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16 15 Janeiro 2009

FERNANDO CORREIA MARQUES


“Eu tenho dois
amores: música
e futebol”
Para além dos filhos (e das mulheres, claro!) o músico revela
que o futebol, que praticou quando jovem, e a música,
continuam a ser os dois grandes amores da sua vida. Sem
papas na língua, Fernando Correia Marques concedeu-nos
esta entrevista na qual, com desassombro, fala da sua carreira
recheada de êxitos e conta-nos peripécias da sua vida.

F
ernando António Correia Marques Passou a infância e grande parte da africanada que existe no mercado desde 79, (UR Amadora/também treinador), fui
de Matos nasceu em Coimbra, a adolescência em África, em Lourenço que toda ou quase toda a minha música tem secretário técnico das selecções nacionais
18 de Outubro de 1954. É filho do Marques, agora Maputo (Moçambique). influências africanas. Não quero dizer que seniores (A, Sub21, Militar) muito embora
Prof. Marques de Matos (o Ainda guarda recordações dessa vivência e num ou outro não fuja e vá experimentar também ligado ao projecto dos juniores.
homem das leis do futebol) e de sente alguma saudade dos cheiros e outros sons, como foi em 1981, com o “Hey Afastei-me tendo pedido a minha demissão
Maria de Lurdes Pereira Correia. Apenas sabores africanos? Mano”, em 83 com o “Carlitos”, mas desde no ano de 1998 (1 de Abril) por não
com 3 anos foi para Lourenço Marques, Claro que sim… só quem não viveu , sempre que a maioria da minha música sofre concordar com o actual presidente da FPF
actual Maputo (Moçambique), onde cresceu e se tornou gente lá é que não sente o desse tipo de influência – África, América (Madaíl). O tempo tem-se encarregado de me
esteve até 1970, ano em que regressou cheiro e o sabor da terra mãe. Digo terra Mãe Latina, Portugal. Influência, disse eu, e não dar razão.
ao Continente para continuar os seus pois, como se sabe, África é o berço… é a cópia. É certo que vim em 1970 para Portugal Onde estão as selecções dos mais novos
estudos, jogar futebol e iniciar-se no chamada Mãe natureza. para estudar e jogar futebol (Sporting) mas que nunca mais deram conta do recado…
campo musical. No futebol foi sempre o A sua música não refere nada dessa nunca perdi o sentido e os hábitos africanos. Pois não se aparece na rádio - na televisão,
jogador nº 1 (era guarda-redes), parte da sua vida. Porquê? Será porque Sabemos que gosta de futebol, que o nas revistas - não é? Quando se ama o que se
modalidade que veio a abandonar veio de lá ainda muito novo ou é apenas praticou e a ele esteve ligado em funções faz ninguém precisa de saber o que fazemos
devido a várias operações aos meniscos uma opção profissional? técnicas. Como vê o nosso futebol actual? desde que o façamos. Praticar a solidariedade
e outras, mas nunca abandonou Em 30 anos de carreira musical posso Além de ter sido jogador de futebol, para vir nas capas dos jetes setes não é ser
definitivamente o desporto-rei, pois garantir que a minha música é a mais branca andebol (Mirantense FC), futebol de cinco solidário. Como vejo o futebol actual… mal,
entrou para os quadros da Federação muito mal. Não basta dizer que temos o
Portuguesa de Futebol, em 1973, onde melhor ou os melhores do mundo se depois,
esteve até 1990. Fernando Correia na selecção, o não é ou não o são… A
Marques canta, compõe e escreve os selecção é o espelho de uma Nação… E onde
seus próprios temas, ou a solo ou de estiver um português de certeza que existe
parceria, obtendo grande sucesso. Em uma bandeira no coração. Há jogadores e
1970, vindo de Lourenço Marques, pessoas, no topo, que se esquecem disso. E
começa a sua colaboração musical com isto é uma aprendizagem diária.
Tó Maria Vinhas e em 1971 é vocalista Esteve na FPF mas saiu porque as coisas
do conjunto White Star. Funda, em 1972, não estariam ao “seu jeito”. E agora, acha
o Trio Zumbaiar, com Tó Gonçalves e que essa instituição cumpre melhor os seus
Maria Matos. Nessa altura lateja já a sua desígnios do que nesses tempos?
veia activista e distribui propaganda, ao Olhe, em 1988/9, no antigo estádio da Luz,
lado de outros jovens hoje bem num jogo contra uma selecção de que não me
conhecidos na política activa, para o recordo agora, o Hino encravou… sabe
extinto MDP/CDE. Em 1974 / 75 é um porquê? Porque o LP tinha um pedaço de fita
dos fundadores da Pró-Fapir. Participa gomada e a agulha chegava aí e não passava,
com o seu Grupo de Dinamização era só o grrrrr… grrrrr. Então, eu pedi ao
Popular (constituído por F.C.M., Tó antigo secretário-geral da FPF (César Grácio)
Gonçalves e Cândida), juntamente com se me dava autorização para fazer uma
Zeca Afonso, José Mário Branco, Pedro compilação e passar os hinos para k7s de 5
Barroso, José Jorge Letria, Carlos minutos (tempos das apples) e que se
Paredes, Vitorino, Fausto, Samuel, João evitavam situações embaraçosas. Disseram-
Mota (Teatro Comuna), Tó Maria Vinhas, me que eu era maluco, que a música nada
e muitos outros, em espectáculos de tinha com o futebol, etc., etc. (mas o primeiro
intervenção. Em 1978 / 79, inicia, então, a fazer o hino oficial da selecção nacional fui
uma carreira profissional musical, a solo. eu – França 1984, com o título “Obrigado” e,
Não gosta de falar de si, gosta pouco em francês, “Vivre le Portugal”).
de entrevistas, odeia gente falsa, Fui para casa, gastei do meu dinheiro, meti-
pessoas hipócritas, e os que se armam me no meu estúdio e fi-lo. Nunca mais
em “vedetas”. Tem 3 filhos, Axel, Guéu e “Nunca reneguei, nem renegarei, o meu passado e com todos tivemos de passar essa vergonha.
Raffa, e o primeiro já é um músico de Quando foi a final da taça de Portugal de
sucesso. aprendi a ser o homem que hoje penso que sou - mais justo 1990, fui eu que comecei a levar a música
Fomos conversar com ele... comigo e com os outros. Nunca serei o Judas da música.” popular portuguesa para os estádios, pois até

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