipsóide:


9.4. MUDANÇA POLAR DE COORDENADAS 243

x2 y 2 z 2
+ 2 + 2 = 1;
a2 b c
onde a, b, c 6= 0.

Pela simetria do sólido calculamos o volume relativo ao primeiro octante; logo:

ZZ s  2
y2

x
V = 8c 1 − 2 + 2 dx dy.
D a b

x2 y 2
A região D é limitada pela porção de elipse 2 + 2 = 1 no primeiro quadrante.
a b
Usemos primeiramente a seguinte mudança:
(
x = au
y = b v;

o determinante Jacobiano da mudança é a b e D ∗ é limitada por u2 + v 2 = 1. Temos:

ZZ s  2
y2

x
ZZ p
V = 8c 1 − 2 + 2 dx dy = 8 a b c 1 − u2 − v 2 du dv.
D a b D ∗

Agora, usamos coordenadas polares:


(
u = r cos(θ)
v = r sen(θ).
√ √
O determinante Jacobiano é r; 1 − u2 − v 2 = 1 − r 2 e a nova região D ∗∗ é defi-
π
nida por 0 ≤ r ≤ 1 e 0 ≤ θ ≤ :
2
4abcπ
ZZ p
V = 8abc r 1 − r 2 dr dθ = u.v.
D ∗∗ 3

4 π a3
Em particular, se a = b = c temos uma esfera de raio a e V = u.v.
3
Z +∞
2
[6] Calcule e−x dx.
0

Esta integral é muito utilizada em Estatística. Seja R = [−a, a] × [−a, a]. Então:

ZZ Z a Z a  Z a  Z a 
−(x2 +y 2 ) −x2 −y 2 −x2 −y 2
e dx dy = e e dy dx = e dx e dy .
R −a −a −a −a

2 +y 2 )
O gráfico de f (x, y) = e−(x é:
244 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

Figura 9.20:
Z a Z a
2 2
Se denotamos por L(a) = e−u du = 2 e−u du, temos:
−a 0
ZZ
2 2
L2 (a) = e−(x +y ) dx dy.
R

Sejam D e D1 regiões elementares tais que D ⊂ R ⊂ D1 onde D é a região limitada


pelo círculo inscrito em R e D1 é a região limitada pelo círculo circunscrito a R:

R D

D1

Figura 9.21:

2 2 2 2
Como f (x, y) = e−(x +y ) é contínua em D1 e e−(x +y ) > 0, para todo x, y,
ZZ ZZ
−(x2 +y 2 ) 2 2 2
e dx dy ≤ L (a) ≤ e−(x +y ) dx dy.
D D1

Usando coordenadas polares, D é definida por 0 ≤ r ≤ a e 0 ≤ θ ≤ 2π, D1 é


√ 2 2 2
definida por 0 ≤ r ≤ 2 a e 0 ≤ θ ≤ 2π; e−(x +y ) = e−r e:
Z 2π Z a 
−r 2 2
re dr dθ = π (1 − e−a );
0 0

então,
q q
π (1 − e−a2 ) ≤ L(a) ≤ π (1 − e−2a2 ).
Z a Z +∞
−u2 2
Como lim e du = e−u du, temos:
a→+∞ 0 0
9.4. MUDANÇA POLAR DE COORDENADAS 245

+∞ √
π
Z
−u2
e du = .
0 2

[7] Se D = {(x, y) ∈ R2 /1 ≤ (x − y)2 + (x + y)2 ≤ 4, y ≤ 0, x + y ≥ 0}, calcule:


x+y
e x−y
ZZ
2
dx dy.
D (x − y)

Usamos mudança linear:


(
u= x−y
v= x + y.

Logo, a nova região D ∗ é limitada pelas curvas u2 + v 2 = 1, u2 + v 2 = 4, v ≤ u e


0 ≤ v:

1 2

Figura 9.22: Região D.

∂(u, v) ∂(x, y) 1
= 2 então = e
∂(x, y) ∂(u, v) 2
x+y v
e x−y 1 eu
ZZ ZZ
2
dx dy = 2
du dv.
D (x − y) 2 D∗ u

Usando coordenadas polares obtemos a região D ∗∗ definida por: 1 ≤ r ≤ 2 e


π
0≤θ≤ :
4
v
1 eu 1 r etg(θ) ln(2)
ZZ ZZ
2
du dv = 2 2
dr dθ = (e − 1).
2 D∗ u 2 D∗∗ r cos (θ) 2

9.4.2 Aplicação
Seja D região do tipo II, limitada por curvas de equações (em forma polar): r = g(θ)
e r = h(θ) e definida por:

D = {(r, θ)/g(θ) ≤ r ≤ h(θ), θ1 ≤ θ ≤ θ2 },

onde g, h : [θ1 , θ2 ] −→ R são funções contínuas tais que 0 ≤ g(θ) ≤ h(θ).


246 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

θ y h

θ
2
D
D*

θ1 θ2 g
θ1
r x

Figura 9.23:

Então:
ZZ Z θ2 Z h(θ2 ) 
f (x, y) dx dy = r f (r, θ) dr dθ
D θ1 g(θ1 )

Em particular, a área de D é:

θ2  
1
ZZ Z
2 2
A(D) = dx dy = (h(θ)) − (g(θ)) dθ
D 2 θ1

Exemplo 9.6.
p
[1] Calcule o volume do sólido limitado pelo cone z = x2 + y 2 e pelo cilindro
r = 4 sen(θ), no primeiro octante.
Usando coordenadas polares temos que o cone escreve-se z = r; no plano r θ o
π
cilindro projeta-se no círculo r = 4 sen(θ); logo 0 ≤ r ≤ 4 sen(θ) e 0 ≤ θ ≤ .
2
4 y
3 4
1 2
0
4

3
3

2 z 2

1
1
0
0
0.5
1
1.5
-2 -1 1 2 x 2

Figura 9.24:

π Z 4 sen(θ) 
128
ZZ Z
2
2 2
V = r dr dθ = r dr dθ = u.v.
D∗ 0 0 9

[2] Calcule a área da região limitada pelo interior do círculo r = 4 sen(θ) e pelo
exterior do círculo r = 2.
9.4. MUDANÇA POLAR DE COORDENADAS 247

-2 2

-2

Figura 9.25:


Os círculos se intersectam em: θ = π
6 eθ= 6 e:

1
Z
6 2π √ 
A(D) = (16 sen2 (θ) − 4) dθ = + 2 3 u.a.
2 π 3
6

[3] Calcule a área da região limitada por r = 2(1 + sen(θ)).


4

-2 -1 1 2

Figura 9.26:

0 ≤ θ ≤ 2 π. Logo:
Z 2π
A(D) = 2 (1 + sen(θ))2 dθ = 6πu.a.
0

[4] Calcule a área da região limitada por r = sen(3θ).

Figura 9.27:
248 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

0 ≤ θ ≤ 2 π. Logo:

1 π
Z
A(D) = sen2 (3θ) dθ = u.a.
2 0 2

9.5 Outras Aplicações da Integral Dupla


Como em uma variável, outras aplicações, além do cálculo de volumes, podem
ser definidas através de integrais duplas, tais como, massa total, centro de massa e
momento de inércia.

9.5.1 Massa Total


Suponha que uma lâmina fina tem a forma de uma região elementar D e conside-
remos que a massa está distribuida sobre D com densidade conhecida, isto é, existe
uma função z = f (x, y) > 0 em D que representa a massa por unidade de área em
cada ponto (x, y) ∈ D. Se a lâmina é feita de material homogêneo, a densidade é
constante. Neste caso a massa total da lâmina é o produto da densidade pela área
da lâmina. Quando a densidade f varia de ponto a ponto em D e f é uma função
integrável sobre D, a massa total M (D) de D é dada por:
ZZ
M (D) = f (x, y) dx dy
D

9.5.2 Momento de Massa


O momento de massa de uma partícula em torno de um eixo é o produto de sua
massa pela distância (na perpendicular) ao eixo. Então, os momentos de massa da
lâmina D em relação ao eixo dos x e dos y são respectivamente:
ZZ ZZ
Mx = y f (x, y) dx dy, My = x f (x, y) dx dy
D D

y (x,y) D

Figura 9.28:

9.5.3 Centro de Massa


O centro de massa da lâmina é definido por (x, y), onde:
My Mx
x= , y=
M (D) M (D)
9.5. OUTRAS APLICAÇÕES DA INTEGRAL DUPLA 249

Fisicamente (x, y) é o ponto em que a massa total da lâmina poderia estar concen-
trada sem alterar seu momento em relação a qualquer dos eixos. Se f (x, y) = k,
(k > 0) em todo D, (x, y) é chamado centróide de D. Neste caso o centro de massa
é o centro geométrico da região D.

Exemplo 9.7.

[1] Calcule o centro de massa do retângulo [0, 1] × [0, 1] se a densidade é dada pela
função: f (x, y) = ex+y .
A massa total de D = [0, 1] × [0, 1] é:
Z 1 Z 1 
M (D) = ex+y dx dy = e2 − 2e + 1.
0 0

Os momentos de massa respectivos são:


Z 1 Z 1  Z 1 Z 1 
x+y x+y
Mx = ye dx dy = e − 1 e My = xe dx dy = e − 1
0 0 0 0

1 1
e o centro de massa de D é ( , ).
e−1 e−1
[2] Determine o centro de massa da região limitada por um semicírculo D de raio
a centrado na origem, sabendo que sua densidade em cada ponto é proporcional à
distância do ponto à origem.

Figura 9.29:
p
f (x, y) = k x2 + y 2 . Calculamos a massa total usando
p coordenadas polares. A
nova região D ∗ é definida por: 0 ≤ r ≤ a e 0 ≤ θ ≤ π; x2 + y 2 = r:
Z π Z a
k π a3

M (D) = k r 2 dr dθ = .
0 0 3

Os momentos de massa respectivos são:


Z a Z π Z a Z π
a4
 
3 3
Mx = r cos(θ) dθ dr = 0 e My = r sen(θ) dθ dr = ;
0 0 0 0 2

3a
o centro de massa de D é (0, ).
2kπ
250 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

[3] Determine o centróide da região limitada pelas curvas y = x2 e y = 4 x − x2 .

1 2

Figura 9.30:

Neste caso f (x, y) = 1 para todo (x, y) ∈ D, onde:

D = {(x, y) ∈ R2 /0 ≤ x ≤ 2, x2 ≤ y ≤ 4 x − x2 }

8
e M (D) = A(D) = . Esta área já foi calculada anteriormente.
3
Z 2 Z 4x−x2  Z 2 Z 4x−x2 
16 8
Mx = y dy dx = e My = x dy dx = ;
0 x2 3 0 x2 3

o centróide de D é (2, 1).

[4] Determine o centro de massa da região limitada pelas curvas y = x + x2 , y = 0


y
e x = 2 se a densidade em cada ponto é f (x, y) = 1+x .

Z 2 Z x(x+1)
1 2 3

y 10
Z
M (D) = dy dx = (x + x2 ) dx = ,
0 0 1+x 2 0 3

Z 2 Z x(x+1)
y2 1 2 4

412
Z
Mx = dy dx = (x + x3 ) dx = ,
0 0 1+x 2 0 45

Z 2 Z x(x+1)
1 2 5

xy 26
Z
My = dy dx = (x + 2 x4 + x3 ) dx = ;
0 0 1+x 3 0 5

39 206
o centro de massa de D é ( , ).
25 75

9.5.4 Momento de Inércia

Sejam L uma reta no plano, D uma lâmina como antes e δ(x, y) = d((x, y), L), onde
d é a distância no plano e (x, y) ∈ D.
9.5. OUTRAS APLICAÇÕES DA INTEGRAL DUPLA 251

(x,y) L

Figura 9.31:

Se f (x, y) é a densidade em cada ponto de D, o momento de inércia da lâmina em


relação à reta L é:
ZZ
IL = δ2 (x, y) f (x, y) dx dy
D

Em particular, se L é o eixo dos x:


ZZ
Ix = y 2 f (x, y) dx dy
D

Se L é o eixo dos y:
ZZ
Iy = x2 f (x, y) dx dy
D

O momento de inércia polar em relação à origem é:


ZZ
I0 = Ix + Iy = (x2 + y 2 ) f (x, y) dx dy
D

O momento de inércia de um corpo em relação a um eixo é sua capacidade de


resistir à aceleração angular em torno desse eixo.

Exemplo 9.8.

[1] Determine o momento de inércia polar da região limitada pelas curvas y = ex ,


x = 1, y = 0 e x = 0, se a densidade em cada ponto é f (x, y) = x y.
Z 1 Z ex 
1
ZZ
3
Ix = xy dx dy = x y dy dx = (3 e4 + 1),
3
D 0 0 64
Z 1 Z ex 
1
ZZ
Iy = yx3 dx dy = y x3 dy dx = (e2 + 3);
D 0 0 16

logo, o momento de inércia polar é:


1
I0 = Ix + Iy = (3 e4 + 4 e2 + 13).
64

[2] Uma lâmina fina com densidade constante k é limitada por x2 + y 2 = a2 e


x2 + y 2 = b2 , (0 < a < b). Calcule o momento de inércia polar da lâmina.
252 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

Usando coordenadas polares, a nova região é definida por: a ≤ r ≤ b e 0 ≤ θ ≤ 2 π


e o momento de inércia polar é:
Z 2 π Z b
k (b4 − a4 )π

3
I0 = k r dr dθ = .
0 a 2

9.6 Exercícios
1. Determine o volume dos seguintes sólidos:

(a) Limitado superiormente por z = x2 + y 2 e inferiormente pela região


limitada por y = x2 e x = y 2 .
(b) Limitado superiormente por z = 3 x2 + y 2 e inferiormente pela região
limitada por y = x e x = y 2 − y.
(c) Limitado por y 2 + z 2 = 4 , x = 2 y, x = 0 e z = 0, no primeiro octante.
(d) Limitado por z = x2 + y 2 + 4 , x = 0, y = 0, z = 0 e x + y = 1.
(e) Limitado por x2 + y 2 = 1 , y = z, x = 0 e z = 0, no primeiro octante.

2. Calcule a área da região limitada pelo eixo dos y e as curvas y = sen(x) e


y = cos(x).

3. Calcule a área das regiões limitadas pelas seguintes curvas:

5
(a) y = x2 , y = 2x + 4
(b) y = −x2 − 4, y = −8
(c) y = 5 − x2 , y = x + 3
(d) x = y 2 , y = x + 3, y = −2, y = 3
(e) y 3 = x, y = x
(f) y = −x2 − 1, y = −2x − 4
(g) x = y 2 + 1, y + x = 7
(h) y = 4 − x2 , y = x2 − 14

4. Determine o centro de massa da lâmina plana R, no plano xy e densidade


dada f :

(a) R é limitado por x2 + y 2 = 1 no primeiro quadrante e f (x, y) = x y


(b) R é limitado por y = x e y = x2 e f (x, y) = x2 + y 2

5. Definimos o valor médio de f sobre a região D por:


1
ZZ
VM = f (x, y) dx dy,
A D

onde A é a área de D. Calcule VM se:


9.6. EXERCÍCIOS 253

(a) f (x, y) = x2 , e D do retângulo de vértices (0, 0), (4, 0), (4, 2) e (0, 2)
(b) f (x, y) = x2 y 2 e D do retângulo de vértices (0, 0), (4, 0), (4, 2) e (0, 2)
(c) f (x, y) = x2 y 2 e D do triângulo de vértices (0, 0), (4, 0), e (0, 2)
(d) f (x, y) = x2 y 2 e D do triângulo de vértices (−1, 0), (1, 0), e (0, 1)

Mudanças de Variáveis
1. Utilizando a mudança de variáveis: x = u + v e y = u − v, calcule:
Z 1Z 1 
2 2

x + y dx dy.
0 0

2. Utilizando a mudança de variáveis: x + y = u e x − y = v, calcule:


ZZ
2
x + y (x − y)2 dx dy,
D
onde D é limitado pelo quadrado de vértices (1, 0), (2, 1) e (0, 1).
3. Utilizando a mudança de variáveis: u = x − y e v = x + y, calcule:
ZZ
x2 − y 2 sen2 (x + y) dx dy,

D
onde D = {(x, y)/ − π ≤ x + y ≤ π, −π ≤ x − y ≤ π}.
4. Utilizando coordenadas polares, calcule as seguintes integrais duplas:
ZZ
2 2
(a) ex +y dx dy, sendo D = {(x, y)/x2 + y 2 ≤ 1}
Z ZD
(b) ln(x2 + y 2 ) dx dy, sendo D = {(x, y)/x ≥ 0, y ≥ 0, a2 ≤ x2 + y 2 ≤
D
b2 }
p
sen( x2 + y 2 )
ZZ
π2
(c) p dx dy, sendo D limitadas por x2 +y 2 = 4 e x2 +y 2 =
D x2 + y 2
π2

5. Calcule a área da região limitada pelas seguintes curvas: x = 4 − y 2 e x + 2 y −


4 = 0.
6. Utilizando coordenadas polares, calcule a área da região limitada pelas cur-
vas:
2cos(θ)
(a) r = 1 e r = √
3
(fora a circunferência r = 1).
(b) r = 2 (1 + cos(θ)) e r = 2 cos(θ).
(c) r = 2 (1 − cos(θ)) e r = 2.
ZZ
7. Calcule sen(x2 + y 2 ) dx dy, sendo D o disco unitário centrado na origem.
D

8. Sendo dadas a parábola y 2 = x + 1 e a reta x + y = 1, calcule o momento de


inércia em relação a cada eixo e o momento de inércia polar.
254 CAPÍTULO 9. MUDANÇA DE COORDENADAS

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