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A Epístola de Maqsud

Uma Introdução
às Escrituras de Bahá’u’lláh

1
Conhecem esta frase?

“A Terra é um só país e
a humanidade os seus
cidadãos”

É uma das mais conhecidas citações de


Bahá’úlláh

E é também um dos lemas da Fé Bahá’í.

Provavelmente todos os Bahá’ís


conhecem esta frase.

2
E estas frases?
• “Sois os frutos de uma só árvore e as folhas de um mesmo
ramo.”
• “Se algum rei recorrer a armas contra outro, todos unidos,
deverão levantar-se e impedi-lo.”
• “O que passar além dos limites da moderação deixará de
exercer uma influência benéfica.”
• “Os estudos académicos que começam com palavras e
terminam com palavras nunca tiveram e jamais terão valor
algum.”

Estas frases são conhecidas para quem conhece um pouco


da religião Bahá’í. Descrevem alguns dos ensinamentos
estabelecidos por Bahá’u’lláh.
Têm uma fonte comum: a Epístola a Maqsud.

3
Um primeiro contacto
O conteúdo da Epístola de Maqsud pode ser visto como uma
boa apresentação dos princípios e ensinamentos da Fé
Bahá’í. A sua estrutura é adequada para um primeiro
contacto com as Escrituras Bahá’ís.
Antes de iniciarmos uma análise desta Epístola temos de ter
presente o seguinte:
Um texto sagrado possui características
muito próprias. Temos de nos familiarizar
com o estilo, conhecer a terminologia, e ter
presente o propósito do autor, se preten-
demos compreender o sentido do texto.
Se não tivermos presentes essas
características, corremos um sério de risco
de não perceber o texto.
4
Algumas Dificuldades...

As Escrituras reveladas por Bahá’u’lláh podem


apresentar diversas dificuldades a um leitor.
Exemplos :
CONTEXTUALIZAÇÃO  Que circunstâncias
rodearam a revelação do texto? Quando e onde
foi revelado? Porque foi revelado? Trata-se de
respostas a algum crente? (se sim, então quais
as perguntas e motivações do crente?)
ASSUNTOS  Podem existir vários temas
principais e diversos temas secundários, referidos
por vezes numa pequena frase ou metáfora,
Estes últimos podem passar despercebidos.
ESTILO  Sobreposição de temas e
relacionamento entre estes. No meio do texto
podemos encontrar invocações e orações.

5
Contextualização

6
A Epístola de Maqsud

Akká, 1880
Esta epístola foi revelada em 'Akká, em 20 de Janeiro de 1882, durante o
quarto exílio de Bahá'u'lláh.
Alguns excertos desta epístola foram publicados ao longo do século XX.
Em 1978 foi disponibilizada a sua tradução integral, primeiramente em
inglês, e posteriormente noutras línguas, num volume intitulado
"Epístolas de Bahá'u'lláh reveladas após o Kitab-i-Aqdas".
Trata-se de um conjunto de epístolas reveladas por Bahá'u'lláh durante
os últimos anos da Sua vida; nelas se esclarecem e reafirmam alguns
ensinamentos anteriormente estabelecidos.
7
Quem foi Maqsúd? (1)

O destinatário foi um crente


chamado Mirzá Maqsúd que
vivia na Síria. Pouco se sabe
sobre ele.
A própria Epístola de Maqsúd
acaba por ser praticamente a
única fonte de informação

Damasco, 1877
sobre este crente.
Assim, sabemos que Maqsúd
vivia em Damasco e tinha
escrito pelo menos duas vezes
a Bahá'u'lláh.
Também sabemos que ele se dedicava à poesia e que alguns dos
seus poemas tinham sido recitados na presença de Bahá'u'lláh.
Nesses poemas podia-se perceber o quanto ele desejava visitá-Lo
pessoalmente.

8
Quem foi Maqsúd? (2)

Bahá'u'lláh devia ter muita estima por Maqsúd pois afirma-lhe que
Se lembrará dele e declara que Deus também se lembrará dele.
Bahá'u'lláh acrescenta também que o nome de Maqsúd é muitas
vezes mencionado na Sua presença.
Quando a epístola foi revelada, Maqsúd preparava-se para
empreender uma viagem a Mossul (Iraque) com o objectivo de
divulgar a Fé Bahá’í.
Bahá'u'lláh faz-lhe algumas recomendações sobre essa viagem,
aconselhando-o a usar tacto e sabedoria.
Bahá'u'lláh apresenta ainda alguns conselhos de ordem espiritual e
material. Assim, diz-lhe que se ele ficar feliz com tudo o que lhe
suceder isso será digno de louvor. Também o aconselha a arranjar
uma profissão.
Já no final da Epístola, Bahá'u'lláh revela também uma oração para
Maqsúd.

9
Enquadramento histórico
Nos anos anteriores à revelação da Epístola de Maqsúd tinham
ocorrido dois eventos que lançaram muita perturbação no
mundo islâmico em que se movimentava a recém-nascida
comunidade Bahá’í:
• A guerra Russo-Otomana (1877-1878).
• Crise do Egipto e bombardeamento de Alexandria (1882)

10
A humilhação Otomana (1878)

Perdas Territoriais Otomanas (1877)


A guerra Russo-Otomana (1877-
1878) tem as suas raízes nos
diversos massacres de cristãos
em províncias Otomanas. Inicia-se
com o apoio Russo aos
movimentos nacionalistas nos
Balcãs e termina com enormes
perdas territoriais para o Império
Otomano:

Capitulação dos Turcos em Nikopol (1877)


• Independência da Roménia, Servia e
Montenegro, Bulgária.
• Bessarábia e Kars (Rússia)
• Chipre (Reino-Unido),
• Bósnia-Herzgovina (Império Austro-
Húngaro)

11
Alexandria (1882)

O bombardeamento de Alexandria foi precedido por um crise política e


teve como pretexto um motim onde morreram cerca de 50 Europeus. A
frota britânica arrasou a cidade.
«Hoje, à hora em que
escrevo, Alexandria é
apenas um imenso
montão de ruínas. Do
bairro europeu, da famosa
Praça dos Cônsules, dos
hotéis, dos bancos, dos
escritórios das
companhias, dos cafés-
lupanares resta apenas
um confuso entulho sobre
o solo, e aqui e além uma
parede enegrecida que se 12
Temas da Epístola

Na Epístola de Maqsúd é
possível identificar alguns
temas centrais:

 Revelação e Religião;
 A Civilização;
 O Ser Humano.

Também podemos identificar alguns temas secundários, a


que Bahá’u’lláh dedica apenas um parágrafo ou uma linha.
Os temas são intercalados uns com os outros e também
com palavras dirigidas a Maqsúd, invocações ao Criador e
orações.
13
Revelação e Religião

14
Muitas questões sobre religião...

• Para que serve a religião?


• Porque é que há tantas religiões?
• Porque é que as religiões têm
influência positiva e negativa?
• Serão as religiões compatíveis
entre si?
• Será possível que apenas uma
religião que seja verdadeira e
todas as outras sejam falsas?
• Haverá alguma religião que seja
a palavra final de Deus à
humanidade?

15
Revelação e Religião
Na Epístola de Maqsud, Bahá'u'lláh afirma a
veracidade das grandes religiões mundiais e
descreve-as como etapas de um processo gradual
de Revelação Divina. Simultaneamente rejeita
qualquer pretensão de exclusivismo ou finalidade
proclamado pelo clero em qualquer religião.
O fundador da Fé Bahá’í declara que Deus envia
ciclicamente Mensageiros Divinos à humanidade.
Esses Mensageiros - os fundadores das grandes
religiões mundiais - trazem ensinamentos cujo
objectivo é guiar e esclarecer os povos.
E sempre que apareceu algum Mensageiro Divino,
Ele foi perseguido e acusado de ser instigador da
miséria e aflição entre os povos.
O segundo parágrafo da Epístola a Maqsúd
contém um resumo deste conceito que na
terminologia Bahá’í se designa por “Revelação
Progressiva".
16
Revelação e Religião

“Em cada era e ciclo Ele tem, em conformidade com a Sua


transcendente sabedoria, enviado um Mensageiro Divino para
ressuscitar as desalentadas e esmorecidas almas, com as águas
vivificadoras das Suas palavras, Aquele que é, em verdade, o
Esclarecedor, o verdadeiro Intérprete, pois o homem é incapaz de
compreender aquilo que emanou da Pena da Glória e que está
anotado nos Seus Livros Celestiais. Os homens, em todos os
tempos e sob todas as condições, têm necessidade de alguém que
os possa exortar, guiar, instruir e ensinar. Por isso Ele tem enviado
os Seus Mensageiros, os Seus Profetas e eleitos, a fim de dar a
conhecer ao povo o desígnio divino subjacente à revelação de
Livros e o aparecimento de Mensageiros, e para que cada um
tomasse consciência da incumbência de Deus que está latente na
realidade de cada alma.” [2].

17
Revelação e Religião

DEUS
( ... )
Bahá’u’lláh
Báb
Maomé

Cristo
Buda
Zoroastro
Moisés
Krishna
Adão

18
Revelação e Religião
A Epístola de Maqsúd mostra-nos quais devem ser os objectivos
da religião e quais as suas potencialidades como agente
transformador do mundo.
Assim, segundo o fundador da religião Bahá’í, o propósito da
religião é “salvaguardar dos interesses, promover a unidade da
raça humano e fomentar entre os homens o espírito de amor e
amizade. Não permitais que se torne fonte de dissensão e
discórdia, de ódio e inimizade”[15].
Bahá'u'lláh acrescenta uma
breve referência aos dirigentes
religiosos, os quais devem
consultar com os governantes
sobre o que melhor sirva os
interesse da humanidade; os
dirigentes religiosos também
têm o seu papel a
desempenhar na reabilitação
da condição humana.
19
Revelação e Religião

Ao longo da evolução da humanidade,


houve grandes progressos e terríveis
aflições. Não se pode ignorar a
capacidade da religião para orientar o
progresso e mitigar os sofrimentos.
Segundo Bahá'u'lláh, as Escrituras
apontam o caminho para acompanhar
a evolução da humanidade e resolver
os seus problemas.
Para ilustrar este aspecto, utiliza a
metáfora “frutos da árvore da
sabedoria”[27] para se referir aos
ensinamentos de Deus contidos nas
escrituras, e acrescenta que os povos
do mundo parecem incapazes de apreciar o paladar desses frutos
devido à “febre da negligência e da insensatez”[33].

20
Revelação e Religião
Segundo Bahá'u'lláh, a origem de muitos
dos problemas da humanidade parece
estar na incapacidade dos seres humanos
para por verdadeiramente em prática os
ensinamentos de qualquer religião.
Quando uma pessoa põe em prática os
ensinamentos de uma religião, ela
transforma-se e afecta de forma positiva
todos os que a rodeiam; a mera
transformação política e social também
defendida nesta Epístola, só por si não
surtirá grandes efeitos.
É necessária também uma transformação
ao nível individual. Como alguém
escreveu, não é possível fazer uma
sociedade de ouro com pessoas de
chumbo.
21
Revelação e Religião
Todas as religiões possuem as suas Escrituras
onde se encontram registadas palavras,
ensinamentos e tradições associadas com o
Manifestante ou com os primeiros crentes.
Algumas dessas Escrituras são consideradas
como emanações do Verbo de Deus
A Epístola de Maqsúd descreve o Verbo de
Deus como a força mais poderosa entre a
criação: “...a sua influência penetrante é
incalculável. Sempre dominou e para sempre
continuará a dominar o reino da existência”[32].
Apesar de Bahá'u'lláh não Se alargar muito
sobre este assunto nesta epístola, ainda assim
utiliza metáforas interessantes que descrevem
o poder do Verbo Divino: “...um oceano cujas
riquezas são inesgotáveis”[32] “...chave mestra
para o mundo inteiro”[32].

22
A Civilização

A paz mundial, a arte de governar


e o bem-estar dos povos

23
A Situação da Humanidade (1)
Segundo Bahá'u'lláh, a
humanidade tem sido afligida
por várias convulsões, e no
entanto, ninguém parece ter
parado para reflectir um
momento sobre os motivos da
intranquilidade dos povos.

3 de Maio de 1808, Goya


"Os ventos do desespero,
lastimavelmente, sopram de
todos os lados e aumenta dia
a dia a contenda que divide o
género humano“ [27].
Os seres humanos parecem estar divididos uns contra os outros e sempre
dispostos ao conflito. Ao olhar para a sucessão de conflitos e barbáries, e
a persistência de alguns dirigentes nesse tipo de actos, Bahá'u'lláh deixa
uma lamentação: “Por quanto tempo haverá a injustiça de continuar? Até
quando reinará entre os homens o caos e a confusão? Até quando haverá
a discórdia de agitar a face da sociedade?” [26]

24
A Situação da Humanidade (2)
Apesar do nosso planeta ter mudado muito - para melhor e para
pior - desde o momento da revelação desta epístola até aos dias
de hoje, estas questões não podem deixar de nos fazer pensar um
pouco.
Os problemas que Bahá'u'lláh aponta não são apenas os
existentes na Sua época; as palavras do fundador da religião
bahá’í nesta Epístola aplicam-se à história da civilização humana.
Mas Bahá’u’lláh não tem uma visão fatalista. Ele
afirma que o Ser Humano - enquanto criatura
racional - tem todas as capacidades para resolver
os seus problemas; mas, estranhamente, não
parece querer fazer uso dessas capacidades para
resolver esses problemas.
Para responder aos problemas actuais da
humanidade, Bahá’u’lláh advoga a necessidade
da construção de uma Nova Ordem Mundial.
25
Uma Nova Ordem Mundial (1)
A expressão “Nova Ordem Mundial” tem sido
usada para descrever mudanças consideráveis e
reequilíbrios de poder na política mundial.
A expressão teve algum uso no final das duas
Guerras Mundiais, mas foi só no final da Guerra
Fria, que começou a ter um uso mais frequente.
Nessa ocasião, os presidentes Americano e
Soviético sentiram necessidade de definir a
natureza do mundo numa era de ambicionavam
ser de cooperação entre super-potências.
Mais recentemente, a expressão voltou a ser usada para descrever a
necessidade de soluções globais para problemas ambientais, crises
económicas, e outros problemas globais como a administração de
instituições mundiais (Banco Mundial, FMI, o G-20) assim como a criação
de uma força de intervenção militar rápida em estados falhados.
A expressão pode ainda ter uma conotação negativa e ser apresentada
como sinónimo de “imperialismo” ou ditadura global («1984»).
26
Uma Nova Ordem Mundial (2)

Depois de caracterizar os problemas da ordem política e social que


afectam os povos da terra, Bahá’u’lláh apresenta uma fórmula para se
alcançar a paz e a tranquilidade entre os povos do mundo:

“Há de vir o tempo em que se compreenda universalmente a necessidade


imperiosa de se convocar uma vasta assembleia de homens – assembleia
essa, que a todos abranja. Os governantes e reis da terra devem
forçosamente assisti-la e, participando das suas deliberações, considerar
aqueles meios necessários e modos que possam lançar entre os homens
os alicerces da Grande Paz do mundo. Tal paz exige que as Grandes
Potências resolvam, para tranquilidade dos povos da terra, reconciliar-se
plenamente entre si. Se algum rei recorrer a armas contra outro, todos
unidos, deverão levantar-se e impedi-lo. Se isto for feito, as nações do
mundo não mais precisarão de armamentos, excepto a fim de preservar a
segurança dos seus domínios e manter a ordem interna dentro dos seus
territórios. Isto assegurará a paz e o sossego de cada povo, governo e
nação“ [8].

27
Uma Nova Ordem Mundial (3)

O parágrafo anterior é um dos mais


citados das Escrituras Bahá’ís e contém
uma fórmula que parece óbvia aos olhos
de qualquer pessoa com um pouco de
bom senso, nos dias de hoje.
Na história recente já assistimos a
algumas tentativas de pôr em prática
planos semelhantes a este. A Sociedade
das Nações e a Organização das Nações
Unidas são os exemplos que mais
rapidamente nos ocorrem.
Estas duas organizações foram criadas
na ressaca de Guerras Mundiais. De
alguma forma, reflectem o equilíbrio
político mundial da época em que foram
criadas; com o passar do tempo tornaram-
se desajustadas às necessidades
mundiais.
28
Uma Nova Ordem Mundial (4)

Neste sentido, não é de admirar que hoje se exija a reforma da ONU,


reclamando que seja mais equilibrada, mais interventiva, e mais
representativa dos actuais equilíbrios mundiais.
Uma interpretação possível das palavras de Bahá'u'lláh, leva-nos a
pensar que este tipo organização mundial deveria reflectir o equilíbrio
desejável entre as nações e não o equilíbrio vigente numa determinada
época da história da humanidade.
Conseguiremos construir
uma Ordem Mundial
suficientemente forte para
ser globalmente aceite, e
suficientemente flexível
para se conseguir adaptar
às mudanças que
inevitavelmente ocorrem
no mundo?
29
A Arte de Governar (1)

Hoje fala-se muito da separação de


Estado e Religião.
É uma necessidade dos Estados
Constitucionais modernos, depois de
séculos em que houve uma religião
maioritária favorecida.
E frequentemente se condenam as
interferências do poder secular nos
assuntos religiosos, assim como as
interferências dos poderes religiosos
nos assuntos do Estado.

Bahá'u'lláh nunca pretendeu interferir nos assuntos da Governação; na


Epístola aos Reis já tinha afirmado: "Não é Nosso desejo apoderarmo-
nos dos vossos reinos.“

30
A Arte de Governar (2)
Mas Bahá'u'lláh não se coíbe de apresentar
diversos valores éticos que devem nortear
os governantes.
Na Epístola de Maqsúd, reis e governantes
são descritos como "símbolos do poder de
Deus“ [6].
Bahá’u’lláh afirma que a justiça deve ser a
pedra angular dos actos de qualquer
Homem de Estado. O seu objectivo deve ser
“o bem-estar, a segurança e a protecção do
género humano e salvaguardar vidas
humanas” [12].
Bahá’u’lláh também não hesita em condenar
os tiranos, e lamenta que "o tabernáculo da
justiça tenha caído nas garras da tirania e
opressão“[10].

31
A Arte de Governar (3)

Na Epístola de Maqsúd, Bahá'u'lláh acrescenta que os governantes


devem ter uma visão mundialmente abrangente.
O serviço ao Estado não pode ser feito apenas tendo como
objectivo levar benefícios a um determinado povo (em detrimento
de outros), beneficiar apenas um segmento da sociedade ou uma
certa classe social.
Bahá'u'lláh esclarece: "É homem, verdadeiramente, quem hoje se
dedica ao serviço da humanidade inteira“[13]. E quanto aos
nacionalismos vigentes: “Que não se vanglorie quem ama o seu
próprio país, mas sim quem ama o mundo inteiro. A terra é um só
país e a humanidade os seus cidadãos“[13].
Os Governantes devem estar conscientes deste sentido de justiça e
de serviço à humanidade para levar os povos a perceber quais os
seus melhores interesses.

32
Uma língua auxiliar internacional

Outro ensinamento apresentado nesta


Epístola consiste na adopção de uma língua
auxiliar internacional: "Aproxima-se o dia em
que todos os povos terão adoptado um
idioma universal e uma escrita comum.
Quando isto for realizado, não importa a que
cidade um homem viajar, será como se
estivesse entrando em sua própria casa“ [10].
Trata-se de mais uma medida destinada a
aumentar o entendimento e a concórdia
entre os povos do mundo.
As nações da terra devem nomear homens de sabedoria que,
mediante diálogo e consulta, deverão escolher "uma língua entre
as várias línguas existentes, ou criarem uma nova, a ser ensinada
às crianças em todas as escolas do mundo“[9].

33
O Ser Humano

… e alguns ensinamentos éticos.

34
O Humanismo
Após o séc. XV, o Renascimento e o Iluminismo, permitiram o
aparecimento de várias correntes de pensamento humanista. Nestas
proclamava-se a dignidade e valor de todo o ser humano, e salientava-se
a importância da sua racionalidade.
Erasmo de Roterdão (1469-1536), teólogo católico
holandês, foi um dos expoentes máximos do
humanismo renascentista. É considerado o educador
dos educadores; ao longo da sua vida exortou os
seus seguidores a dedicarem-se ao ensino e a
fundarem escolas.
Acreditava que sem educação, a civilização seria
substituída pela barbárie. A educação desenvolve o
ser humano e afastando-o das outras criaturas: as
pessoas agem pela razão; os animais pelo instinto.
Por esse motivo a razão deve ser desenvolvida
através da educação.
 «Os homens não nascem homens; eles tornam-
se homens».
35
O Ser Humano

Nas Escrituras Baha’is podemos encontrar


diversas confirmações da validade da
perspectiva humanista e muitas referências à
importância da educação no desenvolvimento
do potencial humano.
Na Epístola de Maqsúd, Bahá'u'lláh descreve
o ser humano como um "talismã supremo"[3]
e "uma mina rica em jóias de inestimável
valor”[3]. Como expoente máximo da criação,
o ser humano deve manifestar um "belo
carácter, acções puras e uma conduta
decorosa e louvável"[28].
E se o ser humano possui um estatuto
elevado aos olhos de Deus, também
elevados devem ser os seus esforços com
vista a reabilitar o mundo e a trabalhar pelo
bem-estar das nações[36].
36
O Ser Humano

Bahá'u'lláh considera que a falta de educação


tem impedido os seres humanos de revelar todo
o seu potencial e enfatiza que as crianças
devem estudar as ciências e letras que
"resultarão em vantagem para o homem, lhe
assegurem o progresso e lhe elevem a
condição"[17].

"Os estudos académicos que


começam com palavras e terminam
com palavras nunca tiveram e
jamais terão valor algum"[18].
E seguidamente refere como tantos
doutores da Pérsia cujos estudos
nada produzem senão palavras.
37
Os Sábios

À semelhança de outras epístolas,


Bahá'u'lláh também aqui se refere aos
"sábios e eruditos", enfatizando a sua
importância na sociedade: "o homem
de consumada erudição e o sábio
dotado de sabedoria penetrante são os
dois olhos do corpo da humanidade.
Queira Deus, que a terra jamais se veja
privada destas duas maiores
dádivas"[24].
O seu papel na educação do povo e
disseminação do conhecimento, coloca-
os como agentes fundamentais de
regeneração social.
Estes homens devem servir todos os
povos da terra.
38
As Palavras
Para descrever o poder das palavras humanas, Bahá'u'lláh, usa várias
metáforas:
• "Uma palavra pode ser comparada
ao fogo, e outra à luz, e a influência
que ambas exercem no mundo está
manifesta"[31];
• "Assemelha-se uma palavra à
primavera, a qual torna verdejante e
florescentes os tenros arbustos do
roseiral do conhecimento, assim
como outra palavra é veneno
mortal"[31].
Cada pessoa ao expressar-se deve
fazê-lo de maneira a causar no seu
ouvinte o que seja digno da condição
humana.
Ou seja, as palavras podem levar o
homem a cometer actos louváveis ou
actos indignos da sua condição.
39
Moderação
A necessidade de diálogo e moderação nas
actividades humanas – repetidamente
defendida por tantos sábios e filósofos - é
também enfatizada na Epístola de Maqsud.
«Nunca entres em excessos; deixa que a
moderação te guie» (Cícero)
Esta é uma recomendação não apenas para o
cidadão comum, mas também para qualquer
pessoa que exerça um cargo de autoridade:
"O que passar além dos limites da moderação
deixará de exercer uma influência
benéfica"[19].
A moderação deve ser aplicada também nas
palavras, juntamente com tacto e sabedoria
[29, 30] . 40
Concluindo…
Ao longo da Epístola de Maqsud, Bahá’u’lláh
aborda o propósito da religião, sugere
soluções para o estabelecimento da paz
entre as nações, discorre sobre o valor do ser
humano e apresenta diversos ensinamentos
éticos.
Existem outros textos do fundador da Fé
Bahá’í onde se expõem outros princípios
destinados à transformação humana, social e
política do planeta.
Estas propostas não devem ser vistos como
uma panaceia; tratam-se de linhas mestras
que permitem transformar um mundo de
Nações numa aldeia global, justa, equilibrada
e em constante progresso.
Nestas propostas de Bahá’u’lláh existe um
princípio que se pode resumir na frase: "Sois
os frutos de uma só árvore e as folhas de um
mesmo ramo“ [6]. (Gl 3, 27-28)
41
Concluindo…

Fizemos uma breve análise de uma epístola de Bahá’u’lláh


Identificámos diversos temas que figuram entre os princípios e
ensinamentos da religião Bahá’í.
Esta análise podia ser mais vasta e profunda.
E certamente que outras pessoas poderão identificar outros temas e
motivos de interesse nesta epístola.
Espero que o esta apresentação tenha despertado a vossa curiosidade e
interesse por este documento.

42
Para mais informações:

Marco Oliveira

marco_oliv@yahoo.com

http://povodebaha.blogspot.com/

http://www.bahai.pt

43
A Guerra de Russo-Otomana

44

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