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PATROCÍNIO INFIEL

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134.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS


DO CRIME

O crime está assim definido no art. 355 do Código Penal: “trair, na qualidade de
advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em
juízo, lhe é confiado”. A pena é: detenção, de seis meses a três anos, e multa.

O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal na


lealdade do advogado e do procurador no patrocínio dos interesses das pessoas perante o
Poder Judiciário.

Sujeito ativo é o advogado ou o procurador judicial. Sujeito passivo é o Estado e


também a pessoa lesada em razão da conduta típica.

134.2 TIPICIDADE

134.2.1 Conduta e elementos do tipo

O núcleo do tipo é o verbo trair. O objeto é o dever profissional, do advogado ou do


procurador, de lealdade para com a pessoa que confiou a defesa de seus direitos e interesses
em juízo. Advogado é o bacharel em direito regularmente inscrito nos quadros da Ordem
dos Advogados do Brasil. Procurador é quem é admitido a procurar em juízo, o
provisionado, o estagiário ou o defensor nomeado, em circunstâncias especiais, para
promover a defesa em juízo.

Não importa se a atividade é exercida mediante remuneração ou gratuitamente, o


advogado, em qualquer caso, deve atuar com a mais absoluta lealdade, exercendo sua
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

atividade com respeito aos princípios éticos e legais, defendendo, com dedicação e
denodo, o interesse a si confiado.

É indispensável que o advogado tenha sido constituído, recebido o mandato ou


nomeado, e que tenha levado a juízo a pretensão de seu cliente, como autor ou réu,
assistente, opoente etc. Assim, só há delito se o interesse confiado ao agente esteja sendo
objeto de discussão judicial, em processo de qualquer natureza.

Pode a conduta realizar-se por meio de conduta comissiva ou omissiva. O agente


pode postular, apresentando fatos que prejudicam o interesse do cliente ou pode deixar
de apresentar, no prazo legal, a contestação ou outra peça indispensável no processo.

A traição do dever profissional deverá importar, necessariamente, em prejuízo do


interesse da pessoa que confiou no agente e deve se dar em juízo, não antes, nem depois,
nem fora dele. Concluída a prestação jurisdicional, a conduta do advogado poderá
ajustar-se a outro tipo, não ao patrocínio infiel. Assim, o advogado que, na justiça do
trabalho, celebra acordo em nome do reclamante recebe o valor e dele se apropria;
deixando de entregá-lo a seu cliente, comete o crime de apropriação indébita e não de
patrocínio infiel.

É essencial que da conduta do agente decorra um dano efetivo para o interesse


patrimonial ou moral da parte. O interesse deve, é óbvio, ser legítimo; daí que se a conduta
do agente dá causa ao reconhecimento da ilegitimidade do interesse não há fato típico,
porque não há dever profissional de defender interesses escusos.

O crime é doloso. Só incorre na incriminação o agente que estiver consciente de que


trai seu dever profissional, sabendo que dará causa a um dano ao interesse do cliente e agir
com vontade livre, não exigindo o tipo que o agente tenha a intenção de causar o prejuízo.
Sem a consciência da lesividade de seu ato, o fato será atípico. Quando o agente atua
negligentemente, realizando a conduta por erro, também não há fato típico.

134.2.2 Consumação e tentativa

O crime consuma-se com a ocorrência do dano efetivo ao interesse do cliente, ou seja,


quando se configura a lesão do interesse patrocinado com infidelidade, ainda quando
possa esse ser, ao depois, reparado. A tentativa somente não é admissível nas formas
omissivas de conduta.
Patrocínio Infiel - 3

134.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, possível a suspensão condicional


do processo penal.

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