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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 728.702 - PR (2005/0031739-3)

RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI


RECORRENTE : RICARDO JOSÉ MAGALHÃES BARROS E OUTROS
ADVOGADO : LUIZ CONSTANTINO FILIPIN E OUTRO
RECORRIDO : MUNICÍPIO DE MARINGÁ
ADVOGADO : ALEXANDRE VENÂNCIO E OUTRO
RECORRIDO : JOSÉ ANTÔNIO FRANCISCO DE OLIVEIRA E OUTROS
ADVOGADO : WALTER ALEXANDRINO E OUTRO(S)
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. REMISSÃO


TRIBUTÁRIA ILEGÍTIMA. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.
FUNDAMENTO SUFICIENTE INATACADO. SÚMULA 283/STF.
1. Não pode ser conhecido o recurso especial que não ataca fundamento
que, por si só, é apto a sustentar o juízo emitido pelo acórdão recorrido.
Aplicação analógica da Súmula 283 do STF, in verbis, "inadmissível o
recurso extraordinário quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente, por si só, à manutenção do julgado e o
recurso não abrange todos eles".
2. Recurso especial a que se nega seguimento.

DECISÃO

1. Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná


que, em ação popular visando ao reconhecimento de nulidade em atos de concessão de remissão
de débito tributário, negou provimento ao recurso dos ora recorridos e deu parcial provimento à
apelação dos ora recorrentes, decidindo, no que importa ao presente recurso, que a decisão de
não se admitir na lide os contribuintes beneficiários diretos encontra-se amparada no art. 6º, § 1º,
da Lei nº 4.717/65. O aresto atacado restou assim ementado:
"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO POPULAR. JULGAMENTO
ANTECIPADO. MATÉRIA DE DIREITO. POSSIBILIDADE.
AGRAVO RETIDO. APRECIAÇÃO. INVIABILIDADE.
DESISTÊNCIA FORMULADA PELO AGRAVANTE. JUNTADA
DE DOCUMENTOS. NÃO INTIMAÇÃO DA PARTE
CONTRÁRIA. IRRELEVÂNCIA PARA O JULGAMENTO.
NULIDADE NÃO CONFIGURADA. SENTENÇA ULTRA PETITA.
INOCORRÊNCIA. EXECUTIVO MUNICIPAL - REMISSÃO
PARCIAL DE TRIBUTOS - DESCONTOS EM
DESCONFORMIDADE COM A LEI ESPECÍFICA.
INOBSERVÂNCIA DO ART. 150, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. OBRIGAÇÃO DE RESSARCIR O ERÁRIO.
CONDENAÇÃO MANTIDA. RECURSO ADESIVO. FIXAÇÃO DE
JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA CONDENATÓRIA. ART. 20, § 3º,
DO CPC. APELAÇÃO DOS RÉUS IMPROVIDA. RECURSO
ADESIVO PROVIDO.
1. O agravo retido só pode ser conhecido se expressamente requerida
sua apreciação pelo agravante, faculdade que não pode ser exercida
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pela parte contrária.
2. Se não houver necessidade de produção de outras provas, além de
documental já constante dos autos, é possível o julgamento antecipado da
ação popular, sem a intimação das partes para apresentação de
alegações finais.
3. A oportunidade de manifestação somente do Ministério Público antes
da sentença não fere o princípio do contraditório e da ampla defesa, pois,
no caso, o órgão atua como fiscal da lei na ação popular.
4. A juntada de documento inócuo, que não teve qualquer influência no
julgamento não impõe a necessidade de intimação da parte adversa para
manifestação.
5. Não configura julgamento 'ultra petita' o reconhecimento de que
dispositivo de lei municipal não foi recepcionado pela Constituição
Federal, não pedido expressamente na inicial, pois trata-se de matéria de
direito, cabendo ao juiz a sua apreciação, independentemente de
provocação.
6. A concessão de remissão tributária fora dos limites impostos por lei
específica e exclusiva para a matéria, nos termos do art. 150, § 6º, da
Constituição Federal, constitui ato ilegal e lesivo ao erário público,
impondo-se a condenação dos responsáveis ao ressarcimento dos
prejuízos causados aos cofres do Município.
7. Sobre o valor da condenação incide correção monetária e juros legais.
8. Tratando-se de sentença condenatória, os honorários advocatícios
devem ser fixados com base no § 3º do art. 20 do Código de Processo
Civil"
Foram rejeitados os embargos de declaração opostos pelo recorrente (fls. 841-845). Nas
razões do recurso especial (fls. 849-867), fundado na alínea a do permissivo constitucional, o
recorrente aponta ofensa aos arts. 6º da Lei nº 4.717/65 e 47 do CPC, alegando, em síntese, que
os contribuintes que obtiveram a concessão de descontos em seu IPTU deveriam integrar o pólo
passivo da demanda, pois os efeitos do acórdão recorrido os atingem.
Em contra-razões (fls. 890-892), o Município de Maringá aduz que (a) "a citação pessoal
dos contribuintes beneficiados é impossível, por serem em torno de 12.000." (fl. 892) e (b) "os
contribuintes favorecidos foram citados via editalícia, nos termos do inciso III do artigo 7º da Lei
nº 4.717/65, tendo, por conseguinte, cumprido a determinação legal acima elencada" (fl. 892). O
autor popular, por sua vez, em contra-razões (fls. 895-904), pugna pelo não conhecimento do
recurso, porquanto ausente o interesse jurídico do recorrente, na medida em que "o fato de
pleitear a integração dos beneficiários no pólo passivo da ação para responder pelos efeitos da
condenação configura claramente admissão dos fundamentos de procedência da ação popular,
porque não teria sentido o chamamento daqueles para responder solidariamente pelos danos se
não tivesse ocorrido ilegalidade e lesividade do ato administrativo em face do patrimônio público
(...)" (fls. 895-904). No mérito, requer a manutenção integral do acórdão recorrido.

2. A questão de fundo da presente demanda consiste em averiguar qual a natureza do


litisconsórcio de que trata o art. 6º da Lei nº 4.717/65, para apurar a necessidade de citação dos
contribuintes beneficiados para integrar o pólo passivo em ação popular que visa ao
reconhecimento de nulidade em atos de concessão de remissão tributária pelo ora recorrente.
Extrai-se do acórdão recorrido:

" Conforme se extrai dos autos, a sentença anteriormente proferida foi


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anulada pelo acórdão nº 14.735 desta Câmara (fls. 462/465), para que fosse
apreciado o pedido formulado pelo autor popular no sentido de se excluir da
lide os beneficiários dos atos inquinados de ilegais.
Com o retorno dos autos à Câmara de origem, o ilustre juiz singular proferiu
a seguinte decisão:
'Como bem ponderou o MP, a citação pessoal de todos os
contribuintes beneficiados certamente inviabilizaria o procedimento.
Ademais, na hipótese de procedência, terão os réus direito
regressivo, a ser discutido em feito próprio.
Por isso, defiro o pedido de fls. 324/331, para excluir da lide os
contribuintes beneficiados, prosseguindo o processo em relação aos
réus certos e nominados ' (fl. 477).
Dessa decisão as partes foram intimadas e não se insurgiram por meio do
recurso apropriado (fls. 478), diante de que, o juiz determinou a intimação
pessoal dos procuradores para manifestarem-se sobre a decisão (fl. 479).
Os réus, então, apresentaram o petitório de fls. 485, onde tão somente
manifestam discordância com a exclusão dos beneficiários. Porém, mais uma
vez não recorreram da decisão.
(...)
Portanto, não existe agravo retido sobre a decisão apontada pelos
apelantes. Mas, ainda que o agravo retido tivesse sido interposto da decisão
que excluiu os beneficiários - o que não ocorreu -, só poderia ser apreciado se
houvesse pedido expresso do agravante, no caso, o autor popular, o que
também não ocorreu, mesmo porque, houve expressa desistência do referido
recurso, como informa o petitório de fls. 491.
Mesmo que se queira mencionar o caráter público da questão, de forma a
ser permitida a invocação de irregularidade processual a qualquer tempo,
melhor sorte não é reservada aos apelantes, porquanto a decisão de não se
admitir na lide os beneficiários diretos é amparada pelo disposto no artigo 6º,
parágrafo 1º da Lei 4.717/65.
Para o caso tais beneficiários são indeterminados, sendo inviável
juridicamente a determinação nesta fase processual, ainda mais quando se
nota que a obrigação exigida na demanda é de responsabilidade solidária, fato
que descaracteriza o litisconsórcio necessário." (fls. 678-679)

Portanto, no caso dos autos, ao negar provimento à apelação do ora recorrente, entendeu a
Corte de origem que: (a) da decisão que excluiu da lide os contribuintes beneficiários não houve
recurso por parte do ora recorrente, ensejando a preclusão e (b) mesmo que se considere de
caráter público a matéria, com a apreciação de ofício daquela Corte acerca da nulidade
suscitada, está descaracterizado o litisconsórcio necessário. A peça recursal, todavia, não se
insurge contra o primeiro fundamento, limitando-se a repetir a tese de que, tratando-se de
hipótese de litisconsórcio necessário, indispensável a citação dos contribuintes beneficiários.
Deste modo, o recurso especial não pode ser conhecido pela aplicação analógica da Súmula
283/STF, que dispõe ser "inadmissível o recurso extraordinário quando a decisão recorrida
assenta em mais de um fundamento suficiente, por si só, à manutenção do julgado e o
recurso não abrange todos eles".

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3. Diante do exposto, nego seguimento ao recurso especial. Intime-se.

Brasília (DF), 20 de novembro de 2007.

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Relator

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