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PERIGO DE CONTÁGIO DE
MOLÉSTIA GRAVE

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8.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O tipo está no art. 131 do Código Penal: “praticar, com o fim de transmitir a outrem
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio”. A pena é
reclusão, de um a quatro anos e multa.

O bem jurídico protegido é a vida e a saúde da pessoa, daí que qualquer pessoa
contaminada pode ser o sujeito ativo, contra qualquer pessoa que é o sujeito passivo.

8.2 TIPICIDADE

8.2.1 Conduta

O núcleo do tipo é o verbo praticar. Praticar qualquer ato, de qualquer natureza,


inclusive relações sexuais, desde que apto a produzir o contágio da moléstia da qual o
agente é portador. Admitida apenas a conduta comissiva, em face do verbo utilizado,
induvidosamente significante de um movimento corporal.

Ministrar alimento, bebida, injetar substância contendo o germe patogênico, até


manter contato físico com a vítima, são atos capazes de causar o contágio.

8.2.2 Elementos objetivos

O agente deve estar contaminado por uma doença grave, ainda que não incurável.
Qualquer doença grave e, é óbvio, contagiosa, cabendo à ciência esclarecer essas
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles

características da moléstia: gravidade e contagiosidade. São doenças graves e contagiosas,


dentre outras, a Aids, tuberculose, morféia, varíola, lepra, febre amarela etc.

Nem toda doença grave é contagiosa, como os vários tipos de câncer. Não se incluem,
no dispositivo, as doenças que sejam transmissíveis hereditariamente, porque não o são por
um ato praticado pelo agente, mas pela própria reprodução humana. As doenças venéreas
que forem transmitidas por atos não sexuais ou não libidinosos incluem-se nessa
configuração típica. Se o agente injeta os germes patogênicos de uma moléstia venérea no
corpo da vítima, o crime será o desse art. 131.

Não é indispensável que a doença seja incurável, bastando que seja grave e
contagiosa.

8.2.3 Elemento subjetivo

Trata-se de crime doloso. O agente deve ter consciência de que está contaminado e
praticar o ato com a finalidade de transmitir a doença. Age com dolo na prática do ato e
com o fim específico de contaminar a vítima. Dolo de dano. Vontade livre de ofender a
saúde da vítima. Sua vontade deve dirigir-se, entretanto, apenas para a contaminação, para
a transmissão da doença. Se se dirigir para a morte da vítima, haverá homicídio,
consumado ou tentado.

Se o agente não sabe que está contaminado, não pode ter a intenção de transmitir a
moléstia, logo não cometerá esse crime, que é exclusivamente doloso. Se lhe era exigível
conhecer sua condição de contaminado, mas ele não alcança essa consciência por
negligência, terá cometido lesão corporal culposa, apenas na hipótese de produzir o
contágio, e sobrevindo morte, homicídio culposo. Se não há contágio, não haverá crime
algum.

8.2.4 Consumação e tentativa

Crime formal, consuma-se com a prática do ato, independentemente do contágio,


que pode, inclusive, não ocorrer. O contágio é o exaurimento do crime.

Ocorrendo o contágio e dele resultando lesão corporal grave ou gravíssima,


responderá pelo crime do art. 129, §§ 1º ou 2º, e se resultar morte, responderá o agente
por lesão corporal seguida de morte, a não ser quando seu dolo tenha alcançado a morte,
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ainda que eventualmente.

Possível a tentativa quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias


alheias à vontade do agente.

Haverá crime impossível se a vítima já estiver contaminada previamente com a


mesma doença ou se o agente, não contaminado, imagina, entretanto, que está, praticando,
ainda assim, a conduta.

8.3 ILICITUDE

O consentimento da vítima não pode ser entendido como excludente da ilicitude,


porquanto crime de dano importa, para a coletividade, a preservação da saúde da pessoa,
evitando que seja contaminada por uma moléstia contagiosa, o que, por si só, significa
perigo para todos.

8.4 AÇÃO PENAL

Ação penal pública incondicionada, permitida a suspensão condicional do processo


penal, na forma do que dispõe o art. 89 da Lei nº 9.099/95.

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