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8&9

Especial
Florianópolis, dezembro de 2008
Com 23 km², 80 mil habitantes e 37 alterações de zoneamento, a Bacia do Itacorubi é composta por oito
bairros. Enquanto se discute a aprovação do PDP, a região cresce de forma desordenada contabilizando
centenas de construções irregulares e embargos a obras que deveriam estar paralisadas

Plano diretor da capital foi alterado 368 vezes


Mais da metade são modificações no zoneamento, responsável por regular o que se pode construir em cada área da cidade. 37 estão na Bacia do Itacorubi
Desde 1997, Bacia do Itacorubi teve 476
embargos de obras nas principais avenidas
O Plano Diretor de 1997, que de- Caso algum ponto seja desrespeitado, (predominantemente comercial).
termina o que se pode construir em tanto o município quanto a população Muitos pontos comerciais se estabe-
Todo município com mais de 20 arquiteto Renato Saboya, especialista Institucional (ACI). Mas a Lei Comple- Bacia do Itacorubi cada região, é desrespeitado e, muitas podem pedir o embargo ao Ministério leceram em locais residenciais e não
mil habitantes deve ter um documento em planejamento urbano e planos di- mentar 175, de 2005, que dispõe sobre João Paulo vezes, alterado em função de interes- Público, chamada de a nunciação de adequaram a documentação.
que defina como a cidade deve se de- retores, explica que os de Florianópolis incentivos à construção de shopping Conheça algumas das principais Área de preservação limitada se privado. Nas principais avenidas obra nova, muitas vezes mais rápido O número aumenta quando se
senvolver e crescer sustentavelmente, o foram feitos com base no microzone- centers, alterou o zoneamento de todo alterações de zoneamento na região a certas construções alterada dos bairros que compõem a Bacia do que o processo administrativo. Caso a compara a região ao centro de Floria-
chamado Plano Diretor (PD). Em Flo- amento. “Com 30 microzoneamentos, o local para Área Mista de Serviços para preservação permanente Itacorubi (Trindade, Córrego Gran- obra não se adeque às normas, pode so- nópolis, em que a estimativa de esta-
rianópolis, existem dois em vigor: dos o Plano da capital é uma colcha de (AMS), onde é permitido esse tipo de (proibido construir) de, Itacorubi, Saco Grande e parte da fre a ação demolitória. Dos embargos belecimentos comerciais com ex-oficio
Balneários, de 1985, e do Distrito Sede retalhos. Após todos esses anos de mu- empreendimento. Agronômica, João Paulo e Pantanal) ocorridos desde a aprovação do Plano chega a 80%. Enquanto a regulariza-
(área urbana), de 1997, que dentro das danças, a lógica que mal existia ficou Sobre as 368 alterações de zonea- foram registrados nesses 11 anos do Diretor atual, em 1997, apenas 10% dos ção junto à Prefeitura exige burocra-
zonas urbana e rural, prevêem 30 tipos ainda mais difícil de se identificar.” mento em toda a cidade, Rosa afirma 4 Plano Diretor 476 embargos a cons- embargos terminaram em demolição. cia, o estabelecimento com ex-oficio
de microzoneamento. Nesses 23 anos, Na Madre Benvenuta - principal que em 2006 foi exigida uma mora- 1 truções irregulares, 55 demolições de Concluída a obra regularmente, a paga uma multa de R$ 10 por mês e
de crescimento intenso e desordena- avenida do bairro Santa Mônica-, por tória. O Engenheiro Civil da Câmara obras não regularizadas. Além disso, SUSP emite o habite-se, que declara que pode continuar em funcionamento.
do, a câmara aprovou 200 leis com- exemplo, há quatro zoneamentos: Área Municipal, Antônio José da Silva Filho, Área de preservação 50% dos estabelecimentos comerciais a propriedade está de acordo com todas
plementares alterando o zoneamento. Residencial Predominante (ARP), Área explica que, na verdade, há um consen- Shopping Iguatemi permanente operar sem alvará. as normas anteriores. Após a concessão Juliana Sakae
Penitenciária - Trindade Área de
Uma das áreas de maior atenção é a Comunitária Institucional (ACI), Área so na casa de não alterar o zoneamento Área residencial alterada Área destinada à educação, preservação Só na Rodovia João Paulo, princi- do documento, a construtora não pode
Bacia do Itacorubi. Verde de Lazer e Área Mista Central. enquanto o novo Plano Diretor Parti- para área verde de lazer cultura, saúde, segurança, limitada pal rua do bairro de mesmo nome, fo- mais sofrer ação demolitória. Obras embargadas
O presidente do Instituto de Planeja- Esta última, onde predominam ativida- cipativo não ficar pronto. Mas existem (praças e parques) e lazer e recreação alterada ram registrados 85 embargos de obra.
mento Urbano de Florianópolis (Ipuf), des comerciais, é resultado da alteração exceções. “Alterações referentes às Áreas para área onde predomi- A Secretaria de Urbanismos e Serviços Ex-oficio Trindade > Av. Lauro Linhares – 71
destinada à educação,
Ildo Rosa, diz que os planos foram con- feita pela Lei Complementar 076/04. A Verdes de Lazer (AVL) e Áreas Comuni- nam serviços pesados 3 Públicos (SUSP) é a responsável pela A avenida Madre Benvenuta, princi- embargos / 12 demolições
cultura, saúde, segurança,
cebidos de forma técnica e tornaram- Bacia do Itacorubi abriga ainda os tárias Institucionais (ACI), como pra- fiscalização e abertura do processo pal do bairro Santa Mônica, além de 49 Santa Mônica > Av. Madre Benvenuta
lazer e recreação
se incompatíveis com a realidade da bairros: Trindade, Córrego Grande, Ita- ças e hospitais, e às chamadas Zonas administrativo de embargo, que te- embargos de obra, possui 40% dos es- – 49 obras / 8 demolições
cidade. Além disso, a linguagem com- corubi, Saco Grande e parte da Agronô- Especiais de Interesse Social, que dizem Av. Madre Benvenuta oricamente impede uma construção tabelecimentos comerciais em situação Itacorubi > Av Admar Gonzaga – 65
plexa com tantos tipos de zoneamento mica, João Paulo e Pantanal. respeito a projetos habitacionais, con- 6 Área exclusiva para casas irregular de continuar até que sejam de ex-oficio, de acordo com estimativa obras / 5 demolições
dificulta a fiscalização pela população. O Santa Mônica foi palco de confli- tinuam sendo feitas”, afirma. Desde o e serviços de pequeno feitas as adequações. da SUSP. Esse tipo de alvará concede Pantanal > Av. Dep. Antônio Edu Vieira
“Às vezes, há três ou quatro tipos de tos envolvendo a construção do shop- fim de 2006, foram dez mudanças de LEGENDA 8 porte alterada para predo- Vários quesitos devem ser obser- ao comerciante permissão para funcio- – 79 obras / 15 demolições
zoneamento na mesma rua. Um pode ping Iguatemi. De acordo com o Pla- zoneamento em Florianópolis, duas 1 AGRONÔMICA minantemente comercial Córrego Grande vados antes do início da construção, nar sem possuir todos os documentos, Córrego Grande > Av. João Pio Duarte
construir um prédio de seis andares e no Diretor de 1997, o terreno era Área delas na Bacia do Itacorubi. Área de preservação como o zoneamento indicado à natu- como, por exemplo, o habite-se, ou sem Silva – 60 obras / 2 demolições
2 CÓRREGO GRANDE João Paulo > Rod. João Paulo – 85
o vizinho, não, porque está em uma Mista de Serviços (AMS) na sua maior 7 alterada para preservação reza da obra, a suficiência do sanea- respeitar o zoneamento.
área residencial exclusiva”, afirma. O porção e, em parte, Área Comunitária Luisa Frey 3 ITACORUBI Pantanal Córrego Grande permanente (proibido mento e abastecimento de água da O excesso de irregularidade naque- obras / 9 demolições
Área de preservação Área exclusivamente resi- construir) e região após a construção, adequação la região se deve à mudança de zonea- Saco Grande > Rod. Virgílio Várzea
4 JOÃO PAULO
Atraso e falta de regras definidas para PD 5
6
PANTANAL
SACO GRANDE
alterada para preservação
permanente (proibido
construir) e residencial
2 dencial alterada para área
de preservação limitada a
alguns tipos de construção
residencial exclusiva do sistema viário para não gerar trá-
fego e o impacto ambiental (ver box).
mento da avenida, que alterou a área
de residencial para área mista central
– 67 obras / 4 demolições

Participativo desagrada Núcleo Gestor 7 SANTA MÔNICA


8 TRINDADE
exclusiva
1
Órgãos públicos burocratizam o acesso
As reuniões para a elaboração do
novo Plano Diretor (PD) para a capi-
tal, agora participativo, começaram
de que as deliberações da comunida-
de sejam aprovadas e que teme que o
caráter participativo se torne um simu-
centrará no macrozoneamento, segui-
do pelo micro. Em paralelo será feito
o zoneamento ambiental e deverá ser Como alterar o zoneamento
Arte: Ítalo Mendonça

a informações consideradas públicas


em agosto de 2006, quando terminava lacro. “Dependemos da boa vontade do regulamentada a implementação dos Os dados levantados pelo ZERO visual, sonoro ou eletrônico”. deral e Estadual e obteve a confirma-
o prazo de cinco anos para que fosse Executivo. Onde está escrito que as de- instrumentos de democratização da 1 2 3 4 5 6 para a reportagem sobre os embar- O ZERO fez 28 ligações para as se- ção do direito de acesso à quantidade
concluído. Uma das razões para o pro- liberações do Núcleo serão acatadas?”, gestão urbana previstos no Estatuto O Executivo (prefeito), o O projeto é lido no plená- É obrigatória a convoca- Após análise técnica e co- As comissões de Cons- Aprovado pelas comis- gos de obras na Bacia do Itacorubi guintes instituições: Floram, Ibama, de processos administrativos.
cesso se prolongar até hoje foi a demo- questionou na reunião Edson Cattoni, da Cidade, como o Estudo de Impac- Legislativo (vereador) ou rio da Câmara. Em alguns ção de uma audiência munitária, o projeto passa tituição e Justiça, Meio sões, a alteração entra em são considerados públicos, de acordo Fatma, Ministério Público Federal, Após o Secretário José Carlos
ra da constituição do Núcleo Gestor. do Instituto de Arquitetos do Brasil to de Vizinhança (EIV) e o Conselho a sociedade civil propõe casos é solicitado um pa- pública antes de entrar pela análise de quatro Ambiente, Viação, Obras votação e só é aprovada com a lei 10.650/2003 que estabele- SUSP e Pró-Cidadão. Nenhuma delas Rauen ter negado autorização duas
Após as leituras comunitária e técni- (IAB). Ângela Liutti, presidente da da Cidade. As propostas aprovadas no projeto de lei na Câmara recer técnico para o Ipuf, em votação na Câmara comissões formada por públicas e Urbanismo de- com um terço de votos (5 ce: “Os órgãos e entidades da Admi- soube informar a quantidade de obras vezes, alegando que a secretaria
ca, foram elaboradas cerca de 2 mil União Florianopolitana das Entidades processo participativo aguardam para de Vereadores Floram, Fatma ou Ibama dos Vereadores vereadores vem dar seus pareceres vereadores) nistração Pública ficam obrigados a embargadas na região, embora o pro- deveria ser “provocada constitucio-
diretrizes, apresentadas em audiência Comunitárias (Ufeco), destaca a im- serem transformadas em um Projeto permitir o acesso público aos docu- cesso passe por todas as instâncias. nalmente” para informar o dado
pública em julho. Mas faltam regras portância de a população se organizar de Lei, que deverá ser aprovado pela mentos, expedientes e processos ad- A única com levantamento quan- procurado, a SUSP liberou a in-
para garantir a participação efetiva da e fazer pressão nas audiências públicas. Câmara e sancionadas pelo prefeito. ministrativos que tratem de matéria titativo da informação, a SUSP, ne- formação mediante pedido formal
comunidade. A audiência para apro-
var as deliberações foi cancelada por
causa das eleições municipais e ainda
“Se não tiver força do povo, vão aprovar
o Plano Diretor que eles quiserem.”
Os recursos para o PDP não estão
Só então, o Plano Diretor será colo-
cado em prática. Não há previsão de
conclusão do processo. (L.F.)
Se aprovada, lei irá proibir novas construções ambiental e a fornecer todas as in-
formações ambientais que estejam
sob sua guarda, em meio escrito,
gou o acesso a princípio. O ZERO en-
trou em contato com a cordenadoria
jurídica dos Ministérios Públicos Fe-
do departamento de Jornalismo da
Universidade Federal de Santa Cata-
rina (UFSC). ( J.S.)
não foi remarcada. previstos no orçamento do município, Projeto do Defeso da Bacia do Itacorubi completa, em janeiro, um ano parado na Câmara
De acordo com o Estatuto da Cida- mas o poder público deve destinar ver- Núcleo Gestor Passos obrigatórios para licenciar um empreendimento
de, Lei Federal 10.257 de 2001, o direi- bas para o plano. O Núcleo reclama da Com 23 km², 80 mil habitantes e 37 O projeto, porém, completa um ano e saneamento”, diz o Coordenador do adas 400 alterações, só mostra o dina- IPUF
to à participação popular se transfor- falta de divulgação. “Foi um plano de Criado pelo Decreto Municipal 4.771, de alterações de zoneamento (ver mapa), em discussão na Câmara de Vereadores subnúcleo da Bacia do Itacorubi na mismo da cidade”, escreve o presidente CONSTRUTORA PRÓ-CIDADÃO SUSP FATMA
CASAN
ma em requisito constitucional para mídia muito tímido, com a distribui- março de 2007. O Núcleo Gestor Partici- a Bacia do Itacorubi cresce desordena- no próximo mês. A Secretaria de Ur- discussão do PDP, João Carlos da Silva. da Associação, Dilvo Vicente Tirloni.
a instituição do PD em todas as suas ção de cartilhas e cartazes nos ônibus. pativo é composto por 13 representantes damente enquanto se discute a apro- banismo e Serviços Públicos (SUSP), Mas as posições são divergentes. A Questionado pelo ZERO sobre a
fases. “O Plano Diretor Participativo Precisamos divulgar o Plano Diretor distritais; 16 membros da sociedade civil, vação do Plano Diretor Participativo responsável por conceder licenciamen- Associação Comercial e Industrial de demora na aprovação, o presidente do
dará à população uma sensação de Participativo na TV, durante o horário como a União Florianopolitana das Entida- (PDP). Os moradores dos oito bairros tos para construção em Florianópolis, Florianópolis (ACIF) encaminhou à Câ- Instituto de Planejamento Urbano de
pertencimento”, diz Ildo Rosa, presi- nobre”, diz Peres. Segundo o Ipuf, a des Comunitárias (Ufeco), a Universidade do da região pedem pela aprovação do registrou um aumento de 52,6% de mara uma carta em que repudia a ini- Florianópolis (IPUF), Ildo Rosa, diz O Plano Diretor estabe- O processo é aberto O alvará de construção Se representar risco ao Nos empreendimentos de
dente do Instituto de Planejamento campanha foi realizada durante todo Estado de Santa Catarina (Udesc) e a Uni- projeto de lei 951/2008, conhecido por permissões desde a entrada do projeto ciativa e considera o projeto uma “vio- que os interesses privados e políticos lece várias normas antes e enviado para cada é concedido se o projeto meio ambiente, a cons- grande porte, o Ipuf deve
Urbano de Florianópolis (Ipuf) e do o processo, com faixas, carros de som, versidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Defeso da Bacia do Itacorubi, que prevê na Câmara. lência desmesurada contra a iniciativa são sempre sobrepostos ao público em do início da construção. instituição que deve da construção está ade- trutora deve se adequar a emitir parecer técnico e a
Núcleo Gestor. panfletos, comunicados das audiências e 10 membros do Poder Público, como a a proibição temporária da concessão de A medida visa proteger o patrimô- privada e a população trabalhadora”. Florianópolis. “A Bacia do Itacorubi é a A empresa deve cumprir analisar a viabilidade da quado ao zoneamento no normas ambientais para Casan, verificar se o abas-
Lino Peres, representante da UFSC públicas na TV. A verba total destinada Fundação do Meio Ambiente (Floram) e o licenciamentos para grandes empreen- nio natural e histórico da região. “Não Para a ACIF, o plano diretor atual é su- menina dos olhos. Se aprovamos o De- vários passos para obra de acordo com a plano diretor de 1997 conseguir licenciamentos tecimento de água após
no Núcleo, afirmou em reunião no dia à divulgação não foi contabilizada. Instituto e Planejamento Urbano (Ipuf). dimentos até que seja aprovado o pró- só o bairro, mas a cidade vive o caos no ficiente para disciplinar as construções. feso, são dois passos para aprovar algo construir legalmente sua competência construção é suficiente
17 de novembro, que não há garantia A primeira etapa do PDP se con- ximo plano diretor. sistema viário, abastecimento de água “Quando se anuncia que foram efetu- parecido nos outros bairros”. ( J.S.)

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