ESTADO DE MINAS
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Advogados condenados a cinco anos
▼
Defensores são acusados de induzir testemunha a mentir para beneficiar cliente presa por tráfico
MARIA CLARA PRATES
s advogados Wil-
O liam Lopes da
Cruz e Adriano Jo-
sé Queiroz Spitale
foram condena-
dos ontem a cinco anos de reclu-
são, cada um, por falso testemu-
nho pelo juiz da 12ªVara Crimi-
nal, Eli Lucas de Mendonça. Os
advogados foram acusados de le-
var o comerciante Ricardo Bran-
dão de Oliveira, 22 anos, a pres-
tar um falso depoimento à Justi-
ça para beneficiar Magda Leila
Carvalho Isac, 24 anos – presa
em flagrante, em 22 de novem-
bro de 1997, na Favela da Ven-
tosa, com cocaína e crack. Nesse
processo, a defesa de Magda es-
tava a cargo dos advogados Wil-
liam e Adriano Spitale. Os advo-
gados poderão recorrer da sen-
tença em liberdade.
Ontem, o advogado Lúcio
Adolfo da Silva, indicado pela
Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB/MG) para fazer a defesa
dos colegas, ressaltando que
ainda não havia sido intimado
da sentença, disse que vai recor-
rer da decisão que considerou
“absurda”. De acordo com Lúcio
Adolfo, não é possível condenar
por crime de falso testemunho
pessoas que não eram arroladas
como tal pela Justiça. O advoga-
do afirmou ainda que não exis-
tem provas no processo contra
seus colegas, apenas o depoi-
mento de uma testemunha afir-
mando que “mentiu porque eles
mandaram”.
Spitale ajudou colombiano
Adriano Spitale é um dos ad-
vogados que acompanharam o
colombiano Joaquim Herculano
Castilla Jimenez, em maio pas-
sado, durante o tempo em que
esteve em Belo Horizonte, se fa-
zendo passar por um megain-
vestidor do setor imobiliário. Ji-
menez foi preso pela Polícia Fe-
deral do Ceará por suspeita de
envolvimento na lavagem de
droga do poderoso cartel colom-
biano de Cáli, quando acusou o
advogado mineiro Lúcio Adolfo
da Silva, de fazer parte do es-
quema da lavagem do dinheiro
do narcotráfico.
De acordo com Lúcio Adolfo,
que nega a acusação, Adriano
foi contratado por ele para auxi-
liá-lo na assistência ao colom-
biano que manifestou a intenção
de investir R$ 2 milhões em
imóveis na capital. Garantindo
ignorar a verdadeira identidade
de Jimenez, Lúcio Adolfo afir-
mou ontem que conheceu Adria-
Fogo destrói casarão
histórico na capital
Um incêncio de origem des-
conhecida destruiu parcialmen-
te, ontem a tarde, o casarão nú-
mero 1697, da rua Timbiras,
Centro, com o fogo sendo debe-
lado por soldados do Corpo de
Bombeiros. O imóvel estava pra-
ticamente abandonado e fora in-
vadido por mendigos. Suspeita-
se de que o incêndio foi provo-
cado pelos seus ocupantes, que
têm o hábito de fazer fogueira
para esquentar alimentos. O ca-
sarão foi construído em 1899 e
pertence ao desembargador
Amadeu Alves da Silva.
O fogo danificou a sua estru-
tura e o teto. O ator Walter Reis
esteve no local do sinistro, onde
lamentou a perda. Segundo diz,
ele vinha tentando locar o imó-
vel para instalar no local uma
escola de teledramaturgia. ’’Já
estava tudo combinado com a
prefeitura‘‘. Os estragos serão
avaliados hoje por técnicos da
prefeitura, já na expectativa de
restaurar a parte danificada. A
fachada, em estilio neoclássico,
foi preservada.
Omissão
O incêndio será investigado
pela Polícia e pelo Patrimônio
Histórico. Vizinhos do casarão
garantiram ontem que o imóvel
não vinha sendo fiscalizado pe-
la prefeitura que ignorou a sua
invasão. Uma vizinha chegou a
acusar a prefeitura de omissa.
De acordo com os autos, logo
após a prisão de Magda, Ricar-
do foi conduzido à delegacia de
Repressão a Entorpecentes da
Polícia Civil onde disse que, na-
quela dia, levou um cliente
àquela casa para adquirir co-
caína, sendo liberado após
prestar depoimento. Quando o
inquérito chegou à Justiça, Ri-
cardo foi arrolado como teste-
munha de acusação pelo Minis-
tério Público. Antes da audiên-
cia, no dia 3 de março de 1997,
no entanto, foi procurado em
sua casa pelos advogados Wil-
liam e Adriano, que teriam lhe
pedido para mudar o seu depoi-
mento dizendo que sequer co-
nhecia Magda, isso para ajudá-
la a se livrar da pesada acusa-
ção de tráfico de drogas.
Antes de saírem, na presen-
ça da mãe de Ricardo, Márcia
Brandão de Oliveira, os advo-
gados advertiram Ricardo que
se ele falasse o mesmo que dis-
se na delegacia, “o meretíssimo
vai mandar prender você na
hora”. Ricardo seguiu a orien-
tação, mas não conseguiu esca-
par da prisão. Durante a au-
diência, ele foi desmentido pelo
usuário C.J.C.L que confessou
ter sido levado até a casa de
Magda pelo comerciante. O Mi-
nistério Público pediu que a de-
núncia fosse aditada já que Ri-
cardo, seria, na verdade, um “-
avião” (transportador de dro-
gas) de Magda. Apavorado, o
comerciante acabou confessan-
do ao juiz que mentiu sobre a
orientação dos advogados.
no quando foi designado para
atuar em sua defesa nesse pro-
cesso. Nessa ocasião, segundo o
advogado, Adriano lhe pediu pa-
ra indicar clientes por ser re-
cém-formando e estar necessi-
tando de ajuda.
Na sentença de condenação
dos advogados, o juiz Lucas de
Mendonça afirmou: “os réus,
violando o dever ético profissio-
nal, traindo a imprescindibilida-
de do advogado à administração
da Justiça, se transformam em
protetores do interesse de nar-
cotraficantes, põem-se a serviço
do crime na escusa empreitada
de fraudar a boa fé judiciária”. O
ESTADO DE MINAS tentou du-
rante toda a tarde de ontem – às
15h15min, 15h45min, 16h,
16h45min, 18h e 19h25min –
falar com os advogados William
e Adriano, através do telefone
do escritório no bairro Barreiro
de Baixo, indicado no processo.
Ninguém atendeu. (MCP)
FREDERICO HAIKAL
IMÓVEL ESTAVA invadido
“Já ligamos várias vezes para a
imprensa e o Conselho Munici-
pal do Patrimônio Histórico de-
nunciando o abandono do ca-
sarão e ninguém tomou provi-
dênica”.
O responsável pelo setor, na
prefeitura, não foi localizado pa-
ra falar sobre o sinistro e as acu-
sações. (JC)
GERAIS/POLÍCIA
FERNANDO DE Moura Dias
Tragédia no Vale do Aço
JAGUARAÇU
TIM FILHO
SUCURSAL LESTE
Cinco pessoas morreram,
ontem, em um acidente no KM
270 da BR 381, em Jaguara-
çu, Vale do Aço. O acidente
aconteceu por volta 1h, quan-
do a Van Sprinter, placa GVW
9216, de Belo Horizonte, ba-
Familiares reclamam lentidão do IML
No Instituto Médico-Legal
de Ipatinga, os parentes das
vítimas estavam inconforma-
dos com a demora na libera-
ção dos corpos. Os funcioná-
rios do IML disseram que so-
mente liberariam os corpos no
final da tarde. Alexandre Lau-
rence Dias, irmão de Fernan-
Comerciante seqüestra bancário
NEWTON CUNHA E
JOSÉ CLEVES
O bancário Marcelo Victor,
35 anos, gerente da agência Ci-
dade Nova do banco Mercantil
do Brasil, viveu horas de terror
ontem de manhã, ao ser se-
qüestrado pelo comerciante Da-
nilson Alves da Mata, 26, pro-
prietário do Sacolão Mata, com
lojas nos bairros Cachoeirinha
e Santa Tereza. Danilson man-
teve Marcelo Victor como re-
fém, numa tentativa desespera-
da de tentar obter dinheiro jun-
to ao banco Mercantil. Além de
resgatar o bancário, a polícia
conseguiu prender o motorista
Carlos Pereira de Souza, 42,
que ajudou no seqüestro. Até o
final da tarde, Danilson ainda
estava foragido.
O comerciante queria que o
bancário lhe pagasse um che-
que administrativo fraudulento
no valor de R$ 68 mil. Na ver-
dade, o valor real era R$ 60,00
e fora adulterado por Danílson
que chegou inclusive a fazer a
previsão do saque. O plano do
comerciante era levar o bancá-
rio para um cativeiro e obter
dele a assinatura autorizando o
pagamento.
O drama de Marcelo come-
çou exatamente às 8h45, quan-
do ele saía de casa, na rua Joa-
quim Francisco Silveira, 547,
bairro Ipiranga. Ele entrava no
seu Kadett, quando foi aborda-
do por Danilson que o chamou
para uma conversa. Foi uma
Motorista acaba preso em flagrante
O bancário foi levado para a
casa do motorista, na rua Nossa
Senhora do Bonfim, 56, bairro
Cipriano, Vespasiano, onde fi-
cou sob a custódia de Carlos.
Danílson teria coagido Marcelo
a ligar para o banco autorizan-
do o saque do dinheiro. Tão lo-
go o gerente fez o contato com o
banco, Danilson saiu apressado
para buscar o dinheiro, deixan-
do a vítima e motorista em ca-
sa.
Acuado pelo telefonema da
polícia exigindo a rendição, Da-
nílson abandonou a kombi na
ONOFRE LOPES de Sousa
teu de frente com um cami-
nhão de Ipatinga, placa GPZ
1105. A van transportava 16
passageiros de Teófilo Otoni e
Itambacuri para Belo Horizon-
te. A Polícia Rodoviária Fede-
ral informou que o motorista
da Van, Fernando Moura
Dias, 46 anos, ao fazer uma
ultrapassagem perigosa, não
conseguiu desviar do cami-
nhão que vinha no sentido
Ipatinga.
do Dias, motorista da Van,
tentou, em vão, agilizar a libe-
ração do corpo de Fernando.
Ele contou que o irmão fazia
viagens regulares para a re-
giao de Teófilo Otoni, trans-
portando passageiros para Be-
lo Horizonte. Fernando Dias
morava em Caetanópolis.
CERCO POLICIAL na MG-10, onde bancário foi resgatado
ação tão rápida que Marcelo
nem chegou a fechar a porta do
carro. Foi empurrado para den-
tro da a Kombi branca tipo fur-
gão, placa GOU-8970, que per-
tence a um dos irmãos de Da-
nilson e que trabalha no saco-
lão.
O seqüestro foi testemunha-
do pela mãe do bancário, Tere-
sinha de São José, que chamou
a polícia. Em pouco tempo, a
rua foi cercada por viaturas do
Batalhão de Missões Especiais
da Polícia Militar, que rastreou
MG-010, que liga Belo Horizon-
te ao Aeroporto de Confins,
bairro Serra Verde, e tomou ou-
tro rumo. O bancário e o moto-
rista foram para a rodovia, on-
de foram resgatados por poli-
ciais civis de Vespasiano.
Carlos foi preso em flagran-
te por ter colaborado com o se-
qüestro. Na Kombi, foram en-
contrado cordas e pedaços de
fitas plásticas utilizadas para
amarrar o bancário. De Ves-
pasiano, todos seguiram para
o Deoesp, onde o inquérito po-
licial foi aberto. “Ainda não sa-
MARIA DE Lourdes Nunes
O motorista da van morreu
no local do acidente. Os passa-
geiros Onofre Lopes de Souza,
76 anos; Maria de Lourdes
Nunes Paulista, 73; Irma Mo-
reira Ezequiel, 61, também
morreram presos às ferragens
da Van que ficou completa-
mente destruída. A menina
Prisclia Pereira da Silva Pau-
lista, 12 anos, morreu ao dar
entrada no Hospital Márcio
Cunha, em Ipatinga. Os outros
João Pereira Paulista, filho de
Maria de Lourdes Nunes Paulis-
ta, e tio de Priscila Paulista, que
morreram no acidente, também
esperava naporta do IML ten-
tando levar os corpos para
Itambacuri, onde mora sua fa-
mília. João Paulista disse que
seu irmão, o vereador Wilson
a região na tentavia de localizar
a Kombi.
Ganhar tempo
Danilson permitiu que Mar-
celo ligasse para a família, di-
zendo que estava em poder de
estranhos. Naturalmente que
ele queria ganhar tempo. En-
quanto a Polícia Militar tentava
localizar a Kombi, policiais do
Departamento Estadual de Ope-
rações Especiais (Deoesp) e da
Metropol, comandados pelos
bemos exatamente o crime co-
metido, mas tudo indica que
seja mesmo um seqüestro”,
comentou o delegado Wander-
son Gomes, responsável pelo
caso.
O motorista Carlos Antônio, o
Carlão, passou a tarde toda
prestando depoimento no
Deoesp, onde afirmou ser ino-
cente. Ele dise que foi contrata-
do por Marcelo há pouco mais
de um mês para trabalhar de
mecânico e garantiu que não
sabia da intenção de seu patrão
em seqüestrar o gerente. A polí-
12 de janeiro de 2000
Quarta-feira
FOTOS LEONARDO MORAIS
IRMA MOREIRA Ezequiel
11 passageiros da Van, mais o
motorista do caminhão e seu
ajudante foram internados
nos hospitais Vital Brasil, de
Timóteo, e Márcio Cunha, de
Ipatinga. Ontem a tarde, o aju-
dante do motorista, registrado
no Hospital Vital Brasil apenas
como Ricardo, recebeu alta e
foi para sua casa em Ipatinga,
assim como a passageira da
van, Maria Enalva Lima, de
Belo Horizonte.
Pereira Paulista, 40 anos, que
também estava dentro da Van,
quebrou o nariz e teve outras
fraturas no rosto. A família de
João Paulista seguia viagem de
passeio. O irmão Wilson ficaria
em Belo Horizonte. A mãe e a
sobrinha iriam para o Mato
Grosso. (TF)
JAIR AMARAL
delegados Wanderson Gomes e
Márcio Siqueira, conseguiram
localizar o irmão do seq–estra-
dor, Daniel Alves, que ajudou a
esclarecer o crime.
Daniel ficou do lado dos po-
liciais para agilizar as nego-
ciações. Assim que Danilson
ligou para o irmão, os policiais
pegaram o telefone e pediram
para ele se entregar. Danilson
fraquejou, temendo que o pró-
prio irmão pudesse ser incri-
minado, e decidiu libertar seu
refém.
cia acredita que o motorista es-
tá mentindo. Uma testemunha
presenciou Carlos fechando a
porta da Kombi, já com o geren-
te dentro do carro. O próprio
Carlos admitiu isso.
O gerente também foi ouvido
informalmente pela polícia,
mas foi liberado para descan-
sar. Ele deverá depor em cartó-
rio hoje. Uma equipe de poli-
ciais do Deoesp permaneceu
em diligência contínua, na ex-
pectativa de prender o comer-
ciante que estaria escondido na
região de Vespasiano. (NC e JC)