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Este texto é um resumo de publicações anteriormente escritas relacionadas abaixo. Faço
aqui uma breve apresentação do modelo de reforma político-gerencial denominado
“Gestão Participativa em Rede”.
SOTERO, Frederico. GESTÃO PARTICIPATIVA EM REDE - GPR: Descentralização e
Participação na Gestão Municipal. Brasília: 2002. Este texto está disponível na Internet
para download em [.pdf] no seguinte endereço :
http://www.rededlis.org.br/downloads/2004/04/Gestao%20Participativa%20em%20Red
e%20GPR%20pdf.pdf; ou http://www.clad.org.ve/fulltext/1982600.pdf e em [.html] no
seguinte endereço : http://tecnica.alainet.org/active/show_text.php3?key=3061 .
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Frederico Sotero (fredericosotero@participativa.net) é consultor em planejamento
estratégico e gestão pública, cursou relações Internacionais (PUCMinas),
administração (UFLA) e desenvolvimento local (International Training Center ILO-ONU),
ocupou diversos cargos na administração municipal e estadual, atualmente realiza
consultoria em gestão participativa através da empresa Participativa.net, além de
presidir o Instituto Gravatá (www.institutogravata.org.br).
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A transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna deu-se por um
processo de racionalização ou burocratização que, segundo o sociólogo Max Weber
(1864-1920), foi marcado por uma nova lógica de organização baseada no
conhecimento técnico-científico, nas estruturas formais de autoridade, na crescente
regulamentação, na profissionalização, na ênfase no mérito como forma de ascensão
social e legitimação da autoridade, no caráter legal das normas; no caráter formal da
comunicação; divisão do trabalho; impessoalidade no relacionamento; competência
técnica e mérito; especialização da administração; profissionalização; previsibilidade
do funcionamento. No Estado, sobretudo a partir da ampliação das suas atribuições no
século passado, a organização burocrática apresentou disfunções tais como a
fragmentação das ações e perda da visão do todo, desvinculação entre a ação e seu
resultado; maximização dos custos; internalização das regras e exagerado apego aos
regulamentos; excesso de formalismo e papelório; resistência a mudanças;
despersonalização do relacionamento; categorização como base do processo
decisório; superconformidade às rotinas e procedimentos; exibição de sinais de
autoridade; dificuldade no atendimento ao cidadão e conflitos com o público.
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Neste texto, apesar da Gestão Participativa em Rede conceber um
redesenho em rede do pacto federativo a partir do território municipal,
não apresentaremos nossa proposta de reorganização dos demais entes
federativos, uma vez que trataremos exclusivamente da administração
municipal.
Construímos a Gestão Participativa em Rede a partir de um
diagnóstico bastante óbvio, apesar de geralmente negligenciado, uma
vez que a lógica fragmentária de organização do setor público está
naturalizada e cristalizada em decorrência de sua funcionalidade para o
sistema político vigente, que transformou os fragmentos da máquina
pública (Ministérios, Secretarias e Órgãos) em moeda de composição
eleitoral e governabilidade, mesmo que em detrimento da capacidade de
governo. Este contexto dificulta o surgimento de qualquer alternativa
criativa de redesenho institucional.
O diagnóstico da administração pública pode ser resumido na falta
de integração, simultaneidade e continuidade das políticas públicas, seja
intra ou inter esferas de governo e poderes.
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produtividade do trabalho, quando o emprego reduz a violência e assim
sucessivamente.
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Afim de demonstrar a ineficácia do atual modelo, vamos analisar o
caso de uma família hipotética, mas que certamente é representativa da
realidade das periferia de qualquer cidade brasileira. Assim, teremos
elementos para questionar o modelo de formulação e implementação de
políticas públicas vigente.
A família a ser analisada é formada pelo Sr. José e sua esposa Maria e
seus quatro filhos. Esta família vive na periferia de qualquer cidade
brasileira. Nas proximidades da residência, o que pode parecer
contraditório, localiza-se a melhor escola da cidade, a menina dos olhos
do Secretário de Educação. Isso é possível desde que a periferia seja o
reduto eleitoral do grupo político que controla a Secretaria. Nesta escola a
merenda é sempre farta, os professores qualificados, o prédio é novo e
nunca falta material didático. Para aqueles que discursam que educação
é tudo, a família do Sr. José tem tudo para superar sua condição de
pobreza, uma vez que os filhos serão educados. A realidade mostra que
isso não é necessariamente uma verdade. O quadro social da família do
Sr. José é muito complexo. Ele está desempregado há 5 anos e desistiu de
procurar emprego. Agora sobrevive de bicos. Mas a falta de trabalho está
lhe impossibilitando de prover sua família até mesmo com a alimentação
básica. Ele está alcoólatra. Seu comportamento está violento. A Dona
Maria apresenta problemas psíquicos, mas ainda não foi diagnosticada.
Ela trata os filhos do casal com muita violência. As crianças passam a
maior parte do tempo na rua. A principal fonte de alimentação é a
merenda escolar. As crianças ficam doentes freqüentemente, uma vez
que consomem água contaminada da mina que atende aquela família
na encosta onde construíram seu barraco. As crianças brincam nas
proximidades de um ribeirão que recebe o esgoto da cidade e passa logo
abaixo da encosta. O filho mais velho sofre assédios dos traficantes que
atuam na área e a filha já foi violentada.
Como pode ser observado, a vida da família do Sr. José é muito difícil.
Eles vivem em ambiente extremamente desfavorável ao desenvolvimento
dos seus filhos. Mas pelo menos eles tem escola, diriam alguns! Não
necessariamente. O contexto social em que vivem não contribui para o
aprendizado das crianças. As brigas dos pais, seus problemas de saúde, a
violência e todos os constrangimentos daquele ambiente impedem as
crianças de usufruírem da educação oferecida pela Escola. As crianças
estão perdendo aula para vasculhar o lixão na expectativa de conseguir
sucatas e utensílios para vender e levar gêneros básicos para casa. Elas já
foram reprovadas várias vezes, mas continuam freqüentando a escola
para merendar.
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Esta realidade indica que apesar da Secretaria de Educação ter
“feito a sua parte”, as demais Secretarias não atuaram como um todo
para proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento daquela
família, uma vez que a Secretaria de Assistência Social não proveu sustento
no momento de dificuldade. A Secretaria de Trabalho, por sua vez, foi
incapaz de qualificar e recolocar o Sr. José no mercado de trabalho. A
Secretaria de Saúde não tratou da Dona Maria, que doente, não
conseguiu assistir aos filhos. A Secretaria de Meio Ambiente não tratou
adequadamente os resíduos sólidos e nem tão pouco forneceu o
saneamento básico. A Secretaria de Habitação não reassentou aquela
família fora da área de risco. A Secretaria de Segurança Pública não
coibiu o tráfico e a violência. Com exceção da Secretaria de Educação, a
negligência das Secretarias resulta no quadro de exclusão que acomete
aquela família e tantas outras no país.
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Articulamos algumas teorias e conceitos para fundamentar a Gestão
Participativa em Rede que apresentamos abaixo:
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Nossa referência é MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Instituto Piaget,
1991. MORIN, Edgar. O método, vol.1. A natureza da natureza. Rio Grande do Sul: Sulina;
2001; MORIN, Edgar. O método, vol.2. A vida da vida. Rio Grande do Sul: Sulina; 2001;
MORIN, Edgar. O método, vol.3. O conhecimento do conhecimento. Rio Grande do Sul:
Sulina; 1999; MORIN, Edgar. O método, vol.4. As idéias, seu habitat, sua vida, seus
costumes, sua organização. Rio Grande do Sul: Sulina, 1997.
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potencial latente. Em linhas gerais, como diz Morin, “há uma
inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os
saberes separados, fragmentados, compartimentados entre
disciplinas e, por outro lado, realidades e problemas cada vez
mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais,
transnacionais, globais, planetários. [...] A hiperespecialização
impede de ver o global (que ela fragmenta em parcelas), bem
como o essencial (que ela dilui). [...] o retalhamento das
disciplinas torna impossível apreender "o que é tecido junto", isto
é, o complexo, segundo o sentido original do termo.” 5 Portanto,
a gestão pública não pode se sustentar na fragmentação,
inflexibilidade, rigidez, na imposição de uma ordem. É preciso
reconhecer e aprender a lidar com a incerteza, desordem e
conflito para favorecer a interatividade e proporcionar
reconstrução permanente e criativa do espaço público.
5
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
6
Nossa referência é CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão dos sistemas
vivos. 1997. São Paulo: Cultrix - Amana-Key.
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simultaneamente, a cada cidadão e sua família, os Direitos
Civis, Políticos, Sociais, Econômicos e Culturais;
7 A fusão dos Equipamentos Público nada mais é que a potencialização de uma Escola
Pública pela agregação dos recursos e competências, atualmente pulverizados nos
múltiplos equipamentos. Assim a Escola pode dar atenção integral às famílias da sua
jurisdição (bairro). Para tal, propomos que a Escola seja dotada de equipe multidisciplinar
(professores, médicos, dentistas, psicólogos, sociólogos, administradores, advogados) e
gerida com efetiva participação comunitária. Quando a fusão física dos Equipamentos
Públicos não for possível estes e suas equipes serão conectados em rede, o que integra
sua ação, embora estejam separados fisicamente, mas o mais importante é criar a
instância comunitária de formulação e implementação das políticas públicas.
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urbanistico-ambiental do território municipal. O zoneamento
define micro porções contíguas do território municipal, o que
denominamos de células de desenvolvimento. Cada célula de
desenvolvimento torna-se a unidade de referência para a
integração e descentralização da formulação e
implementação das políticas públicas;
1) Integração
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O Hexágono de Governo pode ser dividido em dois hemisférios, sendo
um o meio e o outro o fim da ação governamental. Sustentando o vértice
“Projeto de Governo” estão as áreas finalísticas do governo: Social,
Econômico e Territorial. Sustentando o vértice “Capacidade de Governo”
e “Governabilidade” estão as áreas meio do governo: Administrativa,
Política e Jurídica.
PROJETO
ECONÔMICA
SOCIAL AMBIENTAL
ADMINISTRATIVA
POLÍTICA
JURÍDICA
GOVERNA
BILIDADE GOVERNANÇA
Hexágono de Goerno
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A fusão das Secretarias em Coordenações está descrita na tabela
abaixo:
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Programa de Desenvolvimento da Família 8, que atua na perspectiva de
criar ambiência favorável ao desenvolvimento humano.
Economia - ao invés de criar uma Secretaria Municipal para cada
setor econômico como se estes fossem estanques, como se faz atualmente
(Secretaria de Indústria, Comércio, Agricultura, Turismo, Pesca, Artesanato,
etc.), propomos uma estrutura única responsável pelo desenvolvimento
econômico. A Coordenação Municipal de Economia tem por atribuição a
geração de emprego, trabalho e renda através da identificação das
vantagens competitivas e comparativas do município a fim de fomentar os
negócios de maior potencial econômico através da criação de condições
favoráveis ao desenvolvimento dos setores competitivos por meio da
aglomeração destas atividades econômicas (cluster) e a atração de
investimento nestas áreas, bem como o fomento de pequenos negócios
no âmbito da economia solidária.
Territorial – ao invés de criar uma Secretaria Municipal para cada uma
das intervenções humanas no meio ambiente (Secretaria de Urbanização,
Obras Públicas, Transporte, Habitação, Saneamento, Deposição de
Resíduos, etc.) e uma Secretaria para regular tais intervenções (Secretaria
de Meio Ambiente), como se não existisse uma interdependência e,
principalmente, antagonismo entre aquelas cuja ação interfere e a que
regula a interferência, propomos uma estrutura única responsável pelo
desenvolvimento urbanístico-ambiental. A Coordenação Municipal do
Território tem por atribuição garantir uma utilização sustentável do território
municipal encontrando a justa medida entre a necessidade de
ocupação/exploração e conservação do ambiente a fim de criar as
condições favoráveis ao desenvolvimento social e econômico.
Política – ao invés de criar uma Secretaria Municipal para cada
atividade política (Secretaria de Coordenação Política; Comunicação,
Participação Popular, Relação com o Legislativo, Comunidades e
Movimentos Sociais, Casa Civil, Gabinete, etc.) como se fossem
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Propomos um único programa para o Social que integre todos os esforço e recursos no
atendimento das famílias. O cerne do PDF é a organização de uma equipe
multidisciplinar que visita cada família da célula de desenvolvimento para fazer um
diagnóstico participativo dos problemas e os constrangimentos que estão impedindo a
família de se desenvolver (desqualificação, ausência de saneamento, violência, falta
de transporte, falta de capital, educação, risco ambiental, condições de moradia,
etc.), bem como as potencialidades de cada família (habilidades, sonhos,
capacidade de trabalho, capital, etc.). A partir do diagnóstico a equipe e a família
definem um plano de desenvolvimento que indica as ações que o município deve
realizar para melhorar o ambiente de inserção da família e as ações que a família
deve desenvolver para realizar suas potencialidade. Para tal, a família terá todo
suporte no Equipamento Público Multifuncional (requalificação, acesso a justiça,
educação, micro-crédito, saúde, cultura, esporte, informação, etc.) e
acompanhamento periódico da equipe multidisciplinar.
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independentes, propomos uma estrutura única responsável pela política. A
Coordenação Municipal de Política tem por atribuição garantir a
governabilidade do Projeto.
Administração – ao invés de criar uma Secretaria ou Órgão Municipal
para cada função administrativa (Secretaria de Administração, Recursos
Humanos, Planejamento, Finanças, Controladoria, Contabilidade,
Coordenação de Governo, etc.) como se estas funções não fossem
essencialmente interdependentes, propomos uma estrutura única
responsável pela administração. A Coordenação Municipal Administrativa
tem por atribuição disponibilizar capacidade de governo para as demais
estruturas da gestão pública municipal.
Jurídica – ao invés de criar uma Secretaria Municipal para cada área
relacionada à Justiça (Secretaria de Justiça, Segurança, Direitos Humanos,
Procuradoria, etc.) como se estas não estivessem intrincadas, propomos
uma estrutura única responsável pela Justiça. A Coordenação Municipal
Jurídica tem por atribuição a garantia do acesso à justiça e manutenção
de um ambiente seguro, justo e legal, que favoreça o desenvolvimento
das atividades sociais e econômicas.
Coordenações Atribuições
Social Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura, Esportes, Lazer,
Segurança Alimentar;
Territorial Gestão Urbanística-Ambiental e Recursos Naturais e Infra-
estrutura (Urbanização, Telecomunicações, Energia,
Transporte, Saneamento Ambiental, Tratamento de resíduos
sólidos, Habitação e Obras Públicas).
Economia Geração de trabalho/emprego e renda, Produção (Indústria,
Comércio, Serviços, Agricultura, Abastecimento, Turismo),
Encadeamento econômico(Cluster), Atração de investimento,
Economia Solidária, Ciência e Tecnologia;
Justiça Procuradoria , Justiça, Defensoria, Segurança e Direitos
Humanos;
Administração Administração e Recursos Humanos, Planejamento, Finanças,
Informática; Controladoria, Auditoria;
Política Gabinete do Prefeito e Vice-Prefeito; Secretaria de Governo,
Comunicação, Parcerias Inter-municipais; valores
democráticos; legislativo, institucionalizar a participação;
fomentar a rede social (terceiro setor);
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1.2) Fusão dos diversos equipamentos público em um único
equipamento, o Núcleo Comunitário Multifuncional.
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CIEP – Centro Integrado de Educação Pública (Secretaria de Estado da Educação do
Rio de Janeiro); CAIC – Centro Integrado de Atenção a Criança e Adolescente
(Ministério da Educação); CEU – Centro Educacional Unificado (Secretaria Municipal
de Educação de São Paulo).
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Outras diferenças são significativas, como o fato das escolas de
tempo integral serem uma exceção na rede educacional, na medida que
suas características não são estendidas às demais escolas. A proposta dos
Núcleos Comunitários Multifuncionais contempla todo o território municipal.
Até porque um dos objetivos da conformação territorial dos Núcleos é
garantir que toda e qualquer família residente no território municipal tenha
um espaço público para acessar serviços e sobretudo, acessar o poder.
Nesta perspectiva os Núcleos criam as condições para a ruptura com a
lógica da exclusão social.
Diferem, ainda, pelo fato das escolas de tempo integral não
atenderem as famílias dos alunos. A proposta dos Núcleos é dar um
atendimento integral à família.
Outra diferença marcante é o fato das escolas de tempo integral não
serem dotadas dos meios para enfrentar os problemas sociais, econômicos
e ambientais que as cerca, bem como o fato de não disporem de
jurisdição sobre um determinado território de sua responsabilidade, o que
muitas vezes coloca a escola refém de problemas como pobreza,
violência, degradação ambiental, entre muitos outros, que dificultam e,
muitas vezes, impede a realização de sua função educacional. A proposta
dos Núcleos, por sua vez, fundam-se na vinculação entre equipamento e
jurisdição, o que lhe garante uma certa autonomia sobre o território que
lhe corresponde. Assim, inerente à responsabilidade ou jurisdição por um
território está a necessária capacidade de governo, o que confere ao
Núcleo, como propomos, os meios para enfrentar os problemas que o
cercam. Alguns problemas, diríamos, a maioria deles, estará sob a
governança dos Núcleos. Aqueles problemas cuja solução extrapole o
território do Núcleo será tratado na dimensão municipal.
Em suma podemos dizer que as experiências de escolas de tempo
integral não passam de escolas que ampliam a qualidade da oferta
educacional, enquanto os Núcleos Comunitários Multifuncionais, além de
serem provedores de serviços públicos integrados que atendem a toda a
família em todas as suas necessidades, são um ponto de convergência dos
cidadãos residentes em um determinado território ou célula de
desenvolvimento, configurando um espaço público comunitário gerador
de solidariedade, cooperação, cidadania e compromisso. Nesta
perspectiva, o Núcleo, enquanto equipamento, não é um prédio do poder
estatal controlado de forma centralizada, mas sim um espaço público
comunitário, ainda que estatal. Um instrumento de conscientização e
empoderamento das comunidades, que cria condições objetivas para a
auto-determinação das comunidades.
Na proposta de constituição dos Núcleo Comunitários Multifuncionais
sugerimos que estes tenham dotação orçamentária própria. Nesta
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perspectiva, podemos organizar um orçamento realmente participativo,
uma vez que este não seria um mero cardápio de obras geralmente
apresentado de cima para baixo e limitado pela insuficiência de recursos,
mas uma discussão global das necessidades de investimento na
comunidade e a partir desta, uma discussão das necessidades do
município.
Na prática, não estamos falando da construção de mais um prédio, o
que ocasionalmente pode vir a ser necessário em razão da completa
ausência do poder público em algumas áreas periféricas do município,
mas sim da transformação da escola em Núcleo Comunitário
Multifuncional através da incorporação das funções do posto de saúde
(prevenção), do centro cultural, da creche, do espaço de lazer, entre
outras funções da gestão municipal. Naqueles casos onde a
transformação ficar comprometida pelas condições espaciais
inadequadas de uma determinada escola, é possível preservar os
equipamentos existentes desde que se crie uma rede articulando estes
equipamentos, mas para isso é necessário garantir que as equipes
profissionais atuem de forma integrada no território de sua jurisdição e
sejam co-ordenadas pelo Conselho Comunitário.
Finalmente, uma última inovação proposta pela implantação dos
Núcleos Comunitário Multifuncionais é a formação de equipe
multidisciplinar para traçar juntamente com a comunidade os caminhos
do desenvolvimento. A equipe deverá ser formada pelos profissionais
(professores, médicos, administradores, advogados, psicólogos, etc.) que
atualmente estão dispersos nas várias secretarias e órgãos, além da
incorporação de outros profissionais para garantir a multidisciplinaridade.
As principais atribuições da equipe multidisciplinar são a definição das
estratégias de desenvolvimento e sua operacionalização, sobretudo,
através do Programa de Desenvolvimento da Família.
2) Descentralização
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3) Territorialização
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multidisciplinar para dar atenção integral às famílias residentes na célula. O
Núcleo é coordenado por um Conselho Comunitário e se vincula em rede
aos demais Núcleos e à co-ordenação (Hexágono de Governo) da Rede
de Desenvolvimento Municipal.
4) Organização em Rede
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b) Sub-Rede de Desenvolvimento Econômico
2) Sub-Redes Familiar-Comunitária.
As Sub-Redes Familiar Comunitária atuam cada qual em sua
comunidade articulando cooperativamente todas as famílias que vivem
na célula de desenvolvimento onde a comunidade está situada.
A instância de deliberação das Sub-Redes Familiar-Comunitária é o
Conselho Comunitário. Compõem o Conselho Comunitário os
representantes da Comunidade, os técnicos lotados no Núcleo
Comunitário Multifuncional e os responsáveis pelas organizações parceiras
da Comunidade a serem indicadas pelo Conselho. São atribuições do
Conselho Comunitário a releitura das estratégias de desenvolvimento
gerais do município para adaptá-las à realidade da célula de
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desenvolvimento, formulação personalizada das políticas públicas,
definição das metas e resultados. O Conselho Comunitário é o instrumento
de participação da comunidade, através do qual busca-se conseguir o
empoderamento e garantir a auto-determinação destas comunidades.
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