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GERAIS
❚ PERIGO CONSTANTE
IMPRUDÊNCIA DOS MOTORISTAS E MÁS CONDIÇÕES DAS ESTRADAS SÃO OS INGREDIENTES FATAIS DAS
TRAGÉDIAS DIÁRIAS NAS RODOVIAS DO ESTADO, ONDE 30 PESSOAS MORRERAM EM APENAS QUATRO DIAS
Estradas matam 1,1 mil
pessoas por ano em MG
GUILHERME ARAGÃO
A imprudência dos motoris-
tas e a má conservação das es-
tradas mineiras são as princi-
pais responsáveis pelas mortes
em acidentes. Cerca de 1,1 mil
pessoas perdem suas vidas
nas principais rodovias do Es-
tado a cada ano. Em 2000, fo-
ram 1.140 em 20.879 aciden-
tes. Até maio último, foram
399 mortes, segundo a Polícia
Rodoviária Federal. Somente
nos últimos quatro dias, foram
30 mortos, 15 deles em um
mesmo acidente, na BR-251,
Norte de Minas.
Muitas das mortes aconte-
cem em locais já conhecidos
pelas autoridades ou mesmo
pelos motoristas com maior
PONTOS CRÍTICOS DAS RODOVIAS FEDERAIS EM MINAS
Fernão Dias é campeã Asfalto ruim e buracos
de acidentes no Sul são ameaças constantes
CARLA BERALDO
Sucursal Sul
Entre rodovias federais
que cortam o Sul de Minas
Gerais, a Fernão Dias conti-
nua sendo a campeã de aci-
dentes, apesar da obra de du-
plicação estar em curso. De
acordo com os patrulheiros
rodoviários federais, o perigo
é maior nos trechos onde o
traçado antigo da pista foi
aproveitado, o que é endossa-
do pelos motoristas.
“Curvas projetadas para pis-
tas simples foram aproveita-
das, aumentando o perigo,
principalmente nos dias de
chuva”, explica o patrulheiro
José Roberto, da Polícia Rodo-
viária Federal de Oliveira, que
é responsável por 216 quilôme-
tros da 381.
Somando os problemas es-
truturais, ele aponta o excesso
de velocidade e a falta de aten-
ção dos motoristas, como cau-
sas dos acidentes, a maioria no
trecho próximo a Carmo da
Cachoeira.
“Neste pontos, em dias de
chuva já chegamos a atender
em torno de dois a três aciden-
tes por dia. Felizmente, nem
todos com vítimas”, comenta o
patrulheiro.
SERRA
Ainda na Fernão Dias, fica a
Serra do Canguava, próxima a
Cambuí, onde são registrados
os piores acidentes do trecho.
“A serra é perigosa e o moto-
rista abusa. Uma combinação
fatal”, esclarece o inspetor
Moukhaiber Ahmar, que reco-
menda cuidados redobrados do
Km 724 (Três Corações) até o
939 (Divisa com São Paulo),
devido a oscilações nas pistas
ESTADO DE MINAS - TERÇA-FEIRA, 10 DE JULHO DE 2001
experiência. Os dois trechos
mais críticos no Estado estão
próximos a Belo Horizonte. O
primeiro é conhecido como a
Serra de Igarapé, na rodovia
Fernão Dias, a cerca de 80
quilômetros da Capital. O ou-
tro é o trecho da BR-040 que
vai até Congonhas.
O número de mortes nestes
dois locais chega à casa das
dezenas, embora não existam
estatísticas relativas a cada
trecho. Mas basta uma visita.
“Não há uma mureta inteira
nas proximidades de Igara-
pé”, lembra o policial rodo-
viário, inspetor Aristides
Amaral Junior.
Segundo Aristides, a falha
humana é a principal causa de
acidentes em todo o Estado.
da rodovia.
“Em alguns pontos, o traçado
antigo foi reaproveitado, in-
cluindo o asfalto e em outros a
duplicação ainda não foi reali-
zada”, disse. Para se ter uma
idéia, neste percurso, no ano
passado, foram registrados
1.394 acidentes com 811 feri-
dos, 64 fatais e 2.225 veículos
envolvidos.
BURACOS
Buracos, falta de sinaliza-
ção, falta de acostamento. É
esta a realidade da maioria
das rodovias federais que cor-
tam o Sul do Estado.
Como exemplo, existe a BR-
459, que liga Poços de Caldas
a Lorena-SP, passando por
Pouso Alegre, Santa Rita do
Sapucaí e Itajubá. Uma via de
calamidade pública que até o
início do ano estava intransitá-
vel. Uma via por onde passam
diariamente em torno de 37
mil veículos e o risco de aci-
dente é iminente dia após dia.
“Estamos falando de uma
rodovia que foi concluída em
1965, e que nestes 36 nos
nunca passou por obras de re-
capemaneto. Uma rodovia que
foi projetada em 1958, aten-
dendo às leis de trânsito de
uma época em que os veículos
não atingiam altas velocida-
des. Daí a ocorrência de inú-
meros acidentes”, conta Peter
Bungart, gerente operacional
do projeto Rota Tecnópolis.
O gerente operacional lem-
bra que até o final do ano pas-
sado a rodovia estava delegada
ao Estado para manutenção,
situação que foi revertida, com
a devolução da responsabilida-
de para o Governo Federal, o
que não provocou mudanças.
Imperícia, imprudência e ne-
gligência matam mais, segun-
do os estudos da Polícia Rodo-
viária Federal, que qualquer
outra coisa. “Ultrapassagens
em locais proibidos, curvas
malfeitas e excesso de veloci-
dade causam a maioria das
mortes”, afirma Aristides.
Por esse motivo, não neces-
sariamente as rodovias em
pior estado de conservação
seriam as com maior número
de mortes. “Quando a estrada
é ruim, os motoristas dirigem
mais devagar e os acidentes
diminuem”, diz. Ao permitir
altas velocidades, as rodovias
com pista dupla, sinalização e
asfalto de primeira seriam
responsáveis pelos acidentes
mais graves e com maior nú-
CLÁUDIA PIRES
Sucursal Mata
Falta de acostamento, asfalto
em condições precárias, buracos
e erosões são alguns dos proble-
mas que os motoristas enfrentam
na rodovia BR-267, entre Bicas e
Bom Jardim de Minas, na Zona
da Mata. Na BR-116, a Rio-Bahia,
alguma obras e serviços de con-
servação nos trechos críticos es-
tão permitindo melhor condição
do tráfego na rodovia, principal-
mente, no trecho da estrada que
passa pela Zona da Mata.
Segundo os levantamentos da Po-
lícia Rodoviária Federal, entre os
problemas da BR-267, a falta de
acostamento é um dos mais sé-
rios. De Bicas a Leopoldina, infor-
mam os patrulheiros, não existe
BR-040
Risco no Vila Rica (antigo viaduto das Almas) é a inclinação em curva
mero de vítimas.
Para a Confederação Nacio-
nal do Transporte (CNT), a má
conservação da malha viária
brasileira coloca em risco a vi-
da de milhares de pessoas,
além de provocar todo tipo de
prejuízo para a economia. A
entidade divulga, todos os
anos, uma pesquisa sobre a si-
tuação das estradas. As equi-
pes deste ano partiram para
os estudos de campo na sema-
na passada.
Em 2000, foram avaliados
38.751 quilômetros de rodo-
vias federais pavimentadas.
Este ano, a ligação entre Lo-
rena (SP) e Poços de Caldas
(MG) entra na lista das liga-
ções rodoviárias mais impor-
tantes do País.
BR 040
1 Curva do Sabão (Moeda/Congonhas)
2 Viaduto Vila Rica (Itabirito)
3 Obras próximas a Barbacena
4 De Curvelo até Felixlândia
BR 050
5 De Uberlândia a Araguari
BR 116
6 Perímetro urbano de Teófilo Otoni
7 Perímetro urbano de Governador Valadares
8 De Além Paraíba a São João do Manhuaçu
BR 251
9 Serra de Francisco Sá
BR 352
10 De Douradouquara a Castanha
BR 365
11 De Gurinhatã a divisa com Goiás
BR 381
12 Serra da Canguava (Cambuí)
13 Serra de Igarapé (Igarapé)
14 De Itatiaiuçú a Carmo da Cachoeira
BR 381/261
15 Posto da PRF próximo a Bom Destino
faixa de desaceleração e a falta de
limpeza nas margens da rodovia
compromete a visibilidade dos
motoristas. Os trechos, sob a juris-
dição da Polícia Rodoviária Fede-
ral de Juiz de Fora, entre Bicas e
Bom Jardim, são os vários os pon-
tos críticos, onde além do mato,
há ainda afundamento de pista,
erosão com iminência de atingir a
pista e trechos recapeados.
Já na BR-116, serviços de
manuntenção e operação tapa-
buracos executados pelo DNER
melhoraram as condições da
estradas, garantem os patrulei-
ros do posto da Polícia Rodo-
viária Federal de Leopoldina.
São 214 quilômetros entre
Além Paraíba e São João do
Manhuaçu, cujas condições da
estrada são razoáveis.
AUREMAR DE CASTRO
BR-251
Somente este ano, foram registradas 22 mortes em 112 acidentes
“Curva da morte” causa
medo no Norte do Estado
LUIZ RIBEIRO
Sucursal Norte
As estradas que cortam o Nor-
te de Minas exigem atenção dos
motoristas. São vários pontos pe-
rigosos nas rodovias federais. A
Serra de Francisco Sá, na BR-251
(Km 476), no Norte de Minas, é
um dos locais críticos, onde os
acidentes são constantes. De
acordo com a Polícia Rodoviária
Federal, só neste ano, houve 22
mortos e outras 175 pessoas fica-
ram feridas em 112 acidentes na
rodovia, uma das estradas mais
movimentadas do Estado, usada,
sobretudo, por caminhões pesa-
dos que viajam do Centro/Sul pa-
ra o Nordeste do País. Já ocorre-
ram neste ano, 75 acidentes no
local, também conhecida como
“curva da morte”. A mais recen-
te tragédia aconteceu no último
sábado, quando morreram 15
pessoas de uma Van, prensadas
entre três carretas.
Ao longo do ano 2000, aconte-
ceram 291 acidentes na BR-251,
provocando 36 mortes e deixan-
do 175 feridos. Segundo as esta-
tísticas da PRF, 80% dos aciden-
tes com vítimas fatais acontece-
ram na Serra de Francisco Sá,
onde as tragédias são frequentes
desde que a 251 foi inaugurada
(em outubro de 1997).
O inspetor Rodiney Meireles
Pereira, da Delegacia da PRF em
Montes Claros, frisa que as cau-
sas dos acidentes são as sequên-
cias de curvas num longo trecho
em declive e a velocidade inade-
quada para o local. Segundo ele,
os patrulheiros dão maior aten-
BR-267
No lugar de acostamentos, crateras avançam sobre as pistas
Falta de acostamento
RUTE ROCHA
Sucursal Triângulo
O estado geral de conservação
das rodovias federais que cortam
o Triângulo Mineiro é considera-
do bom pelas delegacias da Polí-
cia Rodoviária Federal. As ope-
rações tapa-buraco são frequen-
tes. Trechos que na época das
chuvas ficam cheios de buracos,
hoje estão em boas condições.
Em algumas rodovias, o proble-
ma é que sucessivas operações
tapa-buraco acabaram por pro-
vocar desníveis em determina-
dos trechos, aumentando a trepi-
dação dos veículos.
Na BR-153, também conheci-
da como Transbrasiliana, o prin-
cipal problema é a falta de acos-
tamento. O inspetor Valmir Feli-
pe de Miranda, da PRF de Fru-
c
m
y
k
NADSON ALVES
ção ao trecho perigoso. Também
foram colocadas várias placas de
advertência. “O problema é que
muitos motoristas não dão aten-
ção para as placas de advertên-
cia”, afirma. Segundo ele, a
maior parte dos acidentes acon-
tece com “pessoas que não co-
nhecem a estrada.”’
Meireles evita fazer qualquer
comentário se houve alguma fa-
lha na construção da estrada ou
não. “Isso é um problema técnico
que não entendo”. Porém, ele é
de opinião que “os engenheiros
deveriam corrigir as curvas”. O
EM tentou, mas não conseguiu
contato com o chefe do escritório
do DNER em Montes Claros, Jo-
sé de Barros.
MOTORISTAS
Prudência e lentidão são as re-
comendações para se evitar aci-
dentes. “Temos que descer muito
devagar, a 40 ou 50 quilômetros
por hora”, frisa o caminhoneiro
Laudelino Alves de Souza, 46
anos, que mora em Olinda (PE) e
sempre utiliza a BR-251, viajan-
do do Paraná para o Nordeste.
O caminhoneiro Manuel Se-
bastião da Silva, 46, afirma que
ver acidentes na Serra de Fran-
cisco Sá “quase toda semana”.
Ele denuncia que a maioria dos
acidentes ocorre com motoris-
tas de carretas que trabalham
com o sistema de “carga de ho-
rário”: têm horário marcado pa-
ra entregar a carga no local de
destino. Segundo Manuel, há
patrões que até dão “arrebites”
(comprimido para não dormir)
para os motoristas.
LAURA CASTRO
tal, cita vários trechos críticos
em função de declives, rampas e
curvas, mas garante que a obe-
diência à sinalização e normas
de trânsito é suficiente para evi-
tar acidentes. A sinalização da
BR-365, de Gurinhatã até a divi-
sa de Minas com Goiás, é precá-
ria, mas os buracos foram tapa-
dos recentemente.
Entre Uberlândia e Uberaba, c
a BR-050 ainda apresenta tre- m
chos com buracos, mas o que
y
mais tem causado acidentes, se-
gundo o inspetor Luís Carlos da k
Silva, é a imprudência dos moto-
ristas apressados. Entre Ara-
guari e Uberlândia, cidades se-
paradas por 30 quilômetros, o
tráfego é intenso e os acidentes
ocorrem mais nos locais de cur-
vas, por ultrapassagem indevida
e excesso de velocidade.