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31 de março: O Golpe Militar

Introdução:

O golpe liderado pelos militares, que depôs o presidente João Goulart, representou a
reação dos setores conservadores da sociedade brasileira à manutenção da política
populista no país.

A situação internacional

O "populismo" apresentava sinais de crise já há alguns anos. A política adotada por


Getúlio Vargas, de manipular e utilizar as massas trabalhadores para a sustentação do
poder e ao mesmo tempo desenvolver a economia nacional, fortalecendo a camada
empresarial urbana, desgastara-se desde o final da 2° Guerra Mundial.
A partir de 1945 os EUA recuperaram sua hegemonia mundial. Abalada pela crise de
1929, a economia do grande país capitalista aproveitara-se da Grande Guerra para se
recompor e voltava a ditar as regras para o mercado mundial. Os países europeus
necessitavam recuperarem-se fisicamente e economicamente e, em grande parte,
dependiam dos norte americanos. Do ponto de vista político, desenvolvia-se a Doutrina
Trumam, que enxergava na URSS o grande inimigo do desenvolvimento capitalista e
dos valores da democracia e foi utilizada para atrair diversos países para a formação de
uma aliança anti-comunista, sob comando norte-americano.
A recuperação da economia mundial comandada pelos EUA, privilegiava o capital
monopolista das nações desenvolvidas e a concentração de renda, amparada no interesse
em impedir a expansão do socialismo na Europa e mesmo na Ásia. Esse comportamento
deve reflexos diretos e imediatos sobre os países latino-americanos, muitos dos quais
viviam uma fase de desenvolvimento industrial, como o Brasil, e que não se
encaixavam nas necessidades da nova ordem pós guerra.
Em um primeiro momento, os países latino-americanos ainda mantiveram uma certa
estabilidade financeira, devido ao aumento das exportações de produtos primários para
os países que se recuperavam da Guerra, porém essa situação esgotou-se por volta de
1953. A queda dos preços teve grande impacto no setor agrário, que mantinha a
estrutura latifundiária e monocultura tradicional e que não foi alterada pelos
governantes populistas. A crise no setor primário teve diversas consequências: maior
empobrecimento das camadas populares do campo e diminuição da capacidade de
importação, atingindo as camadas médias urbanas e principalmente, a capacidade da
industria nacional, afetando diretamente a política econômica do governo, baseada no
"industrialismo nacionalista". Soma-se a essa situação o aumento da dívida externa e da
inflação.
Populismo em crise

A ascensão de Jango a presidencia foi um dos momentos mais claros da crise do


populismo.
Em agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciava, após sete meses de
governo. Segundo a Constituição o substituto imediato era o Vice- presidente, no caso,
João Goulart.
João Goulart ou Jango, foi o pivô da crise final do populismo. Latifundiário do Rio
Grande do Sul, ascendeu à política nacional pelas mãos de Vargas, de quem era
considerado continuador. Foi ministro do trabalho de Vargas, Vice-presidente de JK e
era, em 1961, Vice-presidente da República, representando a política populista do PTB.
Visto como esquerdista e portanto uma ameaça, pelos setores mais conservadores, teve
sua posse barrada pelas pressões políticas comandadas pelo grande partido de oposição
da época, a UDN e pela cúpula militar - general Odylio Denys, Almirante Silvio Heck e
brigadeiro Grum Moss. Tal iniciativa era defendida abertamente por setores da imprensa
como o jornal O Estado de São Paulo que no dia 29 de agosto afirmava: " ...a solução
moral é a desistência espontânea do sr. João Goulart ou então a reforma da Constituição,
que retira-se ao Vice-presidente da República o direito de suceder ao presidente..." (1).
Ao mesmo tempo formou-se a partir do Rio Grande do Sul, a " Rede da Legalidade"
defendendo o cumprimento da Constituição, garantindo a posse de Jango.
A saída para tal crise passou longe de uma solução para o problema, enveredando para
uma situação conciliatória com a aprovação de uma emenda à Constiuição que instituiu
o parlamentarismo no país. Dessa maneira a Constituição foi cumprida com a posse do
Vice-presidente e os setores conservadores tiveram seu desejo atendido, pois Jango não
seria efetivamente governante do país.

O Governo Jango
No dia 2 de setembro foi aprovada a Emenda Constitucional, previamente discutida e
aceita por Jango, em Paris. Os ministros militares aceitavam também a situação e o
novo presidente tomou posse em Brasília no dia 7 de setembro.
De setembro de 61 a janeiro de 63 o Brasil viveu sob o sistema parlamentarista.
Adotado como medida conciliatória frente a crise provocada pela renúncia de Jânio
Quadros, esse sistema mostrou-se ineficiente naquele momento, mesmo porque, os
principais líderes políticos e sindicais haviam sido formados dentro da concepção de
uma estrutura centralizada, onde o presidente contava efetivamente com poder. No
modelo adotado cabia ao presidente a indicação do primeiro ministro e a formação do
Gabinete ( conjunto de ministros), que deveria ser aprovado por 2/3 do Congresso
Nacional. O primeiro Gabinete foi liderado por Tancredo Neves e reuniu representantes
dos principais partidos políticos. Depois desse, mais dois gabinetes foram formadaos em
meio a uma crise política que praticamente paralisava a administração pública. Ao
mesmo tempo em que procurava mostrar que o parlamentarismo não servia, Jango
procurava contornar a grande rejeição ao seu nome no meio militar. Adotou uma
política mais conciliatória, chegando a viajar aos EUA, com o intuito de melhorar as
relações com aquele país e ao mesmo tempo obter ajuda econômica. O discurso
moderado e a paralisia política abriram caminho para a campanha para a antecipação do
plebiscito, marcado para 1965. Os setores moderados do PSD, e mesmo da UDN
acabaram apoiando a antecipação, que contou ainda com a concordância dos militares.

O Governo de Jango

Os primeiros meses de governo foram acompanhados de grande expectativa.


Destacavam-se como ministro Celso Furtado que, no ano anterior havia elaborado um
plano de combate a inflação e de recuperação do crescimento, que deveria ser colocado
em prática durante os 3 anos seguintes. O Plano Trienal considerava que a inflação era a
grande responsável pela estagnação do crescimento, assim como pelo agravamento das
tensões sociais. Nesse sentido, o Plano fazia uma análise de toda a conjuntura e
salientava a necessidade de um conjunto de reformas que pudessem promover o
crescimento e ao mesmo tempo diminuir as contradições sociais.
No entanto, os governantes julgavam que a execução do Plano dependeria de apoio
internacional, do governo norte-americano, do FMI e mesmo da URSS.
As tentativas de negociação com os EUA e com o FMI podem ser consideradas como
um fracasso. O pequeno empréstimo vindo dos EUA estava vinculado aos efeitos das
medidas antiinflacionárias; a desconfiança em relação ao Brasil era muito grande.
Os resultados escassos da política externa foram responsáveis pelo aumento das críticas
ao governo, tanto da "esquerda" como da direita. A mudança no ministério, inclusive
com a saída de Celso Furtado.
Enquanto a inflação caminhava, Jango perdia suas bases de sustentação política, tanto
de setores moderados do PTB, seu próprio partido, como do PSD ( que aproximava-se
do conservadorismo da UDN), assim como da ala esquerda do PTB e das organizações
sindicais.
A primeira manifestação política que deiuxou evidente a fraqueza do governo foi a
Revolta dos Sargentos (12/9/63), quando cerca de 600 soldados tomam prédios públicos
em Brasilia, quebrando a hierarquia com o pretexto de contestarem o direito a
elegibilidade.
Enfraquecido pela crise econômica e pelas pressões internas e externas, Jango voltou-se
para os grupos mais a esquerda, aliando-se a Leonel Brizola e Miguel Arraes e busdava
apoio nos sindicatos e organizações estudantis. Em contrapartida, os setores
conservadores organizavam-se através do IBAD (Instituto Brasuileiro de Ação
Democrática) financiada pela Embaixada dos EUA, e através do IPES, organização do
empresariado paulista
No dia 13 de março realizou-se o comício da Central do Brasil, onde Jango proclamava
as Reformas de Base, decretando o início do processo de reforma agrária. A reação
conservadora veio seis dias depois em São Paulo, com a Marcha com Deus e a família
pela liberdade, organizada pela Igreja Católica, reunindo as camadas médias
A postura do Presidente da República frente o "Levante dos Marinheiros" do dia 25
pode ser considerada como a gota d´agua para a organização concreta da conspiração
golpista, tendo como articuladores o Marechal Castelo Branco, o General Mourão Filho
e o General Kruel, além dos governadores de Minas Gerais, Magalhães Pinto e do Rio
de Janeiro, Carlos Lacerda. Também os governadores de São Paulo e Rio Grande do Sul
apoiaram o golpe.
No dia 30 de março as tropas do General Mourão Filho começam a se deslocar para o
Rio de janeiro. É o início do movimento militar, já previsto pelos mais variados setores
da sociedade. Jango enviou tropas do Rio de janeiro para conter os militares mineiros,
porém, tanto o 1° como o 2° exército aderiram ao movimento.
Em 1° de abril Jango deslocou-se para o Rio Grande do Sul e desistiu de organizar um
movimento de resistência, apesar das pressões de Brizola.
Em Brasília Auro de oura Andrade declarou vago o cargo de presidente e seguiu a
prática Constitucional, empossando Ranieri Mazzili, que era o presidente da Câmara do
Deputados. O governo norte americano foi o primeiro a reconhecer a nova situação.
Consolidava-se a reação conservadora, comandada pelos militares, que eliminavam
definitivamente o populismo, abalado há muito tempo por suas próprias contradições
internas

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