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ESCRITO OU OBJETO OBSCENO

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14.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

No art. 234 estão incriminadas as seguintes condutas: “fazer, importar, exportar,


adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição
pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno”. A pena
cominada é detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

O parágrafo único do mesmo artigo contém outras condutas típicas: vender,


distribuir ou expor à venda ou ao público escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer
objeto obsceno (inciso I); realizar, em lugar público ou acessível ao público,
representação teatral ou cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro
espetáculo que tenha caráter obsceno (inciso II); e realizar, em lugar público ou acessível
ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação obscena (inciso III).

O bem jurídico tutelado é o direito que todos têm contra a exposição de objetos e
manifestações de natureza sexual que sejam ofensivos ou ultrajantes de seus sentimentos
íntimos.

Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado, a coletividade.

14.2 TIPICIDADE

14.2.1 Conduta e elementos do tipo

São várias as condutas incriminadas, a saber: fazer, importar, exportar, adquirir, ter
sob guarda, vender, distribuir, expor a venda ou ao público escrito, desenho, pintura,
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

estampa ou qualquer objeto obsceno. Realizar representação teatral, exibição


cinematográfica, espetáculo, audição ou recitação, de caráter obsceno.

Os objetos materiais das condutas descritas no caput e no inciso I do parágrafo único


são quaisquer objetos obscenos, dentre eles escritos, desenhos, pinturas e estampas.
Incluem-se livros, revistas, jornais, gravuras, telas, papéis, esculturas, bonecos, enfim, toda
e qualquer coisa material representativa de algum motivo libidinoso.

Nos incisos II e III do parágrafo único, a norma refere-se à representação teatral, à


exibição de filmes, a espetáculos de qualquer natureza, audição ou recitação. São
manifestações concretas da criação do espírito humano.

Para a realização do tipo tanto os objetos quanto as demais manifestações devem ser,
necessariamente, obscenos, isto é, capazes de, por seu conteúdo ou pela idéia que
transmitem, causar desconforto para as pessoas, ofendendo seu sentimento pessoal.

Não basta, entretanto, que os objetos e essas manifestações apresentem forma


libidinosa, retratando ou revelando cenas de atos sexuais. Devem, em seu conteúdo, em
sua substância, ser agressivos, ofensivos à sensibilidade das pessoas, por assim terem sido
criados e exteriorizados. Essa agressividade será constatada com base na consideração
subjetiva das pessoas que têm contato visual com os mesmos.

É que a norma só incrimina as condutas de fazer, importar, exportar, adquirir ou


guardar objetos obscenos quando o sujeito age com a finalidade de comerciá-los, distribuí-
los ou de colocá-los em exposição pública. Representação teatral ou exibição de filmes,
espetáculo, audição ou recitação obscenos só serão típicos quando realizados em lugar
público ou acessível ao público. Audições e recitações também serão incriminadas quando
comunicadas através de transmissão de emissoras de rádio.

Assim, as manifestações, embora aparentemente obscenas, só serão típicas quando


aptas a constranger o público, ofendendo a sensibilidade das pessoas que as presenciem,
até porque existem inúmeros objetos e criações espirituais com conteúdo sexual
absolutamente inofensivo, considerados, inclusive, obras artísticas de grande valor.

Por isso ao julgador caberá decidir com base no pensamento da sociedade, não nos
seus próprios e particulares conceitos de moralidade pública. Nem tampouco levar em
consideração o entendimento particular de uma ou outra pessoa preconceituosa.

Objetos e manifestações artísticas, ainda quando inspirados em motivos sexuais ou


libidinosos, não são, necessariamente, obscenos, o que ocorrerá quando inequivocamente
Escrito ou Objeto Obsceno - 3

elaborados ou levados ao conhecimento público com a intenção real de causar


constrangimento, daí que, além do dolo de realizar a conduta, o agente deve estar imbuído
da vontade de agredir a sensibilidade alheia.

Pode o agente, ao realizar as condutas, agir com finalidade de promover a divulgação


do que entende ser uma obra de arte ou com intuito educativo, não podendo, por isso, ser
incriminado, porque crime doloso é sempre a vontade de causar a lesão de um bem
jurídico ou, no mínimo, colocá-lo numa situação de perigo de lesão.

Há, na doutrina, entretanto, o pensamento de que basta o dolo de realizar a conduta,


independentemente do fim de agredir as pessoas, com o que não concordo pelas razões já
expostas.

14.2.2 Consumação e tentativa

Consuma-se com a realização de uma das condutas descritas no caput e nos incisos
do parágrafo único. A tentativa é possível.

14.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, competente o juizado especial


criminal, possível a suspensão condicional do processo penal.

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